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Aula 5 - Texto Geografia Politica

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GEOGRAFIA POLÍTICA 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Graziele Silotto 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Na aula anterior, falamos sobre as possibilidades de representação e 
participação na arena política, bem como suas origens e implicações. Nesta aula, 
veremos como a ciência política – sobretudo quando se debruça sobre temas 
como padrões de votação, representação político-eleitoral e os efeitos que 
derivam disso – tem como foco variáveis político-institucionais e histórico-sociais 
como as principais respostas. Para essa parte das explicações, é pequeno ou 
inexistente o papel da geografia e a constituição do espaço como fatores 
relevantes para a interpretação de fenômenos eleitorais. Nessa perspectiva, a 
geografia seria apenas um epifenômeno de outros processos: algo que está lá, 
mas tem apenas uma influência residual sobre o resultado eleitoral e as variáveis 
políticas que ajudam a explicá-lo. 
Veremos como essa leitura impõe limitações às respostas, porque, ao 
desconsiderar o espaço, ela ignora também os vieses e as influências que são 
impostas a políticos e eleitores por meio da geografia, a qual tem um papel 
relevante ao conformar e influenciar as variáveis políticas tão importantes a essa 
parte da literatura. Seja por meio do contato social imediato entre pessoas, ou 
por criar e propiciar a propagação de informações para determinados locais que 
variam de acordo com a constituição dos espaços, ou ainda ao influenciar a 
própria conformação das instituições eleitorais (o desenho dos distritos 
eleitorais), a geografia exerce influência sobre as instituições eleitorais e tem 
impactos sobre a possibilidade de representação política aos eleitores. 
Sabemos que o resultado de uma eleição depende não só da vontade das 
pessoas, mas das regras com base nas quais a eleição ocorre. E a interação 
dessas regras com componentes geográficos tem peso significativo, como 
veremos adiante. Assim, veremos como há um ganho explicativo nas análises 
quando elas passam a incorporar o espaço e os processos político-sociais que 
derivam dele. Essas teorias, que dão corpo ao campo da geografia eleitoral, 
oferecem respostas mais claras e factíveis porque permitem incorporar nas 
análises elementos que impactam sobre as variáveis políticas. 
TEMA 1 – DIFERENTES FORMAS DE REPRESENTAR 
Diferentes sistemas eleitorais dão origem a diversas formas e padrões de 
representação política (André; Depauw, 2018; Canon; Posner, 1999; Carey; 
 
 
3 
Shugart, 1995; Colomer, 2005; Cox, 1997; Duverger; Goguel, 2013; Farrell, 
2011; Lijphart, 1990, 2003; Lublin, 1999; Norris, 2004; Overby; Cosgrove, 1996). 
A distinção básica entre os sistemas eleitorais se dá entre três grandes tipos: 
sistemas majoritários, proporcionais e mistos. Deles derivam uma série de outras 
possibilidades, conforme a Figura 1 evidencia: 
Figura 1 – Tipos de sistemas eleitorais 
 
1.1 Majoritário 
No mais simples dos sistemas, o majoritário, um candidato, para vencer, 
precisa da maioria em relação a qualquer oponente. Isso significa que um 
candidato pode vencer sem ter o apoio da maioria da população – basta ter a 
maior parte dos votos computados. Esse é o modelo adotado, por exemplo, nos 
Estados Unidos. Lá, cada distrito eleitoral elege um representante. Distritos são 
baseados no tamanho da população – de forma que precisam ser redesenhados 
de acordo com a variação demográfica do país. Falaremos sobre o redesenho 
dos distritos adiante, quando falaremos sobre gerrymandering. Outro exemplo é 
o caso dos municípios brasileiros com menos de 200 mil eleitores, em que só há 
um turno e o candidato eleito à prefeitura é aquele que recebe mais votos – 
mesmo que isso signifique ter menos de 50% dos votos de um município (esse 
modelo também é chamado de first-past-the-post). 
Uma crítica frequente aos sistemas que adotam esse modelo está 
relacionada às parcas possibilidades de representação de partidos minoritários, 
ou seja, ao exíguo espaço para as minorias políticas. Lijphart (2003) aponta para 
a melhor adequação do sistema majoritário a sociedades mais homogêneas. 
Uma alternativa para sociedades heterogêneas seria a representação 
proporcional. 
 
