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Como escrever historia

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17/04/24, 17:23 Introdução aos Estudos Históricos
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=YKt7MxVQCS6gX628JiW%2buw%3d%3d&l=YAy80uO90deUYElgx8APIQ%3d%3d&cd=Cy… 1/24
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS
HISTÓRICOS
CAPÍTULO 4 - COMO ESCREVER A
HISTÓRIA?
Emilly Joyce Oliveira Lopes Silva
INICIAR
Introdução
Agora, é hora de aprender mais sobre a escrita da História. Quais são as fontes
usadas pelos historiadores em suas pesquisas? De que forma essa narrativa é
construída? Quais eventos do passado podem ser contados pelo historiador? E o
mais importante, quais estratégias permitem que a História seja considerada como
uma forma de conhecimento válido? 
O conhecimento histórico recorre às fontes, ou seja, aos vestígios deixados pelo
passado para se legitimar. Esse é um dos principais fatores que o difere de outras
formas de narrativa, como o mito ou o romance. 
Além disso, a História se refere a fatos, mas isso não corresponde a tudo o que
aconteceu. Quem escreve a narrativa histórica precisa fazer recortes, seleções sobre
o que irá contar. Tal procedimento nunca é neutro; ele é marcado por decisões e
posicionamentos que passam pelo crivo do historiador. 
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No entanto, a metodologia de produção do conhecimento histórico não é mera
interpretação. É preciso que esse modo de conhecer a realidade seja pautado pela
crítica e pelo rigor. Na prática, isso significa que a História não é uma ciência
opinativa. Cabe ao historiador amarrar, de forma coerente, argumentos e
intepretações acerca do passado com os sinais que permaneceram com o passar do
tempo. Para tanto, existem diferentes fontes e métodos que podem ser utilizados,
dependendo do que você pretende narrar e de que maneira. 
No decorrer deste capítulo, buscaremos falar um pouco mais sobre cada um desses
pontos e, na medida do possível, responder às questões que deram início a este
capítulo. Boa leitura!
4.1 Quais são as fontes usadas pelos
historiadores? 
As fontes são a base para a produção da História. De um modo geral, podemos dizer
que as fontes são o elo entre passado e presente ou, pelo menos, entre o que já
aconteceu, e o historiador que contará essa história. Contudo, existe uma ampla
discussão teórica e metodológica sobre, quais devem ser as fontes utilizadas na
escrita da História? Em certa perspectiva, qualquer indício sobre o passado pode ser
considerado como fonte. Tudo irá depender de como esses indícios serão
trabalhados, além, é claro, do tipo de história que se pretende contar. 
4.1.1 O que é uma fonte?
No campo da História, as fontes são fundamentais. Delas depende o embasamento
para tratar sobre o passado. De acordo com o verbete “Fontes Históricas” do
Dicionário de Conceitos Históricos (SILVA; SILVA, 2010,  p. 158): “Fonte histórica,
documento, registro, vestígio, são todos os termos correlatos para definir tudo
aquilo produzido pela humanidade no tempo e no espaço; a herança material e
imaterial deixadas pelos antepassados que serve de base para a construção do
conhecimento histórico”. 
Com essa definição simples, podemos perceber que a palavra “fonte” se refere a
quase todos os vestígios do passado, sejam eles materiais ou imateriais. Assim, um
registo de compra de terras no século XVII pode ser uma fonte, do mesmo modo
como a fotografia da sua bisavó. O que é ou não uma fonte depende muito de quem
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vai analisá-la; o historiador tem uma pergunta e, analisando as fontes, pretende
respondê-la. Segundo Antoine Prost (2008,  p. 76): "Por sua questão, o historiador
estabelece os vestígios deixados pelo passado como fontes e como documentos;
antes de serem submetidos a questionamento, eles nem chegam a ser percebidos
como vestígios possíveis, seja qual for o objeto".
Todavia, essa relação com as fontes mudou tanto quanto as concepções de História.
A seguir, veremos como a diferenciação entre documento e monumento foi
compreendida no decorrer do tempo. 
4.1.2 Os arquivos e os documentos
Se você tivesse que dar um exemplo de fonte histórica, qual seria o primeiro
pensamento que viria à sua cabeça? As fontes escritas ou documentais são as mais
tradicionais dentro da História e, por isso, são rapidamente associadas ao trabalho
do historiador. Para muita gente, o trabalho de um pesquisador em História,
Figura 1 - A análise cuidadosa dos documentos é uma das tarefas mais importantes para o historiador.
Fonte: Kirill Smirnov, Shutterstock, 2018.
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acontece sempre dentro do arquivo, com a busca por documentos antigos. Essa
visão não corresponde à toda a realidade, mas tem sim um fundo prático, como
veremos adiante. 
