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Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO CIVIL BEM DE FAMÍLIA Impenhorabilidade do único imóvel comercial do devedor que esteja alugado. CONTRATO DE SEGURO Direito de a seguradora ser ressarcida pelos gastos que houve com o segurado mesmo que este tenha dado quitação integral para o autor do dano. ARBITRAGEM Competência para declarar nulidade de cláusula de compromisso arbitral. Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia deverá ser observado o art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. DIREITO DE VIZINHANÇA Construção em terreno alheio de aqueduto para passagem de águas. DIREITO DO CONSUMIDOR CONCEITO DE CONSUMIDOR É inaplicável o CDC ao contrato de franquia. PROTEÇÃO CONTRATUAL É válido o desconto de pontualidade presente em contratos de serviços educacionais. PRÁTICA ABUSIVA Instituição não pode negar a matrícula inicial do aprovado no vestibular porque ele tem outros débitos anteriores, relativos a outro curso. PROTEÇÃO EM JUÍZO Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que fornecedor preste informações ao consumidor sobre produtos com glúten. DIREITO EMPRESARIAL RECUPERAÇÃO JUDICIAL Vinculação de todos os credores à determinação de plano de recuperação judicial aprovado por maioria pela assembleia geral de credores. DIREITO PROCESSUAL CIVIL AGRAVO DE INSTRUMENTO É possível que as peças do agravo de instrumento sejam entregues em DVD. Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2 EMBARGOS DE TERCEIRO Desconstituída penhora indevida, em regra, não haverá condenação do embargado em honorários se o imóvel ainda estava no nome do antigo proprietário. PROCESSO COLETIVO Cabe ACP com o objetivo de proibir tráfico de veículos pesados no Município. Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que fornecedor preste informações ao consumidor sobre produtos com glúten. DIREITO PENAL CLONAGEM DE CARTÃO DE CRÉDITO Clonagem de cartão de crédito ou débito antes da entrada em vigor da Lei nº 12.737/2012. DIREITO PROCESSUAL PENAL PRISÃO O advogado suspenso dos quadros da OAB não tem direito a recolhimento em sala de Estado Maior. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO Não se aplica a Súmula 337 do STJ se a denúncia foi julgada totalmente procedente e pela pena em concreto um dos delitos foi extinto pela prescrição. COMUTAÇÃO DE PENA Condenado que pratica falta grave nos 12 meses antes da publicação do decreto de indulto natalino não terá direito ao benefício mesmo que a homologação ocorra após o decreto. DIREITO TRIBUTÁRIO PROCESSO TRIBUTÁRIO O § 2º do art. 12 da Portaria 643/2009 da PGFN é ilegal. PIS/PASEP/COFINS Juiz não pode extinguir execução fiscal de ofício invocando a inconstitucionalidade do art. 3º, § 1°, da Lei nº 9.718/98. DIREITO CIVIL BEM DE FAMÍLIA Impenhorabilidade do único imóvel comercial do devedor que esteja alugado Segundo a redação literal da súmula 486-STJ, "é impenhorável o único imóvel RESIDENCIAL do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família." A 2ª Turma do STJ, contudo, ampliou esta proteção e decidiu que também é impenhorável o único imóvel COMERCIAL do devedor que esteja alugado quando o valor do aluguel é destinado unicamente ao pagamento de locação residencial por sua entidade familiar. STJ. 2ª Turma. REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591). Espécies de bem de família No Brasil, atualmente, existem duas espécies de bem de família: a) bem de família convencional ou voluntário (arts. 1711 a 1722 do Código Civil); b) bem de família legal (Lei nº 8.009/90). Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3 Bem de família legal O bem de família legal consiste no imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar. Considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do Código Civil (bem de família convencional). Proteção conferida ao bem de família legal O bem de família legal é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas na Lei nº 8.009/90. Situação 1: João possui em seu nome um único imóvel, qual seja, um apartamento que está alugado para terceiro por R$ 2 mil. Ele e sua família, por sua vez, moram em uma casa alugada em um bairro mais simples, pagando R$ 1 mil. A renda recebida com a locação é utilizada para pagar o aluguel da sua casa e para a subsistência da família. João está sendo executado e o juiz determinou a penhora do apartamento que está em seu nome. Esta penhora poderá ser desconstituída invocando a proteção do bem de família? SIM. Veja o que diz o seguinte enunciado: Súmula 486-STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família. STJ. Corte Especial. Aprovada em 28/06/2012, DJe 01/08/2012. A Lei conceitua o que seja imóvel residencial para fins de impenhorabilidade: Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil. Desse modo, pela redação legal, somente seria impenhorável o imóvel próprio utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. No entanto, o STJ ampliou a proteção ao bem de família, conforme pudemos observar pela Súmula 486. Assim, se um casal, uma entidade familiar ou mesmo uma pessoa solteira e sozinha, possui um imóvel residencial “X” e o aluga, pela redação da lei ele não seria bem de família legal e poderia ser penhorado. Entretanto, o STJ afirma que esse imóvel poderá ser considerado também impenhorável desde que cumpridos os seguintes requisitos: O imóvel alugado seja o único do devedor; A renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia. O STJ assim decide porque entende que, em uma interpretação teleológica e valorativa, o objetivo da norma é o de garantir a moradia familiar ou a subsistência da família. Situação 2: Pedro possui em seu nome um único imóvel, qual seja, uma sala comercial que está alugada para uma empresa, que explora no local uma loja, pagando ao proprietário R$ 2 mil. Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4 Ele e sua família, por sua vez, moram em uma casa alugada, pagando R$ 1 mil. A renda recebida com a locação é utilizada para pagar o aluguel da sua casa e para a subsistência da família. Pedro está sendo executado e o juiz determinou a penhora da sala comercial que está em seu nome. Esta penhora poderá ser desconstituídainvocando a proteção do bem de família? SIM. É impenhorável o único imóvel comercial do devedor que esteja alugado quando o valor do aluguel é destinado unicamente ao pagamento de locação residencial por sua entidade familiar. STJ. 2ª Turma. REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591). Se você observar bem a redação da Súmula 486 do STJ verá que esta situação 2 não está abrangida na proteção por ela conferida. Em outras palavras, a redação literal do enunciado protege como bem de família apenas o imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros (não inclui o imóvel comercial). No entanto, seguindo uma tendência, o STJ, nesta decisão, ampliou a abrangência da súmula 486 e entendeu que o imóvel comercial também pode gozar da proteção como bem de família caso esteja locado para terceiro e a renda obtida seja utilizada para o pagamento da moraria do proprietário. CONTRATO DE SEGURO Direito de a seguradora ser ressarcida pelos gastos que houve com o segurado mesmo que este tenha dado quitação integral para o autor do dano Importante!!! Em regra, mesmo que o proprietário do veículo segurado tenha dado termo de quitação ou renúncia ao causador do sinistro, a seguradora continuará tendo direito de ajuizar ação regressiva contra o autor do dano e de ser ressarcida pelas despesas que efetuou com o reparo ou substituição do bem sinistrado. Ex: o segurado combina com o causador do dano que este irá pagar apenas o valor da franquia do seguro, em troca de um termo de quitação. A seguradora paga, então, os prejuízos e poderá cobrar do causador do dano porque ela tem direito à sub-rogação por força de lei (art. 786, CC) e este acordo não é eficaz perante ela (art. 786, § 2º). Exceção: a seguradora não terá direito de regresso contra o autor do dano caso este demonstre que indenizou realmente o segurado pelos prejuízos sofridos, na justa expectativa de que estivesse quitando, integralmente, os danos provocados por sua conduta. Neste caso, protege- se o terceiro de boa-fé e a seguradora poderá cobrar do segurado com base na proibição do enriquecimento ilícito. Ex: o causador do dano paga todas as despesas do segurado e recebe um termo de quitação; de má-fé, o segurado, mesmo já tendo sido indenizado, aciona o seguro para consertar seu carro. Se a seguradora ajuizar ação regressiva contra o causador do dano, ele poderá provar que pagou integralmente as despesas e, neste caso, a ação será julgada improcedente. Protege-se a boa-fé do terceiro. STJ. 3ª Turma. REsp 1.533.886-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). Imagine a situação hipotética: Carla, dirigindo de forma negligente, bateu seu veículo na traseira do carro de João. Este ficou com pena de Carla, que estava muito nervosa, e propôs a ela o seguinte: "eu tenho seguro; então, você paga apenas a franquia do meu seguro e ele vai custear as despesas com o conserto dos dois carros. Não precisa se preocupar." Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5 No mesmo instante, João ligou para a seguradora, que recomendou que ele fizesse um boletim de ocorrência e tirasse fotos da batida. No dia seguinte, João e Carla se encontraram. Ela deu o dinheiro referente à franquia e ele, em contrapartida, assinou uma declaração dizendo que renunciava ao direito de postular qualquer reparação pelos danos sofridos. João entregou à seguradora o dinheiro da franquia e os dois veículos foram consertados. Dois meses depois, Carla é citada como ré em uma ação regressiva proposta pela seguradora. A autora cobra R$ 10 mil referentes ao custo do conserto dos dois veículos. Carla apresenta contestação alegando que o proprietário do automóvel segurado, por ocasião do sinistro, renunciou ao direito de postular qualquer reparação pelos danos então sofridos. Dessa maneira, não havendo direito de crédito do credor primitivo (segurado), não pode a seguradora cobrar o ressarcimento, já que ela não pode se sub-rogar de um direito que não existe. Um caso semelhante a este, que é muito comum no dia-a-dia, chegou até o STJ. O que decidiu o Tribunal? A seguradora terá direito de ser ressarcida pelo conserto mesmo tendo o segurado assinado este termo de quitação ou renúncia? SIM. Previsão legal da sub-rogação O Código Civil prevê que a seguradora que paga a indenização sub-roga-se nos direitos do segurado. Confira: Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos limites do valor respectivo, nos direitos e ações que competirem ao segurado contra o autor do dano. Isso também já estava consagrado na jurisprudência: Súmula 188-STF: O segurador tem ação regressiva contra o causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até ao limite previsto no contrato de seguro. O art. 786 consiste, portanto, em espécie de sub-rogação legal, específica para o contrato de seguro de dano. Vale ressaltar que esta sub-rogação opera-se de pleno direito, independentemente da vontade do devedor originário, ou seja, do causador do dano ao bem segurado. Vale ressaltar que este direito da seguradora de se sub-rogar tem relevância social porque na sociedade de risco que vivemos hoje em dia é cada vez maior a importância dos contratos de seguro. Se a seguradora tiver garantias de que poderá ser ressarcida pelo real causador do dano, isso será levado em consideração no momento do cálculo do prêmio que é cobrado dos segurados. Em tese, quanto menores as garantias que a seguradora tiver, maior será o valor do prêmio, o que prejudica a sociedade em geral. Daí se extrai a relevância social de proteção ao direito de sub-rogação do segurador. Ineficácia do termo de renúncia firmado pelo proprietário do bem segurado Ao disciplinar a sub-rogação no art. 786, o Código Civil previu, de forma expressa e inequívoca, a ineficácia, perante o segurador, de atos de disposição praticados pelo segurado juntamente ao autor do dano. Veja: Art. 786 (...) § 2º É ineficaz qualquer ato do segurado que diminua ou extinga, em prejuízo do segurador, os direitos a que se refere este artigo. Desse modo, eventual termo de renúncia ou quitação outorgado pelo segurado ao terceiro causador do dano não impede o exercício do direito de regresso pelo segurador. O legislador buscou proteger o direito do segurador de ser ressarcido da quantia que gastou para indenizar o segurado. Assim, se o segurado optou por acionar o seguro, cobrando a garantia contratada, não lhe cabe firmar com o causador do dano qualquer tipo de transação que possa importar na extinção ou diminuição do direito Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6 de regresso do segurador. Se o fizer, o ato será absolutamente ineficaz em relação ao segurador, como peremptoriamente determina o art. 786, § 2º, do CC. No exemplo dado, o acordo celebrado entre João e Carla é válido e eficaz entre eles (contratantes). No entanto, não se pode admitir que os efeitos dessa avença sejam estendidos ao segurador que, além de não ter participado do ajuste, possui, por força de lei, o direito de ser reembolsado de todos os valores gastos com o reparo do bem sinistrado. Normas de caráter público Dada a importância social do contrato de seguro, as normas insertas no art. 786, caput e § 2º, do Código Civil, ao assegurarem a sub-rogação do segurador nos direitos que competirem ao segurado contra o autor do dano, independentemente da vontade daquele, revestem-se de caráter público, não havendo como um ato negocial do segurado excluir a prerrogativa outorgada por lei ao segurador. Em suma, a regra é a seguinte: Mesmo que o segurado tenha outorgado termo de quitação ou renúncia ao causador do sinistro, o segurador terá direito de ser ressarcido, em açãoregressiva contra o autor do dano, pelas despesas que efetuou com o reparo ou substituição do bem sinistrado. Situação excepcional de má-fé do segurado e boa-fé do autor do dano A regra foi acima exposta. No entanto, a prática demonstra que pode acontecer uma situação na qual se revela a má-fé do segurado e a boa-fé do autor do dano. Imagine o seguinte: Pedro, dirigindo de forma negligente, bateu seu veículo na traseira do carro de João, que não revela que tem seguro. Pedro assume para João que realmente foi culpado do acidente e que irá pagar o conserto. No dia seguinte, João mostra um orçamento da oficina e Pedro lhe entrega o dinheiro. Em contrapartida, João assinou uma declaração dando quitação integral. Ocorre que João, de má-fé, aciona o seguro pedindo o conserto do carro, o que é feito. Em seguida, a seguradora ajuíza ação regressiva contra Pedro cobrando a quantia gasta para consertar o carro do segurado. Nessa hipótese específica e excepcional, o STJ entende que o terceiro (em nosso exemplo, Pedro), ao ser demandado na ação regressiva, poderá se eximir do ressarcimento das despesas com o bem sinistrado, bastando que, nos termos do art. 373, II, do CPC, prove que já realizou a reparação completa dos prejuízos causados, apresentando o recibo assinado pelo segurado ou eventuais documentos que comprovem o custeio das despesas. Neste caso, o juiz deverá julgar improcedente o pedido regressivo formulado, restando à seguradora a alternativa de demandar contra o próprio segurado, por locupletamento ilícito, tendo em vista que, em evidente ato de má-fé contratual, requereu, indevidamente, a cobertura securitária mesmo já tendo sido indenizado diretamente pelo autor do dano. Protege-se aqui o terceiro de boa-fé, que pagou indenização ao segurado na justa expectativa de que estivesse reparando, por completo, os danos que causou com seu ato. Conclusão Em regra, mesmo que o proprietário do veículo segurado tenha dado termo de quitação ou renúncia ao causador do sinistro, a seguradora continuará tendo direito de ajuizar ação regressiva contra o autor do dano e de ser ressarcida pelas despesas que efetuou com o reparo ou substituição do bem sinistrado. Exceção: a seguradora não terá direito de regresso contra o autor do dano caso este demonstre que indenizou realmente o segurado pelos prejuízos sofridos, na justa expectativa de que estivesse quitando, integralmente, os danos provocados por sua conduta. Neste caso, protege-se o terceiro de boa-fé e a seguradora poderá cobrar do segurado com base na proibição do enriquecimento ilícito. STJ. 3ª Turma. REsp 1.533.886-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7 ARBITRAGEM Competência para declarar nulidade de cláusula de compromisso arbitral Importante!!! O Poder Judiciário pode decretar a nulidade de cláusula arbitral (compromissória) sem que essa questão tenha sido apreciada anteriormente pelo próprio árbitro? Regra: Não. Segundo o art. 8º, parágrafo único da Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/96), antes de judicializar a questão, a parte que deseja arguir a nulidade da cláusula arbitral deve formular esse pedido ao próprio árbitro. Exceção: compromissos arbitrais patológicos. O Poder Judiciário pode, nos casos em que prima facie é identificado um compromisso arbitral "patológico", isto é, claramente ilegal, declarar a nulidade dessa cláusula, independentemente do estado em que se encontre o procedimento arbitral. