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SCHOTTEN, Paulo César. Mestrando em Administração, Fundação Pedro Leopoldo – MG. Graduado em Administração pela Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí. Especialista em Marketing e Recursos Humanos pelo INBRAPE. 1 GESTÃO POR COMPETENCIAS: EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS E COMPARATIVO ENTRE COMPETENCIAS INDIVIDUAIS E COMPETENCIAS ORGANIZACIONAIS SCHOTTEN, Paulo César. Resumo O tema gestão de competência tem ganhado força nas organizações que buscam eficiência e eficácia em suas atividades. Entender os conceitos principais envolvidos faz-se então necessário e estão descritos nesse artigo que aborda fatos históricos do surgimento da questão da competência e como foi aplicado aos meios organizacionais. Com a utilização de autores, apresenta a importância do tema competência e o que leva as empresas a buscarem novos referenciais, novas condutas e novas competências que permitam a manutenção e a melhoria da competitividade. O objetivo central desse trabalho então é descrito como pesquisar os conceitos históricos e a aplicabilidade da gestão por competência nos meios organizacionais, partindo do principio de correlacionar as competências individuais com as competências organizacionais. Traz em seu contexto, uma abordagem conceitual do que é competência e quando começou a utilização do termo, apontando essa iniciativa no período dos anos 80 e 90, afirmando ainda a existência de quatro gerações no estudo de competências, identificados como 1ª geração o conceito artesanal e psicológico, a 2ª geração como a busca por competências universais, a 3ª geração conhecida como a escola estratégica e por fim, a 4ª geração, onde busca o ajustamento entre as competências universais e as realidades organizacionais. Aborda as multiplicidades que o significado do termo apresenta e quais são as competências individuais, identificadas entre outros conceitos como um conjunto de conhecimento, habilidades, aptidão ou característica associada com alta performance no trabalho. As praticas gerenciais mais valorizadas pelas organizações e requeridas na atualidade nos meios organizacionais, entre outros pensamentos, destaca estudo de Sant’Anna, para quem são: o domínio de novos conhecimentos técnicos associados ao exercício do cargo ou função ocupada; capacidade de aprender rapidamente novos conceitos e tecnologias; criatividade; capacidade de inovação; capacidade de comunicação; capacidade de relacionamento interpessoal, capacidade de trabalhar em equipes; autocontrole emocional; visão de mundo ampla e global; capacidade de lidar com situações novas e inusitadas; capacidade de lidar com incertezas e ambiguidades; iniciativa de ação e decisão; capacidade de comprometer-se com os objetivos da organização; capacidade de gerar resultados efetivos e capacidade empreendedora. Define gestão por competência como práticas estratégicas que tem como objetivo melhorar o desempenho global da organização e insere no contexto abordagem sobre o processo de desenvolvimento de competências. Diferencia competência de competência individual e de competência organizacional. Finaliza por apresentar críticas propostas à gestão por competências. Palavras chaves: Competência, competências organizacionais e competências individuais. 2 1 Introdução Conhecer os conceitos de gestão por competências, como tem evoluído ao longo do tempo e sua aplicação dentro das organizações possibilita ao gestor adotar no todo ou em partes seus conceitos em busca da eficiência e da eficácia organizacional. Entende-se que as organizações são formadas por pessoas, conforme afirma Chiavenato (2006), organização é um grupo de pessoas que se unem em prol do atingimento de objetivos comuns. Aceitando essa concepção de que as organizações são formadas por pessoas e que as pessoas são as organizações nada mais justo do que estudar como as competências individuais das pessoas interferem ou ao menos se correlacionam com a organização formando então as competências organizacionais. Vários autores contemporâneos, conforme apontado por Fischer (2009) demonstram que o que diferencia as empresas líderes em diferentes segmentos de mercado na atualidade é a qualidade de seus recursos humanos e a forma como as competências individuais são exploradas. Afirma ainda o autor que esse cenário tem levado as empresas e pessoas a buscarem um novo referencial, uma nova conduta e novas competências que permitam a manutenção e a melhoria da competividade. Em relação a formação de competências, Baêta, Lima e Baeta-Lara (2009) afirmam que representa um processo de aprendizagem e que nota-se que não se restringe, portanto, à assimilação de conhecimentos específicos. Dentro desse contexto, evidencia-se então o objetivo central desse trabalho de pesquisar conceitos históricos e a aplicabilidade da gestão por competência nos meios organizacionais, partindo do principio de correlacionar as competências individuais com as competências organizacionais. 