A História lidou, durante muito tempo, com algumas fontes bem específicas: os
documentos. Trata-se de alguns registros oficiais, quase sempre relacionados às
esferas do governo e da administração, que contêm dados importantes para o
conhecimento da época que os produziu. Carlos Bacellar (2005) elenca alguns
desses documentos e os tipos de arquivos em que podem ser encontrados, sem, no
entanto, listar todas possibilidades de documentos. Veja a tabela:
Como você pode perceber, a lista feita por Carlos Bacellar (2005), destaca as
principais fontes documentais que você encontrará nos arquivos. Existem muitas
outras, é claro, mas as listadas nos dão um bom panorama acerca do tipo de
Tabela 1 - Tabela das principais instituições arquivísticas e seus documentos. Fonte: BACELLAR, 2005, p.
26.
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documento a ser utilizado na produção histórica.
VOCÊ SABIA?
A paleografia é um estudo complementar à História de suma importância. O termo “paleo” significa
antigo, enquanto “grafia” se refere a escrita. Dessa forma a paleografia consiste no estudo de escritas
antigas. De acordo com Marcelo Siqueira, a função do paleógrafo é “transformar a letra, a grafia, a
abreviatura, incompreensível aos nossos olhos, numa grafia atual, para que as pessoas possam ter
acesso ao conteúdo daquela informação” (ARQUIVO NACIONAL, 2017). 
Ao longo de sua formação e também na prática profissional você lidará muitas vezes
com fontes documentais como as mencionadas acima. Além das fontes escritas,
existem também outras modalidades, promovidas pela Nova História, que tornam o
conhecimento histórico mais complexo e representativo. 
4.1.3 Alguns exemplos de fontes históricas
Para auxiliar a compreensão sobre o que são as fontes históricas, listamos abaixo
alguns tipos de fonte e, em cada seção, um autor que trata de forma mais completa
sobre o tema. Lembre-se que essas explicações são introdutórias, mas permitirão
que você formule melhor o seu conhecimento com o passar do tempo. 
Imagens: vinculada quase sempre à História Cultural, o uso de imagens é bastante
relacionado ao conceito de representação e/ou imaginário. O uso de imagens como
fontes – fotografias, pinturas, charges, mapas, desenhos, dentre outros – exige que
elas não sejam apenas ilustrações do conteúdo; é preciso analisar com cuidado
todos os elementos trazidos pela imagem, pensar o seu contexto de produção e
quem a produziu. 
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Testemunhos orais: trabalhar com fontes orais é trabalhar diretamente com
memória. Durante muito tempo, essa forma de escrita da História foi abandonada,
mas, com a invenção do gravador,ela pode se renovar. De um modo geral, podemos
dizer que as fontes orais lidam diretamente com as pessoas e com o que elas
lembram. O uso das fontes orais leva à reflexão sobre a história mais recente e para o
tempo presente. 
Para você se aprofundar mais nessa temática, vale a pena conferir o livro História oral, feminismo e política,
escrito por Daphne Patai (2010). No livro, a autora apresenta diferentes textos, produzidos em épocas
diversas, mas sempre trazendo como fontes, entrevistas que ela realizou com mulheres brasileiras,
servindo de introdução para os estudos com fontes orais. 
Fontes materiais: fonte material é, de uma maneira simples e incompleta de se
dizer: tudo aquilo que é produzido pelas mãos humanas (FUNARI, 2005). Dessa
forma, esse tipo abarca desde sepulcros antigos, até os talheres produzidos nas
duas grandes guerras. A utilização de fontes materiais é recente quando comparada
com a historiografia ocidental – que priorizou, durante muito tempo, as fontes
escritas. Contudo, cada vez mais a História vem ampliando seu arsenal de fontes.
Figura 2 - Este mapa, produzido por Antonio Sanchez em 1653, não é apenas uma ilustração, mas uma
rica fonte sobre as representações e visões que os navegadores tinham naquela época. Fonte:
Marzolino, Shutterstock, 2018.
VOCÊ QUER LER?
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Assim todo material não escrito que foi produzido pelos seres humanos,
originalmente restrito aos estudos arqueológicos, pode auxiliar na produção do
conhecimento histórico. 
Feita a descrição básica de algumas das principais fontes históricas, podemos passar
agora para a discussão sobre os fatos históricos. Assim como os documentos, eles
ocupam um papel fundamental na produção da História.
Figura 3 - Impérios africanos, como Mali, perderam muito de sua história escrita com o processo de
colonização, restando apenas as fontes materiais, como é o caso da Mesquita de Djnné, em Saba. Fonte:
Michele Alfieri, Shutterstock, 2018.
4.2 O que é um fato histórico?
Há uma forte ligação entre os documentos e os fatos históricos. Na verdade, ambos
são de suma importância para o conhecimento histórico e para os procedimentos de
escrita da História. Neste tópico, tentaremos compreender melhor o que é um fato
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histórico e, sobretudo, como se dá sua construção, no tempo, por parte de quem
conta as histórias. 
