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Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CIVIL 
BEM DE FAMÍLIA 
 Impenhorabilidade do único imóvel comercial do devedor que esteja alugado. 
 
CONTRATO DE SEGURO 
 Direito de a seguradora ser ressarcida pelos gastos que houve com o segurado mesmo que este tenha dado 
quitação integral para o autor do dano. 
 
ARBITRAGEM 
 Competência para declarar nulidade de cláusula de compromisso arbitral. 
 Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia deverá ser observado o art. 4º, § 2º, da Lei nº 
9.307/96. 
 
DIREITO DE VIZINHANÇA 
 Construção em terreno alheio de aqueduto para passagem de águas. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
CONCEITO DE CONSUMIDOR 
 É inaplicável o CDC ao contrato de franquia. 
 
PROTEÇÃO CONTRATUAL 
 É válido o desconto de pontualidade presente em contratos de serviços educacionais. 
 
PRÁTICA ABUSIVA 
 Instituição não pode negar a matrícula inicial do aprovado no vestibular porque ele tem outros débitos anteriores, 
relativos a outro curso. 
 
PROTEÇÃO EM JUÍZO 
 Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que fornecedor preste informações ao 
consumidor sobre produtos com glúten. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
 Vinculação de todos os credores à determinação de plano de recuperação judicial aprovado por maioria pela 
assembleia geral de credores. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
AGRAVO DE INSTRUMENTO 
 É possível que as peças do agravo de instrumento sejam entregues em DVD. 
 
 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
EMBARGOS DE TERCEIRO 
 Desconstituída penhora indevida, em regra, não haverá condenação do embargado em honorários se o imóvel 
ainda estava no nome do antigo proprietário. 
 
PROCESSO COLETIVO 
 Cabe ACP com o objetivo de proibir tráfico de veículos pesados no Município. 
 Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que fornecedor preste informações ao 
consumidor sobre produtos com glúten. 
 
DIREITO PENAL 
CLONAGEM DE CARTÃO DE CRÉDITO 
 Clonagem de cartão de crédito ou débito antes da entrada em vigor da Lei nº 12.737/2012. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
PRISÃO 
 O advogado suspenso dos quadros da OAB não tem direito a recolhimento em sala de Estado Maior. 
 
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO 
 Não se aplica a Súmula 337 do STJ se a denúncia foi julgada totalmente procedente e pela pena em concreto um 
dos delitos foi extinto pela prescrição. 
 
COMUTAÇÃO DE PENA 
 Condenado que pratica falta grave nos 12 meses antes da publicação do decreto de indulto natalino não terá 
direito ao benefício mesmo que a homologação ocorra após o decreto. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
PROCESSO TRIBUTÁRIO 
 O § 2º do art. 12 da Portaria 643/2009 da PGFN é ilegal. 
 
PIS/PASEP/COFINS 
 Juiz não pode extinguir execução fiscal de ofício invocando a inconstitucionalidade do art. 3º, § 1°, da Lei nº 
9.718/98. 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
BEM DE FAMÍLIA 
Impenhorabilidade do único imóvel comercial do devedor que esteja alugado 
 
Segundo a redação literal da súmula 486-STJ, "é impenhorável o único imóvel RESIDENCIAL do 
devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida 
para a subsistência ou a moradia da sua família." 
A 2ª Turma do STJ, contudo, ampliou esta proteção e decidiu que também é impenhorável o 
único imóvel COMERCIAL do devedor que esteja alugado quando o valor do aluguel é 
destinado unicamente ao pagamento de locação residencial por sua entidade familiar. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591). 
 
Espécies de bem de família 
No Brasil, atualmente, existem duas espécies de bem de família: 
a) bem de família convencional ou voluntário (arts. 1711 a 1722 do Código Civil); 
b) bem de família legal (Lei nº 8.009/90). 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
 
Bem de família legal 
O bem de família legal consiste no imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar. 
Considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia 
permanente. 
Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a 
impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no 
Registro de Imóveis e na forma do Código Civil (bem de família convencional). 
 
Proteção conferida ao bem de família legal 
O bem de família legal é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, 
previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus 
proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas na Lei nº 8.009/90. 
 
Situação 1: 
João possui em seu nome um único imóvel, qual seja, um apartamento que está alugado para terceiro por 
R$ 2 mil. 
Ele e sua família, por sua vez, moram em uma casa alugada em um bairro mais simples, pagando R$ 1 mil. 
A renda recebida com a locação é utilizada para pagar o aluguel da sua casa e para a subsistência da família. 
João está sendo executado e o juiz determinou a penhora do apartamento que está em seu nome. 
 
Esta penhora poderá ser desconstituída invocando a proteção do bem de família? 
SIM. Veja o que diz o seguinte enunciado: 
Súmula 486-STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, 
desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família. 
STJ. Corte Especial. Aprovada em 28/06/2012, DJe 01/08/2012. 
 
A Lei conceitua o que seja imóvel residencial para fins de impenhorabilidade: 
Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se residência um único 
imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. 
Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados 
como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, 
para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil. 
 
Desse modo, pela redação legal, somente seria impenhorável o imóvel próprio utilizado pelo casal ou pela 
entidade familiar para moradia permanente. No entanto, o STJ ampliou a proteção ao bem de família, 
conforme pudemos observar pela Súmula 486. 
Assim, se um casal, uma entidade familiar ou mesmo uma pessoa solteira e sozinha, possui um imóvel 
residencial “X” e o aluga, pela redação da lei ele não seria bem de família legal e poderia ser penhorado. 
Entretanto, o STJ afirma que esse imóvel poderá ser considerado também impenhorável desde que 
cumpridos os seguintes requisitos: 
 O imóvel alugado seja o único do devedor; 
 A renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia. 
 
O STJ assim decide porque entende que, em uma interpretação teleológica e valorativa, o objetivo da 
norma é o de garantir a moradia familiar ou a subsistência da família. 
 
Situação 2: 
Pedro possui em seu nome um único imóvel, qual seja, uma sala comercial que está alugada para uma 
empresa, que explora no local uma loja, pagando ao proprietário R$ 2 mil. 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
Ele e sua família, por sua vez, moram em uma casa alugada, pagando R$ 1 mil. 
A renda recebida com a locação é utilizada para pagar o aluguel da sua casa e para a subsistência da família. 
Pedro está sendo executado e o juiz determinou a penhora da sala comercial que está em seu nome. 
 
Esta penhora poderá ser desconstituídainvocando a proteção do bem de família? 
SIM. 
 
É impenhorável o único imóvel comercial do devedor que esteja alugado quando o valor do aluguel é 
destinado unicamente ao pagamento de locação residencial por sua entidade familiar. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591). 
 
Se você observar bem a redação da Súmula 486 do STJ verá que esta situação 2 não está abrangida na 
proteção por ela conferida. Em outras palavras, a redação literal do enunciado protege como bem de 
família apenas o imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros (não inclui o imóvel 
comercial). No entanto, seguindo uma tendência, o STJ, nesta decisão, ampliou a abrangência da súmula 
486 e entendeu que o imóvel comercial também pode gozar da proteção como bem de família caso esteja 
locado para terceiro e a renda obtida seja utilizada para o pagamento da moraria do proprietário. 
 
 
 
CONTRATO DE SEGURO 
Direito de a seguradora ser ressarcida pelos gastos que houve com o segurado 
mesmo que este tenha dado quitação integral para o autor do dano 
 
Importante!!! 
Em regra, mesmo que o proprietário do veículo segurado tenha dado termo de quitação ou 
renúncia ao causador do sinistro, a seguradora continuará tendo direito de ajuizar ação 
regressiva contra o autor do dano e de ser ressarcida pelas despesas que efetuou com o reparo 
ou substituição do bem sinistrado. 
Ex: o segurado combina com o causador do dano que este irá pagar apenas o valor da franquia 
do seguro, em troca de um termo de quitação. A seguradora paga, então, os prejuízos e poderá 
cobrar do causador do dano porque ela tem direito à sub-rogação por força de lei (art. 786, CC) 
e este acordo não é eficaz perante ela (art. 786, § 2º). 
Exceção: a seguradora não terá direito de regresso contra o autor do dano caso este demonstre 
que indenizou realmente o segurado pelos prejuízos sofridos, na justa expectativa de que 
estivesse quitando, integralmente, os danos provocados por sua conduta. Neste caso, protege-
se o terceiro de boa-fé e a seguradora poderá cobrar do segurado com base na proibição do 
enriquecimento ilícito. 
Ex: o causador do dano paga todas as despesas do segurado e recebe um termo de quitação; de 
má-fé, o segurado, mesmo já tendo sido indenizado, aciona o seguro para consertar seu carro. 
Se a seguradora ajuizar ação regressiva contra o causador do dano, ele poderá provar que 
pagou integralmente as despesas e, neste caso, a ação será julgada improcedente. Protege-se a 
boa-fé do terceiro. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.533.886-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). 
 
