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AULA 08 Tratado de Direito Comercial Volume 2 Cap. 3 Direitos do Sócio

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472 , Tratado de Direito Empresarial 
• ._ 
3. DIREITOS DO SÓCIO 
A legislação anterior não estabelecia nenhum rol dos direitos dos sócios nem 
determinava os que lhe seriam essenciais, isto é, que não podiam ser alterados 
deliberação da maioria ou sem seu consentimento. Nessa omissão incorreu, também; 
o Código Civil que, todavia, aqui e ali consagrou alguns direitos, sem distingui-los 
quanto à sua essência e sem lhes dar adequada sistematização. 
Mesmo na falta de distinção legal, penso que se pode localizar, em qualque± 
sociedade e, mais precisamente, na sociedade limitada, certos direitos que ao sóció 
são conferidos pela lei ou pelo contrato social e que não lhe podem ser suprimido4 
ou alterados por deliberação dos demais ou em maioria, a não ser com sua concor-
dância ou renúncia inequívoca a tais direitos. Outros direitos de sócio há, flexíveis, 
que podem ser modificados ou extintos ou que dependem, para seu exercício; de 
manifestação da vontade dos outros sócios em maioria de capital. Os primeiros po-
dem ser designados como direitos essenciais ou individuais do sócio; os outros, como 
direitos sociais ou coletivos. 
Dentre os essenciais está, por exemplo, o de manter a participação percentual 
no capital social. A maioria não pode deliberar a redução do valor da quota do sócio 
nem pode, indiretamente, atingir esse resultado, aumentando, por exemplo, o capital 
social sem lhe outorgar preferência na subscrição das novas quotas, para que mante-
nha, se quiser, a proporcionalidade de sua participação. Na mesma linha insere-se o 
direito de permanecer na sociedade, vedada sua exclusão, salvo motivo justo, segundo 
a casuística legal. Individual é, também, o direito ao tipo societário escolhido para o 
empreendimento comum (sociedade em nome coletivo, limitada, companhia etc.), o 
qual pode ser convertido em social coma anuência expressa do sócio (CC, art. 1.114). 
Já o direito dep. erceber dividendos enquadra-se entre os direitos coletivos, porque 
depende da aprovação de sua distribuição por decisão da maioria no exercício em 
que sejam produzidos lucros. Se os sócios deliberarem não distribuir dividendos, 
nenhum sócio, individualmente, pode reclamá-los: os lucros então produzidos no 
exercício incorporam-se ao patrimônio social, aumentando, proporcional e indire-
tamente, a quota de participação de cada sócio, mesmo que a isso ele se queira opor. 
Poucos doutrinadores costumam fazer a distinção entre direitos individuais e 
sociais, apesar de o tema me parecer relevante para balizar os poderes da maioria nas 
alterações contratuais. Por isso, são arrolados, a seguir, os direitos pertencentes aos 
sócios da sociedade limitada, observada a classificação acima proposta. 
4. DIREITO DE FISCALIZAÇÃO 
Aos sócios, independentemente do percentual de participação no capital social, 
é assegurado o direito de fiscalizar a administração da sociedade pela inspeção ou 
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5. . 
aju 
Volume H • Empresa Individual de Responsabilidade Limitada e Sociedade de Pessoas . 
ALFREDO DE ASSIS GONÇALVES NETO 
análise direta de seus documentos, registros contábeis e demais dados da escrituração, 
a qualquer tempo, à sua conveniência. 
Fiscalizar a administração da sociedade é um direito individual e indisponível 
do sócio; pode deixar de ser exercido, mas é irrenunciável.' Não havendo previsão 
contratual quanto ao tempo e modo de exercê-lo, aplica-se o critério do art. 1.021 
• do CC, que, à falta de previsão contratual diversa, garante aos sócios examinar, a 
. qualquer tempo, "examinar os livros e documentos, e o estado da caixa e da carteira 
• da sociedade". 
O contrato social, porém, pode fixar época própria para esse exame, contanto 
que não retire do sócio condições para fazer o controle das contas da sociedade. 
Essa alternativa é recomendável, senão de adoção necessária em sociedades com 
número expressivo de sócios, pois evita que os administradores gastem boa pane 
do seu precioso tempo com esclarecimentos repetitivos a cada qual dos sócios, ao 
longo de todo o exercício social. O contrato social fixa, então, o modo e os períodos 
em que tal fiscalização ou exame podem ser exercidos (v.g., pessoalmente pelo sócio 
ou com o auxílio de um contador credenciado, na primeira ou na segunda quinzena 
h 	 dos meses de abril e de novembro etc.). 
O direito à fiscalização completa-se com a submissão das contas dos adminis-
tradores à análise de todos os sócios na reunião ou assembleia geral de encerramento 
de cada exercício social (CC, art. 1.078). Para tanto, devem ser colocados à dispo-
sição deles, se administradores não forem, os balanços patrimonial e de resultado 
econômico nos 30 dias antecedentes à data do evento, o que implica franquear-lhes, 
também, acesso a toda escrituração e documentos que embasam seus lançamentos. 
O direito de fiscalizar a gestão social pode ser conferido, entretanto, a um conse-
lho fiscal, criado e regulado pelo contrato social da limitada, como permitem os arts. 
I 	 1.066 a 1.070 do CC. Trata-se de uma opção recomendada para aquelas sociedades 
que possuam grande número de sócios. 
Uma vez exercida essa opção, o sócio tem restringido o seu direito individual 
de fiscalização previsto no art. 1.021 do referido Código, como será visto mais deta-
lhadamente no capítulo próprio. 
" 5. DIREITO AOS LUCROS 
Têm os sócios, também, o direito de participar dos lucros sociais na proporção 
ajustada no contrato social, que normalmente, salvo ajuste em contrário, corresponde 
7 O Enunciado 63 da II Jornada de Direito Comercial, realizada pelo Centro de Estudos do 
Poder Judiciário e aprovado na plenária de 27.02.2015, assegurou o direito de fiscaliza-
ção ao titular da quota ou ação, mesmo quando dada em usufruto: "O nu-proprietário de 
quotas ou ações gravadas com usufruto, quando não regulado no respectivo ato instituti-
vo, pode exercer o direito de fiscalização da sociedade". 
• 474 Tratado de Direito Empresarial 
. 	
... 
ao seu percentual de participação no capital social. Esse é outro direito essencial: 
havendo lucros, os sócios têm sobre ele assegurada sua participação, seja sob forma 
de dividendos, seja mediante a bonificação de quotas ou, ainda, pela sua aplicação 
na atividade social ou nos meios destinados ao seu exercício. 
O direito aos lucros não se confunde com o direito aos dividendos; este, ao con-
trário daquele, não surge com o resultado lucrativo do exercício social, mas coma 
deliberação dos sócios que aprova sua distribuição, se nada de diferente dispuser o 
ajuste social. Assim sendo, enquanto não houver deliberação da sociedade a respeito 
da destinação dos lucros, o sócio tem mera expectativa de direito ao dividendo. 
Nas sociedades limitadas não há sequer direito a dividendos mínimos, diver-
samente do que ocorre nas companhias; é preciso que os lucros sejam destinados ao 
respectivo pagamento para que nasça o direito individual de cada sócio à respectiva 
parcela de participação, já que, como dito, a sociedade pode decidir dar-lhes outra 
destinação, como sua manutenção em reserva para novos investimentos, para ab-
sorção de prejuízos futuros etc. 
Era essa a norma legal do antigo regime, agora também seguida pelo Código 
Civil, que deixa ao arbítrio da maioria a definição sobre o que fazer com os lucros. 
E parece ser essa a orientação mais acertada, porquanto a ideia de estatuir regra 
semelhante à do anonimato, prescrevendo distribuição obrigatória de dividendos, 
apesar de louvável pela intenção de proteger o minoritário, pode inviabilizar, em 
certas circunstâncias, a expansão do empreendimento explorado pela sociedade. 
De todo modo, os sócios podem inserir cláusula no contrato social determinando a 
distribuição obrigatóriade dividendos, se isso lhes aprouver ou o empreendimento 
for daqueles que permita tal pactuação. 
Os sócios, a rigor, não participam das perdas, a não ser indiretamente, não 
recebendo resultados no exercício em que se verificaremjá que não produzidos. As 
perdas são assumidas pela pessoa jurídica da sociedade e, quando seu patrimônio 
não bastar para saldá-las, não haverá responsabilidade direta dos sócios em relação 
a elas. Tal responsabilidade pode existir, não em razão das perdas, mas por força do 
modelo societário por eles escolhido, nos termos do art. 1.052 do CC, que os faz 
devedores solidários pela diferença que faltar para a integralização do capital social, 
como será visto na análise das obrigações do sócio. 
6. DIREITO AO ACERVO SOCIAL 
É, também, direito do sócio a participação no acervo da sociedade, quando 
ocorrer sua dissolução e liquidação ou outra qualquer forma de rompimento do 
vínculo societário entre ele e a sociedade. Esse direito é determinado pela parcela 
do patrimônio social que corresponder à sua participação no capital da sociedade. 