 
 
 
4 
1.2 Modelo proporcional 
O modelo proporcional gera mais espaço para minorias. Nele, a 
distribuição de cadeiras deve ser proporcional aos votos recebidos pelos 
partidos. A proposta é oferecer uma alternativa às desproporcionalidades 
causadas pelo sistema majoritário e criar um corpo de representantes que reflita 
melhor a distribuição das opiniões do eleitorado. Nos sistemas proporcionais, os 
eleitores são distribuídos ao longo de distritos eleitorais. Esses distritos podem 
corresponder às unidades federativas, como no caso brasileiro (para as eleições 
para vereador e deputado), ou não, como em Israel, onde só há um distrito 
nacional (ou seja, o país é um distrito). 
A divisão distritos é um elemento central no sistema proporcional. Neles, 
as vagas são preenchidas proporcionalmente. Isso significa que um partido com 
relativamente poucos votos – a depender de critérios do cálculo da tradução de 
votos em cadeiras e de barreiras mínimas de votação para eleição – pode 
conseguir eleger seus candidatos. Isso também varia com a magnitude desses 
distritos, ou seja, com o número possível de cadeiras que cada distrito pode 
eleger. Quanto maior o número de cadeiras, mais proporcional tende a ser o 
resultado. 
Saiba mais 
As chamadas cláusulas de barreira ou cláusulas de exclusão ou cláusulas 
de desempenho são normas que impedem ou restringem o funcionamento 
parlamentar ao partido que não alcançar determinado percentual de votos. 
A magnitude dos distritos brasileiros para o caso da Câmara Federal varia 
entre 8 e 70. Ela é contabilizada de acordo com a população. Isso significa que 
alguns estados são sobrerrepresentados, como Roraima (8 cadeiras), enquanto 
outros são subrepresentados, como São Paulo (70 cadeiras). 
Saiba mais 
Essa diferença na proporcionalidade da representação é, em tese, 
corrigida pela representação igualitária das federações pelos senadores (todas 
as unidades federativas elegem 3 senadores). 
No sistema proporcional, ainda há duas variações possíveis: o sistema de 
lista aberta e fechada. No primeiro, adotado no Brasil, partidos formam listas de 
 
 
5 
candidatos sem qualquer ordenação. O eleitor pode votar num candidato de 
qualquer partido. O voto conferido a esse candidato soma no total dos votos do 
partido ao qual o candidato pertence, criando uma ordem dentro dessa lista 
partidária sobre quem será eleito. Uma vez que o eleitor escolhe o candidato, as 
campanhas tendem a ser centradas nos atributos dos candidatos. Além do 
Brasil, adotam esse sistema a Finlândia, Bélgica, Holanda, Israel, entre outros. 
Por outro lado, em um sistema proporcional de lista fechada, os partidos 
compõem e ordenam suas listas de candidatos. Ao eleitor cabe votar em um 
partido, o que significa que os candidatos eleitos são aqueles mais bem 
colocados na ordem da lista de candidatos desse partido. Como consequência, 
as campanhas eleitorais tendem a ser centradas nos partidos. Adotam esse 
sistema a Argentina, a Itália, a Nova Zelândia e a Islândia, por exemplo. 
Por fim, há ainda os sistemas mistos. Estes podem vir em duas formas: 
os sistemas paralelos e os sistemas proporcionais de membros mistos. Nos 
sistemas proporcionais mistos, a proporção de votos que os partidos recebem é 
dada pela regra proporcional, mas a definição de quem ocupa as vagas é dada 
pelo princípio majoritário no interior de cada distrito. Outra possibilidade são os 
sistemas paralelos, em que parte das vagas é alocada de acordo com um 
princípio majoritário e a outra parte de acordo com o princípio proporcional. Por 
adotarem métodos diferentes para a eleição de um mesmo corpo de governo, 
críticos apontam que esses sistemaspodem gerar uma divisão entre aqueles 
eleitos por um sistema e aqueles eleitos por outro. 
Saiba mais 
Gerrymandering é o nome dado ao desenho de distritos eleitorais cujo 
intuito é obter vantagens eleitorais para um partido em detrimento de outro. Nos 
Estados Unidos há um grande debate ao redor dessa questão. 
A Figura 2 ilustra o problema: 
 
 
 
6 
Figura 2 – Diferentes formas de dividir 50 pessoas em cinco distritos 
 
Fonte: Reddit, s.d. 
Suponha um estado com 50 eleitores em que 60% deles apoiam o partido 
cinza-claro, e 40% apoiam o partido cinza-escuro. Suponha que os apoiadores 
de um partido vivem num lado do estado, e os do outro vivem no outro lado. 
Há inúmeras formas de criar distritos eleitorais nesse estado. Suponha 
que vamos criar cinco distritos, e cada um deles elegerá um representante para 
a Câmara. Uma das possibilidades seria dividi-los de forma proporcional às 
preferências do eleitorado, como seria caso se cada coluna fosse um distrito. 
Mas há outras possibilidades. Digamos que o partido governante seja o 
cinza-claro, e cabe a ele redesenhar distritos. Ele pode, por exemplo, criar 
distritos como os do segundo retângulo. Nesse desenho, não há possibilidade 
alguma de o partido opositor vencer: eleitores do partido cinza-claro são sempre 
maioria em qualquer um dos cinco distritos. Por outro lado, se o partido cinza-
escuro for o governante e redesenhar distritos, ele pode fazê-lo como no terceiro 
retângulo da figura acima. Daquela forma, o partido cinza escuro será o vencedor 
na maioria dos distritos. 
Veja o exemplo de Maryland, nos Estados Unidos: são oito distritos e cada 
um deles elege um parlamentar (Figura 3). Segundo a Suprema Corte 
Americana, cabe aos estados legislar sobre as fronteiras de seus distritos 
eleitorais. Isso cria a possibilidade de que legisladores partidários possam decidir 
sobre o formato de distrito que mais lhes agrade. 
 