Imagine a situação hipotética: 
Carla, dirigindo de forma negligente, bateu seu veículo na traseira do carro de João. 
Este ficou com pena de Carla, que estava muito nervosa, e propôs a ela o seguinte: "eu tenho seguro; 
então, você paga apenas a franquia do meu seguro e ele vai custear as despesas com o conserto dos dois 
carros. Não precisa se preocupar." 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
No mesmo instante, João ligou para a seguradora, que recomendou que ele fizesse um boletim de 
ocorrência e tirasse fotos da batida. 
No dia seguinte, João e Carla se encontraram. Ela deu o dinheiro referente à franquia e ele, em 
contrapartida, assinou uma declaração dizendo que renunciava ao direito de postular qualquer reparação 
pelos danos sofridos. 
João entregou à seguradora o dinheiro da franquia e os dois veículos foram consertados. 
Dois meses depois, Carla é citada como ré em uma ação regressiva proposta pela seguradora. A autora 
cobra R$ 10 mil referentes ao custo do conserto dos dois veículos. 
Carla apresenta contestação alegando que o proprietário do automóvel segurado, por ocasião do sinistro, 
renunciou ao direito de postular qualquer reparação pelos danos então sofridos. Dessa maneira, não 
havendo direito de crédito do credor primitivo (segurado), não pode a seguradora cobrar o ressarcimento, 
já que ela não pode se sub-rogar de um direito que não existe. 
 
Um caso semelhante a este, que é muito comum no dia-a-dia, chegou até o STJ. O que decidiu o 
Tribunal? A seguradora terá direito de ser ressarcida pelo conserto mesmo tendo o segurado assinado 
este termo de quitação ou renúncia? 
SIM. 
 
Previsão legal da sub-rogação 
O Código Civil prevê que a seguradora que paga a indenização sub-roga-se nos direitos do segurado. Confira: 
Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos limites do valor respectivo, nos direitos e ações 
que competirem ao segurado contra o autor do dano. 
 
Isso também já estava consagrado na jurisprudência: 
Súmula 188-STF: O segurador tem ação regressiva contra o causador do dano, pelo que efetivamente 
pagou, até ao limite previsto no contrato de seguro. 
 
O art. 786 consiste, portanto, em espécie de sub-rogação legal, específica para o contrato de seguro de 
dano. Vale ressaltar que esta sub-rogação opera-se de pleno direito, independentemente da vontade do 
devedor originário, ou seja, do causador do dano ao bem segurado. 
 
Vale ressaltar que este direito da seguradora de se sub-rogar tem relevância social porque na sociedade de 
risco que vivemos hoje em dia é cada vez maior a importância dos contratos de seguro. Se a seguradora 
tiver garantias de que poderá ser ressarcida pelo real causador do dano, isso será levado em consideração 
no momento do cálculo do prêmio que é cobrado dos segurados. Em tese, quanto menores as garantias 
que a seguradora tiver, maior será o valor do prêmio, o que prejudica a sociedade em geral. Daí se extrai a 
relevância social de proteção ao direito de sub-rogação do segurador. 
 
Ineficácia do termo de renúncia firmado pelo proprietário do bem segurado 
Ao disciplinar a sub-rogação no art. 786, o Código Civil previu, de forma expressa e inequívoca, a ineficácia, 
perante o segurador, de atos de disposição praticados pelo segurado juntamente ao autor do dano. Veja: 
Art. 786 (...) § 2º É ineficaz qualquer ato do segurado que diminua ou extinga, em prejuízo do segurador, 
os direitos a que se refere este artigo. 
 
Desse modo, eventual termo de renúncia ou quitação outorgado pelo segurado ao terceiro causador do 
dano não impede o exercício do direito de regresso pelo segurador. O legislador buscou proteger o direito 
do segurador de ser ressarcido da quantia que gastou para indenizar o segurado. 
 
Assim, se o segurado optou por acionar o seguro, cobrando a garantia contratada, não lhe cabe firmar com 
o causador do dano qualquer tipo de transação que possa importar na extinção ou diminuição do direito 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
de regresso do segurador. Se o fizer, o ato será absolutamente ineficaz em relação ao segurador, como 
peremptoriamente determina o art. 786, § 2º, do CC. 
 
No exemplo dado, o acordo celebrado entre João e Carla é válido e eficaz entre eles (contratantes). No 
entanto, não se pode admitir que os efeitos dessa avença sejam estendidos ao segurador que, além de 
não ter participado do ajuste, possui, por força de lei, o direito de ser reembolsado de todos os valores 
gastos com o reparo do bem sinistrado. 
 
Normas de caráter público 
Dada a importância social do contrato de seguro, as normas insertas no art. 786, caput e § 2º, do Código 
Civil, ao assegurarem a sub-rogação do segurador nos direitos que competirem ao segurado contra o autor 
do dano, independentemente da vontade daquele, revestem-se de caráter público, não havendo como um 
ato negocial do segurado excluir a prerrogativa outorgada por lei ao segurador. 
 
Em suma, a regra é a seguinte: 
Mesmo que o segurado tenha outorgado termo de quitação ou renúncia ao causador do sinistro, o 
segurador terá direito de ser ressarcido, em açãoregressiva contra o autor do dano, pelas despesas que 
efetuou com o reparo ou substituição do bem sinistrado. 
 
Situação excepcional de má-fé do segurado e boa-fé do autor do dano 
A regra foi acima exposta. No entanto, a prática demonstra que pode acontecer uma situação na qual se 
revela a má-fé do segurado e a boa-fé do autor do dano. Imagine o seguinte: 
Pedro, dirigindo de forma negligente, bateu seu veículo na traseira do carro de João, que não revela que 
tem seguro. 
Pedro assume para João que realmente foi culpado do acidente e que irá pagar o conserto. 
No dia seguinte, João mostra um orçamento da oficina e Pedro lhe entrega o dinheiro. Em contrapartida, 
João assinou uma declaração dando quitação integral. 
Ocorre que João, de má-fé, aciona o seguro pedindo o conserto do carro, o que é feito. 
Em seguida, a seguradora ajuíza ação regressiva contra Pedro cobrando a quantia gasta para consertar o 
carro do segurado. 
Nessa hipótese específica e excepcional, o STJ entende que o terceiro (em nosso exemplo, Pedro), ao ser 
demandado na ação regressiva, poderá se eximir do ressarcimento das despesas com o bem sinistrado, 
bastando que, nos termos do art. 373, II, do CPC, prove que já realizou a reparação completa dos prejuízos 
causados, apresentando o recibo assinado pelo segurado ou eventuais documentos que comprovem o 
custeio das despesas. 
Neste caso, o juiz deverá julgar improcedente o pedido regressivo formulado, restando à seguradora a 
alternativa de demandar contra o próprio segurado, por locupletamento ilícito, tendo em vista que, em 
evidente ato de má-fé contratual, requereu, indevidamente, a cobertura securitária mesmo já tendo sido 
indenizado diretamente pelo autor do dano. 
Protege-se aqui o terceiro de boa-fé, que pagou indenização ao segurado na justa expectativa de que 
estivesse reparando, por completo, os danos que causou com seu ato. 
 
Conclusão 
Em regra, mesmo que o proprietário do veículo segurado tenha dado termo de quitação ou renúncia ao 
causador do sinistro, a seguradora continuará tendo direito de ajuizar ação regressiva contra o autor do 
dano e de ser ressarcida pelas despesas que efetuou com o reparo ou substituição do bem sinistrado. 
Exceção: a seguradora não terá direito de regresso contra o autor do dano caso este demonstre que 
indenizou realmente o segurado pelos prejuízos sofridos, na justa expectativa de que estivesse 
quitando, integralmente, os danos provocados por sua conduta. Neste caso, protege-se o terceiro de 
boa-fé e a seguradora poderá cobrar do segurado com base na proibição do enriquecimento ilícito. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.533.886-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). 
 
