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05 - COEVOLUÇÃO

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1 
 
COEVOLUÇÃO 
 
A coevolução ocorre quando duas ou mais espécies influenciam reciprocamente 
suas evoluções. Pode originar coadaptações entre espécies, porém não obrigatoriamente 
isto irá acontecer, uma vez que, somente a constatação de coadaptação entre espécies 
não é suficiente para confirmar que elas coevoluíram. Demonstrar a coevolução exige 
que seja levada em consideração a história evolutiva do seres em questão, pois é 
necessário saber se as espécies estão coadaptadas agora, mas também que seus 
ancestrais evoluíram juntos, exercendo forças seletivas uns sobre os outros. Este 
procedimento é feito através de análises filogenéticas dos grupos em estudo. 
 
Coadaptação 
 
O termo coadaptação se refere à existência de interação benéfica entre 
organismos pertencentes a duas espécies diferentes. 
Como exemplo de coadaptação, temos a relação mutualística observada entre a 
formiga Formica fusca, e a borboleta licenídea Glaucopsyche lygdamus (figura 1). A 
formiga se alimenta de um líquido adocicado secretado pelo órgão de Newcomer 
presente na lagarta, cujo único propósito parece ser produzir comida para as formigas. O 
motivo de as lagartas alimentarem as formigas, segundo o estudo de Pierce e Mead, é 
que as lagartas alimentam as formigas em troca de proteção contra parasitas, que são 
vespas braconídeas e moscas taquinídeas. Sem a proteção oferecida pelas formigas, as 
lagartas são praticamente indefesas a esses parasitas letais. 
 
 
Figura 1. Formica fusca se alimentando em lagarta de Glaucopsyche lygdamus. 
 
Pierce e Mead impediram experimentalmente que as formigas tomassem conta 
das lagartas, e então foram medidas as taxas de parasitismo nas lagartas 
experimentalmente desprotegidas, e nas lagartas controle protegidas normalmente. Os 
resultados demonstraram que as formigas reduzem as taxas de parasitismo em G. 
lygdamus (tabela 1). Portanto, formigas e lagartas estão estreitamente coadaptadas uma 
à outra; as formigas ganham comida, e as lagartas ganham proteção. 
 
 Sem formigas Com Formigas 
Local % parasitadas número % parasitadas número 
Gold basin 42 38 18 57 
Naked Hills 48 27 23 39 
Tabela 1. Frequência de lagartas de Glaucopsyche lygdamus parasitadas na presença e ausência de 
formigas Formica fusca. 
 
2 
 
Como este tipo de interação interespecífica evoluiu? Isto pode ter iniciado com o 
fato das lagartas passarem a produzir uma secreção adocicada por um motivo ainda 
desconhecido que atraíram formigas. Mudanças em uma das espécies, como a produção 
de maior quantidade de secreção adocicada poderia ter favorecido mudanças na formiga 
(aumento de proteção). 
 
Coevolução inseto-planta. 
 
