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PEDIATRIA GERAL Hospital Infantil Albert Sabin - Hias Rotinas de PEDIATRIA GERAL Rotinas de Fortaleza - Ceará 2017 Hospital Infantil Albert Sabin - Hias DIRETORA GERAL Dra. Marfisa de Melo Portela DIRETORA CLÍNICA Dra. Patrícia Jereissati Sampaio DIRETORA TÉCNICA Dra. Fábia Maria Holanda Linhares Feitosa GERENTE ADMINISTRATIVO/ FINANCEIRO Dr. Raimundo Farias Martins Amorim COORDENAÇÃO GERAL Dra. Maria da Conceição Alves Jucá Dra. Olívia Andrea Alencar Costa Bessa COORDENAÇÃO EDITORIAL E CAPA Diana de Vasconcelos Nunes Francisco Macílio Oliveira REVISÃO Diana Vasconcelos Nunes Dra. Olívia Andrea Alencar Costa Bessa DIAGRAMAÇÃO, IMPRESSÃO E ACABAMENTO Apex Gráfica e Editora SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁ Hospital Infantil Albert Sabin - Hias Copyright by Secretaria de Saúde do Estado do Ceará. Todos os direitos reservados Catalogação na Fonte: Bibliotecária Jacquelline Campelo Jucá - CRB 3/677 R842 Rotinas de pediatria geral: Hospital Infantil Albert Sabin – HIAS/ Conceição Alves Jucá, Olivia Andréa Alencar Costa Bessa, Viena Sales Ximenes Ávila, (organizadores). – Fortaleza: Apex, 2017. 212p. ISBN 978-85-98642-21-5 1. Pediatria. 2. Protocolos Clínicos – Pediatria. 3. Diagnósticos terapêuticos – Internação hospitalar. I. Maria da Conceição Alves Jucá. II. Olívia Andrea Alencar Costa. III. Viena Sales Ximenes Ávila. IV. Título. CDD 618.92 Organizadores Maria da Conceição Alves Jucá Pediatra, com Mestrado em Saúde da Criança e Adolescente pela Univer- sidade Estadual do Ceará - UECE. Coordenadora da Unidade de Pediatria Geral e Supervisora do Programa de Residência Médica em Pediatria do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Professora de Práticas Médicas em Semiologia Pediátrica do curso de Medicina da UECE e Professora do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Olivia Andréa Alencar Costa Bessa Pediatra com Residência Médica em Pediatria e Mestrado em Patologia das Doenças Tropicais pela Universidade Federal do Ceará - UFC. Doutora em Pediatria pela Escola Paulista de Medicina/ Universidade Federal de São Paulo - EPM/ UNIFESP. Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria - SBP e AMB e em Educação para as Profissões da Saúde pela Foundation for Advancement of International Medical Education and Research (FAIMER). Professora Adjunta do Curso de Medicina e do Programa de Mestrado em Ciências Médicas da Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Coordena o Núcleo de Pesquisa do Hospital Infantil Albert Sabin. Viena Sales Ximenes Ávila Pediatra com Residência Médica em Pediatria pelo Hospital Infantil Albert Sabin - Hias, com Especialização em Educação na Saúde para Preceptores do SUS pelo Hospital Sírio Libanês. Coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas do Hias. Colaboradores Adriana Rodrigues Façanha Residência em Pediatra Geral e Nefrologia Pediátrica pelo Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Antônio Alexandre Leite Mendonça Miná Residência em Pediatra Geral, com R3 em Pediatria em Cuidados Hospitalares em nível Terciário pelo Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Preceptor da Residência Médica em Pediatria Geral do Hias. Carlos Artur da Costa Moraes Residência em Pediatria e Cancerologia Infantil e Hematologia e Hemoterapia Pediátricas. Mestrado em Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Professor de Práticas Médicas em Semiologia Pediátrica da UECE e do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Célia Maria Barbosa Elias Monteiro Médica Pediatra, com Título de Especialista em Pediatria pela AMB. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Fernanda Paiva Pereira Honório Residência em Pediatra Geral, com R3 em Pediatria em Cuidados Hospitalares em nível Terciário Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hias e Hospital Universitário Walter Cantídio - HUWC. François Loiola Ponte de Souza Residência em Pediatra Geral, com R3 em Pediatra em Cuidados Hospitalares em nível Terciário Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Preceptor da Residência Médica em Pediatria Geral do Hias. Gabriela Maia Mota Residência em Pediatra Geral, com R3 em Pediatra em Cuidados Hospitalares em nível Terciário Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hias. Lia Cavalcanti de Albuquerque Médica Pediatra, com Mestrado em Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Professora de Práticas Médicas em Semiologia Pediátrica da Universidade Estadual do Ceará - UECE. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Luiza Danielle Barros Lins Residência em Pediatria Geral no Hospital Infantil Albert Sabin - Hias e em Hematologia e Hemoterapia na Santa Casa de São Paulo. Hematologista do Hias. Resposável técnica da Agência Transfusional e Gerente de Risco do Hias. Marcia Lima Verde Campos Oliveira Médica Onco-Hematologista Pediatra do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias e Centro Pediátrico do Câncer - CPC. Preceptora da Residência Médica de Oncologia Pediátrica e Coordenadora da Residência Médica de Hematologia Pediátrica. Maria da Conceição Alves Jucá Médica Pediatra, com Mestrado em Saúde da Criança e Adolescente pela UECE. Coordenadora da Unidade de Pediatria Geral e Supervisora do Programa de Residência Médica em Pediatria do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Professora de Práticas Médicas em Semiologia Pediátrica da Universidade Estadual do Ceará - UECE. Professora do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Mércia Lima de Carvalho Lemos Médica Pediatra, com Mestrado em Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Rosenilde do Nascimento Silva Médica Pediatra, com Residência em Pediatria pelo Hospital Infantil Albert Sabin - Hias e Título de Especialista em Pediatria Geral pela AMB. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hias. Roseny Marinho Mesquista Pereira Médica Pediatra, com Mestrado em Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Selma Lessa de Castro Residência Médica em Pediatria Geral e Onco-Hematologia Pediátrica. Doutorado em Medicina pela Universidad Autónoma de Barcelona. Preceptora da Residência Médica de Onco-Hematologia do Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Coordenadora d Centro Pediátrico do Câncer. Virna da Costa e Silva Doutora em Pediatria pela Universidade de São Paulo - USP. Mestrado em Saúde Pública pelaUniversidade Estadual do Ceará - UECE. Pós-Graduação em Nutrologia pela ABRAN. Título e Especialista em Pediatria (SBP). Residência Médica em Pediatria pelo Hospital Infantil Albert Sabin - Hias. Professora do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Preceptora e Coordenadora da Residência Médica Hias. Viviany de Oliveira Viana Pediatra com Residência em Cancerologia e Hematologia Pediátrica. Preceptora da Residência Médica em Cancerologia e Hematologia Pediátrica do Hias. Diante do novo cenário da saúde e com o intuito de adequar o pediatra para os novos perfis epidemiológicos e conteúdos temáticos, a Direção do HIAS em consonância com o Centro de Estudos e Pesquisas se antecipou mais uma vez aos fatos e propôs uma renovação dos protocolos clínicos após 11 anos da última publicação (2006). Vale salientar que a Unidade de Pediatria Geral deste hospital já se consolidou como polo de formação e capacitação em ensino de pediatria geral em nível de assistência terciária à saúdeda criança e do adolescente de forma integral e humanizada. E assim,foi desenvolvido este trabalho, fruto do esforço e dedicação destes profissionais engajados e em absoluta sintonia com o processo de ensino e aprendizagem, além de antenados com a evolução dos conhecimentos científicos e terapêuticos atuais. Com este pensamento, apresentamos aqui uma proposta diferenciada dos profissionais desta Unidade com o objetivo de habilitar o pediatra a reconhecer, intervir e familiarizar-se com as possibilidades diagnósticas e terapêuticas dentro de um ambiente de internação hospitalar com casos de maior complexidade. Com o intuito de fortalecer estas novas demandas é que os temas aqui abordados foram criteriosamente selecionados. Compartilhando estas ideias e saberes, preocupados não somente com a doença, mais também com a saúde, acreditamos estar contribuindo com a melhoria da qualidade de vida de nossas crianças. Dra. Maria da Conceição Alves Jucá Apresentação Sumário 1. Abordagem Nutricional da Criança Hospitalizada...........................15 Virna da Costa e Silva 2. Hipoglicemia Neonatal e na Infância...............................................37 Célia Maria Barbosa