 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
ARBITRAGEM 
Competência para declarar nulidade de cláusula de compromisso arbitral 
 
Importante!!! 
O Poder Judiciário pode decretar a nulidade de cláusula arbitral (compromissória) sem que 
essa questão tenha sido apreciada anteriormente pelo próprio árbitro? 
Regra: Não. Segundo o art. 8º, parágrafo único da Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/96), antes de 
judicializar a questão, a parte que deseja arguir a nulidade da cláusula arbitral deve formular 
esse pedido ao próprio árbitro. 
Exceção: compromissos arbitrais patológicos. O Poder Judiciário pode, nos casos em que prima 
facie é identificado um compromisso arbitral "patológico", isto é, claramente ilegal, declarar a 
nulidade dessa cláusula, independentemente do estado em que se encontre o procedimento 
arbitral. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). 
 
Em que consiste a arbitragem? 
Arbitragem representa uma técnica de solução de conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que a 
solução de seu litígio seja decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. 
Vale ressaltar que a arbitragem é uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual o 
conflito é resolvido por um terceiro. 
 
Regulamentação 
A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei n. 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC 
versando sobre o tema. 
 
Em que consiste a chamada cláusula compromissória? 
A cláusula compromissória, também chamada de cláusula arbitral, é... 
- uma cláusula prevista no contrato, 
- de forma prévia e abstrata, 
- por meio da qual as partes estipulam que 
- qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato 
- será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal). 
 
Exemplo: 
"Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura surgirem na interpretação ou execução deste 
contrato serão resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96 e o Código de Processo Civil 
brasileiro (este aplicado de forma apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da Câmara de 
Arbitragem)." 
 
A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei n. 9.307/96: 
Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato 
comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
“X” e “Y” celebram um contrato e estipulam, no pacto, uma cláusula compromissória, ou seja, uma 
previsão contratual na qual as partes dizem que qualquer conflito futuro relacionado com o ajuste será 
resolvido por meio de arbitragem. Após um tempo, “X” e “Y” começam a discordar quanto ao 
cumprimento do contrato. “X” ajuíza ação anulatória na vara cível da Justiça Estadual, alegando que essa 
cláusula arbitral é nula. 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
 
O Poder Judiciário pode decretar a nulidade de cláusula arbitral (compromissória) sem que essa questão 
tenha sido apreciada anteriormente pelo próprio árbitro? 
REGRA: NÃO. 
Segundo a Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/96), antes de judicializar a questão, a parte que deseja arguir a 
nulidade da cláusula arbitral deve formular esse pedido ao próprio árbitro, nos termos do art. 8º, 
parágrafo único: 
Art. 8º (...) Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões 
acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a 
cláusula compromissória. 
 
Assim, por expressa previsão legal, não pode a parte ajuizar ação anulatória para desconstituir acordo com 
base na nulidade da cláusula compromissória ali presente antes de submeter o assunto ao árbitro. 
 
Luiz Antônio Scavone Júnior explica esse art. 8º, parágrafo único: 
“O significado do dispositivo, portanto, indica que qualquer alegação de nulidade do contrato ou da 
cláusula arbitral, diante de sua existência e seguindo o espírito da lei, deve ser dirimida pela arbitragem e 
não pelo Poder Judiciário. 
A lei pretendeu, neste sentido, "fechar uma brecha" que permitiria às partes, sempre que alegassem a 
nulidade da cláusula arbitral ou do contrato, ignorar o pacto de arbitragem e acessar o Poder Judiciário 
para dirimir o conflito. 
Em resumo, ainda que o conflito verse sobre a nulidade do próprio contrato ou da cláusula arbitral, a 
controvérsia deverá ser decidida inicialmente pela arbitragem e não pelo Poder Judiciário, (...)” (Manual de 
Arbitragem. 4ª ed. São Paulo: RT, 2010, p. 87). 
 
Isso é conhecido como aplicação do princípio da kompetenz-kompetenz (competência-competência) 
considerando que compete ao próprio árbitro dizer se ele é ou não competente para conhecer aquele 
conflito. Assim, se a parte está alegando que a cláusula compromissória é nula e que a questão não deve 
ser submetida à arbitragem, quem primeiro deverá examinar a questão é o próprio árbitro. Veja as 
palavras da Ministra Nancy Andrighi sobre o tema: 
"A kompetenz-kompetenz (competência-competência)é um dos princípios basilares da arbitragem, que 
confere ao árbitro o poder de decidir sobre a sua própria competência, sendo condenável qualquer 
tentativa, das partes ou do juiz estatal, no sentido de alterar essa realidade. Em outras palavras, no 
embate com as autoridades judiciais, deterá o árbitro preferência na análise da questão, sendo dele o 
benefício da dúvida. 
Dessa forma, a resolução de questões litigiosas fica a cargo do árbitro e, para isso, não exige a lei que o ato 
jurídico seja válido ou imune a nulidades ou causas supervenientes de ineficácia, como se defende na 
espécie. Ao contrário, a questão litigiosa pode ser justamente a ineficácia do ato jurídico. Nessas 
circunstâncias, a jurisdição arbitral não se desloca, pois legalmente é o árbitro quem detém competência 
para dirimir essas matérias assim como para decidir sobre sua própria competência. 
Essa prioridade não apenas se perfila com os princípios que circundam o instituto da arbitragem e com a 
sistemática introduzida pela Lei nº 9.703/96, que se censuram atos de protelação ou afastamento do rito 
arbitral, como também assegura a proposta de tornar o procedimento, uma vez eleito pelas partes, uma 
alternativa segura e incontornável de resolução de conflitos, limitando a atuação do Poder Judiciário à 
execução da sentença arbitral." (MC 14.295/SP, DJe 13/06/2008). 
 
Vale ressaltar que não haverá prejuízo à parte porque, mesmo se o árbitro considerar que a cláusula é 
válida (e julgar a arbitragem), essa questão da nulidade poderá ser apreciada pelo Poder Judiciário em 
momento posterior. Isso porque, para fazer cumprir a sentença arbitral, o credor terá que ajuizar uma 
execução judicial. Nesse momento, o devedor poderá se defender por meio de embargos à execução 
 
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alegando a nulidade da cláusula arbitral e, consequentemente, da sentença arbitral. 
 
Nesse sentido é a jurisprudência do STJ: 
Segundo a Lei de Arbitragem (art. 8º, parágrafo único, da Lei nº 9.307/96), se a parte quiser arguir a 
nulidade da cláusula arbitral, deverá formular esse pedido, em primeiro lugar, ao próprio árbitro, sendo 
inadmissível que ajuíze diretamente ação anulatória. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.302.900-MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 9/10/2012. 
 
As questões relacionadas à existência de cláusula compromissória válida para fundamentar a 
instauração do Juízo arbitral devem ser resolvidas, com primazia, por ele, e não pelo Poder Judiciário. 
Nos termos do art. 8º, parágrafo único, da Lei de Arbitragem, a alegação de nulidade da cláusula 
arbitral, bem como do contrato que a contém, deve ser submetida, em primeiro lugar, à decisão do 
próprio árbitro, sendo prematura a apreciação pelo Poder Judiciário. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.696-PI, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 09/08/2016. 
 
EXCEÇÃO: 
O STJ relativizou esta regra e decidiu que se a nulidade da cláusula compromissória for muito evidente, 
será possível ao Poder Judiciário declarar a sua invalidade mesmo sem que este pedido tenha sido 
formulado, em primeiro lugar, ao próprio árbitro. Veja trecho da ementa e fique atento para a expressão 
"compromisso arbitral patológico", que poderá ser cobrada em sua prova: 
O Poder Judiciário pode, nos casos em que prima facie é identificado um compromisso arbitral 
"patológico", isto é, claramente ilegal, declarar a nulidade dessa cláusula, independentemente do 
estado em que se encontre o procedimento arbitral. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). 
 
Trata-se de exceção à regra geral de prioridade do Juízo arbitral. 
 
 
 
ARBITRAGEM 
Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia 
deverá ser observado o art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96 
 
Importante!!! 
A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim, é um contrato 
de adesão. 
Segundo o art. 4º, § 2º da Lei nº 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula compromissória 
só terá eficácia se o aderente: 
• tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou 
• concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em 
negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. 
Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, 
como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. 
Assim, é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de franquia, desde que 
observados os requisitos do art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). 
 
Veja comentários em Direito Empresarial. 
 