A coevolução tem sido considerada uma importante força que conduz à radiação 
adaptativa e a diversificação de insetos e plantas. Um aspecto fundamental da 
coevolução são as adaptações e o entrelaçado das co-adaptações ao longo do tempo. 
Cada família de borboleta alimenta-se de uma variedade restrita de plantas, mas 
em muitos casos essas plantas não têm relações evolutivas próximas. Muitas plantas 
produzem inseticidas naturais (produtos químicos como alcalóides tóxicos para espécies 
de insetos fitófagos. Muitos insetos podem desenvolver resistência a estes inseticidas 
por meio de mutações genéticas que geram mecanismos de detoxificação. Ao surgir, um 
novo mecanismo de detoxificação permite aos insetos se alimentarem de um grupo de 
plantas quimicamente semelhantes, mas não evolutivamente relacionadas, porque 
plantas não relacionadas podem usar os mesmos produtos químicos defensivos. Uma 
verdadeira corrida armamentista bioquímica foi iniciada entre plantas e insetos 
favorecendo, de ambos os lados, a diversificação desses grupos. 
Um exemplo de interação inseto-planta é o que ocorre com borboleta monarca - 
Danaus plexippus e as plantas da família apocinácea (fig. 3). Suas larvas são herbívoras 
especialistas, consumindo apenas as plantas hospedeiras Asclepias curassavica 
pertencentes à família Apocinacea. As apocináceas fornecem as monarcas uma defesa 
química eficaz contra vários predadores. As monarcas extraem os cardenolídeos 
(também denominados glicosídeos cardiotônicos) presentes nas apocináceas, tornando-
se venenosas à maioria dos vertebrados. Pássaros que se alimentarem da monarca adulta 
ou sua larva têm reações fisiologicamente prejudiciais e passam a evita-las. Os 
benefícios que as monarcas recebem dos cardenolídeos não são gratuitos. A 
concentração de cardenolídeos nas apocináceas varia significativamente de uma espécie 
para outra, e mesmo dentro da mesma espécie. Além disso, a toxina e o látex viscoso 
produzidos pelas plantas fornecem defesas contra herbívoros. 
 
 
Figura 3. borboleta monarca - Danaus plexippus. Adulto (esquerda) e larva (direita). 
 
Outro tipo de interação entre insetos e plantas que leva à coadaptação e 
coevolução é a polinização de plantas por insetos. 
Em qualquer espécie com flor, a seleção natural favorece aquelas flores cujo 
pólen só é transportado para outras flores da mesma espécie. Se o inseto pousa sobre 
outra espécie de flor, aquele pólen é desperdiçado. Uma flor pode guardar seu néctar de 
3 
 
recompensa para o inseto em um local que só pode ser alcançado por insetos que 
tenham um órgão especializado. Portanto, só os insetos que têm aquele órgão 
especializado podem obter o néctar porque sofrem muita pouca concorrência com 
outros insetos. Como consequência, esses insetos só pousarão em flores do mesmo tipo 
porque ali serão recompensados. 
Darwin cultivou e estudou várias espécies de orquídeas nativas, ele percebeu que 
as diferenças morfológicas entre as variedades de orquídeas eram adaptações que 
permitiam a atração de insetos perfeitamente adaptados a cada tipo de orquídea, 
evitando que o polinizador levasse o pólen a uma espécie distinta. Como exemplo disso 
temos a orquídea Angraecum sesquipedale que armazena o néctar no fundo de um tubo 
longo projetado até o cálice. Esse fato chamou a atenção de Darwin levando-o a pensar 
na existência de um animal especializado para o transporte do néctar (fig. 2). Mas 
somente em 1903, cientistas descobriram que a mariposa esfingídea ostentava uma 
longa tromba (probóscide) unicamente apropriada para alcançar o fundo do tubo de 
néctar das orquídeas. 
 
 
Figura. 2. Flor de Angraecum sesquipedale sendo visitada pela mariposa Xanthopan morgani. 
 
À medida que a seleção natural favorece relações especialistas com os 
polinizadores, haverá uma tendência ao aumento da diversidade das plantas e dos 
insetos. As plantas que são polinizadas por uma única espécie de inseto têm vantagem 
porque menos pólen delas será desperdiçado. Da mesma forma ocorre com os insetos 
que se especializam em uma determinada planta, pois farão uso mais eficiente de suas 
adaptações nutricionais especializadas. 
 
 
Co-filogenias ou imagens especulares. 
 
