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Introdução ao Estudo da História

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Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 
 
1. Compreender o olhar do Histo riador;
 
2. entender o obj etivo da teori a da 
História;
 
3. problematizar as q uestões da 
objetividade do co nhecimento histórico .
 
 
 
 
O historiador José D´Assunção Barros, em seu livro Teoria da História, divide em 10 os aspectos 
que estão envolvidos em um campo disciplinar. 
 
Segundo ele, podemos dividir essas características em 10: 
1 – Campo de interesses 
2 – Singularidades 
3 – Campo Intradisciplinares 
4 – Aspectos Expressivos 
5- Aspectos Metodológicos 
6 – Aspetos teóricos 
7 – Oposição e diálogos interdisciplinares 
8 – Interditos 
9 - Rede Humana 
10 – Olhar sobre si 
O primeiro aspecto talvez seja o mais claro e “Campo de interesses” nada mais significa do que 
o objeto de estudo ou temáticas que devem ser trabalhadas pelos estudiosos daquela 
disciplina. 
No caso da História, é claro que ela está inserida dentro do campo das ciências humanas e 
sociais, mas mesmo assim seus objetos são sempre “historicizados e “temporalizados.” 
O campo de interesses aponta diretamente para a questão da Singularidade, ou seja, o que 
torna uma disciplina única, específica e justifica sua existência. 
 
Por exemplo, no caso da História, ela nem sempre se constituiu como nós conhecemos hoje: 
os gregos entendiam de uma forma, no século XVIII era entendida como Filosofia da História e 
só no século XIX vamos ter a História como ciência 
Toda disciplina tem seus campos de interesse, assim como sua singularidade e todas elas 
também têm seus campos intradisciplinares. No caso da História, há uma série de campos 
históricos, fundamentalmente a partir do século XX, e uma série de modalidades de se fazer 
História, tais como História política, História Cultural, História Econômica, História da vida 
privada, dentre tantas outras. 
No século XX, houve uma tendência à especialização e, de fato, em vários campos, “o que não 
impede que os efeitos mais criticáveis do hiperespecialismo sejam constantemente 
compensados pelos movimentos interdisciplinares e transdisciplinares, voltados para uma 
religação dos saberes em um mundo no qual os campos de produção de conhecimento vivem 
a constante ameaça do isolamento.” (BARROS, 2011, p.28). 
BARROS, José D´Assunção. Teoria da História: princípio e conceitos fundamentais. Petrópolis, 
RJ: Vozes, 2011. p. 28. 
Três aspectos fundamentais a serem considerados quando se fala na constituição de um 
“campo disciplinar” relacionam-se ao fato de que nenhuma disciplina adquire sentido sem que 
desenvolvam ou ponham em movimento certas teorias, metodologias e práticas discursivas 
Todo campo disciplinar precisa de certo repertório teórico e metodológico para ser seguido 
pelos seus estudiosos. Isso traz legitimidade à disciplina e é claro que esse repertório é digno 
de críticas e concordâncias. Na medida em que um campo disciplinar vai se constituindo, se 
forma também um discurso próprio da disciplina, ou seja, uma variedade de jargões que são 
facilmente reconhecidos por aqueles que a estudam. Dessa forma, a disciplina constitui um 
certo discurso. “É por isso que não é possível a ninguém se transformar em legítimo praticante 
de determinado campo disciplinar, se o iniciante no novo campo de estudos não se avizinhar 
de todo um vocabulário que já existe previamente naquela Disciplina, e através do qual os seus 
pares se intercomunicam.” 
No tocante ao campo teórico e metodológico, o campo disciplinar é especialmente 
importante, pois a teoria pode ser entendida como uma síntese que é aceita por um dado 
campo de conhecimento. No caso do curso de História, no segundo semestre há a disciplina 
Teoria da História, que complementará esta e dará o embasamento para o trabalho de 
conclusão de curso. Embora seja para os iniciantes uma das mais difíceis, ela é de fundamental 
importância para qualquer um dos conteúdos que venham a estudar. 
A ideia da Interdisciplinaridade é de fundamental importância para a história. Como veremos 
nas próximas aulas, houve uma época em que a disciplina História praticamente não utilizava 
outras disciplinas, pois a história era apenas memorialística. Já faz bastante tempo que 
passamos a utilizar a Geografia, a Psicologia, a Antropologia, dentre outras, para melhor fazer 
História. 
 