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DIREITO DE VIZINHANÇA 
Construção em terreno alheio de aqueduto para passagem de águas 
 
O proprietário de imóvel tem direito de construir aqueduto no terreno do seu vizinho, 
independentemente do consentimento deste, para receber águas provenientes de outro 
imóvel, desde que não existam outros meios de passagem de águas para a sua propriedade e 
haja o pagamento de prévia indenização ao vizinho prejudicado. 
Trata-se de direito de vizinhança assegurado pelo art. 1.293 do Código Civil. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.616.038-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/9/2016 (Info 591). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A empresa agropecuária 1 é vizinha da empresa agropecuária 2, cada uma ocupando uma fazenda. 
Do lado esquerdo da empresa 1 existe um açude (represa) e do lado direito fica a empresa 2. 
A empresa 2 precisa de água para fazer a irrigação da lavoura de arroz em sua propriedade. Ocorre que o 
único local com água disponível na região é o referido açude. 
A empresa 2 entrou em contato com a empresa 1 pedindo para construir um aqueduto que liga a represa 
até a sua propriedade. Para isso, seria necessário que alguns canos passassem pelo subsolo da empresa 1, 
sendo, portanto, oferecida uma indenização por conta disso. A empresa 2 não concordou. 
Diante disso, a empresa 2 ajuizou ação pedindo que a empresa 1 fosse condenada a tolerar a passagem da 
água por meio de aqueduto, mediante indenização a ser arbitrada pelo juiz. 
Na petição inicial, a requerente demonstrou que este é o único meio de obter água para a sua propriedade. 
Veja na imagem abaixo o que a autora pediu na ação: 
 
 
 
 
O pedido da empresa 2 é amparado pelo ordenamento jurídico? 
SIM. 
 
O proprietário de imóvel tem direito de construir aqueduto no terreno do seu vizinho, 
independentemente do consentimento deste, para receber águas provenientes de outro imóvel, desde 
que não existam outros meios de passagem de águas para a sua propriedade e haja o pagamento de 
prévia indenização ao vizinho prejudicado. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.616.038-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/9/2016 (Info 591). 
 
Direito de propriedade e sua função social 
O direito de propriedade, sob a ótica civilista e constitucional moderna, deve atender a sua função social, 
não consistindo mais, como anteriormente, em um direito absoluto e ilimitado. 
Assim, o direito de propriedade está limitado por outros direitos de terceiros igualmente protegidos pelo 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
ordenamento jurídico. 
 
Direitos de vizinhança como limitações aos direitos de propriedade 
O direito de propriedade pode ser limitado, por exemplo, pelos chamados direitos de vizinhança. 
Direitos de vizinhança são restrições impostas pela lei ao exercício da propriedade com o objetivo de 
assegurar uma convivência harmoniosa entre os donos e ocupantes de imóveis vizinhos. 
Desse modo, o direito de vizinhançaé o conjunto de regras que o legislador previu para resolver conflitos 
entre proprietários de prédios vizinhos, o que se mostra extremamente comum. 
Vale ressaltar que os direitos de vizinhança não se aplicam apenas para imóveis contíguos, ou seja, que 
estão lado a lado. Algumas vezes eles poderão incidir para resolver conflitos entre prédios que estão 
próximos, mas não são colados. 
Os direitos de vizinhança estão regulamentados pelos arts. 1.277 a 1.313 do Código Civil. 
 
Direito de vizinhança é diferente de servidão 
DIREITOS DE VIZINHANÇA SERVIDÕES 
Surgem da lei (são impostos pela lei). Constituem-se por meio de: a) declaração expressa 
do proprietário; b) testamento; ou c) usucapião. 
Possuem natureza de limitações legais ao exercício 
do direito de propriedade. 
Possuem natureza de direito real sobre coisa 
alheia. 
Não necessitam de um título constitutivo nem 
precisam ser registrados em cartório. 
Só se formam se o título constitutivo (acordo) for 
registrado no Registro de Imóveis. 
As limitações são impostas reciprocamente, ou 
seja, tanto um vizinho como o outro deverão 
respeitar os direitos de vizinhança. 
Existe um prédio dominante e um serviente. 
Apenas o dono do prédio dominante tira utilidade 
do prédio serviente. 
Têm por objetivo evitar um dano ao proprietário 
do prédio prejudicado. 
A utilização de parte da propriedade alheia é 
essencial para que o titular do prédio vizinho 
possa aproveitar o seu imóvel. 
Não há uma necessidade imperativa. inafastável, 
essencial. 
As servidões têm por objetivo conceder uma 
maior facilidade (utilidade) ao prédio dominante. 
 
Direito à água 
O direito às águas e a seu curso e transporte é matéria de inegável importância para a sobrevivência das 
pessoas, dos animais e também para a indústria, especialmente a agrícola. 
Pensando nisso, o Código Civil trouxe um artigo tratando sobre o assunto e que ampara a pretensão da 
empresa autora. Confira: 
Art. 1.293. É permitido a quem quer que seja, mediante prévia indenização aos proprietários prejudicados, 
construir canais, através de prédios alheios, para receber as águas a que tenha direito, indispensáveis às 
primeiras necessidades da vida, e, desde que não cause prejuízo considerável à agricultura e à indústria, 
bem como para o escoamento de águas supérfluas ou acumuladas, ou a drenagem de terrenos. 
§ 1º Ao proprietário prejudicado, em tal caso, também assiste direito a ressarcimento pelos danos que de 
futuro lhe advenham da infiltração ou irrupção das águas, bem como da deterioração das obras destinadas 
a canalizá-las. 
§ 2º O proprietário prejudicado poderá exigir que seja subterrânea a canalização que atravessa áreas 
edificadas, pátios, hortas, jardins ou quintais. 
§ 3º O aqueduto será construído de maneira que cause o menor prejuízo aos proprietários dos imóveis 
vizinhos, e a expensas do seu dono, a quem incumbem também as despesas de conservação. 
 
Desse modo, o direito à água, sob a ótica do Direito Civil, é um direito de vizinhança. A legislação garante 
aos proprietários de imóveis que não sejam abastecidos por água o direito ao aproveitamento dessa 
riqueza natural, nas condições do artigo acima transcrito. 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
 
Nesse sentido é a interpretação da doutrina: 
“(...) a passagem por terreno alheio do aqueduto é permitida pela lei e independe do consentimento do 
vizinho; trata-se de imposição legal que atende ao interesse social e na qual só se especifica uma 
indenização para evitar que seja sacrificada a propriedade individual.” (WALD, Arnoldo. Direito das Coisas. 
9ª ed. São Paulo: RT, 1993, p. 165). 
 
A obrigatoriedade da sujeição ao direito do vizinho às águas é também ressaltada pelo art. 1.294 do CC, 
que prevê a aplicação ao aqueduto das regras da passagem de cabos e tubulações, a qual é obrigatória, 
conforme as regras dos arts. 1.286 e 1.287 do CC. 
 
Este deverá ser o único meio de obter água 
Para que seja garantido o direito previsto no art. 1.293 do CC, é fundamental que o titular do imóvel não 
tenha outro meio de acesso às águas. Se houver outra forma viável, não deve ser reconhecido este direito de 
vizinhança, pois, neste caso, a passagem do aqueduto seria uma mera "utilidade". Vimos acima nas 
distinções entre direito de vizinhança e servidão, que se a situação representar mera utilidade, estaremos 
diante de servidão, o que exigiria o consentimento do titular do prédio serviente, nos termos do art. 1.378 do 
CC. 
No exemplo dado, a construção do aqueduto atravessando o imóvel da ré era o único meio pelo qual a 
primeira empresa poderia ter acesso à água, o qual é imprescindível para a irrigação do plantio de arroz. 
Diante disso, constata-se que, de fato, trata-se de direito de vizinhança, inerente à propriedade de imóveis 
vizinhos, cuja única exigência para exercício é o pagamento de prévia indenização. 
 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
CONCEITO DE CONSUMIDOR 
É inaplicável o CDC ao contrato de franquia 
 
A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está sujeito às regras 
protetivas previstas no CDC. 
A relação entre o franqueador e o franqueado não é uma relação de consumo, mas sim de 
fomento econômico com o objetivo de estimular as atividades empresariais do franqueado. 
O franqueado não é consumidor de produtos ou serviços da franqueadora, mas sim a pessoa 
que os comercializa junto a terceiros, estes sim, os destinatários finais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). 
 
Contrato de franquia 
A franquia é um contrato por meio do qual uma empresa (franqueador) transfere a outra (franqueado) o 
direito de usar a sua marca ou patente e de comercializar seus produtos ou serviços, podendo, ainda, 
haver a transferência de conhecimentos do franqueador para o franqueado. 
O contrato de franquia está regido pela Lei nº 8.955/94, que conceitua esse pacto nos seguintes termos: 
Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de 
marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços 
e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou 
sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou 
indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício. 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
 
O contrato firmado entre o franqueado e o franqueador é regido pelo Código de Defesa do Consumidor? 
O franqueado poderá invocar o CDC para discutir seus direitos em relação ao franqueador? 
NÃO. 
 