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). Em que consiste a arbitragem? Arbitragem representa uma técnica de solução de conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que a solução de seu litígio seja decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. Vale ressaltar que a arbitragem é uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual o conflito é resolvido por um terceiro. Regulamentação A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei n. 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC versando sobre o tema. Em que consiste a chamada cláusula compromissória? A cláusula compromissória, também chamada de cláusula arbitral, é... - uma cláusula prevista no contrato, - de forma prévia e abstrata, - por meio da qual as partes estipulam que - qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato - será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal). Exemplo: "Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura surgirem na interpretação ou execução deste contrato serão resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96 e o Código de Processo Civil brasileiro (este aplicado de forma apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da Câmara de Arbitragem)." A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei n. 9.307/96: Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. Imagine agora a seguinte situação hipotética: “X” e “Y” celebram um contrato e estipulam, no pacto, uma cláusula compromissória, ou seja, uma previsão contratual na qual as partes dizem que qualquer conflito futuro relacionado com o ajuste será resolvido por meio de arbitragem. Após um tempo, “X” e “Y” começam a discordar quanto ao cumprimento do contrato. “X” ajuíza ação anulatória na vara cível da Justiça Estadual, alegando que essa cláusula arbitral é nula. Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8 O Poder Judiciário pode decretar a nulidade de cláusula arbitral (compromissória) sem que essa questão tenha sido apreciada anteriormente pelo próprio árbitro? REGRA: NÃO. Segundo a Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/96), antes de judicializar a questão, a parte que deseja arguir a nulidade da cláusula arbitral deve formular esse pedido ao próprio árbitro, nos termos do art. 8º, parágrafo único: Art. 8º (...) Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória. Assim, por expressa previsão legal, não pode a parte ajuizar ação anulatória para desconstituir acordo com base na nulidade da cláusula compromissória ali presente antes de submeter o assunto ao árbitro. Luiz Antônio Scavone Júnior explica esse art. 8º, parágrafo único: “O significado do dispositivo, portanto, indica que qualquer alegação de nulidade do contrato ou da cláusula arbitral, diante de sua existência e seguindo o espírito da lei, deve ser dirimida pela arbitragem e não pelo Poder Judiciário. A lei pretendeu, neste sentido, "fechar uma brecha" que permitiria às partes, sempre que alegassem a nulidade da cláusula arbitral ou do contrato, ignorar o pacto de arbitragem e acessar o Poder Judiciário para dirimir o conflito. Em resumo, ainda que o conflito verse sobre a nulidade do próprio contrato ou da cláusula arbitral, a controvérsia deverá ser decidida inicialmente pela arbitragem e não pelo Poder Judiciário, (...)” (Manual de Arbitragem. 4ª ed. São Paulo: RT, 2010, p. 87). Isso é conhecido como aplicação do princípio da kompetenz-kompetenz (competência-competência) considerando que compete ao próprio árbitro dizer se ele é ou não competente para conhecer aquele conflito. Assim, se a parte está alegando que a cláusula compromissória é nula e que a questão não deve ser submetida à arbitragem, quem primeiro deverá examinar a questão é o próprio árbitro. Veja as palavras da Ministra Nancy Andrighi sobre o tema: "A kompetenz-kompetenz (competência-competência)é um dos princípios basilares da arbitragem, que confere ao árbitro o poder de decidir sobre a sua própria competência, sendo condenável qualquer tentativa, das partes ou do juiz estatal, no sentido de alterar essa realidade. Em outras palavras, no embate com as autoridades judiciais, deterá o árbitro preferência na análise da questão, sendo dele o benefício da dúvida. Dessa forma, a resolução de questões litigiosas fica a cargo do árbitro e, para isso, não exige a lei que o ato jurídico seja válido ou imune a nulidades ou causas supervenientes de ineficácia, como se defende na espécie. Ao contrário, a questão litigiosa pode ser justamente a ineficácia do ato jurídico. Nessas circunstâncias, a jurisdição arbitral não se desloca, pois legalmente é o árbitro quem detém competência para dirimir essas matérias assim como para decidir sobre sua própria competência. Essa prioridade não apenas se perfila com os princípios que circundam o instituto da arbitragem e com a sistemática introduzida pela Lei nº 9.703/96, que se censuram atos de protelação ou afastamento do rito arbitral, como também assegura a proposta de tornar o procedimento, uma vez eleito pelas partes, uma alternativa segura e incontornável de resolução de conflitos, limitando a atuação do Poder Judiciário à execução da sentença arbitral." (MC 14.295/SP, DJe 13/06/2008). Vale ressaltar que não haverá prejuízo à parte porque, mesmo se o árbitro considerar que a cláusula é válida (e julgar a arbitragem), essa questão da nulidade poderá ser apreciada pelo Poder Judiciário em momento posterior. Isso porque, para fazer cumprir a sentença arbitral, o credor terá que ajuizar uma execução judicial. Nesse momento, o devedor poderá se defender por meio de embargos à execução Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9 alegando a nulidade da cláusula arbitral e, consequentemente, da sentença arbitral. Nesse sentido é a jurisprudência do STJ: Segundo a Lei de Arbitragem (art. 8º, parágrafo único, da Lei nº 9.307/96), se a parte quiser arguir a nulidade da cláusula arbitral, deverá formular esse pedido, em primeiro lugar, ao próprio árbitro, sendo inadmissível que ajuíze diretamente ação anulatória. STJ. 3ª Turma. REsp 1.302.900-MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 9/10/2012. As questões relacionadas à existência de cláusula compromissória válida para fundamentar a instauração do Juízo arbitral devem ser resolvidas, com primazia, por ele, e não pelo Poder Judiciário. Nos termos do art. 8º, parágrafo único, da Lei de Arbitragem, a alegação de nulidade da cláusula arbitral, bem como do contrato que a contém, deve ser submetida, em primeiro lugar, à decisão do próprio árbitro, sendo prematura a apreciação pelo Poder Judiciário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.696-PI, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 09/08/2016. EXCEÇÃO: O STJ relativizou esta regra e decidiu que se a nulidade da cláusula compromissória for muito evidente, será possível ao Poder Judiciário declarar a sua invalidade mesmo sem que este pedido tenha sido formulado, em primeiro lugar, ao próprio árbitro. Veja trecho da ementa e fique atento para a expressão "compromisso arbitral patológico", que poderá ser cobrada em sua prova: O Poder Judiciário pode, nos casos em que prima facie é identificado um compromisso arbitral "patológico", isto é, claramente ilegal, declarar a nulidade dessa cláusula, independentemente do estado em que se encontre o procedimento arbitral. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). Trata-se de exceção à regra geral de prioridade do Juízo arbitral. ARBITRAGEM Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia deverá ser observado o art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96 Importante!!! A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim, é um contrato de adesão. Segundo o art. 4º, § 2º da Lei nº 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente: • tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou • concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. Assim, é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de franquia, desde que observados os requisitos do art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). Veja comentários em Direito Empresarial. Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10 DIREITO DE VIZINHANÇA Construção em terreno alheio de aqueduto para passagem de águas O proprietário de imóvel tem direito de construir aqueduto no terreno do seu vizinho, independentemente do consentimento deste, para receber águas provenientes de outro imóvel, desde que não existam outros meios de passagem de águas para a sua propriedade e haja o pagamento de prévia indenização ao vizinho prejudicado. Trata-se de direito de vizinhança assegurado pelo art. 1.293 do Código Civil. STJ. 3ª Turma. REsp 1.616.038-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/9/2016 (Info 591). Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa agropecuária 1 é vizinha da empresa agropecuária 2, cada uma ocupando uma fazenda. Do lado esquerdo da empresa 1 existe um açude (represa) e do lado direito fica a empresa 2. A empresa 2 precisa de água para fazer a irrigação da lavoura de arroz em sua propriedade. Ocorre que o único local com água disponível na região é o referido açude. A empresa 2 entrou em contato com a empresa 1 pedindo para construir um aqueduto que liga a represa até a sua propriedade. Para isso, seria necessário que alguns canos passassem pelo subsolo da empresa 1, sendo, portanto, oferecida uma indenização por conta disso. A empresa 2 não concordou. Diante disso, a empresa 2 ajuizou ação pedindo que a empresa 1 fosse condenada a tolerar a passagem da água por meio de aqueduto, mediante indenização a ser arbitrada pelo juiz. Na petição inicial, a requerente demonstrou que este é o único meio de obter água para a sua propriedade. Veja na imagem abaixo o que a autora pediu na ação: O pedido da empresa 2 é amparado pelo ordenamento jurídico? SIM. O proprietário de imóvel tem direito de construir aqueduto no terreno do seu vizinho, independentemente do consentimento deste, para receber águas provenientes de outro imóvel, desde que não existam outros meios de passagem de águas para a sua propriedade e haja o pagamento de prévia indenização ao vizinho prejudicado. STJ. 3ª Turma. REsp 1.616.038-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/9/2016 (Info 591). Direito de propriedade e sua função social O direito de propriedade, sob a ótica civilista e constitucional moderna, deve atender a sua função social, não consistindo mais, como anteriormente, em um direito absoluto e ilimitado. Assim, o direito de propriedade está limitado por outros direitos de terceiros igualmente protegidos pelo Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11 ordenamento jurídico. Direitos de vizinhança como limitações aos direitos de propriedade O direito de propriedade pode ser limitado, por exemplo, pelos chamados direitos de vizinhança. Direitos de vizinhança são restrições impostas pela lei ao exercício da propriedade com o objetivo de assegurar uma convivência harmoniosa entre os donos e ocupantes de imóveis vizinhos. Desse modo, o direito de vizinhançaé o conjunto de regras que o legislador previu para resolver conflitos entre proprietários de prédios vizinhos, o que se mostra extremamente comum. Vale ressaltar que os direitos de vizinhança não se aplicam apenas para imóveis contíguos, ou seja, que estão lado a lado. Algumas vezes eles poderão incidir para resolver conflitos entre prédios que estão próximos, mas não são colados. Os direitos de vizinhança estão regulamentados pelos arts. 1.277 a 1.313 do Código Civil. Direito de vizinhança é diferente de servidão DIREITOS DE VIZINHANÇA SERVIDÕES Surgem da lei (são impostos pela lei). Constituem-se por meio de: a) declaração expressa do proprietário; b) testamento; ou c) usucapião. Possuem natureza de limitações legais ao exercício do direito de propriedade. Possuem natureza de direito real sobre coisa alheia. Não necessitam de um título constitutivo nem precisam ser registrados em cartório. Só se formam se o título constitutivo (acordo) for registrado no Registro de Imóveis. As limitações são impostas reciprocamente, ou seja, tanto um vizinho como o outro deverão respeitar os direitos de vizinhança. Existe um prédio dominante e um serviente. Apenas o dono do prédio dominante tira utilidade do prédio serviente. Têm por objetivo evitar um dano ao proprietário do prédio prejudicado. A utilização de parte da propriedade alheia é essencial para que o titular do prédio vizinho possa aproveitar o seu imóvel. Não há uma necessidade imperativa. inafastável, essencial. As servidões têm por objetivo conceder uma maior facilidade (utilidade) ao prédio dominante. Direito à água O direito às águas e a seu curso e transporte é matéria de inegável importância para a sobrevivência das pessoas, dos animais e também para a indústria, especialmente a agrícola. Pensando nisso, o Código Civil trouxe um artigo tratando sobre o assunto e que ampara a pretensão da empresa autora. Confira: Art. 1.293. É permitido a quem quer que seja, mediante prévia indenização aos proprietários prejudicados, construir canais, através de prédios alheios, para receber as águas a que tenha direito, indispensáveis às primeiras necessidades da vida, e, desde que não cause prejuízo considerável à agricultura e à indústria, bem como para o escoamento de águas supérfluas ou acumuladas, ou a drenagem de terrenos. § 1º Ao proprietário prejudicado, em tal caso, também assiste direito a ressarcimento pelos danos que de futuro lhe advenham da infiltração ou irrupção das águas, bem como da deterioração das obras destinadas a canalizá-las. § 2º O proprietário prejudicado poderá exigir que seja subterrânea a canalização que atravessa áreas edificadas, pátios, hortas, jardins ou quintais. § 3º O aqueduto será construído de maneira que cause o menor prejuízo aos proprietários dos imóveis vizinhos, e a expensas do seu dono, a quem incumbem também as despesas de conservação. Desse modo, o direito à água, sob a ótica do Direito Civil, é um direito de vizinhança. A legislação garante aos proprietários de imóveis que não sejam abastecidos por água o direito ao aproveitamento dessa riqueza natural, nas condições do artigo acima transcrito. Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12 Nesse sentido é a interpretação da doutrina: “(...) a passagem por terreno alheio do aqueduto é permitida pela lei e independe do consentimento do vizinho; trata-se de imposição legal que atende ao interesse social e na qual só se especifica uma indenização para evitar que seja sacrificada a propriedade individual.” (WALD, Arnoldo. Direito das Coisas. 9ª ed. São Paulo: RT, 1993, p. 165). A obrigatoriedade da sujeição ao direito do vizinho às águas é também ressaltada pelo art. 1.294 do CC, que prevê a aplicação ao aqueduto das regras da passagem de cabos e tubulações, a qual é obrigatória, conforme as regras dos arts. 1.286 e 1.287 do CC. Este deverá ser o único meio de obter água Para que seja garantido o direito previsto no art. 1.293 do CC, é fundamental que o titular do imóvel não tenha outro meio de acesso às águas. Se houver outra forma viável, não deve ser reconhecido este direito de vizinhança, pois, neste caso, a passagem do aqueduto seria uma mera "utilidade". Vimos acima nas distinções entre direito de vizinhança e servidão, que se a situação representar mera utilidade, estaremos diante de servidão, o que exigiria o consentimento do titular do prédio serviente, nos termos do art. 1.378 do CC. No exemplo dado, a construção do aqueduto atravessando o imóvel da ré era o único meio pelo qual a primeira empresa poderia ter acesso à água, o qual é imprescindível para a irrigação do plantio de arroz. Diante disso, constata-se que, de fato, trata-se de direito de vizinhança, inerente à propriedade de imóveis vizinhos, cuja única exigência para exercício é o pagamento de prévia indenização. DIREITO DO CONSUMIDOR CONCEITO DE CONSUMIDOR É inaplicável o CDC ao contrato de franquia A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está sujeito às regras protetivas previstas no CDC. A relação entre o franqueador e o franqueado não é uma relação de consumo, mas sim de fomento econômico com o objetivo de estimular as atividades empresariais do franqueado. O franqueado não é consumidor de produtos ou serviços da franqueadora, mas sim a pessoa que os comercializa junto a terceiros, estes sim, os destinatários finais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). Contrato de franquia A franquia é um contrato por meio do qual uma empresa (franqueador) transfere a outra (franqueado) o direito de usar a sua marca ou patente e de comercializar seus produtos ou serviços, podendo, ainda, haver a transferência de conhecimentos do franqueador para o franqueado. O contrato de franquia está regido pela Lei nº 8.955/94, que conceitua esse pacto nos seguintes termos: Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício. Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13 O contrato firmado entre o franqueado e o franqueador é regido pelo Código de Defesa do Consumidor? O franqueado poderá invocar o CDC para discutir seus direitos em relação ao franqueador? NÃO. A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está sujeito às regras protetivas previstas no CDC. A relação entre o franqueador e o franqueado não é uma relação de consumo, mas sim de fomento econômico com o objetivo de estimular as atividades empresariais do franqueado. O franqueado não é consumidor de produtos ou serviços da franqueadora, mas sim a pessoa que os comercializa junto a terceiros, estes sim, os destinatários finais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). PROTEÇÃO CONTRATUAL É válido o desconto de pontualidade presente em contratos de serviços educacionais Importante!!! O denominado "desconto de pontualidade", concedido pela instituição de ensino aos alunos que efetuarem o pagamento das mensalidades até a data do vencimento ajustada, não configura prática comercial abusiva. STJ. 3ª Turma. REsp 1.424.814-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 4/10/2016 (Info 591). Obs: sobre este tema, importante reler o REsp832.293-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/8/2015 (Info 572) que traz um entendimento ligeiramente diferente em determinado aspecto. Imagine a seguinte situação hipotética: Centro Educacional "Bom Saber" é uma escola de ensino fundamental e médio. O valor da mensalidade é R$ 1.000,00. No entanto, para quem paga até a data do vencimento, a instituição confere um desconto e a prestação cai para R$ 900,00. E se a pessoa pagar depois da data do vencimento, ou seja, com atraso? Neste caso, haverá multa moratória de 2% sobre o valor "cheio" da mensalidade, ou seja, multa de 2% de 1.000 = R$ 20,00. Recapitulando: Valor da mensalidade = 1.000 Valor se pagar até a data do vencimento = 900 Valor se pagar depois da data do vencimento 1.020 (mais juros). ACP proposta pelo MP O Ministério Público ajuizou ação civil pública contra o colégio afirmando que este "desconto de pontualidade" concedido, na verdade, seria uma multa camuflada. O raciocínio do MP foi o seguinte: o valor "real" da mensalidade é R$ 900. Se a pessoa se atrasa, ela pagará R$ 1.020, ou seja, uma "multa disfarçada" de R$ 120,00, que equivale a 13,33% de 900. Logo, para o Parquet, a intenção da escola é cobrar uma mensalidade de R$ 900,00 e uma multa de 13,33%. Esta conduta seria, portanto, ilegal considerando que seria uma forma de burlar a proibição contida no § 1º do art. 52 do CDC, que afirma que a multa não poderá ser superior a 2%: Art. 52 (...) § 1º - As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação . A tese defendida pelo MP foi acolhida pelo STJ? O chamado "desconto de pontualidade" deve ser Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14 considerado uma prática abusiva? NÃO. O denominado "desconto de pontualidade", concedido pela instituição de ensino aos alunos que efetuarem o pagamento das mensalidades até a data do vencimento ajustada, não configura prática comercial abusiva. STJ. 3ª Turma. REsp 1.424.814-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 4/10/2016 (Info 591). O "desconto de pontualidade", também chamado de "abono de pontualidade" possui uma característica em comum com a multa moratória: ambos têm por objetivo reforçar na parte contratante a vontade de cumprir a sua obrigação, ou seja, de pagar a mensalidade em dia. No entanto, apesar de terem este ponto de semelhança, não se pode dizer que o desconto de pontualidade seja uma multa disfarçada. A multa contratual tem um caráter coercitivo e punitivo. O desconto de pontualidade, por outro lado, possui natureza de prêmio, incentivando o contratante a realizar um comportamento positivo ("sanção premial"). É absolutamente possível a coexistência de sanções negativas e de sanções positivas em um contrato. Não há e nem poderia haver proibição nesse sentido, na medida em que tais disposições incitam justamente o cumprimento voluntário das obrigações contratuais assumidas. Para o STJ, a tese defendida pelo MP, além de desconsiderar as cláusulas que foram estipuladas pelas partes contratantes, propõe que o Estado, no âmbito de uma relação privada, estipule o "preço ideal" pelos serviços prestados pela instituição de ensino, como se possível fosse mensurar todas as variáveis mercadológicas que o empresário/fornecedor leva em conta para definir o preço de seus serviços, em indevida intervenção no domínio econômico. Além disso, o procedimento adotado pela escola, ao invés de representar onerosidade excessiva, consiste, na verdade, em benefício ao consumidor. A previsão do desconto de pontualidade estimula o cumprimento da obrigação avençada, o que vai ao encontro dos interesses de ambas as partes contratantes. De um lado, representa uma vantagem econômica ao consumidor que efetiva o pagamento tempestivamente (colocando-o em situação de destaque em relação ao consumidor que paga com atraso) e, em relação à instituição de ensino, propicia um adiantamento do valor a ser recebido. Proibir o "desconto de pontualidade" contribuiria para que houvesse uma elevação do preço das mensalidades escolares, considerando que aumentaria o risco de inadimplência das instituições de ensino. JULGADO DA 4ª TURMA UM POUCO DIFERENTE ENVOLVENDO CONTRATO DE LOCAÇÃO Sobre o tema "desconto de pontualidade", penso que é preciso relembrarmos um julgado do STJ de 2015 envolvendo contrato de locação. Explicarei abaixo. Imagine a seguinte situação hipotética: João é inquilino (locatário) de um apartamento pertencente a Pedro (locador). No contrato está previsto que o valor do aluguel é de R$ 1.200, mas se houver pagamento até o dia do vencimento, haverá um abatimento (desconto) e o valor é reduzido para R$ 1.000. A isso se chama de "bônus de pontualidade" ou "desconto de bonificação ". No contrato também é prevista multa de 10% em caso de atraso. Esse desconto de bonificação é válido? Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 SIM. Nos termos do art. 17 da Lei nº 8.245/91, as partes têm liberdade para convencionar o aluguel, prevalecendo o que elas contrataram, de acordo com seus interesses e necessidades, sendo vedada, apenas, a estipulação em moeda estrangeira e a vinculação à variação cambial ou ao salário mínimo. Desse modo, o desconto para pagamento pontual do aluguel (abono de pontualidade) é, em princípio, liberalidade do locador, em obediência ao princípio da livre contratação, representando um incentivo concedido ao locatário, caso venha a pagar o aluguel em data convencionada. Referido bônus tem, portanto, o objetivo de induzir o locatário a cumprir corretamente sua obrigação de maneira antecipada. João atrasou o pagamento. Surgiu, então, uma dúvida: o valor de 10% da multa deverá incidir sobre o valor cheio (R$ 1.200) ou sobre o valor com desconto (R$ 1.000)? Sobre o valor com desconto. Na hipótese em que, na data de vencimento, o valor do aluguel seja cobrado com incidência de desconto de bonificação, a multa prevista para o caso de atraso no pagamento deverá incidir sobre o valor do aluguel com o referido desconto. STJ. 4ª Turma. REsp 832.293-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/8/2015 (Info 572). A incidência da multa sobre o valor cheio somente seria permitida se o valor do desconto fosse para pagamentos em data anterior à do vencimento. Ex.: o vencimento é dia 05; para quem paga até o dia 05, o valor é R$ 2.000; no entanto, para quem paga até o dia 01, há um desconto e o aluguel será de R$ 1.700; a multa, contudo, somente incide se a pessoa pagar depois do dia 05 (data do vencimento); neste exemplo, o valor da multa poderia incidir sobre o valor cheio (R$ 2.000), isso porque aqui teríamos realmente um desconto para pagamentos antes do vencimento. Se, contudo, o desconto é para pagamentos dentro do vencimento, na verdade, o valor com desconto é o preço real do aluguel e, sobre ele é que deve incidir a multa. Desse modo, muito cuidado no momento da prova para ver como a questão será cobrada. Isso porque, neste novo julgado (REsp 1.424.814-SP), o STJ não mais exigiu que o desconto fosse apenas para quem pagou antes da data do vencimento. Mesmo quem pagar no dia do vencimento, terá direito ao abono, que continua sendo válido. PRÁTICA ABUSIVA Instituição não pode negar a matrícula inicial do aprovado no vestibular porque ele tem outros débitos anteriores relativos a outro curso Importante!!! Instituição de ensino superior não pode recusar a matrícula de aluno aprovado em vestibular em razão de inadimplência em curso diverso anteriormente frequentado por ele na mesma instituição. STJ. 2ª Turma. REsp 1.583.798-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2016 (Info 591). Imagine a seguintesituação hipotética: João era aluno do curso de Administração de Empresas da faculdade privada "Étude". Depois de estudar dois anos, ele começou a ter dificuldades financeiras para pagar o curso e o abandonou, ficando, contudo, com