Um dos exemplos mais eloquentes é sobre a História das Mentalidades (você verá o que é 
História das mentalidades ainda nesta aula), que se utilizou da Antropologia e da Psicologia 
para a constituição do seu campo de saber. 
Os dois últimos aspectos colocados pelo historiador para o entendimento do campo disciplina 
é a questão da Rede humana, que são todos as pessoas que praticam a disciplina. 
Todos os que entram no campo de estudo (você está entrando agora) produzem algum tipo de 
modificação na disciplina. 
Cada obra modifica pouco ou muito e orienta novas direções no campo do conhecimento. 
Sempre que escrevemos, estamos escrevendo também para a aprovação dos nossos pares 
que, no caso, podemos chamar de “comunidade científica”. 
Normalmente estão inseridos em alguma instituição, que pode ser universidade, revista 
científica*, instituições de pesquisa**, arquivos***, dentre outros. 
* Exemplo de revistas científicas em História: http://www.revistatopoi.org/ 
revhistoria.usp.br 
www.revistafenix.pro.br 
www.cchla.ufpb.br/saeculum/ 
www.ufjf.br/rehb/ 
www.hcomparada.ifcs.ufrj.br/revistahc/revistahc.htm 
www.unicamp.br/chaa/rhaa 
 
** Exemplo de Instituições de pesquisa: 
www.cpdoc.fgv.br/ 
www.fiocruz.br/ 
www.casaruibarbosa.gov.br 
 
*** Exemplo de arquivos: 
www.arquivonacional.gov.br/ 
www.arquivoestado.sp.gov.br 
www.fpc.ba.gov.br 
www.apers.rs.gov.br 
www.aperj.rj.gov.br/ 
http://www0.rio.rj.gov.br/arquivo/ 
Todo o percurso da disciplina, até se constituir como campo do saber com suas singularidades, 
tem sua história. O fato de o estudarmos, como fazemos nesta disciplina, é o fato de “Olhar 
sobre Si”. Como ciência, a História vem atraindo e repelindo um dado conjunto de saberes que 
podem ter sido considerados periféricos em um dado momento e que, posteriormente, 
passaram a ser fundamentais para o campo disciplina. 
Agora que você já sabe que a História existe como ciência, tendo suas próprias singularidades, 
poderá se aprofundar na questão mais específica do OLHAR SOBRE SI, ou seja, um olhar sobre 
o percurso da história através do tempo. 
 
 Os primeiros pensadores d a História; 
 a filosofia da Hi stória x A Histó ria como ciência; 
 os principais pensadores da filoso fia da História . 
 
 
 
Nessa aula você: 
 Compreendeu o olhar do Histo riador; 
 entendeu o objetiv o da teoria da História ; 
 problematizou as qu estões da objeti vidade do conheci mento histó rico. 
 
 
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 
 
1. Compreender o significado de filoso fia 
da História;
 
2. entender o obj etivo do est udo da 
Filosofia da His tória;
 
3. problematizar as q uestões refere ntes à 
filosofia da His tória e do conhecimento 
histórico.
 