4.2.1 Apontamentos para a definição de fato histórico
De início, precisamos partir de uma ideia mais simples. Não é de todo equivocado
aquele velho estereótipo do historiador como um mero portador de informações
sobre o passado e datas. Você já deve ter vivenciado quando algum conhecido, ao
saber da sua opção pelo curso de História, fez logo uma pergunta sobre quando
aconteceu tal evento. O que leva a esse estereótipo? Em primeiro lugar, temos uma
associação comum à escola positivista, que pregava a cientificidade e objetividade
do conhecimento histórico. Além disso, há um outro fator, interligado a este último,
que ainda é caro à formação dos historiadores: a necessidade de comprovação. 
Nesse sentido, o fato é uma informação que pode ser comprovada a partir de fontes
adequadas. É fato, por exemplo, que no ano de 1808 a coroa portuguesa mudou-se
por um tempo para o Brasil. Mesmo que vários aspectos no entorno desse fato
possam ser discutidos, o ponto central (a vinda da Coroa Portuguesa) é algo com
forte aparato comprobatório. A partir de outros exemplos no decorrer desse tópico
será cada vez mais discutido esse conceito. Afinal, cada afirmação deve vir
acompanhada de provas, citações e fontes, o que torna assim a história passível de
crítica, de discussão e de cientificidade. Toda afirmação deve ser comprovada
(PROST, 2008). 
Para explicar o que é um fato histórico, Antoine Prost utiliza uma referência bem
representativa. Segundo o autor, os fatos têm relação com dados objetivos, que
dificilmente poderão ser contestados. Por isso, ele menciona o genocídio hitlerista
como um exemplo de algo que incontestavelmente ocorreu. Diz Prost (2008, p. 53):
“a afirmação de que a Alemanha nazista havia empreendido, durante vários anos,
uma tentativa de extermínio sistemático dos judeus não é uma opinião subjetiva
que, por simples opção pessoal, possa ser compartilhada ou rejeitada”. O que
garante a objetividade dessa afirmação é seu embasamento em fatos, ou seja, em
algo comprovável pelas evidências. Por isso, dando continuidade à sua
argumentação, o autor afirma, “é um fato, por exemplo, que os SS construíram
câmaras de gás em determinados campos; além disso, este fato pode ser
comprovado” (PROST, 2008, p. 53).
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4.2.2 Fato histórico: perspectivas e problemas
Ao tentar responder à pergunta “o que é um fato histórico?” Edward H. Carr (1982)
levantou algumas questões pertinentes sobre o tema. Para entendermos as
colocações de Carr, vamos pensar em um exemplo bem tradicional de fato: a
chegada dos portugueses ao Brasil em 1500. Esse é um evento bem difícil de ser
contestado e, numa perspectiva comum, pode ser entendido como o cerne do
trabalho do historiador.  No entanto, é preciso repensar essa obviedade. Muitas
vezes, o que se considera como ofício primordial de quem pesquisa a História, não
corresponde à realidade. Assim, saber com exatidão que a chegada dos portugueses
ao Brasil se deu no dia 22 de abril de 1500, não é o que se espera de alguém formado
em História. Para Carr, o estudioso da História não precisa saber datar um
documento antigo com precisão ou outras tarefas semelhantes, pois, para isso, é
possível recorrer às ciências auxiliares, como a arqueologia, a cronologia e a
epigrafia. Dessa forma, os fatos básicos, que parecem como uma verdade absoluta,
são chamados por Edward Carr de matéria-prima do trabalho histórico. 
Figura 4 - O selo em homenagem a Pedro Álvares Cabral nos lembra da chegada dos portugueses em
1500 como um fato histórico. Fonte: ne�ali, Shutterstock, 2018.
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O segundo ponto observado por Carr (1982) em relação ao senso comum sobre o
fato histórico é a falsa ideia de que os fatos falam por si sós. Na perspectiva do autor,
é somente quando alguém olha para esses eventos do passado que eles se
transformam em fatos. Assim, a chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, não é
por si um fato; ele passou a ser considerado como tal a partir do momento que uma
pessoa, ao olhar para o passado, deu a esse evento o caráter de importância
histórica. A sua chegada em casa ontem, depois do trabalho, também aconteceu no
passado, mas dificilmente terá a mesma relevância para o estudo da História que o
episódio do “descobrimento”, conforme a historiografia brasileira. Aqui, temos uma
importante distinção, pois, como foi dito anteriormente, nem todos os eventos do
passado são abordados pela narrativa histórica. Nas palavras de Carr  (1982, p. 39):
“os fatos falam apenas quando o historiador os aborda: é ele quem decide quais os
fatos que vêm à cena e em que ordem ou contexto”.