Tem-se aí outro direito, cujo surgimento está sujeito a evento futuro e incerto, 
qual seja, a ocorrência de rompimento do vínculo social em relação a si. Realmen- 
Volume II • Empresa Individual de Responsabilidade Limitada e Sociedade de Pessoas 
	 475 
ALFREDO DE Assis GONÇALVES NETO 
te, antes da dissolução, de sua retirada e de sua exclusão do quadro social, o sócio 
só possui mera expectativa de direito, tornando-se credor de haveres — e não mais 
sócio — se e quando qualquer desses eventos ocorrer. O mesmo ocorre em caso de 
falecimento, quando os herdeiros não substituem o sócio na sociedade. 
Esse direito é devido em dinheiro, a não ser que o sócio concorde em receber 
de modo diverso, em bens corpóreos ou incorpóreos, direitos ou ações. 
Dissolvida a sociedade, sua liquidação ocorre segundo as regras dos arts. 1.102 
e ss. do CC; se contenciosa, observará as disposições do Código de Processo Civil.' 
A liquidação da quota, que se verifica quando ocorrem os eventos que impliquem 
desligamento dos vínculos societários em relação ao sócio , determina a aplicação da 
regra contida no art. 1.031 do CC, salvo se regulada de modo diverso pelo contrato 
social. 
7. DIREITO DE PREFERÊNCIA 
Em boa hora o codificador de 2002 supriu a lacuna, existente na legislação por ele 
revogada, a respeito do direito de preferência do sócio na subscrição de novas quotas 
decorrentes de aumentos de capital. O fato de a lei anterior não ter dele tratado não 
significava, a meu ver, que esse direito não existisse. Ao sócio tem de ser assegurado 
o direito de manter o percentual de sua participação no capital social, o que implica 
reconhecer-lhe a preferência na subscrição de novas quotas em virtude de aumento 
desse capital, pois, do contrário, o aumento de capital não subscrito por um sócio 
acarreta-lhe a redução de sua participação percentual. Não poderia, como não pode 
a maioria decidir a respeito de tema que possa trazer desfalque ao patrimônio de 
sócio que não adere à deliberação, a não ser com sua anuência, expressa ou tácita. 
O art. 1.081, § 1.0, do CC, explicitou esse direito aos sócios da sociedade limitada, 
que deve ser exercido no prazo de até 30 dias após a deliberação do aumento de capital, 
na proporção das quotas de que sejam titulares — melhor dizendo, na proporção da 
participação de cada qual no capital social. Como as sociedades limitadas só podem 
deliberar o aumento de capital em reunião ou assembleia, é preciso que os sócios 
fiquem atentos à data de sua realização porque é dela que se inicia a contagem desse 
prazo e não do momento do arquivamento da deliberação no registro próprio (Junta 
Comercial ou, se for o caso, Registro Civil de Pessoas Jurídicas). 
Referido prazo é mínimo e pode ser ampliado pelos sócios no contrato social, 
em alteração contratual ou por acordo parassocial. Mesmo assim, é decidencial; 
escoado o prazo legal ou contratual sem ser exercido o direito de preferência, o 
próprio direito extingue-se. 
8. A questão de aplicação do CPC/2015 ã dissolução e liquidação judiciais das sociedades é 
abordada mais adiante, no Capitulo XXII. 
n'-'11% Tratado de Direito Empresarial 
A simples concessão do direito de preferência na subscrição do aumento de 
capital, no entanto, não ampara plenamente os direitos patrimoniais do sócio. Teria 
sido oportuno o legislador inserir, no regime da sociedade limitada, norma semelhante 
àquela do art. 171, § 1.0, da Lei 6.404/1976, que impõe a observância de critérios 
para a detdminação do preço de emissão das ações, visando a evitar, com isso, uma 
diluição injustificada da participação não só percentual, mas também patrimonial 
do sócio que não queira ou não possa subscrever o aumento de capital. Esse assunto 
pode ser regulado no contrato social, mas, na omissão, é plenamente defensável a 
tese de o aumento de capital não poder reduzir o valor patrimonial das quotas dos 
sócios que não o subscreverem. Do contrário, estiria sendo chancelada uma fórmula 
engenhosa de subtrair patrimônio alheio. Confira-se: se uma sociedade possui um 
patrimônio efetivo de 200, mas seu capital social é de 20, o aumento desse capital 
em mais 20 pela subscrição de quotas nesse mesmo valor em dinheiro totalizaria 
40 para um patrimônio que, acrescido de 20, totalizaria 220; o sócio que possuidor 
da metade do capital primitivo, por não subscrever o aumento, teria reduzida sua 
participação patrimonial para pouco mais de 1/4 (10 no capital de 20 para um pa-
trimônio de 200, corresponde a 100; 10 no capital de 40 para o novo patrimônio de 
220, corresponde a 55). A solução, para esses casos, é introduzir o ágio como forma 
de evitar a perda patrimonial. 
Por outro lado, à semelhança da Lei do Anonimato, o Código Civil confere ao 
direito de preferência a natureza de um bem imaterial dotado de valor econômico e, 
por isso, suscetível de negociação, permitindo sua transmissão a sócio ou a terceiro 
(§ 2.° do art. 1.081). Essa cessão do direito de preferência sujeita-se às mesmas regras 
previstas para a cessão de quotas, que se encontram no art. 1.057, se o contrato social 
nada dispuser a respeito. 
Desse modo, se a operação não estiver regulada no contrato social ou em ajuste 
separado, pode o sócio ceder livremente seu direito de preferência na subscrição 
de novas quotas a outro sócio; para estranhos ao quadro social essa cessão só será 
possível se não houver oposição de sócios que representem 1/4 do capital social. 
Havendo cláusula contratual a respeito da cessão de quotas, mas não do direito de 
preferência na subscrição, a cessão desse direito deve observar as normas do contrato, 
previstas para a cessão. Como cabe aos sócios regular livremente as transferências 
de participações no contrato social, é possível, por igual, nele inserir clausula que
. 
proíba a cessão do direito de subscrição de quotas decorrentes de aumento de capital. 
Acessão do direito de transferência pode ser feita total ou parcialmente, a título 
oneroso ou gratuito, e deve ser lavrada em instrumento escrito, público ou particular, 
sem outras formalidades, com comunicação pelo cessionário aos administradores 
da sociedade, instruída com cópia do negócio, informando-os que, no prazo legal, 
irá exercer o direito de subscrição que lhe foi cedido. 
A preferência na subscrição deve ser garantida mesmo no caso de subscrição 
com bens em espécie, sob pena de ser afrontado o direito de o sócio manter seu 
Volume II • Empresa Individual de Responsabilidade Limitada e Sociedade de Pessoas 477 
. 	
. 	 . 	 . 
ALFREDO DE ASSIS GONÇALVES NETO 
percentual de participação na sociedade. O fundamento dessa conclusão encontra 
apoio no art. 171, § 2.°, da Lei 6.404/1976, que é aplicável ao caso por analogia, dada 
a manifesta semelhança das situações. Ai os recursosarrecadados com a subscrição 
em numerário conferem à sociedade condições para adquirir o bem que iria ingressar 
no seu patrimônio a título de aumento de capital. 
Por último, é possível que o contrato social crie outra espécie de direito de 
preferência para a hipótese de alienação de quotas por um sócio para que os demais 
possam adquiri-las na proporção da participação-de cada qual no capital social. Esse 
direito de preferência na aquisição de quotas já existentes e pertencentes a outro 
sócio, entretanto, não é essencial; nada dispondo o contrato social a respeito, ao 
sócio é permitido alienar suas quotas a terceiro (não sócio), como consentimento 
da maioria qualificada de 3/4 do capital social, ainda que sócios, em minoria, quei-
ram adquiri-las, observados os percentuais estabelecidos no mesmo contrato ou, 
na omissão, as disposições do art. 1.057 do CC. Esse direito de preferência só tem 
cabiinento na cessão onerosa de quotas sociais. 
8. DIREITO DE VOTO 
O direito de voto nas sociedades limitadas estava previsto, implicitamente, nas 
regras dos arts. 15 e 16 do Dec. 3.708/1919, que dispunham sobre a possibilidade 
de a maioria promover alterações no contrato social e tomar deliberações. O Código 
Civil regula-o mais detalhadamente, não só quando indica as matérias que depen-
dem da deliberação dos sócios (art. 1.071), como quando trata da forma de obtê-la 
(arts. 1.010 e 1.072) e dos diversos percentuais para a tomada de decisão (v.g., arts. 
1.057, 1.074 e 1.076). 
Ao invés de deixar a critério dos sócios a determinação de maiorias para as 
várias deliberações, o Código Civil optou por estatuir, de modo cogente, uma série 
de previsões com maioria qualificada, embora devesse fazê-lo, exclusivamente, em 
caráter supletivo para que os sócios as definissem segundo seus interesses e as par-
ticularidades de cada caso concteto.9 
Trata-se deum direito essencial, do qual o sócio não pode serprivado, ainda que seu 
voto não prevaleça ou repercuta nas deliberações. No laconismo da legislação anterior, 
era comum a prática de alterar o contrato social com tantas assinaturas quantas neces-
sárias para a atingir a maioria , independentemente de consulta aos sócios minoritários, 
dissidentes ou não. Isso decorria de uma interpretação distorcida dos arts. 15 e 16 do 
Dec. 3.708/1919. Ora, do direito de voto não pode ser privado nenhum sócio, ainda 
que possuidor de parcela mínima do capital social. O sócio temo direito de manifestar 
9. No livro Direito de Empresa — Comentários aos arts. 966 a 1.195 do Código Civil cit., re-
gistrei 21 situações regulando distintamente as maiorias nas deliberações de sócios em 
sociedade limitada (n. 396, p. 439-442). 