 
Como diz José Carlos Reis em seu livro “História e Teoria: historicismo, modernidade, 
temporalidade e verdade”, no último milênio, os historiadores ocidentais aterrorizados com as 
guerras, injustiças sociais, epidemias etc. se manifestavam a preocupação com “o destino de 
uma humanidade universal. Ainda segundo o autor: 
Perguntas metafísicas orientaram as reflexões e pesquisas históricas no Ocidente: quem 
somos? Para onde vamos? Para que viemos e qual será o nosso destino? Como obter 
salvação? 
 Essas perguntas revelam uma angústia fundamental, a experiência de um permanente mal-
estar de ser-no-tempo. O ocidente sofre com a própria ausência e procura construir uma 
imagem global, reconhecível e aceitável de si mesmo. 
REIS, José Carlos. História e teoria: historicismo, modernidade, temporalidade e verdade. Rio 
de Janeiro: FGV, 2006.p.15. 
Da forma como José Carlos Reis expôs, percebemos que a identidade ocidental não existe sem 
fissuras e tenta se reconhecer em sua totalidade. Assim, nesta aula, você verá as diversas 
representações da vida e do seu sentido ao longo da história do Ocidente. 
Para começarmos a refletir sobre as questões relativas à filosofia da História, vale a pena irmos 
até aqueles que são considerados os pais da civilização ocidental. 
Os gregos desenvolveram um tipo de História que se baseava em relatos considerados 
importantes. A narrativa oscilava entre o sagrado e o profano e na recuperação do passado 
se misturava a poesia e a mitologia. 
A história grega era limitada temporalmente e se apoiava em documentos visuais e orais. Isso 
significava que só quem presenciava o evento poderia relatá-lo de modo confiável. 
Entre os gregos, é importante destacarmos dois filósofos. O primeiro, Heródoto (484 – 425 
a.c), é conhecido como o “pai da História”. 
 
Sua principal obra foi ““As Guerras Médicas” onde relatou o conflito entre os gregos e o 
Império Persa ocorrido durante o século V a.C. 
Nessa obra, Heródoto procurou separar a narrativa histórica das outras narrativas existentes 
na época. O grande diferencial do seu trabalho foi à crença do autor de que era preciso 
conhecer profundamente cada povo para posteriormente realizar sua escrita e, assim o fez, 
tendo feito diversas viagens aos locais de conflito. 
Entretanto, em “As Guerras Médicas”, Heródoto, filho do seu tempo, ainda concede uma 
importância muito grande dos rumos das guerras à vontade divina. 
Os gregos tem tradição de observar a História como relacionada à sua organização. Vide o 
papel desempenhado pela narrativa homérica em seus trabalhos. O diferencial de Heródoto é 
justamente determinar as formas de fazer história. Heródoto determina que a história deve 
ser feita a partir de fontes consideradas, fidedignas, daí a ideia de conhecimento. Então, a 
história necessita desse conhecimento. A função do historiador não está nessas fontes, mas 
sim no JULGAR a história. Esse é o papel do historiador em Heródoto, determinar os erros e 
acertos, transformando o historiador em juiz. Heródoto não defende a história como a defesa 
dos deuses, mas, sim, sinaliza sua importância na tradição e nas ações dos homens. Por isso, 
não é um crítico a Homero como, por exemplo, outros de seus contemporâneos como Thales 
de Mileto. 
O segundo filósofo importante para a nossa reflexão sobre a filosofia da História é Tulcídides. 
Em sua obra “A Guerra do Peloponeso”, conflito armado entre Atenas e Esparta ocorrido entre 
431 a 404 a.C. A sua obra difere das, até então, produzidas, pois foi a primeira a deixar de 
lado o discurso religioso, tanto que na sua conclusão, a motivação principal para a guerra 
 foi o crescimento do poderio ateniense e o receio dos espartanos. 
Ainda segundo José Carlos Reis, os gregos se interessavam pelo eterno, pelo que não precisa 
da história para ser. Seus historiadores, ao fundarem a história, desafiavam a própria cultura 
anti-histórica. A história que fundaram não se interessava pelo futuro, apenas pelo presente 
e pelo passado (...) Entre os gregos, a ideia de uma história universal não era ainda 
formulável.” 
Os gregos não pensavam em uma história que pudesse ser universal. Essa ideia só começou a 
tomar corpo com os romanos e é justamente aí que se percebe a ruptura com a concepção de 
história grega. A história entre os romanos é em um primeiro momento claramente 
influenciada pelos gregos. A diferença é o sentido, a história é um exercício de legitimidade, 
busca a afirmação do poderio de Roma. O historiador Romano perde a noção do cuidado do 
historiador, como diz Finley, completa os fatos da maneira que melhor lhe convém, desde que 
marque os ensinamentos que a história precisa trazer. 
O império romano movido pelo seu expansionismo pensa o passado e o futuro como 
assimétricos e o futuro passa a ser o centro de gravidade da História. Sendo assim, a história 
universal seria a história da unidade romana sobre todos os outros povos. 
 