Elias Monteiro, Mércia Lima de Carvalho Lemos 3. Distúrbios Hidroeletrolíticos............................................................45 Lia Cavalcanti de Albuquerque 4. Distúrbios do Equilíbrio Ácido-Básico..............................................63 Lia Cavalcanti de Albuquerque, Adriana Rodrigues Façanha Barreto Queiroz 5. Febre sem Sinais de Localização.......................................................75 Gabriela Maia Mota 6. Adenomegalias.................................................................................85 Célia Maria Barbosa Elias Monteiro, Rosenilde do Nascimento Silva 7. Hepatoesplenomegalia.....................................................................99 Roseny Marinho Mesquita Pereira 8. Hipertensão na Infância.................................................................111 Fernanda Paiva Pereira Honório 9. Artrites...........................................................................................125 Célia Maria Barbosa Elias Monteiro, Rosenilde do Nascimento Silva 10. Massas Abdominais........................................................................151 Gabriela Maia Mota 11. Pancitopenia na Infância................................................................159 Carlos Artur da Costa Moraes, Selma Lessa de Castro, Viviany de Oliveira Viana 12. Purpura Trombocitopenica.............................................................163 Mércia Lima de Carvalho Lemos 13. Hemoderivados na Infância............................................................169 Carlos Artur da Costa Moraes, Marcia Lima Verde Campos de Oliveira, Luiza Danielle Barros Lins 14. Investigação de Crises Epilépticas...................................................183 Antônio Alexandre Leite Mendonça Miná 15. Acidente Vascular Cerebral............................................................189 Antônio Alexandre Leite Mendonça Miná 16. Involução do Desenvolvimento Neuropsicomotor.........................195 François Loiola Ponte de Souza 17. Hipotonia.......................................................................................201 François Loiola Ponte de Souza 18. Dermatites Graves mais Frequentes na Infância.............................207 Mércia Lima de Carvalho Lemos, Ana Glória Pinto 15 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO O paciente pediátrico guarda em si particularidades que outras especialida- des não contem: avaliação do crescimento que é um processo dinâmico e contínuo e para ele cabem cuidados que vão desde o intraútero e se esten- dem até sua completa formação na adolescência e entrada na vida adulta. Quando internados por patologias diversas, ele não é apenas uma “patologia” a ser cuidada. Naquele momento, ele continua com seu crescimento e desenvolvimento e cabe ao pediatra avaliar e intervir quando necessário, buscando o atendimento global desse paciente. Além do que, para promover a saúde desse paciente, a abordagem deve incluir o suporte para que a criança seja bem assistida em todas as suas necessidades. Diante disso, a avaliação nutricional durante o período de internação, para adequado tratamento e recuperação se faz mandatório. A desnutrição proteico-calórica (DPC) e o aumento mundial do sobrepeso/ obesidade podem contribuir para complicações graves nos pacientes internados com os mais diversos diagnósticos. A DPC apesar de sua redução global progressiva, ainda é um importante problema de saúde pública nos países em desenvolvimento e envolve distúrbios clínicos que variam em graus e combinações de deficiência de proteínas e energia e tem origem multifatorial. Está associada a processos infecciosos, baixo nível socioeconômico, baixa ingestão calórica e proteica. A obesidade, um atual e crescente problema de saúde pública, também tem caráter multifatorial e está associada a problemas que podem iniciar ainda cedo (fase pré-escolar até a adolescência) como hipertensão, resistência à insulina, hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia, esteatose hepática, síndrome metabólica, refluxo grastro-esofágico, hipoxia crônica devido 1 ABORDAGEM NUTRICIONAL DA CRIANÇA HOSPITALIZADA Virna da Costa e Silva 16 Rotinas Pediatria Geral ao aumento da demanda ventilatória e do esforço respiratório, menarca precoce, pseudotumor cerebral, hipertrofia cardíaca, morte súbita, doença coronariana isquêmica, deslizamento epifisário da cabeça do fêmur, doença do ovário policístico, além de problemas psicossociais como bullying, menor aceitação no ambiente de vivência, isolamento. A avaliação deve ser feita por equipe multidisciplinar, onde o médico exerce papel fundamental, visando não apenas detectar alterações nutricionais vigentes, e sim buscar conhecer risco nutricional avaliado pela combinação do estado nutricional atual e da gravidade da doença. A avaliação precoce promove uma intervenção mais eficiente, evitando, assim, a instalação consequências relacionadas ao suporte nutricional inadequado. Períodos prolongados de permanência hospitalar estão associados a doenças mais graves e complexas e, consequentemente, a maior exposição à má nutrição intra-hospitalar e a bactérias intra-hospitalares multirresistentes, piorando cada vez mais o prognóstico do paciente e aumentando sua morbimortalidade. AVALIAÇÃO CLÍNICO-NUTRICIONAL DA CRIANÇA A) ANAMNESE: Registrar em prontuário todos os dados da história História da doença atual: investigar HDA sempre buscando associação com distúrbios nutricionais; Antecedentes pessoais/gestacionais: estado nutricional materno prévio, ganho de pesodurante a gestação, doenças associadas na gestação, hábitos na gestação, suplementação na gestação, condições de parto (vaginal? cirúrgico?), peso ai nascer, aleitamento materno (por quanto tempo, exclusivo?), uso de fórmulas complementares (que tipo, adequada para idade), suplementação vitamínica?, a doença atual tem correlação com a ingesta alimentar do paciente? Quantidade e qualidade da ingesta, nível protéico, nível energético, ingesta de alérgenos, alimentos inflamatórios, disbiose intestinal?; História familiar: presença de diabetes, dislipidemias, obesidade, desnutrição, doenças alérgicas, consanguinidade; 17 Rotinas de Pediatria Geral Fatores culturais e socioeconômicos – grau de escolaridade dos pais, condições de habitação, hábitos, práticas alimentares, intolerâncias, preferências e aversões, tabus alimentares; História funcional: paciente sedentário tem alguma atividade diária, tempo de tela (computador, TV, celular, tablet); Uso de medicações; IOA: Sucção, deglutição, hábitos intestinais, manifestações respira- tórias, osteoarticulares, convulsão, mudança de pele e fâneros. B) AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Anamnese alimentar: permite prever ou estimar o estado nutricional através da descrição da quantidade e qualidade das refeições do paciente (podendo ser inquérito alimentar, recordatório diário ou semanal); Avaliar relação parental e da criança com a comida (“meu filho não come”, paladar seletivo, tempo gasto nas refeições); Situação de hipercatabolismo? Sepse, queimaduras, infecções, hipertireoidismo, etc. Associado a essa anamnese, a American Society of Parenteral e Enteral Nutrition (ASPEN) e a The European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN) indicam a Avaliação Nutricional Subjetiva Global (ANSG) como um eficiente método de avaliação de gravidade nutricional (Anexo 01). C) EXAME FÍSICO E ANTROPOMETRIA: A avaliação nutricional que deve ser realizada até o segundo dia após a internação (tanto pelo médico pediatra como pela nutricionista) e que tem como principal objetivo estabelecer atitudes de intervenção adequada. Atenção aos possíveis sinais de carência nutricional: Cabelos: opacos, secos, finos, quebradiços, despigmentados, queda acentuada, hirsutismo; 18 Rotinas Pediatria Geral Olhos: conjuntivas pálidas, xeroftalmia, queratomalácia, manchas de Bitot, exoftalmia; Sistema musculoesquelético: craniotabes, alargamento epifisário, desgaste muscular, ausência ou excesso de gordura subcutânea, genum varum, genum valgum; Pele: xerose, hiperqueratose folicular, equimoses, petéquias, xantomas, palidez, estrias, fissuras, acantose nigricans, dermatites, acne, palidez, icterícia; Unhas: quebradiças, coiliníquias, infecções fúngicas; Lábios: queilite angular, rachaduras, queilose; Língua: edema, estomatites, língua escarlate, língua geográfica; Cardiopulmonar: presença de sopros, desconforto respiratório; Abdomem: hepatomegalias, aumento da circunferência abdominal, ascite, escavado; Estadiamento Puberal: avaliação Puberal do paciente e classificação Tanner. Aferições