2 Referencial teórico 2.1 Histórico e conceitos de competência O conceito de competência, segundo Mascarenhas (2008) vem sendo utilizado para a construção de uma abordagem alternativa às metodologias tradicionais de gestão do desempenho – a gestão das competências. Nessa abordagem, o autor aponta que a noção de competência individual surge em substituição ao tradicional conceito de qualificação para o posto de trabalho como base para o desenvolvimento de modelos integrados de gestão de pessoas que sejam mais abrangentes e flexíveis, pautados em valores e expectativas que caracterizariam organizações em aprendizagem. Para as empresas, as competências, passam a ser uma questão estratégica para garantir a sua competitividade, aponta Fischer (2009) analisando Porter, 1990. Fischer (2009) desenvolveu um estudo para identificar como e quanto a empresa investe no desenvolvimento de sua competitividade, evidenciando que, para as empresas serem competitivas, as pessoas que nelas trabalham devem desenvolver competências que promovam o aperfeiçoamento de seus processos. No âmbito organizacional, Godoy et al. (2008) afirma que o assunto competência aparece associado à competitividade e vantagem competitiva, sendo tratados com diferentes nomenclaturas, tais como competência essencial, competência distintiva, capacidade essencial e capacidade organizacional. Afirma ainda a autora que embora haja diferença entre esses termos, todos possuem um forte elo em comum: algo que confere competitividade a uma 3 organização e é um fator que desempenha relevante influencia dentre os componentes de uma fonte de vantagem competitiva. Em relação a utilização, Fischer (2009) aponta que as competências têm sido usadas como ferramenta efetiva de negócios desde o inicio dos anos 80, mas recentemente têm sido elemento essencial na estratégia de negócio em virtude de organizações sentirem a necessidade de buscarem desempenho no seu sentido mais amplo e não meramente como indicadores econômicos e financeiros. Aponta ainda que pesquisas realizadas no final da década de 80 apresentaram uma forte correlação entre o desempenho dos negócios e o desenvolvimento das competências das pessoas. Já Mascarenhas (2008) afirma que o conceito de competência surge com a intensificação da evolução tecnológica e da concorrência, principalmente após 1990, quando as organizações se deparam com novas lógicas de trabalho, caracterizadas pela baixa previsibilidade das tarefas e intensa informatização. Nesse caso, segundo o autor, a reestruturação produtiva nas últimas décadas transformou os conteúdos dos postos de trabalho e os pré-requisitos para ocupá-los. Em relação às necessidadesde competências, vale destacar Lara-Baeta, Lima e Baeta (2009) onde afirmam, considerando o papel fundamental que o individuo desempenha, que a abordagem de competências representa uma alternativa para reflexão sobre as relações no contexto do trabalho enquanto em outra organizações, a percepção sobre a necessidade de formação de competências motivou a criação de arranjos orientados ao desenvolvimento dos empregados. Por outro lado, conforme aponta Sampaio (2009) a multiplicidade de significados e de práticas sob o rótulo de competências, tem gerado muita confusão entre administradores e pesquisadores brasileiros e busca esclarecer as origens do termo, remetendo a David McClelland, um psicólogo da Univerdade de Harvard, com trabalhos dentro da pesquisa básica migrando para uma psicologia em fronteira com a administração, tendo sido, conforme o autor, reconhecido como pai da noção de competência por muitos autores americanos. Ainda Sampaio (2009) ao pesquisar sobre o assunto, McClelland criticou os critérios, métodos e técnicas psicológicos utilizados então, afirmando que essas técnicas eram falhas, apresentavam baixa predizibilidade e alta possibilidade de viés junto às minorias. Isso comprova, segundo Sampaio, que o discurso de competências de Harvard nasceu na Psicologia Organizacional, com a finalidade de reduzir problemas de viés na seleção profissional e com o objetivo de identificarem-se características pessoais estatisticamente associadas ao bom desempenho no trabalho ou ao sucesso na vida profissional. Ainda nessa linha de pensamento, Sampaio (2009) destaca a existência de quatro gerações nos estudos da competência, conforme destacado na figura 01. 