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Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ELEITORAL 
COMPETÊNCIA 
ƒ Causas que podem produzir reflexos no processo eleitoral são de competência da Justiça Eleitoral. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
DESAPROPRIAÇÃO 
ƒ Desistência da desapropriação. 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
ƒ É constitucional o art. 2º, parágrafo único, da LC 152/2015, que prevê regra especial de transição para a idade da 
aposentadoria compulsória dos servidores do Serviço Exterior Brasileiro. 
 
PODER DE POLÍCIA 
ƒ Empresas brasileiras poderão desenvolver atividades de segurança privada, ainda que tenham sócios estrangeiros. 
 
PENSÃO ESPECIAL DE EX-COMBATENTE 
ƒ Termo inicial em caso de pensão requerida por dependente incapaz. 
 
DIREITO CIVIL 
CONSÓRCIO 
ƒ Herdeiros de consorciado falecido e liberação da carta de crédito em razão da quitação do saldo devedor pelo 
seguro prestamista. 
 
CONDOMÍNIO 
ƒ Prazo prescricional para cobrança de cotas condominiais: 5 anos. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
CONTRATOS BANCÁRIOS 
ƒ Validade da cobrança de tarifa bancária a partir do quinto saque mensal. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
FALÊNCIA 
ƒ Autor do pedido de falência não precisa provar insolvência patrimonial do devedor. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
COMPETÊNCIA 
ƒ Causas que podem produzir reflexos no processo eleitoral são de competência da Justiça Eleitoral. 
 
EXECUÇÃO 
ƒ Quem tem o encargo de provar os requisitos da impenhorabilidade da pequena propriedade rural? 
 
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DIREITO PENAL 
DESACATO 
ƒ Inconvencionalidade do crime de desacato. 
 
LEI DE DROGAS 
ƒ Inquéritos policiais e ações penais em cursos podem ser utilizados para afastar o benefício do tráfico privilegiado. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
RECURSOS 
ƒ É cabível RESE contra decisão que revoga medida cautelar diversa da prisão. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
DIREITO ADUANEIRO 
ƒ Não isenção de PIS/PASEP/COFINS sobre as receitas conexas ao frete contratadas em separado do próprio frete. 
 
DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
PENSÃO POR MORTE 
ƒ INSS pode ajuizar ação de regresso contra o autor do homicídio para ser ressarcido das despesas com o 
pagamento da pensão por morte aos dependentes do segurado. 
 
DIREITO ELEITORAL 
 
COMPETÊNCIA 
Causas que podem produzir reflexos no processo eleitoral são de competência da Justiça Eleitoral 
 
Em regra, as ações tratando sobre divergências internas ocorridas no âmbito do partido 
político são julgadas pela Justiça Estadual. 
Exceção: se a questão interna corporis do partido político puder gerar reflexos diretos no 
processo eleitoral, então, neste caso, a competência será da Justiça Eleitoral. 
Assim, compete à Justiça Eleitoral processar e julgar as causas em que a análise da 
controvérsia é capaz de produzir reflexos diretos no processo eleitoral. STJ. 2ª Seção. CC 148.693-BA, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/12/2016 (Info 596). 
 
Veja comentários em Direito Processual Civil. 
 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
DESAPROPRIAÇÃO 
Desistência da desapropriação 
 
É possível que o expropriante desista da ação de desapropriação? 
SIM, é possível a desistência da desapropriação a qualquer tempo, mesmo após o trânsito em 
julgado, desde que: 
a) ainda não tenha havido o pagamento integral do preço (pois nessa hipótese já terá se 
consolidado a transferência da propriedade do expropriado para o expropriante); e 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
b) o imóvel possa ser devolvido sem que ele tenha sido alterado de forma substancial (que 
impeça sua utilização como antes era possível). 
É ônus do expropriado provar a existência de fato impeditivo do direito de desistência da 
desapropriação. STJ. 2ª Turma. REsp 1.368.773-MS, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. para acórdão Min. Herman Benjamin, julgado em 6/12/2016 (Info 596). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
O Estado ajuizou ação de desapropriação contra João, proprietário do imóvel pretendido pelo Poder Público. 
O expropriante elaborou laudo de avaliação do imóvel e efetuou depósito no valor de R$ 300 mil 
destinado a servir como indenização. 
O expropriado contestou a demanda. 
O juiz deferiu a imissão na posse e autorizou que João fizesse o levantamento de 80% do valor depositado 
pelo Estado. 
Um mês depois, o Estado apresentou pedido de desistência da ação de desapropriação, argumentando 
que o IBAMA negou a licença ambiental necessária para que fosse realizada a obra pública naquele local. 
Com isso, teria desaparecido o interesse público na desapropriação do terreno. 
 
É possível que o expropriante desista da ação de desapropriação? 
SIM, é possível a desistência da desapropriação a qualquer tempo, mesmo após o trânsito em julgado, 
desde que: 
a) ainda não tenha havido o pagamento integral do preço (pois, nessa hipótese, já terá se consolidado a 
transferência da propriedade do expropriado para o expropriante); e 
b) o imóvel possa ser devolvido sem que ele tenha sido alterado de forma substancial (que impeça sua 
utilização como antes era possível). Ex: era uma casa e já foi totalmente demolida. 
 
Desse modo, em regra, é possível o direito de desistência da desapropriação. A desistência poderá ser 
obstada (negada) se ficar provada uma das duas circunstâncias acima previstas. 
 
Opções do expropriado 
Diante de um pedido de desistência, o expropriado possui três opções: 
a) concordar com o pedido de desistência, entendendo que não sofreu nenhum prejuízo; 
b) concordar com o pedido de desistência, mas ajuizar ação de indenização contra o expropriante por 
entender que sofreu prejuízos; 
c) não concordar com o pedido de desistência, demonstrando que o imóvel sofreu uma alteração 
substancial que impede que ele seja utilizado como era antes. 
 
Ônus da prova do fato impeditivo da desistência 
É ônus do expropriado provar a existência de fato impeditivo do direito de desistência da 
desapropriação. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.368.773-MS, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. para acórdão Min. Herman Benjamin, 
julgado em 6/12/2016 (Info 596). 
 
Isso significa dizer que o expropriante pede a desistência da ação. Esta deverá ser homologada, salvo se o 
expropriado conseguir provar que existe circunstância que impeça a desistência. Se o expropriado não 
demonstrar isso, o juiz deverá extinguir a ação pela desistência. 
Trata-se de aplicação das regras do ônus da prova previstas no CPC: 
Art. 373. O ônus da prova incumbe: 
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; 
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
 
Como a regra é a possibilidade de desistência da desapropriação, o desistente não tem que provar nada 
para desistir, cabendo ao expropriado requerer as perdas e danos a que tiver direito por ação própria. 
Pretendendo o réu, porém, impedir a desistência, é seu o ônus da prova. 
A Constituição, no seu art. 5º, XXIV, dispõe que "a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação 
por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social". Obrigar o poder público a ficar com um bem 
de que não precisa certamente não atende nenhuma dessas finalidades, mas apenas o interesse particular 
do expropriado. Da mesma forma, inverter o ônus da prova em detrimento do ente público viola a cláusula 
do devido processo legal, estabelecida no art. 5º, LIV, da CF/88. 
 
 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
É constitucional o art. 2º, parágrafo único, da LC 152/2015, que prevê regra especial de transição 
para a idade da aposentadoria compulsória dos servidores do Serviço Exterior BrasileiroNão viola o princípio da isonomia o implemento de regra de transição de aposentadoria dos 
servidores integrantes do Serviço Exterior Brasileiro (Lei nº 11.440/2006), como está previsto 
no parágrafo único do art. 2º da LC 152/2015, considerando-se as peculiaridades da carreira, 
as necessidades do Estado e a ordem constitucional vigente. STJ. 1ª Seção. MS 22.394-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 9/11/2016 (Info 596). 
 
APOSENTADORIA DOS SERVIDORES PÚBLICOS 
A CF/88, em seu art. 40, prevê as regras gerais sobre a aposentadoria dos servidores públicos estatutários, 
sejam eles federais, estaduais ou municipais, tanto do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. 
O conjunto de regras referentes à aposentadoria dos servidores públicos estatutários é chamado de 
“Regime Próprio de Previdência Social” (RPPS). 
O assunto que estamos tratando aqui diz respeito ao RPPS. 
 
ESPÉCIES DE APOSENTADORIA DO RPPS 
Existem três espécies de aposentadoria no RPPS: 
Aposentadoria por invalidez 
(art. 40, § 1º, I) 
Aposentadoria voluntária 
(art. 40, § 1º, III) 
Aposentadoria compulsória 
(art. 40, § 1º, II) 
Ocorre quando o servidor 
público for acometido por uma 
situação de invalidez 
permanente, atestada por laudo 
médico, que demonstre que ele 
está incapacitado de continuar 
trabalhando. 
Ocorre quando o próprio 
servidor público, mesmo tendo 
condições físicas e jurídicas de 
continuar ocupando o cargo, 
decide se aposentar. 
Para que o servidor tenha 
direito à aposentadoria 
voluntária, ele deverá cumprir 
os requisitos que estão 
elencados na Constituição. 
A CF previu que, atingida 
determinada idade, o servidor 
público, independentemente de 
ainda possuir condições físicas e 
mentais de continuar exercendo 
o cargo, deveria ser 
obrigatoriamente aposentado. 
 