 
 
 
 
7 
Figura 3 – Distritos eleitorais Maryland – Estados Unidos 
 
Fonte: Department of the Interior, s.d. 
Saiba mais 
Para mais informações estado a estado, e conteúdo sobre o assunto, no 
geral, acesse o link a seguir: 
FIVE THIRTY EIGHT. The Gerrymandering Project. Disponível em: 
<https://fivethirtyeight.com/tag/the-gerrymandering-project/#main>. Acesso em: 
18 fev. 2021. 
Segundo o Censo Nacional de 2010, 6 dos 8 distritos de Maryland têm 
maioria da população branca. É, historicamente, um estado de maioria 
democrata. Mas à época do redesenho, tinha dois senadores republicanos (no 
1º e 6º distrito). O plano era forçar uma nova configuração, sobretudo em relação 
ao 6º distrito, originando um eleitorado de composição ainda mais liberal e, com 
isso, prejudicando a reeleição do senador do Partido Republicano naquele 
distrito. O plano funcionou, um novo distrito com ainda mais eleitores liberais foi 
criado e, nas eleições seguintes, um senador democrata levou a eleição no 6º 
distrito, tirando o republicano de cena. Com esse desenho, estatísticos preveem 
que a chance de um republicano se eleger no estado é de apenas 16%. 
Saiba mais 
BYCOFFE, A. et al. The Atlas of Redistricting. Five Thirty Eight, 25 jan. 
2018. Disponível em: <https://projects.fivethirtyeight.com/redistricting-
maps/maryland/>. Acesso em: 18 fev. 2021. 
 
 
8 
TEMA 2 – CONSEQUÊNCIAS DAS FORMAS DE REPRESENTAÇÃO 
Muitas são as implicações das regras adotadas em uma eleição. O 
sistema eleitoral, distritos, magnitude dos distritos e fórmulas eleitorais têm 
impactos variados. Aqui focaremos em duas perspectivas: a dos políticos e a dos 
eleitores. Veremos como elas são, na verdade, uma função da outra. 
Saiba mais 
DAVIS, A. C. Maryland redistricting plan advances. Whashington Post, 
17 out. 2011. Disponível em: <https://www.washingtonpost.com/local/md-
politics/maryland-redistricting-plan-
advances/2011/10/17/gIQAEqUysL_story.html>. Acesso em: 18 fev. 2021. 
GUA, J. Welcome to America’s Most Gerrymandered District. The New 
Republic, 8 nov. 2012. Disponível em: 
<https://newrepublic.com/article/109938/marylands-3rd-district-americas-most-
gerrymandered-congressional-district>. Acesso em: 18 fev. 2021. 
Como falamos anteriormente, algumas regras fazem com que a escolha 
seja centrada nos candidatos (lista aberta), e outras, nos partidos (lista fechada). 
Saiba mais 
CAREY, J. M.; SHUGART, M. S. Incentives to cultivate a personal vote: 
arank ordering of electoral formulas. Electoral Studies, v. 14, n. 4, p. 417-439, 
dez. 1995. 
SHUGART, M. S.; VALDINI, M. E.; SUOMINEN, K. Looking for Locals: 
Voter Information Demands and Personal Vote-Earning Attributes of Legislators 
under Proportional Representation. American Journal of Political Science, v. 
49, n. 2, p. 437-449, 1 abr. 2005. 
Na escolha para cargos legislativos no Brasil, por exemplo, cada partido 
lança uma série de candidatos. 
Saiba mais 
O número máximo de candidatos lançados varia com a magnitude do 
distrito em questão. A regra brasileira é que cada partido pode lançar 1.5x a 
magnitude do distrito, exceto se coligado, caso em que esse número se torna 2x 
 
 
9 
a magnitude, ou se a magnitude exceder 20, então esse número é 2x a 
magnitude. 
Assim, a escolha não pode ser travada entre diferentes identidades 
partidárias, já que essa não é uma informação suficiente para que o eleitor possa 
diferenciar candidatos. Dessa forma, justamente, a decisão do eleitor é feita com 
base no seu candidato favorito. Isso não significa que não é possível haver uma 
escolha partidária envolvida – “eu prefiro o candidato João do Partido A” – mas, 
a despeito de ela existir ou não, a palavra final recairá sobre uma escolha por 
um candidato específico. 
Saiba mais 
Existe a possibilidade, no caso brasileiro, de votar na legenda do partido. 
Nesse caso a escolha é, essencialmente, partidária. 
Diferentemente, nas eleições majoritárias tendemos a escolher um 
candidato também muito pelo seu partido: “Lula, do PT”, ou “Bolsonaro do PSL”, 
ou ainda “Aécio Neves, do PSDB”, por exemplo. 
Isso tem implicações fundamentais para o tipo de campanha eleitoral e 
para o tipo de representação. Escolher um candidato para uma eleição 
majoritária, por exemplo, tem um peso grande sobre o rótulo do partido, 
enquanto que em eleições proporcionais em distritos que elegem mais que um 
candidato não. Disso derivam outras questões, como aquelas relacionadas à 
accountability eleitoral, isto é, a quem responsabilizamos pela presença de uma 
política boa ou ruim, ou simplesmente pela ausência de uma política necessária. 
Sobre esse assunto, accountability, por exemplo, o alto número de 
representantes atrapalharia a responsividade: eleitores teriam mais dificuldade 
em apontar quem é responsável por uma determinada política. Diferentemente, 
em sistemas de maioria que elegem um só representante a relação é clara, o 
eleitor sabe quem é o responsável, sabe a quem cobrar, premiar ou culpar. O 
problema da opacidade se complica, ainda, nos governos com coalizões, nos 
quais é ainda mais difícil atribuir responsabilidades. E não saber quem culpar 
abre espaço para que políticos tenham comportamentos desviantes. 
 