A ideia do cristianismo que foi inicialmente combatido e depois incorporado e adotado como 
religião oficial apoiou com o sentimento religioso e o discurso teológico a conquista romana do 
mundo. Assim, a Igreja Romana e o império romano formaram a ideia de “história universal”, 
“como vontade de potência universal legitimada por um discurso de salvação da humanidade.” 
 
HARTOG, F. Historiadores gregos. In: BURGUIÈRE, A. Dictionnaire dês sciences historiques. 
Paris: PUF, 1986. 
Eneida de Virgílio 
 Tito Lívio 
Vamos pensar no mito de fundação de Roma. 
Poucos documentos de fato existem sobre o período monárquico romano, a maioria dos 
documentos é de séculos depois, mas contam os eventos de forma reta, mostrando o quão 
grandioso foi à formação do mundo romano. 
Tanto a Eneida de Virgílio como os relatos de Tito Lívio deixavam claro a origem grega de Roma 
e sua importância na construção do poderoso império.Poucos documentos de fato existem 
sobre o período monárquico romano, a maioria dos documentos é de séculos depois, mas 
contam os eventos de forma reta, mostrando o quão grandioso foi à formação do mundo 
romano. 
Plutarco e Suetônio 
Plutarco e Suetônio apresentam esta mesma tendência, mas tratando de personagens 
considerados grandiosos que marcam a força do mundo Romano, não à toa o primeiro conta 
as histórias de Alexandre da Macedônia, ou Alexandre o Grande, e o segundo a Vida dos Doze 
Césares, ainda que com esforço biográfico, mantendo a mesma proposta de não se ater aos 
detalhes ou contradições, mas fazendo o que Finley chama de "completar a história". 
José Carlos Reis 
Dessa forma, como bem diz José Carlos Reis: 
“Os romanos iniciaram a aventura ocidental de conquista do mundo imbuídos da fé de que 
iriam salvá-lo! A ideia de história universal e de um sentido histórico único para toda a 
humanidade começou a se elaborar como conquista, por um povo, de todos os povos. Os 
romanos se atribuíam essa missão divina e não poderiam falhar. 
Eles sintetizavam a tese judaica do ‘povo eleito’ com o universalismo cristão do pagão-
também-filho-de-deus. Eles, povo eleito, tinham a missão de levar aos pagãos essa verdade 
única da história universal: ‘somos todos filhos do único Deus, seu filho dileto, pois Ele veio ao 
nosso mundo e nos revelou a verdade; temos o direito divino de liderá-los na história da 
salvação!’” 
REIS, José Carlos. Op. cit. p.19 -20. 
A partir da perspectiva romana, a ideia de uma história universal toma corpo. Os valores 
religiosos aumentavam o desprestígio do que era temporal. O significado do pecado envolvia 
tudo nesse mundo e só a necessidade de salvação levava a religião a torna-se intemporal. Essa 
concepção de história universal permaneceu durante séculos e apenas entre os séculos XIII e 
XVI começou a surgir uma nova consciência no sentido histórico. Na modernidade, a metafísica 
começa a ser recusada como explicação para a história. De fato, estávamos em um mundo que 
passava por uma revolução cultural e para acompanhar as estruturas da nova ordem política 
(Estado burocrático)/econômico( ética do trabalho e empresa capitalista)/social (não 
 fraternidade religiosa) era preciso que a história do mundo terreno desafiasse a história 
universal sagrada. 
Foi o historiador Le Goff que percebeu que na modernidade passou a existir um conflito entre 
o tempo da igreja e o tempo do mercador, o que fundou uma nova mentalidade. 
O novo agente, o burguês, passou a ter dois objetivos diferentes: o lucro e a salvação. 
“Ao procurar realizar fins contraditórios, a consciência burguesa perde a unidade que antes a 
religião garantia. O cristão reformado até confunde seu sucesso nos negócios com a graça de 
Deus, misturando esferas que não se articulam.” 
Voltando à questão referente à filosofia da História, vamos agora destacar a figurade 
Immanuel Kant. 