das medidas corporais são de fundamental importância para melhor acurácia do diagnóstico nutricional do paciente. Devem ser realizadas preferencialmente pelo mesmo profissional, até o segundo dia de internação e pelo menos uma vez por semana, dependendo do quadro clínico do paciente, com aparelhos calibrados de forma padronizada. O Ministério da Saúde preconiza o uso de gráficos que avaliam o peso, altura e sua relação com o sexo e a idade utilizando índices Z score que classificam o estado nutricional da criança. Os índices mais utilizados para a classificação são peso/ idade, de estatura/ idade e IMC/ idade. Peso: é um importante indicador de avaliação de mudanças no estado nutricional e serve também para cálculo nutricional e hídrico do paciente. Crianças até dois anos podem ser pesadas em balanças pediátricas (tipo pesa bebe) mecânicas ou eletrônicas até 16 kg (com divisão de 10 g) e crianças acima de 2 anos podem ser aferidos 19 Rotinas de Pediatria Geral em balança tipo plataforma (com divisões de 100 g), sempre com o mínimo de roupas possível; Comprimento e estatura: em crianças até dois anos deve-se aferir o comprimento do paciente deitado, descalços e sem acessórios, retificado, com braços estendidos e alinhados com antropômetro horizontal. Os pacientes maiores de dois anos devem ser medidos com antropômetro vertical, com pés descalços, pés unidos, em ângulo reto com as pernas; IMC: realizado pelo cálculo do peso em kg sobre peso ao quadrado (kg/m2) e a partir das medidas obtidas, classificado pelas tabelas de z escore da OMS 2007, com os seguintes critérios por idade e sexo: Z escore < 2 g Magreza; Escore z ≥ -2 e <+1 g Eutrofia; Z Escore ≥ +1 e <+2 g Sobrepeso e Escore z ≥ +2 g Obesidade. Estudos realizados pelo American College os Chest Physicians encontraram associação entre baixo IMC e maior mortalidade em ambiente hospitalar; Circunferência Abdominal (CA): medida da circunferência abdominal realizada com fita métrica não elástica, com local de medida no ponto médio entre o último arco costal fixo e a borda superior da crista ilíaca (Apêndice 02); Circunferência do Braço (CB): localizar e marcar o ponto médio distância do acrômio até a cabeça do rádio, medida com o membro superior fletido a 90 graus a partir do ponto demarcado; Circunferência craniana: forma indireta de medir o crescimento cerebral nos primeiros dois anos de vida, posicionar da fita métrica na porção posterior mais proeminente do crânio (occipício) e na parte frontal da cabeça (glabela). Trata-se de uma importante medida para avaliar o crescimento e o desenvolvimento, especialmente em crianças nascidas prematuras; Medida da Pressão arterial (PA): verificada a pressão arterial em mmHg no membro superior direito com manguito apropriado à circunferência do braço; 20 Rotinas Pediatria Geral Equações para estimar estatura de pacientes acamados: - Comprimento do braço (distância do acrômio até a cabeça do rádio, medida com o membro superior fletido a 90 graus) - Comprimento tibial (borda supero-medial da tíbia até a borda do maléolo medial inferior). Comprimento do membro inferior (joelho a tornozelo) Medida do segmento Estatura estimada Desvio-padrão Comprimento superior do braço E = (4,35 x CSB) + 21,8 ± 1,7 Comprimento tibial E = (3,26 x CT) + 30,8 ± 1,4 Comprimento do membro inferior E = (2,69 x CJ) + 24,2 ± 1,1 Fonte: Stevenson, 1995. Manual de Orientação – Departamento de Nutrologia SBP Em casos específicos necessários podem ser realizados análise da composi- ção corporal para avaliação de ganho ou perda de massa muscular e massa gordurosa, avaliação do grau de hidratação e retenção de líquidos, estimar as necessidades calóricas ideais para atingir a composição corporal dese- jada. Pode ser realizada com diversas técnicas como medidas de dobras cutâneas, bioimpedanciometria, dual energy x-ray absortiometry (DEXA), pletismografia, tomografia computadorizada, dentre outros. AVALIAÇÃO LABORATORIAL Os exames laboratoriais podem auxiliar na avaliação de risco, no diagnóstico e no acompanhamento nutricional do paciente pediátrico. Possibilita a identificação e o seguimento de morbidades associadas ao excesso de peso, como dislipidemias e alterações do metabolismo glicídico, sendo complementares a avaliação da história clínica e exame físico. Dentre eles podemos destacar os seguintes na avaliação nutricional do paciente: Avaliação para anemia e deficiência de ferro: - Dosagem de hemoglobina, hematócrito, VCM, Ferro sérico, ferritina, Índice de saturação de transferrina - avaliação global da anemia e depleção de ferro. - Capacidade de ligaçãodo ferro total – Indicativo de presença de doença infecciosa e/ou inflamatória. 21 Rotinas de Pediatria Geral - Dosagem de Vitamina B12, dosagem de ácido fólico – uso de fenitoína, deficiência de folato, baixa ingesta de alimentos ricos em B12. Avaliação de disfunção hepática, inflamação, infecção: - Dosagem de proteínas albumina e pré-albumina, bilirrubinas, TGO, TGP, fibrinogênio, fosfatase alcalina. Imunidade: - Dosagem de leucócitos, dosagem de globulinas, dosagem de complemento C3. Vitaminas e minerais: - Dosagem de retinol plasmático, Zinco, Vitamina E sérica, 25-OH plasmático, Vitamina B12, Piridoxina plasmática, cálcio total, cálcio ionizável, fósforo, magnésio, iodoséricos. Perfil lipídico: - Dosagem de colesterol total, LDL, HDL, triglicerídeos. Avaliação do metabolismo glicêmico: - Dosagem de glicemia de jejum, teste de tolerância oral a glicose, insulina de jejum. O diagnóstico da situação nutricional do paciente é feito com atenção aos riscos mais evidentes: baixo peso ou muito baixo peso para idade, baixa estatura, magreza, perda de peso recente, ingesta alimentar insuficiente, jejum prolongado (> de cinco dias), incapacidade alimentar, diarreia crônica, hipercatabolismo, sinais clínicos de perda muscular e de gorduras, alterações bioquímicas importantes. Buscar evidenciar situações de alto risco e condições patológicas especiais: Anorexia nervosa; Queimaduras; Displasia Broncopulmonar; Doença celíaca; Fibrose cística; Prematuridade; Doença cardíaca crônica; Doenças infectocontagiosas (HIV); Doença inflamatória intestinal; Doenças Oncológicas; Doença hepática crônica; Doença renal crônica Pancreatite; Síndrome do intestino curto; Doença muscular; Doença metabólica; Trauma; Encefalopatia Crônica; grandes cirurgias. 22 Rotinas Pediatria Geral Ser construído uma planilha de necessidades energéticas, proteicas e hídricas juntamente com serviço de nutrição, avaliando melhor via de alimentação do paciente. Promover a suplementação adequada dos déficits vitamínicos e minerais, por faixa etária, peso e sexo, reavaliar diariamente e observar aceitação da dieta prescrita e necessidade de alteração na conduta. Deste modo, conclui-se que o pediatra deve conhecer os métodos para realização da avaliação nutricional de seu paciente a fim de garantir que as necessidades nutricionais da criança hospitalizada sejamsupridas de forma efetiva, promovendo melhora de seu estado clínico geral e evitando implicações em seu crescimento e desenvolvimento. ANEXOS: Anexo 01: Avaliação Nutricional Subjetiva Global (Yamauti, 2006) Questionário da Avaliação Nutricional Subjetiva Global A) Anamnese 1) Peso corpóreo: ( 1 ) Mudou nos últimos 6 meses ( ) sim ( ) não ( 1 ) Continua perdendo atualmente ( ) sim ( ) não Peso atual _____ kg Peso habitual _____ kg Perda de peso (PP) ____ % Se > 10% ( 2 ) ( ) Se < 10% ( 1 ) ( ) Total parcial de pontos_____ 2) Dieta ( 1 ) Mudança de dieta ( ) sim ( ) não A mudança foi para: ( 1 ) dieta hipocalórica ( 2 ) dieta pastosa hipocalórica (.2.) dieta líquida >15 dd ou solução de infusão intravenosa > 5 dd ( 3 ) jejum > 5 dias ( 2 ) mudança persistente > 30 dias Total parcial de pontos_____ 23 Rotinas de Pediatria Geral 3) Sintomas gastrointestinais ( 1 ) ( ) disfagia e/ou odinofagia ( 1 ) ( ) náuseas ( 1 ) ( ) vômitos ( 1 ) ( ) diarréia ( 2 ) ( ) anorexia, distensão abdominal, dor abdominal Total parcial de pontos_____ 4) Capacidade funcional física (por mais de 2 semanas) ( 1 ) ( ) abaixo do normal ( 2 ) ( ) acamado Total parcial de pontos_____ 5) Diagnóstico ( 1 ) ( ) baixo estresse ( 2 ) ( ) moderado estresse ( 3 ) ( ) alto estresse Total parcial de pontos_____ B) Exame físico ( 0 ) Normal (+ 1) leve ou moderadamente depletado (+ 2) gravemente depletado (pra cada item) ( ) perda de gordura subcutânea (tríceps, tórax) ( ) músculo estriado ( ) edema sacral ( ) ascite ( ) edema tornozelo Total parcial de pontos_____ C) Categoria da ANSG ( ) bem nutrido < 17 pontos ( ) desnutrido moderado 17 ≤ 22 pontos ( ) desnutrido grave > 22 pontos Somatória do total parcial de pontos____ 24 Rotinas Pediatria Geral Anexo 02: Pontos de corte, em centímetros (cm), para medida da circunfe- rência abdominal. IDADE MENINOS BRANCOS/ PARDOS MENINAS BRANCAS/ PARDAS MENINOS NEGROS MENINAS NEGRAS 5 59 57 56 56 6 61 60 60 59 7 61 64 61 65 8 75 73 67 67 9 77 73 74 78 10 88 75 79 79 11 90 83 79 87 Fonte: WHO, 2007 Anexo 03: Comportamento da velocidade de crescimento estatural em cm/ ano em função do estadiamento puberal. 