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Introdução à Ciência do Direito 
Parte I 
Apresentação da disciplina
	A Introdução à Ciência do Direito é matéria de iniciação que fornece ao estudante as noções fundamentais para a compreensão do fenômeno jurídico.
	A disciplina constitui um sistema de ideias gerais. Este sistema é capaz de revelar o Direito como um todo e alinhar os seus elementos comuns.
Objeto
	Esta disciplina visa fornecer ao estudante uma visão global do Direito, que não pode ser obtida através do estudo isolado dos diferentes ramos da árvore jurídica.
	Para proporcionar a visão global do Direito, a ICD examina o objeto de estudo dos principais ramos, levando os alunos a se familiarizarem com a linguagem jurídica.
Introdução à Ciência do Direito
Etimologia da palavra Direito (origem do vocábulo) - é oriunda do adjetivo latino directus (qualidade do que está conforme a reta; o que não tem inclinação, desvio ou curvatura ), provém do particípio passado do verbo dirigo, is, rexi, rectum, dirigere, equivalente a guiar, conduzir, traçar, alinhar. 
	O vocábulo surgiu na Idade Média, aproximadamente no século IV, e não foi empregado pelos romanos, que se utilizaram de:
	- jus, para designar o que era lícito 
	- injuria, para expressar o ilícito.
	
	A etimologia de jus é discutida. 
	- Há entendimento de que provém do latim Jussum (mandado), particípio passado do verbo jubere, que corresponde, em nossa língua, a mandar, ordenar.
	
Conceituação
- O vocábulo também era usado com Justum (o que é justo).
	Do vocábulo jus surgiram outros termos que incorporaram-se à terminologia jurídica. 
	P. Ex.: justiça, juiz, jurisprudência.
- A preferência dos povos em geral pelo emprego do vocábulo Direito decorre do fato de possuir significado mais amplo do que jus.
Definição semântica da palavra Direito (sentido) – O povo cria a linguagem e é agente de sua evolução. A palavra Direito desde sua formação até o presente, passou por vários significados. Expressou primeiramente, a qualidade do que está conforme a reta e, sucessivamente, designou: Aquilo que está conforme a lei; a própria lei; conjunto de leis; a ciência que estuda as leis.
Definição de Direito segundo Paulo Nader:
	Direito é um conjunto de normas de conduta social, imposto coercitivamente pelo Estado, para a realização da segurança, segundo os critérios de justiça.
	Conjunto de normas de conduta social, porque elas:
		a) fixam pautas de comportamento social;
		b) estabelecem os limites de liberdade para os homens em sociedade;
		c) impõe obrigações apenas do ponto de vista social
		Obs: A conduta exigida não alcança o homem na sua intimidade, pois este âmbito é reservado à Moral e à Religião (veremos mais adiante em Instrumentos de controle social).
É fundamental para a vida do Direito que as condutas sociais sigam os ditames das normas jurídicas. O Direito sem efetividade é letra morta; existirá apenas formalmente.
Imposto coercitivamente pelo Estado, porque:
	O homem deve ajustar a sua conduta social aos preceitos legais por vontade própria. Caso contrário, surge a necessidade de coerção a cargo do Estado (intimidação sobre os destinatários das normas jurídicas)
Para a realização da segurança jurídica, segundo os critérios de justiça:
	O aparato legal deve ser considerado como instrumento colocado em função do bem-estar da sociedade. A justiça é a causa final do Direito, a sua razão de ser.
Noção de Direito
Acepções da palavra Direito (Pluralidade de significações; cinco realidades fundamentais):
	1 – o Direito como Norma (norma agendi) 
 	Ou seja como regra social obrigatória a todos. 
	Exemplo: O “direito” não permite a discriminação.
	2 – o Direito como Faculdade (facultas agendi)
	Com significado de faculdade ou poder de exigir o que lhe é devido 
	Exemplo: O “direito” de cobrar uma dívida.
	
	Obs: Estudaremos mais adiante as diferenças entre Direito Objetivo, Subjetivo e Potestativo.
 3 - O Direito como valor de Justiça
	Umas vezes o Direito designa o que é devido por justiça. 
	Exemplo: O salário é “direito” do trabalhador. Neste caso, direito é o bem devido a uma pessoa por exigência da justiça.
	Outras vezes o Direito significa a conformidade com a justiça
	Exemplo: Não é “direito” condenar um inocente, ou seja, não é conforme à justiça.
	4 – O Direito como fato social
	Exemplo: “Direito” é considerado como fenômeno da vida coletiva. 
