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PEDIATRIA GERAL Hospital Infantil Albert Sabin - Hias Rotinas de PEDIATRIA GERAL Rotinas de Fortaleza - Ceará 2017 Hospital Infantil Albert Sabin - Hias DIRETORA GERAL Dra. Marfisa de Melo Portela DIRETORA CLÍNICA Dra. Patrícia Jereissati Sampaio DIRETORA TÉCNICA Dra. Fábia Maria Holanda Linhares Feitosa GERENTE ADMINISTRATIVO/ FINANCEIRO Dr. Raimundo Farias Martins Amorim COORDENAÇÃO GERAL Dra. Maria da Conceição Alves Jucá Dra. Olívia Andrea Alencar Costa Bessa COORDENAÇÃO EDITORIAL E CAPA Diana de Vasconcelos Nunes Francisco Macílio Oliveira REVISÃO Diana Vasconcelos Nunes Dra. Olívia Andrea Alencar Costa Bessa DIAGRAMAÇÃO, IMPRESSÃO E ACABAMENTO Apex Gráfica e Editora SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁ Hospital Infantil Albert Sabin - Hias Copyright by Secretaria de Saúde do Estado do Ceará. Todos os direitos reservados Catalogação na Fonte: Bibliotecária Jacquelline Campelo Jucá - CRB 3/677 R842 Rotinas de pediatria geral: Hospital Infantil Albert Sabin – HIAS/ Conceição Alves Jucá, Olivia Andréa Alencar Costa Bessa, Viena Sales Ximenes Ávila, (organizadores). – Fortaleza: Apex, 2017. 212p. ISBN 978-85-98642-21-5 1. Pediatria. 2. Protocolos Clínicos – Pediatria. 3. Diagnósticos terapêuticos – Internação hospitalar. I. Maria da Conceição Alves Jucá. II. Olívia Andrea Alencar Costa. III. Viena Sales Ximenes Ávila. IV. Título. CDD 618.92 Organizadores Maria da Conceição Alves Jucá Pediatra, com Mestrado em Saúde da Criança e Adolescente pela Univer- sidade Estadual do Ceará - UECE. Coordenadora da Unidade de Pediatria Geral e Supervisora do Programa de Residência Médica em Pediatria do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Professora de Práticas Médicas em Semiologia Pediátrica do curso de Medicina da UECE e Professora do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Olivia Andréa Alencar Costa Bessa Pediatra com Residência Médica em Pediatria e Mestrado em Patologia das Doenças Tropicais pela Universidade Federal do Ceará - UFC. Doutora em Pediatria pela Escola Paulista de Medicina/ Universidade Federal de São Paulo - EPM/ UNIFESP. Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria - SBP e AMB e em Educação para as Profissões da Saúde pela Foundation for Advancement of International Medical Education and Research (FAIMER). Professora Adjunta do Curso de Medicina e do Programa de Mestrado em Ciências Médicas da Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Coordena o Núcleo de Pesquisa do Hospital Infantil Albert Sabin. Viena Sales Ximenes Ávila Pediatra com Residência Médica em Pediatria pelo Hospital Infantil Albert Sabin - Hias, com Especialização em Educação na Saúde para Preceptores do SUS pelo Hospital Sírio Libanês. Coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas do Hias. Colaboradores Adriana Rodrigues Façanha Residência em Pediatra Geral e Nefrologia Pediátrica pelo Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Antônio Alexandre Leite Mendonça Miná Residência em Pediatra Geral, com R3 em Pediatria em Cuidados Hospitalares em nível Terciário pelo Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Preceptor da Residência Médica em Pediatria Geral do Hias. Carlos Artur da Costa Moraes Residência em Pediatria e Cancerologia Infantil e Hematologia e Hemoterapia Pediátricas. Mestrado em Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Professor de Práticas Médicas em Semiologia Pediátrica da UECE e do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Célia Maria Barbosa Elias Monteiro Médica Pediatra, com Título de Especialista em Pediatria pela AMB. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Fernanda Paiva Pereira Honório Residência em Pediatra Geral, com R3 em Pediatria em Cuidados Hospitalares em nível Terciário Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hias e Hospital Universitário Walter Cantídio - HUWC. François Loiola Ponte de Souza Residência em Pediatra Geral, com R3 em Pediatra em Cuidados Hospitalares em nível Terciário Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Preceptor da Residência Médica em Pediatria Geral do Hias. Gabriela Maia Mota Residência em Pediatra Geral, com R3 em Pediatra em Cuidados Hospitalares em nível Terciário Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hias. Lia Cavalcanti de Albuquerque Médica Pediatra, com Mestrado em Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Professora de Práticas Médicas em Semiologia Pediátrica da Universidade Estadual do Ceará - UECE. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Luiza Danielle Barros Lins Residência em Pediatria Geral no Hospital Infantil Albert Sabin - Hias e em Hematologia e Hemoterapia na Santa Casa de São Paulo. Hematologista do Hias. Resposável técnica da Agência Transfusional e Gerente de Risco do Hias. Marcia Lima Verde Campos Oliveira Médica Onco-Hematologista Pediatra do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias e Centro Pediátrico do Câncer - CPC. Preceptora da Residência Médica de Oncologia Pediátrica e Coordenadora da Residência Médica de Hematologia Pediátrica. Maria da Conceição Alves Jucá Médica Pediatra, com Mestrado em Saúde da Criança e Adolescente pela UECE. Coordenadora da Unidade de Pediatria Geral e Supervisora do Programa de Residência Médica em Pediatria do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Professora de Práticas Médicas em Semiologia Pediátrica da Universidade Estadual do Ceará - UECE. Professora do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Mércia Lima de Carvalho Lemos Médica Pediatra, com Mestrado em Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Rosenilde do Nascimento Silva Médica Pediatra, com Residência em Pediatria pelo Hospital Infantil Albert Sabin - Hias e Título de Especialista em Pediatria Geral pela AMB. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hias. Roseny Marinho Mesquista Pereira Médica Pediatra, com Mestrado em Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Selma Lessa de Castro Residência Médica em Pediatria Geral e Onco-Hematologia Pediátrica. Doutorado em Medicina pela Universidad Autónoma de Barcelona. Preceptora da Residência Médica de Onco-Hematologia do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Coordenadora d Centro Pediátrico do Câncer. Virna da Costa e Silva Doutora em Pediatria pela Universidade de São Paulo - USP. Mestrado em Saúde Pública pelaUniversidade Estadual do Ceará - UECE. Pós-Graduação em Nutrologia pela ABRAN. Título e Especialista em Pediatria (SBP). Residência Médica em Pediatria pelo Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Professora do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Preceptora e Coordenadora da Residência Médica Hias. Viviany de Oliveira Viana Pediatra com Residência em Cancerologia e Hematologia Pediátrica. Preceptora da Residência Médica em Cancerologia e Hematologia Pediátrica do Hias. Diante do novo cenário da saúde e com o intuito de adequar o pediatra para os novos perfis epidemiológicos e conteúdos temáticos, a Direção do HIAS em consonância com o Centro de Estudos e Pesquisas se antecipou mais uma vez aos fatos e propôs uma renovação dos protocolos clínicos após 11 anos da última publicação (2006). Vale salientar que a Unidade de Pediatria Geral deste hospital já se consolidou como polo de formação e capacitação em ensino de pediatria geral em nível de assistência terciária à saúdeda criança e do adolescente de forma integral e humanizada. E assim,foi desenvolvido este trabalho, fruto do esforço e dedicação destes profissionais engajados e em absoluta sintonia com o processo de ensino e aprendizagem, além de antenados com a evolução dos conhecimentos científicos e terapêuticos atuais. Com este pensamento, apresentamos aqui uma proposta diferenciada dos profissionais desta Unidade com o objetivo de habilitar o pediatra a reconhecer, intervir e familiarizar-se com as possibilidades diagnósticas e terapêuticas dentro de um ambiente de internação hospitalar com casos de maior complexidade. Com o intuito de fortalecer estas novas demandas é que os temas aqui abordados foram criteriosamente selecionados. Compartilhando estas ideias e saberes, preocupados não somente com a doença, mais também com a saúde, acreditamos estar contribuindo com a melhoria da qualidade de vida de nossas crianças. Dra. Maria da Conceição Alves Jucá Apresentação Sumário 1. Abordagem Nutricional da Criança Hospitalizada...........................15 Virna da Costa e Silva 2. Hipoglicemia Neonatal e na Infância...............................................37 Célia Maria Barbosa Elias Monteiro, Mércia Lima de Carvalho Lemos 3. Distúrbios Hidroeletrolíticos............................................................45 Lia Cavalcanti de Albuquerque 4. Distúrbios do Equilíbrio Ácido-Básico..............................................63 Lia Cavalcanti de Albuquerque, Adriana Rodrigues Façanha Barreto Queiroz 5. Febre sem Sinais de Localização.......................................................75 Gabriela Maia Mota 6. Adenomegalias.................................................................................85 Célia Maria Barbosa Elias Monteiro, Rosenilde do Nascimento Silva 7. Hepatoesplenomegalia.....................................................................99 Roseny Marinho Mesquita Pereira 8. Hipertensão na Infância.................................................................111 Fernanda Paiva Pereira Honório 9. Artrites...........................................................................................125 Célia Maria Barbosa Elias Monteiro, Rosenilde do Nascimento Silva 10. Massas Abdominais........................................................................151 Gabriela Maia Mota 11. Pancitopenia na Infância................................................................159 Carlos Artur da Costa Moraes, Selma Lessa de Castro, Viviany de Oliveira Viana 12. Purpura Trombocitopenica.............................................................163 Mércia Lima de Carvalho Lemos 13. Hemoderivados na Infância............................................................169 Carlos Artur da Costa Moraes, Marcia Lima Verde Campos de Oliveira, Luiza Danielle Barros Lins 14. Investigação de Crises Epilépticas...................................................183 Antônio Alexandre Leite Mendonça Miná 15. Acidente Vascular Cerebral............................................................189 Antônio Alexandre Leite Mendonça Miná 16. Involução do Desenvolvimento Neuropsicomotor.........................195 François Loiola Ponte de Souza 17. Hipotonia.......................................................................................201 François Loiola Ponte de Souza 18. Dermatites Graves mais Frequentes na Infância.............................207 Mércia Lima de Carvalho Lemos, Ana Glória Pinto 15 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO O paciente pediátrico guarda em si particularidades que outras especialida- des não contem: avaliação do crescimento que é um processo dinâmico e contínuo e para ele cabem cuidados que vão desde o intraútero e se esten- dem até sua completa formação na adolescência e entrada na vida adulta. Quando internados por patologias diversas, ele não é apenas uma “patologia” a ser cuidada. Naquele momento, ele continua com seu crescimento e desenvolvimento e cabe ao pediatra avaliar e intervir quando necessário, buscando o atendimento global desse paciente. Além do que, para promover a saúde desse paciente, a abordagem deve incluir o suporte para que a criança seja bem assistida em todas as suas necessidades. Diante disso, a avaliação nutricional durante o período de internação, para adequado tratamento e recuperação se faz mandatório. A desnutrição proteico-calórica (DPC) e o aumento mundial do sobrepeso/ obesidade podem contribuir para complicações graves nos pacientes internados com os mais diversos diagnósticos. A DPC apesar de sua redução global progressiva, ainda é um importante problema de saúde pública nos países em desenvolvimento e envolve distúrbios clínicos que variam em graus e combinações de deficiência de proteínas e energia e tem origem multifatorial. Está associada a processos infecciosos, baixo nível socioeconômico, baixa ingestão calórica e proteica. A obesidade, um atual e crescente problema de saúde pública, também tem caráter multifatorial e está associada a problemas que podem iniciar ainda cedo (fase pré-escolar até a adolescência) como hipertensão, resistência à insulina, hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia, esteatose hepática, síndrome metabólica, refluxo grastro-esofágico, hipoxia crônica devido 1 ABORDAGEM NUTRICIONAL DA CRIANÇA HOSPITALIZADA Virna da Costa e Silva 16 Rotinas Pediatria Geral ao aumento da demanda ventilatória e do esforço respiratório, menarca precoce, pseudotumor cerebral, hipertrofia cardíaca, morte súbita, doença coronariana isquêmica, deslizamento epifisário da cabeça do fêmur, doença do ovário policístico, além de problemas psicossociais como bullying, menor aceitação no ambiente de vivência, isolamento. A avaliação deve ser feita por equipe multidisciplinar, onde o médico exerce papel fundamental, visando não apenas detectar alterações nutricionais vigentes, e sim buscar conhecer risco nutricional avaliado pela combinação do estado nutricional atual e da gravidade da doença. A avaliação precoce promove uma intervenção mais eficiente, evitando, assim, a instalação consequências relacionadas ao suporte nutricional inadequado. Períodos prolongados de permanência hospitalar estão associados a doenças mais graves e complexas e, consequentemente, a maior exposição à má nutrição intra-hospitalar e a bactérias intra-hospitalares multirresistentes, piorando cada vez mais o prognóstico do paciente e aumentando sua morbimortalidade. AVALIAÇÃO CLÍNICO-NUTRICIONAL DA CRIANÇA A) ANAMNESE: Registrar em prontuário todos os dados da história História da doença atual: investigar HDA sempre buscando associação com distúrbios nutricionais; Antecedentes pessoais/gestacionais: estado nutricional materno prévio, ganho de pesodurante a gestação, doenças associadas na gestação, hábitos na gestação, suplementação na gestação, condições de parto (vaginal? cirúrgico?), peso ai nascer, aleitamento materno (por quanto tempo, exclusivo?), uso de fórmulas complementares (que tipo, adequada para idade), suplementação vitamínica?, a doença atual tem correlação com a ingesta alimentar do paciente? Quantidade e qualidade da ingesta, nível protéico, nível energético, ingesta de alérgenos, alimentos inflamatórios, disbiose intestinal?; História familiar: presença de diabetes, dislipidemias, obesidade, desnutrição, doenças alérgicas, consanguinidade; 17 Rotinas de Pediatria Geral Fatores culturais e socioeconômicos – grau de escolaridade dos pais, condições de habitação, hábitos, práticas alimentares, intolerâncias, preferências e aversões, tabus alimentares; História funcional: paciente sedentário tem alguma atividade diária, tempo de tela (computador, TV, celular, tablet); Uso de medicações; IOA: Sucção, deglutição, hábitos intestinais, manifestações respira- tórias, osteoarticulares, convulsão, mudança de pele e fâneros. B) AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Anamnese alimentar: permite prever ou estimar o estado nutricional através da descrição da quantidade e qualidade das refeições do paciente (podendo ser inquérito alimentar, recordatório diário ou semanal); Avaliar relação parental e da criança com a comida (“meu filho não come”, paladar seletivo, tempo gasto nas refeições); Situação de hipercatabolismo? Sepse, queimaduras, infecções, hipertireoidismo, etc. Associado a essa anamnese, a American Society of Parenteral e Enteral Nutrition (ASPEN) e a The European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN) indicam a Avaliação Nutricional Subjetiva Global (ANSG) como um eficiente método de avaliação de gravidade nutricional (Anexo 01). C) EXAME FÍSICO E ANTROPOMETRIA: A avaliação nutricional que deve ser realizada até o segundo dia após a internação (tanto pelo médico pediatra como pela nutricionista) e que tem como principal objetivo estabelecer atitudes de intervenção adequada. Atenção aos possíveis sinais de carência nutricional: Cabelos: opacos, secos, finos, quebradiços, despigmentados, queda acentuada, hirsutismo; 18 Rotinas Pediatria Geral Olhos: conjuntivas pálidas, xeroftalmia, queratomalácia, manchas de Bitot, exoftalmia; Sistema musculoesquelético: craniotabes, alargamento epifisário, desgaste muscular, ausência ou excesso de gordura subcutânea, genum varum, genum valgum; Pele: xerose, hiperqueratose folicular, equimoses, petéquias, xantomas, palidez, estrias, fissuras, acantose nigricans, dermatites, acne, palidez, icterícia; Unhas: quebradiças, coiliníquias, infecções fúngicas; Lábios: queilite angular, rachaduras, queilose; Língua: edema, estomatites, língua escarlate, língua geográfica; Cardiopulmonar: presença de sopros, desconforto respiratório; Abdomem: hepatomegalias, aumento da circunferência abdominal, ascite, escavado; Estadiamento Puberal: avaliação Puberal do paciente e classificação Tanner. Aferições das medidas corporais são de fundamental importância para melhor acurácia do diagnóstico nutricional do paciente. Devem ser realizadas preferencialmente pelo mesmo profissional, até o segundo dia de internação e pelo menos uma vez por semana, dependendo do quadro clínico do paciente, com aparelhos calibrados de forma padronizada. O Ministério da Saúde preconiza o uso de gráficos que avaliam o peso, altura e sua relação com o sexo e a idade utilizando índices Z score que classificam o estado nutricional da criança. Os índices mais utilizados para a classificação são peso/ idade, de estatura/ idade e IMC/ idade. Peso: é um importante indicador de avaliação de mudanças no estado nutricional e serve também para cálculo nutricional e hídrico do paciente. Crianças até dois anos podem ser pesadas em balanças pediátricas (tipo pesa bebe) mecânicas ou eletrônicas até 16 kg (com divisão de 10 g) e crianças acima de 2 anos podem ser aferidos 19 Rotinas de Pediatria Geral em balança tipo plataforma (com divisões de 100 g), sempre com o mínimo de roupas possível; Comprimento e estatura: em crianças até dois anos deve-se aferir o comprimento do paciente deitado, descalços e sem acessórios, retificado, com braços estendidos e alinhados com antropômetro horizontal. Os pacientes maiores de dois anos devem ser medidos com antropômetro vertical, com pés descalços, pés unidos, em ângulo reto com as pernas; IMC: realizado pelo cálculo do peso em kg sobre peso ao quadrado (kg/m2) e a partir das medidas obtidas, classificado pelas tabelas de z escore da OMS 2007, com os seguintes critérios por idade e sexo: Z escore < 2 g Magreza; Escore z ≥ -2 e <+1 g Eutrofia; Z Escore ≥ +1 e <+2 g Sobrepeso e Escore z ≥ +2 g Obesidade. Estudos realizados pelo American College os Chest Physicians encontraram associação entre baixo IMC e maior mortalidade em ambiente hospitalar; Circunferência Abdominal (CA): medida da circunferência abdominal realizada com fita métrica não elástica, com local de medida no ponto médio entre o último arco costal fixo e a borda superior da crista ilíaca (Apêndice 02); Circunferência do Braço (CB): localizar e marcar o ponto médio distância do acrômio até a cabeça do rádio, medida com o membro superior fletido a 90 graus a partir do ponto demarcado; Circunferência craniana: forma indireta de medir o crescimento cerebral nos primeiros dois anos de vida, posicionar da fita métrica na porção posterior mais proeminente do crânio (occipício) e na parte frontal da cabeça (glabela). Trata-se de uma importante medida para avaliar o crescimento e o desenvolvimento, especialmente em crianças nascidas prematuras; Medida da Pressão arterial (PA): verificada a pressão arterial em mmHg no membro superior direito com manguito apropriado à circunferência do braço; 20 Rotinas Pediatria Geral Equações para estimar estatura de pacientes acamados: - Comprimento do braço (distância do acrômio até a cabeça do rádio, medida com o membro superior fletido a 90 graus) - Comprimento tibial (borda supero-medial da tíbia até a borda do maléolo medial inferior). Comprimento do membro inferior (joelho a tornozelo) Medida do segmento Estatura estimada Desvio-padrão Comprimento superior do braço E = (4,35 x CSB) + 21,8 ± 1,7 Comprimento tibial E = (3,26 x CT) + 30,8 ± 1,4 Comprimento do membro inferior E = (2,69 x CJ) + 24,2 ± 1,1 Fonte: Stevenson, 1995. Manual de Orientação – Departamento de Nutrologia SBP Em casos específicos necessários podem ser realizados análise da composi- ção corporal para avaliação de ganho ou perda de massa muscular e massa gordurosa, avaliação do grau de hidratação e retenção de líquidos, estimar as necessidades calóricas ideais para atingir a composição corporal dese- jada. Pode ser realizada com diversas técnicas como medidas de dobras cutâneas, bioimpedanciometria, dual energy x-ray absortiometry (DEXA), pletismografia, tomografia computadorizada, dentre outros. AVALIAÇÃO LABORATORIAL Os exames laboratoriais podem auxiliar na avaliação de risco, no diagnóstico e no acompanhamento nutricional do paciente pediátrico. Possibilita a identificação e o seguimento de morbidades associadas ao excesso de peso, como dislipidemias e alterações do metabolismo glicídico, sendo complementares a avaliação da história clínica e exame físico. Dentre eles podemos destacar os seguintes na avaliação nutricional do paciente: Avaliação para anemia e deficiência de ferro: - Dosagem de hemoglobina, hematócrito, VCM, Ferro sérico, ferritina, Índice de saturação de transferrina - avaliação global da anemia e depleção de ferro. - Capacidade de ligaçãodo ferro total – Indicativo de presença de doença infecciosa e/ou inflamatória. 21 Rotinas de Pediatria Geral - Dosagem de Vitamina B12, dosagem de ácido fólico – uso de fenitoína, deficiência de folato, baixa ingesta de alimentos ricos em B12. Avaliação de disfunção hepática, inflamação, infecção: - Dosagem de proteínas albumina e pré-albumina, bilirrubinas, TGO, TGP, fibrinogênio, fosfatase alcalina. Imunidade: - Dosagem de leucócitos, dosagem de globulinas, dosagem de complemento C3. Vitaminas e minerais: - Dosagem de retinol plasmático, Zinco, Vitamina E sérica, 25-OH plasmático, Vitamina B12, Piridoxina plasmática, cálcio total, cálcio ionizável, fósforo, magnésio, iodoséricos. Perfil lipídico: - Dosagem de colesterol total, LDL, HDL, triglicerídeos. Avaliação do metabolismo glicêmico: - Dosagem de glicemia de jejum, teste de tolerância oral a glicose, insulina de jejum. O diagnóstico da situação nutricional do paciente é feito com atenção aos riscos mais evidentes: baixo peso ou muito baixo peso para idade, baixa estatura, magreza, perda de peso recente, ingesta alimentar insuficiente, jejum prolongado (> de cinco dias), incapacidade alimentar, diarreia crônica, hipercatabolismo, sinais clínicos de perda muscular e de gorduras, alterações bioquímicas importantes. Buscar evidenciar situações de alto risco e condições patológicas especiais: Anorexia nervosa; Queimaduras; Displasia Broncopulmonar; Doença celíaca; Fibrose cística; Prematuridade; Doença cardíaca crônica; Doenças infectocontagiosas (HIV); Doença inflamatória intestinal; Doenças Oncológicas; Doença hepática crônica; Doença renal crônica Pancreatite; Síndrome do intestino curto; Doença muscular; Doença metabólica; Trauma; Encefalopatia Crônica; grandes cirurgias. 22 Rotinas Pediatria Geral Ser construído uma planilha de necessidades energéticas, proteicas e hídricas juntamente com serviço de nutrição, avaliando melhor via de alimentação do paciente. Promover a suplementação adequada dos déficits vitamínicos e minerais, por faixa etária, peso e sexo, reavaliar diariamente e observar aceitação da dieta prescrita e necessidade de alteração na conduta. Deste modo, conclui-se que o pediatra deve conhecer os métodos para realização da avaliação nutricional de seu paciente a fim de garantir que as necessidades nutricionais da criança hospitalizada sejamsupridas de forma efetiva, promovendo melhora de seu estado clínico geral e evitando implicações em seu crescimento e desenvolvimento. ANEXOS: Anexo 01: Avaliação Nutricional Subjetiva Global (Yamauti, 2006) Questionário da Avaliação Nutricional Subjetiva Global A) Anamnese 1) Peso corpóreo: ( 1 ) Mudou nos últimos 6 meses ( ) sim ( ) não ( 1 ) Continua perdendo atualmente ( ) sim ( ) não Peso atual _____ kg Peso habitual _____ kg Perda de peso (PP) ____ % Se > 10% ( 2 ) ( ) Se < 10% ( 1 ) ( ) Total parcial de pontos_____ 2) Dieta ( 1 ) Mudança de dieta ( ) sim ( ) não A mudança foi para: ( 1 ) dieta hipocalórica ( 2 ) dieta pastosa hipocalórica (.2.) dieta líquida >15 dd ou solução de infusão intravenosa > 5 dd ( 3 ) jejum > 5 dias ( 2 ) mudança persistente > 30 dias Total parcial de pontos_____ 23 Rotinas de Pediatria Geral 3) Sintomas gastrointestinais ( 1 ) ( ) disfagia e/ou odinofagia ( 1 ) ( ) náuseas ( 1 ) ( ) vômitos ( 1 ) ( ) diarréia ( 2 ) ( ) anorexia, distensão abdominal, dor abdominal Total parcial de pontos_____ 4) Capacidade funcional física (por mais de 2 semanas) ( 1 ) ( ) abaixo do normal ( 2 ) ( ) acamado Total parcial de pontos_____ 5) Diagnóstico ( 1 ) ( ) baixo estresse ( 2 ) ( ) moderado estresse ( 3 ) ( ) alto estresse Total parcial de pontos_____ B) Exame físico ( 0 ) Normal (+ 1) leve ou moderadamente depletado (+ 2) gravemente depletado (pra cada item) ( ) perda de gordura subcutânea (tríceps, tórax) ( ) músculo estriado ( ) edema sacral ( ) ascite ( ) edema tornozelo Total parcial de pontos_____ C) Categoria da ANSG ( ) bem nutrido < 17 pontos ( ) desnutrido moderado 17 ≤ 22 pontos ( ) desnutrido grave > 22 pontos Somatória do total parcial de pontos____ 24 Rotinas Pediatria Geral Anexo 02: Pontos de corte, em centímetros (cm), para medida da circunfe- rência abdominal. IDADE MENINOS BRANCOS/ PARDOS MENINAS BRANCAS/ PARDAS MENINOS NEGROS MENINAS NEGRAS 5 59 57 56 56 6 61 60 60 59 7 61 64 61 65 8 75 73 67 67 9 77 73 74 78 10 88 75 79 79 11 90 83 79 87 Fonte: WHO, 2007 Anexo 03: Comportamento da velocidade de crescimento estatural em cm/ ano em função do estadiamento puberal. 25 Rotinas de Pediatria Geral Anexo 04: Estimativas da necessidade calórica em pacientes pediátricos IDADE Kcal/ Kg de PESO/ DIA 0 – 1 ano 90 – 120 1 – 7 anos 75 – 90 7 – 12 anos 60 – 75 12 – 18 anos 30 – 60 18 – 25 anos 25 – 30 Fonte: Coppini; Sampaio; Marco, 2011. Anexo 05: Estimativa da necessidade proteica em pediatria. FAIXA ETÁRIA NECESSIDADE PROTEICA (g/kg/dia) Baixo peso ao nascer 3 – 4 Termo 2 – 3 1 a 10 anos 1 – 1,2 Adolescente masculino 0,9 Adolescente feminino 0,8 Criança / adolescente grave 1,5 Fonte:Coppini; Sampaio; Marco, 2011. 26 Rotinas Pediatria Geral Anexo 06: Estimativa da necessidade de carboidratos em pediatria. FAIXA ETÁRIA CARBOIDRATOS 0 – 6 meses 60 g 7 – 12 meses 95 g 1 – 3 anos 45 – 65% 4 – 18 anos 45 – 65% Fonte: Coppini; Sampaio; Marco, 2011. Anexo 07: Estimativa da necessidade lipídeos em pediatria. FAIXA ETÁRIA LIPÍDIOS 0 – 6 meses 31 g 7 – 12 meses 30 g 1 – 3 anos 30 – 40% 4 – 18 anos 25 – 35% Fonte: Coppini; Sampaio; Marco, 2011. Anexo 08: Fórmulas para o cálculo do gasto energético basal (GEB). IDADE GEB (kcal/kg/dia) MASCULINO GEB (kcal/kg/dia FEMININO) 0 - 3 anos 0,167 x P + 1517,4 x E – 617,6 16,25 x P + 1023,2 x E – 413,5 3 - 10 anos 19,6 x P + 130,3 x E + 414,9 16,97 x P + 161,8 x E + 371,2 10 - 18 anos 16,25 x P + 137,2 x E + 515,5 8,365 x P + 465 x E + 200 P – peso; E – estatura; GEB – gasto energético basal. Fonte: SBNPE; ASBRAN, 2011. 27 Rotinas de Pediatria Geral Anexo 09: Fatores de correção do GEB para situações de estresse. DOENÇA DE BASE FATOR DE CORREÇÃO Ausente 1,0 Pós-operatório 1,1 – 1,3 Sepse 1,3 Trauma 1,2 – 1,6 Queimado 1,2 – 2,0 Fonte: SBNPE; ASBRAN, 2011. Anexo 10: Pacientes graves em unidade de terapia intensiva (UTI) GEB = [(17 x idade meses) + (48 x peso Kg) + (292 x temperatura ºC) – 9677] x 0,239 Fonte: SBNPE; ASBRAN, 2011. Anexo 11: Fórmula de Holliday-Segar, para o cálculo das necessidades hídricas do paciente pediátrico. IDADE HÍDRICA EM PEDIATRIA - FÓRMULA DE HOLLIDAY-SEGAR 100 mL/kg para uma criança de 3 a 10 kg 1000 mL + 50 mL/kg para cada kg acima de 10 kg para uma criança de 10 a 20 kg 1500 mL + 20 mL/kg para cada kg acima de 20 kg para uma criança acima de 20 kg Fonte: SBNPE; ASBRAN, 2011. Anexo 12: Necessidades eletrolíticas do paciente pediátrico SÓDIO Potássio 3 a 5 mEq/kcal/dia 2 a 3 mEq/kcal/dia Fonte:SBNPE; ASBRAN, 2011. 28 Rotinas Pediatria Geral Anexo 13: Curvas de Z score para avaliação antropométrica 29 Rotinas de Pediatria Geral 30 Rotinas Pediatria Geral 31 Rotinas de Pediatria Geral 32 Rotinas Pediatria Geral 33 Rotinas de Pediatria Geral 34 Rotinas Pediatria Geral REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRASIL. Ministério da Saúde - DATASUS. Informações de Saúde. Dispo- nível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinasc/cnv/nvuf.def Acesso em: 12/04/2017. BRASIL. Portal da Saúde [homepage na Internet]. Brasília (DF): Departamento de AtençãoBásica; 2012. Publicações. Disponível em: http://dab.saude.gov. br/portaldab/biblioteca.php?conteudo=publicacoes/orientacoes_coleta_ analise_dados_antropometricos. Acesso em: 08/05/2017. CARVALHO, APPF ET AL. Protocolo de atendimentonutricional do pacientehospitalizado: materno-infantil – Goiânia: Gráfica UFG, 2016. FELIX DS, SILVA MKS. Obesidade. In: Teixeira Neto F, ed. Nutrição clínica. Rio de JANEIRO: GUANABARA KOOGAN; p.185-94; 2003. LIMA CM, TIENGO A. Perfil nutricional e alimentar de crianças internadas no Hospital das Clínicas Samuel Libânio. RevCiêncSaude; 2(2): 45-56; 2012. MARQUES SBC, MEDEIROS AM. Sistema digestório e desnutrição. In: Duarte ACG, ed. Avaliação nutricional: aspectos clínicos e laboratoriais. 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São Paulo: AMB; CFM (Projeto Diretrizes), 15p; 2011. SIMÕES APB, PALCHETTI CZ, PATIN RV, MAURI JF, OLIVEIRA FLC. Estado nutricional de crianças e adolescentes hospitalizados em enfermaria de cirurgia pediátrica. Rev Paul Pediatr. 28(1):41-7; 2010. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Avaliação nutricional da criança e do adolescente: manual de orientação. São Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria; Departamento de Nutrologia; 2009. Disponível em: <http:// www.sbp.com.br/pdfs/ MANUAL-AVAL-NUTR2009.pdf> Acesso em: 08/05/2017 WESSEL, J. et al. Standards for specializednutritionsupport: hospitalizedpe- diatricpatients. Nutrition in clinicalpractice, v. 20, n. 1, p. 103, 2017. YAMAUTI, AK et al. Avaliação nutricional subjetiva global em pacientes cardiopatas. ArqBrasCardiol, v. 87, n. 6, p. 772-7, 2006. 