25 Rotinas de Pediatria Geral Anexo 04: Estimativas da necessidade calórica em pacientes pediátricos IDADE Kcal/ Kg de PESO/ DIA 0 – 1 ano 90 – 120 1 – 7 anos 75 – 90 7 – 12 anos 60 – 75 12 – 18 anos 30 – 60 18 – 25 anos 25 – 30 Fonte: Coppini; Sampaio; Marco, 2011. Anexo 05: Estimativa da necessidade proteica em pediatria. FAIXA ETÁRIA NECESSIDADE PROTEICA (g/kg/dia) Baixo peso ao nascer 3 – 4 Termo 2 – 3 1 a 10 anos 1 – 1,2 Adolescente masculino 0,9 Adolescente feminino 0,8 Criança / adolescente grave 1,5 Fonte:Coppini; Sampaio; Marco, 2011. 26 Rotinas Pediatria Geral Anexo 06: Estimativa da necessidade de carboidratos em pediatria. FAIXA ETÁRIA CARBOIDRATOS 0 – 6 meses 60 g 7 – 12 meses 95 g 1 – 3 anos 45 – 65% 4 – 18 anos 45 – 65% Fonte: Coppini; Sampaio; Marco, 2011. Anexo 07: Estimativa da necessidade lipídeos em pediatria. FAIXA ETÁRIA LIPÍDIOS 0 – 6 meses 31 g 7 – 12 meses 30 g 1 – 3 anos 30 – 40% 4 – 18 anos 25 – 35% Fonte: Coppini; Sampaio; Marco, 2011. Anexo 08: Fórmulas para o cálculo do gasto energético basal (GEB). IDADE GEB (kcal/kg/dia) MASCULINO GEB (kcal/kg/dia FEMININO) 0 - 3 anos 0,167 x P + 1517,4 x E – 617,6 16,25 x P + 1023,2 x E – 413,5 3 - 10 anos 19,6 x P + 130,3 x E + 414,9 16,97 x P + 161,8 x E + 371,2 10 - 18 anos 16,25 x P + 137,2 x E + 515,5 8,365 x P + 465 x E + 200 P – peso; E – estatura; GEB – gasto energético basal. Fonte: SBNPE; ASBRAN, 2011. 27 Rotinas de Pediatria Geral Anexo 09: Fatores de correção do GEB para situações de estresse. DOENÇA DE BASE FATOR DE CORREÇÃO Ausente 1,0 Pós-operatório 1,1 – 1,3 Sepse 1,3 Trauma 1,2 – 1,6 Queimado 1,2 – 2,0 Fonte: SBNPE; ASBRAN, 2011. Anexo 10: Pacientes graves em unidade de terapia intensiva (UTI) GEB = [(17 x idade meses) + (48 x peso Kg) + (292 x temperatura ºC) – 9677] x 0,239 Fonte: SBNPE; ASBRAN, 2011. Anexo 11: Fórmula de Holliday-Segar, para o cálculo das necessidades hídricas do paciente pediátrico. IDADE HÍDRICA EM PEDIATRIA - FÓRMULA DE HOLLIDAY-SEGAR 100 mL/kg para uma criança de 3 a 10 kg 1000 mL + 50 mL/kg para cada kg acima de 10 kg para uma criança de 10 a 20 kg 1500 mL + 20 mL/kg para cada kg acima de 20 kg para uma criança acima de 20 kg Fonte: SBNPE; ASBRAN, 2011. Anexo 12: Necessidades eletrolíticas do paciente pediátrico SÓDIO Potássio 3 a 5 mEq/kcal/dia 2 a 3 mEq/kcal/dia Fonte:SBNPE; ASBRAN, 2011. 28 Rotinas Pediatria Geral Anexo 13: Curvas de Z score para avaliação antropométrica 29 Rotinas de Pediatria Geral 30 Rotinas Pediatria Geral 31 Rotinas de Pediatria Geral 32 Rotinas Pediatria Geral 33 Rotinas de Pediatria Geral 34 Rotinas Pediatria Geral REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRASIL. Ministério da Saúde - DATASUS. Informações de Saúde. Dispo- nível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinasc/cnv/nvuf.def Acesso em: 12/04/2017. BRASIL. Portal da Saúde [homepage na Internet]. Brasília (DF): Departamento de AtençãoBásica; 2012. Publicações. Disponível em: http://dab.saude.gov. br/portaldab/biblioteca.php?conteudo=publicacoes/orientacoes_coleta_ analise_dados_antropometricos. Acesso em: 08/05/2017. CARVALHO, APPF ET AL. Protocolo de atendimentonutricional do pacientehospitalizado: materno-infantil – Goiânia: Gráfica UFG, 2016. FELIX DS, SILVA MKS. Obesidade. In: Teixeira Neto F, ed. Nutrição clínica. Rio de JANEIRO: GUANABARA KOOGAN; p.185-94; 2003. LIMA CM, TIENGO A. Perfil nutricional e alimentar de crianças internadas no Hospital das Clínicas Samuel Libânio. RevCiêncSaude; 2(2): 45-56; 2012. MARQUES SBC, MEDEIROS AM. Sistema digestório e desnutrição. In: Duarte ACG, ed. Avaliação nutricional: aspectos clínicos e laboratoriais. 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São Paulo: AMB; CFM (Projeto Diretrizes), 15p; 2011. SIMÕES APB, PALCHETTI CZ, PATIN RV, MAURI JF, OLIVEIRA FLC. Estado nutricional de crianças e adolescentes hospitalizados em enfermaria de cirurgia pediátrica. Rev Paul Pediatr. 28(1):41-7; 2010. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Avaliação nutricional da criança e do adolescente: manual de orientação. São Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria; Departamento de Nutrologia; 2009. Disponível em: <http:// www.sbp.com.br/pdfs/ MANUAL-AVAL-NUTR2009.pdf> Acesso em: 08/05/2017 WESSEL, J. et al. Standards for specializednutritionsupport: hospitalizedpe- diatricpatients. Nutrition in clinicalpractice, v. 20, n. 1, p. 103, 2017. YAMAUTI, AK et al. Avaliação nutricional subjetiva global em pacientes cardiopatas. ArqBrasCardiol, v. 87, n. 6, p. 772-7, 2006. 37 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO O mais importante neste tipo de ocorrência é fazer a relação com a faixa etária acometida e as fases do desenvolvimento afetadas. Parte-se do prin- cípio de que há relação dos sintomas, com diferentes tipos de manifesta- ções, quando a glicemia plasmática ou por sangue total, encontra-se me- nor que 40 mg/dl. Porém, segundo alguns relatos, níveis abaixo de 46,8 mg/dl, já poderão trazer consequências adversas, principalmente para o recém-nascido e lactente jovem, por possuírem depósito limitado de gli- cogênio e maiores proporções cérebro-corpo. Nos recém-nascidos as necessidades de glicose pelo cérebro são três vezes maiores que no adulto. O limite inferior de normalidade aceitável de glicemia nos RN passou a ser 50 mg/dl, justamente pelas maiores necessidades, por maior consumo relativo pelo cérebro, e nas situações de risco, como por exemplo, nos RN de baixo peso, nos prematuros, asfixiados, SARI, devido menor quantidade de tecido adiposo, sofrem maior depleção nas reservas de glicogênio. Paralelamente seus sistemas enzimáticos são menos desenvolvidos, dificultando a neoglicogênese e a oxidação dos ácidos graxos livres, podendo levar dias para atingir a atividade enzimática normal. Além disso, ainda sofrem atraso na alimentação o que agrava mais a hipoglicemia. Podem estar acometidos também por infecções congênitas ou adquiridas, que comprometem o fígado. Os filhos de mães diabéticas também têm predisposição à hipoglicemia pelo hiperinsulinismo e hiplerplasia de células beta, levam 5 a 7 dias para se reequilibrarem com a oferta de glicose pós-natal. Os mecanismos de contra- regulação adrenérgica são sudorese fria, fraqueza, ansiedade, taquicardia, fome, palidez e tremores. Nos lactentes as manifestações poderão ser 2 HIPOGLICEMIA NEONATAL E NA INFÂNCIA Célia Maria Barbosa Elias Monteiro Mércia Lima de Carvalho Lemos 38 Rotinas Pediatria Geral inespecíficas, como, letargia, apnéia e abalos musculares. Nas crianças maiores após a lactância os sintomas são irritabilidade, alterações visuais, cefaleia, confusão, letargia, convulsão e coma. ETIOLOGIA Maior utilização da glicose sanguínea excedendo o suprimento (jejum prolongado, doenças recorrentes associadas a anorexia e vômitos); Produção de glicose limitada por distúrbio da resposta contrarreguladora (pan-hipopituitarismo, insuficiência hormonal, erro inato do metabolismo); Consumo excessivo de glicose sanguínea (hiperinsulinismo). CAUSAS DE HIPOGLICEMIA Disponibilidade de glicose reduzida Aumento do consumo de glicose Retardo do crescimento intra-uterino Prematuridade Hipopituitarismo Insuficiencia adrenal Deficiencia de GH Hipotireoidismo Deficiencia de glucagon Fome (hipoglicemia cetótica) Erros Inatos do metabolismo Drogas (álcool, aspirina, b-bloqueadores) Disfunção hepática Doença cardíaca congênita Hipernsulinismo Hiperinsulinismo neonatal transitório Filho de mãe diabética Hipoglicemiahiperinsulinêmica persistente da infancia Insulinoma Doença Hemolitica (fator Rh) Sindrome de Beckwith-Wiedemann Asfixia perinatal Malária Retirado de Joseph E Raine et al.Endocrinologia e Diabetes em Pediatria. Ed Revinter, 2ª Edição, 2010. 