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Aula 11 – Final de Tanatologia Exame Necroscópico Os sinônimos mais utilizados para designar esse exame necroscópico são: autópsia, necroscopia, tanatoscopia, necrotomopsia, exame cadavérico e autópsia. É a maior, mais complexa e mais exigente de todas as perícias médico-legais. Uma vez realizada, torna-se impossível refazê-la em condições apropriadas. Nunca é perícia que envolva urgência médico-legal e, portanto, somente deveria ser realizada à luz do dia, no mínimo seis horas após a morte, em instalações apropriadas e contando com todo o material necessário. No entanto, é a que mais frequentemente é realizada em condições, locais e horários inadequados. Tal exame é composto por diferentes componentes: Tanatognose: diagnóstico da morte, que contempla os fenômenos cadavéricos vistos anteriormente; Cronotanatognose: diagnóstico do tempo da morte, também já visto; Identificação; Exame externo; Exame interno. A necropsia médico-legal é o exame detalhado e metódico do cadáver, com vistas a determinar tanto a causa médica e quanto a causa jurídica da morte. A causa médica é o que é colocado no atestado de óbito, como choque hipovolêmico, choque cardiogênico, intoxicação exógena etc, e a causa jurídica é homicídio, suicídio ou acidente. Normalmente a necropsia tem como finalidade maior saber a causa jurídica da morte, e muitas vezes a definição final dessa causa passa por levantamento testemunhal e por outras análises periciais para poder chegar à conclusão se foi homicídio, suicídio ou acidente. Então depende de outras coisas além da necropsia. O médico legista, ao determinar a causa jurídica da morte dá subsídios à justiça para que ela conclua sobre a causa jurídica da morte. Relembrando da aula anterior De acordo com o artigo 162 do Código de Processo Penal: “A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo o que declararão nos autos. ” (Mas se o cadáver apresenta sinais e não existe dúvida de que ele está morto, como por exemplo, casos de carbonização ou decapitação, não é preciso esperar esse tempo, ou seja, se a causa da morte está visível externamente). Reforçando, então, devido à extrema importância de se realizar um bom exame necroscópico, deve-se levar em consideração alguns requisitos necessários para esse processo, sendo eles: Ambiente físico adequado; Profissionais bem treinados: tanto médico, quanto o auxiliar de necropsia, uma vez que não adianta iniciar um procedimento se não souber o que está procurando; Suporte laboratorial é necessário se fizer uma colheita de exame de sangue, urina, sêmen, ou outros, a fim de fazer a dosagem toxicológica, DNA; Material cirúrgico, para conseguir trabalhar adequadamente; Equipamentos de proteção individual; Não realizar necropsia à noite (lembrar que não existe emergência, um tempo mínimo para a realização desse procedimento). Não se deve esquecer de sempre realizar uma descrição minuciosa de cada vítima da autópsia: Documentação: não só através da confirmação dos documentos legais (ex: identidade) que vêm com a vítima, mas também fazer a sua documentação, através da descrição das peculiaridades da pessoa, como cabelo, tatuagem, cicatriz, piercing.... Para esse registro utiliza-se de fotografias principalmente. Vestes: buscando procurar uma relação do tipo de lesão que aparece nas roupas com o corpo da vítima. Aqui ainda é chamado de exame peri-necroscópico; Exame externo: se eu encontrei uma lesão na roupa eu vou procurar a correspondendo no cadáver e fazer a descrição da mesma; Exame interno: também se relacionando com as feridas observadas externamente; RX (tiros, carbonizados, putrefeitos): ajudam a localizar objetos, como um projétil; Laboratório (coleta de secreções, como sangue, urina e líquido espermático): nessa parte laboratorial pode ser feito o exame toxicológico para poder verificar a ingestão acidental ou proposital de alguma substância, bem como pode também coletar secreção, por exemplo, quando tem a suspeita de violência sexual, sendo coletado espermatozoide. PAFs coletados e identificados separadamente. Todo projétil de arma de fogo tem que ser identificado e encaminhado para a delegacia. Isso vale também no hospital, por exemplo, se você tiver num plantão e for retirado um projétil dele tem que coletar, identificar (de onde foi retirado e nome da vítima) e fazer um ofício encaminhando para a delegacia. Lembrando que a identificação dos orifícios de entrada e saída dos projéteis ajudam a ver qual era a localização do atirador no momento do ato. É importante