37 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO O mais importante neste tipo de ocorrência é fazer a relação com a faixa etária acometida e as fases do desenvolvimento afetadas. Parte-se do prin- cípio de que há relação dos sintomas, com diferentes tipos de manifesta- ções, quando a glicemia plasmática ou por sangue total, encontra-se me- nor que 40 mg/dl. Porém, segundo alguns relatos, níveis abaixo de 46,8 mg/dl, já poderão trazer consequências adversas, principalmente para o recém-nascido e lactente jovem, por possuírem depósito limitado de gli- cogênio e maiores proporções cérebro-corpo. Nos recém-nascidos as necessidades de glicose pelo cérebro são três vezes maiores que no adulto. O limite inferior de normalidade aceitável de glicemia nos RN passou a ser 50 mg/dl, justamente pelas maiores necessidades, por maior consumo relativo pelo cérebro, e nas situações de risco, como por exemplo, nos RN de baixo peso, nos prematuros, asfixiados, SARI, devido menor quantidade de tecido adiposo, sofrem maior depleção nas reservas de glicogênio. Paralelamente seus sistemas enzimáticos são menos desenvolvidos, dificultando a neoglicogênese e a oxidação dos ácidos graxos livres, podendo levar dias para atingir a atividade enzimática normal. Além disso, ainda sofrem atraso na alimentação o que agrava mais a hipoglicemia. Podem estar acometidos também por infecções congênitas ou adquiridas, que comprometem o fígado. Os filhos de mães diabéticas também têm predisposição à hipoglicemia pelo hiperinsulinismo e hiplerplasia de células beta, levam 5 a 7 dias para se reequilibrarem com a oferta de glicose pós-natal. Os mecanismos de contra- regulação adrenérgica são sudorese fria, fraqueza, ansiedade, taquicardia, fome, palidez e tremores. Nos lactentes as manifestações poderão ser 2 HIPOGLICEMIA NEONATAL E NA INFÂNCIA Célia Maria Barbosa Elias Monteiro Mércia Lima de Carvalho Lemos 38 Rotinas Pediatria Geral inespecíficas, como, letargia, apnéia e abalos musculares. Nas crianças maiores após a lactância os sintomas são irritabilidade, alterações visuais, cefaleia, confusão, letargia, convulsão e coma. ETIOLOGIA Maior utilização da glicose sanguínea excedendo o suprimento (jejum prolongado, doenças recorrentes associadas a anorexia e vômitos); Produção de glicose limitada por distúrbio da resposta contrarreguladora (pan-hipopituitarismo, insuficiência hormonal, erro inato do metabolismo); Consumo excessivo de glicose sanguínea (hiperinsulinismo). CAUSAS DE HIPOGLICEMIA Disponibilidade de glicose reduzida Aumento do consumo de glicose Retardo do crescimento intra-uterino Prematuridade Hipopituitarismo Insuficiencia adrenal Deficiencia de GH Hipotireoidismo Deficiencia de glucagon Fome (hipoglicemia cetótica) Erros Inatos do metabolismo Drogas (álcool, aspirina, b-bloqueadores) Disfunção hepática Doença cardíaca congênita Hipernsulinismo Hiperinsulinismo neonatal transitório Filho de mãe diabética Hipoglicemiahiperinsulinêmica persistente da infancia Insulinoma Doença Hemolitica (fator Rh) Sindrome de Beckwith-Wiedemann Asfixia perinatal Malária Retirado de Joseph E Raine et al.Endocrinologia e Diabetes em Pediatria. Ed Revinter, 2ª Edição, 2010. 39 Rotinas de Pediatria Geral MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E LABORATORIAIS Muitos RN apresentam hipoglicemia assintomática, podendo os PIG ser mais sintomáticos, variando de algumas horas até 1 semana após o nascimento. Inclui abalos, tremores, apatia. Na infância, a hipoglicemia pode apresentar-se sob a forma de alterações de comportamento, desatenção, apetite voraz ou convulsões, devendo-se logo fazer a dosagem da glicemia sérica e tratar vigorosamente, no caso, principalmente, se estiver menor que 50 mg/dl. Características associadas à ativação do SNA com liberação de epinefrina Características associadas à glicopenia cerebral Ansiedade Sudorese Taquicardia, palpitação Palidez Tremores Fraqueza, Fome Vômitos Angina (art. Coronárias normais) Enxaqueca Confusão mental Dist. Visuais (baixa acuidade,diplopia) Alt. Orgânica de personalidade Incapacidade de concentração Disartria Olhos arregalados Parestesia Tontura Amnésia Ataxia, incoordenação Letargia, sonolência Convulsões Coma, decerebração ou decorticação Hemiplegia, AVC, afasia 40 Rotinas Pediatria Geral No caso dos GIG’s, com hiperinsulinismo são manifestações mais frequentes o apetite voraz, além de necessidade de infusão de glicose com taxas elevadas 10 -15 mg/kg/min, ausência de peptídeo C ou proinsulina no momento da hipoglicemia. Estes últimos produtos relacionados com a insulina, também estão ausentes na hipoglicemia factícia (administração exógena de insulina nas formas de abuso infantil-Sd de Munchausen por procuração). Ver tabela para diagnóstico de hiperinsulinismo abaixo. Critérios para diagnosticar hiperinsulinismo com base em “amostra crítica” (extraídas no jejum da hipoglicemia) Insulina plasmática acima de 2 µU/ml Hipoacidemia de ácidos graxos (acidos graxos livres no plasma < 1,5 mmol/L) Hipocetonemia (β OH butirato no plasma < 2,0 mmol/L) Resposta glicêmicainadequada ao glucagon, 1,0 mg IV (delta de glicose >40 mg/dl) Fonte: Nelson, Tratado de Pediatria, 19a ed. Vol1, Ed ABDR, RJ, 2013. O diagnóstico de hipoglicemia envolve uma combinação de completa história clínica, exame físico cuidadoso e alterações laboratoriais. Importante definir a duração do período de jejum no momento da hipoglicemia. Quando ocorre entre 4 a 6 horas de jejum, o diagnóstico mais provável sugere hiperinsulinismo ou glicogenose. Entretanto, em casos de jejum prolongado, sugere hipoglicemia cetótica ou defeitos na gliconeogênese, incluindo deficiências hormonais. Sinais clínicos como: macrossomia, hepatomegalia, micropênis, defeitos da linha média, baixa estatura, podem direcionar o diagnóstico. (Sd. Bechwith-Wiedemann). Amostras de sangue e urina colhidos na vigência da hipoglicemia são fundamentais para elucidação diagnóstica. Quando não for disponível deve-se induzir a hipoglicemia pelo teste do jejum (paciente hospitalizado). Ver tabela de tempo de jejum abaixo. Duração do jejum para crianças submetidas à investigação de possível hipoglicemia. 41 Rotinas de Pediatria Geral IDADE DURAÇÃO (EM HORAS) < 6 meses 6 - 8 meses 8 – 12 meses 1 – 2 anos 2 – 4 anos 4 – 7 anos >7 anos 8 12 16 18 20 20 24 Fonte: Raine J et al.Endocrinologia e Diabetes em Pediatria. Ed Revinter, 2a Ed. 2010. Solicita-se glicemia, insulina, GH, cortisol séricos, glicosúria e cetonúria. No hiperinsulinismo, além da concentração de insulina > 5 µU/ml, na vigência de glicose plasmática < 50 mg/dl, ocorre redução dos ac. graxos livres, corpos cetônicos e da proteína carreadora 1 GFBP (1 do fator de crescimento insulin-like). Ocorre aumento da glicemia após administração IM de 1 mg de glucagon, além de infusão de glicose para manter essa homeostase. Quando envolver o especialista endocrinologista/geneticista: Hipoglicemia hiperinsulinêmica persistente na infância; Pan-hipopituitarismo; Doença de Addison e outras causas de insuficiência adrenal; Hipoglicemia recorrente de etiologia desconhecida; Paciente cuja investigação possa incluir jejum prolongado; Erros inatos do metabolismo. Nas deficiências enzimáticas, a maioria com inicio na infância, mas nas formas leves, podendo se manifestar em qualquer momento, até na vida adulta. A glicogenose 1 A e 1 B ( deficiência de glicose 6 fosfato – G6PD) é a mais frequente das doenças de acumulo de glicogênio. Manifesta´se de forma 42 Rotinas Pediatria Geral grave, na época neonatal. A primeira se deve ao defeito de fosforilação e a segunda, no transporte intracelular da G6PD. Surgem hepatomegalia, aumento dos rins, baixa estatura, fácies de querubim, aumento das transa- minases, distúrbio da coagulação e propensão a tumores hepáticos. Nos tipos 1 B, surgem neutropenias e infecções. Nesses casos, será considerada a necessidade de biopsia hepática. Os tipos 2 e 4 não causam hipoglicemia. A galactose (deficiência de galactose 1 fosfato uridiltransferase) causa deficiente glicogenólise por acumulo de galactose 1 fosfato, o que inibe a fosfoglicomutase. Manifesta-se desde a primeira ingestão de leite e cursa com déficit de crescimento, icterícia, catarata, retardo mental, sepse por E. coli e insuficencia gonadal. O diagnóstico é dado pelo teste da substancia redutora na urina. O tratamento é a retirada da lactose da dieta. Resumindo (fluxograma), para se chegar ao diagnóstico, define-se a tríade de Whipple: sintomas de hipoglicemia, comprovação de hipoglicemiae boa resposta clínica após uso de glicose oral ou venosa. Os exames básicos:glicemia;cetonemia; cetonúria;ácidos graxos livres; insulinemia; GH; cortisol; TSH; e T4; lactato e alanina; uricemia. TRATAMENTO Inicial – após colher amostras de sangue para exames, fazer 0,2- 0,4g de glicose/kg, em bolos intravenoso (2-4 ml/kg de glicose 10%) durante 4 a 6 min, seguido de infusão de glicose 10%, TIG inicial de 10 mg/kg/min, depois de 6-8 mg/kg/min). A resposta deve ser monitorada e a taxa de infusão ajustada para o nível de glicemia em torno de 72 mg/dl. Não usar bolos de glicose a 25%, intermitente, devido a risco de edema cerebral. Caso haja alteração do nível de consciência e persistência de níveis baixos de glicose sérica, fazer hidrocortisona 50-100 mg EV, em casos de insuficiência adrenal, ainda não diagnosticada; Se não responder com hidrocortisona, considerar possibilidade de distúrbio intracraniano ou erro inato do metabolismo; Nos casos onde há possibilidade de ingestão com segurança, fazer o hidrato de carbono de absorção rápida (açúcar de mesa, suco de frutas, gel de glicose), deve ser administrado por via oral. Se não responder dentro de 10 a 15min, administrar a glicose parenteral; 43 Rotinas de Pediatria Geral Alimentação contínua (enteral) à noite rica em amido cru, para os casos de deficiências enzimáticas (glicogenoses) ou erros inatos do metabolismo. Durante o dia, deve-se manter alimentação a cada 2 horas; Nos hiperinsulinêmicos crônicos (glicemia<40 mg/dl, insulina elevada, peptídeo C >0,6 mg/dl) pesquisar insulinoma por US e/ ou TC, afastar adenomas pancreáticos e programar cirurgia. Pode- se fazer análogo da somatostatina. O diazóxido, na dose de 10 a 30 mg/kg/dia por via oral, dividio em três tomadas pode ser usado para os hiperinsulinêmicos, diminuindo a secreção de insulina pelo pâncreas; Fluxograma Fonte: Retirado de Freire, Lincoln M.S. Diagnóstico Diferencial em Pediatria. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2008. 44 Rotinas Pediatria Geral Roteiro Diagnóstico das Hipoglicemias na infância a partir dos resultados da glicemia, gasometria, lactato e cetonas na urina. Fonte: Retirado/adaptado de Freire, Lincoln M.S. Diagnóstico Diferencial em Pediatria. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2008. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Hipoglicemia no Período Neonatal. 2015. Acessado em: [17/08/2016]. FREIRE, LINCOLN M.S. Diagnóstico diferencial em pediatria. 1ª. ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2008. JOSEPH E.RAINE, MALCOLM D.C.DONALDSON, JOHN W.GREGORY, MARTIN O. SAVAGE, RAYMOND L. HINTZ. Endocrinologia e Diabetes em Pediatria. PublishedbyBlackwellpublishingLtda, ed. Revinter, 2º edição, pag 50-61; 2010. MONTE O, LONGUINI CA, CALLIARI LE. Endocrinologia para o pediatra. Ed. Atheneu, SP. 2a ed. p. 291-300, 1998. NELSON. Tratado de pediatria. /Robert M. Kligman.[et al.]; [tradução de Silvia Mariângela Spada]. Rio de janeiro; Elsevier, p. 517-531; 2014. OSMAR MONTE, CARLOS A. LONGUI, LUIS EDUARDO CALLIARI, CRISTIANE KOCHI. Endocrinologia para o Pediatra. 3º ed. Ed. Atheneu. São Paulo. 2006 45 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO I - DESIDRATAÇÃO: É o resultado de um baixo aporte ou de perdas excessivas de fluidos. Pode ocorrer por: Aporte reduzido: - anorexia, coma, restrição hídrica. Aumento de perdas: - Gastrointestinais: vômitos, diarreia, fístulas ou drenagem enterocutânea. - Renais: diurese osmótica, utilização de diuréticos, insuficiência adrenal, diabetes insípidas etc. ESTADO DE HIDRATAÇÃO Sinais Clínicos Não desidratado Desidratado Desidratação grave 1. Elasticidade da pele Normal Diminuído Muito Diminuído 2. Tutor de subcultâneo = sinal de prega Normal = Ausente Diminuído = Desaparece lentamente Muito diminuído = desaparece muito lento 3. Mucosas Úmidas Secas Muito Secas 4. Olhos Normais Fundos Muito fundos 5. Lágrimas Normais Ausentes Ausentes 6. Fontanela Normal Deprimida Muito deprimida 7. Pulsos Cheios Finos Impalpáveis 8. Diurese Normal Oligúria Oligoanúria 9. Sensório Alerta Agitado, irritado, com sede. Deprimido Comatoso 10. Enchimento capilar < 3 segundos De 3 a 8 segundos > 8 segundos3 DISTÚRBIOS HIDROELETROLÍTICOS Lia Cavalcanti de Albuquerque 46 Rotinas Pediatria Geral TERAPÊUTICA: TIPO DE INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA INDICAÇÃO/DURAÇÃO/FREQUÊNCIA Diarreia aguda sem desidratação PLANO A Hidratação Oral: água e líquidos habituais e mais o SRO da OMS,após cada evacuação diarreia, intercalado com outros líquidos por via oral, como leite materno, água, chás ou suco de frutas coado Alimentação: dieta para idade (não suspender a dieta) Diarreia com desidratação leve ou moderada PLANO B Terapia de Reidratação Oral (TRO): Em pequenos volumes mas com grande frequência, se houver vômitos, e com livre demanda, se não estiver vomitando, até o desaparecimento dos sinais de desidratação (cerca de 40 a 60 ml/kg em 4 horas). Se em aletamento, intercalar o seio materno com o SRO. Avaliar a eficácia da TRO pela % de retenção de hora em hora = (Ganho de peso/Volume ingerido) x 100. Se retenção hídrica maior ou igual a 20% continuar TRO. Se retenção hídrica menor que 20% na primeira hora, observar por mais urna hora. Se retenção hídrica permanecer menor que 20% após 2 horas: TRO por SNG ou hidratação venosa. Hidratação parenteral: - Indicações:vômitos persistentes; retenção da TRD < 20%; distensão abdominal intensa; crise convulsiva e nível de consciência rebaixado. PLANO C Pesar a criança sem roupas. 1. Avaliar a glicemia através de Dextrostix (Dx). > Se Dx <50 fazer flush de glicose (glicose a 25% 0,5 a 1g/kg-em bolus); colher glicemia para confirmar a hipoglicemia e instalar fase de expansão, conforme o fluxograma a seguir: * 47 Rotinas de Pediatria Geral II - DISTÚRBIOS ELETROLÍTICOS 1. DISTÚRBIOS DO SÓDIO 1.1 OSMOLARIDADE: Concentração de solutos em relação ao volume total do solvente. Valor Normal (fluidos corporais) = 285 a 300 mOsm/L. - Cálculo da Osmolaridade plasmática real = 2 x Na + glic/ 18+ ureia /6 - Calculo da Osmolaridade efetiva ou “tonicidade plasmática”= 2 x Na + Glic /18 (Normal 280 -295) PLANO C *FLUXOGRAMA DA EXPANSÃO VOLUMÉTRICA Repetir o DX com 1 hora 48 Rotinas Pediatria Geral HIPONATREMIA (Na sérico<130mEq/l ) Ingestão aumentada de água; Aumento da secreção de hormônioantidiurético; Perda de sódio renal; Perda de sódio extrarrenal. NA+ CORPORAL TOTAL HEMATÓCRITO NA+ URINÁRIO MEQ/L OSMOLARIDADE URINÁRIA URÉIA HIPOVOLÊMICA Extra renal Renal i i hh Normal ou i <10 >20 Hipertonica variavel hh h EUVOLÊMICA Excesso HDA Intoxicação hídrica Normal Normal Normal ou i i ou normal >20 Variável Hipertônica Hipotônica i Normal ou i HIPERVOLEMICA Cirrose, ICC, Insuficiência renal h h Normal Normal ou i <10 >20 Hipertônica Isostenúria h ou Normal hh TRATAMENTO O tratamento tem como objetivo aumentar a osmolaridade sérica e o sódio plasmático para fora da faixa de risco (osmolaridadesérica>=260 mOsm/l e sódio>=120 mEq/l) e a correção dependerá da duração,gravidade e sintomas clínicos encontrados e dos dados laboratoriais. HIPONATREMIA HIPOVOLÊMICA 1) Correção da volemia; 2) Hiponatremia sintomática e sódio sérico <120 mEq/l; Solução de NaCl a 3% em 4 horas numa velocidade máxima de 0,5 mEq/ Kg/h ou 10 ml/Kg/hora dessa solução. 49 Rotinas de Pediatria Geral A quantidade de sódio a ser infundida é estimada pelas formulas: Casos agudos: mEqde Na+ = (130 - Na+ sérico atual) x 0,6 x peso (Kg) Casos crônicos: mEq de Na+ = (120 - Na+ sérico atual) x 0,6 x peso (kg) Elevar o sódiosérico apenas para 120 mEq/l a uma velocidade máxima de 2,5 mEq/Kg/h, nos casos crônicos. Solução de NaCl a 3%: NaCl 20% 15ml + SG5% 85 ml; cada ml = 0,5 mEq/l 3) Sódio sérico>120 e <130 mEq/l Correção pela fórmula: mEqde Na = (130 – Na sérico atual ) x 0,6 x peso (kg) Adicionar no soro das 24 horas seguintes HIPONATREMIA EUVOLÊMICA 1) Tratar a causa básica 2) Restrição hídrica (50 - 70)% necessidades basais) 3) Furosemida 1 mg/Kg/d 1-3 x dia em casos graves de SIHAD ou em presença de intoxicação hídrica 4) NaCl a 3% em pacientes com Na+ sérico <120 mEq/l HIPONATREMIA HIPERVOLÊMICA Restrição de Na+ e água; Tratar a causa básica. HIPERNATREMIA (Na>150 mEq/l e osmolaridade plasmática>325 mOsm/l) CAUSAS Déficit isolado de água; Ingestão ou administração excessiva de sódio; Déficit relativo de água em relação ao sódio. 50 Rotinas Pediatria Geral EUVOLÊMICA HIPOVOLÊMICAS PERDA DE ÁGUA HIPOVOLÊMICAS PERDA DE ÁGUA E SÓDIO Na+ corpóreo total normal Na`+ corpóreo total normal N+ corpóreo total baixo Hipernatremia essencial Diabetes insipidus central Diabetes insípidus nefrogênico Diabetes mellitus Hipodpsia/adpsia Aumento das perdas insensíveis Uropatia obstrutiva Diarreia Diuréticos osmóticos Perdas para o terceiro espaço TRATAMENTO 1) Tratar a causa básica; 2) Se sódio sérico< 170 mEq/l: hidratação de manutenção e reposição para cobrir as pernas extraordinárias, fazer correção em 48 a 96 horas; 3) Se sódio sérico > 170 mEq/l: repor o déficit de agua livre com soro glicosado a 5% 4 ml/kg para cada mEq/l que se quer baixar na concentração de sódio sérico. Devendo ser diluído no soro e ser oferecido nas primeiras 48 horas: - A queda da natremia deverá ser numa velocidade máxima de 0,5 meq/l/h; - A concentração mínima de sódio na hidratação venosa 20 - 30 meq/l de SG 5%. 4) Furosemida 1 mg/Kg /dose se a função renal é normal. 5) Se há suspeita de edema cerebral: - Com euvolemia ou hipovolemia: Manitol 0,25 - 0,5 g/Kg /dose EV rápido de 2/2 horas; - Com hipervolemia: dialise peritoneal. FORMULA DE ADROGUÉ – MADIAS Esta fórmula é um meio mais eficaz e seguro de se corrigir distúrbio do 51 Rotinas de Pediatria Geral sódio em pacientes com sintomas, determinando boa reprodutibilidade e capacidade de predizer o Na sérico medido ao final da infusão. Delta Na+ = Na+ infusão** – Na+ sérico/água corporal total* + 1 Delta Na+ = mudança esperada no Na+ a cada litro de solução infundida (*) Agua corporal = Peso x 0,6 (**) Na+ infusão = concentração de sódio em mEq por litro da solução escolhida - NaCl a 3% = 513 mEq/l de Na+ - NaCl a 0,9% = 154 mEq/l de Na+ - NaCl a 0,45% = 77 mEq/l de Na+ 2. DISTÚRBIOS DO POTÁSSIO HIPOCALEMIA (K plasmático < 3,5 mEq/l) CAUSAS: Diminuição da ingesta, Perdas excessivas, Entrada de K no espaço intracelular. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Sonolência,irritabilidade, confusão mental; Fraqueza muscular, diminuiçãodos reflexos profundos, parestesias; Náuseas, vômitos; Abdome distendido, ruídoshidroaéreosdiminuídos. ALTERAÇÕES DO ECG Diminuição, achatamento e inversão da onda T; Aumento da amplitude da onda U, prolongamento do seguimento QU; 52 Rotinas Pediatria Geral Depressão do segmento ST; Aumento da amplitude da onda P e prolongamento do espaço PR; Alargamento do complexo QRS; Arritmias. TRATAMENTO: Se ECG sem alteração: - KCL 6% xarope 5 mEq/Kg / dia (5 ml = 4 mEq) , via oral; - Se paciente em hidratação venosa corrigir no soro. Concentração de K entre 20 - 40 mEq/l. Se ECG alterado: - KCL 0,5 mEq/Kg/h , durante 4 horas em concentração máxima de 80 meq/l. HIPERCALEMIA (K plasmático > = 5,5 mEq/l) CAUSAS Acidemia, hipertonicidade; Necrose celular, hipoaldosteronismo, diabetes mellitus; Ingesta aumentada,diminuição da excreção renal, drogas (digitálicos, betabloqueadores, captopril, aldactone). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Hiperreflexia e parestesia em virtude das alterações na atividade elétrica das membranas celulares. ALTERAÇÕES DO ECG K entre 6,5 e 7 meq/l: - Ondas T estreitas e apiculadas, encurtamentodo intervalo QT; K entre 7 - 8 mEq/l - Alargamento do Complexo QRS e diminuição de amplitude com alargamento e eventual desaparecimento da onda P; 53 Rotinas de Pediatria Geral K > 8 mEq/l - Fusão do QRS com a onda T seguindo – se de fibrilação ventricular e assistolia. TRATAMENTO K sérico entre 5,5 e 6,5 mEq/l ECG normal: restrição ou suspensão de K; ECG alterado: resina de troca; - Sorcal 0,5 - 1 g/Kg VO (diluir 1 pacote 30 g em 60 ml AD, 1 ml = 0,5 g ) de 6/6 horas - Kayexalate 0,5 – 1 g/Kg, VO ou VRde 4 - 6 vezes Resina de troca. K sérico entre 6,5 e 7,5 mEq/l Resina de troca; Solução polarizante; Glicose 0,5 – 1 g de glicose/Kg; Insulina simples: 1 U para cada 4 a 5 g de glicose utilizada; infundir em 30 minutos. K sérico acima de 7,5 mEq/ L Gluconato de Cálcio a 10%: 0,5 – 1 mg/Kg EV; em 5 minutos; Tem efeito transitório e não altera a concentração sérica do K, pois tem antagonismo químico na membrana. E todas as medidas anteriores Monitorar ECG e FC em casos graves as medidas acima citadas são paliativas e está indicado dialise peritoneal. 54 Rotinas Pediatria Geral 3. DISTÚRBIOS DO CÁLCIO HIPOCALCEMIA (Ca++ total < 9,0 mg/dl) CAUSAS Hipoparatireoidismo; Deficiência de Vitamina D; Sepse, pancreatite; Pós-transfusão passiva; Uso de corticoides, diurético, beta-adrenérgico; Hipomagnesemia; Pós-correção de acidose. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Irritabilidade, hipertonia muscular, hiperreflexia, clônus, tremor fino de extremidades, convulsão,câimbras, apneia ou laringoespasmo com estridor. TRATAMENTO Nos casos sintomáticos e ou quando a dosagem laboratorial for < que 7,0 mg/dl Se crise convulsiva:fazer 100 - 200 mg/Kg diluído EV, velocidade 0,5 ml/Kg/min com monitorização cardíaca. Deve ser suspensa temporariamente se FC < 80 BPM. Sem convulsão: fazer 400 - 500 mg/Kg/24 h Apresentação: Gluconato de Cálcio 10% (1 ml=100 mg) Observação: Nos casos de pacientes com hipoalbuminemia, calcular Ca++ corrigido, acrescentar 0,75 ao valor encontrado, para cada grama de albumina inferior a 3,5. 55 Rotinas de Pediatria Geral HIPERCALCEMIA (Ca++ total > 11 mg/dl) CAUSAS Hipercalcemia da malignidade; Hiperparatireoidismo primário; Hipercalcemia por uso de diuréticos tiazídicos; Intoxicação por Vitamina A ou D; Ingesta excessiva de cálcio; Intoxicação por lítio; Doenças granulomatosas; Hipertireoidismo ou hipotireoidismo; Imobilização; Insuficiência de suprarrenal; Hiperproteinemia; Pós-transplante ou hemodiálise; Hipercalcemia familiar. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Letargia, hipotonia, hiporreflexia, recusa alimentar, vômitos, coma, convulsões. TRATAMENTO Com sintomas e cálcio sérico>12 mg/dl Eliminar a causa básica; Furosemida 1 – 2 mg/kg/dose de 4/4 h + hidratação venosa SF0,9% 10 - 20 ml/Kg/h; Repor magnésio; Suplemento de fosfato se tiver depleção; Glicocorticoides, nos casos de hipercalcemia da malignidade; 56 Rotinas Pediatria Geral Restrição de cálciona dieta; Redução de Mobilização de cálcio ósseo: Bisfosfonatos (Pamidronato 60 - 90 mg diluídos em 250 – 500 ml de soro fisiológico), em um período de 4 h; Inibição da reabsorção óssea e estimulara excreção urinária de cálcio (dose 4 - 8 UI /KG via SC ou IM cada 6-8 h); Diálise quando cursa com insuficiênciarenal aguda e a expansão volumétrica não pode ser feita. 4. DISTURBIO DO MAGNESIO HIPOMAGNESSEMIA (Mg < 1,5 mEq/l) CAUSAS: Redução da oferta; Redução da absorção (má absorção, ressecção maciça do intestino delgado); Perdas excessivas (fistula intestinais, diarreia crônica, sucção gástricaprolongada, diuréticos, excesso de vitamina D, insuficiência renal crônica); Pancreatite; Hiperaldosteronismo; Hipoparatireoidismo; Pós operatorio de cirurgia cardíaca; Rabdomiólise; Queimaduras extensas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Tremores, abalos, espasmos musculares, irritabilidade, hipertonia, hiperreflexia e convulsões. 57 Rotinas de Pediatria Geral TRATAMENTO Sulfato de Magnesio a 50% (1 ml = 4mEq); Dose 0,25 a 0,5 mEq/Kg/dia IM ou EV; pode ser repetida a cada 6h se necessário até a normalização sérica ou melhora dos sintomas. HIPERMAGNESEMIA (Mg > 2,8 mg/dl) CAUSAS: Enema de sulfato de magnésio; Medicação VO com magnésio; Insuficiência renal aguda; Intoxicação por lítio; Hipotireoidismo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Hipoatividade, sucção débil, hipotonia, hiporreflexia, apneia e coma. TRATAMENTO: Suspender oferta de magnésio; Hiperidratação + furosemida; Gluconato de cálcio a 10% - dose 100 mg/Kg/ EV; Diálise peritoneal para casos graves ou refratários EXEMPLO: HIDRATAÇÃO DE MANUTENÇÃO: Formula de Holliday e Segar Crianças até 10 Kg: 100 Kcal/Kg/dia; Crianças entre 10 a 20 kg: 1000 Kcal + 50 Kcal/Kg acima de 10; Crianças com mais de 20 Kg: 1500 Kcal + 20 kcal/kg acima de 20. 58 Rotinas Pediatria Geral Para cada 100 kcal são necessários 100 ml de água 3 mEq de sódio 2 mEq de potássio 0,5 mEq de cálcio 5 g de glicose Para pacientes graves e cirúrgicos, não devemos usar soluções hipotônicas. O principal fator que contribui para que ocorra hiponatremia em pacientes internados parece ser o uso de rotina de fluidos hipotônico e o aporte volumétrico excessivo. Exemplo da manutenção com solução isotônica 1) Criança com peso de 10 Kg , Na sérico < 138 mEq/l Cota hídrica 100 ml/Kg -------------- SGF1:1 ------------ 1000 ml KCl 10% 2 mEq/Kg -------------------- KCL10% ----------- 14,9 ml Gluc Ca 10% 100 mg/Kg------------ Glu Ca10% ----------10 ml OBS.: KCL10% (1ml = 1,34 mEq); Gluc Ca 10% (1ml =100mg) 2) Seguindo a mesma criança do exemplo de numero 1 SF 0,9% -------------------- 1000 ml Glicose 50% -------------- 100 ml KCl 10% ---------------------- 14,9 ml Gluc Ca 10% --------------- 10 ml Cálculo da Glicose Glicose 5% Glicose 50% 100 ml ---- 5g 100 ml ------ 50 g 1000 ml ------ X X ---------------- 50 g X= 50 g X=100 ml 59 Rotinas de Pediatria Geral REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ADROGUÉ HJ, MADIAS NE. Hypernatremia. New Engl Med.; 342: 1493- 1499; 2000. ADROGUÉ HJ, MADIAS NE. Hyponatremia. N Engl J Med; 342 (21)1581-9; 2000. AL-SALMAN J, KEMP D, RANDALL D. Hyponatremia. West J Ved; 176 (3)173-6; 2002. BARAFF, J.L. 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Haja vista a concentração de prótons H+ no plasma ser extremamente baixa (da ordem de 40 nmol /L), o valor do pH sanguíneo expressa uma função logarítmica da concentração de prótons H+ circulantes. O pH do plasma é, continuamente, submetido a ajuste refinado e seu valor repercute nas mais diversas reações enzimáticas que ocorrem em nosso organismo. Tal ajuste é resultado da ação de sistemas de tamponamento, bem como de regulação renal e respiratória, que mantem o pH sanguíneo no intervalo de normalidade aceito entre 7,35 - 7,45. Os chamados sistemas-tampão são verdadeiros defensores do organismo contra adição de carga ácida ou básica. Os principais tampões são o bicarbonato, o fosfato e as proteínas, dentre elas a hemoglobina. Em condições fisiológicas, a estabilidade do pH sanguíneo é mantida constante pela excreção renal de ácidos correspondente à carga ácida dada ao organismo, que consiste, principalmente, da oferta de aminoácidos da dieta e dos ácidos oriundos do metabolismo intermediário. 4 DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BÁSICO Lia Cavalcanti de Albuquerque Adriana Rodrigues Façanha Barreto Queiroz 64 Rotinas Pediatria Geral Veja abaixo o exemplo do bicarbonato como tampão: 1) HCO3 - + H+ H2CO3 CO2 + H2O Utilizamos a equação de Henderson-Hasselbalch (usada para descrever a dissociação de um ácido fraco), adequando-a ao sistema bicarbonato-ácido carbônico e temos: 2) pH = pKa + log [HCO3 -] / [ H2CO3] O gás carbônico combinado com a água, como nos mostra a equação 1, forma o ácido carbônico. Entendemos que a concentração de CO2 em uma solução é proporcional à pressão parcial desse gás, considerando a constante de solubilidade do CO2 em condições fisiológicas do plasma a 37°C, o valor do pKa é de 6,1. Dessa forma, reescrevemos a segunda equação: 3) pH = 6.1 + log [HCO3-] / 0.03 x PaCO2 O sistema tampão de bicarbonato-ácido carbônico é considerado o mais eficiente do nosso organismo. Ele consegue promover contínua remoção da carga ácida e formação de composto volátil, facilmente exalado pelos pulmões. Outros sistemas-tampão tem sua capacidade constante, e não são capazes de aliviar a carga ácida rapidamente, o que pode gerar alterações substanciais do pH. O gás carbônico é regulado pelos pulmões, enquanto o bicarbonato tem seu ajuste determinado pelos rins. Dessa forma, entendemos que distúrbios respiratórios primários repercutirão no valor da PCO2, enquanto distúrbios metabólicos refletirão na concentração de bicarbonato sérico. O conceito de acidemia refere-se ao pH< 7,36, enquanto a alcalemia se define como pH > 7,44. A acidose e alcalose nada mais são do que os processos fisiopatológicos associados à acidemia ou à alcalemia, respectivamente. Ao nascimento, o valor normal de pH pode variar entre 7,26 - 7,29, às custas da PCO2 mais aumentada (cerca de 55 mmHg) e de níveis séricos de bicarbonato mais baixos, por volta de 19 meq/L. Existe, ainda, um importante conceito que devemos abordar para completa análise de distúrbios do equilíbrio ácido-base: o ânion gap. Por meio do princípio da eletroneutralidade, entendemos que as cargas 65 Rotinas de Pediatria Geral negativas (ânions) devem se igualar às cargas positivas (cátions) em um determinado meio. O principal cátion extracelular é o sódio (Na+), corresponde a 90% dos cátions mensuráveis. Convencionamos que outros cátions, como potássio, cálcio e magnésio, entram na contabilidade dos 10% de cátions não mensuráveis. No caso dos ânions, os mais importantes são o bicarbonato e o cloro, respondendo por 85% das cargas negativas medidas. Os outros 15% não mensuráveis correspondem a sulfatos, fosfatos e lactato, por exemplo. Dessa forma, temos 5% de diferença entre ânions não mensuráveis e cátions não mensuráveis. Na prática, esse valor corresponde a 8 - 16 meq/L, média de 12 meq/L, que é equivalente ao ânion gap (AG) sérico normal. O cálculo do AG fica assim disposto: AG = Na+ – (HCO3 - + Cl-) Esse conceito será particularmente interessante para abordagem das acidoses metabólicas e seu diagnóstico diferencial. Atenção! Quando lemos o resultado de uma gasometria, devemos estar cientes de que o valor do bicarbonato é medido de forma indireta, isto é, ele é calculado a partir do valor da pressão parcial de gás carbônico e do pH.VALORES NORMAIS DA GASOMETRIA ARTERIAL pH = 7,35 - 7,45 pCO2= 35 - 45 mmHg HCO3 - = 22 - 26 mEq/L BB = 48 mEq/L BE = -3 / + 3 Em pacientes com hipoalbuminemia o ânion gap deve ser corrigido pela albumina pela fórmula: AG corrigido = AG + [2,5 x (4 – albumina sérica)]. Didaticamente, expomos abaixo a relação entre o ânion gap e o déficit calculado de bicarbonato (delta HCO3 -) e sua interpretação. 66 Rotinas Pediatria Geral Fórmula Delta AG/Delta HCO3 - = AG – 10/24 - HCO3 - Se o resultado for: < 1 – acidose metabólica AG normal associada a uma acidose metabólica com AG aumentada; Entre 1 - 2 – acidose metabólica “pura” com AG aumentado; >2 – acidose metabólica com AG aumentado + alcalose respiratória. Na prática, frequentemente encontramos distúrbios em cenários clínicos em que se superpõem alterações metabólicas e respiratórias. É importante tentarmos diferenciar tais situações, pois, em última análise, isso repercutirá nos tratamentos propostos. Nos distúrbios metabólicos, calculamos a pCO2esperada, pois inferimos que haverá tentativa de compensação rápida pelo trato respiratório com “lavagem” de CO2na vigência de acidose metabólica e retenção do gás nos casos de alcalose metabólica. Essa resposta compensatória e limitada do organismo é facilmente entendida se retornarmos à equação 1 e observamos que, por exemplo, no cenário de acidose metabólica, o consumo de gás carbônico – isto é, a sua eliminação pelos alvéolos pulmonares - deslocaria a reação para a direita, havendo, assim, o tamponamento dos ácidos excedentes. PCO2 ESPERADO Acidose Metabólica: PCO2esp= (HCO3- x 1,5) + 8 +/- 2 Alcalose Metabólica: PCO2esp= HCO3- + 15 +/- 2 Conforme já mencionamos acima, de uma forma geral, a compensação respiratória de distúrbios metabólicos é instalada rapidamente, em questão de horas, pois são desencadeadas por quimiorreceptores que atuam no centro respiratório hipotalâmico e determinam alterações concomitantes na frequência respiratória do paciente. O contrário, isto é, quando tratamos da compensação de distúrbios respiratórios pelo organismo, a mesma não ocorre de forma tão rápida, pois requer adaptação renal para o ajuste da reabsorção ou eliminação de 67 Rotinas de Pediatria Geral bicarbonato, o que demora dias para se instalar. Abaixo, esquematizamos os mecanismos de adaptação do organismo em cada tipo de distúrbio, nas situações agudas e crônicas. Lembramos, ainda, que a compensação não é capaz de normalizar o pH. Senão vejamos: DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS Acidose respiratória Aguda: hHCO3 1 mEq/L quando a PCO2h 10 mmHg. (∆bic=0,1 x ∆PCO2) Crônica: hHCO3 4 mEq/L quando a PCO2h 10 mmHg. (∆bic=0,4 x ∆PCO2) Alcalose respiratória: Aguda:iHCO3 2 mEq/L quando a PCO2i 10 mmHg. (∆bic=0,2 x ∆PCO2) Crônica:iHCO3 4 mEq/L quando a PCO2i 10 mmHg. (∆bic=0,4 x ∆PCO2) Acidose metabólica: CONCEITO Queda na concentração do bicarbonato sérico, podendo estar ou não associado à acidemia (pH< 7,36) que é proporcional à hiperventilação compensatória. CAUSAS AG NORMAL Perda de bicarbonato por via renal; Perda de bicarbonato pelo trato gastro intestinal (diarreia, fístulas); Pelo princípio da eletroneutralidade, o bicarbonato é eliminado junto com um cátion – em geral, o sódio. A perda concomitante de sódio justifica a manutenção do AG normal. 