 
Qual é a idade da aposentadoria compulsória no serviço público? 
Antes da EC 88/2015: era de 70 anos (para todos os casos). 
O que fez a EC 88/2015: autorizou que fosse editada Lei Complementar aumentando para 75 anos a idade 
da aposentadoria compulsória para os servidores públicos em geral. Veja o que disse a emenda: 
 
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Antes da EC 88/2015 Depois da EC 88/2015 
Art. 40 (...) 
§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de 
previdência de que trata este artigo serão 
aposentados (...): 
II - compulsoriamente, aos setenta anos de idade, 
com proventos proporcionais ao tempo de 
contribuição; 
Art. 40 (...) 
§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de 
previdência de que trata este artigo serão 
aposentados (...): 
II - compulsoriamente, com proventos 
proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 
(setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta e 
cinco) anos de idade, na forma de lei 
complementar; 
 
Lei complementar nº 152/2015 
Regulamentou o art. 40, § 1º, II, da CF/88 prevendo que a idade da aposentadoria compulsória passa a ser 
de 75 anos para todos os servidores públicos. 
 
Quem está abrangido pela LC 152/2015? Quais entes? 
A aposentadoria compulsória aos 75 anos vale para: 
I - os servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, 
incluídas suas autarquias e fundações; 
II - os membros do Poder Judiciário; 
III - os membros do Ministério Público; 
IV - os membros das Defensorias Públicas; 
V - os membros dos Tribunais e dos Conselhos de Contas. 
 
Regra especial para os servidores do Serviço Exterior Brasileiro 
A LC 152/2015 previu uma regra especial de transição para os diplomatas e servidores do Itamaraty que 
trabalham no exterior, como oficiais e assistentes de chancelaria. Veja: 
Art. 2º (...) Parágrafo único. Aos servidores do Serviço Exterior Brasileiro, regidos pela Lei nº 11.440, de 29 
de dezembro de 2006, o disposto neste artigo será aplicado progressivamente à razão de 1 (um) ano 
adicional de limite para aposentadoria compulsória ao fim de cada 2 (dois) anos, a partir da vigência desta 
Lei Complementar, até o limite de 75 (setenta e cinco) anos previsto no caput. 
 
Dessa forma, os servidores do Serviço Exterior Brasileiro foram “prejudicados” em relação aos demais 
servidores públicos. Isso porque, segundo essa previsão do art. 2º, parágrafo único, eles não adquiriram 
imediatamente o direito de se aposentarem compulsoriamente com 75 anos. O dispositivo em tela previu 
uma tabela progressiva: 
x Em dezembro de 2017, os diplomatas e demais servidores do Serviço Exterior Brasileiro terão a 
aposentadoria compulsória elevada para 71 anos; 
x Em dezembro de 2019, a idade da aposentadoria compulsória irá para 72 anos; 
x Em dezembro de 2021, 73 anos; 
x Em dezembro de 2023, 74 anos; 
x Em dezembro de 2025, 75 anos. 
 
O argumento para isso foi o de que atualmente existe um excedente de diplomatas, o que tem gerado um 
afogamento da carreira. Dessa forma, com essa tabela progressiva, muitos terão que se aposentar 
compulsoriamente. 
 
Mandado de segurança 
Alguns diplomatas que estavam com 69 anos não se conformaram com essa regra e impetraram mandado 
de segurança preventivo pedindo que o Poder Judiciário determinasse ao Ministro das Relações Exteriores 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
que ele se abstivesse de aposentar compulsoriamente os autores quando estes completassem 70 anos. 
A causa de pedir (fundamento jurídico) dessa demanda foi a alegação de que o art. 2º, parágrafo único, da 
Lei nº 152/2015 seria inconstitucional por violar o princípio da isonomia e, portanto, não poderia ser 
aplicado. 
 
Primeira pergunta: de quem é a competência para julgar este mandado de segurança? 
STJ, nos termos do art. 105, I, “b”, da CF/88. Com efeito, compete ao STJ julgar mandado de segurança 
impetrado contra ato de Ministro de Estado. No caso concreto, os diplomatas pedem que o Ministro das 
Relações Exteriores se abstenha de praticar um ato administrativo (declaração da aposentadoria 
compulsória). 
Vale ressaltar que o fato de estar sendo alegada a inconstitucionalidade do art. 2º, parágrafo único, da Lei 
nº 152/2015 não impede que o STJ julgue a demanda. Isso porque a declaração de inconstitucionalidade 
não é o pedido da ação, mas sim a causa de pedir. Assim, essa declaração de inconstitucionalidade 
ocorreria na forma de controle difuso, que pode ser exercido por qualquer juiz ou Tribunal. 
 
Segunda pergunta: existe uma súmula que afirma que “não cabe mandado de segurança contra lei em 
tese (Súmula 266-STF). Esta ação proposta contraria esta súmula? O MS impetrado pelos diplomatas foi 
contra a lei em tese? 
NÃO. O STJ entendeu que, no caso concreto, não deveria ser aplicada a vedação contida na Súmula 
266/STF, “pois é possível a impetração preventiva contra uma regra administrativa futura, derivada da 
direta aplicação de lei, mesmo que o debate exija a apreciação da sua regularidade à luz de normas 
constitucionais como o princípio da isonomia”. 
O STJ entendeu que a lei está produzindo efeitos imediatos e concretos e é contra isso que se insurgem os 
impetrantes. 
 
Terceira pergunta: o art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 152/2015 poderia ter feito a distinção realizada? 
Pode o Poder Legislativo construir regras jurídicas para aposentadoria de uma carreira específica do 
serviço público federal que seja distinta das demais? 
SIM. É possível a construção de normas jurídicas para o regramento das diversas carreiras que compõem o 
serviço público federal com atenção às diferenças entre elas sem que se observe violação do princípio da 
isonomia, em especial, com atenção ao caso de aposentadoria e de férias. Como exemplo, podemos citar 
os magistrados e os professores da educação básica, que possuem regime de férias diferente dos demais 
servidores. Outro exemplo são os militares, que têm regras diferentes para aposentadoria.Justificativa para a regra de transição do art. 2º, parágrafo único 
O legislador ordinário, ao regular a aposentadoria compulsória, realizou um discrímen, estabelecendo uma 
regra de transição para as carreiras dos servidores integrantes do Serviço Exterior Brasileiro, na qual o 
limite de 75 (setenta e cinco) anos será alcançado no prazo de dez anos, com o acréscimo de 1 (um) ano 
adicional a cada dois anos de vigência da lei complementar. 
A justificativa para a aplicação de uma regra de transição envolve a própria estrutura da carreira 
diplomática, que é organizada por meio de um fluxo no qual os seus titulares vão ocupando os mais 
variados postos de acordo com a proficiência em postos e atividades anteriores. Em retrospecto à 
evolução legislativa quanto à possibilidade de um limite diferente para a aposentadoria compulsória de 
uma determinada carreira, nota-se que há muito se confere um tratamento diferenciado à aposentadoria 
compulsória da carreira da diplomacia, tendo em vista sua particular importância no quadro do Estado 
Brasileiro e da excepcional forma de organização do Serviço Exterior. 
Dessa forma, há justificativa e motivação para a aplicação de uma regra de transição ao novo sistema 
trazido por meio da EC 88/2015. Não há falar, portanto, em violação da isonomia na regra de transição 
aplicável aos servidores do Serviço Exterior Brasileiro. 
 
 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
Em suma: 
Não viola o princípio da isonomia o implemento de regra de transição de aposentadoria dos servidores 
integrantes do Serviço Exterior Brasileiro (Lei nº 11.440/2006), como está previsto no parágrafo único do 
art. 2º da LC 152/2015, considerando-se as peculiaridades da carreira, as necessidades do Estado e a 
ordem constitucional vigente. 
STJ. 1ª Seção. MS 22.394-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 9/11/2016 (Info 596). 
 
 
 
PODER DE POLÍCIA 
Empresas brasileiras poderão desenvolver atividades de segurança privada, 
ainda que tenham sócios estrangeiros 
 
A Lei nº 7.102/83 estabelece normas para constituição e funcionamento das empresas 
particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores. 
O art. 11 dessa Lei prevê que “a propriedade e a administração das empresas especializadas 
que vierem a se constituir são vedadas a estrangeiros.” 
Esse art. 11 deve ser interpretado segundo a Constituição Federal que, desde a EC 6/95, 
proíbe, em regra, que a lei faça discriminação entre “empresa brasileira de capital nacional” e 
“empresa brasileira de capital estrangeiro”. Em outras palavras, para o texto constitucional 
atual, em regra, desde que uma empresa seja brasileira (constituída no Brasil e sujeita às leis 
brasileiras), a origem do seu capital é irrelevante. 
Diante disso, a interpretação atual do art. 11 deve ser a seguinte: 
• Empresas constituídas no exterior são proibidas de atuar no setor de segurança privada. 
• Todavia, empresas que sejam constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e 
administração no País são consideradas “empresas brasileiras” (art. 1.126 do Código Civil), 
sendo irrelevante que tenham na sua composição societária, direta ou indiretamente, 
participação ou controle pelo capital estrangeiro. 
• Logo, “empresas brasileiras” poderão praticar atividades de segurança privada no país ainda 
que tenham sócios estrangeiros. 
A restrição veiculada pelo art. 11 da Lei nº 7.102/83, de acordo com a CF/88, não impede a 
participação de capital estrangeiro nas sociedades nacionais (empresas brasileiras) que 
prestam serviço de segurança privada. STJ. 1ª Seção. MS 19.088-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/12/2016 (Info 596). 
 
