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No texto recomendações aos médicos que exercem a psicanálise

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No texto recomendações aos médicos que exercem a psicanálise
1. No texto recomendações aos médicos que exercem a psicanálise, Freud descreve vários problema que defrontam o analista, tais como recordar nomes e fatos que ocorrem com seus pacientes no decorrer de anos, dada a quantidade de pacientes que um analista pode atender por dia ou mês, o que exige um grande esforço da memória afim de que não confunda com material semelhante relatado. Para isto, Freud sugere a técnica da ‘atenção uniformemente flutuante’ que consiste em não dirigir atenção para algo especifico. A regra de prestar igual atenção a tudo que lhe for relatado condiz com que o paciente não tenha receio, critica e seleção de seu próprio relato. O analista deve apenas escutar e não se preocupar se está se lembrando de alguma coisa, esse material poderá ser acessado a nível consciente do analista quando o mesmo for coerente com o material relatado. <br />Não é recomendável a transcrição integral dos registros, é aconselhado tomar nota de datas, conteúdo de sonhos, ou eventos específicos, que podem ser desligados de seu contexto. Freud anota os exemplos e notas que acha importante depois do trabalho e dá uma importância maior aos sonhos, ele pede para que os pacientes repitam os sonhos relatados afim de que possa fixá-los na mente. <br />Freud justifica a utilizar as anotações literais nos casos de um estudo cientifico do caso. Afirma também que não é bom trabalhar num cientificamente num caso durante o tratamento. É necessário que o paciente relate tudo que lembrar em sua mente, e deve impedir todas as objeções lógicas e afetivas e leva-o a fazer uma seleção do material relatado. O analista deve reconstruir os derivados do inconsciente do paciente que lhes são relatado. Para tal, o analista não deve tolerar qualquer resistência que façam com que o relato do paciente também seja encoberto pelo inconsciente do analista. Freud diz que para que alguém possa se tornar psicanalista é necessário que seja primeiramente analisado por alguém com conhecimento técnico.<br />Freud apresenta algumas regras que serviram como transição da atitude do analista para o paciente. O método da sugestão e muito pouco utilizada pela psicanálise, as individualidades dos psicanalistas não devem entrar no debate durante a analise. No sentido de que tais atitudes podem levar o paciente a dificuldade de manter o vinculo transferencial com o analista, é necessário que o analista mostre-se opaco ao paciente como um espelho, pois o intuito da analise é fazer com que o paciente consiga atravessar suas resistências e acessar os seus derivados inconscientes. O psicanalista deve controlar-se e guiar-se pelas capacidades do paciente em vez de por seus próprios desejos.<br />É errado determinar tarefas ao paciente, tais como coligir suas lembranças ou pensar sobre um período específico de sua vida. Freud diz não gostar de utilizar dos textos psicanalíticos como assistência aos pacientes, exige que apreendam por experiência pessoal garantindo assim um conhecimento mais amplo e valioso que a leitura de textos psicanalíticos poderiam transmitir-lhes.<br />Ao final do texto Freud apresenta-se esperançoso quanto a experiência crescente da psicanalise e por outro lado apresenta-se descrente ao tratamento individual com parentes. <br />
"Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise" (S. Freud, in Obras Completas, VOL XII, 1912)
No texto em tela, Freud tece recomendações acerca do método psicanalítico direcionadas à manutenção da escuta psicanalítica, da atenção flutuante.  
a.     Freud aponta a necessidade, por parte do analista, de recordar os relatos pronunciados por cada paciente. Ele esclarece que, com a técnica da atenção flutuante, o analista não precisa tomar notas durante a sessão. “(…) escutar e não se preocupar em anotar alguma coisa”. Em outras palavras, tratar-se-ia de uma contrapartida à associação livre feita pelo analisando, na medida em que o analista, ao não tentar compreender e lembrar, estaria lançando mão da sua “memória inconsciente”.
b.       No mesmo sentido, há a recomendação de não tomar notas no decorrer da sessão. A ação de tomar notas seria uma forma de seleção sobre aquilo que é trazido pelo paciente, isto é, seria uma forma de fixar mais ou menos atenção sobre esse ou aquele elemento da associação livre, o que se oporia à ideia da escuta despreocupada quanto à lembrança ou não de alguma associação trazida pelo paciente.