39 Rotinas de Pediatria Geral MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E LABORATORIAIS Muitos RN apresentam hipoglicemia assintomática, podendo os PIG ser mais sintomáticos, variando de algumas horas até 1 semana após o nascimento. Inclui abalos, tremores, apatia. Na infância, a hipoglicemia pode apresentar-se sob a forma de alterações de comportamento, desatenção, apetite voraz ou convulsões, devendo-se logo fazer a dosagem da glicemia sérica e tratar vigorosamente, no caso, principalmente, se estiver menor que 50 mg/dl. Características associadas à ativação do SNA com liberação de epinefrina Características associadas à glicopenia cerebral Ansiedade Sudorese Taquicardia, palpitação Palidez Tremores Fraqueza, Fome Vômitos Angina (art. Coronárias normais) Enxaqueca Confusão mental Dist. Visuais (baixa acuidade,diplopia) Alt. Orgânica de personalidade Incapacidade de concentração Disartria Olhos arregalados Parestesia Tontura Amnésia Ataxia, incoordenação Letargia, sonolência Convulsões Coma, decerebração ou decorticação Hemiplegia, AVC, afasia 40 Rotinas Pediatria Geral No caso dos GIG’s, com hiperinsulinismo são manifestações mais frequentes o apetite voraz, além de necessidade de infusão de glicose com taxas elevadas 10 -15 mg/kg/min, ausência de peptídeo C ou proinsulina no momento da hipoglicemia. Estes últimos produtos relacionados com a insulina, também estão ausentes na hipoglicemia factícia (administração exógena de insulina nas formas de abuso infantil-Sd de Munchausen por procuração). Ver tabela para diagnóstico de hiperinsulinismo abaixo. Critérios para diagnosticar hiperinsulinismo com base em “amostra crítica” (extraídas no jejum da hipoglicemia) Insulina plasmática acima de 2 µU/ml Hipoacidemia de ácidos graxos (acidos graxos livres no plasma < 1,5 mmol/L) Hipocetonemia (β OH butirato no plasma < 2,0 mmol/L) Resposta glicêmicainadequada ao glucagon, 1,0 mg IV (delta de glicose >40 mg/dl) Fonte: Nelson, Tratado de Pediatria, 19a ed. Vol1, Ed ABDR, RJ, 2013. O diagnóstico de hipoglicemia envolve uma combinação de completa história clínica, exame físico cuidadoso e alterações laboratoriais. Importante definir a duração do período de jejum no momento da hipoglicemia. Quando ocorre entre 4 a 6 horas de jejum, o diagnóstico mais provável sugere hiperinsulinismo ou glicogenose. Entretanto, em casos de jejum prolongado, sugere hipoglicemia cetótica ou defeitos na gliconeogênese, incluindo deficiências hormonais. Sinais clínicos como: macrossomia, hepatomegalia, micropênis, defeitos da linha média, baixa estatura, podem direcionar o diagnóstico. (Sd. Bechwith-Wiedemann). Amostras de sangue e urina colhidos na vigência da hipoglicemia são fundamentais para elucidação diagnóstica. Quando não for disponível deve-se induzir a hipoglicemia pelo teste do jejum (paciente hospitalizado). Ver tabela de tempo de jejum abaixo. Duração do jejum para crianças submetidas à investigação de possível hipoglicemia. 41 Rotinas de Pediatria Geral IDADE DURAÇÃO (EM HORAS) < 6 meses 6 - 8 meses 8 – 12 meses 1 – 2 anos 2 – 4 anos 4 – 7 anos >7 anos 8 12 16 18 20 20 24 Fonte: Raine J et al.Endocrinologia e Diabetes em Pediatria. Ed Revinter, 2a Ed. 2010. Solicita-se glicemia, insulina, GH, cortisol séricos, glicosúria e cetonúria. No hiperinsulinismo, além da concentração de insulina > 5 µU/ml, na vigência de glicose plasmática < 50 mg/dl, ocorre redução dos ac. graxos livres, corpos cetônicos e da proteína carreadora 1 GFBP (1 do fator de crescimento insulin-like). Ocorre aumento da glicemia após administração IM de 1 mg de glucagon, além de infusão de glicose para manter essa homeostase. Quando envolver o especialista endocrinologista/geneticista: Hipoglicemia hiperinsulinêmica persistente na infância; Pan-hipopituitarismo; Doença de Addison e outras causas de insuficiência adrenal; Hipoglicemia recorrente de etiologia desconhecida; Paciente cuja investigação possa incluir jejum prolongado; Erros inatos do metabolismo. Nas deficiências enzimáticas, a maioria com inicio na infância, mas nas formas leves, podendo se manifestar em qualquer momento, até na vida adulta. A glicogenose 1 A e 1 B ( deficiência de glicose 6 fosfato – G6PD) é a mais frequente das doenças de acumulo de glicogênio. Manifesta´se de forma 42 Rotinas Pediatria Geral grave, na época neonatal. A primeira se deve ao defeito de fosforilação e a segunda, no transporte intracelular da G6PD. Surgem hepatomegalia, aumento dos rins, baixa estatura, fácies de querubim, aumento das transa- minases, distúrbio da coagulação e propensão a tumores hepáticos. Nos tipos 1 B, surgem neutropenias e infecções. Nesses casos, será considerada a necessidade de biopsia hepática. Os tipos 2 e 4 não causam hipoglicemia. A galactose (deficiência de galactose 1 fosfato uridiltransferase) causa deficiente glicogenólise por acumulo de galactose 1 fosfato, o que inibe a fosfoglicomutase. Manifesta-se desde a primeira ingestão de leite e cursa com déficit de crescimento, icterícia, catarata, retardo mental, sepse por E. coli e insuficencia gonadal. O diagnóstico é dado pelo teste da substancia redutora na urina. O tratamento é a retirada da lactose da dieta. Resumindo (fluxograma), para se chegar ao diagnóstico, define-se a tríade de Whipple: sintomas de hipoglicemia, comprovação de hipoglicemiae boa resposta clínica após uso de glicose oral ou venosa. Os exames básicos:glicemia;cetonemia; cetonúria;ácidos graxos livres; insulinemia; GH; cortisol; TSH; e T4; lactato e alanina; uricemia. TRATAMENTO Inicial – após colher amostras de sangue para exames, fazer 0,2- 0,4g de glicose/kg, em bolos intravenoso (2-4 ml/kg de glicose 10%) durante 4 a 6 min, seguido de infusão de glicose 10%, TIG inicial de 10 mg/kg/min, depois de 6-8 mg/kg/min). A resposta deve ser monitorada e a taxa de infusão ajustada para o nível de glicemia em torno de 72 mg/dl. Não usar bolos de glicose a 25%, intermitente, devido a risco de edema cerebral. Caso haja alteração do nível de consciência e persistência de níveis baixos de glicose sérica, fazer hidrocortisona 50-100 mg EV, em casos de insuficiência adrenal, ainda não diagnosticada; Se não responder com hidrocortisona, considerar possibilidade de distúrbio intracraniano ou erro inato do metabolismo; Nos casos onde há possibilidade de ingestão com segurança, fazer o hidrato de carbono de absorção rápida (açúcar de mesa, suco de frutas, gel de glicose), deve ser administrado por via oral. Se não responder dentro de 10 a 15min, administrar a glicose parenteral; 43 Rotinas de Pediatria Geral Alimentação contínua (enteral) à noite rica em amido cru, para os casos de deficiências enzimáticas (glicogenoses) ou erros inatos do metabolismo. Durante o dia, deve-se manter alimentação a cada 2 horas; Nos hiperinsulinêmicos crônicos (glicemia<40 mg/dl, insulina elevada, peptídeo C >0,6 mg/dl) pesquisar insulinoma por US e/ ou TC, afastar adenomas pancreáticos e programar cirurgia. Pode- se fazer análogo da somatostatina. O diazóxido, na dose de 10 a 30 mg/kg/dia por via oral, dividio em três tomadas pode ser usado para os hiperinsulinêmicos, diminuindo a secreção de insulina pelo pâncreas; Fluxograma Fonte: Retirado de Freire, Lincoln M.S. Diagnóstico Diferencial em Pediatria. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2008. 44 Rotinas Pediatria Geral Roteiro Diagnóstico das Hipoglicemias na infância a partir dos resultados da glicemia, gasometria, lactato e cetonas na urina. Fonte: Retirado/adaptado de Freire, Lincoln M.S. Diagnóstico Diferencial em Pediatria. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2008. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Hipoglicemia no Período Neonatal. 2015. Acessado em: [17/08/2016]. FREIRE, LINCOLN M.S. Diagnóstico diferencial em pediatria. 1ª. ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2008. JOSEPH E.RAINE, MALCOLM D.C.DONALDSON, JOHN W.GREGORY, MARTIN O. SAVAGE, RAYMOND L. HINTZ. Endocrinologia e Diabetes em Pediatria. PublishedbyBlackwellpublishingLtda, ed. Revinter, 2º edição, pag 50-61; 2010. MONTE O, LONGUINI CA, CALLIARI LE. Endocrinologia para o pediatra. Ed. Atheneu, SP. 2a ed. p. 291-300, 1998. NELSON. Tratado de pediatria. /Robert M. Kligman.[et al.]; [tradução de Silvia Mariângela Spada]. Rio de janeiro; Elsevier, p. 517-531; 2014. OSMAR MONTE, CARLOS A. LONGUI, LUIS EDUARDO CALLIARI, CRISTIANE KOCHI. Endocrinologia para o Pediatra. 3º ed. Ed. Atheneu. São Paulo. 