Empresas de segurança privada 
As empresas que oferecem serviços de vigilância e de transporte de valores, pelo fato de utilizarem armas 
de fogo, devem ser fiscalizadas de forma mais criteriosa pelo Poder Público. 
Em razão disso, foi editada a Lei nº 7.102/83, que estabelece normas para constituição e funcionamento 
das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores. 
 
Quem está sujeito à Lei nº 7.102/83? 
Estão sujeitas à Lei nº 7.102/83 as empresas que executam atividades de segurança privada. 
São consideradas atividades de segurança privada: 
x a vigilância patrimonial das instituições financeiras e de outros estabelecimentos (públicos ou 
privados) ou residências; 
x a segurança privada de pessoas físicas; 
x o transporte de valores (ex: "carros-fortes"); 
x a segurança para transporte de outros tipo de carga. 
 
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Fiscalização 
A fiscalização das empresas de segurança privada é feita pelo Ministério da Justiça e pela Polícia Federal 
(art. 32 do Decreto nº 89.056/83). 
 
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: 
O Ministério da Justiça autorizou que a empresa "Vigilante Total Ltda." fosse constituída para praticar 
atividades de segurança privada. 
Ocorre que um dos sócios da "Vigilante Total" é uma empresa estrangeira. 
Diante disso, a Associação Brasileira das Empresas de Transporte de Valores – ABTV impetrou mandado de 
segurança no STJ (art. 105, I, “b”, da CF/88) contra o ato do Ministro da Justiça alegando que ele violou o 
art. 11 da Lei nº 7.102/83, que estabelece o seguinte: 
Art. 11. A propriedade e a administração das empresas especializadas que vierem a se constituir são 
vedadas a estrangeiros. 
 
O Ministro de Estado da Justiça, nas informações prestadas, argumentou que o art. 11 da Lei nº 7.102/83 
deve ser lido de acordo com o texto atual da Constituição Federal de 1988 e que esta não proíbe que 
estrangeiros tenham empresas de segurança privada em nosso país. 
 
A questão jurídica é, portanto, a seguinte: é possível que empresa que atua no setor de segurança 
privada tenha sócios estrangeiros ou que tenha entre os seus sócios outra empresa que tenha 
participação de capital estrangeiro? 
SIM. 
 
Empresa brasileira e empresa brasileira de capital nacional 
O art. 171 da CF/88, em sua redação original, diferenciava “empresa brasileira” de “empresa brasileira de 
capital nacional”. 
x Empresa brasileira: é aquela constituída sob as leis brasileiras e que tem sua sede e administração no País. 
x Empresa brasileira de capital nacional: é aquela cujo controle efetivo está sob a titularidade de 
pessoas físicas domiciliadas e residentes no País ou de entidades de direito público interno. 
 
Ex: a empresa “X” tem como únicos sócios dois chineses. Esta pessoa jurídica foi constituída sob as leis 
brasileiras e tem sede e administração no País. Isso significa que ela é uma empresa brasileira. Apesar 
disso, não é uma empresa brasileira de capital nacional. 
 
Art. 11 da Lei nº 7.102/83 era compatível com o art. 171 da CF/88 
O art. 171 da CF/88 autorizava o legislador a prever que determinados setores de atividades fossem 
exercidos exclusivamente por empresas de capital nacional. Em outras palavras, certas atividades não 
poderiam ser exercidas por empresas com capital estrangeiro. 
Desse modo, o art. 11 da Lei nº 7.102/83 era compatível com o art. 171 da CF/88 e foi, portanto, 
inicialmente, recepcionado. 
 
EC 6/95 e “revogação” parcial do art. 11 
Ocorre que, em 1995, foi editada a EC 6/95, que revogou o art. 171 e, com isso, acabou a distinção entre 
empresas brasileiras de capital nacional ou de capital estrangeiro, salvo em alguns raros casos tratados 
especificamente pela Constituição Federal (ex: art. 199, § 3º; art. 221, § 1º). 
O objetivo da revogação do art. 171 da CF/88 foi justamente acabar com essa possibilidade de diferenciação 
e, por esse motivo, entende-se que o art. 11 da Lei nº 7.102/83 não foi recepcionado, parcialmente, pela 
ordem constitucional alterada pela EC 06/95. Apesar de ser uma linguagem atécnica,apenas para que você 
compreenda, o art. 11 da Lei nº 7.102/83 foi parcialmente “revogado” pela EC 6/95. 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
A partir da EC 6/95, salvo nos casos expressamente previstos na CF/88, a lei não mais pode estabelecer 
discriminação entre empresa brasileira de capital nacional e empresa brasileira de capital estrangeiro. Em 
outras palavras, desde que uma empresa seja brasileira (constituída no Brasil e sujeita às leis brasileiras), a 
origem do seu capital é irrelevante. 
 
O art. 172 da CF/88 não poderia servir como fundamento de validade para o art. 11 da Lei n. 7.102/83? 
NÃO. O art. 172 da CF/88 estabelece: 
Art. 172. A lei disciplinará, com base no interesse nacional, os investimentos de capital estrangeiro, 
incentivará os reinvestimentos e regulará a remessa de lucros. 
 
Quando se diz que a lei “disciplinará” significa que ela irá estipular as regras segundo as quais isso irá 
acontecer. No entanto, o texto constitucional não autorizou que a lei, ao disciplinar, simplesmente proíba 
investimentos de capital estrangeiro. Como afirmou o Min. Herman Benjamin: 
“É certo que o artigo 172 da Constituição estabelece que ‘a lei disciplinará, com base no interesse nacional, 
os investimentos de capital estrangeiro, incentivará os reinvestimentos e regulará a remessa de lucros’. Tal 
dispositivo, entretanto, não admite interpretação que permita restrições em setores não explicitamente 
previstos na Constituição, pois isso nulificaria a revogação do artigo 171 pela Emenda 6, de 1995.” 
 
O art. 11 da Lei nº 7.102/83 é inteiramente inválido? 
NÃO, não é isso. O que o STJ afirmou é que esse dispositivo agora deverá ser interpretado conforme a 
Constituição. Assim, a interpretação correta atual do art. 11 é a seguinte: 
x Empresas constituídas no exterior são proibidas de atuar no setor de segurança privada. 
x Todavia, empresas que sejam constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e 
administração no País são empresas brasileiras, na exata dicção do art. 1.126 do Código Civil, sendo 
irrelevante que tenham na sua composição societária, direta ou indiretamente, participação ou 
controle pelo capital estrangeiro. 
x Assim, empresas brasileiras poderão praticar atividades de segurança privada no país ainda que 
tenham sócios estrangeiros. 
 
 
 
PENSÃO ESPECIAL DE EX-COMBATENTE 
Termo inicial em caso de pensão requerida por dependente incapaz 
(Obs: tema que só interessa para concursos federais) 
 
Em se tratando de dependente incapaz, o termo inicial para o pagamento do benefício da 
pensão especial de ex-combatente é o óbito do instituidor. STJ. Corte Especial. EREsp 1.141.037-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/12/2016 (Info 596). 
 
Pensão especial de ex-combatente 
As pessoas que tenham participado de operações bélicas durante a Segunda Guerra Mundial, assim como 
seus dependentes, possuem direito a uma pensão especial prevista no art. 53, II e III, do ADCT da CF/88 e 
na Lei n.q 8.059/90. 
 
Quem é responsável pelo processamento e pagamento da pensão? O INSS? 
NÃO. A competência é do Ministério Militar ao qual esteve vinculado o ex-combatente durante a Segunda 
Guerra Mundial (art. 12). Por essa razão, essa pensão não é considerada um benefício previdenciário. 
 
 
 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
Quem recebe a pensão? 
A pensão especial é devida ao ex-combatente. No entanto, quando ele morre, a pensão é revertida para os 
seus dependentes (art. 6º da Lei). 
 
Quem são os dependentes do ex-combatente? 
A Lei n.q 8.059/90 prevê um rol de dependentes: 
Art. 5º Consideram-se dependentes do ex-combatente para fins desta lei: 
I - a viúva; 
II - a companheira; 
III - o filho e a filha de qualquer condição, solteiros, menores de 21 anos ou inválidos; 
IV - o pai e a mãe inválidos; e 
V - o irmão e a irmã, solteiros, menores de 21 anos ou inválidos. 
Parágrafo único. Os dependentes de que tratam os incisos IV e V só terão direito à pensão se viviam sob a 
dependência econômica do ex-combatente, por ocasião de seu óbito. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
João foi ex-combatente e, nessa condição, recebia pensão especial. 
Pedrinho, 12 anos, é neto de João e mora com ele. 
Na verdade, como os pais de Pedrinho vivem em outra cidade, João é quem cria e educa o neto, 
possuindo, inclusive, a guarda do menor. 
João morreu e Pedrinho, orientado pela família, foi até o Exército e pediu para receber a pensão de ex-
combatente de seu avô na qualidade de dependente. Em seu requerimento, Pedrinho falou que tinha 
direito de receber a pensão com base no art. 33, § 3º do ECA: 
Art. 33 (...) § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e 
efeitos de direito, inclusive previdenciários. 
 
Contudo, o pedido foi indeferido sob o argumento de que o menor sob guarda não está previsto no art. 5º da 
Lei n.q 8.059/90. 
 