4 Geração Considerações 1ª geração Conceito artesanal e psicológico: aplicado através do emprego de métodos de comparação com grupos critério e identificação de comportamentos operantes causalmente relacionados com resultados de sucesso 2ª geração Em busca de competências universais: A McBer busca traçar competências gerais, um quadro composto de competências e seus respectivos indicadores comportamentais que pudesse ser mais facilmente operacionalizável pelas empresas. 3ª geração A escola estratégica: uma alternativa às escolas clássicas que tem o posto de trabalho como referencia para se pensar a produtividade e a competitividade das organizações. 4ª geração Ajustando competências universais a realidades organizacionais considerando- se a estratégia: após a consolidação dessas duas escolas de competências norte- americanas, consultores e autores vêm tentando fazer uma ponte entre as competências individuais e as competências organizacionais ou a estratégia. Figura 01 – Gerações nos estudos da competência. Fonte: Adaptado de Sampaio, 2009, p.86-96. A definição de competência apresentada por Fleury (2000) identifica-a como um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao individuo. Há uma relação intima, conforme apresentado por Dutra (2001), entre as competências individuais e as organizacionais e, portanto, o estabelecimento de competências individuais deve estar vinculado à reflexão sobre as competências organizacionais e as influências mutuas entre elas. 2.2 Competências individuais A competência individual, é identificada por Godoy (2008) através de estudos de McClelland, Boyatzis, Spencer e Spencer e Mirable, como um conjunto de conhecimento, habilidade, aptidão ou característica associada com alta performance no trabalho, como resolução de problemas, pensamento analítico ou liderança. Nesse sentido, o autor destaca uma diferença entre o conceito americano de competências, identificados como inputs de uma pessoa, em contraponto com a escola francesa, que através de estudos de Le Boterf e Zarifian, afirmam ser os outputs de uma pessoa. Para finalizar, aponta ainda que para alguns pesquisadores como Parry e McLagan, a competência é a união dos conceitos norte-americanos e franceses. Foi o que aconteceu com os pesquisadores brasileiros que, segundo Godoy, começaram a estudar as competências baseadas nos estudos norte-americanos, ou seja, nos inputs, e depois introduziram os conceitos franceses de outputs. Quem também apresenta estudos de autores americanos como McClelland, Boyztzis, Spencer e McBer é Andrade e Villas Boas (2009) indicando que entre os anos de 1970 a 1990 onde a maioria deles classificavam competência como o conjunto de qualificações que permite à pessoa uma performance superior em trabalho ou situação, além de apontar que no Brasil, na 5 década de 1980 e inicio de 1990, essas abordagens do conceito de competência foram disseminados como sendo um “cluster de conhecimentos, habilidades e atitudes relacionadas que afetam a maior parte de um papel ou responsabilidade, que pode ser melhorada através de treinamento e desenvolvimento. Finaliza apresentando estudos de Le Boterf que identifica que a competência não é um estado ou conhecimento que se tenha nem é resultado de treinamentos; na verdade, ser competente é mobilizar conhecimentos e experiências para atender a demandas e exigências de um determinado contexto, marcadas geralmente pelas relações de trabalho, cultura da empresa, imprevistos, limitações de tempo e de recursos, etc. 2.3 Importância e Competências individuais requeridas na atualidade. O conceito de competência, conforme aponta Mascarenhas (2008), assimila novas dimensões da qualificação, identificadas como a capacidade de pensar abstratamente, já que o trabalho mediado pelo computador torna-se distante de referencias física, o raciocínio indutivo, uma vez que a informatização impõe aos