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Crise da divida externa, um contexto geral.

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36Faculdade On-Line UVB
Anotações do Aluno
Aula Nº 5 – A Crise Da Dívida 
Externa
Objetivos da aula:
Analisar e discutir a crise da dívida externa e seu impacto na economia 
brasileira. Mais detalhadamente, você irá estudar a origem da dívida 
externa, que está relacionada a uma grande oferta de recursos financeiros 
disponíveis no mercado internacional. Verá também como uma mudança 
no cenário externo (choque do petróleo e aumento das taxas internacionais 
de juros) gerou a crise do endividamento do Terceiro Mundo. 
O ORTODOXO VERSUS O DESENVOLVIMENTISTA
Em 1979, assumiu a presidência o general João Baptista de Figueiredo e 
para o Ministério do Planejamento, foi escolhido o economista ortodoxo 
Mário Henrique Simonsen. Nesse mesmo ano, houve o segundo choque 
do petróleo e com isso um aumento nas taxas de juros dos países centrais. 
Esse aumento nos juros fez aumentar os encargos da dívida externa e 
conseqüentemente necessidade por divisas, demandando um ajuste na 
economia. Simonsen optou por uma política recessiva para enfrentar a crise 
internacional. A lógica era reduzir o nível de atividade econômica para com 
isso reduzir importações e consequentemente a demanda por divisas.
A adoção de uma política recessiva, porém, sempre gera muitos opositores. 
Convém lembrar que os anos mais terríveis da repressão militar já haviam 
passado e que o país caminhava para a redemocratização. Nesse ambiente 
de relativa liberdade, a pressão de alguns segmentos da sociedade por uma 
mudança na política econômica fez com que Simonsen fosse substituído, 
ainda em 1979, pelo desenvolvimentista Delfim Netto. A missão do ex-
ministro era a de reeditar o milagre, porém, agora, com um cenário externo 
totalmente adverso.
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Anotações do Aluno
Delfim Netto adotou uma política econômica expansiva e inicialmente 
consegue bons resultados. O crescimento econômico em 1980 foi de 9,1%. 
Porém desequilíbrios no balanço de pagamentos e aceleração inflacionária, 
que chegou a 110,2% naquele ano, obrigaram Delfim a mudar sua política. 
A partir de 1981, o festejado ex-ministro passou a ser simplesmente o 
administrador de uma crise.
A DÉCADA PERDIDA
Os economistas costumam se referir aos anos 1980 como “década 
perdida”. Nesse período, a economia brasileira foi marcada por um misto 
de estagnação econômica e inflação alta. Até os anos 1970, essa soma de 
inflação mais recessão era algo praticamente desconhecido dentro da teoria 
econômica. Normalmente, quando há recessão econômica, os preços não 
costumam aumentar. Nos anos 1970, após o primeiro choque do petróleo, 
a economia mundial começou a apresentar sinais de desaquecimento 
acompanhado de aumento de preços. Essa mistura insólita passou a ser 
chamada de “estagflação”.
Você estudou na aula passada que, em meio à crise mundial gerada pelo 
primeiro choque do petróleo (1973), o governo militar, através do II PND, 
resolveu aprofundar o processo de industrialização por substituição de 
importações. Essa ousada e controversa opção pelo crescimento econômico 
em meio a uma crise mundial é muito discutida até hoje. Nesse período, os 
economistas ortodoxos já defendiam a idéia de que a melhor alternativa 
para o país seria um ajuste recessivo.
Em 1979, como acabamos de ver, Simonsen tentou implementar uma política 
econômica contencionista, mas foi substituído pelo desenvolvimentista 
Delfim Netto. Ou seja, nessa época havia no país uma forte pressão pela 
escolha de políticas desenvolvimentistas. Vamos tentar entender um pouco 
melhor essa questão.
