Buscar

Análise de conjuntura do Egito pós Primavera Árabe

Prévia do material em texto

1Graduanda em Relações Internacionais na Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). 
ANÁLISE DE CONJUNTURA: SITUAÇÃO POLÍTICA EGÍPCIA APÓS A 
PRIMAVERA ÁRABE 
Franciele Salvador Ecker1 
 
 
RESUMO 
 
 O desenvolvimento desta análise de conjuntura da atual situação em que o Egito se 
encontra, tem como objetivo principal mostrar os impactos ocorridos na sociedade egípcia 
decorrente das revoluções impulsionadas pela primavera árabe. Dessa forma, a análise visa 
explicar a conjuntura dos setores políticos e sociais na condição pós-Mubarak. Busca-se 
apresentar uma relação da estrutura social existente antes das revoluções com o cenário atual 
de instabilidade política. Desde 2011, o Egito enfrentou diversas alterações no âmbito 
político, cabe a esta análise desenvolver e explicar os acontecimentos e suas consequências 
tanto para a política interna do país quanto para o andamento da política internacional. 
 
Palavras-chave: primavera árabe; crise política; oriente médio. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 No Egito, Hosni Mubarak estava no poder de governança desde o ano de 1981, 
completando em 2011 exatos 30 anos de governo ditatorial. Mubarak assumiu a liderança 
governamental após ocorrer o assassinato de Anwar El Sadat em uma parada militar no Cairo. 
Dessa forma, Mubarak se tornou o presidente dono do maior governo em tempo histórico no 
Egito. Mubarak manteve um governo unipartidário durante todo o decorrer dos 30 anos sob 
um continuado estado de emergência, que era visto com olhos de preocupação pela sociedade 
internacional. 
 Entretanto, o governo de Hosni Mubarak conquistou alguns países do Ocidente, dentre 
eles os Estados Unidos. O governo norte americano simpatizante das ações políticas de 
repressão aos movimentos islâmicos envolvidos no conflito Israel-Palestina desenvolvidas por 
Mubarak durante seu governo, enviava anualmente auxílio financeiro e militar ao Egito, afim 
de preservar tais ações extremistas do governo egípcio. Todavia, os movimentos sociais 
 
existentes no Egito, mostravam-se contrários ao governo de Mubarak, sendo impulsionados 
pelos ideais revolucionários presentes na Primavera Árabe. 
 
2 A REVOLUÇÃO EGÍPCIA E A DERRUBADA DE MUBARAK 
 
 No fim do ano de 2010, na comunidade islâmica do Oriente Médio, teve início uma 
onda de revoltas sociais contra os atuais governos ditatoriais presentes em diversos países da 
região. No Egito não foi diferente. Com a insatisfação popular crescendo a cada ano, a 
população se viu motivada a rebelar-se contra o governo de Mubarak após a crescente onda 
de revoluções na região. Dessa forma, em janeiro de 2011 teve início a Revolução Egípcia, 
também conhecida como Revolução do Nilo. A Revolução do Egito é vista como uma das 
mais importantes ocorridas durante o movimento da Primavera Árabe, mesmo sua 
movimentação tendo durado menos de um mês. Todavia, os efeitos da revolução são ainda 
sentidos excessivamente no país. 
 A Revolução Egípcia pode ser definida por um complexo amontoado de 
manifestações e protestos populares ocorridos em um momento político instável onde a 
desobediência civil passou a prevalecer. Como citado anteriormente, a Revolução no Egito 
toma forças a partir da recente Revolução de Jasmim ocorrida na Tunísia. Dessa forma, 
parcelas do setor social passam a organizar-se contra o governo de Mubarak. Os protestos 
estouram nacionalmente devido à grande violência policial existente no Egito, o constante 
estado de emergência que o país se encontrava, a ausência de democracia eleitoral resultando 
na censura política e a corrupção generalizada perpetuada dentro dos governos egípcios. 
Dentre também fatores econômicos importantes como o elevado índice de desemprego, a 
descontrolada inflação do setor alimentício, os baixos salários mínimos que combinados com 
os outros fatores, resultavam em uma sociedade em crise política e econômica encaminhando-
se para a miséria. 
 Dessa forma, entre janeiro e fevereiro de 2011 ocorre a onda de manifestações nas 
ruas do Egito, que pedem pela derrubada de Hosni Mubarak. Os protestos têm como 
características principais a resistência civil frente a opressão militar do governo, com ações de 
greve por todo o país e um forte ativismo online. Estas ações levam a conhecida Sexta-feira 
da Ira, onde o governo egípcio bloqueou o acesso à internet e serviços telefônicos em todo o 
país, tais medidas levaram a população egípcia as ruas durante a madrugada para a realização 
de protestos e violentos confrontos com a polícia e militares. A situação fica ainda mais 
extrema em 30 de janeiro de 2011, com o anúncio governamental do fechamento de todos os 
 