O argumento de Pedrinho está correto? O menor sob guarda tem direito à pensão especial como 
dependente de ex-combatente? 
SIM. 
Na hipótese de morte do titular de pensão especial de ex-combatente, o menor de 18 anos que estava sob 
sua guarda deve ser enquadrado como dependente (art. 5º da Lei n.q 8.059/90) para efeito de recebimento, 
na proporção que lhe couber, da pensão especial (art. 53, II, do ADCT) que recebia o seu guardião. 
Realmente, o art. 5º da Lei n.q 8.059/90 não incluiu o menor de 18 anos sob guarda no rol dos 
beneficiários da pensão especial. Ele, contudo, tem direito à pensão com base no art. 33, § 3º, da Lei n.q 
8.069/90 (ECA). 
O art. 227 da CF/88 exige da família, da sociedade e do Estado a conjugação de esforços no sentido de 
prestar atendimento prioritário a todos os interesses de crianças e adolescentes. Assim, o ECA se 
encontra em absoluta sintonia com a diretriz hermenêutica demarcada no plano constitucional, não 
sendo admissível a exegese de que a pensão especial de ex-combatente, por não possuir natureza 
previdenciária, afastaria a aplicação da regra prevista no ECA. 
Nessa ordem de ideias, do cotejo entre a Lei n.q 8.059/90 (art. 5º) e o ECA, este diploma legal, mais 
benéfico, deve prevalecer, em razão do critério da especialidade. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.339.645-MT, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 3/3/2015 (Info 561). 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.550.168-SE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/10/2015 (Info 572). 
 
 
 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
Vimos acima que, ocorrendo a morte do ex-combatente, a pensão pode ser revertida em favor de seus 
dependentes. Para isso, no entanto, é necessário que o dependente requeira o benefício, ou seja, a 
transferência não é automática. Ocorre que algumas vezes o dependente demora para requerer ao 
Exército ou, então, ajuíza diretamente uma ação judicial pleiteando o benefício. A dúvida aqui é a 
seguinte: o dependente terá direito às parcelas atrasadas a contar do óbito do ex-combatente ou isso é 
considerado somente a partir do requerimento? Em outras palavras, qual é o termo inicial do 
pagamento da pensão de ex-combatente quando requerida pelo dependente? 
x Regra geral: o termo inicial será a data do requerimento administrativo. 
x Se não houve requerimento administrativo (o dependente ajuizou diretamente a ação): o termo inicial 
do pagamento será a data da citação da União. 
x Se o dependente for civilmente incapaz: a pensão será devida desde a data do óbito do ex-combatente 
(chamado de “instituidor da pensão”). 
 
Em se tratando de dependente incapaz, o termo inicial para o pagamento do benefício da pensão 
especial de ex-combatente é o óbito do instituidor. 
STJ. Corte Especial. EREsp 1.141.037-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/12/2016 (Info596). 
 
Voltemos ao exemplo que havia dado: 
João morreu em janeiro de 2016. 
Pedrinho formulou requerimento administrativo ao Exército em julho de 2016. 
A ação foi proposta em dezembro de 2016. 
A União foi citada em fevereiro de 2017. 
A sentença condenando a União a pagar a pensão foi proferida em agosto de 2017, tendo transitado em 
julgado em outubro de 2017. 
 
Pedrinho terá direito de receber os meses atrasados desde que data? 
Desde o dia do falecimento do ex-combatente (instituidor da pensão). 
 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
CONSÓRCIO 
Herdeiros de consorciado falecido e liberação da carta de crédito 
em razão da quitação do saldo devedor pelo seguro prestamista 
 
Em 2006, Maria celebrou com a “Caixa Consórcios” contrato de participação em grupo de 
consórcio destinado à aquisição de um bem imóvel. Neste contrato havia uma cláusula 
prevendo um seguro prestamista com cobertura para o risco de morte. Isso significa que havia 
uma espécie de seguro de vida como pacto acessório ao contrato de consórcio. Por meio deste 
seguro prestamista, a administradora do consórcio afirmou o seguinte: se a contratante 
falecer antes de quitar todas as parcelas do consórcio, a contratada (Caixa Consórcios) irá 
quitar o saldo devedor relativo à cota da consorciada falecida, viabilizando não só a 
continuidade do grupo consorcial, como também a proteção financeira da família da segurada. 
Antes do fim do consórcio, Maria faleceu. Ocorre que a Caixa Consórcios recusou-se a pagar a 
indenização do seguro (quitação do saldo devedor do consórcio) 
O STJ decidiu que: 
1) Os herdeiros de consorciado falecido antes do encerramento do grupo consorcial detêm 
legitimidade para pleitear a liberação, pela administradora, do montante constante da carta 
de crédito, quando ocorrido o sinistro coberto por seguro prestamista. 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
2) Os herdeiros de consorciada falecida têm direito à liberação imediata da carta de crédito, 
em razão da quitação do saldo devedor pelo seguro prestamista, independentemente da 
efetiva contemplação ou do encerramento do grupo consorcial, nos termos da norma 
regulamentar vigente à época da contratação do consórcio (Circular Bacen 2.766/97). STJ. 4ª Turma. REsp 1.406.200-AL, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/11/2016 (Info 596). 
 
Em direito civil/empresarial, o que é um consórcio? 
O consórcio ocorre quando um grupo de pessoas (físicas ou jurídicas) se reúne com o objetivo de comprar um 
determinado tipo de bem (móvel ou imóvel) ou adquirir um serviço. O exemplo mais comum é o consórcio para 
compra de veículos, mas existem para diversas outras espécies de bens, inclusive para imóveis. 
Cada pessoa que faz parte do consórcio pagará parcelas mensais e, todos os meses, haverá a possibilidade 
de um ou mais integrantes do consórcio serem contemplados. 
A contemplação pode acontecer de duas formas: por meio de sorte ou pelo maior lance. 
Sorteio é a escolha de um dos participantes que será beneficiado por meio da sorte (este sorteio é 
normalmente feito pela Loteria Federal). 
O lance consiste na possibilidade de os participantes do consórcio oferecerem um valor para serem logo 
contemplados. É uma espécie de “leilão” para ser logo contemplado. Ex: o consórcio é de R$ 100 mil e a 
pessoa dá um lance de R$ 50 mil, ou seja, ela aceita pagar R$ 50 mil de suas parcelas adiantado em troca 
de ser logo contemplada. Aquele que oferece o maior lance no mês será contemplado. 
Quando a pessoa é contemplada, ela recebe um crédito no valor do bem objeto do consórcio. Isso é 
chamado de “carta de crédito”. 
Ex: João aderiu ao consórcio de um carro da marca XX, modelo YY, no valor de R$ 100 mil. Isso significa 
que, durante um determinado período (48, 60, 90 meses etc.), ele pagará uma prestação mensal e todos 
os meses um ou mais participantes do consórcio serão sorteados ou poderão dar lances. Caso a pessoa 
seja sorteada ou seu lance seja o maior, ela receberá o crédito de R$ 100 mil e poderá, com ele, comprar 
aquele carro ou outro bem daquele mesmo segmento de sua cota (outro veículo de modelo diferente). 
Os consórcios são indicados para pessoas que querem comprar determinado bem, mas não precisam dele 
de imediato e têm certa dificuldade de economizar. Assim, sabendo que possui aquela prestação mensal, a 
pessoa fica obrigada a poupar e, um dia, será contemplada, seja por sorteio, seja por decidir dar um lance. 
Para a maioria dos economistas, o consórcio não é um bom negócio, salvo se a pessoa for contemplada 
logo no início ou se, como já dito, ela não tiver disciplina para economizar sozinha. 
Uma curiosidade: o consórcio é um tipo de compra/investimento que foi criada no Brasil, tendo surgido na 
década de 60 por iniciativa de um grupo de funcionários do Banco do Brasil que se reuniu para comprar 
carros por meio dessa “poupança coletiva”. 
 
Legislação 
O sistema de consórcios é atualmente regido pela Lei n.q 11.795/2008, sendo essa atividade regulada pelo 
Banco Central, que edita circulares para disciplinar o tema. A atual é a Circular 3.432/2009. 
 
Classificação 
Trata-se de contrato plurilateral, consensual, oneroso, comutativo, de execução continuada, por adesão, 
sendo celebrado entre a administradora e o consorciado, momento a partir do qual fica formalizado o 
ingresso deste último no grupo consorcial (Min. Luis Felipe Salomão). 
 
O que é uma administradora de consórcio? 
A administradora de consórcio é uma pessoa jurídica que é responsável pela formação e administração de 
grupos de consórcio. Em outras palavras, é ela quem organiza o consórcio. 
 
A administradora de consórcio cobra algum valor dos participantes para organizar o consórcio? 
SIM. As administradoras de consórcio cobram uma “taxa de administração” como contraprestação pela 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
administração do grupo de consórcio. 
O percentual da taxa de administração deve estar definido no contrato de adesão ao consórcio. 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 2006, Maria celebrou com a “Caixa Consórcios” contrato de participação em grupo de consórcio 
destinado à aquisição de um bem imóvel. 
Neste contrato, havia uma cláusula prevendo um seguro prestamista com cobertura para o risco de morte. 
Isso significa que havia uma espécie de seguro de vida como pacto acessório ao contrato de consórcio. 
Por meio deste seguro prestamista, a administradora do consórcio afirmou o seguinte: se a contratante 
falecer antes de quitar todas as parcelas do consórcio, a contratada (Caixa Consórcios) irá quitar o saldo 
devedor relativo à cota da consorciada falecida, viabilizando não só a continuidade do grupo consorcial, 
como também a proteção financeira da família da segurada. 
 