A animação Deu a louca na Chapeuzinho, por mais estranho que isso possa parecer, é uma ótima narrativa
para a discussão sobre fatos históricos. Escrito e dirigido por Cory Edwards, Todd Edwards e Tony Leech
(2005), o filme trata da investigação após o misterioso desaparecimento do livro de receitas da vovó. O
interessante na narrativa é como cada um dos suspeitos mostra um ponto de vista totalmente diferente
sobre os mesmos fatos.A indicação é ótima para quem vai dar aula, sobretudo para as séries iniciais do
Ensino Fundamental.  
Em seguida, abordaremos mais detalhadamente o que transforma um simples fato
do passado em fato histórico e mostraremos como o olhar do historiador é
importante nesse processo. 
4.2.3 Os processos de construção do fato histórico
Com base em tudo o que aprendemos até aqui, é fácil perceber que nem tudo o que
aconteceu é motivo de interesse por parte dos historiadores. Dito de outro modo, a
História não abarca todos os eventos, nem a vida de todas as pessoas em todos os
lugares do planeta: isso seria um trabalho impossível. 
VOCÊ QUER VER?
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O conhecimento histórico faz recortes, lembra e esquece, seleciona a partir dos
questionamentos do presente, aquilo que deve ser contado. Dessa forma, o que
chamamos de fato histórico tem relação direta com esses recortes. Nem todo
acontecimento é um fato a ser tratado pela História.
Por que e como recortar? De acordo com Paul Veyne (1998, p. 18): “Como o romance,
a história seleciona, simplifica, organiza, faz com que um século caiba numa página,
e essa síntese da narrativa é tão espontânea quanto a da nossa memória quando
evocamos os dez últimos anos que vivemos”. A afirmação de Veyne nos auxilia
porque ressalta como os cortes e simplificações da História são semelhantes àqueles
que fazemos em nossas memórias. Ao mesmo tempo, por mais que os
acontecimentos da sua vida possam ser comprovados, por que eles quase sempre
são ignorados pela produção histórica? 
Paul Veyne é um arqueólogo e historiador francês, conhecido por suas produções no âmbito da História
Antiga. No livro Como se escreve a história (1998), ele reforçou o caráter narrativo da História,
aproximando-a da literatura. Porém, após entrar em contato com as teorias de Foucault, Veyne reviu
muitas de suas ideias. Vale a pena conhecê-lo mais! 
É muito difícil explicar como se dão as seleções, simplificações e organizações que
caracterizam o trabalho do historiador. Essas escolhas serão sempre atravessadas
por múltiplos fatores que vão desde os posicionamentos ideológicos de quem
escreve até a disponibilidade material de fontes sobre um tema. Carr (1982) fala, por
exemplo, do modo como a História Antiga e Medieval são profundamente
recortadas: o que temos de narrativa histórica é apenas a ponta de um enorme
iceberg, provavelmente perdido para sempre. O autor mostra também como essas
escolhas e seleções podem mudar com o tempo. Algo que, 20 ou 30 anos atrás, não
seria considerado como um fato histórico pode adquirir esse status quando o
presente se reconfigura, dependendo do olhar do historiador. 
VOCÊ O CONHECE?
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O livro O queijo e os vermes, escrito por Carlo Ginzburg (2006), fala sobre Menocchio, um moleiro italiano
interrogado pela Inquisição. O foco é a perspectiva do moleiro sobre os fatos, com destaque para seu
modo de pensar peculiar. O mais interessante aqui é notar como a vida de um cidadão comum pode ser
relevante para a História. Dessa forma, o olhar de Ginzburg e sua precisão analítica trazem para o bojo da
narrativa histórica a vida de um italiano simples, cuja história facilmente se perderia para sempre. 
O que deve ficar claro, portanto, é que os fatos não são apenas os eventos
comprovados do passado; mais do que isso, sua existência depende das decisões de
quem vai contar a História. 
Com esse panorama mais geral, você deve ter percebido que os fatos históricos são
bem importantes para o estudo da História, mas não podemos nos prender ao senso
comum quando tratamos do tema. Um jornal, ao noticiar um acontecimento de
forma neutra, pode atestar que aquilo é um fato incontestável. Todavia, Edward H.
Carr (1982) nos alerta: todo jornalista sabe que a melhor forma de convencimento é
a seleção e disposição adequada de alguns fatos. Vemos isso o tempo todo, seja na
internet, nas notícias de TV ou mesmo nos livros de História. Por isso, é fundamental
o olhar crítico para tudo aquilo que é apenas tomado como fato.
VOCÊ QUER LER?
4.3 Método na História: uma questão de
interpretação?