. 	 . 
	
478 
	 Tratado de Direito Empresarial 
sua vontade nas alterações contratuais, mesmo que seja para delas divergir e não as 
assinar. Alterações feitas às escondidas, portanto, não podem ser admitidas. Tendo isso 
em conta, o Código Civil revestiu de maior solenidade o direito de voto que, em regra, 
deve ser manifestado em reunião ou assembleia (CC, art. 1.072) para a qual todos os 
sócios' , indistintamente, são convocados a comparecér. Desse modo é-lhes garantido 
amplamente o exercício do direito de voto em igualdade de condições, segundo o valor 
das quotas de cada sócio, com ampla liberdade para exercê-lo ou não. 
O direito de voto é insuscetível de cessão. O sócio, no entanto, pode outorgar 
mandato para que outro sócio ou um advogado o represente. Nesse caso, a procuração 
deve especificar os atos autorizados, sem necessidade, porém, de indicar o modo de 
votar. Assim, em se tratando de aprovação de contas, não é preciso conferir poderes 
para rejeitar ou aprovar as contas, como também, em caso de eleição de administrador 
basta conferir poderes para votar na eleição. É conveniente para o procurador, porém, 
que os poderes sejam bem específicos, notadamente quando se trata de deliberação 
que possa externar voto abusivo. 
Na sociedade limitada não é admitida a outorga de mandato a administrador 
para exercer o voto em nome do sócio, como faculta a Lei do Anonimato para a re-
presentação dos acionistas em assembleia. 
A norma do art. 1.074, § 1.°, do CC é cogente, de modo que não pode o contrato 
social ampliar o rol dos representantes dos sócios (admitindo que se faça represen- 
tar por outra pessoa que não seja sócio ou advogado) nem restringi-lo (excluindo a 
possiblidade de representação por sócio ou por advogado). 
Em caso de condomínio de quota o voto é exercido, apenas, pelo condômino re-
presentante e, quando se tratar de espólio de sócio falecido, pelo inventariante (CC, 
art. 1.056, § 11. Havendo quotas dadas em penhor ou em usufruto, aplicam-se, por 
analogia, as disposições dos arts. 113 e 114 da Lei 6.404/1976, ainda que o contrato 
social não contemple sua aplicação subsidiária. Assim, o penhor da quota não im-
pede o sócio de exercer seu direito de voto, sendo lícito estabelecer no instrumento 
de penhor, que ele não poderá, sem o consentimento do credor pignoratício, votar 
em certas matérias; de sua vez, o direito de voto do usufrutuário de quota fica com 
seu exercício condicionado ao que dispuser o ajuste entre ele e o nu-proprietário. 
O direito de voto pode sofrer restrições. Procurando preservar os interesse 's da 
sociedade, o art. 1.074, § 2.°, do CC proíbe o voto do sócio que tenha interesse pes-
soal na matéria objeto da deliberação. Da mesma forma, não permite que ele exerça 
o direito de voto, nessa hipótese, como mandatário de outro sócio. O interesse, de 
que trata essa norma deve ser de conteúdo patrimonial, de modo que não se insere 
nessa proibição, por exemplo, o direito de o sócio votar em si mesmo para exercer o 
'cargo de administrador; além de patrimonial, é preciso que esse interesse diga res-
peito exclusivamente à pessoa do sócio, não havendo, por isso, vedação a que o sócio 
vote, v.g., na distribuição de dividendos maiores do que os propostos pelos adminis- 
Volume 	 Empresa Individual de Responsabilidade Limitada e Sociedade de 
Pessoas 
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tradores, visto que tal assunto diz respeito tanto a ele como aos &Mais sócios.' Na 
sociedade limitada não é possível adotar a suspensão do exercício do direito de voto 
do sócio, como o permite a Lei do Anonimato (art. 120), uma vez que toda restrição 
a direito deve ser interpretada restritivamente e, ainda, porque o universo votante 
está na totalidade do capital social, que é o referencial para a determinação de todas 
as maiorias das deliberações. 
Por outro lado, o sócio não pode ser aquinhoado comum direito devoto superior 
ao dos outros, segundo o critério de participação no capital social — o que significa 
que não há espaço para o exercício do denominado voto plural, expressamente ve-
dado, aliás, pela Lei 6.404/1976 — Lei das S.A. (art. 110, § 2.°). A regra do art. 1.010 
do CC, ao estabelecer que as deliberações sociais serão tomadas por maioria de 
votos, contados segundo o valor das quotas de cada um é imperativa e não confere 
alternativa para agasalhá-lo. 
Pela mesma razão e com reforço nas disposições dos arts. 1.060, 1.071 e 1.076, 
I, do dito Código, não é possível a adoção do voto múltiplo para a eleição de membros 
do conselho de administração, se na sociedade limitada esse órgão for criado com 
espelho no correspondente que está regulado nos arts. 140 a 142 da Lei 6.404/1976. 
Por último, apesar de não expressamente regulado, o voto abusivo — figura 
cujos contornos foram delineados pela Lei 6.404/1976— Lei das S.A. (art. 115) — 
pode caracterizar-se no seio da sociedade limitada. Para tanto é preciso que fique 
demonstrado que foi dado com a intenção de obter proveito indevido para si próprio 
em detrimento da sociedade, de seus administradores ou demais sócios, ou, simples- 
mente, para lhes causar dano. 
9. DIREITO DE RETIRADA 
Temo sócio, ainda, o direito de se retirar da sociedade, sempre que dissentir de 
qualquer modificação do contrato social (CC, art. 1.077), não precisando explicar 
o motivo da discordância, que se caracteriza pela simples ausência de sua assinatu-
ra naquela determinada alteração do contrato social. A discordância é suposta em 
relação a ausentes e a abstinentes. 
Esse é outro direito essencial, de que não pode ser privado o sócio, cujo exercício, 
porém, está condicionado à ocorrência de uma divergência com qualquer alteração 
do contrato social. 
Com a entrada em vigor do Código Civil de 2002, esse direito de retirada, tam-
bém chamado de recesso, não mais convive como de dissolução, então previsto no 
10 Sobre o que vem a ser o interesse do administrador conflitante com o da sociedade, as-
sim no estrangeiro, como no Brasil, ver, por todos, FRANCA, Erasmo Valladão Azevedo e 
Novaes. Conflito de interesses nas assembleias de 5. A. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2014. p. 
219-240. 
:4801 Tratado de Direito Empresarial 
 
 
art. 335, n. 5, do CCo. O texto desse dispositivo revogado, que assegurava ao sócio, 
a qualquer tempo, nas sociedades com prazo indeterminado de duração, romper os 
vínculos societários em relação a si, por vontade unilateral e desmotivada — e que era 
interpretado no sentido de permitir que a sociedade prosseguisse entre os demais 
sócios (dissolução parcial) —, não foi reproduzido nem recepcionado pelo regime 
societário em vigor. O tema, pelas peculiaridades que o envolvem, merece algumas 
ponderações, principalmente porque uma parte da doutrina sustenta ser esse direito 
mais amplo, com respaldo na regra do ah. 1.029 do CC e, para poucos, por aplicação 
da norma constitucional que assegura a liberdade de associação (CF, art. 5.0, XX). 
Não me parece assim, à luz da regra especial contida no art. 1.077 do CC, que 
dá tratamento especial a esse direito no tocante à sociedade limitada. Além disso, a 
regra constitucional acima referida é direcionada para as associações; em matéria 
societária o suporte constitucional encontra-se nos arts. 170 e ss. da CF." 
10. RENÚNCIA 
Além do direito de se retirar da sociedade na forma e pelo modo previstos em 
lei ou no contrato social, o sócio tem o direito de renunciar à sua qualidade de sócio 
e, com isso, desligar-se da sociedade. Na renúncia, o sócio manifesta igualmente sua 
vontade de sair da sociedade, mas, diferentemente da retirada, não passa a ter, com 
tal ato, qualquer direito a receber a título de haveres. "Na renúncia, o sócio abdica do 
status socii e suas quotas passam a pertencer à sociedade, sem que ocorra qualquer 
desembolso por parte dela e, portanto, sem a redução do capital social"» 
Em certas situações, a renúncia é o meio mais célere e, muitas vezes, a solução 
para pôr fim à deterioração do patrimônio pessoal, principalmente numa sociedade 
que está em derrocada e na qual os demais sócios resistem à sua dissolução. É também 
o modo de manifestar descontentamento com operações que podem comprometer o 
futuro da sociedade, sem gerar, com isso, obrigações para ela e para os demais sócios. 
O renunciante não se exime, contudo, das obrigações pessoais que assumiu 
durante o período em que permaneceu como sócio. Assim, na sociedade limitada 
ele pode ser obrigado a responder pela integralização do capital social, se deixou , 
ou algum outro sócio deixou de integralizar o valor de suas quotas sociais (CC, art. 