um débito de 4 mensalidades. Alguns meses depois, fez novo vestibular para a mesma faculdade e foi aprovado para o curso de Direito. Ao tentar fazer a sua matrícula, esta foi recusada pela instituição sob o argumento de que há um débito pendente do curso anterior e que precisa ser pago antes da inscrição no novo curso. Diante disso, João impetrou mandado de segurança contra o dirigente da faculdade particular afirmando Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16 que a presente recusa violou o Código de Defesa do Consumidor. Cabe mandado de segurança neste caso? De quem será a competência para julgar? Cabe mandado de segurança porque a conduta do dirigente de faculdade particular que indefere matrícula para curso superior é considerada como ato de autoridade, já que ele atua no exercício de função pública delegada da União (STJ. 2ª Turma. REsp 725.955/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 08/05/2007). A competência é da Justiça Federal neste caso, conforme se percebe pelo quadro-abaixo que resume a problemática segundo o entendimento do STJ: Instituição de ensino superior FEDERAL Instituição de ensino superior ESTADUAL/MUNICIPAL Instituição de ensino superior PARTICULAR MS ou outras ações: Justiça Federal. MS ou outras ações: Justiça Estadual. MS: Justiça Federal. Outras ações: Justiça Estadual. (...) A competência para o julgamento de causas relativas a instituição de ensino superior particular, nos casos que versem sobre questões privadas relacionadas ao contrato de prestação de serviços firmado entre a instituição de ensino superior e o aluno (por exemplo, inadimplemento de mensalidade, cobrança de taxas, matrícula), em se tratando de ação diversa à do mandado de segurança, é, via de regra, da Justiça comum, não havendo interesse da União no feito, o que afasta a sua legitimidade para figurar na ação. (...) STJ. 2ª Turma. REsp 1295790/PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 06/11/2012. O CDC pode ser aplicado na relação jurídica mantida entre aluno e instituição de ensino superior? SIM. O contrato de prestação de serviços educacionais está sujeito às disposições contidas no Código de Defesa do Consumidor - CDC. A prestação de serviços educacionais caracteriza-se como relação de consumo. O estudante é um consumidor de serviços educacionais. STJ. 3ª Turma. REsp 1155866/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/02/2015. Falando de forma abstrata, sem analisar ainda o caso concreto, é possível que a instituição de ensino particular se recuse a renovar a matrícula do aluno inadimplente? Ex: Pedro está devendo 4 mensalidades; a faculdade pode se recusar a matriculá-lo no período seguinte caso ele não pague? SIM. O tema é tratado pelos arts. 5º e 6º da Lei nº 9.870/99 e as regras podem ser assim resumidas: Os alunos já matriculados possuem, em regra, direito à renovação das matrículas, observado o calendário escolar da instituição, o regimento da escola e as cláusulas contratuais; Os alunos que estejam inadimplentes há mais de 90 dias estão sujeitos a sanções legais e administrativas e podem ser desligados. Contudo, esse desligamento por inadimplência somente pode ocorrer ao final do ano letivo ou, no caso de ensino superior, ao final do semestre letivo quando a instituição adotar o regime didático semestral. Assim, o aluno inadimplente não pode ser desligado durante o período de aulas. Se a inadimplência for maior que 90 dias, a instituição tem o direito de se recusar a renovar sua matrícula para o semestre ou ano seguinte. O que a instituição financeira não pode fazer com o aluno inadimplente: proibir que ele faça provas; reter seus documentos escolares; aplicar quaisquer outras penalidades pedagógicas por motivo de inadimplemento. Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17 Os estabelecimentos de ensino fundamental, médio e superior deverão expedir, a qualquer tempo, os documentos de transferência de seus alunos, independentemente de sua adimplência ou da adoção de procedimentos legais de cobranças judiciais (art. 6º, § 2º da Lei nº 9.870/99). Veja julgado do STJ sobre o tema: 4. O aluno, ao matricular-se em instituição de ensino privado, firma contrato oneroso, pelo qual se obriga ao pagamento das mensalidades como contraprestação ao serviço recebido. 5. O atraso no pagamento não autoriza aplicarem-se ao aluno sanções que se consubstanciem em descumprimento do contrato por parte da entidade de ensino (art. 5º da Lei 9.870/99), mas a entidade está autorizada a não renovar a matrícula se o atraso é superior a noventa dias, mesmo que seja de uma mensalidade apenas. (...) STJ. 2ª Turma. REsp 725.955/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 08/05/2007. Voltando ao exemplo hipotético dado no início. A instituição agiu corretamente ao negar a matrícula de João no curso de Direito considerando que sua inadimplência quanto às mensalidades do curso de Administração era superior a 90 dias? NÃO. Neste exemplo, não se está falando em renovação de matrícula, mas sim na constituição de uma nova relação jurídica, ainda que na mesma instituição de ensino. Logo, não se aplicam os arts. 5º e 6º da Lei nº 9.870/99, uma vez que tais dispositivos tratam apenas de renovação de matrícula, ou seja, do caso da pessoa que já está no curso, deixa de pagar e, por isso, pode ser impedida de renovar sua matrícula para o semestre seguinte. Não se mostra razoável que se faça uma interpretação extensiva dos arts. 5º e 6º de modo a prejudicar o consumidor, em especial aquele que almeja a inserção no ambiente acadêmico. Assim, a conduta da instituição de negar a matrícula inicial do aprovado no vestibular porque ele tem outros débitos anteriores, relativos a outro curso, não tem respaldo legal. A eventual cobrança de valores em aberto poderá ser realizada, porém pelos meios legais ordinários, não se admitindo a pretendida negativa de matrícula. Resumindo: Instituição de ensino superior não pode recusar a matrícula de aluno aprovado em vestibular em razão de inadimplência em curso diverso anteriormente frequentado por ele na mesma instituição. STJ. 2ª Turma. REsp 1.583.798-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2016 (Info 591). PROTEÇÃO EM JUÍZO Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que fornecedor preste informações ao consumidor sobre produtos com glúten Como regra, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar constituída há pelo menos 1 ano. Exceção. Este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei nº 7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada. Como exemplo da situação descrita no § 4º do art. 5º, o STJ decidiu que: É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para associação ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos. Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 STJ. 2ª Turma. REsp 1.600.172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591). Vide comentários em Direito Processual Civil.DIREITO EMPRESARIAL FRANQUIA Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia deverá ser observado o art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96 Importante!!! A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim, é um contrato de adesão. Segundo o art. 4º, § 2º da Lei nº 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente: • tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou • concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. Assim, é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de franquia, desde que observados os requisitos do art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). CONTRATO DE FRANQUIA A franquia é um contrato por meio do qual uma empresa (franqueador) transfere a outra (franqueado) o direito de usar a sua marca ou patente e de comercializar seus produtos ou serviços, podendo, ainda, haver a transferência de conhecimentos do franqueador para o franqueado. O contrato de franquia está regido pela Lei nº 8.955/94, que conceitua esse pacto nos seguintes termos: Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício. O contrato firmado entre o franqueado e o franqueador é regido pelo Código de Defesa do Consumidor? O franqueado poderá invocar o CDC para discutir seus direitos em relação ao franqueador? NÃO. A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está sujeito às regras protetivas previstas no CDC. A relação entre o franqueador e o franqueado não é uma relação de consumo, mas sim de fomento econômico com o objetivo de estimular as atividades empresariais do franqueado. O franqueado não é consumidor de produtos ou serviços da franqueadora, mas sim a pessoa que os Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19 