indivíduos a necessidade de se pensar analiticamente, compreendendo relações potenciais entre os dados e usando-os para reflexão, construção e teste de hipóteses e, por ultimo a concepção teórica dos processos aos quais os dados se referem, ou uma espécie de roteiro sobre os processos. Com relação às competências requeridas no mercado globalizado, Fischer (2009) aplicou um questionário respondido por 94 executivos e profissionais predominantemente das áreas de Recursos Humanos, Marketing e Administração de diversas organizações que atuam no Brasil, demonstrando através da figura 02 as práticas gerenciais mais valorizadas pelas organizações: Figura 02 – Práticas gerenciais mais valorizadas pelas organizações Fonte: Fischer, 2009. Por outro lado, embasado na pesquisa, Fischer (2009) destaca também qual o grau de importância dos papéis desempenhados pelos líderes competentes, como pode ser visto na figura 03. 6 Figura 03 – importância dos papéis desempenhados pelos líderes competentes Fonte: Fischer, 2009. Quanto às competências requeridas, Sant’Anna (2009) afirma após três levantamentos de dados empíricos, descritos como o primeiro realizado junto a 654 pós-graduandos da área de Administração, um segundo compreendendo a investigação de 220 egressos pós-graduandos de programas de pós-graduação lato sensu não área de telecomunicações e um terceiro estudo abrangendo 129 graduandos em administração, que as novas competências individuais requeridas são: o domínio de novos conhecimentos técnicos associados ao exercício do cargo ou função ocupada; capacidade de aprender rapidamente novos conceitos e tecnologias; criatividade; capacidade de inovação; capacidade de comunicação; capacidade de relacionamento interpessoal, capacidade de trabalhar em equipes; autocontrole emocional; visão de mundo ampla e global; capacidade de lidar com situaçõesnovas e inusitadas; capacidade de lidar com incertezas e ambiguidades; iniciativa de ação e decisão; capacidade de comprometer-se com os objetivos da organização; capacidade de gerar resultados efetivos e capacidade empreendedora. Aponta ainda Mascarenhas (2008) que entre os traços comportamentais requeridos, o questionamento e a investigação constante das possibilidades do sistema de produção exigem atitudes e engajamento, já que os processos de interpretação, criação e comunicação de significados requerem a mobilização efetiva do potencial individual, portanto requerem expectativas comportamentais importantes, entre eles a autonomia, a iniciativa e o comprometimento. Em relação a importância, Mascarenhas (2008) afirma que o conceito de competência faz-se importante ao ser a base para a construção de sistemas de gestão de pessoas integrados, capazes de refletir as demandas por desempenho em organizações em aprendizagem. Em seus estudos Fleury (2000) resume, conforme apresentado na figura 04 as competências requeridas para o profissional e suas definições: 7 Figura 04: Competências do profissional Fonte: Fleury, 2000. 2.4 Competências organizacionais Considerando a significativa demanda pelo conjunto das competências, vale salientar mediante os estudos de Sant’Anna (2009), uma maior ênfase naquelas diretamente relacionadas à performance organizacional, como a capacidade de gerar resultados e de comprometimento com os resultados da organização, o que vem ao encontro da própria noção de competência. Focando a competência organizacional, Prahalad e Hammel, apud Mascarenhas (2008) definem como uma articulação de recursos organizacionais, um aprendizado da organização, um saber-fazer coletivo e complexo, especialmente no que diz respeito à coordenação de diversas habilidades de produção e integração de múltiplas correntes de tecnologia. Nesse caso, segundo Mascarenhas 2008, uma competência organizacional é mais que a soma de competências individuais, pois é constituída por uma complexa harmonização de múltiplos recursos (humanos, tecnológicos, organizacionais) em rotinas que contribuam para a consecução da visão estratégica da organização. Os conceitos existentes dentro do conceito de competência organizacional são identificados por Mascarenhas (2008), apoiado em estudos de Le Boterf com os seguintes componentes: um saber elaborar representações compartilhadas; um saber comunicar-se; um saber cooperar e; um saber aprender coletivamente da experiência. 