lembrar que existem diferenças quando as lesões acontecem ou “intra-vitam” ou “post-mortem”. OBS: No caso da maceração (que é quando o baby morre ainda no ventre na mãe) a reação não é do cadáver em si, a princípio, mas sim do corpo da mãe em cima da criança. Já a autólise e putrefação ocorre pelo próprio corpo mesmo. Os principais erros cometidos durante um exame necroscópico são: Exame externo sumário ou omisso: na hora de avaliar o paciente deixa-se de detalhar uma informação importante ou acaba não olhando direito e perdendo a informação. Interpretações por intuição: O perito de uma forma geral tem intuito. Então ele não pode achar que é isso ou aquilo. Ou É ou NÃO É. Em nenhum momento pode ser feita uma expectativa: "Estou achando que é isso", ou seja, não se pode achar nada que não tenha uma comprovação; Falta de ilustração, muitas vezes por falta do material adequado para o trabalho; Entendimento errado dos fenômenos post mortem, por exemplo por falta de conhecimento; Necropsias incompletas: Fazer a necropsia de forma superficial, sem aprofundamento necessário, como em casos de vítimas poli traumatizadas em que não se abre todas as cavidades necessárias à investigação da causa da morte. (Mas não esquecer de que a necropsia deve sempre ser direcionada, ou seja, se a vítima levou apenas um tiro na cabeça, e não teve mais nada no resto do corpo, NESSE CASO, não há a necessidade de abrir a cavidade abdominal, por exemplo). OBS: Sempre lembrar das situações em que não há um médico legista na localidade: em casos assim o delegado institui um médico para a realização da necropsia, mas como, muitas vezes, não há o conhecimento necessário para tal procedimento, ocorre apenas uma descrição externa dos ferimentos. Exames à noite: Não devem ser realizados exames de necropsia à noite. Necropsia não é urgência, e não existe determinação do tempo para que ela seja realizada, por exemplo, se for preciso ficar 3 dias para que a avaliação adequada seja feita, o corpo vai ficar lá. OBS: Deve-se lembrar do Espectro Equimótico de Legrand du Saulle, o qual há a série de graduação das equimoses, que possui uma relação direta com a iluminação, isto é, se a necropsia for realizada com vapor de mercúrio dentro da sala, o corpo fica totalmente branco, e com isso, algumas equimoses amareladas acabam quase que desaparecendo. Falta de exames subsidiários, visto que eu preciso saber se a pessoa estava embriagada ou tinha feito uso de alguma droga ilícita, ou seja, é preciso ter auxílio dessa parte toxicológica; Imprecisão e dubiedade da causa mortis e das respostas aos quesitos. Ao terminar uma necropsia, existem quesitos previamente estipulados que devem ser preenchidos e encaminhados ao juiz; Incisões desnecessárias: A pessoa leva um tiro na cabeça, não tem motivo para abrir tórax e abdome. Obscuridade descritiva: É necessário descrever de uma forma clara, precisa e concisa, explicando o que aconteceu de forma direta e não ficar utilizando termos muito complicados que dificultam a interpretação. OBS: Exumação: é um tipo de necropsia, mas com uma particularidade: o corpo já estava sepultado. É preciso ter uma boa causa para a realização deste pedido. A exumação costuma ocorrer basicamente por dois motivos: Descobre-se depois que existe uma chance de a vítima ter sido envenenada, aí pede para exumarpara realizar a avaliação. Costuma ser chamada de necropsia complementar; Descobre-se um corpo clandestino em alguma cova, um cadáver que foi ocultado, logo, é preciso exumar para saber qual foi a causa da morte. Costuma ser denominada de necropsia primária. Em casos de confirmação de paternidade, para fazer uma análise do DNA, por exemplo, não se exuma o corpo, mas sim, faz-se uma comparação com algum parente vivo da vítima. Solicitação feita em caráter especial com objetivos criteriosamente justificados e quesitos específicos para averiguar algum detalhe da exata causa da morte, identificação ou grave contradição. Sobre a perícia da exumação: É dirigida aos objetivos a serem esclarecidos; É preciso uma localização prévia e precisa do túmulo; Existe um auxílio da autoridade para isolar o local; Há a presença da autoridade solicitante; Deve-se descrever detalhes; Conclusão: elaboração de laudo pós-exumação. OBS: Deve-se lembrar que a necropsia é um procedimento que não é para ser repetido, visto que as evidências vão se perdendo. FASES DO EXAME NECROCÓPICO Identificação Registram-se os elementos capazes de contribuir na identificação médica (sexo, idade estimada, cor, altura, peso, raça, cabelos, barba, olhos, arcadas