A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está sujeito às regras protetivas 
previstas no CDC. 
A relação entre o franqueador e o franqueado não é uma relação de consumo, mas sim de fomento 
econômico com o objetivo de estimular as atividades empresariais do franqueado. 
O franqueado não é consumidor de produtos ou serviços da franqueadora, mas sim a pessoa que os 
comercializa junto a terceiros, estes sim, os destinatários finais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). 
 
 
 
PROTEÇÃO CONTRATUAL 
É válido o desconto de pontualidade presente em contratos de serviços educacionais 
 
Importante!!! 
O denominado "desconto de pontualidade", concedido pela instituição de ensino aos alunos 
que efetuarem o pagamento das mensalidades até a data do vencimento ajustada, não 
configura prática comercial abusiva. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.424.814-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 4/10/2016 (Info 591). 
Obs: sobre este tema, importante reler o REsp832.293-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 
20/8/2015 (Info 572) que traz um entendimento ligeiramente diferente em determinado aspecto. 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Centro Educacional "Bom Saber" é uma escola de ensino fundamental e médio. 
O valor da mensalidade é R$ 1.000,00. No entanto, para quem paga até a data do vencimento, a 
instituição confere um desconto e a prestação cai para R$ 900,00. 
E se a pessoa pagar depois da data do vencimento, ou seja, com atraso? Neste caso, haverá multa 
moratória de 2% sobre o valor "cheio" da mensalidade, ou seja, multa de 2% de 1.000 = R$ 20,00. 
Recapitulando: 
Valor da mensalidade = 1.000 
Valor se pagar até a data do vencimento = 900 
Valor se pagar depois da data do vencimento 1.020 (mais juros). 
 
ACP proposta pelo MP 
O Ministério Público ajuizou ação civil pública contra o colégio afirmando que este "desconto de 
pontualidade" concedido, na verdade, seria uma multa camuflada. 
O raciocínio do MP foi o seguinte: o valor "real" da mensalidade é R$ 900. Se a pessoa se atrasa, ela pagará 
R$ 1.020, ou seja, uma "multa disfarçada" de R$ 120,00, que equivale a 13,33% de 900. 
Logo, para o Parquet, a intenção da escola é cobrar uma mensalidade de R$ 900,00 e uma multa de 13,33%. 
Esta conduta seria, portanto, ilegal considerando que seria uma forma de burlar a proibição contida no § 
1º do art. 52 do CDC, que afirma que a multa não poderá ser superior a 2%: 
Art. 52 (...) § 1º - As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não 
poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação . 
 
A tese defendida pelo MP foi acolhida pelo STJ? O chamado "desconto de pontualidade" deve ser 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
considerado uma prática abusiva? 
NÃO. 
 
O denominado "desconto de pontualidade", concedido pela instituição de ensino aos alunos que 
efetuarem o pagamento das mensalidades até a data do vencimento ajustada, não configura prática 
comercial abusiva. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.424.814-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 4/10/2016 (Info 591). 
 
O "desconto de pontualidade", também chamado de "abono de pontualidade" possui uma característica 
em comum com a multa moratória: ambos têm por objetivo reforçar na parte contratante a vontade de 
cumprir a sua obrigação, ou seja, de pagar a mensalidade em dia. No entanto, apesar de terem este ponto 
de semelhança, não se pode dizer que o desconto de pontualidade seja uma multa disfarçada. 
 
A multa contratual tem um caráter coercitivo e punitivo. O desconto de pontualidade, por outro lado, 
possui natureza de prêmio, incentivando o contratante a realizar um comportamento positivo ("sanção 
premial"). 
 
É absolutamente possível a coexistência de sanções negativas e de sanções positivas em um contrato. Não 
há e nem poderia haver proibição nesse sentido, na medida em que tais disposições incitam justamente o 
cumprimento voluntário das obrigações contratuais assumidas. 
 
Para o STJ, a tese defendida pelo MP, além de desconsiderar as cláusulas que foram estipuladas pelas 
partes contratantes, propõe que o Estado, no âmbito de uma relação privada, estipule o "preço ideal" 
pelos serviços prestados pela instituição de ensino, como se possível fosse mensurar todas as variáveis 
mercadológicas que o empresário/fornecedor leva em conta para definir o preço de seus serviços, em 
indevida intervenção no domínio econômico. 
 
Além disso, o procedimento adotado pela escola, ao invés de representar onerosidade excessiva, consiste, 
na verdade, em benefício ao consumidor. 
 
A previsão do desconto de pontualidade estimula o cumprimento da obrigação avençada, o que vai ao 
encontro dos interesses de ambas as partes contratantes. De um lado, representa uma vantagem 
econômica ao consumidor que efetiva o pagamento tempestivamente (colocando-o em situação de 
destaque em relação ao consumidor que paga com atraso) e, em relação à instituição de ensino, propicia 
um adiantamento do valor a ser recebido. 
 
Proibir o "desconto de pontualidade" contribuiria para que houvesse uma elevação do preço das 
mensalidades escolares, considerando que aumentaria o risco de inadimplência das instituições de ensino. 
 
JULGADO DA 4ª TURMA UM POUCO DIFERENTE ENVOLVENDO CONTRATO DE LOCAÇÃO 
Sobre o tema "desconto de pontualidade", penso que é preciso relembrarmos um julgado do STJ de 2015 
envolvendo contrato de locação. Explicarei abaixo. 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João é inquilino (locatário) de um apartamento pertencente a Pedro (locador). 
No contrato está previsto que o valor do aluguel é de R$ 1.200, mas se houver pagamento até o dia do 
vencimento, haverá um abatimento (desconto) e o valor é reduzido para R$ 1.000. A isso se chama de 
"bônus de pontualidade" ou "desconto de bonificação ". 
No contrato também é prevista multa de 10% em caso de atraso. 
 
Esse desconto de bonificação é válido? 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
SIM. Nos termos do art. 17 da Lei nº 8.245/91, as partes têm liberdade para convencionar o aluguel, 
prevalecendo o que elas contrataram, de acordo com seus interesses e necessidades, sendo vedada, 
apenas, a estipulação em moeda estrangeira e a vinculação à variação cambial ou ao salário mínimo. 
Desse modo, o desconto para pagamento pontual do aluguel (abono de pontualidade) é, em princípio, 
liberalidade do locador, em obediência ao princípio da livre contratação, representando um incentivo 
concedido ao locatário, caso venha a pagar o aluguel em data convencionada. Referido bônus tem, 
portanto, o objetivo de induzir o locatário a cumprir corretamente sua obrigação de maneira antecipada. 
 
João atrasou o pagamento. Surgiu, então, uma dúvida: o valor de 10% da multa deverá incidir sobre o 
valor cheio (R$ 1.200) ou sobre o valor com desconto (R$ 1.000)? 
Sobre o valor com desconto. 
 
Na hipótese em que, na data de vencimento, o valor do aluguel seja cobrado com incidência de 
desconto de bonificação, a multa prevista para o caso de atraso no pagamento deverá incidir sobre o 
valor do aluguel com o referido desconto. 
STJ. 4ª Turma. REsp 832.293-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/8/2015 (Info 572). 
 
A incidência da multa sobre o valor cheio somente seria permitida se o valor do desconto fosse para 
pagamentos em data anterior à do vencimento. Ex.: o vencimento é dia 05; para quem paga até o dia 05, o 
valor é R$ 2.000; no entanto, para quem paga até o dia 01, há um desconto e o aluguel será de R$ 1.700; a 
multa, contudo, somente incide se a pessoa pagar depois do dia 05 (data do vencimento); neste exemplo, o 
valor da multa poderia incidir sobre o valor cheio (R$ 2.000), isso porque aqui teríamos realmente um desconto 
para pagamentos antes do vencimento. Se, contudo, o desconto é para pagamentos dentro do vencimento, na 
verdade, o valor com desconto é o preço real do aluguel e, sobre ele é que deve incidir a multa. 
 
Desse modo, muito cuidado no momento da prova para ver como a questão será cobrada. Isso porque, 
neste novo julgado (REsp 1.424.814-SP), o STJ não mais exigiu que o desconto fosse apenas para quem 
pagou antes da data do vencimento. Mesmo quem pagar no dia do vencimento, terá direito ao abono, que 
continua sendo válido. 
 