2006 45 Rotinas de Pediatria Geral INTRODUÇÃO I - DESIDRATAÇÃO: É o resultado de um baixo aporte ou de perdas excessivas de fluidos. Pode ocorrer por: Aporte reduzido: - anorexia, coma, restrição hídrica. Aumento de perdas: - Gastrointestinais: vômitos, diarreia, fístulas ou drenagem enterocutânea. - Renais: diurese osmótica, utilização de diuréticos, insuficiência adrenal, diabetes insípidas etc. ESTADO DE HIDRATAÇÃO Sinais Clínicos Não desidratado Desidratado Desidratação grave 1. Elasticidade da pele Normal Diminuído Muito Diminuído 2. Tutor de subcultâneo = sinal de prega Normal = Ausente Diminuído = Desaparece lentamente Muito diminuído = desaparece muito lento 3. Mucosas Úmidas Secas Muito Secas 4. Olhos Normais Fundos Muito fundos 5. Lágrimas Normais Ausentes Ausentes 6. Fontanela Normal Deprimida Muito deprimida 7. Pulsos Cheios Finos Impalpáveis 8. Diurese Normal Oligúria Oligoanúria 9. Sensório Alerta Agitado, irritado, com sede. Deprimido Comatoso 10. Enchimento capilar < 3 segundos De 3 a 8 segundos > 8 segundos3 DISTÚRBIOS HIDROELETROLÍTICOS Lia Cavalcanti de Albuquerque 46 Rotinas Pediatria Geral TERAPÊUTICA: TIPO DE INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA INDICAÇÃO/DURAÇÃO/FREQUÊNCIA Diarreia aguda sem desidratação PLANO A Hidratação Oral: água e líquidos habituais e mais o SRO da OMS,após cada evacuação diarreia, intercalado com outros líquidos por via oral, como leite materno, água, chás ou suco de frutas coado Alimentação: dieta para idade (não suspender a dieta) Diarreia com desidratação leve ou moderada PLANO B Terapia de Reidratação Oral (TRO): Em pequenos volumes mas com grande frequência, se houver vômitos, e com livre demanda, se não estiver vomitando, até o desaparecimento dos sinais de desidratação (cerca de 40 a 60 ml/kg em 4 horas). Se em aletamento, intercalar o seio materno com o SRO. Avaliar a eficácia da TRO pela % de retenção de hora em hora = (Ganho de peso/Volume ingerido) x 100. Se retenção hídrica maior ou igual a 20% continuar TRO. Se retenção hídrica menor que 20% na primeira hora, observar por mais urna hora. Se retenção hídrica permanecer menor que 20% após 2 horas: TRO por SNG ou hidratação venosa. Hidratação parenteral: - Indicações:vômitos persistentes; retenção da TRD < 20%; distensão abdominal intensa; crise convulsiva e nível de consciência rebaixado. PLANO C Pesar a criança sem roupas. 1. Avaliar a glicemia através de Dextrostix (Dx). > Se Dx <50 fazer flush de glicose (glicose a 25% 0,5 a 1g/kg-em bolus); colher glicemia para confirmar a hipoglicemia e instalar fase de expansão, conforme o fluxograma a seguir: * 47 Rotinas de Pediatria Geral II - DISTÚRBIOS ELETROLÍTICOS 1. DISTÚRBIOS DO SÓDIO 1.1 OSMOLARIDADE: Concentração de solutos em relação ao volume total do solvente. Valor Normal (fluidos corporais) = 285 a 300 mOsm/L. - Cálculo da Osmolaridade plasmática real = 2 x Na + glic/ 18+ ureia /6 - Calculo da Osmolaridade efetiva ou “tonicidade plasmática”= 2 x Na + Glic /18 (Normal 280 -295) PLANO C *FLUXOGRAMA DA EXPANSÃO VOLUMÉTRICA Repetir o DX com 1 hora 48 Rotinas Pediatria Geral HIPONATREMIA (Na sérico<130mEq/l ) Ingestão aumentada de água; Aumento da secreção de hormônioantidiurético; Perda de sódio renal; Perda de sódio extrarrenal. NA+ CORPORAL TOTAL HEMATÓCRITO NA+ URINÁRIO MEQ/L OSMOLARIDADE URINÁRIA URÉIA HIPOVOLÊMICA Extra renal Renal i i hh Normal ou i <10 >20 Hipertonica variavel hh h EUVOLÊMICA Excesso HDA Intoxicação hídrica Normal Normal Normal ou i i ou normal >20 Variável Hipertônica Hipotônica i Normal ou i HIPERVOLEMICA Cirrose, ICC, Insuficiência renal h h Normal Normal ou i <10 >20 Hipertônica Isostenúria h ou Normal hh TRATAMENTO O tratamento tem como objetivo aumentar a osmolaridade sérica e o sódio plasmático para fora da faixa de risco (osmolaridadesérica>=260 mOsm/l e sódio>=120 mEq/l) e a correção dependerá da duração,gravidade e sintomas clínicos encontrados e dos dados laboratoriais. HIPONATREMIA HIPOVOLÊMICA 1) Correção da volemia; 2) Hiponatremia sintomática e sódio sérico <120 mEq/l; Solução de NaCl a 3% em 4 horas numa velocidade máxima de 0,5 mEq/ Kg/h ou 10 ml/Kg/hora dessa solução. 49 Rotinas de Pediatria Geral A quantidade de sódio a ser infundida é estimada pelas formulas: Casos agudos: mEqde Na+ = (130 - Na+ sérico atual) x 0,6 x peso (Kg) Casos crônicos: mEq de Na+ = (120 - Na+ sérico atual) x 0,6 x peso (kg) Elevar o sódiosérico apenas para 120 mEq/l a uma velocidade máxima de 2,5 mEq/Kg/h, nos casos crônicos. Solução de NaCl a 3%: NaCl 20% 15ml + SG5% 85 ml; cada ml = 0,5 mEq/l 3) Sódio sérico>120 e <130 mEq/l Correção pela fórmula: mEqde Na = (130 – Na sérico atual ) x 0,6 x peso (kg) Adicionar no soro das 24 horas seguintes HIPONATREMIA EUVOLÊMICA 1) Tratar a causa básica 2) Restrição hídrica (50 - 70)% necessidades basais) 3) Furosemida 1 mg/Kg/d 1-3 x dia em casos graves de SIHAD ou em presença de intoxicação hídrica 4) NaCl a 3% em pacientes com Na+ sérico <120 mEq/l HIPONATREMIA HIPERVOLÊMICA Restrição de Na+ e água; Tratar a causa básica. HIPERNATREMIA (Na>150 mEq/l e osmolaridade plasmática>325 mOsm/l) CAUSAS Déficit isolado de água; Ingestão ou administração excessiva de sódio; Déficit relativo de água em relação ao sódio. 50 Rotinas Pediatria Geral EUVOLÊMICA HIPOVOLÊMICAS PERDA DE ÁGUA HIPOVOLÊMICAS PERDA DE ÁGUA E SÓDIO Na+ corpóreo total normal Na`+ corpóreo total normal N+ corpóreo total baixo Hipernatremia essencial Diabetes insipidus central Diabetes insípidus nefrogênico Diabetes mellitus Hipodpsia/adpsia Aumento das perdas insensíveis Uropatia obstrutiva Diarreia Diuréticos osmóticos Perdas para o terceiro espaço TRATAMENTO 1) Tratar a causa básica; 2) Se sódio sérico< 170 mEq/l: hidratação de manutenção e reposição para cobrir as pernas extraordinárias, fazer correção em 48 a 96 horas; 3) Se sódio sérico > 170 mEq/l: repor o déficit de agua livre com soro glicosado a 5% 4 ml/kg para cada mEq/l que se quer baixar na concentração de sódio sérico. Devendo ser diluído no soro e ser oferecido nas primeiras 48 horas: - A queda da natremia deverá ser numa velocidade máxima de 0,5 meq/l/h; - A concentração mínima de sódio na hidratação venosa 20 - 30 meq/l de SG 5%. 4) Furosemida 1 mg/Kg /dose se a função renal é normal. 5) Se há suspeita de edema cerebral: - Com euvolemia ou hipovolemia: Manitol 0,25 - 0,5 g/Kg /dose EV rápido de 2/2 horas; - Com hipervolemia: dialise peritoneal. FORMULA DE ADROGUÉ – MADIAS Esta fórmula é um meio mais eficaz e seguro de se corrigir distúrbio do 51 Rotinas de Pediatria Geral sódio em pacientes com sintomas, determinando boa reprodutibilidade e capacidade de predizer o Na sérico medido ao final da infusão. Delta Na+ = Na+ infusão** – Na+ sérico/água corporal total* + 1 Delta Na+ = mudança esperada no Na+ a cada litro de solução infundida (*) Agua corporal = Peso x 0,6 (**) Na+ infusão = concentração de sódio em mEq por litro da solução escolhida - NaCl a 3% = 513 mEq/l de Na+ - NaCl a 0,9% = 154 mEq/l de Na+ - NaCl a 0,45% = 77 mEq/l de Na+ 2. DISTÚRBIOS DO POTÁSSIO HIPOCALEMIA (K plasmático < 3,5 mEq/l) CAUSAS: Diminuição da ingesta, Perdas excessivas, Entrada de K no espaço intracelular. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Sonolência,irritabilidade, confusão mental; Fraqueza muscular, diminuiçãodos reflexos profundos, parestesias; Náuseas, vômitos; Abdome distendido, ruídoshidroaéreosdiminuídos. ALTERAÇÕES DO ECG Diminuição, achatamento e inversão da onda T; Aumento da amplitude da onda U, prolongamento do seguimento QU; 52 Rotinas Pediatria Geral Depressão do segmento ST; Aumento da amplitude da onda P e prolongamento do espaço PR; Alargamento do complexo QRS; Arritmias. TRATAMENTO: Se ECG sem alteração: - KCL 6% xarope 5 mEq/Kg / dia (5 ml = 4 mEq) , via oral; - Se paciente em hidratação venosa corrigir no soro. Concentração de K entre 20 - 40 mEq/l. Se ECG alterado: - KCL 0,5 mEq/Kg/h , durante 4 horas em concentração máxima de 80 meq/l. HIPERCALEMIA (K plasmático > = 5,5 mEq/l) CAUSAS Acidemia, hipertonicidade; Necrose celular, hipoaldosteronismo, diabetes mellitus; Ingesta aumentada,diminuição da excreção renal, drogas (digitálicos, betabloqueadores, captopril, aldactone). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Hiperreflexia e parestesia em virtude das alterações na atividade elétrica das membranas celulares. ALTERAÇÕES DO ECG K entre 6,5 e 7 meq/l: - Ondas T estreitas e apiculadas, encurtamentodo intervalo QT; K entre 7 - 8 mEq/l - Alargamento do Complexo QRS e diminuição de amplitude com alargamento e eventual desaparecimento da onda P; 53 Rotinas de Pediatria Geral K > 8 mEq/l - Fusão do QRS com a onda T seguindo – se de fibrilação ventricular e assistolia. TRATAMENTO K sérico entre 5,5 e 6,5 mEq/l ECG normal: restrição ou suspensão de K; ECG alterado: resina de troca; - Sorcal 0,5 - 1 g/Kg VO (diluir 1 pacote 30 g em 60 ml AD, 1 ml = 0,5 g ) de 6/6 horas - Kayexalate 0,5 – 1 g/Kg, VO ou VRde 4 - 6 vezes Resina de troca. K sérico entre 6,5 e 7,5 mEq/l Resina de troca; Solução polarizante; Glicose 0,5 – 1 g de glicose/Kg; Insulina simples: 1 U para cada 4 a 5 g de glicose utilizada; infundir em 30 minutos. K sérico acima de 7,5 mEq/ L Gluconato de Cálcio a 10%: 0,5 – 1 mg/Kg EV; em 5 minutos; Tem efeito transitório e não altera a concentração sérica do K, pois tem antagonismo químico na membrana. E todas as medidas anteriores Monitorar ECG e FC em casos graves as medidas acima citadas são paliativas e está indicado dialise peritoneal. 