dentárias e sinais particulares), ou seja, é uma descrição pormenorizada da vítima. Nessa etapa descreve-se todas as peculiaridades da vítima, ou seja, se ela tem alguma cicatriz, mancha, tatuagem, piercing ou amputação de membro, por exemplo. Aqui vemos que o técnico ainda se preocupou em identificar a vítima de diferentes formas através da barba. Observe que no pescoço da vítima é possível observar livor. Exame Externo Compreende o exame das vestes e das lesões, anormalidades e todos os elementos significativos observados pela inspeção da superfície externa do cadáver, ou seja, descreve-se minuciosamente não só o corpo da vítima, mas também suas roupas. Esta é a fase da necropsia habitualmente mais rica em informações relevantes. Embora o exame interno costume ser imprescindível para o diagnóstico da causa médica da morte, ao final desta fase, em talvez a maioria dos casos, os peritos já têm a grande maioria dos elementos necessários para suas conclusões. Nessa etapa busca-se a correspondência entre a lesão nas vestes da vítima e no corpo da mesma. E na próxima etapa será buscado o correspondente interno. Ex: vítima com uma camisa bege, com uma blusa cinza de lã com detalhes brancos por baixo, e ainda veste uma jaqueta jeans por cima. Exame Interno Compreende a abertura das cavidades, o exame das vísceras e a coleta de material para exames complementares, mas sempre de forma direcionada. Busca-se aqui o correspondente interno para as lesões externas anteriormente encontradas. Descrevem-se as alterações encontradas, o volume das coleções líquidas, sanguíneas ou não, as lesões traumáticas por ação direta e indireta do agente vulnerante e os eventuais trajetos com sua direção e sentido, correlacionando tudo com os achados do exame externo. Fundamentam as conclusões a respeito da causa da morte, em ordem decrescente de importância, a destruição de centros e órgãos vitais, os estigmas da asfixia, as hemorragias (tanto pelo seu efeito hemodinâmico como pela sua ação mecânica), os sinais característicos das embolias, dos choques (hipovolêmico, tóxico ou neurogênico) e os estigmas das síndromes infecciosas e falências de sistemas ou órgãos. Pode-se realizar, dependendo do tipo de lesão observada: Exame da cavidade craniana; Exame das cavidades torácica e abdominal; Exame da cavidade vertebral; Exame dos órgãos do pescoço (ex: casos de asfixia); Exame das cavidades acessórias da cabeça. Abertura da cavidade abdominal. Exemplo de hemoperitônio: sangue maciço dentro da cavidade abdominal. Nesse caso houve um trauma hepático. Aqui se observa que um projétil de arma de fogo transfigurou uma parte de um lobo pulmonar. É preciso sempre buscar o trajeto do mesmo dentro do corpo da vítima. !!!RESUMO MAROTO DE TUDO ATÉ AGORA PARA VOCÊS MORES DO MEU CORE!!! Asfixias Podem ser classificadas de acordo com o mecanismo: Puras: são aquelas em que há apenas UM mecanismo envolvido; Confinamento: exaurimento de oxigênio; Por gases irrespiráveis: ex por monóxido de carbono: interrupção de hematose; Sufocação: obstrução das vias aéreas Direta obstrução da boca, narina ou da parte condutora por algum corpo estranho; Indireta compressão do tórax ou abdome; Afogamento: troca do meio gasoso pelo líquido; Soterramento: troca do meio gasoso pelo sólido (terra). Complexas: são aquelas em que há TRÊS mecanismos envolvidos, sendo eles aqueles três mecanismos de Hoffman: constrição mecânica (pelo material utilizado), obstrução vascular (de carótida e jugular) e inibição vagal. Enforcamento (o laço aqui é acionado pelo peso do próprio corpo e é oblíquo, ascendente e interrompido no local do nó). Muito comum em casos de suicídio, logo não é comum encontrar outros sinais de violência; Estrangulamento (o laço aqui é acionado por uma força externa e é horizontalizado). Muito comum em casos de homicídio, logo, costuma-se encontrar também outros sinais de violência. Mistas: é aquela em que há DOIS mecanismos envolvidos Esganadura: mão do agressor comprimindo o pescoço da vítima, logo, nesse caso o componente vascular não tem importância, sendo levado em consideração apenas a constrição mecânica e a inibição vagal. Lembrar que o famoso “mata leão” ou “gravata” também é um tipo de esganadura. Aqui não há um laço, mas sim escoriação ungueal e também é comum encontrar outros sinais de violência. Existem, ainda, os sinais locais: Presença de secreção rósea na boca; Cogumelo de espuma; Petéquias (muito comum na esganadura); Exofitalmia; Protrusão de língua. E os sinais à distância: Manchas de Tardieu (congestão visceral). OBS: