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1 2 AULA 4: A FASE DE PREDOMINÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL 3 INTRODUÇÃO 3 CONTEÚDO 4 A EVOLUÇÃO DA CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO 4 AS RELAÇÕES ENTRE O DIREITO CIVIL E O DIREITO CONSTITUCIONAL NO ÂMBITO DO CONSTITUCIONALISMO LIBERAL 9 CARACTERÍSTICAS E CRISE DO ESTADO LEGISLATIVO DE DIREITO 16 ATIVIDADE PROPOSTA 21 REFERÊNCIAS 22 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 22 CHAVES DE RESPOSTA 26 ATIVIDADE PROPOSTA 26 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 27 3 Introdução Certamente a expressão “constitucionalização do direito” congloba diferentes sentidos, cada qual com sua própria lógica jurídica indicando um determinado raciocínio que lhe é peculiar. No entanto, há, sem nenhuma dúvida, um traço comum em todos e que é a leitura axiológica da Constituição como parâmetro de aplicação de todos os ramos infraconstitucionais do direito. Trata-se de longo caminho percorrido pela interpretação constitucional até alcançar sua atual fase de constitucionalização do direito propriamente dita. É por isso que vamos estudar nesta e nas próximas aulas as diferentes etapas de desenvolvimento de tal caminho hermenêutico, desde a predominância cêntrica do Código Civil até a filtragem constitucional, passando-se antes pela fragmentação do direito infraconstitucional. Na presente aula, nosso desiderato acadêmico é investigar a fase inaugural do constitucionalismo democrático garantista, cuja dinâmica interpretativa acentuava bem a separação entre a Constituição e o Código Civil, daí a designação de mundos apartados para caracterizar esta primeira fase do fenômeno da constitucionalização do direito. Na sequência dos estudos, o conteúdo programático desta aula está focado no exame do chamado Estado legislativo de Direito, paradigma atrelado à eficácia de direitos negativos de defesa contra o Estado. Sendo assim, esta aula tem como objetivo: 4 1. Compreender o processo de constitucionalização do direito na sua primeira etapa, bem como analisar as características do Estado legislativo de Direito. Conteúdo A Evolução da Constitucionalização do Direito O grande objetivo acadêmico da aula que ora se inicia é compreender a primeira das três grandes fases de evolução do fenômeno da constitucionalização do direito. Na verdade, o que se pretende é examinar os fundamentos teóricos que informam, por um lado, a perda da posição hegemônica do Código Civil e, por outro, a reconfiguração da interpretação do direito infraconstitucional como 5 um todo, que até então se encontrava fragmentado, dividido, em desarmonia dogmática com a existência de universos legislativos que se contradiziam. Esta primeira fase corresponde à separação rígida entre o direito público e o direito privado. Para tanto, ao longo das próximas aulas, será necessário estudar os diferentes paradigmas de Estado de Direito e suas implicações nas três fases de evolução do fenômeno da constitucionalização do direito infraconstitucional, quais sejam: A fase inicial de hegemonia plena do Código Civil (Estado Liberal); A fase intermediária de formação de microssistemas jurídicos autônomos mediante legislação de emergência (transição do Estado Liberal para o Estado Social); e A fase final de predominância da perspectiva civil-constitucional, na qual o direito civil é reinterpretado à luz dos princípios da Constituição (Estado Neoconstitucional). Em essência, o ponto central a enfrentar aqui é a capacidade de associar as três fases de evolução do fenômeno da constitucionalização do direito citadas acima às diferentes concepções de Estado de Direito, desde a formação do estado liberal de direito, perpassando-se pelo estado social (welfare state), até, finamente, atingir-se o assim chamado estado pós-social de direito, que, aliás, é paradigma estatal da pós-modernidade, que a doutrina contemporânea ainda debate sob intenso nevoeiro conceitual. Com relação ao paradigma estatal da pós-modernidade, resta indubitável a fumaça científico-dogmática que atualmente permeia tal modelo, que ainda não se consolidou, daí o embate na doutrina jusinternacionalista envolvendo os seguintes arquétipos: 6 Estado pós-social de direito; Estado neoliberal de direito; Estado neoconstitucional de direito; Estado pós-moderno de direito; Estado pós-bipolar; Estado pós-americano; Estado universal de direito. Nesse sentido, precisa é a lição de Luís Roberto Barroso, in verbis: Planeta Terra. Início do século XXI. Ainda sem contato com outros mundos habitados. Entre a luz e sombra, descortina-se a pós- modernidade. O rótulo genérico abriga a mistura de estilos, a descrença no poder absoluto da razão, o desprestígio do Estado. A era da velocidade. A imagem acima do conteúdo. O efêmero e o volátil parecem derrotar o permanente e o essencial. Vive-se a angústia do que não pôde ser e a perplexidade de um tempo sem verdades seguras. Uma época aparentemente pós-tudo: pós- marxista, pós-kelseniana, pós-freudiana.1 De observar-se, portanto, que o Ministro Barroso não tardou a identificar o nevoeiro científico-filosófico que circunscreve o estado neoconstitucional de direito, um novo cenário que coloca de um lado o paradigma do estado neoliberal (que supostamente é o substituto do estado social de direito) e, do outro, a busca de um Estado universal de Direito que desloca para a sua centralidade a proteção dos direitos humanos em escala mundial. Isto significa dizer que há um conflito entre a retórica do Estado neoliberal de Direito e a busca da universalização dos direitos humanos, porque a 1 BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos teóricos e filosóficos do novo direito constitucional brasileiro (Pós-modernidade, teoria crítica e pós-positivismo). In: A nova interpretação constitucional. Ponderação Direitos fundamentais e Relações Privadas. Organizado por Luís Roberto Barroso. São Paulo: Renovar, 2003. p. 2. 