Inicialmente é preciso enfatizar que os economistas estão divididos em dois 
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Anotações do Aluno
grandes grupos. ortodoxos e heterodoxos. O primeiro grupo está alinhado 
ao saber econômico tradicional e aos grandes centros mundiais de estudo 
e pesquisa em economia. No que diz respeito ao crescimento econômico, 
esse grupo ressalta a importância do governo zelar pelos fundamentos 
macroeconômicos e entendem que o crescimento é basicamente uma 
decorrência disso. Ou seja, ao governo cabe “deixar a casa em ordem” e o 
crescimento depende da atuação do setor privado.
Os heterodoxos rejeitam a sabedoria convencional e criam suas próprias 
teorias. De modo geral, esse grupo entende que o crescimento econômico é 
responsabilidade do Estado e que este objetivo deve ser buscado a qualquer 
custo, mesmo que seja preciso algum desequilíbrio nos fundamentos 
macroeconômicos em um primeiro momento.
Como você já deve ter observado em nossas aulas, desde 1930, os 
economistas desenvolvimentistas ou heterodoxos conseguiram impor suas 
idéias. Durante o período militar, essa opção pelo desenvolvimentismo tem 
a ver com pressões da sociedade pelo crescimento econômico e sobretudo 
com a necessidade de legitimação do regime. O ajuste recessivo somente 
seria experimentado no Brasil no final de 1980, frente a um desequilíbrio do 
setor externo e à aceleração inflacionária.
O ENDIVIDAMENTO EXTERNO
A recessão dos anos 1980 está profundamente relacionada com a questão 
do endividamento externo. Vejamos como tudo começou. A dependência 
financeira externa do Brasil é um problema tão antigo quanto a história do 
próprio país. Porém, iremos tratar apenas do aumento recente da dívida 
externa, que ocorre a partir de 1968, durante o regime militar. Vamos 
começar nosso estudo pela análise do cenário externo naquele período, 
marcado pelo surgimento do Euromercado.
Nos anos 1960, bancos de diferentes países, mas principalmente europeus, 
passaram a aceitar depósitos em dólar. Havia uma oferta mundial de dólares 
muito grande naquela época, decorrência principalmente dos déficits 
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comerciais norte-americanos financiados por emissões monetárias.
Você pode entender isso da seguinte maneira: os Estados Unidos estavam 
consumindo mais do que produziam, consequentemente tinham de 
importar essa diferença, e estavam financiando suas importações através 
de emissão monetária. Como bancos de diferentes países passaram a aceitar 
depósitos em dólar, foi havendo um aumento na disponibilidade de fundos 
a serem emprestados no mercado financeiro internacional. Essa situação 
iria se acentuar ainda mais a partir de 1974, quando os árabes começaram a 
despejar petrodólares nesse mesmo mercado.
Se de um lado existia uma enorme massa de recursos a serem emprestados, 
numa outra ponta, havia muitos países em desenvolvimento necessitando de 
divisas (moeda estrangeira) para financiar seus projetos de desenvolvimento. 
O resultado desse encontro é bastante previsível. Vários países, entre eles o 
Brasil, entraram em um processo de endividamento externo.
A dívida externa brasileira que começa a se acelerar a partir de 1968 era 
predominantemente privada. Os principais tomadores de empréstimos 
eram empresas multinacionais e bancos estrangeiros. A partir de 1975, 
com a implementação do II PND, há uma inflexão desse quadro. O II PND 
foi financiado por recursos nacionais e estrangeiros.A poupança interna 
foi direcionada ao setor privado nacional. Por outro lado, as empresas 
estatais, por terem mais condições de levantar recursos no exterior, uma 
vez que contavam com o aval do governo, foram praticamente forçadas a se 
endividar no mercado financeiro internacional. A literatura que trata desse 
tema costuma dizer que, a partir do II PND, houve uma estatização da dívida 
externa brasileira.