Não só a borboleta monarca desenvolveu o mecanismo descrito acima, os 
besouros do gênero Tetraopes armazenam essas toxinas em seu próprio corpo, 
tornando-se impalatáveis aos seus predadores. Para Tetraopes os cardenolídeos 
deixaram de ser uma ameaça e passou a ser uma ferramenta de proteção contra a 
predação. Essa evolução ocorreu de forma mútua, como visualizada na figura 4, 
4 
 
apresentando filogenias em imagem especular ou co-filogenias. A especiação em um 
táxon tende a causar especiação no outro táxon também. Se duas subpopulações de uma 
espécie ancestral de apocinácea ficarem geograficamente separadas, cada uma terá sua 
própria subpopulação de Tetraopes. Essas separações podem promover o 
desenvolvimento de conjuntos de cardenolídeos distintos, ou seja,para cada 
subpopulação um grupo químico específico. Dessa forma cada subpopulação de 
besouros desenvolveria mecanismos específicos para cada grupo de plantas. Assim o 
isolamento reprodutivo se desenvolveria, como processo clássico de especiação 
alopátrica. 
 
 
 
Figura 4. Filogenia de besouros cerambicídeos (esquerda) e plantas da família apocinácea (direita). 
 
Mas pode ocorrer de mudanças em um táxon promoverem mudanças em outro, e 
o contrário não acontecer. Isso se denomina evolução sequencial. Alguns cientistas 
propuseram que as plantas influenciam mudanças em insetos, mas estes oferecem pouca 
pressão para evolução das plantas. Várias causas podem explicar, uma delas é o fato de 
que muitos insetos se alimentam de uma única planta, que acaba servindo de alimento 
5 
 
para vários tipos de insetos. Quando ocorre mudança numa determinada planta, os 
insetos que se alimentavam desta tem que acompanhar a evolução; mas com a 
modificação do inseto a planta sofrerá pouquíssima pressão. No entanto, saber até que 
ponto a evolução inseto-planta é sequencial ou coevolutiva é um assunto de pesquisa 
que não alcançou ainda uma conclusão com aceitação geral. 
 
 
Quando insetos fitófagos trocam de hospedeiro (quimicamente semelhantes) não 
ocorre co-filogenia. 
 
Insetos e plantas podem co-evoluir sem produzir filogenias com imagem 
especular. Isso foi mostrado entre plantas do gênero Bursera e besouros Blepharida. 
Este grupo se divide em quatro subgrupos quimicamente distintos, e que, no entanto as 
espécies que formam esses subgrupos encontram-se dispersas na filogenia. Durante a 
evolução, esses besouros crisomelídeos desenvolveram uma defesa contra certo 
conjunto de substâncias químicas produzidas por espécies do gênero Blepharida, 
principalmente B. flavocostata. Com o desenvolvimento de resistência a essas 
substâncias os besouros podem colonizar outras plantas que tenham as mesmas defesas 
químicas, ou seja, podem trocar de hospedeiro. Como é visto no cladograma abaixo, 
Bursera não têm uma relação filogenética próxima, o que ocorre é o acompanhamento 
filogenético evolutivo dos besouros com as plantas. 
 
 
Figura 5. Filogenias de Bursera (esquerda) e Blepharida (direita). 
 
6 
 
Apesar de estarem coevoluindo, Bursera e Blepharida não ocorre co-filogenia 
entre eles. Portanto a co-filogenia nem sempre vai estar presente na coevolução, mas 
pode ser usada para se buscar explicações sobre as forças evolutivas das histórias de 
dois táxons. 
 
Coevolução parasita-hospedeiro: 
 
