Buscar

das pessoas naturais

Prévia do material em texto

DAS PESSOAS NATURAIS
Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. A pessoa natural ou física é o ser humano, sem ser exigida qualquer qualidade; assim, é certo afirmar que os animais irracionais não são sujeitos de direitos. São sujeitos de direitos as pessoas físicas ou naturais e as jurídicas ou morais, porquanto detentoras de personalidade civil. E, como tais, poderão se investir na titularidade de todos os direitos e deveres que, por concessão legal, estiverem ao seu alcance.
A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Personalidade jurídica é a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações na ordem jurídica.
Teorias a respeito do início da Personalidade jurídica 
a) Teoria natalista
b) Teoria concepcionista
c) Teoria da personalidade condicional
CAPACIDADE:
É a medida da personalidade. Pode ser de direito ou de fato.
Os atos da vida civil que dizem respeito ao estado ou capacidade das pessoas naturais devem ser inscritos no registro público competente (Registro Civil das Pessoas Naturais).
O registro civil tem dupla finalidade: documentar e dar publicidade ao estado das pessoas e à situação dos bens.
Serão inscritos e averbados em Registro Público: artigos 9º e 10.
Só se adquire a capacidade de fato com a plenitude da consciência e da vontade. Nem todos a possuem; é a aptidão para exercer, pessoalmente, os atos da vida civil.
Diferença entre capacidade e legitimação: a capacidade é a medida da personalidade; a legitimação é uma condição especial, uma capacidade específica para um determinado ato.
Tenha-se como exemplo um contrato de locação averbado na matrícula do imóvel no RGI, e o locador não dá ao locatário a preferência.
A pessoa tem a capacidade de direito, mas pode não ter a capacidade de fato. Os recém-nascidos têm somente a capacidade de direito, pois essa é adquirida assim que a pessoa nasce. Eles podem, por exemplo, exercer o direito de herdar, mas não têm capacidade de fato, ou seja, não podem exercer o direito de propor qualquer ação em defesa da herança recebida, e, portanto, precisam ser representados pelos pais ou curadores.
Todos têm capacidade de direito, mas nem todos têm a capacidade de fato.
Ocorre capacidade plena quando a pessoa é dotada das duas espécies de capacidade: a capacidade de direito e a capacidade de fato.
INCAPACIDADES:
Trata-se de pessoa incapaz aquela legalmente restrita para a prática, por si só, de atos na vida civil. O instituto da incapacidade existe para proteger tais pessoas. O Código Civil relaciona os graus de incapacidade:
Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de dezesseis anos.
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
– os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
– os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;
– aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
IV – os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.
 