Morte de Maria 
Antes do fim do consórcio, Maria faleceu. 
Ocorre que a Caixa Consórcios recusou-se a pagar a indenização do seguro (quitação do saldo devedor do 
consórcio) alegando que a morte de Maria decorreu de doença preexistente que ela não informou ao fazer o 
contrato. Em outras palavras, a administradora do consórcio argumentou que Maria omitiu que estava doente. 
Os herdeiros de Maria na concordaram com a decisão e ingressaram com ação judicial contra a 
administradora pedindo que ela fosse condenada a quitar o saldo devedor do consórcio, o que faria com 
que eles tivessem direito de obter a carta de crédito para comprar o imóvel que quisessem. 
A administradora do consórcio alegou que os herdeiros de Maria não tinham legitimidade para esse 
pedido porque o pagamento do seguro consiste na quitação do saldo devedor junto ao consórcio. Assim, 
só quem teria legitimidade para pedir seriam os outros consorciados. 
 
Os herdeiros da segurada falecida possuem legitimidade para o pedido? 
SIM. 
Realmente o grupo consorcial é beneficiáriodo seguro porque a Caixa irá quitar o saldo devedor da 
falecida, o que interessa a todos os consorciados. 
No entanto, ao pagar o saldo devedor da falecida, isso fará com que a administradora do consórcio tenha 
que liberar a carta de crédito a que teria direito Maria. Como esta faleceu, esta carta de crédito passa a 
pertencer aos seus herdeiros. 
Assim, embora o seguro tenha como beneficiário o grupo consorcial, a verdade é que a integralização do 
saldo devedor é providência que gera benefício direto dos herdeiros da consorciada falecida. Isso porque, 
não sendo quitadas as prestações, não haverá liberação da carta de crédito com a qual eles poderão 
comprar o imóvel pretendido. Os herdeiros têm, portanto, o direito de exigir que a seguradora pague por 
eles as prestações devidas após a morte da falecida, não porque queiram receber o valor da indenização 
do seguro, mas porque têm interesse no cumprimento do contrato de consórcio. 
 
Resumindo: 
Os herdeiros de consorciado falecido antes do encerramento do grupo consorcial detêm legitimidade 
para pleitear a liberação, pela administradora, do montante constante da carta de crédito, quando 
ocorrido o sinistro coberto por seguro prestamista. Isso porque, mediante a contratação da referida 
espécie de seguro de vida em grupo (contrato acessório ao consórcio imobiliário), a 
estipulante/administradora assegura a quitação do saldo devedor relativo à cota do consorciado 
falecido, o que representa proveito econômico não só ao grupo (cuja continuidade será preservada), 
mas também aos herdeiros do de cujus, que, em razão da cobertura do sinistro, passam a ter direito à 
liberação da carta de crédito. Em tal hipótese, o direito de crédito constitui direito próprio dos herdeiros 
e não direito hereditário, motivo pelo qual não há falar em legitimidade ativa ad causam do espólio (não 
é o espólio quem entra com a ação, mas sim os próprios herdeiros, em nome próprio). 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.406.200-AL, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/11/2016 (Info 596). 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
 
Os herdeiros pleitearam a liberação imediata da carta de crédito, mas a administradora afirmou que esta 
liberação deveria ocorrer em até 30 dias a contar do fim do consórcio. Qual das duas teses prevaleceu? 
A dos herdeiros. 
O STJ possui posição consolidada no sentido de que se a parte desistir do consórcio, terá direito à 
restituição dos valores pagos, mas não de imediato, e sim em até 30 dias a contar do prazo previsto 
contratualmente para o encerramento do plano (STJ. 2ª Seção. REsp 1119300/RS, Rel. Min. Luis Felipe 
Salomão, julgado em 14/04/2010. Recurso repetitivo). 
Esse entendimento, contudo, não se aplica para a situação concreta. Não tem nada a ver com o caso de Maria. 
Na época em que Maria celebrou o contrato (2006), os consórcios eram regidos pela Circular Bacen 
2.766/97, que permitia o recebimento imediato do crédito pelo consorciado contemplado (por sorteio ou 
por lance) que fizesse a quitação antecipada do saldo devedor relativo à sua cota. Logo, não se revela 
razoável negar o mesmo direito aos herdeiros de consorciada falecida que teve seu saldo devedor quitado 
pela indenização do seguro prestamista. 
Consequentemente, os herdeiros da consorciada falecida tinham, sim, direito à liberação imediata da carta 
de crédito, em razão da impositiva quitação do saldo devedor pelo seguro prestamista, 
independentemente da efetiva contemplação ou do encerramento do grupo consorcial. 
Resumindo: 
Os herdeiros de consorciada falecida têm direito à liberação imediata da carta de crédito, em razão da 
quitação do saldo devedor pelo seguro prestamista, independentemente da efetiva contemplação ou do 
encerramento do grupo consorcial, nos termos da norma regulamentar vigente à época da contratação 
do consórcio (Circular Bacen 2.766/97). 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.406.200-AL, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/11/2016 (Info 596). 
 
 
 
CONDOMÍNIO 
Prazo prescricional para cobrança de cotas condominiais: 5 anos 
 
Na vigência do Código Civil de 2002, é quinquenal o prazo prescricional para que o condomínio 
geral ou edilício (vertical ou horizontal) exercite a pretensão de cobrança de taxa condominial 
ordinária ou extraordinária, constante em instrumento público ou particular, a contar do dia 
seguinte ao vencimento da prestação. STJ. 2ª Seção. REsp 1.483.930-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 596). 
 
CONDOMÍNIO GERAL E EDILÍCIO 
Condomínio geral 
Diz-se que existe um condomínio geral quando duas ou mais pessoas possuem direito de propriedade em 
relação a determinado bem (móvel ou imóvel). Este instituto encontra-se disciplinado nos arts. 1.314 a 
1.330 do Código Civil. Ex: dois amigos resolvem comprar, em conjunto, uma casa de praia. Haverá aí um 
condomínio geral. 
 
Condomínio edilício 
Ocorre o condomínio edilício quando se tem a propriedade exclusiva de uma unidade autônoma 
combinada com a copropriedade de outras áreas de um imóvel. 
Ex1: prédio residencial com seis andares de apartamentos e dois apartamentos por andar. Tem-se um 
condomínio edilício, considerando que cada dono do apartamento possui a propriedade exclusiva da sua 
unidade autônoma (apartamento), e as áreas comuns do edifício (piscina, churrasqueira, quadra de 
esportes etc.) pertencem a todos os condôminos. 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
Ex2: prédio comercial com várias salas. Se determinado advogado compra uma das salas para servir como 
seu escritório, ele terá a propriedade individual sobre a sala (unidade autônoma) e a copropriedade sobre 
as partes comuns (corredores, recepção etc.). 
O condomínio edilício é tratado nos arts. 1.331 a 1.358 do Código Civil. 
 
CONDOMÍNIO EDILÍCIO 
Nomenclatura 
A expressão “condomínio edilício” é um neologismo criado por Miguel Reale, com inspiração no direito 
italiano, e quer dizer condomínio resultante de uma edificação. 
O condomínio edilício é também chamado de “condomínio em edificações” ou ainda de “condomínio 
horizontal”. 
Vale ressaltar que, apesar de o condomínio edilício ser também chamado de condomínio horizontal, ele 
pode ser horizontal ou vertical. O condomínio edilício é conhecido como condomínio horizontal por razões 
históricas, uma vez que, quando surgiu esta forma de propriedade, o condomínio edilício era apenas 
horizontal. Atualmente, contudo, é muito comum vermos condomínios edilícios verticais. 
 
CONDOMÍNIO EDILÍCIO VERTICAL E HORIZONTAL 
É muito comum a confusão feita entre as expressões condomínio horizontal e vertical. 
Normalmente, as pessoas pensam que condomínio vertical são os prédios, uma vez que a construção é 
para cima (vertical) e que o condomínio horizontal é o conjunto de casas. O critério de distinção, contudo, 
não é este. 
Em verdade, se a parede que separa as unidades for horizontal, então o condomínio é horizontal. Por 
outro lado, se a parede for para cima, então a edificação será vertical. Logo, em um prédio, os 
apartamentos são divididos por andares, ou seja, as paredes que dividem os apartamentos são 
horizontais. Desse modo, no caso de um prédio trata-se de um condomínio horizontal. 
Se o condomínio for de casas, como elas estão lado a lado, a parede que as separam é vertical, de modo 
que se trata de um condomínio vertical. 
 
DESPESAS CONDOMINIAIS (COTA OU TAXA CONDOMINIAL) 
Um dos deveres dos condôminos é o de pagar as despesas condominiais, que, na linguagem cotidiana, são 
chamadas de cotas ou taxas condominiais. Esse dever está previsto no art. 1.336 do CC: 
Art. 1.336. São deveres do condômino: 
I - contribuir para as despesas do condomínio na proporção das suas frações ideais, salvo disposição em 
contrário na convenção; 
 
PRAZO PRESCRICIONAL 
Qual é o prazo prescricionalpara cobrança de cotas condominiais? 
5 anos, contados do dia seguinte ao vencimento da prestação. 
O STJ, sob a sistemática do recurso especial repetitivo, definiu a seguinte tese: 
Na vigência do Código Civil de 2002, é quinquenal o prazo prescricional para que o condomínio geral ou 
edilício (horizontal ou vertical) exercite a pretensão de cobrança da taxa condominial ordinária ou 
extraordinária constante em instrumento público ou particular, a contar do dia seguinte ao vencimento 
da prestação. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1483930-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/11/2016 (recurso 
repetitivo). 
 