Kant nasceu em 22 de abril de 1724 em Königsberg (Prússia). Na casa dos pais, Kant 
provavelmente teve contato com o pietismo. 
Em 1755, Kant se doutorou e foi se estabelecer em Privatdozet como professor universitário. 
Durante sua vida, ministrou nas cátedras de lógica e metafísica e também deu preleções sobre 
matemática, física, geografia, antropologia e de teologia natural, moral e direito natural. 
STÖRIG, Hans Joachim. História geral da filosofia. Petropólis, RJ: Vozes, 2009. p. 331-332. 
O Pietismo surgiu em fins do século XVII dentro do luteranismo, como oposição à negligência 
da luterana para com a dimensão pessoal da religião. O movimento, além da crença, exigia a 
piedade genuína. Este influenciou o surgimento de movimentos como o pentecostalismo. 
A obra que vamos nos deter por ter oferecido outro entendimento para a ótica da história é 
“Ideias sobre a história universal sob o ponto de vista cosmopolita”. Nela, Kant afirma que a 
razão traria a reunificação da humanidade, substituindo a religião, ao se dar como finalidade a 
construção de uma sociedade moral. Assim, o autor afirma que os acontecimentos históricos, 
tanto positivos como negativos, sempre seriam vistos pela visão cosmopolita, ou seja, aquilo 
que traz bem a todos. Com Kant, a Europa passou a pensar a história de uma humanidade 
universal e o que reunificaria a humanidade seria a razão, mas a história teria um fio condutor, 
ou seja, a tentativa filosófica da história universal do mundo seria de acordo com um plano da 
natureza que tinha como objetivo a perfeita união da espécie. Assim, o olhar do historiador 
precisaria verificar a natureza desde os tempos antigos e perceber um plano e um propósito 
final, aí então a ideia poderia ser útil e também um fio condutor. Kant se debruçou 
fundamentalmente sobre os helenos, pois, segundo o autor, todas as outras histórias estariam 
agregadas a esta. Assim sendo, a grande maioria dos povos somente faria parte da história 
quando se relacionassem com a cultura ocidental. Com isso, se descobre um fio condutor da 
história humana, uma perspectiva consoladora para o mundo e esclarecedora, “na qual a 
espécie humana se elevará finalmente, por seu trabalho, a um estado em que todos os germes 
que a natureza colocou nela poderão desenvolver-se plenamente e sua destinação aqui na 
Terra ser preenchida.” 
O pensamento da história de Kant é bastante interessante, mas vale lermos o comentário de 
José Carlos Reis sobre a filosofia da História que diz: 
“As filosofias da História mostram com transparência toda a tensão interna à cultura ocidental. 
Elas são ambíguas: greco-modernas, pois são uma elaboração racional-profana sobre a 
história; neojudeo-cristãs, pois dirigem-se ao futuro, prosseguem a espera metafísica da 
redenção. As filosofias da história expõem a fratura da identidade ocidental: “Fé na Razão!” É 
como um retorno ao pensamento religioso, em busca de unificação que ele oferecera. 
Mas esse esforço de reunificação e de retorno prevalecia a face moderna, a razão, profana e 
laica, que jamais conseguiu superar a fragmentação renascentista. As filosofias da história são 
um pensamento tenso que não reconhece as suas contradições. Elas ignoram pulsões, 
intuições, instintos, emoções e se imaginam dominadas pela transparência absoluta da razão. 
A sua convicção inabalável, que se tornou uma obsessão, é de que a ação racional dos homens 
deve produzir uma aproximação acelerada do futuro com o presente.” 
REIS, José Carlos. Op. cit. p. 30. 
Kant de fato revolucionou o pensamento filosófico e, com elogios ou críticas, todos os 
intelectuais nos séculos posteriores se embasaram no autor. 
A ideia de que o caminho da humanidade unida era o único que levava à sociedade moral 
influenciou outros estudos que tiveram destaque no século XIX. 
De qualquer forma, no século XVII o mundo ocidental passou a pensar filosoficamente a 