INCAPACIDADE ABSOLUTA:
O inc. I do art. 166 c/c o art. 104, I, ambos do Código Civil, versam que um ato praticado por um absolutamente incapaz é em regra nulo, quando ele não estiver representado.
Sendo o negócio nulo, qualquer interessado e os membros do MP têm legitimidade para arguir essa nulidade, conforme menciona art. 168 do Código Civil:
O juiz, de ofício, pode conhecê-las. A expressão “devem ser pronunciadas pelo juiz” demonstra a possibilidade de atuação ex officio pelo mesmo.
É lógico que esses absolutamente incapazes não têm capacidade de fato, mas têm capacidade de direito, e, por isso, podem ser sujeitos de direitos e obrigações. Logo, o incapaz tem que atuar no mundo jurídico. O suprimento dessa incapacidade se dá através do instituto da representação, ou seja, o ordenamento jurídico prevê um sistema em que alguém representa o incapaz, substituindo sua vontade. 
Mesmo a teor do art. 166, I, nem todo negócio jurídico realizado por absolutamente incapaz, sem que ele esteja representado, é nulo. Caso contrário, nenhum menor poderia fazer coisas simples do dia a dia, tais como pegar um ônibus (contrato de transporte), fazer um lanche em uma lanchonete (contrato de compra e venda), comprar um tênis, ir ao cinema (contrato de prestação de serviço). 
Cria-se a incapacidade para proteger, e não para punir. Assim, mesmo em relação aos absolutamente incapazes, é preciso conceder-lhes certa autonomia para os negócios do dia a dia, e que naturalmente tenham a ver com sua própria subsistência. 
Art. 3° A vontade dos absolutamente incapazes na hipótese do art. 3º, I, é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento para tanto (Enunciado n. 138 da III Jornada de Direito Civil).
INCAPACIDADE RELATIVA:
Os relativamente incapazes são assistidos.
Os atos praticados pelos relativamente incapazes são atos anuláveis, segundo a legislação.
No entanto, os atos por eles praticados são passíveis de ratificação ou confirmação se não comprometerem direito de terceiro.
 Segundo a regra do art. 180 do Código Civil, o menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior. Assim, aquele que obrou de má-fé não tem o direito de pleitear a anulação do ato.
Art. 4º, IV, do Código Civil – pródigo é o portador de um desvio de comportamento que o faz gastar compulsivamente, podendo reduzir-se à miséria. A limitação do pródigo é restrita, e o curador só precisa assisti-lo em alguns atos (art. 1.782 do Código Civil). No que diz respeito ao casamento, o pródigo pode se casar sem necessitar de assistência, e o seu regime será o da comunhão parcial; porém, para realizar pacto antenupcial, deverá ser assistido. O curador não se manifesta sobre a pessoa, somente sobre o regime de bens.
Art. 4º, parágrafo único, Código Civil – o Código Civil não fala mais em silvícola e diz que o índio deve ser tratado em lei especial (a Lei n. 6.001/73, art. 8º, considera o índio, em tese, aquele afastado da civilização, absolutamente incapaz). 
EMANCIPAÇÃO:
Emancipação é o instituto por meio do qual se antecipa a capacidade de exercício de direitos do menor. 
Arts. 5º, 1517 e 1520 do Código Civil
A emancipação pode ser de três espécies: a) voluntária; b) judicial; ou, c) legal.
a) A emancipação voluntária é aquela concedida por ato dos pais ou de um deles na falta do outro, por instrumento público, independentemente de homologação judicial, desde que o menor tenha 16 anos completos. O pai que detém a guarda não pode, sozinho, emancipar o filho. É ato conjunto, só podendo fazer sozinho se o outro estiver morto ou destituído do poder familiar. Constitui ato irretratável e irrevogável, salvo existência de fraude, a qual possibilita a revogação.
b) A emancipação judicial é aquela concedida pelo juiz em face do menor tutelado, ouvido o tutor, desde que esse menor tenha 16 anos completos.
c) A emancipação legal, prevista nos incs. II a V, decorre diretamente da lei.
EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE NATURAL:
A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. O que marca o fim da pessoa natural é a morte. O que prevalece é o diagnóstico de morte encefálica. Vejamos:
Art. 3º da Lei n. 9.434. A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina.
Não há como estudar oartigo acima sem observar os arts. 37 e 38 do Código Civil.
A doutrina costuma afirmar que existem duas espécies de morte: a morte real e a morte presumida. Morte real é a que consta a declaração de óbito, e pressupõe a análise do corpo sem vida. Com relação à morte presumida, o direito admite duas situações:
ausência – é o procedimento de passar a outro os bens de alguém que desapareceu. No momento em que se abre uma sucessão definitiva, o ausente é considerado morto presumido. O registro do ausente declarado morto é feito no Registro Civil com o registro de ausência, sem a certidão de óbito.
art. 7º – morte presumida, sem decretação de ausência, é o juiz que declara em procedimento de justificação (da morte). Nessas hipóteses, o registro é feito no livro de óbito, equiparando-se à morte real. Essas pessoas não são ausentes.
Essa declaração da morte presumida será feita por sentença judicial, que fixará a data provável do falecimento, para todos os fins de direito. Importante lembrar que durante o processo devem ser feitas todas as investigações e esgotadas todas as buscas e averiguações sobre o paradeiro do sumido. A sentença proferida não faz coisa julgada material, podendo ser revista a qualquer momento, desde que surjam novas provas ou mesmo notícias sobre a localização do desaparecido. Se este que foi declarado morto regressa, volta-se ao estado primitivo.
Também é considerado caso de morte presumida o desaparecimento de pessoa em campanha ou feita prisioneira, se a mesma não aparecer até dois anos do término da guerra declarada.
COMORIÊNCIA OU MORTE SIMULTÂNEA:
Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu ao(s) outro(s), presumir-se-ão simultaneamente mortos. Em nosso sistema jurídico, se duas ou mais pessoas falecem na mesma ocasião, pessoas essas que evidentemente possam transferir direitos hereditários uma para a outra, e não se puder determinar clinicamente através de exame qual delas morreu primeiro, temos a presunção de que elas morreram simultaneamente (diversamente de outros sistemas jurídicos que aplicam a presunção de falecimento de um em detrimento do outro). Em outros países, como a França, caso morram a criança e o adulto, presume-se que a criança morreu primeiro; se eram o marido e a esposa, presume-se que a esposa morreu primeiro; se eram a pessoa adulta e a pessoa idosa, presume-se que a pessoa idosa morreu primeiro.
O efeito da comoriência é determinar que não há transmissão de direitos hereditários entre os comorientes, ou seja, um não transmite para o outro. Logo, cada um transmitirá os direitos hereditários para os seus herdeiros.