bancos durante os períodos de manifestações, causando uma preocupação internacional, onde 
diversos países emitem comunicados para seus turistas regressarem do Egito. O governo de 
Mubarak ainda responde com a derrubada de meios de comunicação egípcios internacionais, 
como a Al Jazeera, que fornecia acompanhamento diário da situação política do país 
internacionalmente. Em 31 de janeiro, provocados pelas tentativas do governo de cativo aos 
militares, a população decreta uma greve geral por tempo indeterminado, resultando no 
agravamento da instabilidade política vivida no país. No mesmo dia, Israel declara apoio ao 
governo de Mubarak com o envio de armamento militar para o governo egípcio. O auge das 
manifestações ocorre nos primeiros dias de fevereiro, com um agrupamento popular superior 
a um milhão em Cairo. Todavia, também é registrado os confrontos mais violentos com a 
polícia, resultando em dezenas de mortos e uma estimativa de 600 feridos. Com o aumento da 
violência nos protestos, o governo de Mubarak começa a atribuir os efeitos a organizações 
terroristas que estariam atentando contra o seu governo. Apenas no dia 11 de fevereiro, após 
intensa pressão popular e a instalação de um caos civil por todo território egípcio, que 
Mubarak realiza o pronunciamento de renúncia do cargo de presidente. A vitória dos setores 
populares no Egito, causa preocupação em outros diversos governos ditatoriais da região 
árabe, que buscam atenderem algumas demandas populares, afim de evitar a organização de 
movimentos revolucionários. 
3 A PRESIDÊNCIA DE MOHAMED MORSI E O GOLPE DE ESTADO 
 Com a derrubada do ditador Mubarak, ocorrem eleições presidenciais no Egito que 
empossam Mohamed Morsi, membro do Partido da Liberdade e da Justiça, partido no qual foi 
fundado pelas bases da Irmandade Muçulmana. Com a onda de revoluções e a vitória popular, 
Morsi foi o primeiro presidente egípcio ativista islâmico. Com o início de seu mandato, optou 
por retirar grande parcela dos militares que ocupavam cargos políticos. Todavia, Morsi 
realizava diversas alterações no estatuto constitucional, que nem sempre refletiam de forma 
positiva para os setores sociais. 
 Foi no fim do ano de 2012 que, após mudanças constitucionais referentes a ampliação 
dos poderes executivos, ocorrem as primeiras manifestações contrárias ao governo de 
Mohamed Morsi. Os protestos eram motivados pela insatisfação popular com o projeto de 
constituição que vinha sendo desenvolvido durante o governo de Morsi, as propostas 
constitucionais apresentadas no projeto desagradavam as parcelas seculares e liberais da 
população egípcia. Com o surgimento de novas manifestações despertando a agitação civil 
 
contra a nova constituição do Egito, Morsi acaba por decretar a liberação do uso de força por 
parte das Forças Armadas egípcias em confrontos com a população. Todavia, enfrentamentos 
violentos apenas são registrados entre manifestantes contrários e apoiadores do governo de 
Morsi. Tendo em vista o retorno dos movimentos sociais as ruas e a retirada do exército de 
cargospúblicos no governo Morsi, grande parte dos militares demonstram preocupação com 
os rumos que o país tomara novamente. Em julho de 2013, Morsi sofre pressão militar para 
atender as demandas da população, entretanto, responde mostrando-se ser o único líder a deter 
o poder de mudança no país, sendo os esforços para retirá-lo da presidência o produtor do 
caos social-político do Egito. Todavia, no mesmo mês o general Abdul Fattah Al-Sisi 
anunciou a formação de um governo interino militar, depondo Mohamed Morsi em um golpe 
de Estado. Para justificar o golpe, o exército acusava Morsi de ter incitado a violência no país 
e ainda contribuir para organizações consideradas terroristas, como o Hezbollah e o Hamas. A 
prisão de Morsi resultou em uma série de manifestações de seus apoiantes, entretanto, foi 
duramente reprimido pelo exército, resultando em mais de mil mortes em confronto. Um ano 
após o golpe de Estado, Abdul Al-Sisi assume como novo presidente do Egito. 
4 OS IMPACTOS DA PRIMAVERA ÁRABE NO ATUAL GOVERNO DE 
ABDUL AL-SISI 
 Após o golpe de Estado, Abdul Al-Sisi surge como uma figura pública cada vez mais 
popular no país. Os resultados da eleição que o empossou foram quase absolutos ao seu favor, 
gerando um debate acerca da real democracia por trás do processo eleitoral de 2014, todavia, 
seu governo foi reconhecido amplamente pela comunidade internacional como legitimamente 
democrático. Atualmente, Abdul Al-Sisi governa o território egípcio sobre as rédeas do 
conservadorismo, disponibilizando pouco espaço para os meios de comunicação 
internacionais e para a organização de manifestações, visto que a repressão militar é 
frequente. Desse modo, a população egípcia ainda vive em um cenário de instabilidade 
política sem projeções de melhoras futuras tão brevemente. 
 Os impactos da Revolução Egípcia impulsionada pelo movimento da Primavera Árabe 
ainda persistem no país nos mais diversos setores existentes. A economia do Egito se mostra 
cada vez mais instável e incerta, enfrentando uma forte recessão desde a revolução em 2011. 
O governo de Abdul Al-Sisi mostra-se com inúmeras dificuldades de reestabelecer o 
crescimento econômico do mercado interno, devido à falta de investidores externos na 
economia do país. O recesso econômico apenas contribui para a elevação dos índices de 
 