 
 
 
 
10 
Saiba mais 
CHANG, E. C. C. Electoral Incentives for Political Corruption under Open-
List Proportional Representation. The Journal of Politics, v. 67, n. 3, p. 716-
730, 1 ago. 2005. 
CHANG, E. C. C.; GOLDEN, M. A. Electoral Systems, District Magnitude 
and Corruption. British Journal of Political Science, v. 37, n. 01, p. 115-137, 
jan. 2007. 
O mesmo vale para temas ligados ao clientelismo. Muito se fala sobre as 
políticas voltadas para os eleitores em sistemas de representante único 
(magnitude igual a 1) (Mayhew, 1974). Nesses sistemas, quando um eleitor 
precisa de uma escola nova, por exemplo, ele recorre ao parlamentar de seu 
distrito. É fácil saber a quem procurar: só há um parlamentar representando-o no 
distrito emque ele vive. Então, se o parlamentar for bom para o distrito, se o 
eleitor puder confiar no seu legislador, ele tem boas chances de ser 
recompensado pelo seu eleitorado e, portanto, reeleito (Kramer, 1971; Popkin et 
al., 1976; Powell; Whitten, 1993); caso contrário, outro vencerá em seu lugar. 
Diferentemente, em sistemas nos quais há mais que um candidato por 
distrito, o eleitor não saberia quem buscar. Isso geraria incentivos para que esses 
políticos se comportassem de forma desviante e, em vez de prover políticas ao 
seu eleitorado, baseariam a relação de confiança com o eleitor em clientelismo 
(Ames, 1995, 2003). Assim, em sistemas de representação proporcional, haveria 
mais incentivos para políticas clientelistas. 
Saiba mais 
Definimos clientelismo, aqui, como uma combinação de direcionamento 
particularista de benesses com base na troca por apoio político (Hicken, 2011; 
Stokes, 2009). O contraste se dá em comparação a políticas distributivas e o 
chamado pork barrel norte-americano – descrito, inclusive, por Mayhew (1974) 
– segundo os quais os custos de uma política são difusos e os benefícios 
concentrados para determinados grupos ou distritos. A diferença fica por conta 
do critério: para estes, o critério seria definido institucionalmente, com base em 
alguma regra ou política pública; enquanto isso, para casos de políticas 
clientelistas os benefícios são distribuídos a depender de um só critério: “você 
votará em mim?” (Stokes, 2009). 
 
 
11 
Essas explicações são frequentemente contestadas, já que são 
derivações teóricas do sistema institucional adotado. Quando confrontadas com 
testes empíricos, os resultados são ainda bastante controversos (Hagopian, 
2009). Sobretudo em relação ao caso brasileiro, ver estudos sobre o uso de 
emendas individuais ao orçamento público em contraposição a Ames (2003), 
Figueiredo; Limongi (2002); Mesquita et al. (2014), ou insuficientemente 
nuançados (Silotto; Castro, 2020). 
Esses estudos são exemplos dos impactos que os sistemas eleitorais têm 
sobre eleitores e políticos. Incentivos institucionais (regras) impactam no 
resultado: eleitores podem ter percepções mais ou menos forte sobre corrupção, 
políticos que têm um comportamento mais voltado ao seu distrito, ou a 
determinado eleitorado (até em troca de votos), a depender da configuração do 
sistema eleitoral adotado. 
De maneira geral, esse entendimento sobre a representação coloca foco 
nas relações entre as variáveis eminentemente políticas: o sistema eleitoral, a 
magnitude, o desenho dos distritos etc. Mas todos esses fenômenos ocorrem no 
espaço geográfico. Esse mesmo espaço, por permear o mundo político, importa 
no sentido de interagir com essas variáveis. Falaremos disso adiante. 
TEMA 3 – MAS E A GEOGRAFIA? TEORIAS DO COMPORTAMENTO 
ELEITORAL 
Até aqui falamos de sistema eleitoral e variáveis políticas, mas ainda não 
falamos de geografia eleitoral, propriamente falando. A ausência do conceito e 
das análises que ele mobiliza é sintomática da forma pela qual a ciência política, 
há muito, analisa o comportamento eleitoral. É disso que falaremos agora: como, 
para as principais teorias de comportamento eleitoral, a geografia tem pouco 
impacto, sendo apenas um epifenômeno. 
3.1 Escola de Columbia 
As teorias de comportamento eleitoral passaram a ganhar destaque na 
ciência política a partir da década de 1940. Pesquisadores da Universidade de 
Columbia, liderados por Lazarsfeld, passaram a empregar surveys de opinião 
pública (aos moldes das pesquisas de mercado) para captar as flutuações das 
preferências do eleitorado frente às campanhas dos candidatos. 
 