c.      Também quanto à possibilidade de tomar notas, ainda que para fins científicos, Freud descarta a possibilidade de fazê-las durante a sessão sem que isso prejudicasse a atenção flutuante. Assim, essas anotações poderiam ser feitas após a sessão. Falando novamente sobre a construção científica em cima de um caso, Freud aconselha que estes sejam trabalhados cientificamente apenas após o seu encerramento, visto que “(…) são mais bem sucedidos os casos em que agimos sem propósito, surpreendendo-nos a cada virada, e que abordamos sempre de modo desapercebido e sem pressupostos (…) não  especular e nem cogitar enquanto analisa”.     Freud empreende, então, uma analogia entre o trabalho do terapeuta e o trabalho de um cirurgião. O cirurgião, assim como o analista, deve deixar todos os seus afetos de lado de forma que esteja em jogo, no momento da cirurgia, apenas a operação, que deve ser realizada da melhor forma possível. Assim, a “ambição terapêutica”, a ambição de curar, seria o mais perigoso sentimento para o psicanalista. Destarte, o analista não deve se ater às expectativas, ao reconhecimento, ao retraimento perante as críticas. Esses afetos apenas trabalhariam em desfavor do paciente, assim como em uma cirurgia.
f.       Nesse item, Freud novamente pontua a atenção flutuante do analista como contrapartida à regra fundamental da psicanálise: a associação livre. Aqui é feita a analogia com a comunicação via telefone: as ondas sonoras emitidas são transformadas pelo aparelho em oscilações elétricas, que são novamente revertidas em ondas sonoras pelo receptor. O analista, assim como o receptor, posiciona o inconsciente (ondas sonoras) a partir da associação livre (oscilações elétricas). “(…) ele [o analista] deve voltar o seu inconsciente, como órgão receptor, para o inconsciente do emissor do doente, colocar-se ante o analisando como o receptor em relação ao microfone.” Todavia, Freud ressalta que o analista, para tanto, não pode ter em si resistências que o impeçam de entrar em contato com aquilo que fora percebido por seu inconsciente. As resistências do analista se caracterizariam, pois, como uma outra forma de seleção e distorção do material do paciente. Como solução para esse problema é prescrita a necessidade de que o analista se submeta também a uma análise (a não ser que se trate daqueles que conseguem analisar seus próprios sonhos, isto é, realizar a autoanálise). O risco da dispensa da autoanálise ou da análise por parte do analista residiria na possibilidade de uma projeção na ciência das peculiaridades de sua pessoa, o que poderia enviesar a sua percepção e interpretação.
g.       Outra ressalva colocada diz respeito à transferência. O analista não deveria trocar confidências e relatar sobre a sua vida, suas intimidades e seus conflitos mentais com o paciente. Freud reconhece que esse comportamento poderia ser eficaz para que o paciente contasse aquilo que ele próprio já sabe (aquilo que é da ordem da consciência), mas dificultaria o desvelamento do que resta inconsciente. Essa técnica de compartilhamento afetiva apenas faria com que o paciente tivesse ainda mais problemas na superação das suas resistências e poderia fazer com que o paciente tentasse inverter a relação analista-paciente, creditando mais interesse à vida do analista que a sua própria. “O médico deve ser opaco para o analisando, e, tal como um espelho, não mostrar senão o que lhe é mostrado”.
h.     Tão pouco o médico deveria repousar sobre o paciente ambições pedagógicas, assim como não deveria operar com a ambição terapêutica, poisdeve respeitar as limitações do doente, colocando as capacidades do mesmo sempre a frente do seu próprio desejo.
i.         Por fim, é feita a ressalva acerca de uma colaboração intelectual do paciente. Freud aponta que a leitura de textos sobre a psicanálise não deveria ser proposta pelo analista, na medida em que o próprio analisando precisaria traçar seu próprio caminho na análise, sem recorrer em demasia à teorização. A eficácia da análise seria advento do respeito à regra psicanalítica e não do conhecimento teórico sobre a psicanálise.
É válido reiterar que Freud solidifica no texto em questão a atenção flutuante e a associação livre como pilares da prática psicanalítica e as recomendações traçadas convergem para a operacionalização das mesmas.

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