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Dos contratos aleatórios Na classificação dos contratos, já ficou estabelecido a diferença entre contrato comutativo e contrato aleatório. Comutativo é aquele no qual se tem certeza em relação às prestações que serão feitas pelas partes contratantes. O contrato aleatório, no entanto, é aquele em que há uma incerteza quanto à prestação e o recebimento do que foi acordado pelas partes. Essa incerteza, a “alea” em relação à prestação, é que vai caracterizar. Essa alea pode versar quanto a existência da coisa ou quanto a qualidade e quantidade da coisa futura. O recebimento dessa prestação vai ficar sempre atrelado à ocorrência de evento futuro e incerto, a condição. A espécie de contrato aleatório mais famosa que se tem é o contrato de seguro, onde para o segurado é comutativo, pois a prestação mensal é certa, não dependendo de nenhum evento futuro; mas para a seguradora esse contrato será aleatório, pois é incerto se ela vai precisar dar alguma contraprestação ou não. Essa aleatoriedade do contrato tem que ser na essência do negócio, pois todo contrato tem risco de ocorrer inadimplemento, risco de não receber por aquilo acordado. O contrato aleatório tem risco inerente e essencial à própria celebração desse negócio jurídico que será objeto do contrato. É importante dizer, ainda, que o contrato aleatório é válido e eficaz, e que essa aleatoriedade quanto ao adimplemento dessa obrigação ou quanto a sua quantidade, não atinge o plano da validade e da eficácia do contrato aleatório. Hipóteses de contratos aleatórios: Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir. Vamos imaginar a celebração de contrato de compra e venda dizendo que será o proprietário de todos os filhotes que um animal tiver, assumindo a obrigação de pagar um preço, e sendo a contraprestação a devida a entrega dos filhotes. Esse artigo diz respeito ao risco assumido quanto à existência da coisa (emptio spei), onde o adquirente pagará o preço mesmo se os filhotes não chegarem a existir. No entanto, se o alienante agir com dolo ou culpa para a não existência da prestação devida, devolverá o dinheiro ao adquirente. Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido. Nessa hipótese, o risco do negócio não é quanto a coisa, ela precisa existir, mas sim quanto a quantidade da coisa (emptio rei speratae). Se eu celebrar um contrato estabelecendo que vou pagar cem mil reais na sua próxima colheita. Se você tiver a melhor colheita de todos os tempos, a coisa será entregue ao preço combinado anteriormente, assim como se tiver a pior colheita da história, idem. Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato. É a hipótese de uma coisa que existe, mas está exposta ao risco. Aqui, o adquirente vai assumir o risco de não receber a coisa caso ela vier a perecer, etc. Mesmo que essa coisa já não exista no dia da celebração, caso ninguém saiba disso, o adquirente ainda assim terá que pagar pela coisa. Art. 461. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a que no contrato se considerava exposta a coisa.
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