comercializa junto a terceiros, estes sim, os destinatários finais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). O contrato de franquia é um contrato de adesão? SIM. O contrato de franquia é um contrato de adesão. "Caracterizam-se os contratos de adesão pela desigualdade entre as partes contratantes: basicamente, uma das partes, o policitante, impõe à outra – o oblato – as condições e cláusulas que previamente redigiu. Não existe, assim, discussão a respeito do teor do contrato e suas cláusulas, de modo que o oblato cinge-se a anuir à proposta do policitante. Tais contratos supõem, antes de mais nada, a superioridade econômica de um dos contratantes, que fixa unilateralmente as cláusulas contratuais; o contratante economicamente mais fraco manifesta seu consentimento aceitando, pura e simplesmente, as condições gerais impostas pelo outro contratante; a proposta é, de regra, aberta a quem se interessar pela contratação; e a oferta é predeterminada, uniforme e rígida." (CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentário à Lei nº 9.307/96. São Paulo: Atlas, 3ª ed., 2009, p. 106) Mas o contrato de franquia não é um contrato de consumo... Não importa. Essa confusão, aliás, é um erro comum em muitos estudantes. Nem todo contrato de adesão é um contrato de consumo e nem todo contrato de consumo é de adesão. São conceitos diferentes. Portanto, o contrato de franquia não é um contrato de consumo, mas, mesmo assim, é um contrato de adesão. CLÁUSULA ARBITRAL NO CONTRATO DE FRANQUIA Em que consiste a arbitragem? Arbitragem representa uma técnica de solução de conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que a solução de seu litígio seja decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. Vale ressaltar que a arbitragem é uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual o conflito é resolvido por um terceiro. Regulamentação A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei n. 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC versando sobre o tema. Em que consiste a chamada cláusula compromissória? A cláusula compromissória, também chamada de cláusula arbitral, é... - uma cláusula prevista no contrato, - de forma prévia e abstrata, - por meio da qual as partes estipulam que - qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato - será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal). Exemplo: "Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura surgirem na interpretação ou execução deste contrato serão resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96 e o Código de Processo Civil brasileiro (este aplicado de forma apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da Câmara de Arbitragem)." A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei n. 9.307/96: Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20 A cláusula compromissória é válida? REGRA: a cláusula compromissória é VÁLIDA. Peculiaridade 1: contratos de ADESÃO Peculiaridade 2: contratos de CONSUMO Peculiaridade 3: Dissídios individuais de TRABALHO É válida, desde que o aderente: • tenha tomado a iniciativa de instituir a arbitragem; ou • concorde, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula (art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96). Não é válida. O CDC estipula que é nula de pleno direito a cláusula que determina a utilização compulsória de arbitragem (art. 51, VII). Vale ressaltar, no entanto, que é possível compromisso arbitral nas relações de consumo (REsp 1.169.841-RJ). Não é válida arbitragem nos dissídios individuais de trabalho, conforme entendimento pacífico do TST. Obs: é permitida a arbitragem no caso de dissídios coletivos de trabalho (art. 114, § 1º da CF/88). É possível a previsão de cláusula compromissória em contratos de franquia? O contrato de franquia é uma espécie de contrato de adesão. Assim, só será válida cláusula compromissória em contrato de franquia se o aderente (franqueado): tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. Desse modo, aplica-se ao contrato de franquia a regra prevista no § 2º do art. 4º da Lei n. 9.307/96: § 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art.4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. RECUPERAÇÃO JUDICIAL Vinculação de todos os credores à determinação de plano de recuperação judicial aprovado por maioria pela assembleia geral de credores Se, no âmbito de Assembleia Geral de Credores, a maioria deles - devidamente representados pelas respectivas classes - optar, por meio de dispositivo expressamente consignado em plano de recuperação judicial, pela supressão de todas as garantias fidejussórias e reais existentes em nome dos credores na data da aprovação do plano, todos eles - inclusive os que não compareceram à Assembleia ou os que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente à homologação do acordo - estarão indistintamente vinculados a essa determinação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/9/2016 (Info 591). RECUPERAÇÃO JUDICIAL A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21 um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência. FASES DA RECUPERAÇÃO De forma resumida, a recuperação judicial possui três fases: a) postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento; b) processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva; c) execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial. JUÍZO FALIMENTAR A Lei nº 11.101/2005, em seu art. 3º, prevê que é competente para deferir a recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual. PLANO DE RECUPERAÇÃO Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de recuperação em falência. Este plano deverá conter: discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50); demonstração de sua viabilidade econômica; e laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada. Os credores analisam o plano apresentado, que pode ser aprovado ou não pela assembleia geral de credores. Credores são avisados sobre o plano, podendo apresentar objeções Após o devedor apresentar o plano de recuperação, o juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do plano e fixando prazo para a manifestação de eventuais objeções. Desse modo, os credores serão chamados a analisar esse plano e, se não concordarem com algo, poderão apresentar objeção. O prazo para os credores apresentarem objeções é de 30 dias. Se não houver objeção dos credores Caso nenhum credor apresente objeção ao plano no prazo fixado, considera-se que houve aprovação tácita. Nessa hipótese, não será necessária a convocação de assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano. Se houver objeção por parte dos credores Havendo objeção de algum credor, o juiz deverá convocar a assembleia-geral de credores para que ela decida sobre o plano de recuperação apresentado. A assembleia-geral, após as discussões e esclarecimentos pertinentes, poderá: a) aprovar o plano sem ressalvas; b) aprovar o plano com alterações; c) não aprovar o plano. Se o plano não for aprovado: o juiz decreta a falência (salvo na hipótese do art. 58, § 1º). Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22 Se o plano for aprovado: o juiz homologa a aprovação e concede a recuperação judicial, iniciando-se a fase de execução. Atenção: no regime atual, o plano de recuperação é aprovado pelos credores e apenas homologado pelo juiz. APROVADO O PLANO, OCORRE A NOVAÇÃO DOS CRÉDITOS ANTERIORES AO PEDIDO A homologação do plano de recuperação judicial autoriza a retirada do nome da empresa recuperanda e dos seus respectivos sócios dos cadastros de inadimplentes, bem como a baixa de eventuais protestos existentes em nome destes? SIM. A Lei de Falências e Recuperação Judicial estabelece que o plano de recuperação judicial acarreta a novação dos créditos anteriores ao pedido: Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1º do art. 50 desta Lei. Qual é a consequência jurídica de haver a novação dos créditos? A novação ocorre, dentre outras hipóteses, quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior (art. 360, I, do CC). Desse modo, o que o art. 59 está afirmando é que, quando o plano de recuperação judicial é homologado, as dívidas que o devedor (recuperando) possuía com os credores são extintas e substituídas por outras novas obrigações. Como a novação induz a extinção da relação jurídica anterior, substituída por uma nova, não será mais possível falar em inadimplência do devedor com base na dívida extinta (Min. Nancy Andrighi). Diante disso, não se justifica a manutenção do nome da recuperanda ou de seus sócios em cadastros de inadimplentes em virtude da dívida novada. Assim, “a novação extingue a dívida anterior; estando o autor adimplente quanto ao novo débito, é ilícita a inscrição em órgãos de proteção ao crédito fundamentada em inadimplemento de parcela vencida anteriormente à novação” (AgRg no Ag 948.785/RS, 3ª Turma, Rel. Min. Ari Pargendler, DJe de 05.08.2008). Essa regra do art. 59 tem como norte a preocupação de recuperar a empresa em dificuldade financeira, atendendo ao chamado “princípio da preservação da empresa”. A novação decorrente da recuperação judicial implica a extinção de garantias que haviam sido prestadas aos credores? NÃO. A novação prevista no Código Civil extingue sim os acessórios e as garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário (art. 364). No entanto, na novação prevista no art. 59 da Lei nº 11.101/2005 ocorre justamente o contrário, ou seja, as garantias são mantidas, sobretudo as garantias reais, as quais só serão suprimidas ou substituídas “mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia”, por ocasião da alienação do bem gravado (art. 50, § 1º). Novação do CC: em regra, extingue as garantias prestadas. Novação da recuperação judicial: em regra, não extingue as garantias prestadas. Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele submetidas, as garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral. STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.888-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/4/2014 (Info 540). Exemplo: Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23 A sociedade GW Ltda. emitiu uma nota promissória em favor da empresa X. Gabriel (sócio da GW) figurou como avalista na nota promissória, ou seja, ele ofereceu uma garantia pessoal de pagamento da dívida. Ocorre que a sociedade GW Ltda. requereu recuperaçãojudicial e o plano foi aprovado. A empresa X ajuizou, então, execução de título extrajudicial cobrando de Gabriel o valor da nota promissória vencida. Gabriel defendeu-se alegando que, como foi aprovado o plano de recuperação judicial, houve novação e a execução deveria ser extinta. Este argumento não deverá ser acolhido. A homologação do plano de recuperação judicial da devedora principal não implica a extinção de execução de título extrajudicial ajuizada em face de sócio coobrigado. Conforme já explicado, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas anteriores, as garantias (reais ou fidejussórias), como regra, são preservadas. Logo, o aval (garantia) prestado por Gabriel não foi extinto com a aprovação do plano. Diante disso, o credor poderá exercer seus direitos contra Gabriel (terceiro garantidor), devendo, portanto, ser mantida a execução proposta contra ele. Qual é o fundamento legal para essa conclusão? O § 1º do art. 49 da Lei n. 11.101/2005: § 1º Os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso. O STJ reafirmou esse entendimento em recurso especial repetitivo, fixando a seguinte tese: A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei nº 11.101/2005. STJ. 2ª Seção. REsp 1333349/SP, Rel. Min.Luis Felipe Salomão, julgado em 26/11/2014. Na I Jornada de Direito Comercial do CJF/STJ já havia sido aprovado enunciado espelhando a posição: Enunciado 43: A suspensão das ações e execuções previstas no art. 6º da Lei n. 11.101/2005 não se estende aos coobrigados do devedor. O tema foi, inclusive, sumulado: Súmula 581-STJ: A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das ações e execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória. ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES PODERÁ DISPENSAR AS GARANTIAS PRESTADAS Vimos acima que, na novação da recuperação judicial, em regra, não haverá a extinção das garantias prestadas. Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele submetidas, as garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral. Indaga-se: a Assembleia Geral de Credores poderá dispensar as garantias que haviam sido prestadas por terceiros? SIM. Na deliberação do plano de recuperação os credores negociam com a empresa devedora e decidem a extensão de esforços e renúncias que estão dispostos a suportar, no intento de reduzir os prejuízos que se avizinham. Apesar disso não ser exigido pela lei, os credores poderão decidir dispensar as garantias real e fidejussórias se assim entenderem pertinente. Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24 Esta decisão da Assembleia vincula também os credores que não estavam presentes? SIM. Essa deliberação atinge a todos os credores, inclusive os que não compareceram à Assembleia ou os que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente à homologação do acordo. Todos eles, indistintamente, estarão vinculados a essa determinação. Nesse sentido é também a opinião da doutrina: "Em princípio, todos os credores anteriores ao pedido de recuperação judicial estão sujeitos aos efeitos do plano de recuperação aprovado em juízo. Mesmo os que haviam se oposto ao plano e votado por sua rejeição devem se curvar à decisão judicial respaldada na maioria dos credores. Não tem outra alternativa. Se no plano aprovado em juízo é prevista a substituição de determinada garantia real por outra de menor valor, o credor atingido simplesmente não tem meios para se opor ao mérito dessa medida, por mais que considere seus interesses injustamente sacrificados." (COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à Lei de Falências e de Recuperação de Empresas. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 236) Se, no âmbito de Assembleia Geral de Credores, a maioria deles - devidamente representados pelas respectivas classes - optar, por meio de dispositivo expressamente consignado em plano de recuperação judicial, pela supressão de todas as garantias fidejussórias e reais existentes em nome dos credores na data da aprovação do plano, todos eles - inclusive os que não compareceram à Assembleia ou os que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente à homologação do acordo - estarão indistintamente vinculados a essa determinação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/9/2016 (Info 591). É possível, em tese, que o Poder Judiciário faça o controle de legalidade do plano de recuperação judicial aprovado pela assembleia geral de credores? SIM. Afigura-se absolutamente possível que o Poder Judiciário, sem imiscuir-se na análise da viabilidade econômica da empresa em crise, promova controle de legalidade do plano de recuperação judicial. Esse controle de legalidade do plano de recuperação não significa a desconsideração da soberania da assembleia geral de credores. À assembleia geral de credores compete analisar, a um só tempo, a viabilidade econômica da empresa, assim como da consecução da proposta apresentada. Ao Poder Judiciário, por sua vez, incumbe velar pela validade das manifestações expendidas, e, naturalmente, preservar os efeitos legais das normas que se revelarem cogentes. STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/9/2016 (Info 591). ECA INTERNAÇÃO Quando o art. 122, II, do ECA prevê que o adolescente deverá ser internado em caso "reiteração no cometimento de outras infrações graves" não se exige um número mínimo O ECA não estipulou um número mínimo de atos infracionais graves para justificar a internação do menor infrator com fulcro no art. 122, II, do ECA (reiteração no cometimento de outras infrações graves). Logo, cabe ao magistrado analisar as peculiaridades de cada caso e as condições específicas do adolescente a fim de aplicar ou não a internação. A depender das particularidades e circunstâncias do caso concreto, pode ser aplicada, com fundamento no art. 122, II, do ECA, medida de internação ao adolescente infrator que antes Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25 tenha cometido apenas uma outra infração grave. Está superado o entendimento de que a internação com base nesse dispositivo somente seria permitida com a prática de no mínimo 3 infrações. STF. 1ª Turma. HC 94447, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 12/04/2011. STJ. 5ª Turma. HC 332.440/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2015. STJ. 6ª Turma. HC 347.434-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 27/9/2016 (Info 591). Quais são as medidas socioeducativas que implicam privação de liberdade? • Semiliberdade; • Internação. Semiliberdade (art. 120 do ECA) Pelo regime da semiliberdade, o adolescente realiza atividades externas durante o dia, sob supervisão de equipe multidisciplinar, e fica recolhido à noite. O regime de semiliberdade pode ser determinado como medida inicial imposta pelo juiz ao adolescente infrator, ou como forma de transição para o
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