54 Rotinas Pediatria Geral 3. DISTÚRBIOS DO CÁLCIO HIPOCALCEMIA (Ca++ total < 9,0 mg/dl) CAUSAS Hipoparatireoidismo; Deficiência de Vitamina D; Sepse, pancreatite; Pós-transfusão passiva; Uso de corticoides, diurético, beta-adrenérgico; Hipomagnesemia; Pós-correção de acidose. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Irritabilidade, hipertonia muscular, hiperreflexia, clônus, tremor fino de extremidades, convulsão,câimbras, apneia ou laringoespasmo com estridor. TRATAMENTO Nos casos sintomáticos e ou quando a dosagem laboratorial for < que 7,0 mg/dl Se crise convulsiva:fazer 100 - 200 mg/Kg diluído EV, velocidade 0,5 ml/Kg/min com monitorização cardíaca. Deve ser suspensa temporariamente se FC < 80 BPM. Sem convulsão: fazer 400 - 500 mg/Kg/24 h Apresentação: Gluconato de Cálcio 10% (1 ml=100 mg) Observação: Nos casos de pacientes com hipoalbuminemia, calcular Ca++ corrigido, acrescentar 0,75 ao valor encontrado, para cada grama de albumina inferior a 3,5. 55 Rotinas de Pediatria Geral HIPERCALCEMIA (Ca++ total > 11 mg/dl) CAUSAS Hipercalcemia da malignidade; Hiperparatireoidismo primário; Hipercalcemia por uso de diuréticos tiazídicos; Intoxicação por Vitamina A ou D; Ingesta excessiva de cálcio; Intoxicação por lítio; Doenças granulomatosas; Hipertireoidismo ou hipotireoidismo; Imobilização; Insuficiência de suprarrenal; Hiperproteinemia; Pós-transplante ou hemodiálise; Hipercalcemia familiar. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Letargia, hipotonia, hiporreflexia, recusa alimentar, vômitos, coma, convulsões. TRATAMENTO Com sintomas e cálcio sérico>12 mg/dl Eliminar a causa básica; Furosemida 1 – 2 mg/kg/dose de 4/4 h + hidratação venosa SF0,9% 10 - 20 ml/Kg/h; Repor magnésio; Suplemento de fosfato se tiver depleção; Glicocorticoides, nos casos de hipercalcemia da malignidade; 56 Rotinas Pediatria Geral Restrição de cálciona dieta; Redução de Mobilização de cálcio ósseo: Bisfosfonatos (Pamidronato 60 - 90 mg diluídos em 250 – 500 ml de soro fisiológico), em um período de 4 h; Inibição da reabsorção óssea e estimulara excreção urinária de cálcio (dose 4 - 8 UI /KG via SC ou IM cada 6-8 h); Diálise quando cursa com insuficiênciarenal aguda e a expansão volumétrica não pode ser feita. 4. DISTURBIO DO MAGNESIO HIPOMAGNESSEMIA (Mg < 1,5 mEq/l) CAUSAS: Redução da oferta; Redução da absorção (má absorção, ressecção maciça do intestino delgado); Perdas excessivas (fistula intestinais, diarreia crônica, sucção gástricaprolongada, diuréticos, excesso de vitamina D, insuficiência renal crônica); Pancreatite; Hiperaldosteronismo; Hipoparatireoidismo; Pós operatorio de cirurgia cardíaca; Rabdomiólise; Queimaduras extensas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Tremores, abalos, espasmos musculares, irritabilidade, hipertonia, hiperreflexia e convulsões. 57 Rotinas de Pediatria Geral TRATAMENTO Sulfato de Magnesio a 50% (1 ml = 4mEq); Dose 0,25 a 0,5 mEq/Kg/dia IM ou EV; pode ser repetida a cada 6h se necessário até a normalização sérica ou melhora dos sintomas. HIPERMAGNESEMIA (Mg > 2,8 mg/dl) CAUSAS: Enema de sulfato de magnésio; Medicação VO com magnésio; Insuficiência renal aguda; Intoxicação por lítio; Hipotireoidismo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Hipoatividade, sucção débil, hipotonia, hiporreflexia, apneia e coma. TRATAMENTO: Suspender oferta de magnésio; Hiperidratação + furosemida; Gluconato de cálcio a 10% - dose 100 mg/Kg/ EV; Diálise peritoneal para casos graves ou refratários EXEMPLO: HIDRATAÇÃO DE MANUTENÇÃO: Formula de Holliday e Segar Crianças até 10 Kg: 100 Kcal/Kg/dia; Crianças entre 10 a 20 kg: 1000 Kcal + 50 Kcal/Kg acima de 10; Crianças com mais de 20 Kg: 1500 Kcal + 20 kcal/kg acima de 20. 58 Rotinas Pediatria Geral Para cada 100 kcal são necessários 100 ml de água 3 mEq de sódio 2 mEq de potássio 0,5 mEq de cálcio 5 g de glicose Para pacientes graves e cirúrgicos, não devemos usar soluções hipotônicas. O principal fator que contribui para que ocorra hiponatremia em pacientes internados parece ser o uso de rotina de fluidos hipotônico e o aporte volumétrico excessivo. Exemplo da manutenção com solução isotônica 1) Criança com peso de 10 Kg , Na sérico < 138 mEq/l Cota hídrica 100 ml/Kg -------------- SGF1:1 ------------ 1000 ml KCl 10% 2 mEq/Kg -------------------- KCL10% ----------- 14,9 ml Gluc Ca 10% 100 mg/Kg------------ Glu Ca10% ----------10 ml OBS.: KCL10% (1ml = 1,34 mEq); Gluc Ca 10% (1ml =100mg) 2) Seguindo a mesma criança do exemplo de numero 1 SF 0,9% -------------------- 1000 ml Glicose 50% -------------- 100 ml KCl 10% ---------------------- 14,9 ml Gluc Ca 10% --------------- 10 ml Cálculo da Glicose Glicose 5% Glicose 50% 100 ml ---- 5g 100 ml ------ 50 g 1000 ml ------ X X ---------------- 50 g X= 50 g X=100 ml 59 Rotinas de Pediatria Geral REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ADROGUÉ HJ, MADIAS NE. Hypernatremia. New Engl Med.; 342: 1493- 1499; 2000. ADROGUÉ HJ, MADIAS NE. Hyponatremia. N Engl J Med; 342 (21)1581-9; 2000. AL-SALMAN J, KEMP D, RANDALL D. Hyponatremia. West J Ved; 176 (3)173-6; 2002. BARAFF, J.L. 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Haja vista a concentração de prótons H+ no plasma ser extremamente baixa (da ordem de 40 nmol /L), o valor do pH sanguíneo expressa uma função logarítmica da concentração de prótons H+ circulantes. O pH do plasma é, continuamente, submetido a ajuste refinado e seu valor repercute nas mais diversas reações enzimáticas que ocorrem em nosso organismo. Tal ajuste é resultado da ação de sistemas de tamponamento, bem como de regulação renal e respiratória, que mantem o pH sanguíneo no intervalo de normalidade aceito entre 7,35 - 7,45. Os chamados sistemas-tampão são verdadeiros defensores do organismo contra adição de carga ácida ou básica. Os principais tampões são o bicarbonato, o fosfato e as proteínas, dentre elas a hemoglobina. Em condições fisiológicas, a estabilidade do pH sanguíneo é mantida constante pela excreção renal de ácidos correspondente à carga ácida dada ao organismo, que consiste, principalmente, da oferta de aminoácidos da dieta e dos ácidos oriundos do metabolismo intermediário. 4 DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BÁSICO Lia Cavalcanti de Albuquerque Adriana Rodrigues Façanha Barreto Queiroz 64 Rotinas Pediatria Geral Veja abaixo o exemplo do bicarbonato como tampão: 1) HCO3 - + H+ H2CO3 CO2 + H2O Utilizamos a equação de Henderson-Hasselbalch (usada para descrever a dissociação de um ácido fraco), adequando-a ao sistema bicarbonato-ácido carbônico e temos: 2) pH = pKa + log [HCO3 -] / [ H2CO3] O gás carbônico combinado com a água, como nos mostra a equação 1, forma o ácido carbônico. Entendemos que a concentração de CO2 em uma solução é proporcional à pressão parcial desse gás, considerando a constante de solubilidade do CO2 em condições fisiológicas do plasma a 37°C, o valor do pKa é de 6,1. Dessa forma, reescrevemos a segunda equação: 3) pH = 6.1 + log [HCO3-] / 0.03 x PaCO2 O sistema tampão de bicarbonato-ácido carbônico é considerado o mais eficiente do nosso organismo. Ele consegue promover contínua remoção da carga ácida e formação de composto volátil, facilmente exalado pelos pulmões. Outros sistemas-tampão tem sua capacidade constante, e não são capazes de aliviar a carga ácida rapidamente, o que pode gerar alterações substanciais do pH. O gás carbônico é regulado pelos pulmões, enquanto o bicarbonato tem seu ajuste determinado pelos rins. Dessa forma, entendemos que distúrbios respiratórios primários repercutirão no valor da PCO2, enquanto distúrbios metabólicos refletirão na concentração de bicarbonato sérico. O conceito de acidemia refere-se ao pH< 7,36, enquanto a alcalemia se define como pH > 7,44. A acidose e alcalose nada mais são do que os processos fisiopatológicos associados à acidemia ou à alcalemia, respectivamente. Ao nascimento, o valor normal de pH pode variar entre 7,26 - 7,29, às custas da PCO2 mais aumentada (cerca de 55 mmHg) e de níveis séricos de bicarbonato mais baixos, por volta de 19 meq/L. Existe, ainda, um importante conceito que devemos abordar para completa análise de distúrbios do equilíbrio ácido-base: o ânion gap. Por meio do princípio da eletroneutralidade, entendemos que as cargas 65 Rotinas de Pediatria Geral negativas (ânions) devem se igualar às cargas positivas (cátions) em