A relação coevolutiva entre parasitas e hospedeiros é extremamente restrita e 
específica, tendo em vista que algumas vezes, certos parasitas possuem apenas uma 
espécie de hospedeiro. Dessa maneira, a coevolução entre ambos pode ser simultânea, à 
medida que durante a evolução de cada um, uma serie de mutações constantes atuarão 
sobre cada um individualmente, gerando mudanças coletivas, pois uma vez que eles 
apresentam antagonismo em suas coevoluções, um deve evoluir em resposta às 
mudanças evolutivas que o outro apresenta. Assim, podemos exemplificar bem este 
caso em relação à evolução das virulências e das filogenias entre esses. 
Virulência é a capacidade que o parasita possui em exaurir seu hospedeiro. 
Quanto mais rápido ele o faz, mas virulenta será sua infecção. Um caso comum na 
literatura é o exemplo do Mixomavírus atuando sobre coelhos. O Mixomavírus é o vírus 
que provoca a mixomatose. Acomete alguns coelhos da América do Sul, que por já 
possuir contato com esse patógeno, sua virulência não é tão alta. Em 1950, coelhos 
brasileiros da espécie Sylvilagus brasiliensis resistentes ao vírus da Mixomavírus foram 
implantado na Austrália, onde os coelhos de origem européia Oryctolagus cuniculus 
representavam uma peste. O resultado foi mortal. 99% da população de coelhos, a 
começar pelo sudeste da Austrália, passando pela costa sul e chegando ao oeste, foi 
dizimada. O mixomavírus foi implantando posteriormente em outros cantos do globo, 
como na França e Grã-Bretanha, onde se observou que a virulência do patógeno 
diminuíra. Surgiu então uma dúvida se a virulência do vírus que tinha diminuído ou a 
resistência do hospederio que havia aumentado? O fato é que evolução pode direcionar 
quaisquer de ambos os fenômenos, desde que se leve em consideração alguns fatores, 
como o modo da transmissão do parasita e a forma de infecção do parasita (Tab.2). 
 
Grau de virulência 
País I II IIIA IIIB IV V 
AUSTRÁLIA 
1950-51 100 0 0 0 0 0 
1958-59 0 25 29 27 14 5 
1963-64 0 0,3 26 34 31,3 8,3 
FRANÇA 
1953 100 0 0 0 0 0 
1962 11 10,3 34,6 20,8 13,5 0,8 
1968 2 4,1 14,4 20,7 58,8 4,3 
INGLATERRA 
1953 100 0 0 0 0 0 
1962-67 3 15,1 48,4 21,7 10,3 0,7 
1968-70 0 0 78 77 0 0 
1971-73 0 3,3 36,7 56,7 3,3 0 
1974-76 1,3 23,3 55 11,8 8,6 0 
1977-80 0 30,4 56,5 8,7 4,3 0 
Tabela 2. Porcentagens de coelhos contendo determinado tipo de linhagem de vírus. As linhagens 
de vírus são classificadas de acordo com a virulência. I é a mais virulenta e V é a menos. 
 