1.052), bem como pela plus valia dos bens que, eventualmente, tenham ingressado 
no patrimônio social por subscrição de quotas (art. 1.055, § 1.0) e, ainda, pelos atos ' 
ilícitos que possa ter praticado enquanto sócio (v.g., art. 1.080) ou administrador ; 
(art. 1.016). 
11 Os fundamentos que embasam essa conclusão estão desenvolvidos no meu Direito de 
empresa — Comentários aos arts. 966 a 1.195 do Código Civil cit., n. 233, p. 300, e ns. 401- := 
405, p. 444-449. 
12 Do autor, Lições de direito societário. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira Ed., 2004. vol. L 
n. 120, p. 280. 
Volume II • Empresa Individual de Responsabilidade Limitada e Sociedade de Pessoas 
ALFREDO DE ASSIS GONÇALVES NETO 
O fato de a renúncia não estar expressamente arrolada entre os casos de reso-
lução da sociedade em relação a sócio, não significa que tenha sido vedada. Além 
de tal figura não se enquadrar dentre os casos de resolução, no sentido técnico da 
expressão, a liberdade de contratar, no âmbito do direito das obrigações, só encontra 
limites quando há dispositivo expresso, que não existe. Aliás, relativamente aos di-
reitos pessoais, é indiscutível o direito de o sócio renunciar ao seu exercício; no que 
se refere aos direitos patrimoniais, há a previsão expressa do art. 1.275, 11, do CC, 
capitulada como causa ou modalidade de perda da propriedade de bens em geral. 
O art. 1.399, V, do CC/1916, referia-se à renúncia, mas não é dessa renúncia que 
aqui se trata. Aquela era causa dissolutória da sociedade, equivalente à da dissolução 
prevista no art. 335, n. 5, do CCo. Naquela modalidade de renúncia, o sócio a nada 
renunciava; exercia — como o demonstrei anteriormenten— um direito (de dissolução) 
que lhe conferia a apuração antecipada e o recebimento dos seus haveres sociais. 
A única limitação ao direito de renunciar à titularidade das quotas sociais é o 
abuso. Considera-se abusiva a renúncia quando feita de modo a inviabilizar o em-
preendimento ou, mais precisamente, impedir que a sociedade prossiga na consecu-
ção de seu objeto. Essa abusividade há de ser analisada em cada caso concreto e será 
afastada sempre que o renunciante tenha motivação eficiente para praticar esse ato. 
11. OUTROS DIREITOS 
Afora os direitos acima nominados, outros podem ser estabelecidos no con-
trato social, como o de sócios, representando uma determinada parcela de capital, 
indicarem um administrador (por ato separado), o de conceder aos sócios o direito 
à percepção de dividendos mínimos, fixos ou cumulativos em cada exercício social, 
ode participar de uma parcela mínima do lucro anual auferido pela sociedade, o de 
dissolver a sociedade para além da casuística legal e assim por diante. 
Embora tais direitos não sejam essenciais, posto não estarem estabelecidos em 
lei, é preciso reafirmar que todo direito conferido o sócio para ser por ele exercido 
individualmente não pode ser suprimido ou alterado, a não ser com seu consenti- 
mento expresso. 
12. OBRIGAÇÕES DO Sócio 
Na sociedade limitada o sócio tem duas ordens de obrigação. arimeira é 
objetiva, uma vez que decorre do estado de sócio, e consiste em realizar na forma e 
condições previstas no ato constitutivo ou contrato social o valor das quotas que 
subscrever ou adquirir e, solidariamente com os outros sócios, satisfazer o quanto 
13. Lições de direito societário cit., vol. 1, n. 120, p. 280, nota 419. 
• • 
432 	 Tratado de Direito Empresarial 
faltar para integralização do capital social; a segunda é subjetiva e advém de ação ou 
omissão culposa ou dolosa do sócio que lhe impõe a assunção dos danos resultantes 
dos atos ilícitos que tenha praticado ou de que tenha participado. O descumprimento 
de qualquer obrigação traz para o sócio faltante a responsabilidade pelo respectivo 
adimpleinento. Observa-se, assim, que há uma correlação entre obrigação e respon-
sabilidade com sutil distinção entre uma e outra, a ponto de a doutrina e a jurispru-
dência tomarem esses vocábulos como sinónimos.' 
13. OBRIGAÇÕES RESULTANTES DOESTADO DE SÓCIO 
O sócio tem como obrigação essencialrealizar o pagamento do valor da quota 
ou das quotas que subscreveu ou que de outro sócio ou de terceiro adquiriu. Pagas 
as suas quotas, pode o sócio ser obrigado, ainda e eventualmente (e aí não há pro-
priamente um débito, mas uma obligatio sine debitam), pelo pagamento da diferença 
do valor não realizado das quotas dos demais sócios. 
Também se obriga o sócio, em solidariedade com os demais, pela exata estima-
tiva dos bens assim conferidos a título de subscrição de quotas sociais ao longo dos 
cinco anos subsequentes ao ingresso dos bens no patrimônio da sociedade (CC, art_ 
1.055, § 1.°). 
Essas obrigações aderem à pessoa do sócio, de sorte que perduram e o perseguem 
mesmo quando ele se desliga da sociedade, cedendo suas quotas por ato oneroso ou 
gratuito, porque fica coobrigado solidário pelo respectivo adimplemento. 
Em regra não há outras obrigações para serem cumpridas pelos sócios das limita-
das, salvo se o contrato social outras estatuir. É errôneo pensar que o sócio deve atuar 
em busca dos fins sociais, prestando serviços à sociedade. Na sociedade por quotas 
de responsabilidade limitada, como visto, não há sócio prestador de serviço, de tal 
sorte que a obrigação do sócio é restrito à garantia de efetividade do capital social, 
segundo os desdobramentos acima apontados. Pode-se obtemperar, porém, que o 
status socii traz ínsita a obrigação de colaborar para o empreendimento da sociedade 
de que participa e que, em se tratando de sociedade limitada, essa obrigação traduz-se 
em uma conduta °missiva, no sentido de não realizar atos que possam prejudicar, de 
algum modo, o desenvolvimento das atividades sociais. Contudo, essa obrigação só 
pode ser delineada pela análise de cada caso concreto, uma vez que é preciso verificar 
se, diante de uma dada sociedade, houve ou não conduta prejudicial e isso só é deter- 
14 A obrigação é contraída em razão de um ato ou negócio jurídico, que são suas fontes. As- - 
sim, a conduta comissiva ou omissiva de uma pessoa, que causa dano a outra, faz surgir a 
obrigação de indenizar; a promessa de recompensa gera para a obrigação de cumprir para 
aquele que a prometeu; o contrato cria vínculos jurídicos entre os contratantes com a 
obrigação de cada qual realizar as prestações assumidas. O descumprimento de qualquer 
dessas obrigações faz nascer a responsabilidade de quem as assumiu. 
Volume II • Empresa Individual de Responsabilidade Limitada e Sociedade de Pessoas 
AVREDO DE Assis GONÇALVES NETO 
. de ação ou 
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minável na análise dos mais diversos fatores, que variam em cada caso concreto. A 
constituição ou a simples participação em sociedade concorrente, por exemplo, não 
é proibida, desde que a situação não provoque abalo significativo na performance de 
qualquer delas. De todo modo, essa obrigação, conquanto resultante do fato de ser 
sócio, supõe ilicitude de sua conduta e, portanto, tem natureza subjetiva. 
14. OBRIGAÇÃO DE DEVOLVER LUCROS E QUANTIAS RECEBIDOS 
INDEVIDAMENTE 
Como os sócios, na sociedade limitada, não são responsáveis pelas obrigações 
por ela assumidas, a preocupação em preservar o patrimônio social revela-se em vá-
rios dispositivos do Código Civil, dentre eles o do seu art. 1.059. Esse preceito é de 
conteúdo mais abrangente do que regras semelhantes relativas às demais sociedades. 
Enquanto o art. 1.009 (aplicável à sociedade simples, à sociedade em nome coletivo 
e aos sócios comanditados da comandita simples) prevê a responsabilidade solidária 
dos administradores que realizarem a distribuição de lucros ilícitos e dos sócios que 
os receberem "conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade", em matéria 
de sociedade limitada, a devolução é inexorável e independe de os sócios terem co-
nhecimento da ilegalidade. Enquanto o art. 1.049 exime o sócio comanditário (que 
tem responsabilidade limitada) à reposição dos lucros recebidos de boa-fé e de acordo 
com o balanço, não se cogita da boa ou má-fé dos sócios da sociedade limitada para 
o fim de obriga-los à devolução. É que nos outros tipos societários referidos, sempre 
há sócios de responsabilidade subsidiária pelo cumprimento das obrigações sociais 
e o eventual esvaziamento do patrimônio social acaba sendo compensado — melhor 
dizendo—garantido perante os credores sociais com o patrimônio pessoal de tais sócios. 
A ilegalidade, porém, não é diferencial; está também presente na norma sob 
análise, porquanto lucros e quaisquer quantias não podem ser retirados da sociedade 
por seus sócios em prejuízo do capital social. Enquanto o patrimônio não ultrapassa 
o capital social, não há nada para distribuir aos sócios. 