O método, essa é uma daquelas palavras que sempre aparecem em várias situações,
mas que nem sempre temos real clareza sobre o seu significado. Recuperando a
etimologia da palavra temos metá + hódos, cujo sentido é de um caminho (hodós)
indicado pelas metas ou objetivos (metá). Assim, no que diz respeito ao trabalho do
historiador, o método trata dos procedimentos necessários para a realização de um
objetivo. 
No campo da História, existem diferentes maneiras de se realizar a pesquisa e a
escrita do trabalho. Porém, de forma bem resumida, os métodos quase sempre
definem maneiras de analisar e contextualizar as fontes. Veremos, a seguir, um
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pouco mais sobre a discussão acerca do método na História.
4.3.1 Discussões sobre História e método
O ponto de partida aqui é a discussão sobre rigor metodológico. Afinal, para que a
História possa ser considerada como um conhecimento válido, ela se apoia, pelo
menos na maior parte das vezes, em métodos com algum respaldo científico. De
acordo com Eni Samara e Ismênia Tupy (2007, p. 11):
hoje, como no passado, o ofício do historiador - a escrita da História - envolve
o conhecimento de um método científico de trabalho, isto é, um conjunto de
operações técnicas, com instrumentos e procedimentos que demandam uma
necessária aprendizagem de critérios de cientificidade. Uma tarefa que
encontra sustentação na análise crítica do documento histórico, envolvendo
alguns procedimentos específicos que permitem respostas às questões
previamente levantadas pelo pesquisador.
As autoras também falam sobre os principais passos para a produção do trabalho
histórico. Segundo elas, o primeiro passo é ter uma hipótese que deverá ser
investigada. Também será necessário levantar uma bibliografia sobre a temática
definida para a pesquisa e, a partir da leitura de outros trabalhos, pensar a análise
crítica das fontes. 
Nem todas as narrativas históricas seguem esses passos, nem precisam estar
amparadas no preceito da cientificidade. No entanto, será muito difícil realizar um
trabalho consistente sem uma boa análise de fontes, independentemente do tipo
escolhido, e algum conhecimento sobre o contexto a ser estudado. 
A questão do método científico, nesse contexto, cria uma ambiguidade em relação à
interpretação. Esta é essencial para a escrita da História, ainda que o conhecimento
histórico não se resuma ao caráter interpretativo. Nas palavras de Paul Ricoeur
(2003, [s/p]): “A interpretação não é uma fase à margem do conjunto da operação
histórica; [...] ela trabalha a todos os níveis, desde o estabelecimento do testemunho
e dos arquivos até à explicação em termos de finalidade ou de causalidade, desde a
esfera da economia à da cultura”. O papel central do trabalho interpretativo, porém,
não rompe com o rigor metodológico na produção histórica. 
A objetividade, tão cara ao método científico (ao menos em seu viés mais
tradicional), não é algo simples dentro do conhecimento histórico. De acordo com
Edward Carr (1982,  p. 128): “a objetividade na história não pode ser uma
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objetividade de fato, somente de relação, da relação entre fato e interpretação entre
passado, presente e futuro”. Assim, o método para a escrita da História se situa em
um equilíbrio tênue entre os fatos e sua interpretação,entre a busca da verdade e a
constatação de que o passado não poderá ser recuperado. 
Partindo dessas noções preliminares, nas partes seguintes deste tópico, falaremos
mais sobre um método bastante utilizado atualmente na produção histórica. Eles
podem ajudar não só na compreensão do que é método, como também no
entendimento sobre as práticas do estudo da História.
4.3.2 Paradigma indiciário
Em Sinais: raízes de um paradigma indiciário, capítulo do livro Mitos, emblemas e
sinais, Carlo Ginzburg (1989) trata de um modelo epistemológico ou um paradigma
que surge no final do século XIX, mas que, segundo o historiador italiano, não foi
devidamente sistematizado pelas ciências humanas. No entendimento do autor,
esse paradigma “talvez possa ajudar a sair dos incômodos da contraposição entre
‘racionalismo’ e ‘irracionalismo’” (GINZBURG, 1989, p. 143). 
A fim de exemplificar o referido modelo, Ginzburg comenta o método proposto por
Morelli, um médico russo, para atribuição de autoria a quadros antigos. Segundo
essa metodologia, a identificação das obras exigia um olhar atento não para os
pontos mais chamativos e sim para os detalhes que passam despercebidos em uma
olhada rápida: como o lóbulo das orelhas, as unhas e o formato dos dedos. Assim,
Morelli identificou a orelha típica de Botticelli, por exemplo, e conseguiu atribuir
dezenas de pinturas antes sem a devida autoria. 