68 Rotinas Pediatria Geral AG AUMENTADO Acidose lática;Sepse; Insuficiência Renal e Uremia; Cetoacidose diabética; Rabdomiólise e toxinas (p.ex.: intoxicação por AAS, álcool, etilenoglicol); Medicações (p.ex.: metformina, ferro, isoniazida); Ocorre acúmulo de ácidos e tamponamento com bicarbonato sem alteração das concentrações de sódio e cloro, o que promove aumente do AG. ATENÇÃO! A análise de uma gasometria deve ser realizada o mais rapidamente possível em seguida à coleta, pois há consumo de bicarbonato e queda do pH da amostra pela atividade metabólica dos elementos do sangue. TRATAMENTO Correção da causa básica – p.ex: hidratação agressiva em paciente em choque hipovolêmico, evitar soluções de reidratação que contenham lactato; Infusão de bicarbonato, se [pH< 7,1 – 7,2; HCO3 < 10 mEq/L] ; Fórmula: Bic necessário = (15 – Bic encontrado) x peso (Kg) x 0,3; Infundir aproximadamente em 2 horas com solução isosmolar. Observações: 1 – Ao corrigir, o intuito não é a correção completa do distúrbio, mas a remoção do paciente da faixa crítica; a própria correção tem seu papel muito controverso pela literatura atual; devemos, portanto, analisar o caso com muita cautela antes de decidir pela correção; 2 – Durante a infusão de bicarbonato é importante que haja ventilação alveolar adequada (espontânea ou artificial), pois o bicarbonato será convertido em CO2; 69 Rotinas de Pediatria Geral 3 – Ao corrigir a acidose metabólica devemos ter cuidado com: hipocalce- mia, correção rápida de hiponatremia crônica com desmielinização osmó- tica, sobrecarga cardiovascular, acidose cerebral paradoxal, hipocalemia e edema agudo do pulmão; 4 – Nas acidoses metabólicas de AG normal, devemos, sim, repor as per- das de bicarbonato do paciente. É o caso, por exemplo, das acidoses tubu- lares renais, em que a reposição de álcali faz parte do tratamento. Alcalose metabólica CONCEITO Elevação primária do bicarbonato plasmático com aumento do pH sanguíneo (pH > 7,44). Atentar para níveis mais baixos de bicarbonato aceitos para neonatos e lactentes. CAUSAS 1 – Administração exógena de alcali; - Administração de elevada quantidade de HCO3-; - Hiperalimentação; - Exsanguineotransfusão (o citrato, usado como conservante de hemocomponentes é convertido em bicarbonato pelo metabolismo hepático); - Recuperação de acidoses orgânicas. 2 – Perda de carga ácida: - Vômitos excessivos, como na estenose hipertrófica de piloro; - Presença de sonda nasogástrica em aspiração. 3 – Estados hipervolêmicos - Hiperaldosteronismo primário (p.ex.: tumor produtor de mineralo- corticóide). 70 Rotinas Pediatria Geral - Hiperplasia adrenal congênita; - Uso de corticoide exógeno; - Estenose de artéria renal. 4 – Estados hipovolêmicos: - Diarreia, incluindo casos secundários ao uso de laxativos e a cloridor- reia congênita; - Uso de diuréticos de alça e tiazídico; - Síndromes de Bartter e Gitelman; - Fibrose cística (pseudo-Bartter). DIAGNÓSTICO Cloreto responsivo: (cloreto urinário < 10 mEq/L, Fração de excreção de cloro < 1%) Terapia com bicarbonato; Vômitos ou SNG em aspiração; Diuréticos; Pós-hipercapnia. Cloreto resistente: (cloreto urinário > 10 mEq/L) Hipervolemia Hiperaldosteronismo primário; Síndrome de Cushing Estenose da artéria renal; Insuficiência renal e terapia com substâncias alcalinas. Normo ou Hipovolemia Deficiência de magnésio; Hipopotassemia severa; Sindrome de Bartter ou Gitelman; Uso indevido de diuréticos. 71 Rotinas de Pediatria Geral TRATAMENTO Cloreto Responsivo Reposição hídrica e salina sob a forma de soro fisiológico. Cloreto Resistente Retirar a causa do excesso de mineralocorticoide; Bloquear a atividade mineralocorticoide; - Espironolactona 1-3 mg/Kg/dia 2-4 x dia Corrigir o distúrbio eletrolítico associado (K, Mg) Na síndrome de Bartter - Indometacina (objetivamos a redução da TFG e das perdas renais, é a chamada ”nefrectomia química”): 1-3 mg/Kg/dia, 3-4 x dia - Espironolactona: seu papel no tratamento ainda é controverso e devemos atentar para hipotensão grave nesses pacientes após início dessa medicação - Reposição oral de sódio, cloro e potássio, sempre que possível. Acidose respiratória CONCEITO Distúrbio ácido-básico ocasionado pela retenção deCO2 Aguda: Hipercapnia e acidemia hHCO3 1 mEq/L quando a PCO2h 10 mmHg. Crônica: Hipercapnia sem acidemia hHCO3 4 mEq/L quando a PCO2h10 mmHg CAUSAS Obstrução de vias aéreas superiores Doenças neuromusculares; Depressão do sistema nervoso central; Pneumonias graves; 72 Rotinas Pediatria Geral Edema pulmonar; Alteração da mobilidade pulmonar (hemotórax, pneumotórax); Erro nos ajustes da ventilação mecânica; TRATAMENTO Tratar a causa básica; Se há indicação de intubação: - Clínicas; doenças pulmonares ou extrapulmonares que levem à insuficiência respiratória - Gasométrica PaO2< 50 mmHg com FIO2 > 0,7; PCO2> 60 mmHg com pH < 7,1. Alcalose respiratória CONCEITO Distúrbio Ácido Básico constatado pela eliminação excessiva de CO2 pelos pulmões; Aguda:iHCO3 2 mEq/L quando a PCO2 i 10 mmHg. Crônica:iHCO3 4 mEq/L quando a PCO2 i 10 mmHg. CAUSAS • Estímulo do sistema nervoso central (ansiedade, febre, trauma, drogas, infecções, tumores). • Estímulo do sistema nervoso periférico (ICC, pneumonias, febre, anemia, embolia pulmonar, grandes altitudes); • Insuficiência hepática, sepse, ventilação mecânica. TRATAMENTO • Corrigir os distúrbios de base; • Sedação e analgesia nos casos de dor e ansiedade; 73 Rotinas de Pediatria Geral REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA MBG, Alves CAD, Hélio Queiroz Filho. Avaliação da Acidose Metabólica em Pacientes Graves. RBTI, 18:4:380-384; 2006. BENSON S. Hsu, Saquib A. Lakhani, Michael Wilhelm. Acid-base disorders. Pediatrics in Review, 37 (9) 361-369; 2016. CARLOTTI, APCP, ABORDAGEM CLÍNICA DOS DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE, Simpósio: Emergências Pediátricas, Capítulo IX, Riberão Preto; 2012. CARMODY JB, Norwood VF. A clinical approach to paediatric acid–base disorders. Postgraduate Medical Journal, 88:143-151, 2012. CARMODY JB, Norwood VF. 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Diagnosis of metabolic acid-base disturbances in critically ill patients.Am J RespirCrit Care Med.; 162(6): 2246–2251, 2000. 75 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO O objetivo dessa revisão é rever a abordagem e manejo da criança, previamente hígida, de 3 a 36 meses de idade apresentando febre de início agudo, sem sinais de toxemia, com menos de sete dias de duração. Em crianças de 3 a 36 meses de idade, o diagnóstico de febre é baseado com maior precisão na aferição via retal. É importante lembrar que a história de uma temperatura elevada registrada em casa deve ser considerada equivalente à tomada aferida no ambiente hospitalar. Nas últimas décadas, vários estudos têm sido conduzidos a fim de encontrar a melhor abordagem no manejo desse perfil de pacientes identificando de forma prática os pacientes de baixo e alto risco de ter infecção bacteriana. A principal preocupação do pediatra deve ser identificar os pacientes que podem ou não receber tratamento ambulatorial. REVISANDO CONCEITOS A febre de 39°C ou mais é o limiar acima do qual a avaliação para uma fonte de infecção oculta, incluindo a infecção do trato urinário, pode ser justificada em crianças sem fonte infecciosa óbvia no exame físico. A febre baixa não exclui a possibilidade de infecção bacteriana grave de modo que não se dispensa avaliação cuidadosa de todos os achados clínicos. FONTES DE INFECÇÃO A maioria das crianças com febre tem uma infecção viral em geral autolimitada ou uma fonte reconhecível de infecção bacteriana. Estudos apontam que em alguns casos de bacteremia, inicialmente oculta, posteriormente as crianças desenvolveram infecções bacterianas graves, como pneumonia, 5 FEBRE SEM SINAIS DE LOCALIZAÇÃO Gabriela Maia Mota 76 Rotinas Pediatria Geral artrite séptica, celulite periorbitária e meningite. A introdução de vacinas contra a Hib e a doença pneumocócica reduziu drasticamente a incidência de bacteremia oculta. O estado de imunização da criança determina a abordagem, de maneira que alguns especialistas consideram que duas doses de PCV7 ou PCV13 seriam suficientes para prevenir infecção invasiva por S. pneumoniae e Hib. Importante lembrar outrasetiologias não infecciosas para febre, incluindo febre devido uso de drogas, reações de imunização, desregulação do sistema nervoso central, neoplasias e condições inflamatórias crônicas. Embora os cuidadores às vezes possam atribuir febre à dentição, febre > 38,5°C é improvável que seja causada por dentição. A maioria das crianças com febre e pneumonia tem alguma anormalidade no exame físico: geralmente taquipnéia, ausculta anormal, baixa oximetria de pulso, retrações ou batimento de asa nasal, sugerindo doença do trato respiratório. A associação de leucocitose importante com pneumonia permanece forte, mesmo na era da vacina pneumocócica. O trato urinário é o local mais comum de infecção bacteriana entre crianças de uma forma geral. A prevalência de infecção do trato urinário (ITU) nesses relatos foi significativamente influenciada por fatores demográficos, como sexo, idade, raça e estado de circuncisão. A ITU é mais frequente entre as meninas após os primeiros 3 a 6 meses de vida e justifica urinálise e urinocultura em todas as meninas com idade entre 3 e 24 meses com febre ≥ 39°C, sem sinais de localização. Entre os meninos, a incidência de ITU aumenta nos bebês não circuncidados com febre, sendo a maior incidência em crianças menores de 3 meses de idade. Infecção bacteriana invasiva É considerada quando a evidência de cultura bacteriana positiva em líquor ou sangue.S. Epidermidis, propionibacterium acnes, S. Viridans ou Diphteroides são considerados contaminantes. 77 Rotinas de Pediatria Geral Bacteremia oculta Os patógenos predominantes no contexto de bacteremia oculta são S. pneumoniae (80%) e Hib (20%). Neisseria meningitidis e outros patógenos (S. aureus, GABHS, GBS, espécies de Salmonella, E. coli) representam um pequeno número de casos. Preditores - Fatores associados a um aumento do risco de bacteremia oculta em crianças não imunizadas. Idade 3 a 36 meses Febre ≥ 39°C CMB ≥ 15.000 / microL A história completa deve incluir informações sobre o status funcional da criança, incluindo ingestão oral, presença de irritabilidade ou letargia e sintomas associados. Além disso, o histórico de imunização influenciará grandemente a avaliação subsequente, uma vez que a criança que está incompletamente imunizada está em maior risco de bacteremia oculta do que a que está completamente imunizada. AVALIAÇÃO INICIAL A avaliação inicial deve ponderar o custo benefício da realização de exames invasivos assim como os efeitos adversos da adoção de terapêutica antimicrobiana empírica e risco de resistência a antibióticos. Essa abordagem dependerá do estado geral da criança. CRIANÇAS COM SINAIS DE TOXEMIA Crianças previamente hígidas com estado geral grave e sinais de instabilidade devem ser amplamente investigadas. − Coletar Culturas de sangue, urina e LCR (se sinais de meningite) − Se taquipnéiae leucocitose > 20000 devem realizar RXtórax − Proceder a internamento hospitalar e iniciar antibiótico parenteral empírico com espectro para S. pneumoniae, S. aureus, incluindo os MRSA, N. meningitidis, H. influenzae b. 78 Rotinas Pediatria Geral CRIANÇAS COM BOM ESTADO GERAL – IMUNIZAÇÃO INCOMPLETA Crianças com bom estado geral não exigem punção lombar. O LCR deve ser obtido somente na suspeita de meningite. Estratégias para a avaliação dessas crianças: Coletarhemograma completo; A coleta de hemocultura deve necessariamente ser obtida se o WBC for ≥ 15.000 / µL. (A critério médico considerar SEMPRE coletar a hemocultura independente do leucograma) Sumário de urina e urinocultura devem ser coletados por cateterização ou em casos excepcionais por punção suprapúbica para meninas com menos de 24 meses de idade, rapazes não circuncisados menores do que 12 meses e meninos circuncisados <6 meses. Radiografia de tórax em crianças com WBC ≥ 20.000 / microL. Crianças com sumário de urina anormal devem ser tratadas para infecção do trato urinário. Recomenda-se que crianças previamente saudáveis com febre sem sinais de localização que estejam incompletamente imunizadas e que tenham um WBC ≥ 15.000 / microL recebam antibioticoterapia parenteral. ANTIBIOTICOTERAPIA PARENTERAL A ceftriaxona (50 mg/kg, por via intramuscular dose única) A clindamicina (10 mg/kg, endovenosa) seguida de clindamicina oral oito horas mais tarde) é uma alternativa para os doentes alérgicos a cefalosporinas. O acompanhamento ambulatorial deve ocorrer dentro de 24 horas. Esta estratégia de tratamento seletivo de crianças de alto risco com febre sem sinais de localização e WBC ≥ 15.000 / microL está de acordo com as diretrizes de prática da Academia Americana de Pediatria e do Colégio Americano de Emergência Médicos. 79 Rotinas de Pediatria Geral SEGUIMENTO O acompanhamento deve ser programado em 24 horas para as crianças incompletamente imunizadas com febre sem sinais de localização que tenham recebido antibióticos parenterais. Todos os pacientes que não são tratados com antibióticos devem ser instruídos a procurar atendimento médico em 48 horas se mantiverem febre persistente. Os regimes de antibióticos devem fornecer cobertura para S. pneumoniae resistente. ANTIBIOTICOTERAPIA ORAL Amoxicilina (30 mg/kg por dose, três vezes por dia, dose máxima de 3 g por dia) Amoxicilina-clavulanato (45 mg/kg por dose duas vezes ao dia (dose máxima de amoxicilina: 3 g por dia) Clindamicina 10 mg/kg por dose, três vezes por dia, em doentes com alergia à penicilina. A terapia antibiótica deve ser mantida até o resultado da cultura. Nos casos em que hemocultura isole algum microorganismo, contudo criança evolua bem e afebril, esse resultado pode ser considerado como contaminação, de modo que o paciente pode manter seguimento sem antibiótico. As crianças que não estão bem no seguimento ou continuam a ter febre devem ser reavaliadas e a hipótese de que a hemocultura positiva representa um contaminante deve ser reavaliada. ABORDAGEM STEP-BY-STEP Desde que os critérios clássicos de Rochester, Filadélfia e Boston foram publicados, o manejo especialmente das crianças abaixo de três meses com febre evoluiu, uma vez que a adesão na prática clínica a esses algoritmos sempre foi baixa haja vista condutas muitas vezes agressivas recomendadas por essas classificações, que não individualizam a criança. 80 Rotinas Pediatria Geral O “step by step” - passo a passo- é um novo algoritmo desenvolvido por um grupo europeu de médicos que foi validado e publicado em janeiro/17, o qual propõe uma forma prática e segura de gerenciar com segurança tais pacientes. Essa abordagem avalia sequencialmente o estado geral do paciente, idade, sumário de urina, PCR, PCT e contagem absoluta de neutrófilos. Pacientes com menos de 21 dias de vida são considerados de alto risco de acordo com esse algoritmo. Importante destacar que independente do critério a ser utilizado, lactentes com idade inferior a 28 dias de vida devem ser mais agressivamente controlados. STEP BY STEP Fonte: Reproduzido/traduzido: Gomez, B., Bressan, S, et al; Validation of the “Step by Step” Aprouch in the Management of young febrile infants. Pediatrics. 2016 138 (2): e20154381. 81 Rotinas de Pediatria Geral FEBRE EM MENINOS DE 3 - 24 MESES COM SUSPEITA DE ITU Fonte: Reproduzido/traduzido: Shaikh N, Morone NE, Lopez L, et al. Does child have a urinary tract infection? JAMA 2008; 298: 2895. 82 Rotinas Pediatria Geral SEGUIMENTO DE CULTURAS EM CRIANÇAS DE 3 - 36 MESES Fonte: 2017 Uptodate, Inc. All rights reserved 83 Rotinas de Pediatria Geral REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AVNER JR, BAKER MD. Occult bacteremia in the post-pneumococcal conjugate vaccine era: does the blood culture stop here? AcadEmergMed; 16:258, 2009. BACHUR R, PERRY H, HARPER MB. 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ArchDisChild.; 92: 266, 2007.85 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO Adenomegalia é um achado comum na prática pediátrica, definida como aumento de volume ou alteração de um linfonodo ou cadeia de linfonodos. Os linfonodos no corpo humano guardam relação direta com a idade, observando-se no lactente epré-escolar um crescimento que diminui com a puberdade. Nas cadeias ganglionares, os linfonodos considerados normais são móveis. Os linfonodos anormais podem se fixar aos tecidos adjacentes ouaderemum ao outro (coalescendo). Em 80% dos casos nas crianças são consideradosbenignos. Nos recém- nascidos sadios somente um terço apresentam linfonodos palpáveis. Nos lactentes são mais comuns na região cervical. Dois mecanismos levam ao aumento das cadeias ganglionares: Proliferação de linfócitos e histiócitos próprios dos linfonodos, onde a causa mais frequente é a estimulação antigênica. Infiltração por células extrínsecas como ocorre nas linfadenites, tumores metastáticos, leucemias, HIV, tuberculose (Tb), e doenças autoimunes. O aumento dos linfonodos pode também ser uma resposta transitória do sistema imunológico a uma infecção benigna local originada geralmente do trato respiratório superior e pele. 6 ADENOMEGALIAS Célia Maria Barbosa Elias Monteiro Rosenilde do Nascimento Silva 86 Rotinas Pediatria Geral CAUSAS As causas de linfadenomegalia são infecciosas e não infecciosas. A linfadenite cervical em crianças é geralmente causada por um processo infeccioso, podendo ser agrupada em 4 grandes categorias: Linfadenite cervical aguda unilateral Linfadenite cervical aguda bilateral (forma mais comum) Linfadenite cervical subaguda unilateral Linfadenite cervical bilateral crônica ONDE: Linfadenite aguda – É aquela com duração de até duas semanas. Linfadenite crônica – É aquela que persiste por mais de 6 a 8 semanas sem regredir o tamanho donódulo. Linfadenite cervical aguda unilateral É menos frequente, e é geralmente causada por bactérias como estafilococos aureus, estreptococos do grupo “A”, e em lactente jovem S. agalactia e estreptococo do grupo “B”. De 40% a 89% das linfadenites cervicais unilaterais são causadas por S.aureus. De 70% a 80% ocorre em crianças com menos de 5 anos. As bactérias anaeróbias acometem crianças mais velhas devido a infecção periodontal. Linfadenite cervical aguda bilateral A causa mais frequente é a infecção viral de vias aéreas superiores. Gengivoestomatite herpética, vírus do Epstein Bar (EBV) o qual também pode causar linfadenite generalizada. Linfadenite cervical bilateral crônica É mais comumente causada pelos vírus EBV, citomegalovírus, vírus da imunodeficiência humana (HIV), tuberculose, toxoplasmose e sífilis. Na mononucleose infecciosa observa-se inicialmente, de 2 a 5 dias, cefaleia, mal estar, adinamia, vômitos e mialgia. As causas não infecciosas são menos frequentes, devendo ser considerado diagnóstico diferencialconforme listado no quadro 2. 87 Rotinas de Pediatria Geral QUADRO 1. Causas infecciosas de linfadenopatia em crianças INFECÇÕES CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS QUE PODEM ESTAR PRESENTES Viral Epstein-barr Faringoamigdalite, esplenomegalia (>50%, febre, mal estar, fadiga; edema periorbital) Citomegalovírus Febre, mal estar, fadiga e ocasionalmente hepatoesplenomegalia. Herpes simples Vesículas agrupadas; gengivoestomatite. Varicela zoster Erupção cutânea generalizada em diferentes estágios Adenovírus Sintomas do trato respiratório, faringite, conjuntivite Rubéola Febre e erupção cutânea; pode ser assintomática. Hepatite B Comportamento sexual de risco, exposição a derivados de sangue. HIV Infecções bacterianas recorrentes, infecções oportunistas, febre, diarreia, encefalopatia e hepatoesplenomegalia. Fúngicas Coccidioidomicose Pneumonia e viagem ou residência em área endêmica Blastomicose Pneumonia e viagem ou residência em área endêmica Histoplasmose Pneumonia e viagem ou residência em área endêmica Bacterianas Estreptococo do grupo A Erupção cutânea seguida de descamação Brucelose Febre, sudorese, mal estar, fadiga, perda de peso, ingestão de leite não pasteurizado, exposição à gado, ovelha ou cabras Tularemia Febre, calafrios, cefaleia; ingestão de carnes mal cozidas, exposição à coelhos, roedores, picada de insetos Leptospirose Febre, calafrios, mialgia, dor na panturrilha, cefaléia, erupção cutânea, hepatoesplenomegalia. Espiroquetas Síflis Erupção cutânea, febre, mal estar, anorexia, perda de peso e hepatomegalia. Doença de Lyme Eritema migratório, febre, cefaleia, mialgia, artralgia, mal-estar. Parasitas Toxoplasmose A maioria das infecções é assintomática em imunocompetentes; mialgia, fadiga, febre, esplenomegalia e erupção cutânea podem estar presentes; exposição a gatos. Leishmaniose Lesões cutâneas, hepatoesplenomegalia, febre, caquexia e exposição ao flebótomo, contato com cão doente Malária Febre, viagem ou residência em área endêmica. 88 Rotinas Pediatria Geral Fonte: Retirado de: Malley R. Lymphadenopathy. In: Textbook of Pediatric Emergency Medicine, 5th ed, Fleisher GR, Ludwig S, Henretig FM (Eds), Lippincott Williams and Wilkins, Philadelphia 2006. p.421. QUADRO 2. Causas de linfadenopatianão infecciosas emcrianças DOENÇA CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Neoplasias Primárias Linfoma de Hodgkin Geralmente manifestações como linfadenopatia cervical, adenopatia unilateral; distúrbios respiratórios podem ocorrer Linfoma não Hodgkin Adenomegalia difusa de crescimento rápido, dor abdominal, vômitos, adenopatia geralmente bilateral; distúrbios respiratórios podem ocorrer Neoplasia-Metástase Lecemia mielóide ou LLA Presença de sangramentos, hepatoesplenomegalia, anemia, trombocitopenia, linfadenomagalia occiptal proeminente. Neuroblastoma Massa abdominal; opsoclonus-mioclonus, proptoses, equimose periorbital, obstrução nasal, Sd. Horner, nódulos subcutâneos, diarreia secretória. Rabdomiossarcoma Proptses; obstrução nasal, conducto auditivo ou seios da face; Sd. De Horner, hematúria, obstrução das vias urinárias e constipação Imunológicos LES, artrite reumatóide Os pacientes podem ter linfadenopatia generalizada durante a fase aguda da doença Doença do soro Exantema, esplenomegalia, mialgia e artrites Anemia hemolítica autoimune Linfadenopatia concomitante com hemólise Doença granulomatosa crônica Infecções recorrentes, abscessos, adenite supurativa Metabólica Doença de Gaucher Hepatoesplenomegalia, anemia, trombocitopenia, osteopenia Doença de Niemann-Pick Hepatoesplenomegalia, perda das funções neurológicas Drogas Fenitoína, fenobarbital, carbamazepina,penicilina, tetraciclina,iodo,sulfonamidas alupurunol,e fenilbutazona Exantema maculopapular severo, febre, hepaatoesplenomegalia, icterícia, anemia, leucopenia, plasmocitose ocorre durante ou depois da linfadenopatia 89 Rotinas de Pediatria Geral Outras causas Sarcoidose Doença granulomatosa multissistêmica; linfadenopatia generalizada com envolvimento principalmente cervical Linfohistiocitose hemofagocítica Febre, hepatoesplenomegalia, sintomas neurológicos e exantema Doença de Castleman Febre, hepatoesplenomegalia, hipergamaglobulinemia policlonal Histiocitose de Langerhans Exantema tipo pápulas púrpuricas, lesão mucosa oral, lesões óssea líticas, proptose, diabetes insípidus Doença Kikuchi-Fujimoto Adenopatia cervical e supraclavicular, febre, fadiga, perda de peso, anemia e leucopenia Doença Rosai-Dorfman (histiocitose do seio com linfadenopatia volumosa) Linfadenopatia supraclavicular bilateral, outros grupos de nódulos podem estar envolvidos, febre, anemia, leucocitose, VHS elevada e hipergamaglobulinemia Hipertireoidismo Taquicardia, hipertensão, perda de peso,bócio, hiperreflexia, sudorese excessiva Sd. Gianotti-Crosti (Acrodermatite papular) Exantema na face, nas nádegas, pernas, palmas e plantas dos pés, e hepatomegalia Transformação progressiva de centros germinativos Encontrado em 10% dos nódulos com hiperplasia reativa, algumas vezes associado com pior prognóstico de linfoma de Hodgkin e raramente antes do diagnóstico de linfoma de Hodgkin Fonte: MCCLAIN, K. L. Linfadenite periférica em crianças: abrodagem da evolução e diagnóstico. DIAGNÓSTICO A abordagem de linfadenopatia na criança ocorre num de período de quatro semanas. Deve-se avaliar a urgência de iniciar a investigação, baseada nas características clínicas do paciente: Sem características preocupantes - Avaliar clinicamente a criança e tratar as patologias compatíveis com a idade. - Caso permaneça a indefinição do diagnóstico após as condutas iniciais, classificar se alinfadenopatia é generalizada ou localizada. Iniciar antibioticoterapia por duas semanas ou observar a evolução por três semanas. 90 Rotinas Pediatria Geral - Permanecendo sem definição diagnóstica, após a etapa anterior, investigar as causas menos comuns para iniciar o tratamento específico (exemplo tuberculose). - Após quatro semanas de observação e/ou terapia empírica e não houver regressão do linfonodo, há indicação de biópsia. Com características preocupantes - Sintomas sistêmicos (febre > 1 semana, suores noturnos, perda de peso > 10% do peso corporal). - Nódulos supraclaviculares (cervical inferior) - Linfadenopatia generalizada - Nódulo fixo na ausência de outros sintomas sistêmicos - Linfonodo>1 cm com início no período neonatal (< 1 mês de idade) - Gânglios linfáticos >2 cm de diâmetro que aumentaram de tamanho a partir da linha de base e não responderam a duas semanas de terapia com antibióticos. - Radiografia (RX) de tóraxanormal, presença de massa mediastinal ou adenopatia hilar. - Contagem de leucócitos e diferencial anormais. Considerar a associação do número de leucócitos com VHS e PCR. - Falta de sintomas infecciosos nas regiões da orelha, nariz e garganta. - VHS e PCR se mantêm elevados apesar da antibioticoterapia. 91 Rotinas de Pediatria Geral ANAMNESE Colher uma história detalhada, pontuando o início dos sintomas, localização e duração. Detalhar os aspectos do crescimento do nódulo, sintomas locais ou sistêmicos. Ainda na história, saber a ocupação dos pais, uso de drogas, transfusões de sangue, contato com animais, história anterior de doenças infecto-contagiosas como rubéola, Tb, mononucleose infecciosa, antecedentes vacinais como BCG, tríplice, sarampo e rubéola. Após imunização com vacina tríplice (3 a 4 dias) podemos observar adenopatia cervical, assim como após BCG, o aumento ganglionarda cadeia cervical, supraclavicular direita e axilar. EXAME FÍSICO É importante avaliar o estado geral do paciente, observar sinais de doença localizada ou sistêmica, ou presença de infecção. LOCALIZAÇÃO Adenopatia generalizada é definida comoo aumento de duas cadeias linfáticas não contíguas, e é geralmente achado de uma doença sistêmica, já a adenopatia regional é o aumento de um linfonodo ou grupo de linfonodos que drena de uma única região anatômica resultando de uma infecção do linfonodo, porém um único nódulo pode ser manifestação de doença maligna, como no o quadro 1. Considerar nas adenopatias as localizações de alto risco: supraclaviculares, cervicais anteriores e epitrocleares; com indicação de avaliação laboratorial mais detalhada incluindo biópsia, considerando que 50 a 80% dos gânglios biopsiados nessas regiões revelam malignidade. Faz-se necessário um estudo mais detalhado dosquadros mais persistentes e ou generalizados. 92 Rotinas Pediatria Geral � - � � – - � � � � � - - Tamanho do nódulo O tamanho do nódulo depende da localização e da idade da criança. Nos recém- nascidos (<1mês de idade), os gânglios considerados normais têm um diâmetro < 1 cm. Em crianças ≥1 mês de idade, os gânglios na maioria das regiões geralmente tem menos de 1 cm no seu diâmetro maior. Os gânglios da região epitroclear normalmente têm menos de 0,5 cm de diâmetro e os gânglios da região inguinal têm normalmente menos de 1,5 cm de diâmetro. Nódulos linfáticos tendem a serem maiores na infância Tamanho do nódulo O tamanho do nódulo depende da localização e da idade da criança. Nos recém-nascidos (<1mês de idade), os gânglios considerados normais têm um diâmetro < 1 cm. Em crianças ≥1 mês de idade, os gânglios na maioria das regiões geralmente tem menos de 1 cm no seu diâmetro maior. Os gânglios da região epitroclear normalmente têm menos de 0,5 cm de diâmetro e os gânglios da região inguinal têm normalmentemenos de 1,5 cm de diâmetro. Nódulos linfáticos tendem a serem maiores na infância (idades 2 a 10 anos) do que mais tarde na vida. Linfonodos cervicais e inguinais até 2 cm são normais até os 2 anos de idade. 93 Rotinas de Pediatria Geral Consistência – pode sugerir a sua etiologia: Nódulos flutuantes geralmente indicam infecção dentro do nódulo (bactéria). Se ocorrer drenagem espontânea ou fistuliza durante um período de semanas a meses sugere infecção micobactériana. Nódulos fibróticos – são de consistência endurecida devido a uma inflação prévia ou neoplasia. Nódulos elásticos e aderidos sugerem linfoma ou leucemia crônica. Nódulos de crescimento rápido e de consistência amolecida são frequente em processos inflamatórios, sangramento em um nódulo, estimulação imunológica e malignidade. Assim essa consistência amolecida não serve para distinguir entre causas infecciosas enão infecciosas. Indicação de biópsia precoce: Nódulos supraclaviculares Nódulos > 4 cm Nódulos confluentes com diâmetro total > 3 cm Nódulos de localização não habitual de crescimento rápido e progressivo ou de consistência endurecida. Associação com febre persistente, perda de peso, sangramento, anemia e hepatoesplenomegalia são sinais de alerta para neoplasia ou infecções graves. Indicação de biópsia após 4 semanas: Escolher o linfonodo mais anormal (maior tamanho, menor mobilidade, com ou sem reação tecidual e maior consistência). Nódulo ≥ 2cm de diâmetro onde o diagnóstico permanece incerto após quatro semanas e não há resposta à terapêutica. Todos os linfonodos queaumentaram de tamanho Nódulos que não regridem após de tratamento específico ou aumento de tamanho. 94 Rotinas Pediatria Geral AVALIAÇÃO LABORATORIAL DE LINFADENOPATIA EM CRIANÇAS QUADRO 4. Exames laboratoriais de 1a fase Hemograma completo VHS PCR Sorologia para EBV E CMV Sorologia para outras doenças virais baseado nascaracterísticas clínicas Culturas PPD Radiografia (RX) de Tórax Pa e Perfil QUADRO 5. Exames laboratoriais de 2a fase Ultrassonografia Tomografia computadorizada Ressonância magnética Testes sorológicos específicos (HIV, B. Henselae, toxoplasmose, histoplasmose, brucelose, sífilis, coccidiomicose, e outros vírus) FAN Punção do linfonodo – biópsia LDH Mielograma Biópsia óssea Os exames e a terapia com antibióticos serão realizados dependendo da localização, tamanho dos linfonodos e características clínicas associadas. O hemograma fornece subsídio importante para elucidar as hipóteses diagnósticas, por exemplo: Citopenias em mais de uma linhagem celular – Leucemia, linfoma, doença metastática da medula óssea (neuroblastoma), Lúpus eritematoso sistêmico (LES), síndrome linfoproliferativa autoimune; 95 Rotinas de Pediatria Geral Leucopenia ou neutropenia isolada – infecção viral, leucemia; Leucócitos com desvio para esquerda – Infecção bacteriana; Linfócitos atípicos – EBV, CMV, HHV6; Eosinofilia – infestação parasitária; Anemia – LES, M. tuberculose; Trombocitose – D. Kawasaki. RX de tórax – o achado de massa mediastinal pode indicar linfoma ou outra malignidade. Adenopatia hilar pode indicar sarcoidose, tuberculose ou linfoma de Hodgkin. Outros achados no RX também podem ser úteis para identificar a causa da linfadenopatia (infiltrados pulmonares em crianças com coccidiomicose ou histoplasmose). Ultrassonografia do linfonodo pode ser útil para definir a presença e a extensão de um abscesso, caso a flutuação não esteja esclarecida no exame físico. A ultrassonografia abdominal está indicada nas adenopatias inguinais inexplicadas que não apresentam sintomas de infecção. Pode mostrar massas abdominais, adenopatia abdominais associadas a malignidade (Neuroblastoma e linfoma) Condições que podem confundir com linfonodos aumentados Infecção ou nódulo em qualquer das glândulas salivares; Anomalias congênitas: cisto da fenda branquial, higroma cístico, cisto do ducto tireoglosso; Costelas cervicais; Nódulo da tireoide; Edema em região de tecidos moles por trauma ou picada de inseto; Hematoma; 96 Rotinas Pediatria Geral Hérnia inguinal; Hemangioma, linfangioma; Lipoma; Cisto dermoide; Nódulos reumatoides. FLUXOGRAMA1 Fonte: Revista diagnóstico de tratamento 2002; 7 (4): 22-28- Modificado 97 Rotinas de Pediatria Geral FLUXOGRAMA 2 Fonte: Revista- Diagnóstico e tratamento. 