7 
 
A tabela 2 mostra que nos três países em que o vírus da mixomatose foi 
introduzido, á medida que o tempo foi passando de 1950 a 1980, a frequência de 
coelhos infectados por linhagens de virulência mais branda foi aumentando, indicando 
que o vírus se tornou menos virulento. 
A forma de transmissão dos parasitas é um fator importante a se considerar. Ela 
pode ocorrer por duas maneiras. Vertical ou horizontalmente. Durante a transmissão 
vertical, existe uma relação entre o hospedeiro e sua prole, onde o parasita 
indiretamente promove ou favorece a reprodução do hospedeiro, através do aleitamento, 
em caso de mamíferos, pelos gametas, ou passando de pai para filho, em caso de 
ectoparasitas. E na transmissão horizontal, não existe essa necessidade. O parasita é 
transmitido por indivíduos não parentes, seja pelas vias aéreas, durante o contato físico 
ou através de vetores, como mosquitos. 
No caso da mixomatose, o vírus é transmitido de um animal a outro por meio de 
mosquitos que picam os indivíduos infectados levando ao vírus aos saudáveis. Quando 
se introduziu os coelhos infectados com vírus naquele país, os coelhos australianos 
foram infectados e a maioria morreu, ficando os resistentes devido a genes presentes 
que conferiam resistência à mixomatose. Deste modo, os vírus selecionaram os coelhos 
resistentes, tornando a população mais resistente. Por outro lado, os vírus muito 
virulentos matavam os coelhos mais rapidamente e deixavam de ser transmitidos porque 
os mosquitos não picavam os coelhos mortos e assim foram selecionados os vírus mais 
brandos. 
A relação parasitária é uma relação de dependência, por parte do agente 
infectante, obviamente. Dessa forma, o quanto antes o parasita mate seu hospedeiro, 
maior será seu gasto energético para encontrar um novo. Então a virulência parasítica 
tende a diminuir. E pode diminuir ainda mais, dependendo o tipo de infecção que o 
mesmo apresenta. As provocadas por um único indivíduo são geralmente mais brandas 
que as provocadas por vários indivíduos simultaneamente. O motivo é simples: 
parasitas que infectam individualmente, ao se reproduzir, farão uma linhagem de 
indivíduos parentes, assim o parentesco irá evitar que qualquer atitude egoísta tomada 
na intenção de exaurir o hospedeiro seja tomada. Mas por outro lado, em infecções 
múltiplas, os indivíduos que não são parentes competem entre si, tornando a virulência 
maior porque cada parasita tentará extrair o máximo do hospedeiro antes que outros 
parasitas se aproveitem do recurso. 
Essa forma de infecção nos orienta em termos médicos, que pode ser explicadopelas vacinas que tomamos. Nas vacinas que inibem a reprodução dos vírus, o que 
implica que o hospedeiro já foi infectado, haverá uma competitividade entre os vírus, 
fazendo com que a virulência aumente porque os vírus mais virulentos agem antes que a 
vacina os alcance, sobrevivendo, enquanto os menos virulentos (mais lentos) morrerão. 
Já as vacinas de campanhas preventivas, como o nome sugere, impedirão que os vírus 
infectem seus respectivos hospedeiros. Sendo assim, poucos patógenos penetrarão no 
corpo do indivíduo e caso e isso ocorra, o grau de parentesco impedirá uma virulência 
acentuada. Infecções únicas e transmissão vertical comumente estão associadas na 
natureza. 
Onde quer que exista vida, existirão parasitas. Existem 10 bilhões de vírus em 
cada 950 mL de água do mar. Além dos vírus, muitas linhagens de bactérias, fungos 
algas, plantas e animais seguiram o caminho do parasitismo. Algumas estimativas 
afirmam que 4 em cada 5 espécies são parasitas. 
Os parasitas e seus hospedeiros não são muito deferentes de um besouro 
tentando devorar as folhas de uma árvore. Para sobreviver, os parasitas precisam 
consumir o seu hospedeiro e este tentará se defender. Estes dois imperativos criam uma 
8 
 