	Não existe senão na sociedade e não pode ser concebido fora dela. Uma das características da realidade jurídica é, como se vê, a sua qualidade de ser social. 
	5 – O Direito como Ciência
	O Direito como Sistema de Conhecimento Jurídico
	Exemplo: O conhecimento do “Direito” se faz através de cada uma das disciplinas jurídicas.
Fenômeno da Sociabilidade Humana – A própria constituição física do ser humano revela que ele foi programado para conviver e se completar com outro ser da sua espécie.
	
	Exemplo de Robson Crusoé serve para reflexão.
	Aristóteles considerou o homem fora da sociedade “um bruto ou um deus”, significando algo inferior ou superior à condição humana. Na primeira hipótese, o homem viveria alienado, sem o discernimento próprio ou, na segunda, viveria como um ser perfeito, condição ainda não alcançada por ele.
Origem das Sociedades e dos Agrupamentos Sociais
Santo Tomás de Aquino apresentou três hipóteses para a vida humana fora da sociedade:
	a) mala fortuna;
	No infortúnio, o isolamento se dá em casos de naufrágio ou em situação análoga, como a queda do avião em plena selva.
	b) corruptio naturae;
	Na alienação mental, o homem desprovido de inteligência, vai viver distanciado de seus semelhantes.
	c) excellentia naturae;
	Esta hipótese é a de quem possui uma grande espiritualidade, como São Simeão, chamado “Estilita” por tentar isolar-se, construindo uma alta coluna, no topo da qual viveu algum tempo.
É na sociedade, e não fora dela, que o homem encontra complemento necessário ao desenvolvimento de suas faculdades . Por não conseguir a autorrealização, concentra seus esforços na construção da sociedade, seu habitat natural e que representa o grande empenho do homem para adaptar o mundo exterior às suas necessidades de vida.
Desde o momento em que os primeiros Homens passaram a conviver, naturalmente, certos parâmetros foram naturalmente estabelecidos para que esta convivência viesse a acontecer.
Inicialmente, sabemos que o que vigorava era o que se chamou de “lei do mais forte”, ou seja, aqueles que dispunham de força, passavam a impor suas vontades ou necessidades sobre os mais fracos.
FORMAS DE CONTROLE SOCIAL
 
Chama-se a esta fase de era da justiça privada, pois o homem fazia justiça com “suas próprias mãos”, sem a intervenção de um “Estado”.
O estudo da sociologia do direito visa estudar as mais diversas formas de comportamentos do homem na sociedade.
Os mais diversos grupos humanos e os fatos sociais ali vivenciados diferem sempre no tempo e no espaço em decorrência das múltiplas culturas e hábitos destes grupos.
A vida social, portanto, é capaz de gerar os mais diversos tipos de regras de vivência coletiva, pois esta coexistência de homens e coisas (bens físicos) atendem às necessidades e anseios humanos.
O querer humano, bem como sua noção sobre as coisas vai sendo alterado durante a história da humanidade, segundo o valor que se atribui às coisas e ao próprio homem. É esta valoração que faz com que os comportamentos sejam tão distintos nas mais diversas sociedades, pois este valor implica na direção que obrigatoriamente esta coletividade de pessoas irá tomar.
Assim, todas as formas de controle social, ou seja, todas as regras de comportamento social passam por esta axiologia.
Todas as normas sociais passam por este julgamento da mente humana do “deve ser”, e assim, os comportamentos vão se moldando como aceitáveis ou reprováveis.
Toda norma social por uma questão ética possui um juízo de valor, e o não cumprimento dela implica em uma sanção, sendo certo
que o indivíduo tem a opção de cumpri-la ou não, sofrendo, portanto, aquele que a desobedece, as consequências de sua conduta.
Norma, aquilo que é normal, estabelece um comportamento aceito pela maioria, ou seja, comumente repetido ou repelido pelos membros de uma determinada sociedade.
Desta forma, o que é normalmente aceito torna-se uma “norma” ou regra de convivência, um limite do agir.
Interação Social
	As pessoas e os grupos sociais se relacionam estreitamente, na busca de seus objetivos. Os processos de mútua influência, de relações interindividuais e intergrupais, que se formam sob a força de variados interesses, denominam-se interação social.
	A interação social se apresenta sob as formas de cooperação, competição e conflito e encontra no Direito a sua garantia, o instrumento de apoio que protege a dinâmica das ações.
	a) Cooperação – as pessoas são movidas por igual objetivo e valor e por isso conjugam o seu esforço. 
	b) Competição – há uma disputa, uma concorrência, em que as partes procuram obter o que almejam, uma visando a exclusão da outra.
	c) Conflito – se faz presente a partir do impasse, quando os interesses em jogo não logram uma solução pelo diálogo e as partes recorrem à luta, moral ou física, ou buscam a justiça.