Na intoxicação por monóxido de carbono acontecem algumas particularidades, como: Livor de hipóstase mais claro; Rigidez mais tardia e de menor duração; Pulmões em tom carmim; Tonalidade rósea da face; Sangue fluido e róseo; Putrefação tardia. Tanatologia O que é importante saber em relação ao tempo de surgimento das coisas? Os fenômenos consecutivos, PELO MENOS, são de suma importância ter um bom conhecimento: são os mais utilizados no dia a dia. Livor de Hipóstase: acontecem entre duas e três horas e se fixam entre oito e doze horas. Rigidez cadavérica: Surge craniocaudal, aparecendo primeiro na mandíbula depois da 2ª hora; em seguida nuca (2-4 h.); nos membros (4-6 h.) e nos músculos do tórax (6-8 h.). Essa rigidez se desfaz em 24 horas. Conteúdo Estomacal: A digestão se faz no estômago em torno de 4-7 horas (podendo ser menos ou mais). Mas isso depende do volume e do tipo de alimento que a pessoa ingeriu. Algidez: Queda da temperatura corporal. Nas primeiras 3 horas a queda de temperatura do cadáver é de meio grau (0,5°) por hora. A partir da quarta hora é de 1° por hora. Mancha Verde Abdominal: Em média surge entre 18 a 36 horas. Tem início na fossa ilíaca direita. Sinal de Sommer e Larcher: Evaporação Tegumentar (fundo de olho que perde sua consistência gelatinosa para ficar com uma consistência desidratada, na qual quando você aperta ele tende a afundar). Mancha azul-enegrecida da esclerótica, que aparece primeiro no ângulo externo do globo ocular e depois, também, no ângulo interno, nos cadáveres que permaneceram com os olhos abertos depois da morte. O processo tem início 2 a 3 h tornando-se negra em 6 horas. OBS: Não precisa saber, por exemplo, sobre o crescimento dos pelos da barba ou sobre a perda de peso após a morte, apenas esses principais, os que acontecem/começam a acontecer logo após o óbito. Não precisa focar nos fenômenos que levam semanas para ocorrerem. Relembrando: Os sinais imediatos de morte são aqueles que ocorrem logo após o óbito, e são também denominados de sinais negativos de vida. Esses sinais costumam depender da habilidadedo examinador, log, são passíveis de erros. São eles: inconsciência, imobilidade, insensibilidade, parada respiratória e parada cardíaca. É por causa dessa fragilidade que precisa esperar aquelas seis horas para realização da autópsia. Já os sinais consecutivos são também denominados de sinais positivos de morte. É preciso de, pelo menos, dois deles para dar a confirmação da morte. São eles algidez, rigidez, hipóstase ou livor, mancha verde abdominal. Os tardios destrutivos são autólise (morte celular), maceração (fenômeno inflamatório sem componente bacteriano) e putrefação, com as fases de coloração, gasosa, coliquativa e esqueletização. Excepcionalmente podem existir os tardios conservativos, que são mumificação, saponificação, calcificação, congelação, corificação e fossilização. Nesses casos o ambiente influencia intimamente. Traumatologia Forense Lembrar dos diferentes tipos de energias: Mecânica: são aquelas causadas pelos instrumentos perfurantes, contusos, contundentes, pérfuro-contusos, pérfuro-cortantes ou corto-contusos. Física Temperatura Insolação: ação dos raios solares que através da sudorese e desidratação causam queimaduras na pele; Intermação: ação da temperatura por um foco artificial, como uma caldeira; Queimadura: pode ser pelo calor (classificada até lesão de quarto grau) ou então pelo frio (classificada até lesão de terceiro grau); Eletricidade: se for eletricidade artificial é chamada de eletroplessão (com ou sem óbito), mas se for uma eletricidade natural é chamada de fulminação (se houver óbito) ou de fulguração (quando não há óbito). Pressão atmosférica: mal das montanhas quando há rarefação do oxigênio e mal dos escafandristas (mergulhadores) quando há um aumento da pressão sobre o corpo; Radioatividade: raio-x, energia atômica; Química: Vitriolagem: ocorre com ácido sulfúrico, substâncias cáusticas; Venenos: substâncias criadas com o intuito de causar dano; Físico-química: asfixias; Bioquímica: inanição; Biodinâmica: choque; Mista: fadiga. OBS 1: Sinal de Lichtenberg Ocorre na fulguração; Há queimadura de vasos superficiais; Assemelha-se a uma tatuagem com formato de árvore. OBS 2: Marca elétrica de Jellinek Ocorre com qualquer tipo de eletricidade; Marca a entrada da corrente elétrica no corpo; É branca/amarelada, forma circular/elíptica/estrelada, consistência endurecida, bordas altas, leito deprimido, fixa, indolor, asséptica e de fácil cicatrização.
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