CHOQUE DO PETRÓLEO E AUMENTO DE JUROS
Em 1973, tivemos o primeiro choque do petróleo. O preço do barril passou 
de US$ 3,29 em 1973 para US$ 11,58 em 1974, subindo gradualmente até US$ 
13,60 em 1978. Esse foi um importante fato que contribuiu para o aumento 
do endividamento externo brasileiro, uma vez que o país não podia abrir 
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mão desse insumo. O aumento no preço do petróleo começou a gerar 
inflação em praticamente todos os países do mundo. Em 1974, houve um 
principio de aumento na taxa internacional de juros. Porém, já em 1975, os 
juros retornaram ao seu nível normal. 
A situação ficou mais complicada com o segundo choque do petróleo, em 
1979. Nessa ocasião, o preço do barril aumentou de US$ 13,60 para US$ 
30,03, atingindo US$ 35,69, em 1980. Novamente o aumento de preço do 
petróleo começou a gerar pressões inflacionárias, fazendo com que os 
países centrais começassem a aumentar suas taxas de juros.
A dívida externa do Brasil (e dos países em desenvolvimento de um modo 
geral) era corrigida por uma taxa variável de juro. Por exemplo, um título da 
dívida externa brasileira podia ser corrigido pela Libor (London Interbank 
Offered Rate, ou Taxa Interbancária do Mercado de Londres) mais um 
spread (prêmio adicional pelo risco). Um aumento na Libor fazia crescer os 
encargos da dívida externa brasileira.
O choque dos juros internacionais levou o México a decretar sua moratória 
em 1982. A partir daí, o quadro se torna ainda mais grave, pois os credores 
internacionais passam a temer novas moratórias e deixam de financiar 
a rolagem das dívidas dos países em desenvolvimento. Os credores 
internacionais apoiados pelos seus respectivos governos e também pelo 
FMI, passam a exigir dos países endividados um ajuste externo para honrar 
o pagamento da dívida. No mesmo ano da moratória do México, o Brasil 
recorre ao FMI.
Apesar do aumento do preço do petróleo (segundo choque) e das taxas 
de juros no mercado internacional ter acontecido a partir de 1979, o ajuste 
externo brasileiro somente viria a ser posto em prática no final de 1980, 
através de uma política de controle da absorção interna visando reduzir 
a necessidade de divisas. A partir de 1983, o Brasil começa a apresentar 
significativos superávits comerciais para poder pagar os serviços da dívida. 
Inicia-se então um processo de transferência líquida de recursos para o 
exterior. Em suma, as divisas geradas pelo setor exportador eram na sua 
maior parte direcionadas para o pagamento da dívida externa brasileira. 
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Resumindo: de forma geral, entende-se a crise da década de 1980 foi uma 
decorrência do ajuste recessivo promovido pelo governo visando honrar o 
pagamento dos encargos da dívida externa.
SÍNTESE
Você aprendeu na aula de hoje que o Brasil entrou em um processo de 
endividamento externo a partir do final dos anos 1960. Essa opção pela 
poupança externa estava relacionada ao surgimento do Euromercado. O 
choque do petróleo e o aumento das taxas internacionais de juros durante 
os anos 1970 e 1980 geraram a crise do endividamento externo no Terceiro 
Mundo. Muitos países, entre eles o Brasil, foram forçados a por em prática 
um ajuste recessivo para poder saldar os encargos da dívida. Por conta desse 
ajuste, a economia brasileira teve um crescimento pífio durante a década de 
1980, que recebeu a alcunha de “década perdida”.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
HERMANN, Jennifer. Auge e declínio do modelo de crescimento com 
endividamento: o II PND e a crise da dívida externa. In: GIAMBIAGI, Fábio et al 
. Economia brasileira contemporânea (1945-2004). Rio de Janeiro: Elsevier, 
2005.
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São 
Paulo: Saraiva, 2005.
VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de et al. Economia brasileira 
contemporânea. São Paulo: Atlas, 1999.

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