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BRANDÃO.C. Em campo aberto

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BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Em campo aberto: Escritos sobre a educação e a cultura popular. São Paulo: Cortez, 1995. Capítulo 6-A cultura popular na educação popular... trinta anos depois ( pag. 133-158)- 
ARNILMA DE NAZARE BORGES RIBEIRO
Segundo o autor, “o sentido do trabalho pedagógico de uma educação popular realiza-se na cultura e através de sua transformação.” Ele inicia conceituando cultura popular e a relação entre educação e cultura popular, citando o autor Jarbas Maciel em seu livro Fundamentação teórica do Sistema Paulo Freire de educação. Segundo esse autor: “cultura popular é todo o processo de democratização da cultura que visa neutralizar o distanciamento, o desnível “anormal” e antinatural entre as duas culturas através de todos os homens e de todos os canais de comunicação”. Ainda segundo esse autor, existe duas culturas a “cultura de elite” e “cultura do povo” e “fazer cultura popular” é simplesmente um ato de amor, de democratização da cultura. É através da relação entre educação e cultura popular que o homem passa o seu conhecimento de geração em geração. . (pag.133)Assim sendo, a educação é a “instrumentalização do homem pela democratização da cultura”, ou seja, o instrumento principal da continuidade da cultura é a educação(pag. 134)
Brandão afirma que o conceito de cultura popular surgiu na Europa durante o século XIX, e que confundia-se com o conceito de folclore por estar associada até metade do século XX às tradições rústicas do povo. Na América Latina, “a cultura popular ganha dimensão política” e nos anos 60 do século XX surge como “uma dimensão da vida social desde onde se imagina ser possível pensar, programar e realizar práticas políticas de cunho transformador, de uma até vocação revolucionária”. (pag.135) Através de um trabalho pedagógico onde se incorpora a historia à consciência com e a partir da experiência da cultura “do povo” surge a cultura popular. Nos anos 60 no Brasil e em outros países da América Latina, o que alavancou os primeiros “movimentos de cultura popular” foi “uma completa revisão de ideias e valores contidos na cultura, na tradição, no destino, no sentido do tempo e no conceito de história”(pag.136). Uma boa arte dos primeiros movimentos populares eram de cunho cristão ou partilhado por cristãos o catolicismo popular era um elemento importante na cultura latino americana, na qual sacraliza um passado de história com mitos de salvação (pag.137). Segundo Brandão “o objetivo dos primeiros movimentos de cultura popular era reinventar com o povo a sua própria cultura, a fim de torná-la um meio e um processo de sua própria libertação” (pag.138) 
A cultura brasileira não é autêntica e livre, pois os países que o colonizaram impuseram ao homem nativo a sua cultura, ignorando suas expressões culturais e seu modo de viver, e, fazendo deste homem um objeto de cultura que aprisiona o homem brasileiro. Dessa forma essa cultura impossibilita uma “consciência crítica do seu mundo”, faz apenas com que o homem atenda a “conceitos e ideias que impedem o surgimento” da consciência crítica. (pag.139)
O autor afirma que esta é a primeira vez que a crítica política surge dentro de movimentos intelectuais, e que “ ao pensarem politicamente a crítica social da cultura, ousaram pensar a seguir a possibilidade de a própria cultura popular vir a constituir-se com um lugar político de prática social transformadora.” (pag.140)
O autor elabora uma síntese das críticas presentes: “No processo real da história humana” a relação de “domínio de umas pessoas sobre as outras” na sociedade é negada. “O reconhecimento entre as consciências é negado”. (pag.140) Logo, é necessário separar o valor positivo e o negativo para uma mesma cultura. Em uma sociedade “igualitária” a diferença entre culturas é um bem, assim sendo é preciso conservar a cultura, dessa forma a América Latina defende o direito a todos os povos indígenas a manterem “a plenitude de suas próprias experiências culturais em todos os seus planos, da língua à religião, o que desautoriza qualquer tipo de prática cultural homogeneizadora, mesmo quando em nome de sua integração à comunidade nacional, mesmo quando em nome da produção de uma genuína cultura nacional.” Uma outra crítica é “a desigualdade cultural decorrente de estruturas e processos de imposição de valores, de negação de direito à expressão cultural de povos, de grupos e de etnias minoritários ou dominados social e culturalmente” (pag.141)