8 Quando se refere a competências organizacionais, Godoy (2008) refere-se como o resultado de uma combinação estratégica de recursos, habilidades e processos organizacionais, os quais são orientados e integrados para o atendimento de uma ou mais necessidades de clientes; e que em virtude de suas propriedades únicas, contribui de forma relevante para a geração de valor e para a formação de vantagem competitiva sustentável. Outro estudo que corrobora com esse pensamento é Fleury (2000) que aponta que no mundo do trabalho, a palavra competência vem assumindo diversos significados, alguns mais ligados às características da pessoa: conhecimentos, habilidades e atitudes (variáveis de inputs) e outros à tarefa, aos resultados (variáveis de outputs) As diferentes abordagens sobre o tema competências organizacionais podem ser observados na figura 05, extraído de Andrade e Villas Boas (2009) fundamentada em estudos de Schewes, Nakayama e Pilla de 2004. Figura 05 – Diferentes abordagens sobre o tema Competências Organizacionais Fonte: Andrade e Vilas Boas, 2009. 2.5 Gestão por competências A gestão por competências permite à empresa, segundo apontado por Andrade e Vilas Boas (2009) captar, desenvolver e avaliar as competências necessárias à consecução de seus 9 objetivos, seja por meio da seleção de profissionais adequados para cada cargo, da formulação de treinamentos ou da tomada de outras decisões estratégicas. Definindo Gestão por Competências, Andrade e Vilas Boas (2009) consideram que a gestão de competências trata-se de uma prática estratégica que tem como objetivo melhorar o desempenho global da organização por meio do incremento do desempenho individual dos funcionários, afirmando ainda que alguém ou alguma empresa só é competente quando tem capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade para fazer algo. O sistema de gestão de pessoas por competências de acordo com Mascarenhas (2008) trata-se de uma sistemática alternativa à analise e à gestão da atuação dos relacionamentos e da contribuição dos indivíduos à organização segundo critérios de desempenho, com base no conceito de competência. Esse sistema, ainda segundo o autor, eleva o desenvolvimento de competências ao status da preocupação básica da função gestão de pessoas, sendo que isso acontece pela articulação fundamental entre competências organizacionais e competências individuais. O desempenho de uma organização é amplamente influenciado pelo comportamento e pelas competências dos seus funcionários, é o que afirma Andrade e Villas Boas (2009). Os autores afirmam que os estudos de competência se desenvolveram nos diversos meios e nas organizações como um todo, ganhando destaque a partir da década de 1990 com a proposta do conceito de competências essenciais formulados por Prahalad e Hamel que identificaram que as competências organizacionais compõem um conjunto de recursos na forma de conhecimento, habilidades, tecnologias, sistemas físicos, gerenciais e valores que a organização possui. Em relação aos tipos de competências organizacionais, Andrade e Villas Boas (2009). Afirmam que pode-se trabalhar com quatro tipos de competências: diferenciais, consideradas estratégicas, pois estabelecem vantagem competitiva da empresa; essenciais, são aquelas identificadas e definidas como as mais importantes para o sucesso do negócio e devem ser percebida pelos clientes; Básicas, as necessárias para manter a organização funcionando e; Terceirizáveis, as que não estão ligadas à atividade fim e que podem ser repassadas a fontes externas com maior competência e valor agregado. 2.6 Desenvolvimento de competências Segundo Mascarenhas (2008), a gestão de competências é um referencial que busca alinhar competências individuais e organizacionais às estratégias. Identifica também que uma competência organizacional pode formar-se progressivamente à medida que as pessoas mobilizam suas capacidades em interdependência com outros recursos, interagem criativamente umas com as outras, compartilham conhecimentos utilizando-os para resolver problemas e aproveitar oportunidades. Nesse caso, ao articularem a tecnologia às suas capacidades, formulam proposições criativas e experimentam soluções, repensam rotinas e sistemas gerenciais, questionam valores e procedimentos característicos da cultura organizacional, (re)construindo coletivamente competências organizacionais. Em muitas organizações, segundo o autor, esses processos recebem o nome de desenvolvimento por competências. Desenvolver competências requer, segundo Mascarenhas (2008), a integração de práticas capazes de dar apoio aos processos de aprendizagem dos indivíduos e grupos. Entre essas práticas, o autor destaca a avaliação das competências, as práticas de coaching e mentoring e as universidades corporativas. 