Lucros são os recursos que, no período considerado, ultrapassam o cabedal 
social — para usar a expressão do Código Civil de 1916 (art. 1.396). Em outras 
palavras, o lucro consiste no quantum do patrimônio social que ultrapassa o valor 
representado pelo capital social que, como visto no Capítulo XV, é o referencial do 
valor do patrimônio mínimo de que necessita a sociedade para desenvolver suas 
atividades e, por isso, considerado como moderador contabil da vida social. É o 
lucro, portanto, o rendimento do capital próprio, isto é, do conjunto dos recursos 
aportados pelos sócios para a formação do patrimônio social. E, sendo rendimento, 
só pode ser calculado com a salvaguarda de sua fonte produtora." 
15. PrrA, Manoel António. Direito aos lucros. Coimbra: Almedina, 1989. p. 49-54. 
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484 	 Tratado de Direito Empresarial 
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Segundo o preceito, lucros que sejam distribuídos aos sócios em prejuízo do 
capital social, devem ser por eles restituídos incondicionalmente, mesmo que, ao 
tempo em que os receberam, não soubessem das circunstancias em que se operou a 
distribuição. Ou seja, se o patrimônio líquido da sociedade estava abaixo do valor do 
capital social, não comportava a distribuição de lucros, devendo os sócios devolver 
os dividendos assim havidos. 
A referência a "quantias retiradas" mostra-se por demais genérica e, a princí-
pio, pode parecer que abrange qualquer operação que implique a transferência de 
numerário da sociedade para seus sócios, como, por exemplo, um mútuo. Não é 
assim, entretanto. As quantias que são entreguei aos sócios em razão de contratos 
bilaterais com eles firmados pela sociedade não acarretam prejuízo ao capital social, 
porque nesses contratos há a equivalência das prestações. No caso do mútuo, para 
não diversificar com demasiados exemplos, o patrimônio da sociedade não é afetado: 
em troca do dinheiro entregue aos sócios, ingressa o direito de crédito, consistente 
em receber no futuro a devolução do valor correspondente. 
Por quantias também não podem ser consideradas as recebidas pelos sócios 
como remuneração pela sua atuação como administradores da sociedade. Essa re-
muneração, denominada de pro labore, é resultante do trabalho desenvolvido por eles 
na administração da empresa e, por isso, não se compreende nas quantias recebidas 
em prejuízo do capital social, mas no gênero das despesas decorrentes do exercício 
da atividade social. 
Depurada a expressão, chega-se à conclusão de que as únicas quantias, que po-
dem ser pagas aos sócios, afora o dividendo (o lucro distribuído), são as referentes aos 
juros sobre capital próprio que, no fundo, não deixam de ser, também, dividendos.i6 
A ação para haver dos sócios os dividendos e quantias recebidos indevidamente 
prescreve no prazo detrês anos, contados da data em que deliberada a distribuição 
(C C, art. 206, § 3.0
, VI). É certo que a norma refere-se a dividendos recebidos de 
má-fé, talvez supondo o legislador que os de boa-fé não se restituem. Para efeito de 
16. Os juros sobre capital próprio, previstos no art. 9.° da Lei 9.249/1995, são pagos a título 
de remuneração do capital formado pela contribuição dos sócios, calculados sobre as 
contas do patrimônio liquido da sociedade e limitados à variação da Taxa de Juros a 
Longo Prazo (TJLP). Seu efetivo pagamento, no entanto, fica condicionado à existência 
de lucros, "computados antes da dedução dos juros, ou de lucros acumulados e reservas 
de lucros, em montante igual ou superior ao valor de duas vezes os juros a serem pagos 
ou creditados" (art. 9.0, § 1.0, na redação dada pela Lei 9.430/1996). "Parece, à toda 
evidência, que esses juros têm a mesma natureza dos dividendos, jã que só podem ser 
pagos se e quando houver lucro, são deduzidos do lucro e podem ser imputados no valor 
do dividendo obrigatório. A única diferença está em que a lei permite que esses "juros" 
sejam abatidos, como despesa operacional, do imposto sobre a renda da sociedade" (do 
autor, Manual das companhias ou sociedades anônimas. 3. ed. São Paulo: Ed. RT, 2013. n. 
141, p. 235). 
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Volume II • Empresa Individual de Responsabilidade Limitada e Sociedade de Pessoas 
4gsaS 
sua aplicação, a má-fé deve ser interpretada no sentido de abranger qualquer recebi-
mento ilegal. Se não bastasse, a prescrição da infração mais grave absorveria a menor. 
15. OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO POR DELIBERAÇÕES ILE-
GAIS 
As deliberações sociais tomadas de acordo com a lei e o contrato social, vincu-
lam todos os sócios, ainda que ausentes, abstinentes ou dissidentes da assembleia 
ou reunião, bem como os administradores da sociedade — estes não pessoalmente, 
mas na qualidade de órgãos de execução da vontade social (CC, art. 1.072, § 5.°). Já 
o 
enunciado do art. 1.080 diz que as "deliberações infringentes do contrato ou da 
lei tornam ilimitada a responsabilidade dos que expressamente as aprovaram". Mas, 
vinculam os sócios, administradores e eventuais terceiros? 
Cumpre insistir, inicialmente, que deliberações sociais são negócios jurídicos em 
que figuram como partes a sociedade e seus sócios. Portanto, são negócios jurídicos 
que se verificam no ãmbito interno da sociedade. Terceiros 
são a elas estranhos e, 
por isso, não se vinculam, de modo algum, ao que a sociedade por seus sócios deli-
berar. Já os administradores ficam submetidos às deliberações sociais na qualidade 
de dirigentes da sociedade — ou seja, como sociedade, e não pessoalmente. De resto, 
os sócios, como partícipes das deliberações, sujeitam-se a elas. 
Em se tratando de deliberação infringente do contrato social ou da lei, porém, 
há ineficácia em relação aos sócios, não sendo necessário que seja por qualquer 
deles pedida sua invalidação (nulidade ou anulação, conforme o vicio), se fere seus 
direitos ou interesses individuais. Se o sócio tiver de recorrer ao Poder Judiciário, 
pode pleitear diretamente o que lhe competir, em razão da ausência de qualquer 
deliberação a respeito. Assim, se o sócio é destituído do cargo de administrador em 
deliberação tomada por maioria simples de capital, é cabível que pleiteie a volta ao 
posto imediatamente, sem pedir a anulação da deliberação, fundado no argumento 
de ser ela ineficaz em relação a si, porque tomada sem atendimento da maioria legal 
exigida para tanto (maioria absoluta ou de 2/3 do capital social, cf. arts. 1.076,11, 
ou 1.063, § 1.°). 
No entanto, a deliberação, mesmo contrariando normas legais ou contratuais, 
pode produzir efeitos e, com isso, gerar prejuízos. E é disso que trata o dispositivo 
sob análise. Sendo irregular, ineficaz, nula ou anulável, a deliberação que provocar 
danos a sócio, à sociedade ou a terceiro é tratada como ato ilícito ,sujeito à reparação. 
Se a sociedade, por seus sócios, decide distribuir dividendos quando não ha lucros 
ou proceder ao rateio de lucros existentes de forma contrária à participação definida 
no contrato social, delibera ilicitamente e o sócio atingido pelo prejuízo, ou a própria 
sociedade, privada de recursos que deviam ser mantidos em seu patrimônio, pode 
agir contra os responsáveis por essa ocorrência. Daí a responsabilidade ilimitada 
dos sócios que contribuíram com seu voto para aprová-la. Essa responsabilidade é, 
H486: Tratado de Direito Empresarial 
como o é toda e qualquer responsabilidade decorrente de ato ilícito, pela reparação 
do dano integral, sem limitação. A má redação da regra, bem observada por MODES-
TO CARVALHO5A,17 
 pode levar à ideia de que o sócio nela enquadrado deixa de ter a 
responsabilidade limitada que é inerente ao tipo societário. Porém, é evidente que 
a norma está à determinar a responsabilidade do sócio pela satisfação do dano, no 
montante que venha a ser apurado, qualquer que seja o valor que possa a atingir_ 
Trata-se, em suma, de aplicar aqui as regras dos arts. 186 e 927 do CC: quem violar 
direito e causar dano a outrem, pratica ato ilícito e deve reparar o dano. 
Questão interessante é a de saber se há responsabilidade solidária entre os sócios 
que contribuíram com seu voto para a aprovação. O lema, de solução aparentemente 
simples, deve ser analisado consoante a natureza do vício que macule a deliberação. 
Em regra, os sócios que formaram a vontade social viciada são responsáveis solidaria-
mente pelos danos que a deliberação cause a sócio, a terceiro ou à própria sociedade, 
uma vez que o ato foi por eles praticado conjuntamente. 