desemprego, que já conta com um número aproximado de 3,5 milhões de cidadãos egípcios 
fora do mercado de trabalho. A crise política pela qual o país passa apenas agrava ainda mais 
o déficit do setor econômico, afastando o Egito dos centros de comércio internacionais. O país 
ainda lida com fortes conflitos religiosos em toda sua extensão territorial. Após o golpe de 
Estado que depôs o presidente Morsi, o conflito entre a parcela de cristãos copta e grupos 
islamistas tem se intensificado, resultando em confrontos violentos e a depredação de diversas 
instituições cristãs existentes no Egito. Com o cenário de instabilidade total, inicia-se um 
processo nos organismos internacionais de intervenção estrangeira para a restauração da 
condição de Estado estável para governo no Egito. Todavia, os movimentos populares 
resistem em protestos e confrontam fortemente a presença de estrangeiros no país, resultando 
em diversos ataques a embaixadas como a de Israel e a dos Estados Unidos. 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 Com a realização da análise da conjuntura atual do Egito, observa-se que, mesmo após 
6 anos da Revolução Egípcia, o país ainda se encontra em uma profunda crise política que 
afeta diretamente os setores econômicos e sociais. Dessa forma, o Egito apresenta não só uma 
instabilidade política interna, mas também, mostra-se um ator instável para as relações 
internacionais do sistema internacional. Esta análise da conjuntura do momento político 
egípcio também contribui para a compreensão da atuação do Egito no cenário internacional, 
observando a maior retração do país após a Revolução Egípcia nos setores de comércio 
internacional, devido à falta de alianças econômicas financeiras. 
 Todavia, após passadas diversas transformações políticas internas no Egito, o país 
ainda conserva aspectos estruturais em seu cenário político que se mostram produtores da 
crise e instabilidade instaladas no país. Mesmo passando por três regimes presidenciais que 
diferem entre si no curto período de 6 anos, a política egípcia parece ainda não atender as 
demandas dos setores sociais, tentando censurar os movimentos sociais por todo o território 
nacional. Este conflito entre o poder público e a população tem se agravado mais a cada ano e 
contribuído fortemente para a consolidação da instabilidade política no país. Além de também 
afetar diretamente o setor econômico egípcio. O governo de Abdul Al-Sisi deve governar o 
país até as eleições de 2021, onde o presidente já declarou o interesse de se reeleger pelos 
próximos 7 anos. Todavia, o governo de Al-Sisi não demonstra nenhum interesse para 
resoluções da crise no país. Tendo o atual presidente rejeitado a ajuda internacional e não 
 
buscando o desenvolvimento de planos de estratégia nacional para o fortalecimento dos 
setores políticos e econômicos do Egito nos últimos anos. 
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
SILVEIRA, Isadora Loreto. Continuidade e transformação no Egito no pós-Primavera 
Árabe: uma nova trajetória de política externa? Revista Conjuntura Austral. Vol. 5. Nº 21-
22. Porto Alegre. 2014. 
LIMA, José Antônio. Como está o Egito pós-Mubarak? Disponível em: 
www.pragmatismopolitico.com.br/2015/03/como-esta-o-egito-pos-mubarak.html. Acesso em: 
26 jun. 2017. 
LIMA, José Antônio. No Egito, a Primavera Árabe acabou. Disponível em: 
www.cartacapital.com.br/internacional/no-egito-a-primavera-arabe-acabou-4458.html. 
Acesso em: 28. jun. 2017. 
SILVA, Natasha Pergher; SILVA, Pedro Perfeito da. A política externa do Egito: entre 
Estado-nação e pan-islamismo. Disponível em: www.mundorama.net/?p=14443. Acesso 
em: 28. jun. 2017. 
LIMA, José Antonio Geraldes Graziani Vieira. A ascensão da Irmandade Muçulmana ao 
poder no Egito e seu impacto na política externa egípcia. USP. São Paulo. 2015

Continue navegando