 
12 
Em vez de encontrar um impacto vindo das campanhas políticas, os 
pesquisadores de Columbia encontraram uma relação entre características 
sociais dos eleitores (como sua posição socioeconômica, religião, ou local de 
residência e relações interpessoais) e a forma como eles votam. Ou seja, o 
contexto social importaria para compreender o comportamento eleitoral. 
Inclusive, o efeito das campanhas eleitorais, os autores constataram, eram eles 
mesmos filtrados pelo contexto social com base na comunicação interpessoal, o 
que reforçava ainda mais o comportamento do grupo social no qual eleitores 
pertencem. 
3.2 Escola de Michigan 
Quase que como um complemento à Escola de Columbia, pesquisadores 
de Michigan também avançaram sobre a compreensão do comportamento 
eleitoral por meio de surveys. No seminal “The American voter” (Campbell et al., 
1960), Campbell, Miller, Converse e Stokes apontaram para a relevância das 
atitudes dos laços afetivos dos eleitores em relação à identidade construída ao 
redor dos partidos políticos. Essa ênfase deu origem aos trabalhos que veem a 
identificação partidária como um fator decisivo na escolha eleitoral. 
Para eles, a identificação partidária seria fruto da internalização de 
símbolos e seus significados aos quais eleitores são expostos durante sua vida, 
desde cedo, durante sua fase de aprendizado. Esses símbolos decorrem do 
contexto e do ambiente familiar, cultural e histórico da socialização de cada um. 
Seriam esses laços afetivos e a identificação partidária gerada que explicaria o 
comportamento eleitoral estável a longo prazo, e não as condições sociológicas, 
como classe social e culturais, diretamente (discordando, portanto, dos 
pesquisadores de Columbia). 
Outra implicação dos trabalhos da escola de Michigan foi a confirmação 
das hipóteses sobre a desinformação política dos eleitores. Eleitores não teriam 
familiaridade com temas ideológicos, vide a baixa correlação entre a estabilidade 
da identificação partidária e opiniões deles em relação a políticas específicas. 
Segundo Campbell et al. (1960), não haveria um padrão de crenças consistente 
e coerente na análise da opinião pública, mas somente associação entre as 
opiniões dos eleitores e elementos que remetem à sua vida, como seu 
desenvolvimento na infância, as opiniões políticas de suas famílias, e o meio no 
qual cresceram. 
 
 
13 
3.3 Escolha racional, teoria espacial e voto retrospectivo 
Essas interpretações perduraram até meados dos anos 1970, quando 
novas questões surgiram. Com o advento do paradigma da escolha racional, o 
eleitor passa a ter um papel ativo em suas escolhas, que deixam de ser apenas 
reflexos sociológicos de seu meio. Como agentes que buscam maximizar seus 
interesses individuais, eleitores passam a ser lidos como estratégicos e, 
portanto, escolhem políticos em prol de seus benefícios. 
Mas, para escolher os políticos que mais promoverão seus interesses, 
eleitores precisam se informar. Em “Uma teoria econômica da democracia”, 
Downs (1957) argumentou que se informar e processar informações é 
extremamente custoso ao eleitor, pois há muitos candidatos, e a dimensão 
política é, grande parte das vezes, descolada da realidade cotidiana das 
pessoas. 
Assim, para tomar uma decisão, eleitores buscariam atalhos 
informacionais. Um desses atalhos é uma avaliação retrospectiva dos resultados 
de políticas: eleitores estariam atentos e recompensariam (ou puniriam) políticos 
pela sua performance. A isso se convencionou chamar de voto retrospectivo 
(Fiorina, 1981; Kramer, 1971; Tufte, 1975). 
Há, ainda, a possibilidade de um eleitor menos ativo, que busca 
informações relevantes sobre o desempenho do governo no cotidiano: a inflação, 
o preço dos produtos no mercado etc. Essa ideia dá origem aos trabalhos da 
escola chamada voto econômico (Barberia; Whitten, 2015; Duch; Stevenson, 
2008; Lewis-Beck, 1986; Lewis-Beck; Stegmaier, 2000; Lewis-Beck; Whitten, 
2013). 
Ou, ainda, a teoria prevê um eleitor mais passivo, frente a partidos e 
candidatos ativos: a escolha com base na ideologia dos políticos. Eleitores se 
preocupam com políticas, importando o sentido para o qual uma política pode 
caminhar. Por exemplo, para um eleitor preocupado com distribuiçãode renda 
isso pode significar posições mais distributivas da perspectiva do governo. E 
então a escolha seria pelo partido ou o candidato que se mostrasse mais próximo 
a essa posição (por exemplo, partidos de esquerda são associados com 
posições mais distributivas, ao contrário dos de direita). 
Nessa explicação, podemos pensar nas preferências políticas distribuídas 
num continuum, como no exemplo da distribuição de renda: 
 