A própria escrita de Ginzburg a respeito do paradigma indiciário diz do método que
ele propõe – ou sistematiza. As habilidades de Morelli renderam a ele um elogio de
Freud, que aproxima a estratégia do médico à psicanálise no ensaio O Moisés de
Michelangelo. Ao falar do comentário de Freud, Ginzburg logo observa os pequenos
detalhes que aparecem no ensaio. A partir daí, busca documentos que possam
informar mais sobre as possíveis relações existentes entre a psicanálise e o trabalho
de Morelli. No decorrer da análise, ele separa aquilo que é meramente hipótese, do
que pode ser comprovado pelas referências. Essas pequenas intuições sobre a
influência do paradigma indiciário na psicanálise freudiana são apontados como
possibilidades, criando, assim, uma investigação que oscila entre dados concretos e
caminhos imaginários. Conforme o texto de Ginzburg: “mas o que pôde representar
para Freud - para o jovem Freud, ainda muito distante da psicanálise - a leitura dos
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ensaios de Morelli? É o próprio Freud a indicá-lo: a proposta de um método
interpretativo centrado sobre os resíduos, sobre os dados marginais, considerados
reveladores” (GINZBURG, 1989, p. 146). 
Tratando mais especificamente do uso do método indiciário pelas ciências sociais,
Ginzburg defende que a investigação dos “dados marginais” contribui para a
clarificação de situações políticas ou sociais obscuras. Segundo ele “se a realidade é
opaca, existem zonas privilegiadas - sinais, indícios - que permitem decifrá-la
(GINZBURG, 1989, p. 177).
Figura 5 - O trabalho do historiador guarda profunda relação com a função do detetive. Fonte: Dvo,
Shutterstock, 2018.
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Assim, o método proposto se relaciona com o trabalho de detetive, pois se centra
nos detalhes para compreender uma situação complexa. A imagem de um detetive,
inclusive, é ótima para a compreensão do trabalho do historiador. Segundo Marc
Bloch (2001), farejamos tudo aquilo que é humano. Seguimos por essa intuição de
que os assuntos relacionados aos homens e mulheres do passado importam.
Coletamos vestígios, rastros, sinais, para depois dar a eles um sentido narrativo. Por
isso, a escrita da História requer crítica, como veremos no próximo tópico.
4.4 A crítica histórica
Dizem que historiador não sabe contar piada. Afinal, cabe ao historiador sempre
explicar o que se diz, questionar os pormenores e a comprovar o que é falado. Logo,
quando é preciso explicar a piada, ela perde a graça (ou não era engraçada). Assim, a
figura problemática de um historiador explicando ou questionando a piada é um
bom começo para a conversa. Afinal, a piada também pode ser uma boa fonte. 
Para rir de uma piada é necessária certa credulidade, aceitar a informação e rir da
situação narrada. Na literatura, isso é chamado de suspensão de descrença, aquilo
que nos faz ver com deleite e aceitar momentaneamente como real, a mais
fantástica narrativa desde que ela faça sentido nela mesma. 
O espírito crítico é uma das bases de nossa profissão. Pensar criticamente, como
será discutido nesse tópico, é mais do que simples diletantismo da profissão, é o
caráter comum a todo historiador.
4.4.1 O método crítico
A crítica histórica ou método crítico se refere aos procedimentos usados pela
História na construção de um conhecimento válido e reconhecido por outras áreas
do saber. Uma das principais referências para este método está no manual escrito
por Charles-Victor Langlois e Charles Seignobos, em 1898, intitulado Introdução aos
estudos históricos (LANGLOIS; SEIGNOBOS, 1946). No livro, os autores se propõem a
explicitar as especificidades do método histórico, mas sem perder de vista a crítica e
o rigor de uma ciência. 
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VOCÊ SABIA?
Langlois e Seignobos pertenciam à chamada Escola Metódica. Assim como os positivistas, esta
corrente defendia, no século XIX, a História como ciência. Para tanto, era necessário método preciso
e a neutralidade de quem pesquisa em relação ao objeto. Mesmo contribuindo enormemente para o
que hoje conhecemos como História, muitos aspectos defendidos pelos metódicos são hoje
duramente criticados como, por exemplo, a imparcialidade do historiador.
Na perspectiva de Langlois e Seignobos (1946), a História é diferente das outras
ciências porque seu conhecimento é indireto. Diferentemente do químico, que pode
observar com cautela as substâncias em seu laboratório, o historiador só teria
acesso a resquícios do seu objeto de estudos. Assim, de acordo com os autores, o
estudioso da História seria como o cientista que recebe informações sobre algo a
partir das observações de seu assistente de laboratório. Por essa razão, eles afirmam
que o conhecimento histórico precisa de um método próprio, que dê conta dos
riscos e desafios relacionados à análise dos documentos. Nas palavras de Langlois e
Seignobos (1946, p. 45): “a análise minuciosa dos raciocínios, que leva da verificação
material dos documentos ao conhecimento dos fatos, é uma das partes principais da
Metodologia Histórica”.