um determinado meio. O principal cátion extracelular é o sódio (Na+), corresponde a 90% dos cátions mensuráveis. Convencionamos que outros cátions, como potássio, cálcio e magnésio, entram na contabilidade dos 10% de cátions não mensuráveis. No caso dos ânions, os mais importantes são o bicarbonato e o cloro, respondendo por 85% das cargas negativas medidas. Os outros 15% não mensuráveis correspondem a sulfatos, fosfatos e lactato, por exemplo. Dessa forma, temos 5% de diferença entre ânions não mensuráveis e cátions não mensuráveis. Na prática, esse valor corresponde a 8 - 16 meq/L, média de 12 meq/L, que é equivalente ao ânion gap (AG) sérico normal. O cálculo do AG fica assim disposto: AG = Na+ – (HCO3 - + Cl-) Esse conceito será particularmente interessante para abordagem das acidoses metabólicas e seu diagnóstico diferencial. Atenção! Quando lemos o resultado de uma gasometria, devemos estar cientes de que o valor do bicarbonato é medido de forma indireta, isto é, ele é calculado a partir do valor da pressão parcial de gás carbônico e do pH.VALORES NORMAIS DA GASOMETRIA ARTERIAL pH = 7,35 - 7,45 pCO2= 35 - 45 mmHg HCO3 - = 22 - 26 mEq/L BB = 48 mEq/L BE = -3 / + 3 Em pacientes com hipoalbuminemia o ânion gap deve ser corrigido pela albumina pela fórmula: AG corrigido = AG + [2,5 x (4 – albumina sérica)]. Didaticamente, expomos abaixo a relação entre o ânion gap e o déficit calculado de bicarbonato (delta HCO3 -) e sua interpretação. 66 Rotinas Pediatria Geral Fórmula Delta AG/Delta HCO3 - = AG – 10/24 - HCO3 - Se o resultado for: < 1 – acidose metabólica AG normal associada a uma acidose metabólica com AG aumentada; Entre 1 - 2 – acidose metabólica “pura” com AG aumentado; >2 – acidose metabólica com AG aumentado + alcalose respiratória. Na prática, frequentemente encontramos distúrbios em cenários clínicos em que se superpõem alterações metabólicas e respiratórias. É importante tentarmos diferenciar tais situações, pois, em última análise, isso repercutirá nos tratamentos propostos. Nos distúrbios metabólicos, calculamos a pCO2esperada, pois inferimos que haverá tentativa de compensação rápida pelo trato respiratório com “lavagem” de CO2na vigência de acidose metabólica e retenção do gás nos casos de alcalose metabólica. Essa resposta compensatória e limitada do organismo é facilmente entendida se retornarmos à equação 1 e observamos que, por exemplo, no cenário de acidose metabólica, o consumo de gás carbônico – isto é, a sua eliminação pelos alvéolos pulmonares - deslocaria a reação para a direita, havendo, assim, o tamponamento dos ácidos excedentes. PCO2 ESPERADO Acidose Metabólica: PCO2esp= (HCO3- x 1,5) + 8 +/- 2 Alcalose Metabólica: PCO2esp= HCO3- + 15 +/- 2 Conforme já mencionamos acima, de uma forma geral, a compensação respiratória de distúrbios metabólicos é instalada rapidamente, em questão de horas, pois são desencadeadas por quimiorreceptores que atuam no centro respiratório hipotalâmico e determinam alterações concomitantes na frequência respiratória do paciente. O contrário, isto é, quando tratamos da compensação de distúrbios respiratórios pelo organismo, a mesma não ocorre de forma tão rápida, pois requer adaptação renal para o ajuste da reabsorção ou eliminação de 67 Rotinas de Pediatria Geral bicarbonato, o que demora dias para se instalar. Abaixo, esquematizamos os mecanismos de adaptação do organismo em cada tipo de distúrbio, nas situações agudas e crônicas. Lembramos, ainda, que a compensação não é capaz de normalizar o pH. Senão vejamos: DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS Acidose respiratória Aguda: hHCO3 1 mEq/L quando a PCO2h 10 mmHg. (∆bic=0,1 x ∆PCO2) Crônica: hHCO3 4 mEq/L quando a PCO2h 10 mmHg. (∆bic=0,4 x ∆PCO2) Alcalose respiratória: Aguda:iHCO3 2 mEq/L quando a PCO2i 10 mmHg. (∆bic=0,2 x ∆PCO2) Crônica:iHCO3 4 mEq/L quando a PCO2i 10 mmHg. (∆bic=0,4 x ∆PCO2) Acidose metabólica: CONCEITO Queda na concentração do bicarbonato sérico, podendo estar ou não associado à acidemia (pH< 7,36) que é proporcional à hiperventilação compensatória. CAUSAS AG NORMAL Perda de bicarbonato por via renal; Perda de bicarbonato pelo trato gastro intestinal (diarreia, fístulas); Pelo princípio da eletroneutralidade, o bicarbonato é eliminado junto com um cátion – em geral, o sódio. A perda concomitante de sódio justifica a manutenção do AG normal. 68 Rotinas Pediatria Geral AG AUMENTADO Acidose lática;Sepse; Insuficiência Renal e Uremia; Cetoacidose diabética; Rabdomiólise e toxinas (p.ex.: intoxicação por AAS, álcool, etilenoglicol); Medicações (p.ex.: metformina, ferro, isoniazida); Ocorre acúmulo de ácidos e tamponamento com bicarbonato sem alteração das concentrações de sódio e cloro, o que promove aumente do AG. ATENÇÃO! A análise de uma gasometria deve ser realizada o mais rapidamente possível em seguida à coleta, pois há consumo de bicarbonato e queda do pH da amostra pela atividade metabólica dos elementos do sangue. TRATAMENTO Correção da causa básica – p.ex: hidratação agressiva em paciente em choque hipovolêmico, evitar soluções de reidratação que contenham lactato; Infusão de bicarbonato, se [pH< 7,1 – 7,2; HCO3 < 10 mEq/L] ; Fórmula: Bic necessário = (15 – Bic encontrado) x peso (Kg) x 0,3; Infundir aproximadamente em 2 horas com solução isosmolar. Observações: 1 – Ao corrigir, o intuito não é a correção completa do distúrbio, mas a remoção do paciente da faixa crítica; a própria correção tem seu papel muito controverso pela literatura atual; devemos, portanto, analisar o caso com muita cautela antes de decidir pela correção; 2 – Durante a infusão de bicarbonato é importante que haja ventilação alveolar adequada (espontânea ou artificial), pois o bicarbonato será convertido em CO2; 69 Rotinas de Pediatria Geral 3 – Ao corrigir a acidose metabólica devemos ter cuidado com: hipocalce- mia, correção rápida de hiponatremia crônica com desmielinização osmó- tica, sobrecarga cardiovascular, acidose cerebral paradoxal, hipocalemia e edema agudo do pulmão; 4 – Nas acidoses metabólicas de AG normal, devemos, sim, repor as per- das de bicarbonato do paciente. É o caso, por exemplo, das acidoses tubu- lares renais, em que a reposição de álcali faz parte do tratamento. Alcalose metabólica CONCEITO Elevação primária do bicarbonato plasmático com aumento do pH sanguíneo (pH > 7,44). Atentar para níveis mais baixos de bicarbonato aceitos para neonatos e lactentes. CAUSAS 1 – Administração exógena de alcali; - Administração de elevada quantidade de HCO3-; - Hiperalimentação; - Exsanguineotransfusão (o citrato, usado como conservante de hemocomponentes é convertido em bicarbonato pelo metabolismo hepático); - Recuperação de acidoses orgânicas. 2 – Perda de carga ácida: - Vômitos excessivos, como na estenose hipertrófica de piloro; - Presença de sonda nasogástrica em aspiração. 3 – Estados hipervolêmicos - Hiperaldosteronismo primário (p.ex.: tumor produtor de mineralo- corticóide). 70 Rotinas Pediatria Geral - Hiperplasia adrenal congênita; - Uso de corticoide exógeno; - Estenose de artéria renal. 4 – Estados hipovolêmicos: - Diarreia, incluindo casos secundários ao uso de laxativos e a cloridor- reia congênita; - Uso de diuréticos de alça e tiazídico; - Síndromes de Bartter e Gitelman; - Fibrose cística (pseudo-Bartter). DIAGNÓSTICO Cloreto responsivo: (cloreto urinário < 10 mEq/L, Fração de excreção de cloro < 1%) Terapia com bicarbonato; Vômitos ou SNG em aspiração; Diuréticos; Pós-hipercapnia. Cloreto resistente: (cloreto urinário > 10 mEq/L) Hipervolemia Hiperaldosteronismo primário; Síndrome de Cushing Estenose da artéria renal; Insuficiência renal e terapia com substâncias alcalinas. Normo ou Hipovolemia Deficiência de magnésio; Hipopotassemia severa; Sindrome de Bartter ou Gitelman; Uso indevido de diuréticos. 71 Rotinas de Pediatria Geral TRATAMENTO Cloreto Responsivo Reposição hídrica e salina sob a forma de soro fisiológico. Cloreto Resistente Retirar a causa do excesso de mineralocorticoide; Bloquear a atividade mineralocorticoide; - Espironolactona 1-3 mg/Kg/dia 2-4 x dia Corrigir o distúrbio eletrolítico associado (K, Mg) Na síndrome de Bartter - Indometacina (objetivamos a redução da TFG e das perdas renais, é a chamada ”nefrectomia química”): 1-3 mg/Kg/dia, 3-4 x dia - Espironolactona: seu papel no tratamento ainda é controverso e devemos atentar para hipotensão grave nesses pacientes após início dessa medicação - Reposição oral de sódio, cloro e potássio, sempre que possível. Acidose respiratória CONCEITO Distúrbio ácido-básico ocasionado pela retenção de
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