 
14 
+ distribuição 
de renda 
- distribuição 
de renda 
Figura 4 – Espacialização das preferências políticas sobre distribuição de renda 
 
 
 
As preferências dos atores se distribuem em qualquer ponto do 
continuum, explica Downs (1957), e a escolha deve se dar pela proximidade do 
partido em relação ao ponto no qual o eleitor está. Essa é a ideia de teoria 
espacial do voto (Downs, 1957). 
Há um ganho claro nessas explicações, porque, diferentemente das 
escolas anteriores, o voto racional consegue explicar a mudança no 
comportamento dos eleitores. Sabemos que eleitores mudam de opinião política, 
e teorias que se baseiam no contexto como fonte explicativa não preveem 
mudança. A teoria da escolha racional, por outro lado, permite explicar 
mudanças no comportamento eleitoral como a expressão de mudanças nas 
preferências dos eleitores – ora preferem políticas redistributivas, ora preferem 
políticas pró-concentração de renda, por exemplo. Isso abre espaço para 
explicações mais realistas sobre a alternância de governos e plataformas 
políticas que vemos no dia a dia, por exemplo. 
TEMA 4 – MAS E A GEOGRAFIA? OS GANHOS DE UMA VISÃO 
ALTERNATIVA: GEOGRAFIA ELEITORAL 
Mas e a geografia? Se a escolha racional faz avançar nossa compreensão 
sobre a escolha do eleitor, vale lembrar que a forma pela qual escolhemos não 
está isenta de influências contextuais. Ou seja, coexistem racionalidade e 
contexto: estamos todos ocupando um mesmo espaço, e somos influenciados 
por ele. Compreender essa intersecção é o interesse da geografia eleitoral. 
Os primeiros debates da geografia eleitoral surgem no final da década de 
1940. Key (1949), em estudo sobre o eleitorado do sul dos Estados Unidos, 
mostrou que as decisões dos eleitores eram influenciadas pelo seu local de 
moradia ou origem. Key (1949) chamou esse fenômeno de “efeito da vizinhança” 
(friends and neighbors effect). A justificativa dessa preferência se dá com base 
na suposição de que os candidatos locais conhecem e promovem as demandas 
locais, aumentando a representação local no Congresso. Segundo Key, esses 
Esquerda Direita 
 
 
15 
eleitores vizinhos seriam responsáveis pelo núcleo eleitoral que elegeria um 
candidato local. 
Tendo em vista isso, outros autores passaram a apontar que as 
preferências políticas, bem como todas as interações sociais, estão entrelaçadas 
com o meio no qual elas acontecem (McPhee; Ferguson; Smith, 1972). Assim, a 
preferência de seu vizinho está relacionada com a sua, e ambas se relacionam 
com o contexto – a vizinhança na qual vocês vivem, suas condições sociais, etc. 
– no qual estão inseridos: isto é, “aqueles que estão juntos votam juntos” (Pattie; 
Ron Johnston, 2000). 
O que faz com que isso aconteça? O contexto. Por meio dele é que o 
espaço teria a capacidade de nos influenciar, e por meio dele podemos explicar 
padrões de votos e opiniões daqueles que estão próximos entre si. O voto seria 
uma consequência da dinâmica política possibilitada pelo ambiente que expõe 
atores a contextos específicos que variam com o local (Huckfeldt; Sprague, 
1987). O universo político seria um reflexo da estrutura sociogeográfica. Por 
meio dele fluem informações, inclusive informações políticas relevantes para a 
conformação da opinião política dos eleitores. 
Mas esses fluxos de informações não fluem de maneira homogênea ou 
aleatória pelo território, mas de acordo com sua dinâmica social e geográfica. É 
mais provável que uma informação que surgiu perto de você atinja mais seus 
vizinhos do que uma pessoa qualquer que more a 500km de distância. Esse viés 
local, ou contexto, é responsável por enviesar a todos, incluindo o nosso 
comportamento político (Huckfeldt; Sprague, 1987; Silva; Silotto, 2018). Essa 
influência independe, em certa medida, da arena política ou de constrangimentos 
institucionais. 
Isso fica claro quando pensamos sobre o candidato da cidade/região. 
Provavelmente, eleitores de Curitiba, no Paraná, se lembram com facilidade do 
ex-parlamentar Aníbal Khury, ou ainda Roberto Requião. Já o eleitor de Santos, 
São Paulo, pode nunca ter ouvido falar de Khury, mas deve conhecer Márcio 
França. Da mesma forma que eleitores recifenses conhecem mais Eduardo 
Campos, que Khury, Requião ou França. Ou seja, é mais provável que 
conheçamos mais um político do qual somos próximos, ainda que apenas 
geograficamente próximos, do que outros mais distantes. A razão para isso é 
que as informações que nós, eleitores, obtemos vêm dos ambientes sociais nos 
quais vivemos (Burbank, 1997). 
 