Cumpre, no entanto, distinguir os vícios de procedimento dos vícios de con-
teúdo. Os primeiros dizem respeito à forma legal para a tomada da deliberação ou, 
mais precisamente, ao processo de formação do ato; os vícios de conteúdo referem-se 
aquilo que foi objeto da deliberação.' Nos vícios de procedimento responsabilizam-
se aqueles que foram os autores da ocorrência, excluídos os demais sócios, ainda 
que, em momento ulterior tenham contribuído para a aprovação da matéria que era 
objeto da deliberação; os de conteúdo responsabilizam todos os que votaram pela 
aprovação da matéria, sendo excluídos, apenas, os ausentes, os abstinentes e os 
dissidentes. Para exemplificar, imagine-se uma assembleia ou reunião de sócios que 
se realiza sem o quorum mínimo necessário para a tomada da deliberação (de 3/4 em 
primeira convocação, por exemplo). O vício é de decorrente da atuação dos sócios 
integrantes da mesa dos trabalhos, não dos sócios que participam da deliberação e 
que não necessitam averiguar se o quorum foi atingido ou não. Suponha-se, agora, 
que os sócios, ao deliberarem, tomam a decisão de não recolher ao órgão oficial de 
previdência social a parte do salário retida dos trabalhadores, para destiná-la ao capital 
de giro da sociedade. Todos os sócios que aprovaram essa destinação são solidária e 
ilimitadamente responsáveis pelos prejuízos dela decorrentes (juros, multa e demais 
encargos), bem como pela reposição pessoal desses valores, se a sociedade não possuir 
patrimônio suficiente para honrá-la, por se tratar, aí, de consequência direta do ilícito. 
De todo modo, se a sociedade possuir patrimônio e os sócios não tomarem a 
iniciativa de responsabilizar os que contribuíram para a ilegalidade, essa responsa-
bilidade pessoal só se toma efetiva, como já observei, em caso de falência da socie-
dade." Os terceiros agem contra a sociedade e, enquanto ela possuir patrimônio, 
17. Comentários ao Código Civil. São Paulo:Saraiva, 2003. vol. 13, p. 273. 
18. Sobre o tema, MAR, Pedro. Deliberações sociais. In: ABREU, J. M. Coutinho de (coord.). 
Estudos de direito das sociedades. 5. ed. Coimbra: Almedina, 2002. p. 186-197. 
19. Direito de empresa — Comentários aos arts. 966 a 1.195 do Código Civil cit., n. 310, p. 369-370. 
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Volume II • Empresa Individual de Responsabilidade Limitada e Sociedade de Pessoas 
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ALFREDO DE Assis GONÇALVES NETO 
não têm legitimidade para agir contra eles nem para abrir uma investigação com o 
propósito de verificar se o prejuízo decorre de culpa de administrador, de sócio ou 
de um de seus prepostos. 
A nonna do art. 1.080 do CC, como observa FABIO TOKARS, é o conetivo "para afastar 
a abusividade comum no exercício do direito de voto", notadamente, como exempli-
fica, nos casos de deliberação injustificada de exclusão de sócios do quadro social." 
À altura cumpre anotar que o direito de anular as deliberações ilícitas tomadas 
pela sociedade limitada desaparece em três anos, contados a partir da data do regis-
iro da ata ou alteração contratual que contiver a deliberação, por aplicação do art. 
206, § 3.°, VI e VII, li, do CC, se versar sobre distribuição de lucros inexistentes ou 
tícios e de violação da lei ou do contrato social; e, nos demais casos, também em 
três anos, por aplicação subsidiária da norma comida no art. 48, parágrafo único, 
do mesmo Código. 
Na ocorrência de deliberações ilegais aqui consideradas não há como aplicar a 
teoria da desconsideração da personalidade jurídica (CC, art. 50). Se há obrigação 
dos sócios, respondem eles, como coautores de um ato ilícito, sem necessidade de 
buscar o afastamento do véu da pessoa jurídica que, de resto, faz-se presente e res-
ponde solidariamente com eles perante quem tenha sofrido o dano, assegurado, se 
foro caso, o direito de regresso. 
Por último, insere-se na regra o voto abusivo que, guiando a deliberação, traz 
para seu autor a responsabilidade pela ilicitude com todos os que o acompanharam 
na votação. Se o voto não prevalecer, há responsabilidade do sócio que assim votou 
se do seu voto resultar prejuízo para a sociedade. 
16. OUTRAS OBRIGAÇÕES ESPECÍFICAS 
Podem existir outras obrigações para o sócio da sociedade limitada, consoante 
se observa do disposto no art. 1.005 do CC. Nele se prevê que, se o sócio confere 
um bem, móvel ou imóvel, corpóreo ou incorpóreo, para a subscrição do capital 
social, é-lhe atribuída a obrigação de responder pela evicção, vale dizer, pela perda 
total ou parcial desse bem em razão de decisão judicial. Essa norma nada mais faz 
do que estender ao caso a aplicação das disposições comidas nos arts. 447 a 457 do 
mesmo Código. 
Da mesma forma, e consoante o mesmo dispositivo legal, se o sócio transfere 
créditos a título de subscrição, responde pela solvência do devedor. Essa obrigação 
perdura mesmo nos casos em que se pretenda atribuir a cláusula "pro soluto" à 
operação, uma vez que se trata de norma cogente, insuscetível de ser afastada pela 
vontade das partes. 
20. Sociedades limitadas. São Paulo: LTr, 2006. p. 339. 
488 	 Tratado de Direito Empresarial 
17. INEXISTÊNCIA DE OBRIGAÇÃO DE RESPONDER POR DÉBITOS 
SOCIAIS 
Na sóciedade limitada os sócios não respondem pelo cumprimento de nenhuma 
das obrigações contraídas pela sociedade, tenham elas sua fonte em negócios jurí-
dicos bilaterais ou unilaterais, inerentes à sua atividade ou não, ou em atos ilícitos 
praticados por seus administradores ou prepostos. Vale recordar, a propósito, que 
o art. 13 da Lei 8.620/1993, que atribuía responsabilidade solidária aos sócios da 
sociedade limitada pelo cumprimento das obrigações relativas à seguridade social, 
foi declarado inconstitucional (RE 562.276-PR, j. 03.11.2010, rel. Min. Ellen Gracie) 
e revogado, posteriormente, pelo art. 79, VII, da Lei 11.941/2009. 
Os contornos das diversas responsabilidades que os sócios assumem na socieda-
de limitada já foi traçado nos números anteriores. No entanto, algumas dúvidas têm 
surgido quanto à obrigação de eles responderem e— o que é diverso — de os dirigentes 
da sociedade limitada obrigarem-se por dívidas fiscais, previdenciárias e trabalhistas, 
à vista de certas decisões pretorianas que têm interpretado a lei de modo desapegado 
de seu texto, trazendo, com isso, graves e imprevisíveis consequências?' 
Cumpre aqui examinar a questão sob o ângulo do sócio, deixando para o mo-
mento próprio a análise da responsabilidade do administrador (Capítulo XVIII). - 
O sócio, porque sócio de uma limitada, só pode responder, segundo o respectivo 
regime jurídico, pelo pagamento da sua quota e, em solidariedade com os demais 
sócios, pela diferença que faltar para a integralização do capital social. Se houver 
aporte de bens para a formação do capital social, os sócios também respondem, so-
lidariamente, pela estimativa do valor a eles atribuídos durante os 5 anos seguintes 
sua transmissão para a sociedade. Trata-se, nesses casos, de uma responsabilidade 
objetiva, que decorre, como visto, do status socii. 
As outras responsabilidades são de natureza subjetiva e só surgem em razão de 
atos ou negócios jurídicos praticados pelos sócios. 
Também pode acontecer que o sócio, além de sócio, exerça as funções de diri-
gente da sociedade. E aí, como se verá oportunamente, é possível que responda por 
atos que realize sem poderes suficientes ou contra a lei ou, ainda, contra disposição 
do contrato social. Nesses casos, responde por ser administrador, e não por ser sócio. 
Essa responsabilidade tem por fundamento a administração irregular, a conduta 
culposa do administrador na gestão dos negócios sociais sendo irrelevante a sua 
condição de sócio ou de não sócio. 
Sustentam inúmeras decisões da Justiça do Trabalho que a falta de pagamento 
de salário do trabalhador permite responsabilizar os sócios. Esse entendimento é 
21. Sobre o tema, notadamente na parte em que analisa o tema que dá titulo à obra, é de leitu-
ra recomendada o livro A relativização da responsabilidade limitada dos sócios (GONÇALVES, 
Olcsandro. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p. 121-190.) 
Volume II • Empresa Individual de Responsabilidade Limitada e Sociedade de Pessoas kr189::::- 
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ALFREDO DE ASSIS GONÇALVES NETO 
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fundamentado (i) à luz de regras do Código de Processo Civil, ou, então, (ii) na 
tese da desconsideração da pessoa jurídica e, mais recentemente, (iii) no princípio 
constitucional da dignidade da pessoa humana combinado com a natureza alimentar 
do crédito trabalhista. 
No que diz respeito à solução baseada nas disposições processuais, é preciso 
registrar que estas não têm em consideração um tipo societário determinado e nun-
ca conduzem ao surgimento de obrigação superior àquela que o preceito de direito 
material define. Em se tratando de sociedade limitada, o sócio que simplesmente 
presta seu capital, faz um investimento e não participa da atividade empresarial. Se 
o empreendimento for mal, ele pode ver escoar-se do seu patrimônio pessoal tudo 
que aplicou. E aí cessa seu risco. É inconcebível que, além do que aplicou, assuma 
responsabilidade por ato de terceiro, que seria o gestor incumbido da administração 
do dinheiro por ele despendido. 
Quanto à teoria da desconsideração da pessoa jurídica para justificar a respon-
sabilização do sócio por débitos trabalhistas,é de se convir que sua aplicação só teria 
lugar se a sociedade estivesse sendo usada para pagar salário de empregado que não 
trabalhasse para ela, mas para a pessoa do sócio, ou por haver entre ela e esse último 
alguma outra espécie de confusão de relações jurídicas de natureza patrimonial — o 
que não ocorre na generalidade das situações. 