DIREITOS DA PERSONALIDADE:
Oportuno diferençar os conceitos de personalidade dos direitos da personalidade. Verifica-se no art. 2º do Código Civil que a personalidade é a aptidão genérica, reconhecida a todo ser humano para contrair direitos e deveres na vida civil; trata-se, em síntese, de um conjunto de atributos naturais. A tutela desses atributos é o direito da personalidade, que se classifica em direito à integridade física, direito à integridade intelectual e direito à integridade moral.
De acordo com a doutrina clássica, os direitos da personalidade são faculdades jurídicas cujo objeto são os diversos aspectos da própria pessoa do sujeito.
Pode-se afirmar que são direitos subjetivos absolutos os presentes nos arts. 11 a 20 da legislação civilista, os quais possibilitam a atuação legal, com o bom uso de uma faculdade ou de um conjunto de faculdades na defesa da própria pessoa, nos seus aspectos físicos e espirituais, sob normas legais e nos limites do exercício fundado na boa-fé. 
Os direitos da personalidade possuem as seguintes características: direitos inatos; vitalícios; absolutos; indisponíveis; extrapatrimoniais; intransmissíveis. 
a) Direitos inatos - São direitos adquiridos com o surgimento da personalidade. Os direitos inatos da personalidade, diversamente dos demais, não necessitam de uma manifestação de vontade para firmar sua titularidade. De acordo com a teoria natalista, a partir do nascimento, automaticamente já se detém o direito subjetivo da personalidade, ou seja, já se possui direito ao nome, à honra, ao recato etc. Por isso, se diz que eles são inatos, já que os mesmos são inerentes ao próprio surgimento da personalidade, qualquer que seja o entendimento adotado (natalista ou concepcionista). 
b) Direitos vitalícios - Os direitos da personalidade perduram durante todo o ciclo vital da pessoa, ou seja, iniciam-se com a vida e se findam com a morte. Ainda que se tenha a capacidade reduzida, ou antes, que se trate de alguém absolutamente incapaz, em nada se alteram os direitos da personalidade. A personalidade termina com a morte; porém, de acordo com o padrão de civilização que já atingimos, há alguns casos em que damos proteção aos direitos da personalidade, mesmo depois de morta a pessoa. A personalidade, de fato, não mais subsiste; o que subsiste é a proteção dada àquele direito (o direito à honra; os direitos morais do autor). 
c) Direitos absolutos - Os direitos absolutos são aqueles que se exercem erga omnes, enquanto os relativos possuem sujeitos passivos determinados ou determináveis. Esses constituem os direitos obrigacionais, enquanto aqueles consistem nos direitos da personalidade. 
d) Direitos indisponíveis - Os direitos da personalidade estão fora do comércio; no entanto, isso não ocorre com todos os bens da personalidade, pois alguns, como a imagem ou o nome, são disponíveis, conforme se pode observar com a leitura do art. 11 da legislação civilista:
A disponibilidade pode ser fundamentada no trecho “não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária”. Ademais, a própria lei prevê a disponibilidade ao permitir a doação de órgãos, conforme preceitua o art. 14 da legislação.34
Não se pode admitir que a exploração das potencialidades econômicas dos direitos da personalidade sejam ad aeternun, pois se estaria violando frontalmente as disposições do art. 11 do Código Civil. 
Tal permissão contratual não implica transmissão ou renúncia aos respectivos direitos da personalidade.
O reality show viola o direito da personalidade? Entende parte da doutrina que o contrato é nulo pela ilicitude do objeto, isso em razão da impossibilidade de renúncia ao direito da personalidade. Outra parte da doutrina entende que, se não for violada a dignidade da pessoa humana, bem como o princípio da ordem pública, não haverá violação alguma. 
e) Direitos extrapatrimoniais - Os direitos da personalidade não têm valor patrimonial. Não há como valorar a vida ou a honra de uma liberdade cerceada. O fato de não ter como aferir o valor não significa que, violado o direito da personalidade, não haja a possibilidade de ação de responsabilidade civil por dano moral e a consequente compensação ou reparação.
f) Direitos intransmissíveis - Não há como se transmitir honra, recato, vida, já que os direitos da personalidade são ínsitos ao aspecto físico e espiritual do seu titular. Contudo, nada impede que os herdeiros demandem em caso de uma ofensa à pessoa falecida.
DA PROTEÇÃO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE:
Pode-se exigir que cesse a ameaça ou a lesão a direito da personalidade e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente ou qualquer parente em linha reta ou colateral até o quarto grau.
Percebe-se que o art. 12 do Código Civil versa sobre os mecanismos da tutela dos direitos da personalidade, tanto no sentido de prevenção (tutela preventiva) como de cessação da ocorrência de lesão, podendo a parte cumular estes pedidos com perdas e danos. Quanto à questão da legitimação mencionada no parágrafo único do art. 12 do Código Civil, ora estudado, dá-se legitimação também ao companheiro.
a) Vedação de atos de disposição do próprio corpo - Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do própriocorpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. O ato previsto no art. 13 será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial. Mediante contraprestação pecuniária, estão vedados todos os atos de disposição do próprio corpo, que reduzam a integridade física do indivíduo ou que venham a contrariar os bons costumes e a moral. 
Na visão moderna, o art. 13 do Código Civil não veda as cirurgias de mudança de sexo, pois se deve dar ênfase à dignidade da pessoa humana; é o caso de pessoas que vivem em constante conflito interno quanto à sua sexualidade. 
O tema apresenta controvérsias e sempre deve ser analisado sob o prisma constitucional. A alteração de sexo (transgenitalização) encontra guarida também no art. 5º, X, da Constituição Federal. Nesses tipos de cirurgia é alterado o estado da pessoa, ocorrendo grande repercussão social. Havendo a mudança de sexo, em regra, o nome também será modificado; trata-se, então, de conditio sine qua non. A doutrina sustenta que tal ação busca, na verdade, a alteração do estado individual; portanto, não se trata, evidentemente, de ação visando à mera retificação de registro civil. Assim, essa questão deve ser colocada perante o Juízo de Família.
Tatuagem e piercing são permitidos, pois são atos de autonomia privada, não acarretando diminuição permanente da integridade física e não afetando os bons costumes dentro do padrão médio da sociedade. Trata-se da aplicação do princípio da adequação social.
 