Segundo o STJ, a cobrança de cota condominial enquadra-se na previsão do art. 206, § 5º, I do CC-2002: 
Art. 206. Prescreve: 
§ 5º Em cinco anos: 
I – a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular; 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
 
O débito decorrente da taxa condominial pode ser considerado uma “dívida líquida”? 
As cotas condominiais são líquidas desde o momento em que seu valor é definido na assembleia geral de 
condôminos. 
O próprio CPC/2015 considera que os débitos decorrentes de cotas condominiais são dívidas líquidas, 
tanto que são considerados como título executivo extrajudicial: 
Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: 
(...) 
X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na 
respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas; 
 
Para se enquadrar no art. 206, § 5º, I, do CC, exige-se que a dívida tenha sido contraída por meio de um 
instrumento público ou particular? 
NÃO. O art. 206, § 5º, I, do CC/02 exige apenas que a dívida seja líquida e que ela esteja demonstrada 
(documentada) em um instrumento público ou particular. Não é necessário que a dívida tenha sido 
contraída em um desses instrumentos. 
 
Ok. A cota condominial é uma dívida líquida. Mas ela é constante de instrumento público ou particular 
como exige o art. 206, § 5º, I, do CC? 
SIM. A taxa condominial decorre da lei (art. 1.336, I, do CC), mas além disso, ela é previamente decidida e 
seu valor definido em assembleia geral. A ata dessa assembleia (instrumento particular) deverá instruir a 
petição inicial da execução para comprovação do débito cobrado. Logo, esta dívida líquida está sim 
documentada em um instrumento particular. 
 
CC-1916 
A título de curiosidade, no Código Civil de 1916 o prazo prescricional para a cobrança de taxa condominial 
era de 20 anos (art. 177). 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
CONTRATOS BANCÁRIOS 
Validade da cobrança de tarifa bancária a partir do quinto saque mensal 
 
Importante!!! 
O cliente paga alguma tarifa bancária quando ele saca dinheiro de sua conta? Os bancos 
adotam a seguinte prática contratual: o cliente pode fazer até quatro saques por mês sem 
pagar nada. A partir do quinto saque, é cobrada uma tarifa bancária. 
Esta prática bancária é válida? SIM. 
É legítima a cobrança, pelas instituições financeiras, de tarifas relativas a saques quando estes 
excederem o quantitativo de quatro realizações por mês. STJ. 3ª Turma. REsp 1.348.154-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/12/2016 (Info 596). 
 
O cliente paga alguma tarifa bancária quando ele saca dinheiro de sua conta corrente? 
Os bancos adotam a seguinte prática contratual: o cliente pode fazer até quatro saques por mês sem 
pagar nada. A partir do quinto saque, é cobrada uma tarifa bancária. 
Vale ressaltar que esta prática é prevista no contrato que quase todos nós, ao abrirmos uma conta, 
assinamos no banco sem ler direito. 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
 
O Ministério Público do Distrito Federal questionou a prática afirmando que a cobrança dessa tarifa 
seria abusiva. Isso porque onera o consumidor com o pagamento de uma tarifa para que ele possa 
reaver o que é seu de direito. Sustentou, portanto, que tal procedimento gera enriquecimento sem causa 
aos bancos. O STJ concordou com a tese do MP? 
NÃO. 
É legítima a cobrança, pelas instituições financeiras, de tarifas relativas a saques quando estes 
excederem o quantitativo de quatro realizações por mês. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.348.154-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/12/2016 (Info 596). 
 
Tarifas bancárias 
“Tarifa bancária” é o nome dado para a remuneração cobrada pelas instituições financeiras como 
contraprestação pelos serviços bancários prestados aos clientes. Ex: caso o cliente solicite do banco o 
fornecimento de cópia ou de segunda via de algum comprovante ou documento, terá que pagar a tarifa 
bancária por este serviço. 
 
Quem autoriza ou proíbe que as instituições financeiras cobrem dos usuários tarifas bancárias? 
O Conselho Monetário Nacional (CMN). 
O Conselho Monetário Nacional (CMN) é um órgão federal, classificado como "órgão superior do Sistema 
Financeiro Nacional". Suas competências estão elencadas no art. 4º da Lei nº 4.595/64, sendo ele 
responsável por formular a política da moeda e do crédito, objetivando o progresso econômico e social do 
País (art. 3º da Lei). 
O CMN é composto por três autoridades: 
x Ministro da Fazenda (que é o Presidente do Conselho); 
x Ministro do Planejamento; 
x Presidente do Banco Central. 
 
As reuniões do CMN acontecem, em regra, uma vez por mês. As matérias são aprovadas por meio de 
"Resoluções". 
 
Por que o CMN é quem define as tarifas bancárias que podem ser cobradas? Qual é o fundamento legal 
para isso? 
Essa competência do CMN encontra-se prevista na Lei nº 4.595/64. 
A Lei nº 4.595/64 trata sobre as instituições monetárias, bancárias e creditícias, sendo conhecida como 
"Lei do Sistema Financeiro nacional". 
Vale ressaltar que a Lei nº 4.595/64, apesar de ser formalmente uma lei ordinária, foi recepcionada pela 
Constituição Federal de 1988 com status de lei complementar. Isso porque o art. 192 da CF/88 preconiza 
que o sistema financeiro nacional "será regulado por leis complementares". 
 
CMN tem competência para limitar a remuneração que os bancos recebem pelas operações realizadas e 
pelos serviços prestados 
Veja o que diz o art. 4º, VI, da Lei nº 4.595/64: 
Art. 4º Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente da 
República: 
(...) 
IX - Limitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos, comissões e qualquer outra forma de 
remuneração de operações e serviços bancários ou financeiros, inclusive os prestados pelo Banco Central 
da República do Brasil (...) 
 
Assim, é o CMN que define se os bancos podem cobrar ou não pelos serviços oferecidos. 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
A disciplina e os limites impostos pelo CMN são realizados por decisões instrumentalizadas por meio de 
"resoluções". Assim, quando o CMN decide proibir que as instituições financeiras cobrem determinada 
tarifa, ele o faz por meio de uma "resolução". 
 
Autorização expressa na Resolução 3.919/2010 
O tema acima é, atualmente, disciplinado pela Resolução 3.919/2010, que permite que os bancos cobrem 
tarifa a partir do quinto saque nos caixas eletrônicos. Confira: 
Art. 2º É vedada às instituições mencionadas no art. 1º a cobrança de tarifas pela prestação de serviços 
bancários essenciais a pessoas naturais, assim considerados aqueles relativos a: 
I - conta de depósitos à vista: 
(...) 
c) realização de até quatro saques, por mês, em guichê de caixa, inclusive por meio de cheque ou de 
cheque avulso, ou em terminal de autoatendimento; 
 
Segundo entende o CVM, existem alguns serviços bancários que são considerados essenciais e, portanto, 
não podem ser cobrados. Eles estão neste art. 2º. Para o CVM, até quatro saquespor mês é considerado 
essencial, mas a partir do quinto saque, o serviço perde essa característica de essencialidade e, portanto, 
pode ser cobrado. 
 
Resolução 3.919/2010 não viola o CDC 
Vale ressaltar que não se está dizendo que a Resolução do CVM deve estar acima do CDC. Na verdade, 
cada um desses atos normativos possui o exato campo de atuação, devendo haver entre eles coexistência 
harmônica. 
No caso concreto, o STJ entendeu que não há qualquer incompatibilidade entre a tarifa sobre o serviço de 
saque excedente prevista em Resolução acima com os preceitos do CDC, tampouco com a natureza do 
contrato de conta-corrente de depósito à vista. 
O MP alegava que no contrato de depósito o cliente tem o direito de reaver o seu dinheiro a qualquer 
tempo, não sendo possível que o banco imponha a cobrança de tarifas para que o consumidor possa 
exercer esse direito. 
O STJ, contudo, não concordou com a argumentação. 
Por meio do contrato de conta-corrente de depósito à vista, a instituição financeira contratada mantém e 
conserva o dinheiro do correntista contratante, disponibilizando-o para transações diárias, por meio de 
serviços bancários como o são os saques, os débitos, os pagamentos agendados, os depósitos, a emissão 
de talonários de cheques etc. Tais serviços bancários, quando não são qualificados como essenciais 
(inerentes à espécie de contrato bancário), são remunerados por meio da cobrança de tarifas, desde que 
previamente estipuladas entre as partes contratantes e devidamente autorizadas pelo Banco Central do 
Brasil, por deliberação do Conselho Monetário Nacional. 
Desse modo, a remuneração pelo serviço de saque excedente não se confunde com as obrigações das 
partes contratantes oriundas do contrato de depósito, que, embora, em regra, seja unilateral e gratuito, 
pode, sim, ser bilateral e oneroso diante de convenção das partes, atividade ou profissão do depositário 
(art. 628 do Código Civil). 
A tarifa sob comento incide pela efetiva utilização de um serviço bancário posto à disposição do 
correntista, qual seja, a realização de saque excedente (ao número de quatro, no mês), e não como 
contraprestação ao depósito propriamente feito. É dizer: a cobrança da tarifa sobre saques excedentes 
não está destinada a remunerar o depositário pelo depósito em si, mas sim a retribuir o depositário pela 
efetiva prestação de um serviço bancário não essencial. 
Para garantir os saques aos clientes, os bancos devem manter uma ampla rede de terminais de 
autoatendimento, com emprego de tecnologia, de estrutura física e de mecanismos de segurança. Isso 
tudo tem custos e representa a prestação de um serviço bancário posto à disposição do correntista, sendo 
passível, portanto, de cobrança. 
 