As sociedades e os vínculos sociais
Obs: O Direito só irá disciplinar as formas de cooperação e competição onde houver relação potencialmente conflituosa.
	Os conflitos são fenômenos naturais à sociedade. Quanto mais se desenvolve , mais se sujeita a novas formas de conflito e o resultado é o que hoje se verifica. 
	“O maior desafio não é o de como viver e sim o da convivência”.
	Cenário de lutas, alegrias e sofrimentos do homem. A sociedade não é simples aglomeração de pessoas. Ela se faz por um amplo relacionamento humano, que gera amizade, a colaboração, o amor, mas que promove, também, a discórdia, a intolerância, as desavenças. Vivendo em ambiente comum, possuindo idênticos instintos e necessidades, é natural o aparecimento de conflitos sociais, que vão reclamar soluções. O maior desafio é a adaptação das condutas humanas ao bem comum.
Homem, Sociedade e Direito – Silogismo da Sociabilidade
	Ubi homo, ibi societas; ubi societas, ibi jus; ergo, ubi homo, ibi jus 
	(onde o homem, aí a sociedade; onde a sociedade, aí o Direito; logo, onde o homem, aí o Direito).
	“A sociedade sem o Direito não resistiria, seria anarquia, teria o seu fim. O Direito é a grande coluna que sustenta a sociedade. Criado pelo homem, para corrigir a sua imperfeição, o Direito representa um grande esforço para adaptar o mundo exterior às suas necessidades de vida”
	Mútua dependência entre Sociedade e Direito
	O Direito não tem existência em si próprio. Ele existe na sociedade. 
	Existindo em função da sociedade, o Direito deve ser estabelecido à sua imagem, conforme as suas peculiaridades, refletindo os fatos sociais.
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	Fatos sociais são criações históricas do povo, que refletem os seus costumes, tradições, sentimentos e cultura. A sua elaboração é lenta e feita espontaneamente pela vida social. Costumes diferentes implicam fatos sociais diferentes. Cada povo tem a sua história e seus fatos sociais. O Direito, como fenômeno de adaptação social, não pode formar-se alheio a esses fatos. 
	Os fatos sociais exercem importante influência, mas o condicionamento não é absoluto. Falhando a sociedade, ao estabelecer fatos sociais contrários à natureza social do homem, o Direito não deve acompanhá-la no erro. Nesta hipótese, o Direito vai superar os fatos existentes, impondo-lhes modificações.
Papel do legislador
	“Semelhante ao trabalho de um sismógrafo, que acusa as vibrações havidas no solo, o legislador deve estar sensível às mudanças sociais, registrando-as, nas leis e nos códigos, o novo Direito”
	O legislador não pode ser mero espectador do panorama social. Se os fatos caminham normalmente à frente do Direito, conforme os interesses a serem preservados, o legislador deverá antecipar-se aos fatos. Ele deve fazer das leis uma cópia dos costumes sociais, com as devidas correções e complementações.
	Se de um lado o Direito recebe grande influxo dos fatos sociais, provoca igualmente, importantes modificações na sociedade.
	“A história tem demonstrado que onde a lei prevalece, a liberdade individual do Homem tem tido forte e grande progresso. Onde a lei é fraca ou inexistente, o caos e o medo imperam e o progresso humano é destruído ou retardado”.
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	O Direito não é o único responsável pela harmonia da vida social. A Moral, Religião e Regras de Trato Social são outros processos normativos que condicionam a vivência do homem na sociedade.
	De todos, porém, o Direito é o que possui maior pretensão de efetividade, pois não se limita a descrever os modelos de conduta social, simplesmente sugerindo ou aconselhando. A coação – força a serviço do Direito – é um de seus elementos e inexiste nos setores da Moral, Regras de Trato Social e Religião.
	Para que a sociedade ofereça um ambiente incentivador ao relacionamento entre os homens é fundamental a participação e colaboração desses diversos instrumentos de controle social.
Instrumentos de Controle Social
É indispensável que se demarque o território do Direito, de acordo com as finalidades que lhe são reservadas na dinâmica social. Do contrário, com o legislador tendo campo aberto para dirigir inteiramente a vida humana, seria fazer do Direito um instrumento de opressão, em vez de meio de libertação. O Direito seria a máquina da despersonalização do homem. O homem seria um robô, sua vida estaria integralmente programada e não teria qualquer poder de criação.