b) O princípio do consenso afirmativo - É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo. Hoje vigora a doação consentida ou o princípio do consenso afirmativo, porquanto aqui prevalece a autonomia privada da vontade do ser humano, principalmente por se aproximar do princípio da solidariedade. É possível a feitura de um testamento manifestando a vontade de que após a morte sejam doados os órgãos.
Diante de cirurgias de risco, o paciente deve ser informado pelo médico de todas as circunstâncias que envolvem o ato cirúrgico. Isso é importante para o paciente, bem como para o médico, pois o mesmo se resguarda de futuras responsabilidades.
c) Os princípios da autonomia do paciente e da não maleficência - Ninguém pode ser constrangido a se submeter, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. O art. 15 do Código Civil confere ao paciente o direito de se submeter ou não ao tratamento médico, depois de informado sobre os procedimentos, riscos de vida ou de sequelas que eventualmente possam ocorrer. A recusa não pode ser fútil.
O dispositivo deve ser interpretado restritivamente, sem jamais priorizar a liberdade do paciente em detrimento da vida, a qual tem primazia constitucional. O que importa para os chamados “testemunhas de Jeová”, por exemplo, é a liberdade religiosa e não a vida. Não aceitam a transfusão de sangue. Nesse caso, a posição dominante atualmente é que o médico deverá fazer a transfusão e salvar a vida do paciente (ponderação dos direitos). Pablo Stolze entende que as instituições hospitalares, em determinados casos, devem obter suprimento da autorização pela via judicial. De forma diversa, vale expor a posição do professor Anderson Schereiber, que destaca ser intolerável que uma Testemunha de Jeová seja compelida, contra a sua livre manifestação de vontade, a receber transfusão de sangue, com base na pretensa superioridade do direito à vida sobre a sua liberdade de crença.
O DIREITO AO NOME:
Elemento designativo do indivíduo e fator de sua identificação na sociedade, o nome é, ainda, atributo da personalidade, nas lições de Caio Mário da Silva Pereira. Ele envolve, simultaneamente, um direito individual e um interesse social. É direito e é dever; nele são compreendidos o prenome (designa o indivíduo) e o sobrenome (indica a origem familiar), além de possuir um aspecto privado e um aspecto público. No aspecto privado o nome é um direito da personalidade ligado ao princípio da dignidade humana. O nome é um elo entre a pessoa e a sociedade, do que resulta seu aspecto público. No aspecto público, o nome é necessário para que todos nós sejamos identificados, ou seja, está ligado à ideia de uma identidade. O aspecto privado possibilita que a pessoa mude o seu nome de acordo com a trajetória da sua vida. No aspecto público há uma índole conservadora, porquanto a sociedade exige que o nome seja imutável para que haja segurança na identificação de cada um.
São chamados de contingentes ou secundários: o agnome: Neto, Filho, Júnior. Ex.: Péricles Júnior. Quando há um apelido público e notório, esse é chamado de vocatório (Xuxa, Pelé, Lula). O hipocorístico é um designativo do nome derivado de sua raiz, destinado à expressão de afeto (Zeca, Chico).
O prenome pode ser mudado nas seguintes hipóteses:
adoção de um menor;
nome vexatório (art. 55 da LRP)
erro gráfico (art. 110 da LRP);
homonímia;
art. 56 da LRP – dos 18 aos 19 anos.
aquelas pessoas que estão no programa de proteção a vítimas e testemunhas, de acordo com o parágrafo único do art. 58 da LRP;
art. 57 da LRP;
casamento, separação ou divórcio (art. 1.565, §§ 1º e 2º, do CC);
substituições por apelidos públicos notórios (art. 58 da LRP).
 