 
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Poupança 
Atenção. No caso de conta poupança, o cliente pode fazer apenas dois saques por mês. A partir do terceiro 
já terá que pagar tarifa bancária. O argumento do CVM é o de que a poupança é uma forma de 
investimento, não sendo para ficar sendo sacada a todo momento. Veja o texto da Resolução 3.919/2010: 
Art. 2º É vedada às instituições mencionadas no art. 1º a cobrança de tarifas pela prestação de serviços 
bancários essenciais a pessoas naturais, assim considerados aqueles relativos a: 
(...) 
II - conta de depósitos de poupança: 
(...) 
c) realização de até dois saques, por mês, em guichê de caixa ou em terminal de 
autoatendimento; 
 
 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
 
FALÊNCIA 
Autor do pedido de falência não precisa provar insolvência patrimonial do devedor 
 
O autor do pedido de falência não precisa demonstrar que existem indícios da insolvência ou 
da insuficiência patrimonial do devedor, bastando que a situação se enquadre em uma das 
hipóteses do art. 40 da Lei nº 11.101/2005. 
Assim, independentemente de indícios ou provas de insuficiência patrimonial, é possível a 
decretação da quebra do devedor que não paga, sem relevante razão de direito, no 
vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja 
soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência 
(art. 40, I, da Lei nº 11.101/2005). STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.154-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/10/2016 (Info 596). 
 
NOÇÕES GERAIS SOBRE FALÊNCIA 
Conceito 
Falência é o processo coletivo de execução forçada de um empresário ou sociedade empresária cuja 
recuperação mostra-se inviável. 
 
Finalidade 
A falência tem como objetivo reunir os credores e arrecadar os bens, ativos e recursos do falido a fim de 
que, com os recursos obtidos pela alienação de tais bens, possam os credores ser pagos, obedecendo a 
uma ordem de prioridade estabelecida na lei. 
 
Legislação aplicável 
Atualmente, a falência do empresário e da sociedade empresária é regida pela Lei nº 11.101/05. 
 
Procedimento 
I — PROCEDIMENTO PRÉ-FALIMENTAR II — PROCESSO FALIMENTAR 
O procedimento pré-falimentar vai do pedido 
de falência até a sentença do juiz. 
Engloba, resumidamente, três atos principais: 
1) pedido de falência; 
O processo falimentar vai da sentença 
declaratória de falência até a sentença de 
encerramento. 
 
 
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2) resposta do devedor; 
3) sentença. 
 
Ao final desta fase, a sentença pode ser: 
• denegatória: o processo se extingue sem a 
instauração da falência; 
• declaratória: hipótese em que se iniciará o 
processo falimentar propriamente dito. 
É no processo falimentar propriamente dito 
que ocorre a verificação e habilitação dos 
créditos e o pagamento dos credores. 
 
PEDIDO DE FALÊNCIA 
Quem pode requerer a falência do empresário ou da sociedade empresária? 
A pessoa que requer a falência é chamada de “sujeito ativo” da falência (deve-se lembrar que a falência 
acarreta um processo judicial). 
Segundo o art. 97 da Lei nº 11.101/2005, podem requerer a falência do devedor: 
 
I — o próprio devedor; 
(Obs.: é a chamada autofalência.) 
 
II — o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; 
(Obs.: ocorre no caso de empresário individual que morre e os seus herdeiros percebem que o falecido 
estava em situação de insolvência, razão pela qual optam por requerer a falência.) 
 
III — o cotista ou o acionista do devedor; 
(Obs.: ocorre quando o sócio da sociedade empresária (seja ele cotista ou acionista) entende que a 
empresa está insolvente e que o único caminho é a falência.) 
 
IV — qualquer credor. 
(Obs.: é a hipótese que ocorre em 99% dos casos.) 
 
Hipóteses nas quais pode ser requerida a falência: 
O art. 94 prevê que a falência poderá ser requerida em três hipóteses. 
I — Impontualidade injustificada 
Quando o devedor, sem relevante razão de direito, não paga no vencimento obrigação líquida 
materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-
mínimos na data do pedido de falência. 
Adotou-se neste inciso o critério da impontualidade injustificada. 
 
Obs.1: para pedir a falência com base neste inciso não é necessário que o requerente tenha tentado 
executar o título. Não se revela como exigência para a decretação da quebra a execução prévia. Assim, é 
desnecessário o prévio ajuizamento de execução forçada para se requerer falência com fundamento na 
impontualidade do devedor 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.354.776-MG, Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/8/2014 (Info 547). 
 
Obs.2: a duplicata virtual protestada por indicação é título executivo apto a instruir pedido de falência com 
base na impontualidade do devedor. Logo, se o devedor não pagar uma duplicata virtual em valor superior 
a 40 salários-mínimos, é possível que seja decretada a sua falência 
STJ. 3ª Turma. REsp1.354.776-MG, Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/8/2014 (Info 547). 
 
 
 
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II — Execução frustrada 
Quando o devedor é executado por qualquer quantia líquida, mas não paga, não deposita e não nomeia à 
penhora bens suficientes dentro do prazo legal. 
A lei presume que o devedor, ao adotar esse comportamento na execução contra si proposta, demonstra 
estar insolvente. Para o legislador, o devedor praticou um “ato de falência”, ou seja, um ato de quem está 
em falência. Adotou-se neste inciso o chamado critério da enumeração legal. 
 
III — Atos de falência 
Quando o devedor pratica qualquer dos atos listados nas alíneas do inciso III do art. 94 da Lei nº 
11.101/2005. 
Aqui a lei também presumiu que o devedor está falido pelo fato de ter praticado algum dos 
comportamentos descritos na lei. Assim, também se adotou neste inciso o chamado critério da 
enumeração legal. 
 
PEDIDO DE FALÊNCIA E DESNECESSIDADE DE PROVAS DE INSUFICIÊNCIA PATRIMONIAL 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A sociedade empresária "BCD Ltda" deixou de pagar uma nota promissória no valor de R$ 1 milhão. 
O credor da quantia fez o protesto deste título de crédito, mas a devedora permaneceu inadimplente. 
Diante disso, o credor formulou pedido de falência da sociedade empresária " BCD Ltda", fundamentando 
o pleito no art. 94, I, da Lei nº 11.101/2005: 
Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: 
I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou 
títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na 
data do pedido de falência; 
 
A BCD contestou o pedido afirmando que seu patrimônio é muito superior à quantia que está sendo 
cobrada e que, portanto, não existe insolvência. Além disso, afirmou que o credor está utilizando o pedido 
de falência como se fosse uma ação de cobrança, o que é rechaçado pela jurisprudência. Dessa forma, a 
devedora alegou que o pedido de falência foi abusivo. 
 
O argumento da empresa devedora foi aceito pelo STJ? Para que seja decretada a falência é necessário 
que o autor do pedido demonstre a insolvência ou insuficiência patrimonial do devedor? 
NÃO. 
O autor do pedido de falência não precisa demonstrar que existem indícios da insolvência ou da 
insuficiência patrimonial do devedor, bastando que a situação se enquadre em uma das hipóteses do 
art. 40 da Lei nº 11.101/2005. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.154-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/10/2016 (Info 596). 
 
Falência não pode servir como sucedâneo de ação de cobrança 
Realmente o STJ possui julgados afirmando que o pedido de falência não pode servir como substituto de 
uma ação de cobrança, de modo que não é o inadimplemento de qualquer dívida que justifica o 
processamento do pedido. Nesse sentido: 
O pedido de falência não pode ser utilizado como simples substituto das vias executivas ordinárias. 
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 949.576/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 05/08/2013) 
 
Esse entendimento foi construído na época em que vigorava a antiga Lei de Falências (Decreto-Lei nº 
7661/45), considerando que este diploma legal permitia que fossem formulados pedidos de falência sem 
que houvesse um limite mínimo do valor da dívida. Em outras palavras, mesmo dívidas de valores ínfimos 
poderiam, pelo DL, servir para instruir um pedido de falência. Dessa forma, a jurisprudência criou este 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
entendimento (de que a falência não pode servir como substituto da ação de cobrança) como uma forma 
de evitar situações absurdas e a utilização indevida da falência, que é uma medida extrema porque tem o 
potencial de gerar o fim da empresa. 
Ocorre que a Lei nº 11.101/2005 (atual Lei de Falências) impôs um valor mínimo no art. 94, I para que 
fique caracterizada a impontualidade. Assim, a dívida deverá ser superior a 40 salários-mínimos. 
Vale ressaltar, no entanto, que a Lei nº 11.101/2005 não exigiu que o autor demonstre indícios de que o 
devedor está em situação de insolvência. Pela Lei, basta a impontualidade do devedor no pagamento de 
dívida de valor superior a 40 salários-mínimos. 
 