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Se fizermos as devidas contemporizações em relação ao manual de Langlois e
Seignobos (1946), lembrando a época em que foi escrito, é possível retirar dali
diversas informações importantes. No entendimento dos autores, os seres humanos
têm uma tendência natural para aceitar as informações que lhes são passadas, sem
questionar se são verídicas. Esse é um ponto importante, pois destaca a principal
motivação para um método crítico: é preciso que historiadores sempre se indaguem
sobre o conteúdo de suas fontes. De acordo com os autores: 
Figura 6 - De acordo com Langlois e Seignobos, o trabalho histórico se diferencia do químico porque o
pesquisador de História não pode observar seu material de estudos em um laboratório. Fonte:
Macrovector, Shutterstock, 2018.
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não é comum aceitarmos,na vida de cada dia, com indiferença, sem qualquer
verificação, informações anônimas e sem garantias, espécies de
"documentos" de medíocre ou de mau quilate? Uma razão especial é
necessária para nos darmos ao trabalho de examinar a procedência e o valor
de um documento de história de ontem; muito ao contrário, a não ser que
haja uma inverossimilhança que toque às raias do escândalo e desde que o
documento não seja contraditório, nós o absorvemos, dêle nos apropriamos
e apregoamo-lo aos quatro ventos, aformoseando-o segundo as necessidades
(LANGLOIS; SEIGNOBOS, 1946, p. 48).
E não fazemos isso, realmente, com grande frequência? Com que frequência
verificamos as informações enviadas naquela mensagem do Whatsapp? Ou o que foi
postado por um amigo nas redes sociais? No cotidiano, não fazemos esse exame
crítico, como podemos fazê-lo? Na perspectiva da crítica histórica, esse deve ser um
exercício constante; é preciso duvidar o tempo todo, procurar outras informações,
entrecruzar os dados obtidos nas fontes com o que já foi produzido sobre o tema. 
4.4.2 A crítica hoje
A crítica proposta no final do século XIX por Langlois e Seignobos, pode não ser
totalmente válida ainda hoje, mas permanece atual em certos aspectos. Antoine
Prost (2008) ressalta que o método crítico não é mera erudição ou pedantismo
científico. Para o autor:
fica a impressão, às vezes, de que a crítica é somente uma questão de bom
senso e    de que a disciplina exigida pela corporação é supérflua, não
passando de mania de    eruditos, pedantismo de cientistas ou sinal de
reconhecimento para iniciados. Nada de mais falso. As regras da crítica e da
erudição, a obrigação de fornecer suas referências, não são normas
arbitrárias; certamente, elas instituem a diferença entre o historiador
profissional e o amador ou o romancista. No entanto, sua função   primordial
consiste em educar o olhar do historiador em relação a suas fontes; se
quisermos, trata-se de uma ascese e, de qualquer modo, de uma atitude
aprendida, não espontânea, mas que forma uma disposição de espírito
essencial para o desempenho do ofício (PROST, 2008, p. 61) – grifos nossos.
A afirmação de Prost (2008) em relação à crítica, qual seja, a de que ela serve para
educar o olhar do historiador em relação a suas fontes, revela a importância da
mesma para o método histórico. Além disso, a análise do autor mostra como o olhar
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crítico é importante não apenas para os documentos escritos, como afirmavam
Langlois e Seignobos (1946), mas também para outras fontes, como é o caso das
imagens. Uma fotografia que, num primeiro momento, pode ser vista como uma
representação inequívoca da realidade, também pode, a partir do exame crítico,
revelar suas múltiplas construções. Assim, nenhuma fonte está isenta da
necessidade do crivo da crítica histórica. 
Ainda sobre a relação entre fontes e a crítica histórica, Marc Bloch (2001) traz uma
observação importante entre fontes voluntárias e involuntárias. Essa distinção se
relaciona com o método crítico na medida em que exige, por parte de quem analisa
as fontes, um olhar mais cuidadoso. Segundo Bloch, os documentos utilizados pelos
primeiros eruditos eram, geralmente, produções que contavam, de forma
deliberada, sobre alguns eventos ou acontecimentos. Como exemplo, o autor fala
dos relatos do Êxodo ou dos livros qualificados de “mosaicos”, que supostamente
foram escritos por Moisés. Diante dessas fontes, o historiador ficava limitado a
verificar a veracidade do que foi narrado ou da autoria dos escritos. Com a
ampliação no uso de fonte involuntárias, ou seja, dos testemunhos produzidos sem
a intenção de registrar o que aconteceu, houve uma mudança: “à medida que a
história foi levada a fazer dos testemunhos involuntários um uso cada vez mais
frequente, ela deixou de se limitar a ponderar as afirmações [explícitas] dos
documentos. Foi lhe necessário também extorquir as informações que eles não
tencionavam fornecer (BLOCH, 2001, p. 95).