 
 
PRÁTICA ABUSIVA 
Instituição não pode negar a matrícula inicial do aprovado no vestibular 
porque ele tem outros débitos anteriores relativos a outro curso 
 
Importante!!! 
Instituição de ensino superior não pode recusar a matrícula de aluno aprovado em vestibular 
em razão de inadimplência em curso diverso anteriormente frequentado por ele na mesma 
instituição. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.583.798-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2016 (Info 591). 
 
Imagine a seguintesituação hipotética: 
João era aluno do curso de Administração de Empresas da faculdade privada "Étude". 
Depois de estudar dois anos, ele começou a ter dificuldades financeiras para pagar o curso e o abandonou, 
ficando, contudo, com um débito de 4 mensalidades. 
Alguns meses depois, fez novo vestibular para a mesma faculdade e foi aprovado para o curso de Direito. 
Ao tentar fazer a sua matrícula, esta foi recusada pela instituição sob o argumento de que há um débito 
pendente do curso anterior e que precisa ser pago antes da inscrição no novo curso. 
Diante disso, João impetrou mandado de segurança contra o dirigente da faculdade particular afirmando 
 
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que a presente recusa violou o Código de Defesa do Consumidor. 
 
Cabe mandado de segurança neste caso? De quem será a competência para julgar? 
Cabe mandado de segurança porque a conduta do dirigente de faculdade particular que indefere matrícula 
para curso superior é considerada como ato de autoridade, já que ele atua no exercício de função pública 
delegada da União (STJ. 2ª Turma. REsp 725.955/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 08/05/2007). 
A competência é da Justiça Federal neste caso, conforme se percebe pelo quadro-abaixo que resume a 
problemática segundo o entendimento do STJ: 
Instituição de ensino superior 
FEDERAL 
Instituição de ensino superior 
ESTADUAL/MUNICIPAL 
Instituição de ensino superior 
PARTICULAR 
MS ou outras ações: 
Justiça Federal. 
MS ou outras ações: 
Justiça Estadual. 
MS: Justiça Federal. 
Outras ações: Justiça Estadual. 
 
(...) A competência para o julgamento de causas relativas a instituição de ensino superior particular, nos 
casos que versem sobre questões privadas relacionadas ao contrato de prestação de serviços firmado 
entre a instituição de ensino superior e o aluno (por exemplo, inadimplemento de mensalidade, cobrança 
de taxas, matrícula), em se tratando de ação diversa à do mandado de segurança, é, via de regra, da 
Justiça comum, não havendo interesse da União no feito, o que afasta a sua legitimidade para figurar na 
ação. (...) 
STJ. 2ª Turma. REsp 1295790/PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 06/11/2012. 
 
O CDC pode ser aplicado na relação jurídica mantida entre aluno e instituição de ensino superior? 
SIM. 
 
O contrato de prestação de serviços educacionais está sujeito às disposições contidas no Código de 
Defesa do Consumidor - CDC. 
A prestação de serviços educacionais caracteriza-se como relação de consumo. 
O estudante é um consumidor de serviços educacionais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1155866/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/02/2015. 
 
Falando de forma abstrata, sem analisar ainda o caso concreto, é possível que a instituição de ensino 
particular se recuse a renovar a matrícula do aluno inadimplente? Ex: Pedro está devendo 4 
mensalidades; a faculdade pode se recusar a matriculá-lo no período seguinte caso ele não pague? 
SIM. O tema é tratado pelos arts. 5º e 6º da Lei nº 9.870/99 e as regras podem ser assim resumidas: 
 Os alunos já matriculados possuem, em regra, direito à renovação das matrículas, observado o 
calendário escolar da instituição, o regimento da escola e as cláusulas contratuais; 
 Os alunos que estejam inadimplentes há mais de 90 dias estão sujeitos a sanções legais e 
administrativas e podem ser desligados. 
 Contudo, esse desligamento por inadimplência somente pode ocorrer ao final do ano letivo ou, no 
caso de ensino superior, ao final do semestre letivo quando a instituição adotar o regime didático 
semestral. 
 Assim, o aluno inadimplente não pode ser desligado durante o período de aulas. 
 Se a inadimplência for maior que 90 dias, a instituição tem o direito de se recusar a renovar sua 
matrícula para o semestre ou ano seguinte. 
 
O que a instituição financeira não pode fazer com o aluno inadimplente: 
 proibir que ele faça provas; 
 reter seus documentos escolares; 
 aplicar quaisquer outras penalidades pedagógicas por motivo de inadimplemento. 
 
 
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Os estabelecimentos de ensino fundamental, médio e superior deverão expedir, a qualquer tempo, os 
documentos de transferência de seus alunos, independentemente de sua adimplência ou da adoção de 
procedimentos legais de cobranças judiciais (art. 6º, § 2º da Lei nº 9.870/99). 
 
Veja julgado do STJ sobre o tema: 
4. O aluno, ao matricular-se em instituição de ensino privado, firma contrato oneroso, pelo qual se obriga 
ao pagamento das mensalidades como contraprestação ao serviço recebido. 
5. O atraso no pagamento não autoriza aplicarem-se ao aluno sanções que se consubstanciem em 
descumprimento do contrato por parte da entidade de ensino (art. 5º da Lei 9.870/99), mas a entidade 
está autorizada a não renovar a matrícula se o atraso é superior a noventa dias, mesmo que seja de uma 
mensalidade apenas. (...) 
STJ. 2ª Turma. REsp 725.955/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 08/05/2007. 
 
Voltando ao exemplo hipotético dado no início. A instituição agiu corretamente ao negar a matrícula de 
João no curso de Direito considerando que sua inadimplência quanto às mensalidades do curso de 
Administração era superior a 90 dias? 
NÃO. Neste exemplo, não se está falando em renovação de matrícula, mas sim na constituição de uma 
nova relação jurídica, ainda que na mesma instituição de ensino. Logo, não se aplicam os arts. 5º e 6º da 
Lei nº 9.870/99, uma vez que tais dispositivos tratam apenas de renovação de matrícula, ou seja, do caso 
da pessoa que já está no curso, deixa de pagar e, por isso, pode ser impedida de renovar sua matrícula 
para o semestre seguinte. 
Não se mostra razoável que se faça uma interpretação extensiva dos arts. 5º e 6º de modo a prejudicar o 
consumidor, em especial aquele que almeja a inserção no ambiente acadêmico. 
Assim, a conduta da instituição de negar a matrícula inicial do aprovado no vestibular porque ele tem 
outros débitos anteriores, relativos a outro curso, não tem respaldo legal. 
A eventual cobrança de valores em aberto poderá ser realizada, porém pelos meios legais ordinários, não 
se admitindo a pretendida negativa de matrícula. 
 
Resumindo: 
Instituição de ensino superior não pode recusar a matrícula de aluno aprovado em vestibular em razão 
de inadimplência em curso diverso anteriormente frequentado por ele na mesma instituição. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.583.798-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2016 (Info 591). 
 
 
 
PROTEÇÃO EM JUÍZO 
Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que 
fornecedor preste informações ao consumidor sobre produtos com glúten 
 
Como regra, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar constituída há pelo 
menos 1 ano. 
Exceção. Este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja 
manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela 
relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei nº 7.347/85). Neste caso, a 
ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com menos de 1 ano, poderá ser 
conhecida e julgada. 
Como exemplo da situação descrita no § 4º do art. 5º, o STJ decidiu que: 
É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para associação 
ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação de informações ao 
consumidor sobre a existência de glúten em alimentos. 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.600.172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591). 
 
Vide comentários em Direito Processual Civil.DIREITO EMPRESARIAL 
 
FRANQUIA 
Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia 
deverá ser observado o art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96 
 
Importante!!! 
A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim, é um contrato 
de adesão. 
Segundo o art. 4º, § 2º da Lei nº 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula compromissória 
só terá eficácia se o aderente: 
• tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou 
• concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em 
negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. 
Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, 
como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. 
Assim, é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de franquia, desde que 
observados os requisitos do art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). 
 
CONTRATO DE FRANQUIA 
A franquia é um contrato por meio do qual uma empresa (franqueador) transfere a outra (franqueado) o 
direito de usar a sua marca ou patente e de comercializar seus produtos ou serviços, podendo, ainda, 
haver a transferência de conhecimentos do franqueador para o franqueado. 
 
O contrato de franquia está regido pela Lei nº 8.955/94, que conceitua esse pacto nos seguintes termos: 
Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de 
marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços 
e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou 
sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou 
indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício. 
 
O contrato firmado entre o franqueado e o franqueador é regido pelo Código de Defesa do Consumidor? 
O franqueado poderá invocar o CDC para discutir seus direitos em relação ao franqueador? 
NÃO. 
 