Insolvência jurídica X insolvência econômica 
O STJ já havia decidido em sentido semelhante, afirmando que existe uma diferença entre insolvência 
econômica e jurídica. O autor do pedido de falência precisa provar a insolvência jurídica do devedor (ou 
seja, que existe alguma das situações do art. 94), mas não é obrigado a demonstrar insolvência econômica. 
Confira: 
No pedido de falência é desnecessário que o requerente demonstre a insolvência econômica do 
devedor. Se ele não pagou a dívida e esta se enquadra na descrição dos incisos do art. 94, é possível 
fazer o pedido de falência independentemente da condição econômica real do empresário. 
O pressuposto para a instauração de processo de falência é a insolvência jurídica, que é caracterizada a 
partir de situações objetivamente apontadas pelo ordenamento jurídico no art. 94 da Lei 11.101/2005: a 
impontualidade injustificada (inciso I), a execução frustrada (inciso II) e a prática de atos de falência 
(inciso III). 
A insolvência que autoriza a decretação de falência é presumida, uma vez que a lei presume que o 
empresário individual ou a sociedade empresária que se encontram em uma das situações apontadas 
pela norma estão em estado pré-falimentar. 
É bem por isso que se mostra possível a decretação de falência independentemente de comprovação da 
insolvência econômica, ou mesmo depois de demonstrado que o patrimônio do devedor supera o valor 
de suas dívidas. 
Verifica-se, assim, que a falência é diferente da chamada insolvência civil. O pressuposto da insolvência 
civil é a insolvência econômica (art. 748 do CPC), o que não se exige no caso da falência. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.433.652-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/9/2014 (Info 550. 
 
Assim, o pedido de falência com fundamento na impontualidade do devedor não se confunde com a 
insolvência econômica, de modo que a apresentação de indícios da sua insuficiência patrimonial não é 
pressuposto para o seu deferimento. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
COMPETÊNCIA 
Causas que podem produzir reflexos no processo eleitoral são de competência da Justiça Eleitoral 
 
Em regra, as ações tratando sobre divergências internas ocorridas no âmbito do partido 
político são julgadas pela Justiça Estadual. 
Exceção: se a questão interna corporis do partido político puder gerar reflexos diretos no 
processo eleitoral, então, neste caso a competência será da Justiça Eleitoral. 
Assim, compete à Justiça Eleitoral processar e julgar as causas em que a análise da 
controvérsia é capaz de produzir reflexos diretos no processo eleitoral. STJ. 2ª Seção. CC 148.693-BA, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/12/2016 (Info 596). 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João queria ser candidato a vereador em seu Município, pelo Partido da República (PR). 
Ocorre que o Presidente Municipal do referido Partido não permitiu que João participasse da convenção 
partidária que escolheria os candidatos alegando que ele não teria densidade eleitoral para apresentar um 
bom resultado no pleito. 
Diante disso, João impetrou mandado de segurança perante a Justiça Eleitoral. 
O Juiz Eleitoral, contudo, declinou da competência afirmando que compete à Justiça Estadual julgar ações 
que questionem assuntos interna corporis dos partidos políticos, como é o caso de escolha de candidatos. 
O Juiz de Direito, por sua vez, também entendeu que seria incompetentee, por isso, suscitou conflito 
negativo de competência. 
 
Quando dois juízes vinculados a “Justiças” diferentes estão divergindo acerca da competência, quem 
deverá julgar este conflito? Quem julga o conflito entre um juiz de direito e um juiz eleitoral? 
STJ, nos termos do art. 105, I, “d”, da CF/88: 
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
I - processar e julgar, originariamente: 
(...) 
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, "o", bem 
como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos; 
 
O que o STJ decidiu neste caso concreto? De quem é a competência para julgar esta ação? 
Justiça Eleitoral. 
Compete à Justiça Eleitoral processar e julgar as causas em que a análise da controvérsia é capaz de 
produzir reflexos diretos no processo eleitoral. 
STJ. 2ª Seção. CC 148.693-BA, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/12/2016 (Info 596). 
 
x Em regra, as ações tratando sobre divergências internas ocorridas no partido político são julgadas pela 
Justiça Estadual. 
x Exceção: se a questão interna corporis do partido político puder gerar reflexos diretos no processo 
eleitoral, então, neste caso a competência será da Justiça Eleitoral. 
 
 
 
EXECUÇÃO 
Quem tem o encargo de provar os requisitos da 
impenhorabilidade da pequena propriedade rural? 
 
Importante!!! 
O art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC prevêem que é impenhorável a pequena 
propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família. 
Assim, para que o imóvel rural seja impenhorável, são necessários dois requisitos: 
1) que seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei; e 
2) que seja trabalhado pela família. 
Quem tem o encargo de provar esses requisitos? 
ƒ Requisito 1 (pequena propriedade rural): trata-se de ônus do executado (devedor). 
ƒ Requisito 2 (propriedade trabalhada pela família): não é necessário que o executado faça 
prova disso. Existe uma presunção juris tantum (relativa) de que a pequena propriedade 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
rural é trabalhada pela família. Tal presunção é relativa e admite prova em sentido 
contrário. O ônus dessa prova, no entanto, é do exequente (credor). 
Resumindo: no que concerne à proteção da pequena propriedade rural, incumbe ao executado 
comprovar que a área é qualificada como pequena, nos termos legais; e ao exequente 
demonstrar que não há exploração familiar da terra. STJ. 3ª Turma. REsp 1.408.152-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1/12/2016 (Info 596). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João comprou uma máquina agrícola do fornecedor “Agromércio” e, como garantia do pagamento, 
assinou nota promissória no valor de R$ 20 mil. 
O devedor não efetuou o pagamento na data do vencimento, razão pela qual o fornecedor ingressou com 
execução de título extrajudicial, tendo sido penhorado um imóvel rural que está em nome de João. 
O executado alegou que o imóvel em questão é impenhorável, considerando que se trata de pequena 
propriedade rural onde pratica agricultura juntamente com a mulher e os filhos. 
 
Impenhorabilidade do pequeno imóvel rural trabalhado pela família 
O art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC estabelecem: 
CF88. Art. 5º (...) 
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será 
objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei 
sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; 
 
CPC/Art. 833. São impenhoráveis: 
VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; 
 
“A norma visa proteger famílias de pequenos agricultores, sabidamente menos favorecidas, que vivem 
basicamente do que produzem em suas propriedades rurais. Por outro lado, verifica-se também existir o 
"interesse social em manter a família presa à propriedade rural. Quanto mais famílias, maior o 
desenvolvimento agropecuário do país" (BONAVIDES, Paulo. Comentários à constituição federal de 1988. 
Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 151). 
 
Requisitos 
Para que o imóvel rural seja impenhorável, é necessário que cumpra dois requisitos cumulativos: 
1) seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei; e 
2) seja trabalhado pela família. 
 
Voltando ao exemplo: 
O juiz deferiu o pedido de João e desconstituiu a penhora sobre o imóvel. 
O exequente recorreu argumentando que o devedor apenas alegou, mas não provou, que o imóvel 
preenche os dois requisitos acima listados e que garantiriam a sua impenhorabilidade. 
 
A tese defendida pelo exequente foi aceita pelo STJ? O que o executado tem que provar para ter direito 
à impenhorabilidade de que trata o art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC? Quem tem o 
encargo de provar os requisitos da impenhorabilidade da pequena propriedade rural? 
ƒ Requisito 1: comprovar que o imóvel se trata de pequena propriedade rural: trata-se de ônus do 
executado (devedor). 
ƒ Requisito 2: comprovar que a propriedade rural é trabalhada pela família: não é necessário que o 
executado faça prova disso. Existe uma presunção juris tantum (relativa) de que a pequena 
propriedade rural é trabalhada pela família. 
 
 
Informativo 596-STF (01/03/2017) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
Assim, é ônus do executado (agricultor) provar apenas que o seu imóvel se enquadra nas dimensões da 
pequena propriedade rural. 
Demonstrado que se trata de pequena propriedade rural, o executado não precisa provar que a referida 
propriedade é trabalhada pela família. Segundo decidiu o STJ, existe a presunção de que a propriedade 
rural, sendo diminuta, será explorada pela família, sendo decorrência natural do que normalmente se 
espera que aconteça no mundo real, inclusive, das regras de experiência (art. 375 do CPC). Repetindo: há 
uma presunção de que o pequeno imóvel rural se destina à exploração direta pelo agricultor e sua família. 
 
O exequente poderá provar que a pequena propriedade rural não é trabalhada pela família, ou seja, ele 
poderá provar que o requisito 2 não está preenchido? 
SIM. Existe uma presunção de que a pequena propriedade rural é trabalhada pela família. Tal presunção, 
contudo, é relativa e admite prova em sentido contrário. O ônus dessa prova, no entanto, é do exequente. 
 
Resumindo: 
No que concerne à proteção da pequena propriedade rural, incumbe ao executado comprovar que a 
área é qualificada como pequena, nos termos legais; e ao exequente demonstrar que não há exploração 
familiar da terra. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.408.152-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1/12/2016 (Info 596). 
 
Lei nº 8.009/90 (Lei do Bem de Família) 
Além da impenhorabilidade do imóvel rural prevista na CF/88 e no CPC acima explicada, existe também 
uma previsão de impenhorabilidade do bem de família rural (Lei nº 8.009/90). Veja a redação legal: 
Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá 
por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos 
cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas 
nesta lei. 
 
A proteção conferida ao bem de família rural abrange apenas a sede da moradia, conforme se pode 
constatar pelo § 2º do art. 4º da Lei nº 8.009/90: 
§ 2º Quando a residência familiar constituir-se em imóvel rural, a impenhorabilidade restringir-se-á à sede 
de moradia, com os respectivos bens móveis, e, nos casos do art. 5º, inciso XXVI, da Constituição, à área 
limitada como pequena propriedade rural. 
 
Assim, tratando-se de bem de família que se constitua em imóvel

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