10 Para desenvolver as competências em uma organização, Fleury (2000) aponta que é necessário percorrer o caminho que vai da aprendizagem individual para a aprendizagem em grupo, para a aprendizagem na organização, indicando o processo de desenvolvimento de competências que pode ser visto na figura 06.Figura 06 – Processo de desenvolvimento de competências Fonte: Fleury, 2000. 2.7 Críticas propostas à gestão das competências A discussão sobre o emprego da noção de competências nas organizações, na visão de Mascarenhas (2008) é extensa e controversa, destacando que são diversas as dimensões desse conceito possíveis de críticas, citando como exemplo a existência de autores como Brandão e Guimarães (2001) que questionam o caráter inovador da gestão de competências, destacando as premissas comuns que esse sistema compartilharia com a gestão do desempenho. Além disso, esses mesmos autores alertam que ambos os sistemas pressupõem instrumentos capazes de considerar a interdependência entre os atos de planejar, acompanhar e avaliar a atuação das pessoas. Outra crítica é apontada por Mascarenhas (2008) onde o otimismo que marca as discussões sobre o conceito de competência é questionado. Destaca o estudo de Freyssenet (1994) e Coriat (1988) como exemplos de autores que assumem essa perspectiva. Além disso, apontam que o otimismo de alguns em relação ao processo de requalificação deve-se, talvez, as características das relações de trabalho mais observadas em países desenvolvidos, onde é mais relevante o jogo dos interesses e forças sociais divergentes capazes de interferir na evolução das empresas em direção a culturas mais democráticas, indicando estudos de Vieira e Garcia, 2002, em corroboração com essa ideia. Para finalizar, o autor, amparado em estudos de Pagès et. al, aponta outra critica onde dois sistemas são propostas que reforçam o controle social sobre os indivíduos no ambiente. Aponta-se também pesquisa de Sarsur (2009), onde apresenta após estudo de caso, críticas aos sistemas de Gestão por Competências indicando que o mesmo mostra-se elitista e excludente em termos de privilegiar aqueles que já se destacam na empresa. Apresentam também uma dicotomia entre discurso e prática na empresa evidenciada em diversas situações na adoção do Sistema de Gestão por Competências. Apresenta também dificuldades de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional apesar de propalado discurso de que a introdução do sistema de competências geraria impactos sobre o trabalho fragmentado e parcelado, com atividades 11 mais complexas e enriquecidas para o trabalhador, percebendo-se pressões mais intensas, disputas entre trabalhadores, insegurança, e a permanente ansiedade quanto ao futuro com prejuízo da visa social, familiar e do lazer, além do uso do tempo livro consumido em atividades de capacitação. 3 Metodologia Para se atingir esse objetivo, optou-se pela pesquisa bibliográfica, identificada por Gil (2006) como desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Afirma também que embora quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. A partir do apoio obtido com a literatura pesquisada, forma-se as bases para considerações finais acerca das várias abordagens conceituais sobre competências e gestão por competências. Este estudo aborda bibliograficamente os conceitos históricos sobre a gestão da competência, competências individuais e competências requeridas na atualidade, competências organizacionais, gestão por competências, desenvolvimento de competências e críticas propostas à gestão de competências. 