2002: 7 (4): 22-28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEHRMAN, R. E., KLIEGMAN, R., JENSON, H. B. Nelson : tratado de pediatria 18a ed. Rio de janeiro: Elsevier. 2009. CARVALHO, S., GOUDIABY, J., TEIXEIRA, F. et al. Adenopatia e predição de malignidade. Acta pediátrica, Portugal, v 33, n. 6, p. 419-23, 2002. FREIRE, L. M.S. Diagnóstico diferencial em pediatria. 1a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 98 Rotinas Pediatria Geral HEALY, C. M. Linfadenite cervical em crianças Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/cervical-lymphadenitis-in- children-diagnostic-approach-and-initial-management?source=search_ r e s u l t & s e a r c h = l i n f a d e n o p a t i a % 2 0 c e r v i c a l % 2 0 e m % 2 0 crianças&selectedTitle=1~150>. Acesso em: 11 jan. 2017. MCCLAIN, K. L. Linfadenite periférica em crianças: abrodagem da evolução e diagnóstico. Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/ peripheral-lymphadenopathy-in-children-evaluation-and-diagnostic- approach?source=search_result&search=linfadenopatia%20em%20 crianças&selectedTitle=1~150>. Acesso em: 11 jan. 2017. MURAHOVSCHI, J. Pediatria- diagnóstico e tratamento. 7a ed. São Paulo: Sarvier 2013. PETRILLI, A. S., VIEIRA,T. C. A. VOLC, S. M., Linfaenomegalia periférica na infância. Revista Diagnóstico e Tratamento, 2002. SUCUPIRA, A. C. S. L. et al. Pediatria em consultório. 5a ed. São Paulo: Sarvier, 2010. 99 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO O fígado e o baço exercem uma série de funções e apresentam particularidades anatômicas e fisiológicas, determinantes para o aumento de seus volumes. Sendo importantes, portanto, como parte ativa em vários estados patológicos na clínica pediátrica. Para revermos as principais etiologias da hepatoesplenomegalia, vamos rever as principais funções do fígado e baço: − O fígado e o baço são sedes importantes de tecido linfóide e reticuloentotelial colaborando na defesa do organismo, depurando microrganismos e antígenos, como na produção de anticorpos e opsoninas. Portanto, em situações de infecções agudas ou crônicas, nos tumores, nas colagenoses e nas doenças de hipersensibilidade eles hipertrofiam. − O baço é responsável pela destruição de elementos circulantes envelhe- cidos ou anormais, devido ainda pela abundância de tecido reticuloendo- telial, aumentando seu tamanho nas anemias hemolíticas e nas reticuloen- doteliose. − Na vida intrauterina, o fígado e baço assumem o papel na hematopoiese. Em situações onde o organismo exige um notável esforço regenerador de sangue, estes órgãos hipertrofiam reassumindo a função de hematopoiese extramedular, como nas anemias hemolítica e nas anemias carenciais graves. − Por suas constituições anatômicas, apresentam abundante e complexa rede vascular, que se ingurgita, aumentando as dimensões dos órgãos, nos distúrbios circulatórios gerais (Insuficiência Cardíaca Congestiva, pericardite) ou locais (síndrome de hipertensão portal). BIOMETRIA Diante de uma criança com esta suspeita, nem sempre um fígado ou baço palpável indica hepatoesplenomegalia, já que várias condições anatômicas 7 HEPATOESPLENOMEGALIA Roseny Marinho Mesquita Pereira 100 Rotinas Pediatria Geral podem deslocá-los, sendo palpáveis, sem demonstrar, verdadeiro aumento, como: peito escavado,rebaixamento do diafragma, ptose hepática, lobos acessórios e alterações em órgãos adjacentes(pneumotórax, derrame pleural, abscessos peri-hepáticos, massas retroperitoneais, cistos, tumores renais). O tamanho destes órgãos na infância acompanham o crescimento geral somático, havendo correlação entre seu tamanho e a idade, o peso, a estatura e a superfície corpórea. A biometria do fígado e do baço deve ser realizada utilizando-se a per- cussão e a palpação na região correspondente a ambos. São consideradas normais a hepatimetria entre 0 e 3,5 cm do rebordo costal direito na linha hemiclavicular para crianças de 0 e 5 meses de idade, entre 0 e 3 cm na faixa de 6 meses aos 4 anos de idade e entre 0 e 2 cm para maiores de 4 anos até 10 anos de idade, No processo de diagnóstico deve-se dar a maior importância à anamnese, aos dados epidemiológicos e à presença de outros sinais e sintomas associados, como febre, malformações, fácies caracterís- tica, deformidades ósseas, convulsões, catarata, adenomegalias, anemia, manifestações hemorrágicas (petéquias, equimoses, hematêmese...), icterí- cia, xantomas, acometimento articular, lesões de pele, , otites recorrentes, ascite, edema de membros inferiores, prurido, atraso do desenvolvimento pondero-estatural e neurológico, retardo mental. A presença de algum des- ses achados direciona para o diagnóstico da doença e sua forma de apre- sentação. Quando a palpação é dificultada devido à existência de ascite, obesidade, rigidez da parede abdominal, é útil determinar o tamanho do fígado pela percussão. A consistência hepática é muito importante de ser avaliada, pois em situações como cirrose, fibrose, tumores, ela é endureci- da. Já nas doenças de depósito ela é normal ou amolecida. Nas hepatites, é normal ou firme. Hepatomegalias isoladas sugerem doenças de depósito de glicogênio, doença veno-oclusiva, hepatites crônicas sem hipertensão por- tal, insuficiência cardíaca congestiva, tumores hepáticos (hepatoblastoma, hepatocarcinoma, neuroblastoma e hemangioendotelioma). Sabe-se que em 15% das crianças saudáveis no primeiro mês de vida e 7 - 10% até os 10 anos de idade, o baço pode ser palpável em 1 a 2 cm. O baço pode ser palpado no epigástrio ou no hipocôndrio esquerdo. As esplenomegalias muito acentuadas, com ou sem hepatomegalia, são encontradas em trombose de veia porta, talassemia, anemia falciforme, doença de Gaucher, doença de Niemann-Pick, leucemia mielóide crônica, 101 Rotinas de Pediatria Geral linfomas, reticuloendoteliose, leishmaniose visceral, esquistossomose forma hepatoesplênica e salmonelose septicêmica prolongada. As esplenomegalias, do ponto de vista clínico, são classificadas em 3 graus: grau I – baço somente palpável sobre rebordo costal esquerdo; grau II – baço palpável entre o rebordo costal esquerdo e uma linha que passa pela cicatriz umbilical; grau III – baço palpável abaixo da cicatriz umbilical. TAMANHO DO BAÇO DE ACORDO COM FAIXA ETÁRIA Idade Limite de normalidade de comprimento esplênico (cm) 3 meses 6 3 - 6 meses 6,5 6 - 12 meses 7,0 1 - 2 anos 8,0 2 - 4 anos 9,0 4 - 6 anos 9,5 6 - 8 anos 10 8 - 10 anos 11 10 - 12 anos 11,5 > 12 anos 12 Fonte: Radiologeek, 2007 TAMANHO DO FÍGADO DE ACORDO COM FAIXA ETÁRIA Idade Extensão costal (cm) Nascimento 5,6 - 5,9 1 ano 5,0 2 anos 6,0 3 anos 6,5 4 anos 7,0 5 anos 8,0 12 anos 9,0 Adulto 10 Fonte: Nave, 1984 102 Rotinas Pediatria Geral ETIOLOGIA No processo de diagnóstico deve-se dar a maior importância à anamnese, aos dados epidemiológicos e à presença de outros sinais e sintomas associados, como febre, malformações, fácies característica, deformidades ósseas, convulsões, catarata, adenomegalias, anemia, manifestações hemorrágicas (petéquias, equimoses, hematêmese...), icterícia, xantomas, acometimento articular, lesões de pele, otites recorrentes, ascite, edema de membros inferiores, prurido, atraso do desenvolvimento pondero-estatural e neurológico, retardo mental. A presença de algum desses achados direciona para o diagnóstico da doença e sua forma de apresentação. Para fins didáticos, as principais etiologias serão agrupadas no quadro abaixo: CAUSAS DE HEPATOESPLENOMEGALIA INFECCIOSA Vírus - Hepatites (A, B, C, D, E) - Epstein Baar - Citomegalovírus - Rubéola - Varicela - Febre Amarela - AIDS Bactérias - Febre Tifóide - Leptospirose - Febre Paratifóide - Sepse - Endocardite - Brucelose - Tuberculose Miliar - Listeriose - Salmonelose septicêmicas prolongadas - Hanseníase na forma lepromatosa - Abscesso Continua... 103 Rotinas de Pediatria Geral CAUSAS DE HEPATOESPLENOMEGALIA INFECCIOSA Protozoários - Doença de Chagas aguda - Toxoplasmose - Leishmaniose Visceral (Calazar) - Malária - Abscesso Amebiano Fungos - Blastomicose Sul-Americana - Histoplasmose - Candidíase Sistêmica - Aspergilose Helmintos - Helmintíase Intestinal - Esquistossomose Hepatoesplênica - Fase aguda Larva Migrans Visceral Rickéttsias - Febre Maculosa - Tifo Murino NEOPLASIAS - Leucemias Agudas - Tumores Hepáticos - Tumores Secundários ou Metásteses - Linfomas - Neuroblastoma - Hemangiomas - Hemangiendoteliomas - Reticuloendoliose METABÓLICAS Doenças de Depósito Lisossomais - Doença de Gaucher - Doença de Niemann-Pick - Doença se Wolman - Mucopolissacaridose - Tay-Sachs Doenças de Depósito de Glicogênio - Glicogenoses - Recém-Nascido de mãe diabética - Síndrome de Beckwith Outras - Galactosemia - Frutosemia - Hipercolesterolemia Familias - Defeito de Glicosilação Continua... 104 Rotinas Pediatria Geral METABÓLICAS Metais - Doença de Wilson - Hemocromatose Depósito de Proteínas Anormais - Defeito de Alfa-1-Antitripsina HIPERTENSÃO PORTAL Pré-sinusoidal - Fibrose Hepática Congênita Sinusoidal - Cirroses de qualquer etiologia (hepatocelular ou biliar) - Ductopenias Pós Sinusoidal - Síndrome de Budd-Chiari - Pericardites Constritivas - Doença Veno-oclusiva HEMATOLÓGICAS - Anemias Hemolíticas e Ferroprivas MISCELÂNEA - Colagenose - Artrite Idiopática Juvenil - Sarcoidose - Doença do Soro Fonte: Gastroenterologia e hepatologia, Instituto da Criança-Hospital das Clínicas. CAUSAS DE HEPATOESPLENOMEGALIA 105 Rotinas de Pediatria Geral QUAIS EXAMES SOLICITAR? Apesar de nenhum exame laboratorial poder diagnosticar por si só, uma patologia, alguns exames são de fundamental importância em todas as crianças com hepatoesplenomegalia, como: 1 – Hemograma Completo e reticulócitos: permitem verificar diferencia- ção de anemias carenciais e hemolíticas, pancitopenias, doenças linfopro- liferativas e suspeita de processos infecciosos de qualquer origem. Na sus- peita de doença hemolítica, deve-se pesquisar esferócitos ou eritroblastos ortocromáticos em esfregaço sanguíneo, realizar eletroforese de hemoglo- bina, curva de resistência globular, haptoglobina. Mielograma (biópsia da medula óssea) está indicada na suspeita de doenças infecciosas, neoplasias e doenças lissosomais. 2 – Provas de atividade inflamatória: VHS, PCR, em doenças infecciosas, autoimunes, neoplásicas, inflamatórias. 106 Rotinas Pediatria Geral 3 – Aminotransferases: AST/ALT. São enzimas intracelulares sensíveis para avaliar necrose hepatocelular. A AST está presente no fígado, nos músculos cardíacos e esquelético, nos rins, no cérebro, no pâncreas, nos pulmões, nos leucócitos e nas hemácias, em ordem decrescente de concentração. Seus níveis podem aumentar quando ocorre trauma, isquemia, toxicidade por drogas,hemólise e rabdomiólise. A ALT está presente principalmente no fígado. Portanto, seu nível sérico é mais importante para doença hepática do que o nível sérico da AST. 4 – Fosfatase Alcalina: indicador de colestase está presente nos canalículos biliares, nos ossos e nos enteróticos. Pode aumentar nas crianças (lactentes) e adolescentes que torna difícil sua interpretação nesta faixa etária. 5 – Gama-glutamiltransferase (GGT): é um dos indicadores mais sensíveis de doença hepatobiliar, confirmando a origem hepática da FA. Pode aumentar com o uso de anticonvulsivantes como fenobarbital, fenitoína, ácido valpróico. 6 – Bilirrubinas Totais e Frações (BT e frações): A hiperbilirrubinemia indireta sugere enfermidade hemolítica, associando-se ao aumento do LDH e redução da haptoglobina. A elevação da bilirrubina direta, FA e GGT sugere afecção hepática de padrão colestático. A hiperbilirrubinemia direta (BD) caracteriza-se por aumento da BD superior a 2 mg/dl ou 20% da bilirrubina total. A icterícia torna-se clinicamente evidente quando a bilirrubina total for superior a 2 a 3 mg/dl e pode estar associada a colúria ou a acolia fecal. 7 – Coagulograma (tempo de Protrombina - PT e tempo parcial de tromboplastina - TTPa): avalia a capacidade de síntese hepática. 8 – Proteínas Totais e frações: hipoalbuminemia pode resultar da diminuição da produção hepática devido à doença parenquimatosa. 9 – Lípides: na doença colestática pode ocorrer aumento de colesterol e triglicérides. Na cirrose hepática, pode estar normal. Na desnutrição ou na ocorrência de descompensação hepática, os níveis geralmente estão baixos. 107 Rotinas de Pediatria Geral 10 – Eletroforese de Proteínas: aumento da fração gama ocorre na hepatite autoimune e diminuição da fração alfa-1, na deficienciência de alfa-1- antitripsina. 11 – Pesquisa sorológica e biologia molecular (quando possível) de vírus, bactérias, fungos, protozoários e rickétsias: na suspeita clínica de sintomas de infecção como febre, mal-estar, adenomegalias, além de hepatoesplenomegalia. 12 – Reação de Mantoux (Teste tuberculínico): sempre que houver suspeita de tuberculose. 13 – Hemocultura e urocultura: em caso de suspeita de infecções bacterianas e sepse. 14 – Parasitológico de fezes: na pesquisa de ovos de shistossoma nas fezes, principalmente em pacientes de áreas endêmicas. 15 – Gasometria venosa, lactato, glicemia, colesterol, triglicérides, ácido úrico, CPK, CKMB: na investigação de doenças de depósito. Para galacto- semia, pesquisar a atividade da galactose-1-fosfato uridiltransferase (GALT). Para frutosemia, pesquisar a atividade de Aldolase B no fígado. Nas doenças lisossomais, pesquisar atividade da enzima betaglicosidade e esfingomieli- nase, quitotriosidade em leucócitos, (para Gaucher e Doença de Niemann -Pick) e gicosaminoglicans na urina (para mucopolissacaridoses). 16 – Exames de Imagem: Várias técnicas ajudam a definir o tamanho, a forma e a arquitetura do fígado e do baço. A Ultrassonografia, é fundamental, pois, além de se tratar de um método não invasivo, que não utiliza radiação ionizante, facilita um estudo minucioso do parênquima e das estruturas hepáticas, esplênicas e de toda via biliar. Este método possui algumas limitações, pois é operador dependente. A ultrassonografia com doppler, permite a visualização do sistema vascular hepático e esplênico, avaliar seu fluxo e a presença de colaterais. A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RNM) podem ser superiores a ultrassonografia para detectar ou definir pequenas lesões focais, como tumores, cistos ou abscessos. Assim como avaliar a presença de metástases. 108 Rotinas Pediatria Geral INVESTIGAÇÃO DE HEPATOESPLENOMEGALIA: EXAMES COMPLEMENTARES TIPO DE EXAME 1ª Linha 2ª Linha LABORATÓRIO - Hemograma completo, VHS, PCR; - Eletrólitos; - Glicose, Uréia, Creatinina; - Perfil hepático (bilirrubina total e frações, TGO, TGP, GGT, FA); - Proteína total e frações, eletroforese de proteínas; - Coagulograma; - Sorologias virais: Hepatites (A, B, C), EBV, CMV. Toxoplasmose, HIV - Teste tuberculínico - Hemocultura - Hapglobulina - Amônia, lactato - Acil-carnitinas - Dosagem de aminoácidos orgânicos no plasma e na urina - Ceruloplasmina, cobre na urina de 24h - Teste de Sódio e Cloro no suor - Cinética do ferro - Alfa 1 antitripsina, FAN, anticorpo antimitocondrial e anti MKl 1 - Alfetoproteína INVESTIGAÇÃO DE HEPATOESPLENOMEGALIA: EXAMES COMPLEMENTARES IMAGEM - Ultrassonografia abdominal - TC ou RNM Abdominal - Ecocardiograma PATOLOGIA - Biópsia Hepática - Mielograma - Biópsia de medula óssea FONTE: Protocolos diagnósticos y terapêuticos en pediatría - Hepatoesplenomegalia CONCLUSÃO As hepatoesplenomegalias manifestam-se de diversas maneiras, muitas vezes de forma aguda, crônica, poli ou oligossintomáticas. O estabelecimento de um protocolo de conduta pode ser útil na tomada de decisões, objetivando o encaminhamento correto de cada caso. O pediatra funciona como primeiro ator que mantém o contato precoce e rotineiro com as crianças no serviço de saúde, portanto, é o ponto-chave no reconhecimento de alterações clínicas e laboratoriais, na conduta inicial e no encaminhamento destes pacientes, caso seja necessário. 109 Rotinas de Pediatria Geral REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BACELAR CH, OLIVEIRA FAA, QUEIROZ MJ. Hepatoesplenomegalia. Manual de Diagnóstico Diferencial em Pediatria. 234-261. 2å Edição. 2005. FAGUNDES EDT, FERREIRA AR, ROQUETE MLV, PENNA FJ. A criança com hepatopatia crônica: abordagem diagnóstica inicial. 19(4 Supl 5): 28- 34. RevMed Minas Gerais, 2009. GASTALDI LA. Hepatopatias na criança: Abordagem diagnóstica. 1-8. Dpto Pediatria – UFSC. Disponível em: http://www.saude.sc.gov.br/hijg/gastro/ HepatopatiasNaCrianca.pdf JUNQUERA CG, BELINCHÓN PP. Hepatoesplenomegalia. Protocolos diagnósticos y terapêuticos em pediatria. 229-239. PERNETTA C. Esplenomegalia. Diagnóstico Diferencial em Pediatria. 335- 347. 3å ed.1987. PERNETTA C. Hepatomegalia. Diagnóstico Diferencial em Pediatria. 425- 438.3å ed. 1987. PORTA G, HIRSCHFELD APM. Hepatoesplenomegalia. Gastroenterologia e Hepatologia. 88-97.1a ed. 2011. SILVA LR, FERREIRA CT, CARVALHO E. Hepatopatias: avaliação laboratorial. Hepatopatia em Pediatria. 70-79. 1å ed. 2012. VIEIRA SMG, SILVEIRA TR. Hepatopatia Crônica na Infância. Diagnóstico Diferencial em Pediatria. 438-449.2008. 111 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO A hipertensão arterial sistêmica (HAS) na infância trata-se de uma patologia subestimada, a qual requer material, técnica e ambiente apropriado. Nas últimas décadas, as referências mais frequentemente adotadas na prática clínica pediátrica baseiam-se na diretriz do National High Blood Pressure Education Program (NHBPEP), o qual uniformizou os valores de normalidade definidos de acordo com sexo, idade e altura. A prevalência atual de hipertensão arterial na idade pediátrica encontra-se em torno de 3% a 5%, enquanto a de pré-hipertensão (PH) atinge 10% a 15%. DEFINIÇÃO Crianças e adolescentes são considerados hipertensos quando pressão arterial sistólica (PAS) e/ou pressão arterial diastólica (PAD) forem iguais ou superiores ao percentil 95 (p95) para idade, sexo e estatura, em pelo menos três ocasiões distintas. Define-se como pré-hipertensão quando a PAS/PAD ≥ p 90 < p 95 ou ≥120/80 mmHg e < p 95 em adolescentes. Considera- se HAS estágio 1 para valores de medida entre o p 95 e 5 mmHg acima do p 99. O estágio 2 é definido para valores superiores ao estágio 1. Os percentis de altura podem ser obtidos por meio dos gráficos de crescimento do CDC (National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, 2000). É denominada“hipertensão do jaleco branco” quando são verificados valores elevados de PA no consultório, que não são confirmados através das medidas na monitorização ambulatorial da pressão arterial. 8 HIPERTENSÃO NA INFÂNCIA Fernanda Paiva Pereira Honório 112 Rotinas Pediatria Geral Tabela 1. Definição de HAS em crianças Pressão arterial normal PAS e PAD < p 90* Pré-HAS PAS e/ou PAD > p 90 e < p 95* HAS PAS e/ou PAD ≥ p 95* HAS – estágio 1 PAS e/ou PAD entre p 95 e ≤ p 99* + 5 mmHg HAS – estágio 2 PAS e/ou PAD > p 99* + 5 mmHg PAS - Pressão arterial sistólica; PAD - pressão arterial diastólica; (*) média de três medidas para idade, sexo e percentil de estatura. NOTA: Adolescentes com PA ≥ 120/80 mmHg devem ser considerados pré–hipertensos mesmo se o valor do percentil 90 for superior a esta marca. Esta situação pode ocorrer para PAS em maiores de 12 anos e para PAD em maiores de 16 anos. Tabela 2: Valores de PA para meninos de acordo com idade e percentil de estatura 113 Rotinas de Pediatria Geral 114 Rotinas Pediatria Geral Tabela 3: Valores de PA para meninas de acordo com idade e percentil de estatura. 115 Rotinas de Pediatria Geral 116 Rotinas Pediatria Geral COMO MEDIR A PA EM CRIANÇAS A medição da PA em crianças é recomendada em toda avaliação clínica após os três anos de idade. Crianças com menos de três anos devem ter a PA aferida caso apresentem história de prematuridade, baixo peso ao nascer, cardiopatia congênita, doenças renais ou história familiar de doença renal congênita, história de transplante, evidência de aumento da pressão intracraniana ou que estejam em tratamento com drogas que elevem a PA. Para a realização da medição, a criança deve estar sentada, calma por pelo menos cinco minutos, com as costas e os pés apoiados, devendo-se evitar o uso de alimentos e bebidas estimulantes. O manguito deverá ser posicionado no braço direito estendido, em virtude da possibilidade de coarctação de aorta e mantido pelo menos dois cm da fossa antecubital, ao nível do coração. Usar manguitos adequados, com largura da bolsa inflável de 40% da circunferência do braço (medida no ponto médio entre o olecrano e o acrômio) e comprimento de 80-100% da circunferência do braço. Na dúvida em relação ao tamanho do manguito, dar preferência pelo tamanho maior. O método recomendado é auscultatório, devendo-se utilizar o primeiro ruído de Korotkoff (K1) para definir a PAS e o quinto ruído de Korotkoff (K5) para a PAD, que é marcado pelo desaparecimento do som, exceto quando o mesmo não desaparece; neste caso, a PAD é determinada no momento da diminuição do som que corresponde ao quarto ruído de Korotkoff (K4). Os métodos automáticos são aceitáveis para medida de pressão arterial em pediatria, principalmente em recém-nascidos e lactentes em que a ausculta é difícil, ou quando se fazem necessárias medidas mais frequentes, como nos pacientes em terapia intensiva, porém se for detectado HAS pelo método oscilométrico, precisa ser confirmado pelo método auscultatório. Sempre que a medida da PA em membros superiores estiver elevada deverá ser aferida a PA de membros inferiores. Essa avaliação pode ser realizada com o paciente em posição deitada, com o manguito colocado na região da panturrilha, cobrindo pelo menos dois terços da distância entre o joelho e o tornozelo. A PAS medida na perna pode ser mais elevada do que no braço pelo fenômeno da amplificação do pulso distal3. Se a PAS da perna estiver mais baixa que a PAS medida no braço, podemos estar diante de uma coarctação da aorta. 117 Rotinas de Pediatria Geral ABORDAGEM ETIOLÓGICA A probabilidade de HAS secundária é maior quanto mais jovem for a criança e mais elevado for o nível pressórico, bem como na presença de sinais e sintomas. As nefropatias parenquimatosas, renovasculares e obstrutivas são responsáveis por aproximadamente 60-90% desses casos, podendo acometer todas as faixas etárias (infantes, crianças e adolescentes), mas são mais prevalentes em crianças mais jovens com maiores elevações da PA. Os distúrbios endócrinos, como o excesso de mineralocorticoide, corticoide ou catecolaminas, as doenças da tireoide e a hipercalcemia associada ao hiperparatireiodismo, correspondem a aproximadamente 5% dos casos. A coarctação da aorta é diagnosticada em 2% dos casos, sendo 5% dos casos atribuíveis a outras etiologias, como efeitos adversos de drogas vasoativas e imunossupressores, abuso de drogas esteroides, alterações no sistema nervoso central e aumento da pressão intracraniana. A HAS primária é mais prevalente em crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade e história familiar de HAS. No momento, a HAS primária parece ser a forma mais comum de HAS no adolescente, sendo seu diagnóstico, porém, de exclusão, devendo-se realizar a investigação de causas secundárias sempre que possível nessa população. INVESTIGAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL ANAMNESE Devem ser detalhados dados de nascimento, crescimento e desenvolvi- mento, antecedentes pessoais de doenças renais, urológicas, endócrinas, cardíacas e neurológicas. É importante caracterizar o padrão de atividade física, dieta, tabagismo e consumo de bebida alcoólica, uso de esteroides, anfetaminas, simpaticomiméticos, antidepressivos tricíclicos, anticoncepti- vos e substâncias ilícitas, assim como o padrão do sono, uma vez que dis- túrbios do sono estão associados à HAS, sobrepeso e obesidade. Pesquisar sinais e sintomas relacionados com hipertensão arterial, tais como cefaleia, vômitos, turvação visual, ataxia ou crise convulsiva. A investigação de an- tecedentes familiares para HAS, doenças renais e outros fatores de risco cardiovascular é essencial. 118 Rotinas Pediatria Geral EXAME FÍSICO Ao exame físico, deve-se calcular o IMC, pois a obesidade é importante fator de risco para hipertensão arterial, assim como retardo do crescimento pode ser sugestivo de doença crônica. Taquicardia persistente pode sugerir hipertireoidismo ou feocromocitoma. A presença de pulsos diminuídos em membros inferiores leva à suspeita de coarctação de aorta ou arterite de Takayasu. A hipertrofia das adenoides está associada a distúrbios do sono. Acantose nigricans sugere resistência à insulina e Diabetes mellitus (DM). Frêmitos e sopros abdominais podem indicar doença renovascular. EXAMES COMPLEMENTARES Os exames laboratoriais e de imagem solicitados têm como objetivo definir a etiologia (primária ou secundária), detectar lesão de órgão-alvo e fatores de risco cardiovasculares associados à HAS (Tabelas 2 e 3). O MAPA está indicado nos casos de suspeita de ”hipertensão do jaleco branco”. Tabela 4 – Investigação inicial de crianças e adolescentes com HAS Hemograma completo Função renal e eletrólitos (incluindo cálcio, fósforo e magnésio) Perfil lipídico Acido úrico sérico Glicemia de jejum Sumário de urina e urocultura Fundoscopia Radiografia de tórax ECG/Ecodopplercardiograma US renal com Doppler de artérias renais 119 Rotinas de Pediatria Geral 5 – Exames subsequentes na investigação de hipertensão secundária ESTUDOS ADICIONAIS SUSPEITA DIAGNÓSTICA Dosagem de eletrólitos na urina, proteinúria, creatinina urinária, Uretrocistografia miccional, cintilografia com DMSA ou DTPA Doença parenquimatosa renal Arteriografia por TC ou RNM, arteriografia renal Doença renovascular (displasia fibromuscular de artéria renal, arterite de Takayasu) Nível sérico de renina (ou atividade de renina plasmática), aldosterona, cortisol basal, PTH, TSH, T4 livre e T3 livre Endocrinopatias Auto-anticorpos específicos: FAN, anti DNA, ANCA p, ANCA c, complementos (C3, C4, CH50) Vasculites e doenças auto- imunes Catecolaminas e metanefrinas na urina (ou metanefrinaplasmática) ecintilografia com MIBG, RNM/TC de abdome Feocromocitoma e Neuroblastoma Polissonografia Síndrome de apnéia obstrutiva do sono Dosagem sérica de drogas hipertensivas Intoxicação exógena MIBG: metaiodobenzilguanidina TRATAMENTO TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO A terapêutica não farmacológica está indicada para todos os pacientes pediátricos com valores de PA acima do p90. Inclui redução do peso, atividade física e intervenção dietética. A redução do peso apresenta bons resultados na criança obesa, assim como o exercício físico que apresenta maior influência sobre a PAS. Recomenda-se atividade aeróbica regular com 30-60 minutos, se possível diariamente. Esportes competitivos não são recomendados para pacientes com HAS estágio 2 ainda não controlada. 120 Rotinas Pediatria Geral A intervenção dietética pode incluir restrição de sódio (1,2 g/dia dos 4-8 anos e 1,5 g/dia em maiores de 8 anos), bem como suplementação de potássio e cálcio, porém sua eficácia ainda não foi comprovada na população pediátrica. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO A terapêutica farmacológica em crianças hipertensas deve ser iniciada em HAS sintomática, HAS secundária, presença de lesão de órgão-alvo, DM tipo 1 e 2, doença renal crônica (DRC) e HAS persistente não responsiva à terapêutica não-farmacológica. O tratamento tem como alvo a redução para níveis pressóricos abaixo do percentil 95 na HAS não complicada e redução para abaixo do percentil 90 na HAS complicada, caracterizada por lesão de órgão-alvo, comorbidades (DM eDRC), bem como na HAS secundária. Recomenda-se iniciar com droga anti-hipertensiva de primeira linha, otimizar a dose e, se o valor alvo de PA não for obtido, associar outros grupos anti-hipertensivos. Sugere-se que na HAS secundária a escolha do anti-hipertensivo deve ser norteada pelo princípio fisiopatológico envolvido e as comorbidades. CLASSE MEDICAMENTO POSOLOGIA Bloqueador do canal de cálcio Anlodipino (6-17 anos) 0,1-0,5 mg/Kg/dia ÷ 1 dose (max. 10 mg/dia) Nifedipino XL 0,25-3 mg/Kg/dia ÷ 1-2 doses (max. 120 mg/ dia) Bloqueador da enzima conversora de angiotensina Captopril 0,5-6 mg/Kg/dia ÷2-4 doses (max. 150 mg/dia) Enalapril 0,08-0,6 mg/kg/dia ÷ 1-2 doses (max. 40 mg dia) Bloqueador do receptor de angiotensina Losartano 0,7-1,4 mg/kg/dia ÷ 1 dose (max.100mg/dia) Tabela 6 - Medicamentos orais mais utilizados para o tratamento da HAS crônica pediátrica 121 Rotinas de Pediatria Geral CLASSE MEDICAMENTO POSOLOGIA Betabloqueador Propranolol 1-4 mg/Kg/dia ÷ 2-3 doses (max. 640 mg/dia) Atenolol 0,5-2 mg/kg/dia ÷ 1-2 doses (max. 100 mg/dia) Diuréticos Furosemida 0,5-6 mg/kg/dia ÷ 2-6 doses Hidroclorotiazida 1-3 mg/Kg/dia ÷ 1-2 doses (max. 50 mg/dia) Espironolactona 1-3,5 mg/Kg/dia ÷ 2-4 doses (max. 200 mg/dia) Bloqueador alfa central Clonidina 5-25 mcg/kg/dia ÷ 2-4 doses (max. 2,4 mg/dia) Vasodilatador direto Hidralazina 0,75-7,5 mg/Kg/dia (max. 200 mg/dia) Minoxidil <12 anos ≥12 anos 0,2 mg/kg/dia ÷ 1-3 doses (máx 50 mg/dia) > 12 anos: 5-100 mg/dia CRISE HIPERTENSIVA A emergência hipertensiva (EH) caracteriza-se por elevação aguda de PA associada lesão de órgão-alvo, que pode incluir acometimento neurológico, renal, ocular, hepático ou insuficiência miocárdica. A urgência é definida como elevação da PA superior ao percentil 99 mais 5 mmHg (estágio 2), associada a sintomatologia menos grave, em paciente sob risco de evolução para lesão de órgão-alvo, sem evidência de acometimento recente. Sugere- se o manejo com medicamentos, por via oral, com redução de PA em 24 a 48 horas, sob monitorização. Já na emergência hipertensiva, o tratamento deverá ser feito com medicação endovenosa, tendo por objetivo a redução da PA de maneira lenta e progressiva, caso contrário poderá precipitar hipotensão, falência de mecanismos autorreguladores e possibilidade de isquemia cerebral e visceral. Recomenda-se redução de 30% do programado em 6 a 12 horas, 30% em 24 horas, ajuste final em 2 a 4 dias. O medicamento mais utilizado no Brasil para esse fim é o nitroprussiato. Esse fármaco é metabolizado em cianeto, que pode causar acidose metabólica, confusão mental e deterioração do estado clínico. Portanto, a administração 122 Rotinas Pediatria Geral de nitroprussiato por mais de 24 horas requer monitoração do nível sérico de cianeto. O uso desse fármaco deve ser evitado em adolescentes grávidas e em pacientes com hipoperfusão do sistema nervoso central. Condições clínicas especiais podem ser manejadas com hipotensores mais específicos para a doença de base. Pacientes com tumores produtores de catecolamina podem ser inicialmente alfabloqueados como fenoxibenzamina ou prazosina, seguida de adição cuidadosa de um betabloqueador. A furosemida é a droga inicial de escolha para crise hipertensiva causada pela sobrecarga de líquidos. Em caso de oligúria/anúria, outros anti-hipertensivos podem ser utilizados concomitantemente, podendo haver necessidade de diálise para controle volêmico. A HAS associada ao uso de cocaína ou anfetaminas pode ser tratada com o lorazepam ou outro benzodiazepínico, que é geralmente eficaz para controle da agitação e da HAS. Tabela 7 - Principais medicamentos e doses pediátricas utilizadas para controle da emergência hipertensiva. MEDICAMENTO VIA DOSE INÍCIO DE AÇÃO DURAÇÃO Nitroprussiato de sódio IV 0,5-10 µg/kg/min Segundos Somente durante a infusão Labetalol IV 0,25-3 mg/kg/h ou Dose em bolo de 0,2-1 mg/ kg, seguida da infusão de 0,25-3 mg/kg/h 2-5 min 2-4 h Nicardipina IV 1-3 µg/kg/min 2-5 min 30 min - 4 h, maior quanto mais longo o uso Hidralazina IV IM 0,2-0,6 mg/kg em bolo IV ou IM, máx=20 mg 10-30 min 4-12 h Esmolol IV Ataque 100-500 µg/kg seguido de infusão 50-300 µg/ kg/min Segundos 10-30 min Fentolamina IV 0,05-0,1 mg/kg em bolo, máx = 5 mg/dose Segundos 15-30 min 123 Rotinas de Pediatria Geral REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LURBE E ET AL. Management of high blood pressure in children and adolescentes: recomendations of the European Society of Hypertension. Journal of Hypertension, 27(9):1719-1742, 2009. MEYERS RS, SIU A. Pharmacotherapy review of chronic pediatric hypertension. ClinicalTherapeutics; 33(10):1331-56, 2011. National High Blood Pressure Education Program Working Group on High Blood Pressure in Children and Adolescents.The fourth report on the diagnosis, evaluation, and treatment of high blood pressure in children and adolescents.Pediatrics; 114:555-76, 2004. RILEY M, BLUHM B. High BloodPressure in ChildrenandAdolescents. American Academyof Family Physicians; vol. 85, No. 7, 2012. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. VII Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Volume 107, nº 3, Suplemento 3, 2016. 125 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO Artrite é considerada uma manifestação comum e um desafio diagnóstico em pediatria. A incidência é de 20 a 40 casos por 100.000 crianças e adolescentes abaixo de 16 anos para artrite aguda e quatro vezes menor para artrite crônica. É dever estar atento para avaliar o grau de severidade para detectar a urgência da conduta clínica ou cirúrgica, por exemplo, na artrite séptica, neoplasias, entre outras. Artrite é definida por um aumento do volume articular ou presença de dois dos seguintes sinais: limitação do movimento, dor à palpação, à movimentação e calor local. ABORDAGEM ETIOLÓGICA QUADRO 1. Causas de artrite classificadas em aguda e crônica ARTRITE AGUDA ARTRITE CRÔNICA Trauma Artrite infecciosa: tuberculose, fúngica, blastomicose Artrite relacionada com infecção: Artrite séptica: Artrite reativa: - Bacteriana- Bacteriana - Gonocócica - Febre reumática - Tuberculosa - Infecção entérica - Fúngica - Viral - Viral - Parasitoses Intestinais Doenças do tecido conectivo: artrite reumatóide juvenil/artrite idiopática, espondiloartropatias Doenças imunológicas: deficiência de IgA, hipogamaglobulinemia, HIV 9ARTRITES Célia Maria Barbosa Elias Monteiro Rosenilde do Nascimento Silva 126 Rotinas Pediatria Geral Doenças linfoproliferativas: Leucemias, Linfomas, Tumores ósseos Neoplasias: osteoma, osteóide, osteossarcoma Doenças hematológicas:Doença falciforme, Talassemia, Hemofilia Outra: sinovite vilonodular, sinovite por corpo estranho, osteoartropatia hipertrófica Doenças do tecido conectivo: Lúpus eritematoso sistêmico juvenil Dermatomiosite juvenil e esclerodermia juvenil Doenças genéticas :displasias musculo- esqueléticas, mucopolissacaridose, hiperparatireoidismo, hipertireoidismo, hipotireoidismo, deficiência de vit C, etc.). Fonte: Doenças reumáticas na criança e no adolescente. Elizabeth Gonzaga Canova Fernandes, Luciana Brandao Paim Marques e Clovis Artur Almeida da Silva. PATOLOGIAS COMUNS ASSOCIADAS AO QUADRO DE ARTRITE Artrite reativa – está associada a uma infecção não articular, é uma artrite inflamatória, mas nenhum agente etiológico é isolado do líquido sinovial ou das biópsias sinoviais. São descritas em associação com infecções das vias aéreas superiores, do trato genitourinário e gastrintestinais. Nos casos de gastrenterites podem ser: a) não infecciosa como a colite ulcerativa, doença de Crohn, doença de Behçet, púrpura de Henoch Schonlein e doença celíaca. b) Infecciosas: salmonela, shigella, yersínia, campylobacter, tuberculose, doença de Whipple, giardíase. A duração da artrite é de dias a poucas semanas, entretanto pode estender- se por meses em alguns pacientes. As provas de atividades inflamatórias podem estar normais ou elevadas e o antígeno de leucócitos humanos (HLA) - B27 positivo em alguns casos. ARTRITE AGUDA ARTRITE CRÔNICA 127 Rotinas de Pediatria Geral Artrite Viral – Tem um curso benigno, de 1 a 2 semanas de duração,tem antecedente de infecção recente, como rubéola (50%), hepatite B, caxumba, citomegalovírus parvovírus B19, enterovírus, adenovírus, dengue, chikungunya, SIDA, sinovite transitória do quadril. Compromete mais as articulações dos joelhos e interfalangeanas, metacarpofalageanas e cotovelos. O comprometimento articular pode ser mono ou poliarticular, migratório, ou aditivo, simétrico ou assimétrico. Monoartrites - podem ter curso agudo ou crônico. As monoartrites agudas tem como causa: traumatismo, artrite séptica, hemofilia, neoplasias, sinovite transitória do quadril e tuberculose. A inclusão de tuberculose como manifestação de artrite aguda deve-se a grande prevalência dessa doença em nosso meio. As monoartrites crônicas tem a tuberculose como uma patologia de grande relevância. Apresenta-se como monoartrite pouco dolorosa, acometendo com frequência a coluna, (mal de Pott), quadril ou joelho e pode levar a destruição da articulação e dos adjacentes. As artrites traumáticas acometem principalmente lactentes e pré-escolares. O aumento da articulação é visto logo no início do trauma e pode evoluir para artrite séptica quando houver solução de continuidade. Na investigação diagnóstica da artrite traumática, solicitar: radiografia (RX), ultrassom, ressonância magnética da articulação e da região periarticular afetadas. O pediatra deve estar alerta para os casos de maus tratos à criança onde o exame radiológico revela múltiplas fraturas em diferentes fases de consolidação. Artrite séptica – Deve ser a primeira hipótese diagnóstica na monoartrite na criança acometendo principalmente a articulação do joelho e quadril e é uma urgência médica. A faixa etária mais acometida é abaixo de dois anos. Em menores de um ano a osteomielite pode se instalar devidos os pequenos capilares metafisários permitindo a extensão da infecção até o espaço articular. A articulação se mostra edemaciada, com rubor, calor e dor, muito dolorosa à movimentação passiva e ativa. O diagnóstico se impõe principalmente nas crianças com monoartrite e tem indicação de punção articular, análise do líquido sinovial conforme descrito 128 Rotinas Pediatria Geral no Quadro 2. O líquido sinovial é também encaminhado para pesquisa do agente etiológico pelo gram, cultura e reação de cadeia de polimerase. QUADRO 2. Classificação das principais doenças articulares conforme os achados do líquido sinovial Grupos Normal Não inflamatório Inflamatório Séptico Hemorrágico Volume (joelho) <1ml >1ml >1ml >1ml Não aplicável Cor incolor Perolada Amarela Variável Vermelho Viscosidade Alta Alta Baixa Variável Transparência Transparente Transparente Translúcida Turvo Turvo Leucócitos <200 200-2.000 2.000- 50.000 >50.000 Não aplicável % neutrófilos <25% <25% >50% >95% Não aplicável Glicose/ glicemia jejum Semelhante Semelhante <50mg/dl >50mg/ dl Não aplicável Cultura Negativa Negativa Negativa Positiva Negativa Fonte: Cohen, Kreey e Bailen e Schumacher; adaptado. A disseminação do agente microbiano ocorre por via hematogênica, ou por contiguidade, pode evoluir com celulite, abscesso ou osteomielite. Em qualquer faixa etária o agente etiológico mais frequente é o estafilococo aureus, ressaltando que o estreptococo pneumoniae é a causa mais frequente em crianças menores de 2 anos. Com o advento da vacinação anti hemófilo influenzae tipo B reduziu a incidência por este agente. Em adolescentes a artrite sifilítica associada a lesões de pele e mucosas, adenomegalias, com vida sexual ativa, pensar em artrite por Neisseria gonorrhoeae. Usuários de drogas injetáveis podem desenvolver artrite infecciosa por bactéria gram-negativa, acometendo as articulações interfalangeanas, sacroilíacas e esterno-claviculares. 129 Rotinas de Pediatria Geral AGENTES ETIOLÓGICOS POR FAIXA ETÁRIA: Período neonatal: – Hospitalares: S. aureus, gram-negativos (Klebsiella sp, Proteus sp, Escherichia coli), cândida. – Não hospitalares: estrptococos grupo B, S. aureus; Até 2 anos: S. aureus, H. influenzae, estreptococcos viridans; 3 a 6 anos: S. aureus, H. Influenzae, S. viridans; 7 a 12 anos: S. aureus, S. viridans, estreptococos; Acima de 13 anos: S. aureus, N gonorrhoeae. Osteomielite – é definida como infecção do tecido ósseo, podendo atingir qualquer faixa etária, sendo mais frequente nas crianças menores. O mecanismo da infecção se dá mais frequentemente por via hematogênica, sendo a metáfise dos ossos longos mais comumente atingidas, como a tíbia e o fêmur. Em torno de 70% são causadas por bactérias e mais raramente por fungos. Na história há quase sempre um relato de trauma fechado que evolui com dor, febre e limitação funcional. Os agentes mais comuns da osteomielite na criança são: estafilococo aureus, estreptococo do grupo A, hemófilo influenzae. Na imagem ao (RX) as lesões osteolíticas são mais frequentemente observadas após 7 a 10 dias da evolução. A tomografia e a ressonância magnética identificam com mais precisão em músculo, tendões e ligamentos. A cintilografia óssea pode ser realizada mais precocemente em relação ao RX, uma vez que em 24 a 48 horas após o início do processo infeccioso poderá localizar um abscesso ósseo. O tratamento é feito por 4 a 6 semanas com antibiótico. A limpeza cirúrgica está indicada quando existe falha terapêutica ou sequestro ósseo. Leucemia – A leucemia é a doença linfoproliferativa mais frequentena infância e na adolescência e a que mais causa dor articular, particularmente noturna ou matutina por todo o período da doença e esta dor é desproporcional ao edema ao redor da articulação. A dor musculoesquelética 130 Rotinas Pediatria Geral pode ser a primeira manifestação de leucemia em até 25% dos casos e artrite é observada em 13% (6). A dor óssea ou articular se manifesta como claudicação, recusa à deambulação, costuma acordar a criança à noite. A dor é de forte intensidade, associada a febre, emagrecimento e adinamia. O pediatra deve estar atento aos exames laboratoriais que se mostram na maioria das vezes com anemia, leucocitose/leucopenia e plaquetopenia. Nesses casos, o mielograma é o exame de escolha. O RX de ossos longos mostra periostite e rarefação metafisária (tarja leucêmica). Outras neoplasias como linfoma, neuroblastoma e histiocitose podem também se manifestar com dor articular. Hemoglobinopatias – A doença falciforme e talassemia major podem cursar com artralgia ou oligoartrite devido a isquemia por fenômenos trombo- oclusivos e proliferação intensa da medula óssea. Encontra-se também na hemofilia (deficiência do fator VIII) quadro de monoartrite ou pauciartrite por hemartrose recorrente em joelhos, tornozelos e cotovelos. Púrpura de Henoch Schonlein – a manifestação clínica em 100% dos casos é a púrpura palpável não plaquetopênica, simétrica em membros inferiores (MMII) e nádegas e pode acometer mais raramente membros superiores e tronco (distribuição gravitacional). O envolvimento articular é muito frequente, em torno de 80%. Apresenta-se como uma tumefação periarticular dos joelhos, tornozelos, punhos e cotovelos. Essa doença se manifesta como pauciartrite aguda, dolorosa, principalmente em joelhos e tornozelos. Em até 20% dos casos, as artrites podem preceder as lesões purpúricas, desaparecendo em alguns dias e sem deixar sequelas. Classicamente envolve o sistema músculo-esquelético, o trato gastrointestinal e os rins. A cólica gastrintestinal é o achado mais comum (70%). A púrpura de Henoch Schonlein (PHS) se caracetriza por quatro manifestações clínicas principais em pacientes menores de 17 anos: a – púrpura palpável (critério obrigatório) b – artrite ou artralgia ( em qualquer articulação) c – quadro intestinal (dor abdominal, vômitos, sangramento ou intussuscepção) d – envolvimento renal (hematúria e/ou proteinúria) 131 Rotinas de Pediatria Geral As lesões purpúricas se apresentam como petéquias até grandes equimoses podendo evoluir para ulcerações. Em crianças menores de 4 anos podemos encontrar edema no dorso das mãos e pés, na cabeça e na região escrotal no início do quadro. A artrite ou artralgia precede o rash em 48h, é aditiva em grandes articulações e tem duração no máximo de uma semana sem deixar sequelas. A PHS é uma doença autolimitada, podendo em 30% ocorrer recorrência nos dois primeiros anos. A terapia é de suporte com analgésicos e anti-inflamatórios não hormonais. Os corticóides são indicados nos casos de lesões ulceradas ou necrotizantes (quadro 3). QUADRO 3. Terapia em manifestações clínicas da Púrpura de Henoch- Schonlein Comprometimento Conduta Observações Cutâneo Corticosteróides apenas nos casos de vasculitecom úlceras e necrose Orientações dos pacientes e dos familiares sobre a duração (que pode ser dealgumas semanas) Articular Anti-inflamatórios não hormonais (naproxeno,ibuprofeno) Uso limitado ao tempo da sintomatologia Gastrintestinal Prednisona ou prednisolona (1 a 2 mg/kg/dia Em crianças com vômitos: metilprednisolona EV. Ranitidina 5 mg/kg/dia Pausa alimentar Renal Não indicado nos casos de hematúria transitória. Corticosteróides e imunossupressores nos casos de glomerulonefrite progressiva Encaminhamento paranefropediatra (biópsia) Fonte: PRONAP, ciclo XVIII. Os pacientes devem ser seguidos no primeiro mês com função renal e sedimento urinário e depois periodicamente com monitorização da pressão arterial, sedimento urinário e função renal. 132 Rotinas Pediatria Geral Doença de Kawasaki – definida como uma vasculite predominantemente de médios vasos, aguda, de evolução subaguda que pode se cronificar. Considerada a segunda vasculite mais frequente na faixa pediátrica. A sua apresentação inicial sugere uma doença infecto-contagiosa. O diagnóstico preciso se faz necessário devido ao comprometimento de artérias coronárias, principal causa de morbidade e mortalidade da doença. Em cerca de 25% das crianças não tratadas desenvolvem aneurisma coronariano e quando tratadas este índice cai para 5%. A etiopatogenia ainda não está esclarecida podendo estar relacionada a uma resposta imunológica anormal, em crianças com predisposição genética aos agentes infecciosos como citomegalovírus e parvovírus B19. O diagnóstico é clínico e existem critérios estabelecidos (quadro 4) para orientar o tratamento. QUADRO 4. Critérios de classificação para doença de Kawasaki (DK) Febre persistente (critério mandatório)por pelo menos 5 dias e pelo menos 4 dos seguintes critérios 1. Alterações cutâneas de extremidades (eritema ou edema palmar e plantar, descamação periungueal na fase subaguda) e área perineal; 2. Exantema polimorfo; 3. Alterações labiais e orais, hiperemia de mucosa oral e faríngea; 4. Conjutivite bilateral, não purulenta; 5. Linfadenomegalia cervical (>1,5 cm) geralmente unilateral. A artrite surge em cerca de 30% dos casos. Podem estar envolvidas pequenas e grandes articulações na fase aguda da doença e tem curso autolimitado. Na fase subaguda a artrite de início tardio tem padrão oligoarticular mais comum nos membros inferiores. Artrite idiopática juvenil (AIJ) – é uma artrite crônica que acomete crianças e adolescentes menores de 16 anos, caracterizada pela presença de artrite persistente em uma ou mais articulações por tempo mínimo de seis semanas, descritas na tabela 2. A incidência da AIJ é estimada entre 2 e 20 casos por 100.000/ano e sua prevalência varia de 16 a 150 casos por 100.000 crianças. 133 Rotinas de Pediatria Geral QUADRO 5. Critérios para diagnóstico e classificação da artrite idiopática Juvenil, segundo ILAR. Critérios para diagnóstico e classificação da artrite idiopática Juvenil, segundo ILAR. Idade de início inferior a 16 anos Artrite em uma ou mais articulaçõess Duração mínima de artrite em uma mesma articulação 6 semanas Tipo de início/evolutivo da doença a) Oligoarticular Presistente Estendida* b) Poliarticular – fator reumatoide negativo c) Poliarticular – fator reumatoide positivo d) Sistêmico e) Artrite psoriástica f) Artrite relacionada à entesite (ERA) g) Artrite indiferenciada Não classificável Classificável em mais de uma categoria * Observa-se o acometimento de mais de quatro articulações após os seis primeiros meses de doença. Os mecanismos etiopatogênicos que desencadeiam a artrite crônica são desconhecidos. A susceptibilidade genética é pela alta concordância de AIJ entre irmãos e pela maior associação de algum subtipo determinado antígeno de histocompatibilidade (HLA). No quadro clínico é mandatório o acometimento articular ter duração de seis semanas. A caracterização clínica da AIJ está relacionada aos sintomas nos seis primeiros meses da doença. Para confirmar o seu diagnóstico deverá ser excluída outras causas de artrite (quadro 6). 134 Rotinas Pediatria Geral QUADRO 6. Principais diagnósticos diferenciais,de acordo com o tipo de início da AIJ. Diagnósticos diferenciais, de acordo com o tipo de início da AIJ. Oligoarticular Poliarticular Sistêmico LeucemiaArtrite tuberculosa Doença de Hansen Tumores osteoarticulares Sinovite vilonodular Hemofilia juvenil Doença falciforme Sarcoidose Leucemias Doenças genéticas Doença inflamatória intestinal Dermatomiosite juvenil Esclerodermia Lúpus eritematoso sistêmico juvenil Leucemia Infecções Doença inflamatória intestinal Vasculites Doença de Castleman Lúpus erit ematoso sistêmico Febre familiar do Mediterrâneo Síndrome hiper-lgD CINCA ou NOMID CINCA: Síndrome infantil crônica neurológica , cutânea e articular. NOMID: Doenca multissistêmica neonatl. Fonte: SAKAMOTO A.P. et all in Pediatria moderna set 13. V 49 . N 9. A AIJ sistêmica acomete 10% dos casos e pode acometer qualquer faixa etária com maiorfrequência entre 4 e 6 anos. A febre é a manifestação sistêmica mais importanteem 100% dos casos, podendo preceder a artrite por dias, semanas ou meses, atinge o pico de 39ºC e é mais à noite. Caracteriza- se por febre intermitente, mais vespertina com duração de no mínimo15 dias, exantema evanescente, preferencial em tronco e porção proximal dos membros, podendo associar-se a, anemia, serosite, hepatoesplenomegalia e adenomegalia. A artrite é comumente poliarticular e simétrica. A síndrome de ativação macrofágica (SAM) é uma complicação da AIJ que se caracteriza pela ativação das células T e macrófagos levando a uma resposta inflamatória sistêmica exarcebada. Pode apresentar febre, hepatoesplenomegalia, adenomegalia generalizada, sangramentos, púrpura, disfunção hepática, comprometimento do sistema nervoso, podendo evoluir para CIVD e falência de múltiplos órgãos. A AIJ oligoarticular- são acometidas de 1 a 4 articulações é o subgrupo mais comum 50 a 60% dos casos, predomina no sexo feminino (80%) e a incidência é maior em torno de 1 a 3 anos de idade. 135 Rotinas de Pediatria Geral Os joelhos e tornozelos são as articulações mais acometidas, cursando com monoartrite em 50% dos casos. Com o evoluir do processo pode ser classificada como oligoarticular persistente em que até 4 articulações estão comprometidas ou oligoarticular estendida em que há comprometimento de 5 ou mais articulações. Em 30% dos casos ocorre a uveíte que é a complicação mais temida, sendo mais frequente em meninas com FAN positivo. A uveíte se desenvolve nos primeiros 5 a 7 anos, no início da artrite, antes de ser firmado o diagnóstico de AIJ. A AIJ poliarticular - compromete 5 ou mais articulações nos primeiros seis meses. Pode ser fator reumatóide positivo ou negativo. Poliartrite com fator reumatóide negativo - predomina no sexo feminino (3:1), em crianças com menos de 6 anos, podendo acometer até no primeiro ano de vida. Afeta grandes e pequenas articulações tem evolução aguda ou insidiosa, em um intervalo de semanas ou meses, pode existir febre baixa em 1/3 dos casos. Poliartrite com fator reumatóide positivo – tem início na fase escolar ou adolescente, predomina no sexo feminino, é simétrica e progressiva, com predileção pelas articulações periféricas, cervical, temporo-mandibular. Uma cracterística que chama a atenção é a rapidez e gravidade com que se instala podendo levar a alterações erosivas nos 6 primeiros meses de doença. Em torno de 50% dos casos pode apresentar fadiga, anorexia, perda de peso sendo rara a febre. Artrite relacionada a entesite – pode se apresentar como oligo ou poliarticular comprometendo as articulações dos membros inferiores e esqueleto axial de forma assimétrica (sacroilíaca e coluna). Em 75%há associação com HLA B27. Pode se definir entesite como uma inflamação das estruturas que se inserem ao osso como tendões, ligamentos, cápsulas e fáscias. A artrite relacionada a entesite engloba artrite crônica associada a doenças inflamatórias intestinais cujos sintomas podem ser : perda de peso, atraso no desenvolvimento e crescimento, estomatite aftosa, eritema no dorso e pioderma gangrenoso. A uveíte é a principal manifestação extra-articular como dor hiperemia e fotofobia que dura em média 2 a 3 semanascom boa resposta aos corticóides tópicos. 136 Rotinas Pediatria Geral Artrite psoriática – existe a presença de artrite e psoríase em parentes do 1o grau. Em 80% dos casos o acometimento é mono ou oligoarticular podendo ter início antes do quadro cutâneo. A hipótese diagnóstica é feita quando existe artrite com dactilite (dedos em salsicha), alterações ungueais (dedos em dedal) associada a psoríase. Febre reumática - é definida como uma complicação inflamatória tardia, não supurativa de uma faringoamigdalite estreptocócica (estreptococo beta hemolítico do grupo A) afetando principalmente faixa etária entre 5 a 18 anos. As faringoamidalites e o impetigo são asinfecções causadas pelo estreptococo beta hemolítico do grupo A , somente a faringoamigdalite está associada a febre reumática sendo responsável por 15 a 20%. A febre reumática permanece como um grande problema de saúde pública principalmente em países em desenvolvimento com alto custo econômico e social. A febre reumática é a principal causa de cardiopatia adquirida em crianças e adultos jovens. O diagnóstico é clínico, não existe sinal patognomônico ou exame físico específico. Na prática o diagnóstico se baseia nos critérios de Jones. Com várias modificações, os critérios de Jones melhoraram em especificidade e perderam em sensibilidade devido a obrigatoriedade de comprovação de infecção estreptocócica, sendo a cultura padrão ouro (quadro 7) QUADRO 7. Critérios de Jones revisados Sinais maiores Sinais menores 1. Cardite* 2. Artrite 3. Coreia 4. Nódulos subcutâneos 5. Eritema marginado 1. Febre 2. Artralgia 3. Alterações das provas de fase aguda PCR, VHS eAlfaglicoproteina ácida * cardite ou PR prolongado 137 Rotinas de Pediatria Geral Evidência de infecção estreptocócica prévia: 1. Cultura positiva para estrptococo beta-hemolítico do grupo A 2. Aumento dos títulos dos anticorpos antiestreptococos: antiestreptolisi- na O (ASLO), anti-hialuronidase, antiestreptoquinase,anti-Dnase B. Os critérios de Jones continuam sendo o padrão ouro para diagnóstico do primeiro surto de febre reumática (FR). A probabilidade de FR é alta quando há evidência de infecção estreptocócica anterior determinada pela elevação dos títulos de antiestreptolisina O (ASLO) além da presença de dois sinais maiores ou de um sinal maior e dois menores. Há exceção em duas situações em que o diagnóstico de febre reumática de um episódio inicial pode ser feito sem seguir os critérios de Jones, são elas: A – Coréia como manifestação única. Nestes pacientes deve ser afastado cardite com ecocardiograma. B – Cardite grave como única manifestação em pacientes que são atendidos após meses de uma infecção de faringoamigdalite por estreptococo do grupo A. A artrite é a manifestação mais comum da FR, tem evolução autolimitada e sem sequelas. Muitas vezes é o único critério maior presente em adolescentes. A diferença entre artrite que é um critério maior e a artralgia (critério menor) é feita em bases clínicas. O quadro articular da FR afeta preferencialmente grandes articulações, principalmente membros inferiores, evolui de forma assimétrica e migratória, isto é, quando os sintomas melhoram em uma articulação, aparecem em outra, e é muito dolorosa. A duração do quadro inflamatório geralmente não ultrapassa uma semana em cada articulação, evoluindo no total em um mês. Em 80% dos casos a FR se apresenta com padrão típico. Existe a forma atípica, como artrite aditiva (envolvimentosimultâneo e progressivo de várias articulações sem cessar a inflamação na anterior), monoartrite e acometimento de pequenas articulações e coluna vertebral. Quando do acometimento das articulações interfalangeanas e metacarpofalangeanas, deve haver sempre o acometimento concomitante de grandes articulações. 138 Rotinas Pediatria Geral Lupus eritematoso sistêmico (LES) – é definida como doença inflamatória crônica envolvendo fatores genéticos, fatores hormonais e ambientais, tem um grau de variabilidade de apresentação e gravidade; evolui com períodos de atividade e remissão. É uma doença autoimune multissistêmica crônica, com comprometimento de pele, articulações, serosas, glomérulos e sistema nervoso central. A doença é o resultado da ação de diversos autoanticorpos. As principais causas de morte são por infecção, a própria atividade da doença, doença cardio-vascular, doença renal e câncer. Em torno de 10 a 20% dos pacientes iniciam a doença antes dos 18 anos, mas pode ocorre em qualquer idade. Mais raro antes dos 5 anos de idade. A glomerulonefrite é a causa mais frequente de internação hospitalar, do uso de corticóides em altas doses e de uso de imunossupressores, e esses são alguns fatores que podem levar ao aumento da mortalidade. Recomenda-se a biópsia renal sempre que houver elevação da creatinina sérica sem causa aparente e potencialmente associada ao lúpus. Diagnóstico de LES atualmente tem orientação nos critérios de classificação do SLLIC 2012 que seriam 4 de 17 critérios, incluindo pelo menos um critério clinico e um critério imunológico ; ou nefrite lúpica comprovada por biópsia (Quadro 8). QUADRO 8. Critérios de classificação do SLICC (2012) CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DO SLICC (2012) CRITÉRIOS CLÍNICOS Lúpus cutâneo agudo Representado clinicamente principalmente pelo rash malar em “asa de borboleta” e pela fotossensibilidade. Lúpus cutâneo crônico Lúpus discóide (lesão cutânea que costuma deixar cicatrizes, incluindo alopécia irreversível). Alopécia (não fibrótica) Alopécia não discoide, reversível com o controle da atividade da doença. Úlceras orais ou nasais As úlceras mucosas no LES são indolores. Doença articular Artralgia ou artrite não erosiva. Serosite A pleurite e a pericardite são manifestações comuns no LES. 139 Rotinas de Pediatria Geral Nefrite Representada pelos achados: proteinúria > 500 mg/dia ou encontro de cilindros hemáticos no EAS. Manifestações neurológicas Convulsão, psicose, confusão mental, neurite periférica, outros. Anemia hemolítica Mas atenção: o encontro de anemia de doença crônica é comum no doente lúpico. Entretanto, apenas a anemia hemolítica é critério diagnóstico. Leucopenia ou linfopenia Leucócitos < 4.000/ml ou linfócitos < 1.000/ml. Plaquetopenia Plaquetas < 100.000/ml Critérios Imunológicos FAN Positividade para a pesquisa do FAN (fator antinuclear), positivo em mais de 98% dos casos. Anti-DNA dupla hélice (Anti- DNAds) Boa especificidade para o LES, presente em 75% dos casos. Anti-Sm Autoanticorpo de maior especificidade, mas presente em apenas 30% dos casos. Anticorpos Antifosfolipídio Presente em 50% dos pacientes lúpicos. Pode ser determinado com um dos seguintes procedimentos: teste positivo para anticoagulante lúpico, média ou alta titulaçãono nível de anticorpo de cardiolipina (IgA, IgG ou IgM); ou teste positivo para anti-Beta2- glicoproteína I (IgA, IgG ou IgM). Hipocomplementemia C3 baixo, C4 baixo ou CH50 baixo. Coombs direto positivo Teste de Coombs direto positivo. Existe um baixo índice de suspeição de LES na faixa pediátrica e isso dificulta o diagnóstico no início da doença que pode surgir com queixas inespecíficas como febreprolongada, mal-estar, perda de peso. Essa dificuldade pode levar ao dignóstico tardio pela falta de critérios suficientes para fechar o diagnóstico, mas muitas vezes com o passar da idade é que vão surgir mais sinais e sintomas para completar os 4 critérios que realmente confirmam o dignóstico. Nesses casos deve haver um seguimento rigoroso. É o momento de realizar exames complementares inclusive testes sorológicos antinucleares em avaliações repetidas. Até completar os critérios e isso pode levar de 3 a 5 anos. 140 Rotinas Pediatria Geral As manifestações articulares no LES - a artrite é intermitente e não erosiva, em 10%podem evoluir com poliartrite ou oligoartrite. Nas artrites agudas quando não há comprometimento sistêmico podem ser tratadas com aintiinflamatórios não hormonais, em caso de resposta não satisfatória, associar prednisona em dose baixa. As artrites com recidivas frequentes e as crônicas está indicado o antimalárico hidroxicloroquina ou difosfato da cloroquina para controle da dor articular. Quando não responsivo ou contraindicado, associa-se metrotrexate 10 a 20 mg /semana. Discite – é definida como uma inflamação do disco intervertebral e tem etiologia controversa. A maioria é decorrente de uma infecção bacteriana com consequente processo inflamatório e o diagnóstico é clínico. Uma parte das crianças fica curada sem antibióticos. É mais comum em crianças abaixo dos 5 anos, mas pode ocorrer na adolescência. Nas crianças mais jovens os sintomas iniciais são dificuldade e recusa à deambulação, em se manter em pé, ou mesmo sentada. A suspeita é feita quando estamos diante de uma criança com febre baixa, dor nas costas, irritabilidade, sem toxemia, prostrada e as articulações dos membros inferiores estão livres. A febre costuma ser baixa, a criança apresenta inquietação e irritabilidade. O quadro doloroso é agudo ou subagudo com limitação motora principalmente da marcha. Em média quando o diagnóstico é feito já se passaram 3 semanas do início dos sintomas. A discite na faixa pediátrica em geral compromete um único espaço discal, sendo mais frequente na região lombar. A infecção se localiza na porção subcondral do corpo vertebral adjacente ao disco, difunde-se para a superfície ventral envolvendo o disco e a seguir os ligamentos, a raiz nervosa e a musculatura para-vertebral. A comprovação de alterações inflamatórias em um espaço discal, vertebral e em tecidos moles obtém-se através de RX convencional, tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM). No início o RX pode ser normal. Somente 4 a 6 semanas de evolução o RX mostra redução da altura discal, porém a RM é o exame mias sensível na fase inicial mostrando extensão tanto da lesão de partes moles quanto a disseminação óssea. A cintilografia com tecnécio 99 é positiva na maior parte dos casos. A avaliação laboratorial é inespecífica e a maioria tem velocidade hemossedimentação (VHS) elevada. O agente causal mais frequente é o stafilococo aureus. Tratamento por 6 a 8 semanas. 141 Rotinas de Pediatria Geral INVESTIGAÇAO CLÍNICA E LABORATORIAL 1 - Anamnese – uma história clínica bem feita por meio de coleta dos sinais e sintomas extra-articulares, como febre, anorexia, perda ponderal, adenomegalias, toxemia e outras doenças. Importante considerar: a - duração dos sintomas, se menor que seis semanas (aguda), se maior que seis semanas (crônica). b - número de articulações envolvidas (grandes, pequenas, axiais) – monoarticular – uma articulação inflamada – pauciarticular ou oligoarticular acomete menos de cinco articulações – poliarticular mais de cinco articulações. Na avaliação das artrites, considerar o padrão evolutivo, se é migratória, aditiva, intermitente, simétrica ou assimétrica. c - febre – investigar a presença de picos febris, duração , padrão evolutivo, se maior ou igual a 38ºC. Se a artrite for monoarticular pensar em infecção bacteriana (artrite séptica) o que poderá levar a acometimento ósseo (osteomielite). A febre pode estar associada também a doençanão infecciosa, como artrite idiopática juvenil (AIJ), lúpus, D. Kawasaki e até neoplasias; reduzindo o diagnóstico diferencial. Nas artrites reativas a febre pode anteceder ao quadro articular. d - Caracterizar a artrite quanto a dor, edema e rigidez e quantas articulações estão envolvidas. Estabelecer a graduação da dor, o ritmo, se intermitente, ou persistente. Se intermitente pensar em patologia mecânica que piora com o movimento (hipermobilidade, rompimento do menisco, na síndrome patelofemural ou doença Legg Calve Perthes. Verificar se existe algum fator que agrava ou melhora a dor; horário que ela mais incide, no início do dia, ou se melhora ao longo do dia com o movimento como, por exemplo, na AIJ. A dorarticular que se inicia no meio do dia e piora à noite lembrar de dores do crescimento e não se pode afastar diagnóstico de tumores ósseos. Artrite de início rápido se associa a artrite séptica, osteomielite, vasculite Púrpura de H. Schonlein. Criança que interrompe o sono da noite por dor, essa dor caracteriza-se como dor grave e sugere osteoma, neuroblastoma e leucemia. 