 
16 
Essa é a influência do contexto: por conta da forma como a informação 
flui, tendemos a conhecer aquilo que está perto. Dos candidatos mais próximos, 
ouvimos mais propagandas, os vemos na televisão, ou ainda ouvimos sobre eles 
pelo rádio. Lemos sobre seus feitos nos jornais, e vemos mais seus santinhos 
eleitorais. Mas ainda mais do que isso. É bem provável que os vemos com mais 
frequência, inclusive pessoalmente, em comícios, eventos ou mesmo durante as 
campanhas, pedindo votos nas eleições (Górecki; Marsh, 2012). Ou seja, a 
proximidade e a informação, ambas explicam o fenômeno (Silva; Silotto, 2018), 
mesmo que isso signifique muito pouco, um pequeno atalho, um 
“folheto/santinho” da rua, o candidato conhecido por todos ao meu redor, ou 
aquele do qual sabemos a trajetória política, e o que esses candidatos fizeram 
durante o governo. 
No Brasil, por exemplo, principalmente nos anos 2000, surgiram trabalhos 
ligados ao efeito da vizinhança de Key (1949) que analisam, sobretudo, 
resultados de eleições presidenciais e o impacto de políticas distributivas nos 
padrões de votação (Terron; Soares, 2010). É extensa a lista de trabalhos que 
fazem avaliações desse tipo relacionando o Brasil e programas de distribuição 
de renda, com o cuidado de avaliar separadamente um eleitorado 
geograficamente localizado e carente, supostamente responsável pela reeleição 
do PT, bem como seus questionamentos (Bohn, 2011; Corrêa, 2015; Licio; 
Rennó; Castro, 2009; Silva et al., 2014; Simoni Jr., Sergio, 2015; Simoni Jr., 
2015a; 2015b, 2016; 2017; Zucco; Power, 2013). 
De outra perspectiva, não apenas sabemos mais daqueles que estão 
próximos, mas também criamos laços com eles (políticos, pessoas próximas a 
eles, cabos eleitorais etc.), criamos relações de confiança com elas: ainda que 
eu não saiba muito sobre a política ou sobre um candidato, sabemos onde ele 
mora, de onde ele é, ou ainda as pessoas as quais conhecemos o conhecem 
também. Se, para a teoria downsiana do eleitor racional, a ideologia bastava 
para escolher um candidato, nesse cenário substitui-se a ideologia por uma 
informação da localidade – uma informação que remeta ao local (de residência, 
de nascimento, de atuação) do eleitor e do político, sua localidade. 
Trabalhos que exploram a localidade dos candidatos têm apontado que 
candidatos locais conseguem mais votos, sobretudo em sistemas de 
representação proporcional de listas abertas, e ainda que políticos levem o 
espaço em consideração ao lançar mão de estratégias eleitorais, como a 
 
 
17 
formação das listas de candidatos nas eleições (Gelape, 2017; Jankowski, 2016; 
Latner; Mcgann, 2005; Silotto, 2016, 2019; Silva; Silotto, 2018). 
A inclusão de variáveis geográficas ou suas proxies – como regiões ricas, 
pobres, desiguais, com mais concentração de determinadas etnias etc. – permite 
fazer inferências sobre determinados fenômenos que,sem o espaço, seriam 
enviesadas ou incompletas. Esse é o caso quando pensamos em explicar 
padrões de voto sem controlar pelo contexto socioespacial no qual um eleitor 
está envolvido, por exemplo. 
Saiba mais 
Uma proxy é uma variável que, em si, pode não ser relevante, mas que é 
adotada no lugar de uma variável de difícil mensuração. Um exemplo de proxy é 
o produto interno bruto per capita de um país, o PIB per capita, que 
frequentemente é adotado como forma de medir a qualidade de vida. Ou, de 
forma mais simples, podemos inferir o quão feliz uma pessoa é pelo número de 
vezes que ela ri; assim, rir é uma proxy de felicidade. 
Assim, o contexto importa, o espaço e a geografia importam, não porque, 
sozinhos, dão conta de explicar fenômenos políticos, mas porque eles 
influenciam e enviesam o comportamento das pessoas quando estas tomam 
decisões políticas, como votar. O voto do meu vizinho impacta mais na minha 
decisão de voto do que o voto de alguém que mora a quilômetros de distância 
de mim com quem, provavelmente, eu nem tenho contato e relações. 
TEMA 5 – GEOGRAFIA ELEITORAL E CIÊNCIA POLÍTICA 
Por que falar de espaço numa disciplina (Ciência Política) que se 
preocupa com variáveis políticas? Porque variáveis espaciais e geográficas 
impactam variáveis políticas, de forma que fenômenos políticos são 
geograficamente verificáveis. Sabemos, no geral, apontar num mapa do país 
agrupamentos ou clusters de eleitores do PT, por exemplo. Da mesma forma 
que norte-americanos sabem distinguir estados democratas de estados 
republicanos. Fenômenos políticos podem ser conferidos geograficamente. Mas, 
mais do que isso, fenômenos políticos são impactados por fenômenos 
geográficos. O voto do meu vizinho impacta no meu. Se há uma montanha 
separando a mim e outras pessoas, é pouco provável que a opinião dessas 
pessoas, com as quais tenho parcas relações, influencie a minha própria. 
 