Sociedade, Nação e Estado
Paulo Nader conceitua Estado como sendo uma nação politicamente organizada, um complexo político, social e jurídico que envolve a administração de uma sociedade estabelecida em caráter permanente em um território e dotado de poder autônomo.
O Estado é composto por 3 elementos:
população;
Território;
Soberania.
População = povo (habitantes do território – entidade jurídica) ou nação (indivíduos que possuem identificação – entidade moral).
Território é a base geográfica do Estado.
Soberania (una e indivisível) é o poder de autodeterminação que possui o Estado.
Estado de Direito – principal característica: respeito aos direitos humanos.
O ordenamento social de um Estado será construído em base mais ou menos sólidas de acordo com todas as características daquele povo, daquela nação.
Os costumes, a cultura, as influências religiosas são fatores que influenciam sobremaneira na construção da ordem que esta sociedade segue e impõe.
De acordo com este ordenamento social, será elaborado o ordenamento jurídico de tal sociedade.
O Estado, a Família e a Propriedade
A estrutura das sociedades tem como base estas três instituições.
O Estado, que, como vimos, é a forma pela qual a sociedade se estrutura, se organiza e administra a vida dos indivíduos.
A família, a célula social de maior importância vem modificando-se ao longo dos anos. Hoje existe uma multiplicidade de famílias, mas o Estado (através de seus poderes) continua a tutelar a célula mater da sociedade.
A propriedade, por garantir a segurança das famílias e das entidades estatais também é protegida e tutelada pelo Estado.
A forma pela qual o Direito vem cuidando das questões relativas à propriedade, também evoluiu muito ao longo dos tempos.
Hodiernamente, a propriedade, é regulada de acordo com uma visão mais ampla, pois precisa atender à sua função social. Legitima-se a propriedade que garante o cumprimento de seu papel para com a sociedade.
Fatores do Direito
Sabemos que o Direito surge em decorrência de fatores sociais.
“Os fatos são normativos”.
Os fatos mais importantes, que possuem maior valor, segundo a concepção de certa sociedade serão tratados pelo Direito.
A realidade social cria, recria, modifica e extingue direitos.
A estrutura social vai sendo criada a partir destes fatores que se apresentam ao longo da
história da humanidade.
Tanto os fatores naturais quanto os culturais interferem na estrutura social, e, consequentemente, na estrutura jurídica.
Os princípios metodológicos são determinantes para o estudo dos fatores, e podem ser: interferência das causas, a distinção de fatores e categorias e a distinção entre eficácia direta e indireta.
Precisamos verificar os diversos fatores, e, as causas que influenciam a vida social.
Estes fatores devem ser avaliados de acordo com a categoria a qual pertencem, pois assim poderão ser valorados. 
Na antiguidade, os fatores naturais representavam a maior influência na vida rudimentar social, o que não se verifica hoje. 
O ser de hoje, dotado de muita inteligência promoveu avanços inúmeros, destacando-se o fator cultural como predominante.
A eficácia direta e indireta dos fatores pode ser percebida se considerarmos que alguns fatores têm o condão de influenciar diretamente os fenômenos sociais.
Em contrapartida, existem fatores, como os naturais que produzem influência indireta na vida social, pois o indivíduo contemporâneo desenvolveu grande capacidade de minimizar o impacto destes fatores na vida da sociedade.
Fatores Naturais e humanos do Direito:
Os fatores geográficos possuem a prerrogativa de influenciar na vida de determinada sociedade.
 O clima está diretamente ligado ao comportamento dos membros de uma sociedade, influenciando-a desde a forma de se vestir e comportar, até nas relações sociais.
 Os recursos disponíveis em determinado território também influenciarão a forma de vida, inclusive, na legislação protetiva.
 O território é determinante, no que tange à forma de habitação, cultivo da terra e na economia.
Fatores Demográficos: número de habitantes em determinado espaço físico também influencia nas questões relativas à habitação, alimentação, cooperação e conflito. Como exemplo podemos citar a utilização de regras legais em países que fazem controle ou estímulo à natalidade. Outro ponto é a questão imigratória que pode ser favorecida ou desestimulada pelas políticas públicas do país.
Fatores antropológicos: são aqueles inerentes ao ser humano e seu desenvolvimento cultural, intelectual, físico e mental.
Este fator recebe influência direta das aptidões e inteligências especiais que são características de cada povo.
Importa salientar que todos os fatores citados de maneira mais direta ou não, influenciam na vida social, e, consequentemente nos ordenamentos sociais e jurídicos.

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