O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. Mesmo que não seja exposto ao desprezo público, o nome da pessoa não pode ser utilizado por uma terceira pessoa, sem a devida autorização, sob pena de reparação, por violação à honra objetiva e subjetiva.
a) Vedação do uso do nome em propaganda na falta de autorização - Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial. Tal proteção abrange o prenome, bem como o nome da família. 
Todos pensam que o direito à imagem está relacionado simplesmente ao retrato. Imagem não é apenas a retratação do físico de alguém. Imagem é toda a representação da pessoa, de suas múltiplas formas de comportamento ou manifestações, as quais identificam a sua própria personalidade. Quando se fala de direito à imagem, têm-se a imagem-retrato, a imagem-atributo e a imagem voz.
A imagem-retrato é ofendida no simples momento em que o indivíduo capta a imagem de alguém sem autorização. Trata-se da representação física da pessoa como um todo ou em partes separadas do corpo, desde que identificáveis, implicando o reconhecimento de seu titular por meio de fotografia, escultura, desenho, pintura.
Imagem-atributo é o atributo moral que está por trás da imagem de uma pessoa (reputação/prestígio social). Essa imagem-atributo é defensável (art. 5º, V, da Constituição Federal, de 1988).
b) O uso do nome fictício - O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome. Pseudônimo significa um nome fictício usado por um indivíduo como alternativa ao seu nome legal. Normalmente é um nome inventado por um escritor, um poeta, um jornalista ou um artista que não queira ou não possa assinar suas próprias obras. Nem sempre o pseudônimo é uma mudança total do nome; às vezes pode consistir na mudança de uma letra ou outra, frequentemente, porque o portador acha seu nome de batismo “difícil”. Sob o aspecto jurídico, o pseudônimo é tutelado pela lei quando tenha adquirido a mesma importância no nome oficial, nas mesmas modalidades que defendem o direito ao nome. Historicamente, muitos autores e escritores usaram pseudônimos, porque sempre criticaram lideranças políticas em tempos difíceis, como ditaduras militares. Era uma forma de publicar suas obras sem ser preso, torturado ou até morto. Afirma-se que não pode o mesmo ser utilizado para fins ilícitos.
DA PROTEÇÃO À PALAVRA E À IMAGEM:
Salvo autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou apublicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, ao seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.70 Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
O art. 20 do Código Civil se refere à imagem, cabendo ao prejudicado postular a proibição da divulgação, bem como requerer a reparação cabível, desde que seja atingida a honra, a boa fama, ou seja, quando é ferida a dignidade da pessoa humana.
Ocorrendo colisão entre as liberdades de informação e expressão e o direito de imagem, será necessário haver ponderação entre os elementos envolvidos. Nesse caso devem ser levados em conta a veracidade dos fatos, a licitude dos meios empregados na obtenção da informação, a personalidade pública ou estritamente privada da pessoa objeto da notícia, o local do fato, a existência de interesse público na divulgação e a preferência por medidas que não envolvam a proibição prévia da divulgação.
Importante mencionar que se a imagem for utilizada em um conjunto genérico, como uma fotografia que exibe a imagem de milhares de torcedores, sem individualização, não se pode falar em dano. Aqui, de forma inegável, estamos debatendo o fenômeno coletivo. Porém, se a imagem for individualizada e utilizada sem a sua autorização, está clara a violação ao direito de imagem.
 