 
18 
A geografia, assim, deixa de ser um epifenômeno, ou algo que “apenas 
está lá”, e passa a ser interpretada como um fator que condiciona fenômenos e 
processos políticos. Isso fica claro na forma como tratamos do espaço ao falar 
das consequências das formas de representar, ou dos padrões de votação em 
relação à geografia eleitoral. 
Vimos os ganhos interpretativos em relação ao comportamento eleitoral 
que as escolas de Columbia e de Michigan trouxeram, ao acrescentar a 
importância de variáveis sociais e psicológicas (afeto) à dimensão da escolha do 
eleitor. Vimos também os ganhos de pensar esse eleitor como um agente dotado 
de racionalidade. Mas considerando apenas esses elementos, há uma limitação 
explicativa, relacionada ao fato de que o comportamento eleitoral apresenta 
padrões espaciais. Fazer uma inferência sobre mim diz algo a respeito do meu 
comportamento, mas, ao considerar que fatores que me afetam, afetam também 
meus vizinhos temos uma maior latitude em relação a um fenômeno mais amplo. 
A informação que chega a mim para avaliar um político, muito provavelmente 
chega àqueles que estão próximos a mim (pense, por exemplo, no jornal da sua 
cidade), mas é pouco provável que chegue àqueles que estão distantes. 
A geografia, nesse sentido, não é um elemento residual, mas a malha na 
qual nossas relações acontecem. A malha na qual comportamentos políticos 
acontecem. Essa malha permeia a vida e o cotidiano de todos, e enviesa o 
comportamento de eleitores, de partidos, de políticos e candidatos. 
NA PRÁTICA 
Saiba mais 
1. Recomendação de filme: 
RECONTAGEM. Direção de Jay Raoch. EUA, 2008. 1h56min. 
 
 
 
19 
O filme retrata, de forma dramática, o episódio das eleições presidenciais 
americanas de 2000, entre Bush e Al Gore. À época, o estado da Flórida decidiu 
recontar seus votos, e o resultado, imerso em irregularidades e uma interrupção 
da Suprema Corte americana, acabou dando a vitória ao candidato republicano. 
O drama retoma algumas questões ligadas ao tema do gerrymandering de forma 
clara e ilustrativa. 
2. Recomendação de livro: 
KUSCHNIR, K. O cotidiano da política. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 
2000. 
 
Em uma etnografia sobre a campanha eleitoral de uma candidata a 
vereadora no Rio de Janeiro, Kuschnir traz relatos sobre a votação maciça de 
um bairro inteiro do subúrbio carioca. A autora mostra como esses votos 
dependeram da ação de políticos ligados ao bairro em questão, e como a 
construção de vínculos de confiança e o tornar-se conhecido foram essenciais 
para a vitória da vereadora no bairro. 
FINALIZANDO 
Nesta aula falamos sobre como a ciência política foi, aos poucos, 
incorporando interpretações que relacionam o espaço ao comportamento 
eleitoral e como isso foi um ganho para o campo de estudos, bem como para a 
compreensão dos diferentes padrões de votação. 
Longe de ser um epifenômeno, algo que “apenas está lá”, a geografia, por 
meio do espaço e do contexto, influencia nosso ambiente, a malha na qual 
 
 
20 
tomamos nossas decisões e vivemos o cotidiano de nossas vidas. A forma pela 
qual a informação flui pelo espaço, assim, enviesa o conteúdo do que chega até 
nós. Como precisamos de informações para tomar decisões sobre em quem 
votar, acabamos escolhendo aqueles candidatos que estão próximos, de quem 
já ouvimos falar, e com os quais podemos construir relações de confiança, 
possíveis apenas por conta da proximidade. 
Isso acaba fazendo com que votemos, nós e nossos vizinhos, de forma 
muito parecida, o que, empiricamente, gera padrões de votação verificáveis. 
Nesse sentido, coexistem, entrelaçam-se racionalidade (de escolher o candidato 
com o qual mais me identifico, cujas políticas me beneficiam mais) e contexto 
(só posso escolher dentre aqueles que conheço, a respeito dos quais já ouvi 
falar). 
Uma abordagem mais realista do comportamento eleitoral é a contribuição 
da geografia para o campo dos estudos do comportamento eleitoral. A geografia 
eleitoral, ainda que travestida de diversos nomes, nos permite ver como variáveis 
eminentemente políticas são influenciadas pelo espaço e pelo contexto. 
 
 
 
 
21 
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