história universal da humanidade, atribuindo-lhe o sentido da realização de uma finalidade 
moral. 
Por fim, cabe trabalharmos com outro autor que também pensou a filosofia da História. Georg 
Wihelm Friedrich Hegel nasceu em 1770 em Stuttgart. Ele sempre se interessou por três 
temas: o estudo da filosofia, o interesse pela antiguidade e o entusiasmo pela Revolução 
Francesa. 
Durante alguns anos, Hegel foi redator e diretor de um liceu em Nürrenberg. Foi lá que ele 
concluiu a obra “Ciência da Lógica”, em três volumes. Este belo trabalho lhe valeu a cadeira 
filosófica em Heidelberg, lugar onde escreveu a “Enciclopédia das ciências filosóficas”, em 
1817. 
Hegel tornou-se “filósofo do Estado prussiano” e o chefe oficial da filosofia alemã. Ele 
ministrava aulas das principais disciplinas filosóficas e também de filosofia do direito, da arte, 
da religião, da história e história da filosofia. (STÖRIG, Hans Joachim. Op. cit. pp. 395-396). 
Em Hegel, a modernidade aparece não mais em dívida com o passado grego nem com o 
cristianismo, ela procura nela mesma sua normatividade. Ela procura ser autoconfiante e 
garantir sua fundamentação sobre seus próprios meios. Segundo José Reis, “Hegel revelou o 
princípio dos novos tempos: a subjetividade.” Em seus textos sobre a história da filosofia, 
Hegel apontava que a mesma tinha uma contradição interna, qual seja, "a filosofia quer 
conhecer o imperecível, o eterno, seu fim é a verdade. 
Mas a história conta o que foi numa época e que desapareceu em outra, substituído por outra 
coisa". Se a verdade é eterna, "ela não penetra na esfera do que passa e não tem história". 
Sendo assim, cada filosofia corresponderia a um momento da história, a uma etapa na 
conquista do espírito absoluto. As filosofias não se refutariam, mas se sucederiam e as novas 
mostram as anteriores como verdades parciais. Para o autor Lyotard, os discursos da 
modernidade são considerados grandes narrativas pelo fato de se referirem à humanidade 
como um sujeito universal e pretenderem produzir uma descrição completa do 
desenvolvimento histórico. O projeto moderno é de uma história que se fragmentou e se 
descentralizou. 
Ao mesmo tempo, durante o século XIX outro movimento pretendia liberta-se da filosofia da 
História e tornar a disciplina como uma ciência autônoma. Assim, chegaram à conclusão de 
que a metafísica era impossível de ser analisada, pois os resultados eram impossíveis de serem 
controlados. A história científica vinha não para discutir o sentido da história, tampouco a 
história universal, vinha para produzir conhecimento positivo que você verá na próxima aula. 
 
 A História como ciência ; 
 o Historicismo e o Po sitivismo. 
 
 
 
Nessa aula você: 
 Compreendeu o objetiv o da Filosofi a da História; 
 Apreendeu sobre os prin cipais auto res que pensaram na F ilosofia da Histó ria; 
 AULA 4 INTRODUÇÃO A HISTÓRIA 
 Ao final desta aula, o aluno será capaz de: historicismo e positivismo 
 
1. Identificar o contexto histórico presente durante o surgimento do Historicismo 
e do Positivismo; 
2. compreender o que foi o Historicismo; 
 
3. entender o que foi o Positivismo; 
4. relacionar e diferenciar historicismo e positivismo; 
 
5. compreender a relação entre o positivismo e o historicismo e o surgimento da 
História como disciplina. 
 Vale lembrar que o século XIX é o período de unificação da Alemanha e da 
Itália, bem como quando um intenso fluxo de imigrantes sai da Europa vai para 
América fugindo das guerras e buscando novas oportunidades de trabalho. 
 As transformações ocorridas na Europa ao longo do século XIX, como a 
Segunda Revolução Industrial, o Neo colonialismo, o Imperialismo e diversas 
outras vão proporcionar uma verdadeira transformação no pensamento das

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