A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está sujeito às regras protetivas 
previstas no CDC. 
A relação entre o franqueador e o franqueado não é uma relação de consumo, mas sim de fomento 
econômico com o objetivo de estimular as atividades empresariais do franqueado. 
O franqueado não é consumidor de produtos ou serviços da franqueadora, mas sim a pessoa que os 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
comercializa junto a terceiros, estes sim, os destinatários finais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). 
 
O contrato de franquia é um contrato de adesão? 
SIM. O contrato de franquia é um contrato de adesão. 
"Caracterizam-se os contratos de adesão pela desigualdade entre as partes contratantes: basicamente, 
uma das partes, o policitante, impõe à outra – o oblato – as condições e cláusulas que previamente 
redigiu. Não existe, assim, discussão a respeito do teor do contrato e suas cláusulas, de modo que o oblato 
cinge-se a anuir à proposta do policitante. Tais contratos supõem, antes de mais nada, a superioridade 
econômica de um dos contratantes, que fixa unilateralmente as cláusulas contratuais; o contratante 
economicamente mais fraco manifesta seu consentimento aceitando, pura e simplesmente, as condições 
gerais impostas pelo outro contratante; a proposta é, de regra, aberta a quem se interessar pela 
contratação; e a oferta é predeterminada, uniforme e rígida." (CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e 
Processo: um comentário à Lei nº 9.307/96. São Paulo: Atlas, 3ª ed., 2009, p. 106) 
 
Mas o contrato de franquia não é um contrato de consumo... 
Não importa. Essa confusão, aliás, é um erro comum em muitos estudantes. Nem todo contrato de adesão é 
um contrato de consumo e nem todo contrato de consumo é de adesão. São conceitos diferentes. Portanto, 
o contrato de franquia não é um contrato de consumo, mas, mesmo assim, é um contrato de adesão. 
 
 
CLÁUSULA ARBITRAL NO CONTRATO DE FRANQUIA 
Em que consiste a arbitragem? 
Arbitragem representa uma técnica de solução de conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que a 
solução de seu litígio seja decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. 
Vale ressaltar que a arbitragem é uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual o 
conflito é resolvido por um terceiro. 
 
Regulamentação 
A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei n. 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC 
versando sobre o tema. 
 
Em que consiste a chamada cláusula compromissória? 
A cláusula compromissória, também chamada de cláusula arbitral, é... 
- uma cláusula prevista no contrato, 
- de forma prévia e abstrata, 
- por meio da qual as partes estipulam que 
- qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato 
- será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal). 
 
Exemplo: 
"Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura surgirem na interpretação ou execução deste 
contrato serão resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96 e o Código de Processo Civil 
brasileiro (este aplicado de forma apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da Câmara de 
Arbitragem)." 
 
A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei n. 9.307/96: 
Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato 
comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. 
 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
A cláusula compromissória é válida? 
REGRA: a cláusula compromissória é VÁLIDA. 
Peculiaridade 1: 
contratos de ADESÃO 
Peculiaridade 2: 
contratos de CONSUMO 
Peculiaridade 3: 
Dissídios individuais de TRABALHO 
É válida, desde que o aderente: 
• tenha tomado a iniciativa de 
instituir a arbitragem; ou 
• concorde, expressamente, com 
a sua instituição, por escrito, em 
documento anexo ou em 
negrito, com a assinatura ou 
visto especialmente para essa 
cláusula (art. 4º, § 2º, da Lei nº 
9.307/96). 
Não é válida. O CDC estipula que 
é nula de pleno direito a cláusula 
que determina a utilização 
compulsória de arbitragem (art. 
51, VII). 
 
Vale ressaltar, no entanto, que é 
possível compromisso arbitral 
nas relações de consumo (REsp 
1.169.841-RJ). 
Não é válida arbitragem nos 
dissídios individuais de trabalho, 
conforme entendimento pacífico 
do TST. 
 
Obs: é permitida a arbitragem 
no caso de dissídios coletivos de 
trabalho (art. 114, § 1º da 
CF/88). 
 
É possível a previsão de cláusula compromissória em contratos de franquia? 
O contrato de franquia é uma espécie de contrato de adesão. 
Assim, só será válida cláusula compromissória em contrato de franquia se o aderente (franqueado): 
 tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou 
 concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, 
com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. 
 
Desse modo, aplica-se ao contrato de franquia a regra prevista no § 2º do art. 4º da Lei n. 9.307/96: 
§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa 
de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em 
documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. 
 
Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, como os 
contratos de franquia, devem observar o disposto no art.4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. 
 
 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
Vinculação de todos os credores à determinação de plano de recuperação judicial 
aprovado por maioria pela assembleia geral de credores 
 
Se, no âmbito de Assembleia Geral de Credores, a maioria deles - devidamente representados 
pelas respectivas classes - optar, por meio de dispositivo expressamente consignado em plano 
de recuperação judicial, pela supressão de todas as garantias fidejussórias e reais existentes 
em nome dos credores na data da aprovação do plano, todos eles - inclusive os que não 
compareceram à Assembleia ou os que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram 
contrariamente à homologação do acordo - estarão indistintamente vinculados a essa 
determinação. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/9/2016 (Info 591). 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a 
superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, 
com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. 
A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência. 
 
FASES DA RECUPERAÇÃO 
De forma resumida, a recuperação judicial possui três fases: 
a) postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento; 
b) processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva; 
c) execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial. 
 
JUÍZO FALIMENTAR 
A Lei nº 11.101/2005, em seu art. 3º, prevê que é competente para deferir a recuperação judicial o juízo 
do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. 
A falência e a recuperação judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual. 
 
PLANO DE RECUPERAÇÃO 
Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar 
em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de 
recuperação em falência. 
 
Este plano deverá conter: 
 discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50); 
 demonstração de sua viabilidade econômica; e 
 laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional 
legalmente habilitado ou empresa especializada. 
 
Os credores analisam o plano apresentado, que pode ser aprovado ou não pela assembleia geral de 
credores. 
 
Credores são avisados sobre o plano, podendo apresentar objeções 
Após o devedor apresentar o plano de recuperação, o juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso 
aos credores sobre o recebimento do plano e fixando prazo para a manifestação de eventuais objeções. 
Desse modo, os credores serão chamados a analisar esse plano e, se não concordarem com algo, poderão 
apresentar objeção. 
O prazo para os credores apresentarem objeções é de 30 dias. 
 
Se não houver objeção dos credores 
Caso nenhum credor apresente objeção ao plano no prazo fixado, considera-se que houve aprovação 
tácita. 
Nessa hipótese, não será necessária a convocação de assembleia-geral de credores para deliberar sobre o 
plano. 
 
Se houver objeção por parte dos credores 
Havendo objeção de algum credor, o juiz deverá convocar a assembleia-geral de credores para que ela 
decida sobre o plano de recuperação apresentado. 
A assembleia-geral, após as discussões e esclarecimentos pertinentes, poderá: 
a) aprovar o plano sem ressalvas; 
b) aprovar o plano com alterações; 
c) não aprovar o plano. 
 
Se o plano não for aprovado: o juiz decreta a falência (salvo na hipótese do art. 58, § 1º). 
 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
 
Se o plano for aprovado: o juiz homologa a aprovação e concede a recuperação judicial, iniciando-se a 
fase de execução. Atenção: no regime atual, o plano de recuperação é aprovado pelos credores e apenas 
homologado pelo juiz. 
 
APROVADO O PLANO, OCORRE A NOVAÇÃO DOS CRÉDITOS ANTERIORES AO PEDIDO 
 
A homologação do plano de recuperação judicial autoriza a retirada do nome da empresa recuperanda e 
dos seus respectivos sócios dos cadastros de inadimplentes, bem como a baixa de eventuais protestos 
existentes em nome destes? 
SIM. A Lei de Falências e Recuperação Judicial estabelece que o plano de recuperação judicial acarreta a 
novação dos créditos anteriores ao pedido: 
Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o 
devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1º do 
art. 50 desta Lei. 
 