Já a responsabilização da figura do sócio por débitos do empregado da sociedade, 
fundada no princípio da dignidade da pessoa humana e na natureza alimentar dessa 
verba, parte da falsa premissa de o sócio ser empresário. Ora, o sócio é um investidor, 
que arrisca suas economias e as perde se a atividade na qual apostou sucumbir; não 
age no exercício da empresa e não é garantidor de débitos da sociedade, tenham eles a 
natureza que tiverem. Quem assume o risco do empreendimento é quem o desenvol-
ve, o empresário ou a sociedade empresária, podendo esse risco, eventualmente, ser 
suportado pelo administrador e, excepcionalmente, pelo controlador, mas nunca pelo 
sócio investidor, que não detém poder de orientar os destinos do empreendimento.' 
Por outro lado, também surgiram decisões da Justiça Federal e Estadual, aí mais 
consistentes, sustentando que, tendo desaparecido a sociedade, respondem os sócios 
pelos débitos dela, sob o argumento de ter havido uma extinção irregular. A hipótese 
é de possível ocorrência, mas não pode ser generalizada. A extinção irregular (sem 
dissolução, seguida de liquidação com partilha de patrimônio) caracterizaria uma 
deliberação contra legem por não atender à regra que determina o pagamento de todo 
o passivo (CC, arts. 1.102 e ss.). Essa situação, no entanto, não pode ser suposta. Se há 
o desaparecimento da sociedade, é preciso verificar se alguma partilha ocorreu para 
22. Sobre o tema, FAMA, José Elias Alvarenga de. Responsabilidade patrimonial dos sócios e 
dos eventuais ex-sócios pelas obrigações trabalhistas contraídas pela sociedade. Revista de 
Direito Mercantil, Industrial, Económico e Financeiro. n. 148, p. 59-89. São Paulo: Malhei- 
ros, out. 2007. 
.490 
	 Tratado de Direito Empresarial 
que os sócios respondam pelo que dela receberam e até o limite do que receberam; 
se não houve partilha, seu sumiço é de responsabilidade exclusiva de seus dirigentes 
ou do liquidante, não dos demais sócios, simples prestadores de capital.13 
	 i 
Ao cabo; têm de ser ponderadas as disposições do Código de Defesa do Con- 
sumidore da Lei 12.529/2011, de Defesa da Concorrência, cujos arts. 28 e 34, 
	
i 
respectivamente, sob a equivocada capa de desconsideração da personalidade jurí- 
dica, responsabilizam aquele que age em detrimento do consumidor ou da ordem 
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econômica. Referidas disposições, contudo, supõem um agir contra os interesses ou 
	 I direitos do consumidor ou com infração à ordem econômica, o que não se dá com o 
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sócio da sociedade limitada que não é administrador, visto que é mero investidor e, 
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como tal, a cavaleiro de qualquer responsabilidade por atos praticados por terceiros 
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em nome da sociedade da qual é sócio?' 
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18. SOCO REMISSO 
	
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A contribuição do sócio para a constituição da sociedade ou para o aumento do 
seu capital, consiste na obrigação de aportar dinheiro ou qualquer outra espécie de 
bens (aí incluídos os direitos a estes relativos como o usufruto, a locação etc.) para a 
composição do patrimônio social. Para tanto, o sócio subscreve uma ou mais quotas 
no valor correspondente ao da obrigação assim assumida. Essa contribuição, seja de 
que natureza for, tanto pode ser prestada no ato de constituição da sociedade ou de 
aumento do seu capital social, como ficar pendente de cumprimento para momento 
ulterior, segundo o que dispuser o contrato social. 
23 A propósito, sob o ângulo da desconsideração da personalidade jurídica, decidiu o STJ, 
pelo voto da Relatora, Min. Nancy Andrighi, que "a dissolução irregular da sociedade 
não pode ser fundamento isolado para o pedido de desconsideração da personalidade 
jurídica, mas, aliada a fatos concretos que permitam deduzir ter sido o esvaziamento do 
patrimônio societário ardilosamente provocado de modo a impedir a satisfação dos cre-
dores em benefício de terceiros, é circunstância que autoriza induzir existente o abuso de 
direito, consubstanciado, a depender da situação ¡anca delineada, no desvio de finalidade 
dou na confusão patrimonial. 6. No particular, tendo a instância ordinária concluído 
pela inexistência de indícios do abuso da personalidade jurídica pelos sócios, incabível 
a adoção da medida extrema prevista no art. 50 do CC/02 (REsp 1395288 sp, 3.° T., j. 
11.02.2014). 
24. No entendimento de MODESTO CARVALHOSA, 
"o Código de Defesa do Consumidor e a Lei 
de Repressão às Infrações contra a Ordem Econômica... excepcionam a regra da respon-
sabilidade limitada dos sócios, consagrando a superação da personalidade jurídica em 
caráter excepcional e episódico para alcançar o patrimônio daqueles, de forma subsidiária 
e ilimitada, em razão da comprovação do desvio de finalidade dado à pessoa jurídica, ca-
racterizado pelo abuso de direito, excesso de poder, infração da lei ou do contrato social 
ou fato ou ato ilícito que ocorra em prejuízo do consumidor ou da ordem econômica, 
conforme o caso" (Comeatários ao Código Civil cit., vol. 13, p. 28-29). 
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Volume II • Empresa Individual de Responsabilidade Limitada e Sociedade de Pessoas tl r.S7fir. 
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Essa obrigação pode consistir (i) na entrega do bem in natura, (ii) na outorga do 
instrumento público ou particular de transmissão e seu subsequente registro (para bens 
imóveis e outros a ele equiparados, como navios e aeronaves, e para os incorpóreos que 
dependam de formalidades registrais, tais como ações, marcas, licenças de exploração 
de inventos etc.) ou, ainda, (iii) na satisfação em dinheiro da prestação devida. 
Se ficar estipulada data certa, seu simples advento, sem que a obrigação seja , 
cumprida é suficiente para caracterizar a mora (dies intetpelat pro homine); se for 
previsto que os sócios farão a conferência do saldo do valor de suas quotas segundo 
as necessidades da sociedade, o contrato social pode outorgar poderes aos adminis-
tradores para o chamamento ou determinar a realização de reunião dos sócios para 
definir a data. Nada dispondo o contrato social a respeito, nem sendo atribuídos aos 
administradores poderes para determinar as datas de integralização das quotas, a 
' reunião de sócios é recomendável; tomada a deliberação, os sócios, assim presentes 
como ausentes, têm de ser notificados para satisfazer a obrigação no prazo que lhes 
for assinado, não inferior a 30 dias 
Se o sócio confere um imóvel para a formação do capital social, é possível que o 
faça no próprio instrumento de constituição da sociedade ou em alteração contratual 
(Lei 8.934/1994, art. 35, V11). Há casos, no entanto, que o contrato social contempla, 
apenas, a obrigação de o sócio outorgar a escritura de transferência em data futura. O 
mesmo acontece com a contribuição em dinheiro, que pode ser realizada no momento 
da assinatura do contrato social ou de sua alteração, ou haver uma prestação inicial, 
prevendo-se a satisfação do saldo diferida em uma ou mais parcelas. 
Quando a prestação é simultânea à assinatura do contrato social ou de sua 
alteração, não se cogita de sócio remisso. Ele cumpre sua obrigação no instante em 
que os assina. É certo que os sócios são solidariamente responsáveis pela integrali-
zação do capital social e pela exata estimação dos bens em espécie aportados para 
sua formação. No entanto, aí não há inadimplemento do sócio e não cabe falar em 
remissão. O sócio que integralizasua quota não pode ser considerado, em nenhuma 
hipótese, remisso para fins de aplicação da regra do art. 1.058 do CC, mesmo que 
outros o sejam ou que tenha de devolver dividendos recebidos indevidamente (art. 
1.059) ou responder por obrigação decorrente da não integralização de quotas de 
outros sócios (art. 1.052, segunda parte) ou de deliberação ilegal (art. 1.080). Sócio 
remisso só é considerado aquele que se encontra em mora no cumprimento de sua 
obrigação de prestar a contribuição que assumiu na subscrição de sua quota. 
19. CARACTERIZAÇÃO DA MORA 
O modo de constituir em mora o sócio inadimplente pode ser regulado no 
contrato social, inclusive com a previsão de multa, juros e atualização monetária. 
Na omissão, aplica-se a regra do art. 1.004 do CC, que estabelece a necessidade de 
notificação concedendo o prazo de 30 dias ao sócio para que satisfaça sua obrigação, 
contados a partir da data em que a receber. 
ALFREDO DE Assis GONÇALVES NETO 
492 	 Tratado de Direito Empresarial 
Assim, quando o contrato não fixa prazo para o cumprimento da prestação. 
deixando a critério dos sócios definir quando ela se toma exigível, a mora só se ca-
racteriza e seus efeitos só se produzem com sua notificação formal e após o decurso 
do prazo legal. No entanto, se há termo certo de vencimento da obrigação, os efeitos 
da mora produzem-se a partir do momento em que ela se torna exigível (CC, art_ 
397) e, portanto, os encargos decorrentes do atraso devem ser computados desde 
logo, independentemente da notificação, pelo só vencimento do prazo. A notifica-
ção, nessa hipótese, é para que o sócio cumpra a obrigação de integralizar sua quota. 
com 
 todos os acessórios da mora, sob pena de a sociedade agir contra ele, segundo 
as alternativas que lhe são franqueadas. 
20. EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO 
Constituído em mora, o sócio sujeita-se ao cumprimento forçado da obrigação. 
Se sua quota foi subscrita em dinheiro, a sociedade pode mover contra ele execução 
por quantia certa, consoante as regras dos arts. 824 e ss. do CPC/2015," para que 
pague o valor devido a título de contribuição, mais os acréscimos legais e contratuais. 
Nada prevendo o contrato a respeito de encargos, são, mesmo assim, devidos juros 
de mora a partir do vencimento da obrigação ou das parcelas da obrigação, como se 
extrai da leitura do art. 1.058 do CC. 
Se a obrigação do sócio for a de aporte de algum bem para o patrimônio social. 
a sociedade terá contra ele execução para entrega de coisa certa, prevista nos arts. 
806 a 810 (do CPCJ2015)," para que faça a entrega do bem a que se obrigou ou, 
na sua falta, pague o valor equivalente em dinheiro, sendo possível a cominação de 
pena (multa diária) pelo atraso no cumprimento da prestação. Embora exigíveis por 
outro processo, os consectários da mora são aí também devidos, tomado o valor da 
quota como base para o respectivo cálculo. Na impossibilidade de cumprimento da 
obrigação de conferir o bem à sociedade (perda, extravio, alienação a terceiro etc.), a 
sociedade pode optar por haver o equivalente em dinheiro ou indenização por perdas 
e danos motivada pelo incumprimento. 
21. EXCLUSÃO DO SÓCIO REMISSO 
O enunciado do art. 1.058 do CC contempla a alternativa de, verificado o inadim-
plemento, os demais sócios tomarem para si a quota do remisso ou transferirem-na 
a terceiros, excluindo-o, então, da sociedade, com a dedução dos juros da mora, as 
prestações estabelecidas no contrato mais as despesas. O texto praticamente repete 
aquele que havia no regime revogado. O art. 7.° do Dec. 3.708/1919 admitia a pos- 
25. Esse dispositivo encontra correspondência no art. 824 do CPCJ2015. 
26. Ver arts. 806 a 810 do CPC./2015. 
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Volume II • Empresa Individual de Responsabilidade Limitada e Sociedade de Pessoas ti,749. 
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Al;RE00 OE ASSIS GONÇALvES NETO 
sibilidade de os demais sócios excluírem o sócio remisso, tomando para si as quotas 
dele ou as transferindo a estranhos, pagando ao proprietário primitivo as entradas 
por ele realizadas, deduzidos os juros da mora e mais prestações estabelecidas no 
contrato e as despesas. 
Na verdade, os sócios só deliberam, não agem por si, mas por intermédio da 
sociedade. É a sociedade, com efeito, como pessoa distinta da de seus sócios, que, 
ao invés de promover a execução contra o sócio remisso, opta pela sua exclusão, 
fazendo-o com a coleta da manifestação da vontade de seus sócios em reunião, ou, 
se for ocaso, em assembleia (CC, art. 1.072, caput) convocada para esse fim. 
A deliberação é tomada por quantos perfaçam a maioria do valor das quotas, não 
computadas as do sócio inadimplente. Este deve ter conhecimento da reunião, mas não 
parece que possua o esdrúxulo direito de defesa previsto no art. 1.085 do CC,porquanto 
aqui a hipótese é de exclusão legal, submetida à disciplina do seu art. 1.004. Em todo 
caso, a prudência recomenda que, à falta de regramento da matéria no contrato social, 
seja concedido o direito de defesa (de todo inócuo para qualquer caso, já que a decisão 
é no voto), que o art. 1.085 estipula para os casos de exclusão por justa causa definidos 
no contrato social. Com isso, evita-se que um magistrado mais afoito comprometa a 
indispensável rapidez para a solução do problema, suspendendo a deliberação por falta 
de formalidade inócua, mas de cumprimento extremamente simples. 
Uma vez decidida a exclusão de um sócio, os demais recebem as quotas que a 
ele pertenciam; não possuindo recursos para adquiri-las, eles têm a possibilidade de 
deliberar sobre sua transmissão a terceiro ou à própria sociedade» E se não houver 
comprador ou não houver concordância de sócios que representem 3/4 do capital social 
(não considerada a participação do excluído, porque excluído) ou, ainda, se a socieda-
de não tiver disponibilidade para a aquisição, ela promove a liquidação das quotas do 
inadimplente e as cancela, reduzindo seu capital na proporção (CC, art. 1.031, § 1.0). 
Ao sócio remisso, quando foro caso, devem ser devolvidas as entradas realizadas, 
- 	
isto é, as quantias que já havia transferido para a sociedade, deduzidas as despesas com 
a operação, os juros de mora e demais encargos contratualmente previstos. Mas não se 
esgota, aí, apagamento do remisso. Embora a redação da norma sugira a devolução pura 
e simples do que ele houver aportado para o patrimônio social, não se pode olvidar que 
ele participou do empreendimento. E esse empreendimento tanto pode ter frutificado 
; 	
como definhado. O art. 1.031 do CC, não fazendo distinção a respeito das causas de 
desligamento, dentre eles as de exclusão, conduz, necessariamente, a essa conclusão: 
o sócio excluído recebe a parcela proporcional de sua participação no patrimônio da 
sociedade, calculada com base no valor das entradas por ele realizadas. Aliás, pela 
dicção desse dispositivo legal, só ajuste contratual diverso pode afastar sua incidência. 
Para o cálculo do valor da participação do sócio, portanto, é preciso definir o 
patrimônio líquido da sociedade e, por isso, mesmo que o sócio nada tenha pago, 
27. A aquisição das próprias quotas pela sociedade é tratada no Capítulo XVI. 
. „ 
494 	 Tratado de Direito Empresarial 
_ 
é possível que seus haveres sejam superiores ao de sua quota de participação no 
capital social; da mesma forma, o sócio que pagou parcela substancial de sua quota, 
pode ficar com pouco ou nada a receber das entradas realizadas, caso a sociedade 
esteja deficitária. Se da operação resultar saldo a favor da sociedade, sem prejuízo 
da exclusão, ela tem o direito de se voltar contra o sócio excluído para havê-lo. Ou 
seja, ocorrendo a exclusão do sócio, não é admissivel premiá-lo com a devolução 
de tudo que conferiu, mesmo deduzidos os acessórios decorrentes da mora, se o 
patrimônio social estiver inferior ao valor do capital social, porquantoa diferença 
sairá da participação dos demais sócios. Aliás, nem há como reduzir simplesmente 
o capital social com o pagamento de parcela da cifra que a totalidade ou parte da 
quota do sócio remisso nele representa. Patrimônio e capital são grandezas distintas. 
A exclusão do sócio provoca sempre a liquidação de sua quota, com observância do 
estatuído no contrato social ou, na sua falta, no art. 1.031 do CC.?"' 
Em se tratando de obrigação de entrega de bens, a situação é a mesma. A socie-
dade pode optar por excluir o sócio e acioná-lo para receber os encargos da mora. Se 
a obrigação desdobrar-se na entrega de um ou mais bens, e só alguns forem transfe-
ridos, a sociedade não se obriga à devolução dos que recebeu, que passaram para seu 
patrimônio a título de propriedade, mas a repor o equivalente em dinheiro relativo 
ao quantum do valor da quota realizado. 
22. REDUÇÃO DA QUOTA DO SOCIO REMISSO 
Há, ainda, a alternativa de a sociedade proceder à redução da quota do sócio 
remisso ao montante por ele realizado, consoante o estatuído no art. 1.004 do CC. 
Certamente essa hipótese não se aplica aos casos em que o sócio nada pagou, ainda 
que sua quota tenha valorizado, porquanto a redução observa o percentual de reali-
zação. Desse modo, se, por exemplo, o sócio só realizou uma entrada de 10% de sua 
quota no valor de 100, esta é reduzida para o valor de 10. 
A consequência será a redução de 90 do capital social para ajustá-lo ao valor da 
nova quota do sócio inadimplente. Parece possível, contudo, combinar essa previsão 
com a da assunção da parcela da quota do sócio pelos demais ou pela própria socieda-
de. Aí, a quota seria dividida em duas partes distintas para viabilizar a concretização 
de ambas as operações (redução da quota do sócio e assunção, pelos sócios ou pela 
sociedade, da parcela que dela for subtraída). Essa solução afina-se com o princípio 
da intangibilidade do capital social que, com a fórmula, não sofre diminuição. . 
A redução da quota do sócio remisso, de qualquer modo, não elimina o direito 
de a sociedade cobrar os juros de mora e demais encargos que possam estar previstos 
no contrato para a hipótese de inadimplemento. 
28. Nesse sentido, CORREA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade limitada. Rio de Janeiro: Forense, 
2006, p. 56; contra, sustentando que a exclusão de sócio tem tratamento diferenciado, 
SimÃo FILHO, Adalberto. A nova sociedade limitada. Barueri: Manole, 2004. p. 190. 
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