142 Rotinas Pediatria Geral e - Identificar a localização e o número de articulações inflamadas contribui para o raciocínio do diagnóstico diferencial e para orientar o tratamento adequado. Se o acometimento for monoarticular como na atrite séptica e na osteomielite pensar em infecção bacteriana, se ocorreu trauma pensar em fratura ou hemartrose. Nas artrites temos o trauma como causa direta como fraturas ou lesões ligamentares e indiretas como osteomielite ou um fator que agravou uma lesão pré existente. f - Estabelecer o tempo em que a articulação permanece com o edema e dolorosa, e em quanto tempo o quadro se instalou. g - Caracterizar se o quadro é de artralgia ou artrite, onde a artralgia é uma dor articular sem nenhuma alteração no exame físico. h - Infecções antecedentes – quadros virais como parvovírus B19, HIV, varicela,infecções estreptocócicas, patógenos entéricos (salmonela, Yersínia, campylobacter) e imunizações. i - Envolvimentos de outros sistemas - avaliar febre, perda ponderal, astenia, emagrecimento, diminuição ou perda da força muscular ou sensação subjetiva de fadiga, distúrbio do sono, dor abdominal, conjutivite, ulcerações das mucosas, exantemas, nódulos subcutâneos, fotosseniblidade, sistema nervoso, urinário e cardio-circulatório. j - Antecedentes familiares, transfusão sanguínea, uso de remédios. Ainda na avaliação clínica é importante considerar os fatores de risco para artrite séptica aguda como: diabetes melitos, doença falciforme, hemofilia, imunodeficiência primária e secundária, artrite reumatóide juvenil, artrites crônicas, uso de próteses articulares, uso de drogas venosa, cirurgias recentes, hemodiálise e infecções cutâneas. 2 - Exame Físico – Ao realizar o exame físico das articulações cada uma deve ser examinada quanto a inspeção, palpação e mobilidade. 143 Rotinas de Pediatria Geral Inspeção – Avaliar o estado geral, nutricional, hidratação, coloração da pele e mucosas, presença de adenomegalias, hepatoesplenomegalia, sopros cardíacos, alteração nos níveis da pressão arterial que podem estar elevados nas vasculites e no lúpus. Na inspeção sempre que possível comparar as duas articulações, observar diferença de tamanho, assimetria, forma e rubor. Se uma única articulação é dolorosa, todo a extremidade deve ser examinada. O aumento do volume pode ser difuso ou localizado. Avaliar o aumento do volume, rubor, assimetria ou deformidades articulares. O aumento de volume é facilmente percebido em quadris, ombros ao contrário das articulações da coluna vertebral e sacroilíacas. Se existe aumento de volume em uma articulação é preciso verificar a existência de derrame articular, espessamento sinovial, edema de tecido mole, supercrescimento ósseo, ou uma combinação destas anormalidades. A pele que recobre a articulação deve ser observada para verificar a presença de cicatrizes, contusões, rubor e calor decorrentes de processo infeccioso. • Palpação – A palpação é de relevante importância no exame físico, considerando a sensibilidade dolorosa, presença de calor, edema nos tecidos adjacentes, para afastar infecção, tumores ou traumas. Considerando causas nutricionais como origem de dor em lactentes com escorbuto, se houver dor à pressão digital próximo às articulações. Na suspeita de osteomielite a palpação deve ser cuidadosa e longe da área dolorosa progredindo lentamente para a articulação afetada. Na palpação o aumento do volume pode ajudar a evidenciar a consistência se é sólida, cística ou flutuante como no edema indicativo de gânglio, bursite, cisto do menisco,abscesso, derrame ouprocesso inflamatório. • Mobilidade – quando há limitação do movimento articular e houve relato de trauma ou deformidade visível é indicado colocar uma tala e realizar RX para afastar fratura ou luxação. Na ausência de trauma, avaliar a função da articulação. Verifica-se o grau de amplitude, movimentos ativos e passivos e contra resistência. 144 Rotinas Pediatria Geral Em alguns casos pode-se observar excesso de mobilidade, por exemplo, Ehlers Danlos, Sd de Marfam, pode ser consequente a artrite crônica, principalmente em pequenas articulações,mas também pode estar presente em crianças normais. Ao examinar a articulação dolorosa e a dor não se exarcebar se suspeita de dor referida, por exemplo, na psoíte (abscesso do psoas) onde a dor é referida no quadril e assume postura de flexão da articulação coxofemoral. INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL – EXAMES COMPLEMENTARES Para iniciar a investigação deve ser solicitados os exames relacionados no Quadro 5. Outros exames subsidiários só serão solicitados de acordo com o quadro clínico (Quadro 9). QUADRO 9. Exames laboratoriais iniciais que devem ser solicitados na investigação diagnóstica de pacientes com artrite aguda. Hemograma completo; Provas de atividade inflamatória: velocidade de hemossedimentação (VHS) e proteína C reativa; Desidrogenase lática (LDH); Sorologia para: mononucleose, citomegalovírus, parvovirus B19, antiestreptolisina - O (ASO), enterobactérias, clamídia; Transaminases; Urina 1; Hemocultura, coprocultura, urocultura e secreção vaginal ou peniana (quando indicados); Protoparasitológico; Hemograma – eritrograma - nas doenças articulares a anemia é quase sempre observada e pode ser anemia hemolítica, anemia da doença crônica ou anemia ferropriva pela falta de ingestão ou deficiente absorção de ferro. Anemia hemolítica pode ser doença falciforme, ou anemia autoimune presente no lúpus. Solicitar eletroforese de hemoglobina, teste de coombs direto e pesquisa de esquizócitos no sangue periférico. A anemia da doença crônica pode ser encontrada na AIJ e neoplasias. 145 Rotinas de Pediatria Geral Leucograma – Leucocitose associada a neutrofília está sempre presente nos processos inflamatórios. Lembrar que além dos processos inflamatórios, o uso de glicocorticóides e infecção são também causas de leucocitose. Às vezes encontramos leucopenia (< 4.000/mm3) no LES; leucemia, artrites, miosites virais ou estar relacionadas ao uso de drogas. Linfopenia abaixo de 1.500/mm3 também pode sugerir LES. Plaquetas – a plaquetose pode está presente em processos inflamatórios como AIJ e vasculite sistêmica. Plaquetopenia está presente no LES, na síndrome do anticorpo antifosfolipídio, síndrome de ativação macrofágica, leucemia e infecções virais. Resposta de fase aguda – na presença de processos inflamatórios a proteína C reativa (PCR) eleva-se rápido a partir de 6 horas, com pico após 50 horas, e pode chegar a 1.000 vezes os valores basais. VHS é o resultado das alterações nas concentrações de várias proteínas plasmáticas e as mais importantessão fibrinogênio e as imunoglobulinas. Eleva-se em 48 a 72 horas retornando aos valores normais 2 a 4 semanas após resolução do quadro. Outros exames a serem solicitados de acordo com a história clínica 1 – Prova/reagente de fase aguda a – Proteína amilóide A sérica b – Alfa 1 glicopreteína c – Ferritina 2 – Anticorpos antinucleares FAN Anti-DNA Anti-histona 6 – Fator Reumatóide 7 – Anticorpo anti-CCP 8 – Sistema de complemento C2, C3, C4, CH50, C1q e C3d 9 – Antígeno leucócito humano (HLA) HLA B27 e HLA B51 146 Rotinas Pediatria Geral 3 – Antirribonucleoproteínas Anti-Sm Anti-RNP Anti-Ro (SSA) e o Anti-La (SSB) Antiproteína P ribossomal Antitopoisomerase 1 Anticorpos miosite-específico (anti-Jo1, antiMi-2, anti-p155, anti-p 140, anti-NXP-2, anti-CADM-140 e anti-MDA-5). 4 – Anticorposantifosfolipídios Anticardiolipina Anti-Beta-2 glicoproteína-1 Anti-coagulante lúpico ( LA ) 5 – Anticorpo anticitoplasma e neutrófilo p-ANCA c-ANCA 10 – Imunoglobulinas 11 – Coagulograma 12 – Enzimas musculares (CPK e aldolase) 13 – Enzima conversora de angiotensina (ECA) 14 – Vitamina D 15 – ASO, cultura de orofaringe, Anti- DnaseB 16 – Punção articular e análise do líquido sinovial 17 – Exames de imagens (radiografias, tomografia computadorizada(TC), ressonância magnética, PET-scan, cintilografia. 18 – Mielograma. 19 – Mutações genéticas A ferritina é uma proteína de fase aguda, um importante marcador de atividade inflamatória na AIJ sistêmica, sobretudo na síndrome de ativação macrofágica (SAM). O fator antinuclear (FAN) é um importante método de rastreamento na confirmação das doenças autoimunes. Os padrões nucleares são descritos como (citoplasmático, centromérico e nucleolar), frequentemente refletindo a localização intracelular do antígeno alvo. Na primeira Conferência de Consenso internacional de Padronização dos Laudos de FAN (2014/2015), reconheceram três grandes grupos: nuclear, citoplasmático e mitótico. Os autoanticorpos ajudam no diagnóstico de várias doenças e podem ser indicativos do prognóstico. Títulos altos de FAN são constantes no LES; quando o FAN for negativo, o LES é pouco provável. Na população em geral o FAN pode estar presente em até 15% como também em doenças não reumatológicas como infecções, neoplasiasou efeito adverso de drogas. 147 Rotinas de Pediatria Geral O anti-DNA está presente em 70% dos pacientes com LES, é parâmetro paraacompanhamento de atividade da doença, principalmente nos casos de nefrite. A realização de ultrassonografia mostra a presença de derrame articular e a radiografia na fase inicial mostra aumento do espaço articular pelo derrame. As alterações ósseas são evidenciadas na radiografia (RX) a partir do 10º ao 14º dia com destruição progressiva da cartilagem articular, diminuição do espaço e erosões do osso subcondral. Nos casos de acometimento das sacroilíliacas e dos discos intervertebrais a tomografia computadorizada e a ressonância magnética mostram as alterações osteoarticulares em 24 a 48 horas após o início do quadro infeccioso. Está indicada a drenagem cirúrgica na artrite séptica do quadril, ombro e demais articulações quando não houver resposta terapêutica satisfatória em 48 horas. ARTRITE / Fluxograma 148 Rotinas Pediatria Geral REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, S. C. L. et al. Avaliação do paciente com artrite, Revista medicina, Ribeirão Preto, v. 43 nº 3 p. 283-291, 2010. BARBOSA PJB, MÜLLER RE, LATADO AL, ACHUTTI AC, RAMOS AIO, WEKSLER C, ET AL. Diretrizes Brasileiras para Diagnóstico, Tratamento e Prevenção da Febre Reumática da Sociedade Brasileira de Cardiologia, da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Sociedade Brasileira de Reumatologia. ArqBrasCardiol. 93(3 supl.4):1-18, 2009. BEHRMAN, R. E., KLIEGMAN, R., JENSON, H. B. Nelson: Tratado de Pediatria 18ª ed. Rio de janeiro: Elsevier. 2009. CARVALHO, M. F. F. PRONAP – Programa Nacional de Educação Continuada em Pediatria: Módulo de reciclagem, ciclo XVIII. v. 18. FUCS P. M. M. B.; YAMADA H. H.Infecções osteoarticulares em pediatria – Revisão, Pediatria Moderna, São Paulo, V. 50, nº 12, p. 560-565, 2014. IRAJ S. A. Doenças autoimunes e abordagens terapêuticas: 2015 ACR/ SLICC- Revisão de critérios para diagnóstico de lúpus eritematoso sistemico. Disponível em: <http://aperito.org/uploads/pdf/ADTAOA-2-114.pdf> Acesso em: 11 de out. 2016. KIMURA, Y. Evolução da criança com dor articular e ou edema. 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As neoplasias malignas em contrapartida são mais frequentes em crianças maiores de 1 ano. Os tumores abdominais malignos correspondem em torno de 16-20% das neoplasias da criança. Uma histórica clínica detalhada, com caracterização apropriada dos sintomas, associação de fatores de risco, comorbidades e histórico familiar, assim como exame físico minucioso são determinantes parao início da investigação. TABELA 1. Distribuição das neoplasias abdominais por frequência de acordo com faixa etária pediátrica RN E < 1 ANO 1-3 ANOS 3-11 ANOS ADOLESCENTES /ADULTOS Neuroblastoma Neuroblastoma Neuroblastoma Linfoma Nefroma mesoblástico Tu Wilms Tu Wilms Hepatocarcinoma Tu Wilms ( >6 meses) Carcinoma adrenal* Linfoma Sarcomas Teratomas Hepatoblastoma Carcinoma adrenal* Tu desmoplásico de pequenas células redondas Hepatoblastoma Leucemia Hepatoma/sarcoma *Nos estados de São Paulo e Paraná. Fonte: Adaptado de Steubet CP, Nesbit Jr ME. Clinical assessment and differential diagnosis of the child with suspected câncer. In: Pizzo PA, Poplack DG. Principles and practice of pediatric oncology .3rd ed. Philadelpia, New York. Lippincot-Raven Publishers, 1997. 10 MASSAS ABDOMINAIS Gabriela Maia Mota 152 Rotinas Pediatria Geral TABELA 2. Localização das principais massas abdominais de acordo com idade IDADE LOCALIZAÇÃO BENIGNOS MALIGNOS NEONATOS (0-4S) Retroperitoneal TGI Genital/pélvica Hidronefrose congênita, doença cística do rim, nefroma mesoblástico cogênito, hematoma suprarrenal Duplicação intestinal, cisto de omento/mesentério, cisto de colédoco, íleo meconial, hematoma (fígado, baço), lesões vasculares do fígado Cisto de ovário, teratoma sacrococcígeo Neuroblastoma LACTENTES (0 A 1 ANO) Retroperitoneal TGI Genital/ pélvica Nefroma mesoblástico congênito Duplicação intestinal, cisto de omento/mesentério, cisto de colédoco, megacólon, intussuscepção, hepatoesplenomegalia, lesões vasculares do fígado Cisto de ovário, teratoma maduro Neuroblastoma/ TU Wilms Hepatoblastoma Teratoma maligno CRIANÇAS (2-10 ANOS) Retroperitoneal Genitourinária TGI Bezoar, verminose, cisto de omento,/mesentério, cisto de colédoco, abcesso de apêndice Neuroblastoma/ TU Wilms/ Rabdomiossarcoma Hepatoblastoma, leucemia, linfoma ADOLESCENTES (1-16 ANOS) Retroperiotoneal Genitourinária TGI Hematocolpos, Hidrometrocolpos, gravidez (tópica/ectópica) Bezoar, Doença inflamatória intestinal TU de ovário/ carcinoma de suprarrenal Hepatocarcinoma , Linfoma Fonte: Extraído/adaptado Campos Vieira Abib, S, Cypriano, M. Abordagem das massas abdominais na infância. In: Mauro Batista de Morais, Sandra de Oliveira Campos, Maria Odete Esteves Hilário. Pediatria, Diagnóstico e Tratamento – UNIFESP. Editora Manole, Edição 1a/ 2013. 1105-1114. 153 Rotinas de Pediatria Geral TABELA 3. Síndromes genéticas e anomalias congênitas associadas a tu- mores abdominais SÍNDROME/ ANOMALIA DESCRIÇÃO NEOPLASIAS ASSOCIADAS Beckwith-Wiemann Hemi-hipertrofia, macroglossia, visceromegalia, onfalocele, hipoglicemia neonatal Tu Wilms, Hepatoblastoma, Rabdomiossarcoma, Carcinoma de suprarrenal Aniridia Ausência congênita da íris TU Wilms Hemi-hipertrofia corpórea Dimídio ou membro (superior, inferior ou ambos) maior que o contralateral TU Wilms Malformações genitourinárias Agenesia / hipoplasia renal, ectopia renal, rins em ferradura, obstrução da junção uretero- pélvica, válvula de uretra posterior, ectopia testicular/ criptorquidia, epispádia, hipospádia, duplicação ureteral/ pelve renal TU Wilms WAGR TU Wilms, aniridia, malformações genitourinárias, retardo mental TU Wilms Denys- Drash Pseudo-hermafroditismo, doença renal degenerativa Neuroblastoma Heterocromia Íris de cores diferentes Claude Bernard- Horner Ptose, miose e enoftalmia Neuroblastoma Fonte: Extraído/adaptado – Campos Vieira Abib, S, Cypriano, M. Abordagem das massas abdominais na infância. In: Mauro Batista de Morais, Sandra de Oliveira Campos, Maria Odete Esteves Hilário. Pediatria- Diagnóstico e Tratamento – UNIFESP. Editora Manole, Edição 1a/ 2013. 1105-1114. 154 Rotinas Pediatria Geral TABELA 4. Sinais e sintomas de alerta em crianças com tu abdominais SINAIS E SINTOMAS DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Adenomegalia supraclavicular esquerda TU abdominal Adenomegalia supraclavicular direita TU mediastinal Massa abdominal sólida e fixa TU maligno Varicocele no testículo esquerdo TU de Wilms Hipertensão arterial sistêmica TU de Wilms, Neuroblastoma, Feocromocitoma Dor óssea ou fratura patológica Neuroblastoma , leucemia Perda de peso, anorexia, febre, irritabilidade Neuroblastoma , leucemia Sangramento, hematoma, petéquias, anemia, nódulos subcutâneos Neuroblastoma, leucemia Proptose, hematoma periorbitário (olhos de guaxinim) Neuroblastoma Opsoclônus/ Mioclônus Neuroblastoma Sinais neurológicosde compressão medular Neuroblastoma /Rabdomiossarcoma paravertebral Fonte: Extraído/adaptado – Campos Vieira Abib, S, Cypriano, M. Abordagem das massas abdominais na infância. In: Mauro Batista de Morais, Sandra de Oliveira Campos, Maria Odete Esteves Hilário. Pediatria, Diagnóstico e Tratamento – UNIFESP. Editora Manole, Edição 1a/ 2013. 1105-1114. SINAIS DE ALARME= CHILDREN Contínua e inexplicada perda de peso; Cefaléia associada a vômitos pela manhã; (INCREASED) Aumento ou dor persistenteem ossos e articulações; 155 Rotinas de Pediatria Geral (LUMP) Nódulo ou massa em abdome, pescoço ou outras topografias; Desenvolvimento de área esbranquiçada em pupila ou olho ou qualquer alteração na visão; Recorrentes febres sem causa infecciosa; Excessivo sangramento; Noticiada fadiga e cansaço. EXAMES LABORATORIAIS ÚTEIS 1. HEMOGRAMA: Avaliar citopenias; 2. LDH: marcador inespecífico de proliferação celular (elevado em leucemias, linfomas e neuroblastoma); 3. Sumário de urina: afastar associação de infecção urinária e hematúria; 4. Marcadores tumorais: catecolaminas (neuroblastoma), alfafetoproteína, B-HCg (hepatoblastoma); 5. Raio X simples abdome: pode revelar calcificações (Neuroblastoma 50%); 6. Tomografia e Ressonância: com maior complexidade, devem ser indicados conforme avaliação de rastreio inicial; 7. Função hepática e renal conforme achados do interrogatório por órgãos e aparelhos e exame físico; 8. Ferritina: prova de atividade inflamatória que apresenta elevação significativa em determinadas neoplasias; 9. Rastreio para imunodeficiência conforme existência de sinais de alarme para condição: imunoglobulinas, RX tórax, ppd, sorologia HIV, CH50; 156 Rotinas Pediatria Geral FIGURA 1. Frequênciade encontro de calcificações na radiografia de abdome para tumores abdominais mais comuns na infância FIGURA 2. Características ultrassonográficas dos tumores abdominais mais comuns da infância REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KATHLEEN A NEVILLE, MD, MS, C PHILIP STEUBER, MD. Clinical assesment of the child with suspected câncer. UPTODATE. Disponível em . Acesso em 2/04/2017. ALBONEI DUDEQUE PIANOVSKI, M, TANAKA, E. Massas Abdominais. In: Lincoln Marcelo Silveira Freire Ediçao: 1a / 2008. Editora: Guanabara ISBN: 9788527713962. 899-905. Radiografia simples de abdome CALCIFICAÇÕES •Neuroblastoma (50%) •TU Wilms (<10%) •Linfoma não Hodgkin (raro) •Tumores Hepáticos (20-25%) •Rabdomiossarcoma (raro) •Formações ósseas (dentes, etc) •Teratoma (raro) Ultrassonografia Renal Sólida - Carcinoma renal TU Wilms Mista - TU Wilms Abcesso renal Cística - Rim policísticoSuprarrenal Sólida - Neuroblastoma, carcinoma, feocromocitoma Cística - Hemorragia, cisto Gânglios mesentéricos - linfoma Ovário Sólida - TU céls germinativas, Leucemia e Linfoma Cística- Cisto FIGURA 2. Características ultrassonográficas dos tumores abdominais mais comuns da infância FIGURA 2. Características ultrassonográficas dos tumores abdominais mais comuns da infância REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KATHLEEN A NEVILLE, MD, MS, C PHILIP STEUBER, MD. Clinical assesment of the child with suspected câncer. UPTODATE. Disponível em . Acesso em 2/04/2017. ALBONEI DUDEQUE PIANOVSKI, M, TANAKA, E. Massas Abdominais. In: Lincoln Marcelo Silveira Freire Ediçao: 1a / 2008. Editora: Guanabara ISBN: 9788527713962. 899-905. Radiografia simples de abdome CALCIFICAÇÕES •Neuroblastoma (50%) •TU Wilms (<10%) •Linfoma não Hodgkin (raro) •Tumores Hepáticos (20-25%) •Rabdomiossarcoma (raro) •Formações ósseas (dentes, etc) •Teratoma (raro) Ultrassonografia Renal Sólida - Carcinoma renal TU Wilms Mista - TU Wilms Abcesso renal Cística - Rim policístico Suprarrenal Sólida - Neuroblastoma, carcinoma, feocromocitoma Cística - Hemorragia, cisto Gânglios mesentéricos - linfoma Ovário Sólida - TU céls germinativas, Leucemia e Linfoma Cística- Cisto 157 Rotinas de Pediatria Geral REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBONEI DUDEQUE PIANOVSKI,M, TANAKA, E. Massas Abdominais. In: Lincoln Marcelo Silveira Freire.ed: 1ª. Editora: Guanabara ISBN: 9788527713962. 899-905, 2008. CAMPOS VIEIRA ABIB, S, CYPRIANO, M. Abordagem das massas abdominais na infância. In: Mauro Batista de Morais, Sandra de Oliveira Campos, Maria Odete Esteves Hilário. Pediatria- Diagnóstico e Tratamento – UNIFESP. Editora Manole, ed.: 1a. 1105-1114, 2013. CHUNG E.M.; BIKO D.M.; ARZAMENDI A.M.; MELDRUM J.T., STOCKER J.T. Solidtumorsoftheperitoneum, omentum, andmesentery in children: radiologic-pathologiccorrelation: fromtheradiologicpathologyarchives. Radiographics.;35(2):521-46; 2015. KATHLEEN A NEVILLE, MD, MS, C PHILIP STEUBER, MD. Clinicalassesmentofthechildwithsuspected câncer. UPTODATE. Disponível em: http://cursoenarm.net/UPTODATE/contents/mobipreview. htm?19/7/19569?source=HISTORY. Acesso em:2/04/2017. KHANDAKAR B1, MAITI M, DEY S, RAY PS, BHATTACHARYYA P, SARKAR R. PrimaryPaediatric Renal PrimitiveNeuroectodermal Tumor: A CaseReportandReviewoftheLiterature.TurkPatolojiDerg; 2017. 159 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO DEFINIÇÃO Diminuição global da celularidade do sangue periférico causado por distintas entidades patológicas e consequentes a um ou mais dos seguintes mecanismos: destruição celular medular ou periférica, sequestro ou diminuição da produção medular. É um conceito laboratorial quando encontramos: NEUTRÓFILOS: < 1000/mm3 para RN caucasianos e crianças até 1 ano de idade; < 1500/mm3 para pacientes da raça branca > de 1 ano. Indivíduos afrodescendentes apresentam limitesinferiores normais mais baixos - variam de 200 a 600/mm3 neutrófilos circulantes a menos. PLAQUETAS Plaquetas <150.000/mm3 HEMOGLOBINA Hb < 11 g/dl para pacientes entre 6 meses e 6 anos ou< 12 g/dl para pacientes entre 6 anos 1 mês e 14 anos. A pancitopenia pode ser classificada quanto a diversos parâmetros: Tempo: aguda ou crônica ( > 4 semanas) Intensidade: em relação a diminuição da celularidade. É considerada grave quando temos uma medula não regenerativa e constatamos pelo menos dois dos seguintes itens: 11 PANCITOPENIA NA INFÂNCIA Carlos Artur da Costa Moraes Selma Lessa de Castro Viviany de Oliveira Viana 160 Rotinas Pediatria Geral - Neutrófilos < 0,5 x 109 /l; - Plaquetas < 20 x 109 /l - Reticulócitos < 20 x 109 /l ANAMNESE Início dos sintomas; Sintomas associados: quadro febril, rash, icterícia, artrite, etc; História familiar; Uso de medicações, terapia imunossupressora; Exposição a agentes tóxicos/ambiental (animais, radiação, etc). EXAME FISICO: Sangramento muco-cutâneo, icterícia, hiperplasia gengival, queilite, exsu- dato faríngeo, taquicardia, sopro, linfadenopatia, hepatoesplenomegalia, rash malar, nefropatia, artrite, displasia fâneros, hipo ou hiperpigmentação da pele, baixa estatura, dismorfismo ósseo. ROTEIRO DIAGNÓSTICO: 1a Linha de Investigação (todos os pacientes) Hemograma completo e contagem de reticulócitos; sorologias virais (hepatite B e C, HIV, CMV, EBV e parvovírus); função renal, hepática e tireoidiana; coombs direto e indireto; Solicitar Mielograma: se gravidade clínica, linfadenopatia, hepatoesplenomegalia, pancitopenia grave, pancitopenia persistente > 1 semana; Se sinais neurológicos ou desnutrição: dosagem vitamina B12 e ácido fólico; Se sinais de artrite ou outros sintomas de mesenquimopatia: FAN; Se epidemiologia para calazar: K-39; Se sinais de hepatopatia: USG abdominal com doppler; 2ª Linha de Investigação: exames de primeira linha de investigação inconclusivos ou mielograma hipocelular; Solicitar biópsia óssea (pode ser realizado concomitante com mielograma se clinica ou laboratório na admissão duram mais que 4 semanas, há reticulocitopenia e há ausência de hepatoesplenomegalia); 161 Rotinas de Pediatria Geral Avaliação do especialista: oncologista, hematologista, reumatologista, infectologista, etc. Exames subsequentes conforme parecer do especialista: Citogenética – cariótipo do aspirado medular; DEB-teste para fragilidade cromossômica; Citometria de Fluxo para HPN; Outras sorologias; Anti-SM, Anti-DNA, complemento; Ferritina; Fibrinogênio; Triglicerídeos; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ERLACHER M, STRAHM B. MissingCells: Pathophysiology, Diagnosis, and Management of (Pan) Cytopenia in Childhood. Front Pediatr. 2015 Jul13;3:64 Int J Hematol.;101(6):527-35, 2015. MIANO M, DUFOUR C. The diagnosisandtreatmentofaplastic anemia: a review. Pediatr Rev.; 37(3):101-11, 2016. SHARMA R, NALEPA G. Evaluationand Management ofChronicPancytopenia. SILLS RH, DETERS A. Pancytopenia. In: Sills RH. PracticalAlgorithms in PediatricHematologyandOncology. New York: Karger; p. 12-3, 2003. WEINZIERL EP, ARBER DA. The differential diagnosis andbonemarrowe- valuation of new-onsetpancytopenia. Am J Clin Pathol.;139(1):9-29, 2013. 163 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO A Purpura Trombocitopenica conhecida como PTI, autoimune ou isoimune, de causa desconhecida, de natureza benigna, que se manifesta por trombocitopenia isolada observada melhor em exame hematológico, de crianças previamente saudáveis, com história ou não de sangramento visivel. Acomete principalmente crianças na faixa etária entre 2 e 6 anos de vida, com predomínio para o sexo masculino. A forma aguda é a mais comum encontrada em crianças, mas 10 a 20% podem evoluir para forma crônica, quando as manifestações persistem após 6 meses de acompanhamento clínico-hematológico. ETIOLOGIA Reconhecem-se autoanticorpos da classe IgG dirigidos a antígenos na membrana plaquetária, pois apesar de não sabermos a etiologia da doença, admite-se que ocorreria um processo infeccioso viral, nas semanas anteriores ao evento; e que os anticorpos aderidos à membrana plaquetária sejam reconhecidos pelos macrófagos, situados no baço e nos demais tecidos do sistema reticuloendotelial, ocorrendo a destruição plaquetária, e consequentemente, levando a plaquetopenia circulante, demonstrada no exame hematológico. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E LABORATORIAIS Em crianças e adolescentes a manifestação clínica mais comum é o sangramento, em forma de equimose, petéquia, ou sangramento mucoso (nasal, gengival, urinário,gastrointestinal ou genital) sendo que o sangramento para o SNC (intracraniano) o mais raro e o mais grave, ocorrendo em torno de 0,1%, nos casos de plaquetopenia mais intensa, com menos de 10.000/mm3. 12 PURPURA TROMBOCITOPENICA Mércia Lima de Carvalho Lemos 164 Rotinas Pediatria Geral A maioria é autolimitada, com mais de 70% na forma aguda, recuperando- se, e em alguns casos, até mesmo sem terapia especifica. São citados casos de crianças assintomáticas, que apesar de plaquetas em torno ou mais de 30.000/mm3, são descobertas ocasionais e que podem rapidamente retornar ao normal, seguindo um curso clínico favorável. O exame hematológico evidencia apenas a redução da série plaquetária, devendo-se por segurança, solicitar o mielograma, para que se possaafastar outras causas de redução da série. Nesse caso, o mais comum é demonstrar a série megaloblástica normal ou em hipercelularidade. Outros exames deverão ser solicitados, como por exemplo, as sorologias para os vírus mais comumente envolvidos, os das hepatites, citomegalovírus, Epstein Barr, HIV, dengue. A prudência em se realizar a pesquisa do FAN, deve-se a não comprovação da existência de critério precoce e isolado para LES. DIAGNÓSTICO 1. O Diagnóstico da PTI é de exclusão, com base na história clinica, exame físico e exame hematológico completo. Não há exame específico para o diagnóstico. Se ocorrer as seguintes situações abaixo: Presença de trombocitopenia (menos de 100.000/mm3 isoladamente), sem demais alterações nas outras séries do hemograma; Ausência de outras condições clínicas que cursam com trombocitopenia como, infecções (HIV, hepatites virais, EBV, CMV), doenças autoimunes, neoplasias, efeito adverso de medicamentos, doenças associadas a hiperesplenismo devido a hipertensão portal, síndromes mielodisplásicas, ou hemolítico-urêmica, CIVD, e outras. Avaliar a medula óssea (biópsia e aspirado) quando houver suspeita de neoplasia ou mielodisplasia como causa de plaquetopenia e/ou bicitopenia ou mesmo pancitopenia. CLASSIFICAÇÃO E CRITÉRIOS PARA TRATAMENTO: A PTI torna-se persistente quando houver plaquetopenia nos 3 a 12 meses após o diagnóstico. Considera-se crônica quando persistir por mais de 12 meses. Para tratamento neste protocolo, serão considerados os seguintes critérios: 165 Rotinas de Pediatria Geral 1. Na forma aguda:contagem de plaquetas abaixo de 20.000/mm3 ou contagem de plaquetas abaixo de 50.000/mm3,com sangramento; 2. Na forma crônica e refratária em crianças e adolescentes (menos de 18 anos de idade): com contagem de plaquetas abaixo de 20.000/mm3 de forma persistente, por pelo menos 12 meses após o diagnóstico; ou ausência de resposta aos corticoides e imunoglobulina humana intravenosa; eausência de respostaou contraindicação a esplenectomia; 3. Casos de emergência: quando a presença de sangramento é intracarniano ou mucoso, e/ou associado a instabilidade hemodinâmica ou respiratória, indica-se fazer transfusões de plaquetas - 3 unidades de plaquetas para cada 10 kg (dose mais elevada que o habitual). Pode-se fazer corticosteroide em altas doses (pulsoterapia) 30 mg/kg de metilprednisolona por 3 dias em crianças até a dose máxima de 1 g/dia; ouImunoglobulina humana intravenosa, na dose 1 g/kg por 1 a 2 dias (repete-se a dose no segundo dia se a contagem de plaquetas permanecer abaixo de 50.000/mm3). TRATAMENTO NA FORMA AGUDA RECOMENDAÇÕES GERAIS: 1. Há vários aconselhamentos para quem desenvolve PTI, mesmo que o evento mais temível seja o sangramento do SNC (0,1 a 0,5%), o risco de sangramento também aumenta com a atividade esportiva, uso de medicamentos com atividade antiplaquetária, p.ex. AAS e anti-inflamatórios) e recomenda-se exatamente o repouso e uma observação criteriosa, coma repetição dos exames hematológicos;pois via de regra, as crianças sem sangramentos evidentes, podem ter até regressão espontânea do quadro. De qualquer forma, o tratamento medicamentoso eleva rapidamente a contagem das plaquetas, reduzindo o risco de cronificação da doença. 2. Corticoterapia – existem vários ensaios clínicos sobre o uso do corticoide, citados noprotocolo do MS, de trabalhos científicos mostrando uso de doses baixas, moderadas e altas. Os corticoides mais utilizados são a Metilprednisolona (30 mg/kg/dia, endovenosa, por 3 dias) trouxe uma redução significativa no curso da doença, 166 Rotinas Pediatria Geral principalmente para sangramentos leves a moderados; e por via oral, com a Prednisona (1 mg/kg/dia) por 21 dias para crianças e adolescentes, com a redução progressiva da dose após adequada resposta terapêutica, estando indicados no tratamento inicial naqueles casos com sangramentos sem repercussão clínica significativa, como por exemplo, petéquias, púrpuras, epistaxe e gengivorragia leves. 3. Imunoglobulina Humana Intravenosa - nos estudos de metanálise de ensaios clínicos randomizados publicados de crianças com sangramento mucoso de maior repercussão clínica, e/ ou volumosas, com sangramento do trato digestivo ou urinário, a imunoglobulina humana intravenosa estará indicada, como uma forma de recuperação mais rápida e mais eficaz, prevenindo-se aqui os casos de cronificação da doença. Dose utilizada:1 g/kg/ dia por 1 a 2 dias (frascos de 0,5; 1,0; 2.5; 5,0 g para diluir em 1 g/20 ml AD). E rediluir em SG 5% 500 ml e iniciar infusão na dose de 0,01 ml/ kg/min e aumentando após 15 a 30 min para 0,02 ml/kg/min). Se ocorrer reação adversa, diminuir a velocidade de infusão e fazer antitérmico, anti-histaminico e hidrocortisona, ou até suspender a infusão em caso de colapso vascular e dispneia 4. Imunoglobulina anti-D – Ensaio clínico que mostrou utilizar a dose 75 mcg/kg em comparação com a convencional (1 g/kg por 2 dias), comprovou que o custo efetivo e a resposta terapêutica após 72h com contagem de plaquetas acima de 20.000/mm3, foi inferior, ou seja, a imunoglobulina convencional obteve melhor benefício. A imunoglobulina D não tem vantagens clínicas sobre a imunoglobulina convencional. TRATAMENTO DAS FORMAS PERSISTENTES E CRÔNICAS 1. Para crianças com a forma persistente da doença, uma segunda linha de tratamento com corticoide (especialmente dexametasona dose 10 a 20 mg/m2/dia até 40 mg/dia VO ou EV, durante 4 a 8 dias) deverá ser utilizada. Pode-se usar novamente a imunoglobulina humana, como outra opção nestes casos de não resposta ao corticoide de segunda linha. 