Brandão afirma que “uma cultura popular alienada é negadora de uma vocação de direitos humanos”, pois ela resulta de uma imposição de conhecimentos e poder de uma classe sobre a outra, e, até mesmo a criação cultural popular reflete a condição de subordinação. É uma cultura oposta à cultura dominante, é subordinada, dominada. “Ao não ser criada e vivida por seus sujeitos senhores de seu destino e de sua própria história a cultura popular expressa em todas as suas realizações a condição subalterna de seus sujeitos”. (pag.142) A crítica política da divisão de culturas remete que “ negar a diferenciação entre culturas” dentro da universalidade da cultura humana, a desigualdade constituída na dominação de uma cultura sobre a outra (oposição entre culturas) “torna alienados ambos os polos de criação cultural, pois, se nega o valor essencial da cultura”. (pag.143)
O autor distribui em alguns itens os pontos principais da possibilidade de inversão de um sentido da cultura popular através de um projeto político pedagógico que parta de suas próprias bases: 1. “Há um trabalho dominante político e ideológico cultural e pedagógico sobre as culturas populares, nas sociedades regidas pela desigualdade [...] são culturas do povo sem serem culturas para o povo.” (pag.144) 2. Há um trabalho simbólico de enganação sobre o imaginário da consciência, com uma colaboração dos meios de comunicação. 3. As culturas são reproduzidas como formas de expressão e comunicação, porém contaminadas, socialmente dominadas e humanamente alienadas.(pág.145) 4. “Como parte de toda uma proposta política de libertação, mas atuando com mais ênfase no plano específico da cultura, deveriam ser criados e postos a serviço dos camponeses, dos operários e de outras categorias de pessoas populares, verdadeiros movimentos de cultura popular. Como um contraponto a tudo o que culturalmente vem sendo realizado na sociedade desigual, caberia a eles uma parcela importante de um trabalho político de recriação, com o próprio povo, de suas próprias culturas.” 5. É importante não esquecer que todos os movimentos realizados até então surgiram através das leituras teóricas e políticas de um momento da América Latina e sobre as propostas da ação cultural. (pag.146)
O autor citando o documento da ação popular diz que: “ um movimento de cultura popular é um movimento para a libertação do homem [...], portanto, deverá promover a elaboração da cultura com o povo fazendo-o participante da comunidade cultural, e não criar uma cultura para o povo.”(pag. 147).
O autor faz uma breve síntese da pretensão de tomada de posição na América Latina que passa de apenas “uma crítica das condições sociais de criação de cultura popular” a uma “proposta de recriação popular de sua cultura a partir da experiência dos movimentos de cultura popular.” Ele aponta que deveria haver a união dos intelectuais criadores da cultura e de populares da sociedade capitalista para fazer juntos cultura popular. Os mediadores “procurariam colocar para os povos meios científicos de uma compreensão esclarecedora da realidade social (pag.148) [...] se propondo a inovar, transformar, tornar consciente e conscientizador, tornando a cultura popular com autonomia para assim virar uma autêntica cultura de classe”(pag.149).
Segundo Brandão, os movimentos de cultura popular no Brasil surgem na década de 1960, sendo que em 1963 aconteceu o primeiro encontro nacional de cultura popular, realizado em Recife, no Nordeste do país. E em 1964 o golpe militar interrompe esses movimentos inclusive trabalhos ligados à alfabetizaçãopopular com base nas ideias de Paulo Freire.(pag.150)
Observa-se que mesmo nos momentos de maior repressão política e extrema difusão dos meios de comunicação de massa, existe uma competência muito grande de a sociedade reprocessar valores e conhecimentos, fazendo sua cultura rica em elementos de diversas culturas segundo o seu próprio ponto de vista.(pag.152)
Brandão afirma que “somos conscientes de que as diferentes culturas da cultura popular são ao mesmo tempo a sua realidade social e a sua força na história.”(pag.155). Portanto, mesmo quando os ideais e os projetos de transformação social humanizadora são comuns, o que se tem em vista é um trabalho de resgate, um trabalho político pedagógico através da cultura para se pensar cultura popular. (pag.158)

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