Dessa forma, a crítica histórica defendida por Bloch (2001) pode ser mais abrangente
que a de Langlois e Seignobos (1946), mas os dois trabalhos defenderão a
necessidade de uma análise acurada das fontes. No próximo tópico, discutiremos
um caso que poderá auxiliar na compreensão do método crítico. 
4.4.3 Os documentos forjados
Na discussão sobre método, fontes e críticas, existe um detalhe que foi pouco
discutido até aqui: a possibilidades de que documentos sejam forjados, em
diferentes momentos da História, para diversos fins. Vamos ver um caso
emblemático:
CASO
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Protocolo dos Sábios de Sião 
Documentos forjados são bastante comuns em grupos que disseminam ódio. O que hoje alguns
definem como pós verdade (estratégia onde, para dirigir a opinião pública, não importa mais a
veracidade do fato, mas a conveniência da informação e o apelo emocional) é uma forma de
justificar ataques à grupos, gêneros, etnias. Hoje é comum se ver notícias falsas sobre muçulmanos,
judeus, LGBTS e até sobre nós historiadores. Um dos casos mais emblemáticos do estrago que um
documento forjado é capaz de fazer para a sociedade é o famoso Protocolo dos Sábios de Sião. O
documento foi forjado, até onde se sabe, na Rússia em 1903, como forma do Czar Nicolau II perseguir
inimigos políticos. Posteriormente, o protocolo foi divulgado por Henry Ford e apropriado pelos
nazistas, mesmo sendo atestada a sua falsidade na época – partes foram plagiadas do livro Diálogo
no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu de 1864 (GINZBURG, 2007). Hoje, esse documento
comprovadamente falso, ainda é usado por diversos grupos. Será que faz sentido, do ponto de vista
da História, trabalhar com este documento?
Quando falamos no uso de fatos e documentos, muitos questionam justamente
sobre a possibilidade de falsificações. Como vimos, a crítica histórica se destina,
dentre outras coisas, a verificar a autenticidade de tudo aquilo que é analisado para
a escrita da História. Contudo, um documento forjado, como é caso do Protocolo
dos Sábios de Sião, não precisa ser deixado de lado. Se você parar para pensar, a
forja de um documento também diz muito a respeito de uma época, bem como das
mentalidades de quem o forjou, o divulgou e acreditou nele. Algumas questões são
bem relevantes: quem falsificou o documento? Com qual intenção? Quais “provas”
foram usadas? Qual é sua trajetória na História, ou seja, de que forma o documento
foi utilizado no decorrer do tempo? Várias outras questões podem ser formuladas,
interessando-nos as múltiplas possibilidades oferecidas por um documento deste
tipo. 
Em sua análise sobre a crítica histórica, Antoine Prost (2008) fala um pouco sobre
possíveis documentos falsos. Por um lado, temos documentos premeditadamente
fabricados, que podem ser tomados como verdadeiros. Por outro, encontramos
fontes que, mesmo não sendo originais de uma determinada época, são registros
fidedignos que merecem atenção. Ambos os casos devem ser examinados
criticamente. Para Prost, o método histórico pode ser separado em duas vertentes: a
crítica da sinceridade e a crítica da exatidão. A primeira “incide sobre as intenções,
confessadas ou não, do testemunho” e a segunda “refere-se    à sua    situação
objetiva” (PROST, 2008, p. 59).  Dessa forma, a crítica da sinceridade precisa estar
atenta às mentiras, enquanto a crítica da exatidão procura encontrar os erros. As
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duas podem contribuir para o tratamento de documentos que não são totalmente
autênticos. Por isso, é tão importante recorrer às estratégias da crítica ao analisartoda e qualquer fonte. 
Concluindo tudo o que foi dito, a História é um conhecimento que se faz por
vestígios (PROST, 2008). Assim, seus métodos não podem ser equiparados ao de
outras formas de ciência, havendo características que são bem específicas do
conhecimento histórico. A crítica, nesse contexto, é o núcleo do método da História,
pois possibilita a análise das fontes e dos fatos com mais rigor. Lembre-se, é preciso
treinar constantemente o olhar crítico. Uma dica é fazer isso sempre, mesmo nas
coisas mais cotidianas.
Síntese
Concluímos os estudos sobre a escrita da História. Vimos quais são as fontes usadas
pelos historiadores e como a narrativa é construída. Além de perceber quais os
pontos permitem que a História seja considerada como uma forma de conhecimento
válido, recorrendo às fontes, ou aos vestígios deixados pelo passado.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
entender o que são fontes históricas e como elas devem ser analisadas
criticamente;
compreender a problematização acerca dos fatos históricos;
verificar os principais métodos que podem ser usados pelo historiador;
compreender a importância da crítica histórica; 
discutir as relações entre fato e método crítico;
pensar como historiadoras e historiadores desenvolvem seus trabalhos.
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