luta coevolutiva. Qualquer adaptação que possa manter um hospedeiro livre de doenças 
será favorecida pela seleção natural. As lagartas enroladoras de folha, por exemplo, 
disparam suas fezes através de um canhão anal, de modo que elas não terminem 
formando uma pilha de excrementos que possa atrair vespas parasitas. Chimpanzés 
procuram plantas matadoras de parasitas quando tem vermes intestinais. Quando 
machos de moscas das frutas do deserto de Sonora são atacados por ácaros sugadores de 
sangue, entram num frenesi de acasalamento de modo a passar o máximo possível de 
seus genes antes de morrerem. 
Em humanos, a proteína CCR5, que fica na superfície de células do sistema 
imunológico, é usada como “porta de entrada” para que os vírus HIV penetrem as 
células. Algumas pessoas tem uma mutação no gene que codifica esta proteína 
tornando-a incapaz de se ligar ao HIV, impedindo que este infecte a célula. Tais pessoas 
podem ter o HIV sem desenvolver AIDS. 
Por sua vez, os parasitas desenvolveram meios de evitar as defesas do 
hospedeiro. Quando uma célula parasita entra num hospedeiro, ela precisa escapar do 
ataque das células imunológicas que a bombardeiam com venenos, tentam sufocá-la 
tampando os canais de sua membrana, ou então a engolindo inteira. Os invasores 
parasitas usam camuflagens para sobreviver. Eles podem carregar proteínas superficiais 
que são requintadas imitações das proteínas que o corpo produz. Alguns deles usam este 
mimetismo para entrar nas células através de passagens bem guardadas. Alguns 
parasitas tentam bloquear o sistema de comunicações usado pelo sistema imunológico 
para espalhar a notícia de uma infecção. Outros podem enviar sinais que forçam as 
células imunológica cometerem suicídio. No entanto, à medida que os parasitas 
desenvolvem esses modos de enganar os sistemas imunológicos, os hospedeiros 
desenvolvem meios de matar os parasitas e a corrida continua. 
Na tentativa de acabar com os parasitas os seres humanos desenvolveram armas 
químicas, os medicamentos. Dentre os medicamentos utilizados no combate a parasitas, 
os antibióticos são os mais eficientes, mas também os que mais geraram problemas de 
saúde pública. 
O primeiro antibiótico a ser descoberto foi a penicilina (nome dado devido a ser 
extraído do fungo Penicillium) em 1928. Quando os antibióticos foram descobertos 
supunha-se que a guerra contra as doenças infecciosas estava acabada. Durante a 
segunda guerra mundial os militares americanos guardavam bem os estoques de 
penicilina e só os liberavam para médicos tratarem pacientes muito doentes. Depois da 
guerra as empresas farmacêuticas passaram a vender antibióticos em farmácias, 
facilitando seu uso por meio de comprimidos, o que fez com que o uso dos antibióticos 
se difundisse indiscriminadamente. 
Os microbiólogos descobriram mais tarde que as bactérias são muito mais 
adeptas da coevolução do que os insetos, sendo capazes de alterar sua estrutura genética 
numa velocidade espantosa. Como podem se multiplicar rapidamente, as bactérias 
podem sofrer mutações rapidamente, para resistir aos antibióticos. Essas mutações 
podem criar proteínas capazes de destruir as drogas. Algumas mutações permitem que 
elas expulsem o antibiótico de dentro delas. Diferentemente dos insetos, as bactérias 
podem adquirir genes resistentes de outras bactérias do meio. Elas podem ingerir DNA 
de bactérias mortas e integrar alguns genes no seu próprio DNA. 
Quando uma pessoa infectada toma antibióticos de forma não adequada, 
seleciona as bactérias resistentes àquele antibiótico. Estas, ao infectarem outro 
hospedeiro, ou o mesmo necessitarão de outro antibiótico para matá-las. Assim, as 
bactérias vão se tornando resistentes a vários antibióticos por seleção natural, surgindo 
9 
 
as superbactérias. Além disso, antibióticos são usados em alimentos industrializados 
para humanos e animais domésticos, o que acelera este processo. 
 
 
Parasitas e hospedeiros podem ter co-filogenias: 
 
Os táxons de hospedeiros e parasitas podem apresentar co-filogenias. Na 
verdade, a maioria das imagens especulares conhecidas foram formadas através dessas 
relações. Tais afirmações foram feitas através de sequenciamento mitocondrial de 14 
espécies de roedores e seus ectoparasitas. Observou-se que desses, 11 táxons 
apresentavam imagens especulares, o que sugeria uma co-especiação (figura 6). Mas o 
que levaria a esse tipo de especiação, já que trata-se de uma coevolução antagônica? 
A resposta é bastante simples. Imaginemos uma especiação alopátrica por parte 
dos hospedeiros. Uma vez que a capacidade migratória de seus parasitas é limitada, eles 
tem que se co-especializar simultaneamente para garantir o seu sucesso. Mas há exceção 
para cada regra. 
 