167 Rotinas de Pediatria Geral 2. Nas formas crônicas, ou seja, aquelas crianças que apresentam re- cidivas de sangramentos e repetição de tratamento, deverá ser ava- liado a possibilidade de esplenectomia, que reduz efetivamente em 60 a 90% o risco de sangramentos,mas ainda não há um consenso sobre o momento ideal de ser realizado esse procedimento. Nesses casos há necessidade de fazer a vacinação previa para Streptococcus pneumoniae, Hemophilus influenzae b e Neisseria mmeningitidis. Podem-se utilizar imunossupressores como a azatioprina, ciclofos- famida ou vincristina a critério dos especialistas no seguimento dos casos crônicos e refratários ao tratamento. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Púrpura Trombocitopênica Idiopática. Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas: v. 2 / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010. RAFFINI, L. Evaluationof purpura in children. 2016. Upto Date – Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/evaluation-of-purpura-in-children. Acesso em: 28 de mar de 2017. 169 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO A indicação segura e correta de uma transfusão está relacionada à melhora clínica de umpaciente pediátrico. Nessa faixa etária, fatores relacionados à dose,a administração e a monitorização tem suas peculiaridades. Este capítulo tem por objetivo auxiliar a indicação e uso individualizado de cada hemocomponente. A Transfusão deve ser indicada quando os benefícios superam os riscos e não há alternativas apropriadas. Resultados de exames laboratoriais não devem ser o único guia para sua prescrição. Deve ser baseada principalmente na avaliação clínica e na luz das evidências publicadas e sempre registradas em prontuário. O processo da transfusão envolve desde a sua indicação, testes pré- transfusionais que demandam certo tempo, transporte das unidades, instalação e até amonitorização da transfusão. Casos em que haja dúvida sobre a indicação ou que envolva um maior risco devem ser discutidos com o especialista da instituição. Toda transfusão deve ter o consentimento da família. Toda criança que possivelmente requeira mais de uma transfusão deve ser imunofenotipada antes da primeira transfusão e deveria ter seu status deimunização contra Hepatite B avaliado. Atualmente a política restritiva e uso racional das transfusões estão relacionados até mesmo com melhor prognóstico de determinadas patologias. 13 HEMODERIVADOS NA INFÂNCIA Carlos Artur da Costa Moraes Marcia Lima Verde Campos de Oliveira Luiza Danielle Barros Lins 170 Rotinas Pediatria Geral Seguimos as recomendações do Manual do Uso Racional do Sangue do Hemocentro do Ceará que determina as normas de segurança no seu processo de produção de hemocomponentes, e na política de requisição, mas a indicação e prescrição são orientadas pelo seu médico prescritor. HEMOCOMPONENTES CONCENTRADO DE HEMÁCIAS PREPARAÇÕES: Concentrado de hemácias aliquotado: 1 Unidade de concentrado de hemácias contém cerca de 270 mL a 300 mL e é obtido atráves da remoção do plasma sobrenadante do sangue total – para volumes menores que 250 mL, a unidade será reduzida/aliquotada para atender o volume prescrito; Concentrado de hemácias desleucotizado:utilização de filtros para remoção de 99,9% dos leucócitos presentes. Devem ser solicitadas para crianças < 6 m (risco CMV), pacientes oncohematológicos e imunodeficientes, pacientes com reação hemolítica aguda prévia; Concentrado de hemácias lavado: retirada de proteínas plasmáticas. Solicitar em reações urticariformes prévias, pacientes com deficiencia de IgA e com Hemoglobinúria Paroxística Noturna; Concentrado de hemácias irradiado: para prevenir reação enxerto- hospedeiro e infecções por CMV. Indicados em RN até 28 dias, principalmente prematuros; imunodeficientes; Concentrado de hemácias fenotipados: CH tipados para antígenos de outros sistemas além do ABO para pacientes sensibilizados ou profilaticamente antes da primeira transfusão. Indicado para pacientes com transfusão regular, como anemias hemolíticas congênitas e pacientes em tratamento quimioterápico. Concentrado de hemácias por aférese: obtido através de centrifugação. 171 Rotinas de Pediatria Geral INDICAÇÃO: Corrigir o déficit na capacidade de carreamento de O2 ou com hipóxia tissular pelo número reduzido de hemácias. Não deve ser utilizado nos casos em que o déficit pode ser corrigido a tempo com ferritinicos e eritropoetina humana e para repor volume sanguíneo, exceto em perda maciça, ou para ajustar pressão oncótica. Prematuro: Estável, em crescimento, se Hgb <7 g / dL; SRSI, sem necessidade de oxigênio, se Hgb <10 g / dL; SRSI, com necessidade de oxigênio, se Hgb <12 g / dL; Anemia ligeiramente sintomática (por exemplo, apneia, taquicardia, Ganho insuficiente depeso), se Hgb <10 g / dL; Anemia sintomática (por exemplo, piora da apneia, hipotensão, Acidose, doença cardíaca), se Hgb <12 g / dL. Lactente < 4 meses de idade: Manifestações clínicas de anemia (por exemplo, apneia, taquicardia, ganho de peso inadequado), se Hgb <7 g / dL; Anemia peri-operatória, Hgb <10 g / dL, se não é possível corrigir a anemia antecipadamente; Sinais de Hipoxia ou em ECMO, se Hgb <12 g / dL; Cardiopatia cianótica, se Hgb <13 g / dL; Perda sanguínea aguda> 10% do volume sangüíneo, que não responde a outras formas de terapia; Choque clínico ou diminuição grave da PA, se Hgb <10 g / dL. Paciente > 4 meses de idade Perda sanguínea aguda> 15% do volume sanguíneo, Ou hipovolemia que não responde a outras formas de terapia; 172 Rotinas Pediatria Geral Na anemia aguda,quando Hematócrito <20% / Hemoglobina <7g/dL e sintomático. Indicação da transfusão entre7 e 10 g/dL de hemoglobina é menos clara. Verificar o quadro clínico (taquicardia, hipotensão). Pacientes graves mais estáveis com doenças não cianóticas com Hb > 7g/dl nao tiveram benefício com transfusão; Pré-Operatório: Com exceção de pacientes com doença falciforme, há evidências que pacientes com Hb > 7 g/dL não requerem um nível maior para cirurgias não cardíacas eletivas; B. Pós-operatório com sinais de anemia (por exemplo, apnéia) se Hgb <10 G/dL; Doença cardiopulmonar grave, se Hgb <12 g/dL; Pacientes que recebem quimioterapia ou irradiação, ou doentes com anemia crônica não reponsivo a tratamento medicamentoso, se Hgb <7 G/dL (pacientes sintomáticos podem ser transfundidos com nível de Hb maior); Nas complicações da doença falciforme (por exemplo, AVC, sequestro esplenico ou Síndrome Toracica Aguda) ou para a preparação pré-operatória desses pacientes; Nos regime de transfusão crônica para talassemia ou Desordens hipoproliferativas eritróides; Pacientes com anemia congênita crônica, exceto hemoglobinopatias, devem ser transfundidas a critério, se tem Hb <8 g/dL; Circuito principal para troca de plasma; DOSE: Para menores de 30 Kg - 10 mL/kg. (redimento de até 2 g/dL de Hb). Em casos selecionados pode-se chegar a 20 ml/kg; em pacientes com anemia grave e crônica, preferir volume reduzido e aliquotada (2 x 5 mL/kg). ADMINISTRAÇÃO: A transfusão pode ser administrada conforme a velocidade de perda, sendo aconselhável reavaliar o paciente após cada unidade transfundida, até que seja atingido o nível entre 20 e 30% de hematócrito / 7 e 10 g/dL de 173 Rotinas de Pediatria Geral hemoglobina e a estabilidade hemodinâmica. Aconselhável um tempo de infusão de 2 horas e nunca exceder 4 horas pelo risco de contaminação. Iniciar bem lento – 15 gts/min nos primeiros 5 minutos. Devem ser obrigatoriamente ABO compatíveis. CONCENTRADO DE PLAQUETAS PREPARAÇÕES: Concentrado de plaqueta randômica:cada unidade originada de um doador contém 0,5 a 0,75 x 1011 plaquetas, com volume aproximado de 50 mL; Concentrado de plaquetas por aferese: originada de um processo de centrifugação de doador único com volume de cerca de 250 mL contém em média a 3,5 x 1011 plaquetas (corresponde a 6 unidades de plaquetas randômicas e já leucorreduzidas). Concentrado de plaqueta obtido por buff-coat:obtidos através de dupla centrifugacao do sangue total. Cada unidade contém plaquetas oriundas de 4 a 5 doadores, em um volume de cerca de 300 ml. Concentrado de plaquetas desleucotizados: uso de filtros para reduzir leucócitos. Mesmas indicações como já discutido para concentrado de hemáceas. Concentrado de plaqueta irradiado: mesmas indicações da irradiação como discutido para concentrado de hemáceas. INDICAÇÃO: Correção de sangramento devido a plaquetopenia ou alterações funcionais das plaquetas, ou profilaticamente em pacientes plaquetopênicos selecionados. 1. Transfusão profilática: 1.1. Prematuros: A. prematuro estável: se <30.000/uL; B. prematuro com aspecto doente: se <50.000/uL; 174 Rotinas Pediatria Geral 1.2. Bebês a termo <4 meses de idade: se <20.000/uL: 1.3. Crianças > 4 mesesde idade: se <10.000/uL. Em crianças sem sangramentos e estáveis, uma contagem plaquetária de 10.000/mm3 ou superior está relacionado a poucos eventos hemorrágicos. 1.4. Pacientes Onco-Hematológicos: - Leucemias Agudasse < 10.000 plaquetas/mm3 em pacientes estáveis internados e 20.000 plaquetas/mm3 para pacientes instáveis (sinais de hemorragia, febre alta, hiperleucocitose, queda rápida na contagem plaquetária ou alterações na coagulação) ou que não possam ser mantidos sobobservação constante. Na LMA M3, manter > 20.000 plaquetas/mm3; - Tumores sólidos: 10.000 plaquetas/mm3 em pacientes estáveis e internados, e 20.000 plaquetas/mm3 para pacientes instáveis ou que não possam ser mantidos sob internação; - Falência de produção medular (Aplasia, SMD)se < 10.000/ mm3. Existem poucos estudos clínicosem pacientes com Trombocitopenia grave crônica, mas de modo geral se indica na vigência de sangramento (exceto petéquias) ou durante procedimentos que podem evoluir com sangramento; 1.5. Procedimentos Invasivos: Biopsia óssea 20.000/mm3; Endoscopia Digestiva Alta (EDA) 20.000 / 50.000/mm3; Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD) 50.000/mm3; Broncoscopia 20.000 / 50.000/mm3; Trombocitopenia neonatal aloimune 30.000/mm3; Cirurgias de grande porte 50.000/mm3; Trombocitopenia por transfusão maciça (dilucional) 50.000/mm3; Bypass cardíaco 100.000/mm3; 175 Rotinas de Pediatria Geral Neurocirurgia, cirurgia oftálmica 100.000/mm3; Biópsia hepática 50.000 / 100.000/mm3; Procedimento invasivo em cirróticos 50.000/mm3; Instalação de catéter peridural 50.000/mm3; Extração dentária 50.000/mm3; Instalação de catéter venoso central 30.000/ mm3 ( 20.000/mm3 se guiado por ultrassom); Punção lombar pediátrica 10 a 20.000/mm3. 2. Pacientes com sangramento: 2.1. Pacientes com sangramento ativo e contagem de plaquetas <50.000 / uL ( se sangramento retiniano ou em SNC manter > 100.000/mm3). 2.2. Sangramento em um paciente com defeito qualitativo plaquetário, independentemente da contagem de plaquetas. - Não há indicação de transfusão de plaquetas em PTI, SHU/PTT e trombocitopenia relacionada a uso de heparina. Exceções são em sangramentos que põe em risco a vida. Nestes casos se espera um rendimento inferior da transfusão e aumento de risco de trombose na PTT. DOSE: 1U para cada 5-7 Kg em transfusão terapêutica e para cada 10 Kg em transfusão profilática. Até o máximo de 8 U (plaquetas randômicas) ou 1 U aférese. Correr EV aberto. Deve ser ABO compatível sempre que possível. PLASMA FRESCO CONGELADO INDICAÇÕES: TP ou TTPA > 1,5-2 vezes o valor normal médio de um paciente sem hemorragia, programado para cirurgia ou procedimento invasivo; 176 Rotinas Pediatria Geral Sangramento microvascular difuso em paciente com TP ou TTPA > 1,5 vezes o valor normal médio ou valores ainda não disponíveis; Overdose de warfarina com hemorragia grave ou cirurgia iminente; Pacientes com púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) submetidos atransfusão ou troca de plasma; Deficiência de Proteína C, proteína S, ou anti-trombina III, ou outro fator único se nenhum produto está disponível e o paciente está sangrando; Sangramento secundário à deficiência de vitamina K. DOSE: 10 ml/kg EV em 1 hora. ( 1 U= 200 a 250 ml) CRIOPRECIPITADO A. Desordem quantitativa do fibrinogênio com fibrinogênio <100 mg / dL e em preparo Para procedimento invasivo; B. Transtorno qualitativo do fibrinogênio com sangramento difuso ou programado para invasão procedimento; C. Doença de Von Willebrand ou hemofilia A (deficiência de fator VIII) DOSE: 1 U para cada 10Kg ( 1U = 10 mL – para menores de 10 Kg solicitar aliquota – prescrever em mL). Infundir aberto. REAÇÕES TRANSFUSIONAIS São agravos ocorridos durante ou após a transfusão sanguínea e a ela relacionados,podendo ser imediatas ou tardias, imunológicas ou não imunológicas. 177 Rotinas de Pediatria Geral CLASSIFICAÇÃO IMUNEx NÃO IMUNE Imediato <24 horas - Reação febril não hemolítica - Reação hemolítica - Reação alérgica - TRALI - Contaminação bacteriana - Hipercalemia - Sobrecarga de volume - Hemólise não imune - Embolia gasosa - Hipotermia - Hipocalcemia Tardio >24 horas - Aloimunização eritrocitária - Hemólise - Aloimunizaçãoplaquetária - Sobrecarga de ferro - Doenças infecciosas Reação febril não hemolítica (RFNH) Reação transfusional mais comum; Definida como elevação de 1ºC na temperatura do paciente que não pode ser explicada por sua situação clínica; Pode ocorrer no ínicio, durante ou até 2 horas após o ínicio da transfusão. Alterações laboratoriais: Calafrios, tremores. O que fazer? Suspender a transfusão imediatamente; Verificar todos os registros, formulários e a identificação do receptor; Verificar os sinais vitais; Comunicar à agência transfusional e ao médico do paciente; 178 Rotinas Pediatria Geral Medicar com dipirona ou paracetamol; Manter equipo e bolsa intactos, encaminhá-los a agência transfusional; Notificar a reação. REAÇÃO HEMOLÍTICA IMUNE AGUDA Ocorre quando anticorpos pré-formados no receptor interagem com antígenos (Ag) das hemácias transfundidas, causando uma reação transfusional imediata As reações hemolíticas transfusionais mais graves estão relacionadas à incompatibilidade ABO. Os sintomas começam após a infusão de apenas10 -15 ml de sangue incompatível. Caracterizada por hipotensão abrupta com choque, hematúria, oligúria ou anúria e desencadeamento de CIVD, dores no tórax, tremores, dispnéia. Potencialmente fatal. Alterações laboratoriais: Queda de Hb/ Ht; Elevação da bilirrubina, LDH; Coombs Direto: Positivo; Avaliar hemostasia TP, TPTA, fibrinogênio; O que fazer? Suspender a transfusão imediatamente; Verificar todos os registros, formulários e a identificação do receptor; Verificar os sinais vitais; Comunicar à agência transfusional e ao médico do paciente; Manter acesso; 179 Rotinas de Pediatria Geral Fazer hidratação com Soro Fisiológico 0,9%; Sondar o paciente para avaliar diurese; Manter equipo e bolsa intactos, encaminhá-los a agência transfusional; Notificar a reação; REAÇÃO HEMOLÍTICA IMUNE TARDIA Ocorre geralmente nas duas primeiras semanas apósa transfusão; Geralmente associado aantígenos de grupos sanguíneos que não o ABO; Alterações laboratoriais: Queda ou não elevação da hemoglobina, Icterícia; Reticulocitose. O que fazer? Acompanhar ambulatorialmente; Notificar a reação; TRALI É definida como nova lesão pulmonar aguda (ALI – acute lung injury) potencialmente fatal; Complicação grave indistinguível da Síndrome da Angústia respiratória do Adulto (SARA); Associado à presença de anticorpos anti- HLA - específicosou leucoaglutininas no plasma do doador, que reagem com antígenos do receptor; Aparecimento até 6 horas após a transfusão; 180 Rotinas Pediatria Geral Associada à transfusão de componentes que contém plasma (normalmente mais de 60 mL de plasma); Alterações laboratoriais: Início súbito de hipoxemia; Dispnéia e cianose; Infiltrado pulmonarbilateral ao Rx de tórax; Hipotensão moderada a severa; O que fazer? Suspender a transfusão imediatamente; Manter acesso pérvio com SF 0,9%; Verificar todos os registros, formulários e a identificação do receptor; Verificar os sinais vitais; Comunicar à agência transfusional e ao médico do paciente; Garantirsuporte ventilatório; Se necessário encaminhar paciente a UTI; Manter equipo e bolsa intactos, encaminhá-los a agência transfusional; Notificar a reação.Reações alérgicas e anafiláticas São atribuídas à exposição do receptor a substâncias solúveis presentes no plasma do doador que se ligam aos anticorpos da classe IgE pré formados; Reações podem ser leves como urticária, geralmente localizadas; Choque anafilático ocorre em 1 - 20.000 a 47.000 infusões de sangue ou componentes; 181 Rotinas de Pediatria Geral Ocorrem no início da transfusão (1 a 45 min), mas podem ocorrer até 3 horas após o término; Reações mais graves associadas à deficiência de IgA; O que fazer? Suspender a transfusão imediatamente; Verificar todos os registros, formulários e a identificação do receptor; Comunicarao médico do paciente; Medicar com anti-histamínicos; Notificar a reação. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação da Política Nacional de Sangue e Hemoderivados. Guia para uso de hemocomponentes, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Guia para o uso de hemocomponentes / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. NEW HV, BERRYMAN J, BOLTON-MAGGS PH, CANTWELL C, CHALMERS EA, DAVIES T, GOTTSTEIN R, KELLEHER A, KUMAR S, MORLEY SL, STANWORTH SJ. BRITISH COMMITTEE FOR STANDARDS IN HAEMATOLOGY. Guidelinesontransfusion for fetuses, neonatesandolderchildren. Br J Haematol. 2016. PEDIATRIC TRANSFUSION THERAPY. Editedby Jay H Herman and Catherine S Manno. AABB. Dec;175(5):784-828, 2002. ROSEFF, SD; LUBAN, NLC; MANNO, CS. Guidelines for assessingappropriatenessofpediatrictransfusion. Transfusion; 42:1398- 1413, 2002. SZCZEPIORKOWSKI ZM, DUNBAR NM. Transfusionguidelines: whentotransfuse. HematologyAmSocHematolEducProgram, 638-44, 2013. TRELEAVEN J, GENNERY A, MARSH J, NORFOLK D, PAGE L, PARKER A, SARAN F, THURSTON J, WEBB D. Guidelinesonthe use ofirradiatedbloodcomponentspreparedbythe British Committee for Standards in Haematologybloodtransfusiontask force. Br J Haematol. 152(1):35-51, 2011. 183 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO Definições Crise Epiléptica ou Convulsiva- é a manifestação clínica de uma descarga síncrona, excessiva e anormal de neurônios residindo primariamente na região do córtex cerebral. Tal atividade paroxística anormal é intermitente, usualmente autolimitada e com duração de segundos a poucos minutos. Epilepsia- para que haja o diagnóstico de epilepsia, é necessário preenchimento de algum dos critérios: Existência de duas ou mais crises não provocadas, com intervalo maior de 24h entre elas; Uma crise não provocada e uma probabilidade de novas crises semelhante ao risco de recorrência geral após duas convulsões não provocadas (por exemplo, ≥ 60 por cento), ocorrendo nos próximos 10 anos; Diagnóstico de uma Síndrome Epiléptica definida (Ausência, Rolândica); Etiologia Segundo a International League Against Epilepsy (ILAE), em sua classificação de 2017, são reconhecidas seis categorias etiológicas de epilepsia. Genética- definida como sendo resultado direto de defeito genético conhecido ou presumido e em que a epilepsia é a manifestação cardinal; 14 INVESTIGAÇÃO DE CRISES EPILÉPTICAS Antônio Alexandre Leite Mendonça Miná 184 Rotinas Pediatria Geral Estrutural - causas estruturais distintas podem estar associadas a risco substancialmente aumentado de desenvolvimento de crises epilépticas. As epilepsias estruturais podem ser adquiridas (AVC, Trauma, Imune) ou congênitas (Esclerose Tuberosa); Metabólica - encontram-se nessa classificação as epilepsias em que alterações metabólicas aumentam substancialmente o risco de crises epilépticas, como Deficiência de Glut-1 (hipoglicorraquia importante quando comparada a glicemia pareada); Imune - processo inflamatório imuno-mediado levando a risco aumentado decrises epilépticas como encontrado na Encefalite Autoimune com Anticorpos Anti-Receptor NMDA; Infecciosa - podem levar a crises epilépticas isoladas como a epilepsia. As causas são inúmeras, como vírus, micobactérias, fungos, parasitas. No Brasil, entre adultos, figura como uma das principais causa a neurocisticercose; Desconhecida - nessa classificação, encontram-se todas as epilepsias sem alterações de imagem, metabólicas e sem base genética definida. Conhecida anteriormente como criptogênica. Importante salientar, no entanto, que podem coexistir mais de uma etiologia como a esclerose tuberosa, por exemplo, que é genética, mas que também cursa com alterações estruturais. Diagnóstico Diferencial Dentre os diagnósticos diferenciais, encontram-se situações como distúrbios paroxísticos não epilépticos, tais como migrânia, vertigem paroxística benigna, pseudocrises psicogênicas, síncope. Epilepsia também pode ser difícil de diferenciar de distúrbios do movimento, como tiques. Algumas vezes distúrbios do sono como sonambulismo, terror noturno também podem ser descritos pelos familiares como crises epilépticas. Em lactentes, doença do refluxo gastroesofágico pode se manifestar com opisótono, hipertonia, desvio ocular, chamado de Sd. de Sandifer. 185 Rotinas de Pediatria Geral Investigação Clínica A avaliação clínica de paciente com epilepsia passa pelo detalhamento da história, buscando-se obter dados de momentos precedentes, concomitantes e após a crise. A descrição de sintomas é extremamente importante. Se possível, obter informações com pessoas do convívio da criança como professoras, cuidadoras, pais e parentes, que possam ter realmente presenciado o fato. Reportar-se à criança também pode trazer riqueza de detalhes à anamnese. É importante questionar o momento em que a crise acontece (apenas durante a noite ou durante o dia também), se ocorre apenas associada a febre ou a processos infecciosos, sobre o uso de medicações, que possam precipitar crises. Descrição sobre fatores desencadeantes, como estímulos em áreas específicas do corpo, pequenos traumas, esforço físico, podem ser importantes na diferenciação de convulsões e outros eventos não epilépticos, como uma síncope de origem cardíaca, por exemplo. Durante o ato, o relato da movimentação de membros, abertura ocular ou da cavidade oral, responsividade a estímulos verbais ou dolorosos também podem contribuir para o diagnóstico. Presença de cefaleia no pós-ictal pode ser bem comum, no entanto, pouco provável antecedendo uma crise epiléptica, podendo corroborar com um diagnóstico de migrânia. Em se tratando de história pregressa, é importante questionar sobre qualquer atraso, estagnação ou involução do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM). Indagar sobre história familiar de epilepsia, quadros de atraso de DNPM, consanguinidade, intercorrências na gestação, uso de drogas lícitas ou ilícitas pela mãe na gravidez, condições de parto, além de intercorrências neonatais, como icterícia, infecções, distúrbios hidroeletrolíticos. Idades paterna e materna também podem influenciar na definição etiológica de epilepsia, especialmente no que se refere a alterações cromossômicas. O exame físico desempenha papel crucial da determinação da epilepsia. Presença de dismorfismos faciais, movimentos discinéticos, alterações oftalmológicas, ou cutâneas (fibromas, manchas café-com-leite), alterações de reflexos, hemagiomas em face, cardiopatias podem ser determinantes para o diagnóstico. 186 Rotinas Pediatria Geral Passando aos exames complementares, toda criança, com crises epilépticas recorrentes, deveria ser submetida ao eletroencefalograma. Excetuam- se aqui, aquelas cujas crises sabidamente são provocadas, como um paciente diabético, em uso de insulina, que convulsiona sempre que apresenta hipoglicemiapor excesso da medicação ou privação alimentar. O eletroencefalograma deve ser realizado por pessoa com larga experiência na execução e interpretação em crianças. Neuroimagem também deve ser executada, a fim de que se evitem custos elevados de investigação com doenças genéticas ou metabólicas mais raras. A neuroimagem pode determinar alterações estruturais de causas diferentes, tais como neoplásica, vascular, traumática, infecciosa, malformações, origem familiar/neurocutânea. Uma tomografia computadorizada (TC) pode ser suficiente quando a suspeita recair, por exemplo, sobre condições hipóxico-isquêmicas, neurocutâneas, como esclerose tuberosa, infecciosas, como neurocisticercose. No entanto, TC de crânio normal não afasta a necessidade de realização de exame mais acurado, como a Ressonância Magnética de Encéfalo, que se torna mandatória especialmente em epilepsias no primeiro ano de vida. Se, apesar de história e exame físico detalhado, exames laboratoriais básicos iniciais, afastando crises provocadas, e neuroimagem ainda não determinarem a etiologia, surge a necessidade de exames laboratoriais mais sofisticados. Nesse momento, devem ser solicitada coleta de líquor com análise de glicorraquia, lactato, cromatografia de aminoácidos, sempre pareados com a dosagem sérica. Pesquisa de ácidos orgânicos urinários, perfil de acilcarnitinas, piruvato séricos. Coleta de cariótipo pode ser indicada se estiverem presentes dismorfismos. Se houver suspeita de encefalite autoimune, coletar no líquor pesquisa de anticorpos antireceptor NMDA. Painéis genéticos específicos para epilepsia também podem ser necessários e, algumas vezes, apenas o sequenciamento de exoma vai definir o diagnóstico. 187 Rotinas de Pediatria Geral Fluxograma ácidos orgânicos urinários, perfil de acilcarnitinas, piruvato séricos. Coleta de cariótipo pode ser indicada se estiverem presentes dismorfismos. Se houver suspeita de encefalite autoimune, coletar no líquor pesquisa de anticorpos antireceptor NMDA. Painéis genéticos específicos para epilepsia também podem ser necessários e, algumas vezes, apenas o sequenciamento de exoma vai definir o diagnóstico. Fluxograma REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS WILFONG A. Seizures and epilepsy in children: Classification, etiology, and clinical features. Em: UpToDate (Acessado em 12 de maio de 2017). WILFONG A. Epilepsy syndromes in children. Em: UpToDate (Acessado em 12 de maio de 2017). WILFONG A. Clinical and laboratory diagnosis of seizures in infants and children. Em: UpToDate (Acessado em 13 de maio de 2017). ácidos orgânicos urinários, perfil de acilcarnitinas, piruvato séricos. Coleta de cariótipo pode ser indicada se estiverem presentes dismorfismos. Se houver suspeita de encefalite autoimune, coletar no líquor pesquisa de anticorpos antireceptor NMDA. Painéis genéticos específicos para epilepsia também podem ser necessários e, algumas vezes, apenas o sequenciamento de exoma vai definir o diagnóstico. Fluxograma REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS WILFONG A. Seizures and epilepsy in children: Classification, etiology, and clinical features. Em: UpToDate (Acessado em 12 de maio de 2017). WILFONG A. Epilepsy syndromes in children. Em: UpToDate (Acessado em 12 de maio de 2017). WILFONG A. Clinical and laboratory diagnosis of seizures in infants and children. Em: UpToDate (Acessado em 13 de maio de 2017). 188 Rotinas Pediatria Geral REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FISHER, R. S., CROSS, J. H., D’SOUZA, C., FRENCH, J. A., HAUT, S. R., HIGURASHI, N., HIRSCH, E., JANSEN, F. E., LAGAE, L., MOSHÉ, S. L., PELTOLA, J., ROULET PEREZ, E., SCHEFFER, I. E., SCHULZE-BONHAGE, A., SOMERVILLE, E., SPERLING, M., YACUBIAN, E. M. AND ZUBERI, S. M. Instruction manual for the ILAE 2017 operationalclassificationofseizuretypes. Epilepsia, 58: 531–542, 2017. WILFONG A. Clinicalandlaboratorydiagnosisofseizures in infantsandchil- dren. Disponível em:https://www.uptodate.com/contents/clinical-and-la- boratory-diagnosis-of-seizures-in-infants-and-children Acesso em: 13 de mai.2017. WILFONG A. Epilepsysyndromes in children. Disponível em: http://www. uptodate.com/contents/epilepsy-syndromes-in-children Acesso em: 12 de mai.2017. WILFONG A. Seizuresandepilepsy in children: Classification, etiology, andclinicalfeatures. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/ seizures-and-epilepsy-in-children-classification-etiology-and-clinical- features Acesso em: 12 de mai.2017 189 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO A incidência anual de acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi) em lactentes e crianças varia de 0,6 a 7,9/100.000 crianças por ano. Em adultos jovens menores de 45 anos, essas taxas sobem para 3,4 a 11,3/100.000 por ano entre brancos e 22,8/100.000 entre jovens negros por ano. Em várias séries, a prevalência é maior no sexo masculino, embora a explicação precisa para esse dado permaneça desconhecida. ETIOLOGIA A etiologia entre crianças e adultos jovens difere em relação aos eventos em adultos mais velhos. Entre os primeiros, destacam-se causas cardíacas, hematológicas, vasculopáticas, metabólicas, abuso de substâncias. Cardíacas - malformações cardíacas, com consequente cardioembolismo; hiperviscosidade (policitemia compensatória em cardiopatias cianogênicas); risco de endocardite infecciosa e êmbolo séptico em pacientes com valvopatias; dilatação de câmaras, com formação de trombos intracardíacos; arritmias. Hematológicas - cita-se como causa mais comum a anemia falciforme, em que a incidência chega a ser 300 vezes maior que em crianças e jovens sem doença falciforme. Condições pró-trombóticas, como síndrome do anticorpo antifosfolípide, deficiência de proteína C, deficiência de proteína S, deficiência de antitrombina III, Mutação no gene da protrombina. Algumas drogas como L - Asparaginase (quimioterápico) e Contraceptivos orais também se relacionam com AVCi, pelo seu efeito pró-trombótico. Vasculopáticas - incluem-se nessa etiologia anormalidades na vasculatura cerebral, sejam primárias ou secundárias. Síndrome de Moyamoya, que pode ser primária (Doença de Moyamoya) ou secundária (associada à neurofibromatose, Sd. Down, Sd de Willlimas entre outros); 15 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL Antônio Alexandre Leite Mendonça Miná 190 Rotinas Pediatria Geral Dissecções arteriais, secundárias a traumas ou espontâneas, estas associadas a distúrbio do colágeno como Ehlers Danlos ou Sd de Marfan; Vasculites - também podem ser primárias (Arterite de Takayasu, Poliarterite Nodosa, Arterite de Células Gigantes, Angeíte Primária do Sistema Nervoso Central- PACNS em inglês) ou secundárias (doenças sistêmicas com acometimento vascular, como lúpus, infecções bacterianas, virais, tuberculose). Outros - Citam-se síndrome de tortuosidade arterial, displasia fibromuscular, vasculopatia secundária a exposição a radioterapia, malformações vasculares. Metabólicas - homocistinúria, em que se observa elevação do nível sérico de homocisteína; doença de Fabry, distúrbio de depósito lisossomal, em decorrência da deficiência de Alfa-Galactosidase A; miopatia mitocondrial MELAS, onde estão presentes crises epilépticas, cefaléia, ácidose lática e eventos isquêmicos; acidemias orgânicas (metilmalônica, propiônica, isovalérica, acidúria glutárica tipos 1 e 2), deficiência de Ornitina Transcarbamilase (OTC). Abuso de substâncias- uso de drogas como metanfetaminas e cocaína, que levam a hipertensão, vasoespasmo ou vasculite. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Os diagnósticos diferenciais passam por condições que levem a déficits neurológicos agudos. Podem ser citadas situações de hemorragias intracranianas (ruptura de malformações arteriovenosas, de aneurismas); de anormalidadesvasculares como trombose de seios venosos cerebrais; de processos expansivos como tumores, abscessos; processos desmielinizantes como ADEM (do Inglês, Encefalomielite Disseminada Aguda), Esclerose múltipla; estados pós-ictais prolongados (Paralisia de Todd), algumas formas de migrânia. INVESTIGAÇÃO CLÍNICA A história clínica é fator essencial no início da investigação. Histórico prévio de cianose ou de cardiopatia previamente conhecida pode direcionar a investigação nesse sentido. História pregressa de anemia ou de eventos álgicos torácicos, ósseos, priaprismo podem suscitar a hipótese diagnóstica 191 Rotinas de Pediatria Geral de doença falciforme. A existência de sintomas sistêmicos como alterações urinárias, leões de pele, fotosensibilidade, podem induzir um diagnóstico de Lúpus, assim como hipertensão arterial com diferença de percepção de pulsos entre membros superiores e inferiores podem siginificar Doença de Takayasu. Exame físico evidenciando manchas café-com-leite chamam a atenção para neurofibromatose ou presença de hipermobilidade articular com lascidez cutânea levam a hipótese de Ehlers Danlos. Relatos de eventos isquêmicos desde o período neonatal podem advogar em favor de acidemias orgânicas. Diante de quadro sugestivo de AVCi, o passo inicial é definir a existência do mesmo, através de realização de neuroimagem. A Tomografia Computado- rizada pode ajudar na diferenciação entre AVCi e outras condições, como hemorragia intra-parenquimatosa ou processos expansivos como abscessos, em que se observe captação de contraste perilesional. No entanto, as alte- rações tomográficas relacionadas a AVCi, são melhor observadas após 24h do evento. Algumas alterações mais precoces podem surgir já com 6h, mas a sensibilidade oscila em torno de 61%. A imagem de eleição deve ser a ressonância magnética de encéfalo, com possibilidade de angiorressonância subsequente para melhor avaliação de território vascular. Uma vez determinada a existência do evento isquêmico e, se a história clínica não direcionar para uma causa óbvia, faz-se necessária investigação ampla. Exames laboratoriais simples como hemograma, gasometria arterial com lactato, provas de atividade inflamatória como VHS, PCR. Avaliação cardíaca com radiografia de tórax, eletrocardiograma, ecocardiograma e Holter. Eletroforese de Hemoglobina, especialmente na existência de anemia e de sinais de hemólise. Na existência de sintomas sistêmicos e de provas de atividade inflamatória positivas, pesquisar auto-anticorpos como FAN, Anti-DNA Dupla-hélice, Anti-Sm, ANCA’s, Anti-Beta-2-Glicoproteína-1, anticoagulante lúpico, coombs direto, anticorpos antifosfolípides. Sinais de serosite, de artrite também devem ser pesquisados, podendo ser necessária ultrassonografia de articulações, além de radiografia de tórax e ecocardiograma já mencionados. Sumário de urina, dosagem de proteinúria de 24h e função renal auxiliam na determinação de acometimento renal. 192 Rotinas Pediatria Geral Em sequência devem ser investigadas as trombofilias, com dosagens de Proteína S e C, Antitrombina III, Fator V de Leiden, Mutação do Gene da Protrombina. Se o diagnóstico permenecer e suspeita recair sobre doenças metabólicas (algumas tratáveis), solicitar dosagem de homocisteína (homocistinúria), pesquisa da atividade da Alfa-Galactosidase-A (Doença de Fabry), dosagem de amônia, piruvato, lactato, ácidos orgânicos urinários (acidemias orgânicas). Fluxograma 193 Rotinas de Pediatria Geral REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FILHO JO. Neuroimagingofacuteischemicstroke. Disponível em: https:// www.uptodate.com/contents/neuroimaging-of-acute-ischemic-stroke Acesso em: 15 mai.2017. ICHORD R. Stroke in newborn. Disponível em: https://www.uptodate.com/ contents/stroke-in-the-newborn Acesso em: 18 mai.2017. MOURA-RIBEIRO MVL, CIASCA SM. Afecções Vasculares Cerebrais Na Infância- Condutas. In: Moura-Ribeiro MVL, Ferreira LS. Condutas em Neurologia Infantil 2.ed. Rio de Janeiro: Revinter. p.150-164, 2010. SMITH SE, FOX C. Ischemicstroke in childrenandyoungadults: Etiologyandclinicalfeatures. Disponível em: https://www.uptodate.com/ contents/ischemic-stroke-in-children-and-young-adults-etiology-and- clinical-features. Acesso em: 15 mai.2017. 195 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO A involução do desenvolvimento apresenta duas características básicas: intervalo livre (período que criança se desenvolve adequadamente até o início dos sintomas) e um caráter evolutivo que culmina com o óbito. 16 INVOLUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR François Loiola Ponte de Souza INTRODUÇÃO A involução do desenvolvimento apresenta duas características básicas: intervalo livre (período que criança se desenvolve adequadamente até o início dos sintomas) e um caráter evolutivo que culmina com o óbito. A anamnese bem feita é fundamental para avaliação de um paciente com involução do desenvolvimento. Sempre devemos questionar a idade do início dos sintomas, se o início foi agudo, insidioso ou crônico. Avaliar história do nascimento, sempre investigando asfixia neonatal, prematuridade e risco de kernicterus. Questionar se há algum caso semelhante na família, história de morte precoce ou se pais são parentes. No exame físico, alguns dados são fundamentais: Perímetro cefálico (macro ou microcefalia), avaliação oftalmológica e auditiva, dismorfismos e presença ou não de visceromegalias. Evolução normal Atraso do Desenvolvimento Involução do Desenvolvimento A anamnese bem feita é fundamental para avaliação de um paciente com involução do desenvolvimento. Sempre devemos questionar a idade do início dos sintomas, se o início foi agudo, insidioso ou crônico. Avaliar história do nascimento, sempre investigando asfixia neonatal, prematuridade e risco de kernicterus. Questionar se há algum caso semelhante na família, história de morte precoce ou se pais são parentes. No exame físico, alguns dados são fundamentais: Perímetro cefálico (macro ou microcefalia), avaliação oftalmológica e auditiva, dismorfismos e presença ou não de visceromegalias. 16 INVOLUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR François Loiola Ponte de Souza 196 Rotinas Pediatria Geral Opacidade Corneana Ritinite Pigmentosa Mancha vermelho- cereja Atrofia Óptica Mucopolissacaridose Doenças Mitocondriais Lipofuscinose Ceróide Sandhof Niemann Pick A e C GM1 GM2 Canavan Krabbe Leigh Distrofia Neuroaxonal Infantil Fonte: Diagnostico diferencial em Pediatria 3ª edição - IMIP Os exames laboratoriais de rotina a serem solicitados são: Hemograma Completo, HIV, Rx ossos longos, Fundo de olho, EEG, Punção lombar e RM encéfalo. Opacidade Corneana Ritinite Pigmentosa Mancha vermelho- cereja Atrofia Óptica Mucopolissacaridose Doenças Mitocondriais Lipofuscinose Ceróide Sandhof Niemann Pick A e C GM1 GM2 Canavan Krabbe Leigh Distrofia Neuroaxonal Infantil Fonte: Diagnostico diferencial em Pediatria 3ª edição- IMIP Os exames laboratoriais de rotina a serem solicitados são: Hemograma Completo, HIV, Rx ossos longos, Fundo de olho, EEG, Punção lombar e RM encéfalo. ABORDAGEM Doença Substância Cinzenta com Visceromegalia Nieman Pick A - Diminuição da atividade da enzimaesfingomielinose -1o sinal ictericia neonatal persistente -Baixo Ganho ponderal - 50% mancha vermelho cereja -Maioria morre com 3 anos -Hepatoesplenomegalia Gaucher - Defeito da enzima glicocerebrosidase - Início 3 meses de vida - Irritabilidade + Trismo Estrabismo -Distúrbio Deglutição + Paresia Ocular -Acomete Medula Óssea: anemia; trombocitopenia, infiltraçaoM.O -Osteopenia, dor óssea -Morte com 2 anos Mucopolissacaridose 1 -Sem dismorfismo ao nascer - Face grosseira por volta dos 2 anos - Displasia esquelética progresiva -Hérnia inguinal, umbilical -Rigidez articular progressiva e contraturas -Perda de visão e audição -Anormalidades cardíacas - Para de crescer por volta dos 3 anos de idade Inicío Precoce Microcefalia Crises Convulsivas precoce e grave Reflexo normal ou aumentado ABORDAGEM 197 Rotinas de Pediatria Geral Outros exemplos de doenças que acometem a Substância Cinzenta com visceromegalia são: Gangliosidose que ocorre devido deficiência enzimática betagalactosidade, iniciando por volta do 6º ao 18º mês de vida, tendo como sintomas mais evidentes a fraqueza muscular, incoordenação motora e convulsões frequentes. Outra doença é a Síndrome de Sandhof, causada por uma deficiência grave de hexosaminidase A e B. Com relação a doenças que acometem a Substancia Cinzenta sem visceromegalia encontramos a Doença de Menkes que ocorre devido à má absorção de cobre, levando a um nível sérico baixo desse ion, levando a crises epilépticas graves associadas com perda de aquisições de forma rápida, entrando em estado vegetativo rapidamente. Doença Substância Cinzenta sem Visceromegalia Tay- Sachs - Deficiência grave da hexosaminidase A -Início 3o ao 6o mês: Reflexo tipo Moro ao som -Até 6 mes: Parada do Desenvolvimento e regressão motora - 1ano: Retardo Grave + Não responsivo + espástico - Quase 100% mancha vermelho cereja Lipofuscinose Ceróide - Início precoce (6 a 24 m) ou Tardio ( 6anos) - Precoce: Parada do crescimento PC + mioclonia + Atrofia Cerebral - Tardia: Queda rendimento escolar + Distúrbio do comportamento + Delírios Alucinações+ Crises epilépticas mioclônica e tônico -clonica graves RETT -Acomete só mulheres: mutação do gene no cromossomo X - Normais até 1 ano -Início: Parada do PC + Hipotonia + Perda de linguagem - Sinal Característico: movimentos estereotipados de lavar as mãos ( 2 anos) - Crises epilépticas inicia aos 3 anos -Espectro autista -Gritos inconsoláveis, interrompendo o sono Inicío Precoce Microcefalia Crises Convulsivas precoce e grave Reflexo normal ou aumentado Outros exemplos de doenças que acometem a Substância Cinzenta com visceromegalia são: Gangliosidose que ocorre devido deficiência enzimática betagalactosidade, iniciando por volta do 6º ao 18º mês de vida, tendo como sintomas mais evidentes a fraqueza muscular, incoordenação motora e convulsões frequentes. Outra doença é a Síndrome de Sandhof, causada por uma deficiência grave de hexosaminidase A e B. Com relação a doenças que acometem a Substancia Cinzenta sem visceromegalia encontramos a Doença de Menkes que ocorre devido à má absorção de cobre, levando a um nível sérico baixo desse ion, levando a crises epilépticas graves associadas com perda de aquisições de forma rápida, entrando em estado vegetativo rapidamente. 198 Rotinas Pediatria Geral Com relação às doenças que acometem substância branca ainda devemos lembrar a Doença de Canavan que é uma doença neurodegenerativa, caracterizada por leucodistrofia e degeneração esponjosa do cérebro. Inicia nos primeiros 6 meses de vida, apresentando macrocefalia, hipotonia e atrofia óptica. Posteriormente, ocorre hipertonia, apresentando postura de extensão da perna com flexão dos braços e retração da cabeça. Na neuroimagem, há degeneração difusa da substância branca cerebral. Doença Substância Branca Krabbe - Deficiência de Gactosilceramidase -Início 3 meses: irritabilidade importante - Surtos de febre sem causa explicada - -Reflexo abolido + Espasticidade - Mioclonia audiogênica -Crises epilépticas - Palidez ou Atrofia Óptica - LCR: Proteinorraquia - RM encéfalo: Hipersinal em T2 difuso -Maioria morre antes dos 2 anos de vida Leucodistrofia Metacromática - Problema na formação de mielina do SNC e SNP - Neuropatia periférica -Infantil tardio( 6m-2a): ataxia+ hipotonia+ atrofia óptica+ Diminuição Reflexo - Juvenil (3 -16 a): deficiência intelectual + Alteração comportamento + ataxia + convulsão -RM encéfalo: hipersinal periventricular ( início); Hiposinal tigróide na substância branca Adrenoleucodistrofia - Doença perosissomal ligada ao sexo -Afeta principalmente SNC, córtex adrenal e as células de leydig no testículo - Mulheres : forma mais leve - Início 4-8anos - Alteração comportamento: TDAH - Cegueira + Surdez - Convulsão - Sintomas Endócrinos: Insuficiência Adrenal Idade Tardio Macrocefalia Espasticidade precoce e grave -Neuropatia Com relação às doenças que acometem substância branca ainda devemos lembrar a Doença de Canavan que é uma doença neurodegenerativa, caracterizada por leucodistrofia e degeneração esponjosa do cérebro. Inicia nos primeiros 6 meses de vida, apresentando macrocefalia, hipotonia e atrofia óptica. Posteriormente, ocorre hipertonia, apresentando postura de extensão da perna com flexão dos braços e retração da cabeça. Na neuroimagem, há degeneração difusa da substância branca cerebral. 199 Rotinas de Pediatria Geral Existem duas infecções que estão relacionadas com involução do desenvolvimento. A primeira, é a Encefalopatia por HIV que tem início após 6 meses de forma progressiva, apresentando falha para atingir marcos da idade ou perda de marcos já adquiridos associado com prejuízo do crescimento cerebral, levando a microcefalia. Apresenta clínica de Síndrome Piramidal e convulsões são frequentes. Na neuroimagem, observamos: atrofia cerebral e calcificação de gânglios da base. O vírus do Sarampo pode levar a Panencefalite Esclerosante Subaguda após 7- 10 anos da infecção. É uma doença degenerativa e progressiva que se divide em quatro fases. A 1ª fase ocorre mudança do comportamento, letargia, dificuldade na escola. A Doença Mitocondrial Doença de Alexander - Tipo 1(<4a): convulsão + Atraso motor + Encefalopatia + Macrocefalia + Deterioração paroxística -Tipo 2(>4a): Disfunção autonômica + Anormalidade do movimento ocular + Sintomas Bulbares + Mioclonia palatina - Macrocrania + Espasticidade + Demência - RM encéfalo: Desmielinização Frontal -LCR: Proteinorraquia Doença de Leigh - Afeta neurônios do tronco cerebral, tálamp, ganglios da base e cerebelo - Início com 3 a 12 meses de vida - Distúrbios respiratórios: apnéia / hiperventilação - Alteração nervos cranianos - Nistagmo + Hipertonia + Babinski -Ataxia + Dismetria - Convulsões - Acidose Lática - RM encéfalo: Lesão necrotizante simétrica com aleração esponjosa -Associado com DM, baixa estatura , hipertricose - Anemia Ptose Retinite Pigmentosa Miopatia Surdez neurossensorial Existem duas infecções que estão relacionadas com involução do desenvolvimento. A primeira, é a Encefalopatia por HIV que tem início após 6 meses de forma progressiva, apresentando falha para atingir marcos da idade ou perda de marcos já adquiridos associado com prejuízo do crescimento cerebral, levando a microcefalia. Apresenta clínica de Síndrome Piramidal e convulsões são frequentes. Na neuroimagem, observamos: atrofia cerebral e calcificação de gânglios da base. 200 Rotinas Pediatria Geral O vírus do Sarampo pode levar a Panencefalite Esclerosante Subaguda após 7- 10 anos da infecção. É uma doença degenerativa e progressiva que se divide em quatro fases. A 1ª fase ocorre mudança do comportamento, letargia, dificuldade na escola. A 2ª fase é caracterizadapor mioclonias frequentes a cada 5-10 segundos que tendem durar de 3 a 12 meses. A 3ª fasehá predomínio de sintomas piramidais associado com rigidez descorticada e sinais de disfunção autonômica. A última fase é um estado vegetativo. O exame liquórico pode revelar uma proteinorraquia importante, além de anticorpos anti-sarampo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, J.G. O. IMIP. Diagnostico Diferencial em Pediatria. Med book ed. 3ª edição, 2013. FREIRE, LMS. Diagnostico Diferencial Pediatria. Ed. Guanabara Koogan, 2008. PERNETTA, C.Diagnostico Diferencial em Pediatria, 1985. 201 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO CONCEITOS O tônus muscular é definido como o estado de tensão permanente do músculo esquelético. Manifesta-se como leve resistência a movimentação passiva. A hipotonia ocorre quando há predomínio do sistema inibitório sobre o arco reflexo medular. Pode ser de origem Primária quando afeta alguma unidade motora ou Secundária quando a origem é cerebral. CLASSIFICAÇÃO HIPOTONIA CENTRAL HIPOTONIA PERIFÉRICA Anamnese - Anormalidade Pré-natal - Prematuridade - Crise epiléptica - Atraso do DNPM - Distúrbio Metabólico - imovimento fetal - Polidrâmnio - Atraso motor/ cognitivo - Distúrbio marcha - Distúrbio deglutição Exame Físico - Dismorfismo - Hepatomegalia e/ou esplenomegalia - Alterações cutâneas - Alterações esqueléticas - Face alongada - Palato ogival - Artrogripose - Cifoescoliose Exame Neurológico - Déficit Cognitivo - Hipotonia mais axial - Reflexos Presentes - Babinski Presente - Cognição preservada - Atraso Motor - Fraqueza muscular - Hiporreflexia Exame Complementar - RM Encéfalo - EEG - Cariótipo - Enzimas Musculares - ENM - Bx Muscular 17HIPOTONIA François Loiola Ponte de Souza 202 Rotinas Pediatria Geral CAUSAS DE HIPOTONIA CENTRAL Encefalopatia Não Progressiva - Malformações SNC - TORCHS - Hemorragia intracraniana - Síndrome Hipóxico Isquêmica - Síndrome do X frágil Encefalopatia Progressiva - Erros inatos do metabolismo - Lisossomopatias - Acidemia Orgânica - Ataxia Cerebelar Genética - Síndrome de Down - Síndrome de Angelman - Prader- Willi A Encefalopatia Não Progressiva pode ser de causa congênita (Malformações do Sistema Nervoso Central, como Lisencefália ou Holoprosencefalia) ou Adquirida, provocada por infecções (TORCHS, Zika), Traumas; Hemorragia Intracraniana (mais comum em prematuros) ou Síndrome Hipóxico- Isquêmica ( uma das principais causas em nosso meio). Caracteriza-se por uma hipotonia principalmente axial associado com déficit cognitivo e crises epilépticas recorrentes. A Síndrome do X frágil caracteriza-se pela presença de testículos aumentados, face larga, palato arqueado, convulsões frequentes, retardo mental, associados com autismo e atraso do desenvolvimento neuropsicomotor. As encefalopatias Progressivas se caracterizam pela piora progressiva dos sintomas. Geralmente estão associados com comprometimento cerebral. Sempre suspeitar de Erro Inato do metabolismo, principalmente doenças mitocondriais e Doença de Pompe. 203 Rotinas de Pediatria Geral Doenças genéticas e hipotonia: Síndrome Down - Trissomia do cromossomo 21 - Prega epicantal, prega simiesca - Língua protrusa - Prega única de flexão do 5º quirodáctilo. Síndrome de Angelman - Hipotonia Primeiros meses - Microcefalia + Retardo Mental - Crise epiléptica Difícil Controle - Marcha Atáxica - Sorriso Desmotivado Síndrome de Prader Willi - Hipotonia Primeiros meses - Hipotonia acentuada - Disfagia melhora no 2º mês de vida - Face estreita + nariz afilado - Mãos e pés pequenos - Hipogonadismo - Após 1ano g Hiperfagia + obesidade + Retardo mental Síndrome de Cohen - Obesidade + Hipotonia + Déficit Mental - Mãos e pés com dedos finos e longos - Cifoescoliose - Comportamento alegre e amável - Microcefalia + Hipoplasia Maxilar - Ponte nasal alta + Filtro nasolabial curto - Neutropenia Congênita Assintomática Síndrome de Zellweger - Hipotonia central marcante - Hiporreflexia - Convulsão - Catarata congênita - Colestase - Hepatomegalia - Fontanela Ampla + Palato ogival + condrodisplasia + nariz achatado 204 Rotinas Pediatria Geral CAUSAS DE HIPOTONIA PERIFÉRICA CAUSAS DE HIPOTONIA PERIFÉRICA Músculo Miopatia Congênita Distrofia Muscular Distrofia Miotônica Fraqueza proximal Reflexo normal ou ausente CPK normal ou pouco aumentada ENM padrão miopático Nemalínica - Acomete face, cervical e músculo proximal dos membros -Poupa musculatura extraocular - Deformidade esquelética Central- Core - Acomete musculatura escapular e pélvica -Hipomimia facial -Luxação Congênita de quadril Sintomatologia precoce CPK aumentada Bx muscular: padrão distrófico Merosina Negativa - 25% epilepsia -RN encéfalo: Alteração difusa substância branca -CPK bem aumentado Merosina Positiva - Mais benigno - Cognição normal - CPK normal ou pouco alta Doença multissistêmica Acomete músculo esquelético, liso, olhos, SNC Congênita - Polidrâmnio - Dificuldade sucção- deglutição - 50-60% Retardo mental Clássica - Catarata - Anormalidade cardíaca - Disfagia/ constipação -Alteração endócrina 205 Rotinas de Pediatria Geral Não muscular Corno Anterior da Medula Nervo Periférico Junção Neuromuscular Amiotrofia Espinhal -Cognição normal -Fraqueza muscular proximal ( MMII> MMSS) -Arreflexia - Fasciculação de Língua - Degenerativo Tipo 1 - Início com 6 meses - Marco máximo: sustentar cabeça Tipo 2 -Início com < 18 meses - Senta sem apoio Tipo 3 - Início com > 18 meses - Consegue deambular Síndrome de Guillain- Barré -Causa mais comum de paralisia flácida -Fraqueza muscular simétrica -Hipo/ Arreflexia -Pós vacinal/ Pós infecção Dejerine- Sottas -Neuropatia motora sensitiva hereditária (NMSH) -Hipotonia acentuada nos primeiros meses de vida - Hipomielinização generalizada - Óbito ou muitas sequelas Charcot- Marrie - NMSH - Tipicamente compromete marcha ( pé cavo) - Cognição normal -Não afeta esperança de vida Miastenia Neonatal Transitória -Mãe tem miastenia: passagem de anticorpos -Sintomas: 1as horas de vida -Ptose palpebral + choro fraco + Hipomimia facial - Dificuldade respiratória - Trata com Piridostigmina até 8 semanas de vida Miastenia Congênita - Disfunção da transmissão neuromuscular - Hipotonia e fraqueza muscular em diferentes grupos - Ptose palpebral + Oftalmoplegia - ENM: padrão decremental 206 Rotinas Pediatria Geral REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, J.G. O. IMIP. Diagnostico Diferencial em Pediatria. Med book ed. 3ª edição, 2013. FREIRE, LMS. Diagnostico Diferencial Pediatria. Ed. Guanabara Koogan, 2008. PERNETTA, C.Diagnostico Diferencial em Pediatria, 1985. PRORN. NEONATOLOGIA. Abordagem pediátrica do RN hipotônico V.2. 207 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO Neste grupo de afecções, serão abordadas as doenças dermatológicas mais graves que afetam as crianças e adolescentes e que são devidas a reações adversas a exposição à drogas e que envolvem a pele e mucosas, sendo as mais conhecidas como Síndrome de Stevens-Johnson (SSJ), Necrólise epidérmicatóxica (NET) e DRESS (drug reaction with Eosinophilia and sytemic symptoms). São igualmente temíveis, por apresentarem reações que determinam uma morbimortalidade elevada, se não forem bem conduzidas. Serão citados ainda para compreensão didática, conceitos relacionados ao eritema multiforme, bem como a pustulose exantemática aguda generalizada (PEGA), para que se possa separar os vários espectros de diagnóstico dessas doenças, já que as duas últimas citadas, não concorrem em gravidade com a SSJ e a NET. A síndrome de Stevens-Johnson (SSJ) e Necrólise Epidérmica Tóxica (NET), esta última também conhecida como síndrome de Lyell, são doenças semelhantes, com espectro clínico do eritema multiforme, mas que em ambas as situações ocorrem reações cutâneas severas causadas por medicação utilizada de forma prolongada ou insidiosa e caracterizada por febre, necrose extensa com destacamento da epiderme. O que diferencia a SSJ e NET, doenças com mesma apresentação clínica, érealmente a extensão e gravidade, baseadas principalmente no percentual de pele acometida no destacamento. A SSJ é a menos severa, pois ocorre destacamento de menos de 10% da superfície corpórea e a NET acomete mais de 10% ou 30% da superfície corporal. Ocorre mais raramente, sendo um caso para 1 milhão de habitantes ao ano, na Europa. 18 DERMATITES GRAVES MAIS FREQUENTES NA INFÂNCIA Mércia Lima de Carvalho Lemos Ana Glória Pinto 208 Rotinas Pediatria Geral O mecanismo exato como desenvolve a SSJ e NET ainda não está bem definido, mas sabe-se que ocorre alteração metabólica gerada pela ação das drogas, na presença de um genótipo de lenta acetilação, bem como na deficiência dos mecanismos de detoxificação de metabólitos intermediários reativos. As reações idiossincrásicas ocorrem no fígado, com a produção excessiva de metabólitos tóxicos nos indivíduos susceptíveis. Além do mecanismo metabólico, há vários dados sugerindo a participação imunológica, de células T citotóxicas ativadas, responsáveis pela necroseda epiderme, via apoptose de ceratinócitos, bem como níveis elevados de TNF-a . As perforinas, a GrB e o Fas L encontram-se elevados nos estágios iniciais da reação à droga, principalmente na SSJ e NET, o que induz-se a pensar na participação dos mecanismos citotóxicos. Foram observados também níveis significativamente elevados de IL-6 e da IL-10 nos pacientes com NET. A IL-6 é uma citocina pró-inflamatória multifuncional produzida por várias células, incluindo os ceratinócitos, e constitui o principal pirógeno endógeno circulante, explicando a presença de febre nestes casos. A IL-10 é um antipirógeno endógeno, produzido pelos ceratinócitos, com função de bloquear citocinas inflamatórias como IL-1, IL-6 e o FNT-a, além de potente supressor das funções dos macrófagos, células T e NK. Por outro lado, a IL-10 recruta linfócitos CD8+ do sangue, ocorrendo seu aumento no fluido contido nas bolhas na epiderme dos pacientes, constituindo um mecanismo natural contra a reação inflamatória tecidual excessiva. DIAGNÓSTICO 1. Na SSJ as lesões ocorrem como erosões mucosas, bolhas amplamente distribuídas em dorso das mãos, palmas e plantas dos pés, região extensora das extremidades, pescoço, face, orelhas, períneo; e máculas purpúricas cutâneas disseminadas, frequentemente confluentes, com sinal de Nikolsky positivo e destamento epidérmico (refere-se à perda da epiderme, que se faz às vezes por retalhos, limitado a menos de 10% de superfície corporal. Acomete também as mucosas oral, em 90% dos casos, olhos, genitais, faringe e vias aéreas superiores. Cerca de 10% a 30% dos casos, ocorre febre, lesões no trato gastrintestinal e respiratório. O prognóstico não parece estar afetado pelo tipo de droga responsável, nem a dose usada, nem por infecção pelo HIV(1,3,4). 209 Rotinas de Pediatria Geral 2.Na NET (sd de Lyell) tem como características iniciais sintomas inespecíficos, como quadro gripal, febre, dor de garganta, tosse e queimação ocular, que precedem 3 dias o acometimento cutâneo-mucoso. Surge erupção eritematosa simétrica na face, tronco, com extensão crânio- caudal, com sintomas de queimação ou dolorimento da pele. As lesões de pele são máculas eritematosas de contornos mal definidos, com centro purpúreo, e progressivamente envolvem o tórax anterior e o dorso. Às vezes a eritrodermia pode ser um exantema escarlatiniforme extenso. Em 2 a 5 dias ocorre a extensão das lesões, inicialmente em áreas fotoexpostas e depois há uma desnudação da epiderme necrótica, que se destaca em lamelas ou retalhos, contidos numa base eritematosa difusa. Há bolhas, pela elevação da epiderme, com conteúdo seroso, podendo confluir e romperem-se, dando um aspecto de grande queimado, deixando a derme desnuda, sangrante, eritemato-purpúrica, com perda hidroeletrolítica e proteicas elevadas, levando a ligeiro edema tecidual. O sinal de Nikolsky (destacamento da pele à pressão digital) ocorre com perda de retalhos de pele também pela pressão do decúbito. Em 80% a 95% dos pacientes têm acometimento mucoso, sendo comuns os olhos, gengivas, crostas labiais, fotofobia, micção e evacuação dolorosas. Podem levar a ceratite e erosões de córnea e conjuntivite pseudomembranosas. 3. Sd de hipersensibilidade à droga (DRESS) ocorre erupção grave, com febre, linfoadenopatia, hepatite, anormalidades hematológicas com eosinofilia e linfócitos atípicos, podendo envolver outros órgãos. Este é o fator que diferencia a síndrome DRESS de outras reações adversas graves. È comumente observada após uso de anticonvulsivantes (fenitoína, carbamazepina, fenobarbital, lamotrigina) e sulfonamidas, sais de ouro, alopurinol, dapsona, bloqueadores dos canais de cálcio, ranitidina, dipirona. TRATAMENTO O tratamento da SSJ é similar ao dos pacientes com queimaduras extensas, com raras exceções. Idealmente seria realizar uma biópsia de todos os pacientes para confirmação diagnóstica. Pode ser melhor acompanhado em ambiente de UTI e isolamento, evitando-se o frio e ao máximo o trauma cutâneo. Suspender imediatamente a(s) droga(s) suspeita que vinham sendo utilizadas, como por exemplo, anticonvulsivantes (carbamazepina, fenitoína, sulfas). 210 Rotinas Pediatria Geral Reposição de líquido endovenoso (hidratação e eletrólitos), alimentação por via boca, proteção gástrica, controle da dor e ansiedade. Manipulação cuidadosa e asséptica, criação do campo estéril, manutenção de acesso venoso periférico distante de áreas afetadas. A cobertura da pele desnuda pode ser realizada com uma membrana bilaminar sintética, mas na sua falta, se usa solução antisséptica de clorexidine e troca diária de curativos. Podem ser usadas compressas de SF 0,9% em gaze crepom. Não se usa sulfadiazina de prata nem se indica desbridamento de tecidos, estando contra-indicados. Iniciar antibioticoterapia, principalmente de largo espectro, que cubra prin- cipalmente contra gram positivo Staphylococcus aureus, inicialmente, e depois cobrir para gram negativos (Pseudomonas aeruginosa) ou pela Can- dida albicans, se necessário. Utilizar culturas de pele e mucosas, escaras, sangue e urina no primeiro dia, e cada 48h, se necessário.Avaliação oftal- mológica, lavagens com solução fisiológica, lubrificantes oculares cada 2h e antibiótico tópico. Quanto ao uso dos corticoides, ainda não há consenso, mas diversas revisões terapêuticas, concluíram pela não resposta satisfatória, e não se comprovou benefícios, sendo claramente deletério nas formas avançadas da doença, por retardarem a re-epitelização e aumentar o catabolismo proteico e o risco à infecção. A terapia com uso de imunoglobulinas EV, reduz o tempo de hospitalização, mas não altera a taxa de mortalidade pela NET. Outras terapias têm se tornadas promissoras, mas carecem de mais estudos, como por exemplo,a plasmaférese, ciclosporina, talidomida, inibidores de TNF-a, N-acetilcisteína e fator estimulante de colônias de granulócitos. Por fim, lembrar-se da profilaxia antitetânica, uma vez que as lesões cutâneas são porta de entrada também para outros germes. No DRESS, o tratamento se baseia na interrupção imediata da droga suspeita, mesmo suporte hidroeletrolítico, monitorização das funções hepática, renal, cardíaca e tireoideana. Não devem ser administrados antibióticos nem antiinflamatórios na fase aguda, pois há risco de mascarar sintomas e agravar o quadro. O uso do corticoide nesta doença se mostrou eficaz e satisfatório. 211 Rotinas de Pediatria Geral A Prednisolona oral ou Metilprednisolona EV (pulso de 30 mg/kg por 3 dias), iniciar com 1 mg/kg e diminuir gradualmente nos 3 a 6 meses subsequentes à estabilização clínica e laboratorial. Se a situação for grave e potencialmente fatal, doses maiores de corticoide ou Imunoglobulina EV 2 g/kg durante 5 dias e antivirais, estes últimos sempre associados a corticoide. Usar na pele emoliente, e se não houver sinais de gravidade, podem ser usados corticoides potentes, além de antihistaminicos H1 oral. Alternativas para os que não respondem aos esteroides: imunoglobulina in- travenosa, plasmaférese e imunossupressores (ciclofosfamida, ciclosporina, interferon, micofenolato mofetil e Rituximab). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BULISANI, A.C.P.; SANCHES, G.D.; GUIMARÃES, H.P.; LOPES, R.D.; VENDRAME, L.S.; LOPES, A.C. Sindrome de Stevens-Johnson e Necrólise Epidérmica Tóxica em Medicina Intensiva. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, vol. 18, n. 3, 2006. CABRAL, L; DIOGO, K; RIOBOM, F; TELES, L; CRUZEIRO, C. Necrólise Epidermica Tóxica (Síndrome de Lyell) Uma Patologia para as Unidades de Queimados. Acta Médica Portuguesa; 17; 129-140, 2004. CHOUDHARYS., MCLEOD M., TORCHIA D., ROMANELLI P. ClinDermatolAesthet., 6 (6): 31-37, 2013. Disponível em: www. doencasdress, Acesso em: 11 dez.2016. CRIADO, R, FACHINI J.;CRIADO,R.,P; VASCONCELOS, C. Reações cutâneas graves adversas à drogas: definições, sinais de alerta e opções terapêuticas. Revista Brasileira de Alergia e Imunopatologia, 26 (3); 110- 128, 2003. F.R., GESU G.D., MALAMAN MF., CHAVARRIA ML., BERND L A G. Reações de hipersensibilidade a medicamentos parteIII. Revista Brasileira alergia e Imunopatologia, 178-183, 2009. HIGH, WHITNEY, NIRKEN, MILTON, ROUJEAU, JEAN CLAUDE. Stevens Johnson syndromeandToxicepidermalnecrolepis: management, 212 Rotinas Pediatria Geral prognosisandlong-termsequelae. Disponível em: https://www.uptodate. com/contents/stevens-johnson-syndrome-and-toxic-epidermal-necrolysis- management-prognosis-and-long-term-sequelae. Acesso em: 11 dez.2016. MEIRA JUNIOR, J DONIZETI; SOUZA, JULCY TORRICELI; TONIOLLO, C. FELIPE; STOLF, H.OMETTO. 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