DA PROTEÇÃO À INTIMIDADE:
A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a essa norma. Trata-se do direito do indivíduo de estar só, bem como de excluir do conhecimento alheio as suas escolhas existenciais. Um exemplo claro de violação da privacidade ocorre quando os programas de televisão realizam a leitura labial dos jogadores de futebol. Enfim, é o direito que cada indivíduo possui de impedir a intromissão de pessoas estranhas em sua vida particular.
 
DA AUSÊNCIA:
Ausência significa o desaparecimento de uma pessoa de seu domicílio, sem deixar notícias de seu paradeiro (Lugar Incerto e Não Sabido) e sem designar procurador ou representante a quem caiba a administração de seus bens. 
Se o indivíduo desaparece sem deixar notícias, abre-se prazo para a pessoa interessada requerer a ausência. O objetivo do instituto é a proteção do patrimônio do ausente, bem como de seus herdeiros.
São legitimados para o requerimento da ausência o Ministério Público ou qualquer interessado. 
Quando uma pessoa desaparece de seu domicílio sem deixar vestígios ou procurador a quem caiba administrar os bens, pode ser declarada a ausência. (artigo 22 do CC).
Caso uma pessoa venha a desaparecer de seu domicílio, mas deixa um mandatário que não quer ou não pode exercer, ou continuar o mandato que lhe foi conferido, ou se os seus poderes forem insuficientes (artigo 23 do CC).
Fases relacionadas ao instituto:
Curadoria dos bens: ocorre no momento da constatação do desaparecimento da pessoa e de forma concomitante haja requerimento de pessoa interessada. Haverá a declaração da ausência, sendo nomeada pelo juiz uma pessoa com o munus público de administrar os bens do ausente. De forma preferencial o curador deverá ser o cônjuge, sempre que não haja separação judicial nem de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência. Na falta do cônjuge, a lei prevê (artigos 24 e 25 do CC).
 
A ocorrência da sucessão provisória: dentro do prazo estabelecido em lei (um ou três anos) da arrecadação dos bens do ausente, os interessados podem requerer a sucessão provisória. Logo que passe em julgado a sentença que determinar a abertura da sucessão provisória, o testamento será aberto, se existir, e ocorrerão o inventário e a partilha de bens. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias depois de oficialmente publicada na imprensa. No entanto, os herdeiros podem imitir-se na posse dos bens do ausente, mediante garantia da restituição deles (penhores e hipotecas) em caso de reaparecimento do ausente. Se esses forem herdeiros necessários, poderão entrar na posse dos bens do ausente, independente de garantia. Já os sucessores provisórios ficarão representando ativa e passivamente o ausente, correndo contra eles as ações pendentes e futuras.
 
Regresso do ausente.
Se este retorna durante a curadoria dos bens, extingue-se o processo;
Se o retorno ocorre durante a sucessão provisória, dois fatos devem ser mencionados: a) havendo herdeiros necessários, extinguem-se suas vantagens; b) com relação aos outros herdeiros, aplica-se o item a, somando-se o dever de entrega dos frutos e rendimentos do bem ou bens, salvo se ausência foi voluntária e injustificada;
Se o mesmo ocorreu durante a sucessão definitiva: a) antes de ultrapassados dez anos da sua abertura, o ausente terá direito aos bens existentes; b) depois de ultrapassados dez anos da sua abertura, não terá o ausente mais direito aos bens.

Continue navegando