4 Considerações finais O presente artigo abordou considerações conceituais e históricas da gestão por competência partindo do objetivo de pesquisar conceitos históricos e a aplicabilidade da gestão por competência nos meios organizacionais e o principio de correlacionar as competências individuais com as competências organizacionais. Dentro desse contexto, dentre os autores pesquisados, evidencia-se a participação de duas escolas de estudos que tiveram influencia mais direta sobre o desenvolvimento e inserção do conceito no Brasil, a escola norte-americana, considerando as competências como inputs e a escola francesa, a qual considerava as competências como outputs. Fica evidente que a formação do conceito brasileiro vem da junção dos conceitos dessas duas escolas. Continuando, o estudo apresenta também às definições de competências, separando-as entre competências organizacionais e individuais, destacando as na opinião dos autores pesquisados as competências individuais que são requeridas, tecendo comentários sobre o processo de desenvolvimento de competências. Tendo isso, vale ressaltar conteúdo do texto que apresenta a importância do estudo de gestão de competências, visto que organizações são formadas por pessoas e as competências das pessoas interferem diretamente nas competências organizacionais. Os estudos da competência, segundo apresentado no artigo podem ser classificados por gerações, sendo a primeira geração o conceito artesanal e psicológico, a segunda geração a busca de competências universais, a terceira geração voltada a escola estratégica e por fim, a quarta geração, onde busca-se o ajustamento das competências universais a realidades organizacionais considerando-se a estratégia. Em relação às competências individuais, identificada por citação de Godoy, 2008, como conjunto de conhecimento, habilidades, aptidão ou características associadas às performances 12 na resolução de problemas, pensamento analítico ou liderança, são apresentadas por estudos de Fisher (2009), como comprometimento, criatividade e participação, destacando que os principais papéis esperados dos líderes competentes são os papéis de alavancador de resultados, agente de transformação, administrador de processos e redes humanas, energizador, técnico integrativo, educador e cidadão. Por outro lado, Fleury (2000), resume as competências requeridas como saber agir, saber mobilizar, saber comunicar, saber aprender, saber comprometer-se, saber assumir responsabilidades e ter visão estratégica. Voltado a questão da competência organizacional, foca-se os estudos apresentados nesse artigo como a capacidade de gerar resultados e de comprometimento com os resultados da organização ou até mesmo como uma articulação de recursos organizacionais, um saber-fazer coletivo e complexo, especialmente no que diz respeito à coordenação de diversas habilidades de produção e integração de múltiplas correntes de tecnologia. A gestão por competências é apresentada como a pratica estratégica que tem como objetivo melhorar o desempenho global da organização por meio do incremento do desempenho individual dos funcionários ou também como uma sistemática alternativa a analise e à gestão da atuação dos relacionamentos e da contribuição dos indivíduos à organização segundo critérios de desempenho, com base no conceito de competência. Para finalizar, o estudo traz, também na opinião de autores, criticas a Gestão de Competências e quanto a sua aplicabilidade nas organizações, destacando principalmente o caráter inovador da gestão de competências em comparativo com as premissas comuns da gestão do desempenho, a questão do otimismo que marca as discussões sobre o conceito de competência bem como o caráter elitista e excludente da gestão de competências, em termos de privilegiar aqueles que já se destacam na empresa. 4 Referencias BAÊTA, Adelaide Maria Coelho. LIMA, Reginaldo de Jesus Carvalho Lima. 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MASCARENHAS, André Ofenhejm. Gestão Estratégica de Pessoas: evolução, teoria e crítica. – São Paulo, Cengage Learning, 2008. 13 SAMPAIO, Jáder dos Reis. Uma “arqueologia” do conceito de competência na realidade norte-americana. In: Paula, Claudio Paixão Anastácio de et al. Administração Contemporânea: desafios e controvérsias. – Pedro Leopoldo: Tavares Editora, 2009. SANT’ANNA, Anderson de Souza. Profissionais mais competentes, políticas e práticas de gestão mais avançadas? In: Paula, Claudio Paixão Anastácio de et al. Administração Contemporânea: desafios e controvérsias. – Pedro Leopoldo: Tavares Editora, 2009. SARSUR, Amyra Moyzes. Sistema de Gestão por Competências: A assimetria de Percepções entre Trabalhadores e Organizações. – Artigo apresentado no XXXIII Encontro da ANPAD, edição 2009. VILAS BOAS, Ana Alice. ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de. Gestão Estratégica de Pessoas. – Rio de Janeiro : Elsevier, 2009.
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