Figura 6. Filogenia de roedores do gênero Geomys e seus parasitas (à esquerda) construída com 
base na sequência de nucleotídeos de um gene mitocondrial. À direita um gráfico relacionando o 
número de mutações em piolhos (eixo vertical) e em roedores (eixo horizontal). Se os eventos de 
especiação ocorressem ao mesmo tempo nos dois grupos, os pontos cairiam sobre as linhas. 
 
Com exames do relógio molecular feito com primatas e vírus, observou-se que 
as imagens filogenéticas são praticamente especulares, se não fosse por um detalhe: o 
tempo (figura 7). A filogenia dos primatas ocorre a milhões de anos, enquanto que a de 
seus vírus ocorre a apenas alguns milhares de anos. Isso se deve porque o ciclo 
reprodutivo do parasita é bem mais curto, e sugere que as divergências nas filogenias se 
dão devido a mudanças de hospedeiros, cujo organismo seja parecido com o do 
hospedeiro antigo, e não representará exatamente uma co-especiação. Isso implica que, 
um vírus que parasita um chimpanzé, será bem mais propício a parasitar um humano 
que um babuíno, já que geneticamente homem e chimpanzé são mais próximos. O ponto 
principal é que co-filogenias não significam uma evidencia completa de co-especiação. 
10 
 
 
Figura 7. Filogenias de primatas (esquerda) e seus parasitas virus SIV (vírus que deram origem ao 
HIV). 
 
Coevolução pode originar uma corrida armamentista: 
 
Pesquisadores demonstraram através de estudos fósseis que havia uma tendência 
normal que os predadores possuíssem cérebro maior que suas presas. Em contrapartida, 
as presas cada vez mais, desenvolviam os cérebros de modo a evitar os ataques de seus 
predadores. Dessa forma, originou-se uma corrida evolutiva, onde predadores e presasevoluíam de modo a neutralizar caracteres adquiridos de seus oponentes. 
 
Figura 8. Distribuição dos tamanhos relativos dos cérebros de ungulados (a) e carnívoros (b) em 
várias épocas do período geológico. Arcaico: 40 a 80 m.a.; Paleogêneo: 25 a 55 m. a.; Neogeno: 5 a 
20 m.a.; recente: 5 m. a até hoje. 
 
11 
 
A figura 8 mostra a evolução do quociente de encefalização de predadores e 
presas de mamíferos. O quociente é calculado dividindo-se o tamanho do cérebro pelo 
tamanho do corpo. Se o quociente de encefalização for uma medida de inteligência, o 
gráfico indica que à medida que os predadores se tornaram mais habilidosos para caçar, 
as presas também se tornaram mais ágeis para fugir. 
Foi baseado nisso que Jerison sugeriu a teoria da escalada evolutiva, que é uma 
grande influência sobre a macroevolução. Ela sugere que os atributos de um 
neutralizavam o do outro, não resultando em qualquer avanço. Seus experimentos foram 
baseados em estudos de fósseis de molusco do Carbonífero, onde analisando as 
estruturas e espessuras das conchas, chegou à conclusão de que aqueles animais que 
aumentaram a espessura de suas conchas, ou reduziram a abertura das mesmas, tiveram 
mais sucesso que os que apresentavam outras estratégias de defesas menos eficientes, 
como se esconder, entre rochas por exemplo. Em gráficos, seus estudos mostraram que 
a quantidade de espécies e subespécies desses animais aumentou ao longo das eras 
geológicas, apresentando quase 80% de crescimento no numero de representantes. 
Porém, como foi dito antes, estudos com fósseis não são suficientemente fortes, 
pois não existe material abundante e nem todos os padrões de mostras analisadas são 
compatíveis, pois o documentário fóssil pode ser falho, abrindo possibilidades a outras 
interpretações. Mas assim sendo, atribuiremos o benefício da dúvida às evidências. 
 
Referencias utilizadas 
RIDLEY, M. 2006. Evolução. Trad. Henrique Ferreira, Luciane Passaglia, Rivo 
Fischer. 3ª ed. Porto alegre, Artmed

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