Qual é a consequência jurídica de haver a novação dos créditos? 
A novação ocorre, dentre outras hipóteses, quando o devedor contrai com o credor nova dívida para 
extinguir e substituir a anterior (art. 360, I, do CC). 
Desse modo, o que o art. 59 está afirmando é que, quando o plano de recuperação judicial é homologado, 
as dívidas que o devedor (recuperando) possuía com os credores são extintas e substituídas por outras 
novas obrigações. 
Como a novação induz a extinção da relação jurídica anterior, substituída por uma nova, não será mais 
possível falar em inadimplência do devedor com base na dívida extinta (Min. Nancy Andrighi). 
Diante disso, não se justifica a manutenção do nome da recuperanda ou de seus sócios em cadastros de 
inadimplentes em virtude da dívida novada. 
Assim, “a novação extingue a dívida anterior; estando o autor adimplente quanto ao novo débito, é ilícita a 
inscrição em órgãos de proteção ao crédito fundamentada em inadimplemento de parcela vencida 
anteriormente à novação” (AgRg no Ag 948.785/RS, 3ª Turma, Rel. Min. Ari Pargendler, DJe de 05.08.2008). 
Essa regra do art. 59 tem como norte a preocupação de recuperar a empresa em dificuldade financeira, 
atendendo ao chamado “princípio da preservação da empresa”. 
 
A novação decorrente da recuperação judicial implica a extinção de garantias que haviam sido 
prestadas aos credores? 
NÃO. A novação prevista no Código Civil extingue sim os acessórios e as garantias da dívida, sempre que 
não houver estipulação em contrário (art. 364). 
No entanto, na novação prevista no art. 59 da Lei nº 11.101/2005 ocorre justamente o contrário, ou 
seja, as garantias são mantidas, sobretudo as garantias reais, as quais só serão suprimidas ou 
substituídas “mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia”, por ocasião da 
alienação do bem gravado (art. 50, § 1º). 
 
 Novação do CC: em regra, extingue as garantias prestadas. 
 Novação da recuperação judicial: em regra, não extingue as garantias prestadas. 
 
Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele submetidas, as 
garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que possibilita ao credor 
exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções 
aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.888-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/4/2014 (Info 540). 
 
Exemplo: 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
A sociedade GW Ltda. emitiu uma nota promissória em favor da empresa X. Gabriel (sócio da GW) figurou 
como avalista na nota promissória, ou seja, ele ofereceu uma garantia pessoal de pagamento da dívida. 
Ocorre que a sociedade GW Ltda. requereu recuperaçãojudicial e o plano foi aprovado. A empresa X 
ajuizou, então, execução de título extrajudicial cobrando de Gabriel o valor da nota promissória vencida. 
Gabriel defendeu-se alegando que, como foi aprovado o plano de recuperação judicial, houve novação e a 
execução deveria ser extinta. 
Este argumento não deverá ser acolhido. A homologação do plano de recuperação judicial da devedora 
principal não implica a extinção de execução de título extrajudicial ajuizada em face de sócio coobrigado. 
Conforme já explicado, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas 
anteriores, as garantias (reais ou fidejussórias), como regra, são preservadas. Logo, o aval (garantia) 
prestado por Gabriel não foi extinto com a aprovação do plano. 
Diante disso, o credor poderá exercer seus direitos contra Gabriel (terceiro garantidor), devendo, 
portanto, ser mantida a execução proposta contra ele. 
 
Qual é o fundamento legal para essa conclusão? 
O § 1º do art. 49 da Lei n. 11.101/2005: 
§ 1º Os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os 
coobrigados, fiadores e obrigados de regresso. 
 
O STJ reafirmou esse entendimento em recurso especial repetitivo, fixando a seguinte tese: 
A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das execuções nem induz 
suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em 
geral, por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 
6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49, 
§ 1º, todos da Lei nº 11.101/2005. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1333349/SP, Rel. Min.Luis Felipe Salomão, julgado em 26/11/2014. 
 
Na I Jornada de Direito Comercial do CJF/STJ já havia sido aprovado enunciado espelhando a posição: 
Enunciado 43: A suspensão das ações e execuções previstas no art. 6º da Lei n. 11.101/2005 não se 
estende aos coobrigados do devedor. 
 
O tema foi, inclusive, sumulado: 
Súmula 581-STJ: A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das ações e 
execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, 
real ou fidejussória. 
 
 
ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES PODERÁ DISPENSAR AS GARANTIAS PRESTADAS 
Vimos acima que, na novação da recuperação judicial, em regra, não haverá a extinção das garantias 
prestadas. Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele 
submetidas, as garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que possibilita ao 
credor exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções 
aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral. 
 
Indaga-se: a Assembleia Geral de Credores poderá dispensar as garantias que haviam sido prestadas por 
terceiros? 
SIM. Na deliberação do plano de recuperação os credores negociam com a empresa devedora e decidem a 
extensão de esforços e renúncias que estão dispostos a suportar, no intento de reduzir os prejuízos que se 
avizinham. Apesar disso não ser exigido pela lei, os credores poderão decidir dispensar as garantias real e 
fidejussórias se assim entenderem pertinente. 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
 
Esta decisão da Assembleia vincula também os credores que não estavam presentes? 
SIM. Essa deliberação atinge a todos os credores, inclusive os que não compareceram à Assembleia ou os 
que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente à homologação do acordo. Todos eles, 
indistintamente, estarão vinculados a essa determinação. Nesse sentido é também a opinião da doutrina: 
"Em princípio, todos os credores anteriores ao pedido de recuperação judicial estão sujeitos aos efeitos do 
plano de recuperação aprovado em juízo. Mesmo os que haviam se oposto ao plano e votado por sua 
rejeição devem se curvar à decisão judicial respaldada na maioria dos credores. Não tem outra alternativa. 
Se no plano aprovado em juízo é prevista a substituição de determinada garantia real por outra de menor 
valor, o credor atingido simplesmente não tem meios para se opor ao mérito dessa medida, por mais que 
considere seus interesses injustamente sacrificados." (COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à Lei de 
Falências e de Recuperação de Empresas. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 236) 
 
Se, no âmbito de Assembleia Geral de Credores, a maioria deles - devidamente representados pelas 
respectivas classes - optar, por meio de dispositivo expressamente consignado em plano de recuperação 
judicial, pela supressão de todas as garantias fidejussórias e reais existentes em nome dos credores na 
data da aprovação do plano, todos eles - inclusive os que não compareceram à Assembleia ou os que, ao 
comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente à homologação do acordo - estarão 
indistintamente vinculados a essa determinação. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/9/2016 (Info 591). 
 
É possível, em tese, que o Poder Judiciário faça o controle de legalidade do plano de recuperação judicial 
aprovado pela assembleia geral de credores? 
SIM. 
 
Afigura-se absolutamente possível que o Poder Judiciário, sem imiscuir-se na análise da viabilidade 
econômica da empresa em crise, promova controle de legalidade do plano de recuperação judicial. 
Esse controle de legalidade do plano de recuperação não significa a desconsideração da soberania da 
assembleia geral de credores. 
À assembleia geral de credores compete analisar, a um só tempo, a viabilidade econômica da empresa, 
assim como da consecução da proposta apresentada. 
Ao Poder Judiciário, por sua vez, incumbe velar pela validade das manifestações expendidas, e, 
naturalmente, preservar os efeitos legais das normas que se revelarem cogentes. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/9/2016 (Info 591). 
 
 
 
ECA 
 
INTERNAÇÃO 
Quando o art. 122, II, do ECA prevê que o adolescente deverá ser internado em caso "reiteração 
no cometimento de outras infrações graves" não se exige um número mínimo 
 
O ECA não estipulou um número mínimo de atos infracionais graves para justificar a 
internação do menor infrator com fulcro no art. 122, II, do ECA (reiteração no cometimento de 
outras infrações graves). 
Logo, cabe ao magistrado analisar as peculiaridades de cada caso e as condições específicas do 
adolescente a fim de aplicar ou não a internação. 
A depender das particularidades e circunstâncias do caso concreto, pode ser aplicada, com 
fundamento no art. 122, II, do ECA, medida de internação ao adolescente infrator que antes 
 
Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
tenha cometido apenas uma outra infração grave. 
Está superado o entendimento de que a internação com base nesse dispositivo somente seria 
permitida com a prática de no mínimo 3 infrações. 
STF. 1ª Turma. HC 94447, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 12/04/2011. 
STJ. 5ª Turma. HC 332.440/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2015. 
STJ. 6ª Turma. HC 347.434-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Antonio Saldanha 
Palheiro, julgado em 27/9/2016 (Info 591). 
 
Quais são as medidas socioeducativas que implicam privação de liberdade? 
• Semiliberdade; 
• Internação. 
 
Semiliberdade (art. 120 do ECA) 
Pelo regime da semiliberdade, o adolescente realiza atividades externas durante o dia, sob supervisão de 
equipe multidisciplinar, e fica recolhido à noite. 
O regime de semiliberdade pode ser determinado como medida inicial imposta pelo juiz ao adolescente 
infrator, ou como forma de transição para o

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