7 globalização da economia promovida pela teoria política neoliberal projeta o pensamento único de liberalização e desregulamentação jurídica, bem como a neutralização axiológica da Constituição e dos direitos fundamentais de segunda dimensão. Com a devida atenção, o estimado aluno deve compreender que o neoliberalismo busca mitigar a cosmovisão welfarista de Estado forte, positivo e prestigiado. E mais: no seu lugar intenta colocar um estado mínimo, garantista, absenteísta, negativo e garantidor das liberdades individuais. Com relação ao Brasil, como bem destaca o alerta de Luís Roberto Barroso, o país chega ao neoliberalismo sem ter conseguido ser nem liberal nem moderno. Eis suas palavras, in verbis: O discurso acerca do Estado atravessou, ao longo do século XX, três fases distintas: a pré-modernidade (ou Estado liberal), a modernidade (ou Estado social) e a pós-modernidade (ou Estado neoliberal). A constatação inevitável, desconcertante, é que o Brasil chega à pós-modernidade sem ter conseguido ser liberal nem moderno. Herdeiros de uma tradição autoritária e populista, elitizada e excludente, seletiva entre amigos e inimigos – e não entre certo e errado, justo ou injusto –, mansa com os ricos e dura com os pobres, chegamos ao terceiro milênio atrasados e com pressa.2 É por tudo isso que é importante a compreensão entre a evolução dos paradigmas estatais ao longo do tempo e as fases de constitucionalização do direito, na medida em queprojeta luz esclarecedora no estudo atinente à globalização da economia e às características do estado pós-social de direito. 2 BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos teóricos e filosóficos do novo direito constitucional brasileiro (Pós-modernidade, teoria crítica e pós-positivismo). In: A nova interpretação constitucional. Ponderação Direitos fundamentais e Relações Privadas. Organizado por Luís Roberto Barroso. São Paulo: Renovar, 2003. p.5. 8 Assim, na esteira da secular lição de Aristóteles (Política) – quando já mostrava que a melhor solução de um problema vem com o conhecimento de sua origem, ou seja, observando o desenvolvimento das coisas a partir da sua origem, para obter-se nesta questão, como em todas as demais, a visão clara – vamos perquirir o fenômeno da constitucionalização do direito a partir de um ponto de vista histórico, analisando-se, inter alia, as relações entre a Constituição do tipo Garantia, o Estado Liberal de Direito e a hegemonia do Código Civil, do mesmo modo, investigando-se as relações entre o dirigismo constitucional, o Estado Social de Direito e a formação de subsistemas jurídicos autônomos e, muitas vezes, contrários à lei civil de 1916, até, finalmente, chegar-se ao Estado Pós-Social de Direito e toda a construção teórica com viés hayekiano-neoliberal que almeja a neutralização axiológica da Constituição e seu retorno ao patamar de Constituição meramente procedimental. Com efeito, o entendimento do lento processo de constitucionalização do direito infraconstitucional e em especial do direito civil somente é alcançado a partir de sua perspectiva histórica. As interpenetrações entre o direito civil e o direito constitucional passam, na verdade, por diferentes fases e, dependem, sem nenhuma dúvida, do contexto histórico em que se inserem e, muito especialmente, do paradigma estatal sob cujo pálio se encontram. Dessarte, é importante compreender bem todos os aspectos que circunscrevem cada uma das três fases de evolução do fenômeno da constitucionalização do direito civil. Em consequência, não há outro caminho a trilhar senão o de investigar estas três grandes fases de evolução da constitucionalização do direito civil, valendo, pois, iniciar pela fase de mundos apartados. 9 As Relações entre o Direito Civil e o Direito Constitucional no Âmbito do Constitucionalismo Liberal Sob a égide do constitucionalismo liberal, inspirado no pensamento individualista burguês, as relações entre o direito civil (privado) e o direito constitucional (público) eram independentes; não se comunicavam entre si. Isto significa dizer, por outras palavras, que o mundo jurídico-constitucional do Estado liberal de Direito vislumbrava as relações do direito público com o direito privado de modo bem definido e separado. Caberia ao Código Civil napoleônico de 1804 regular a aplicação dos direitos fundamentais dos indivíduos, enquanto que à Constituição caberia a missão de regular a tutela de interesses gerais e limitadores voltados para esses direitos individuais. Ou seja, Código Civil e Constituição seriam duas esferas isoladas, cujas funções seriam, respectivamente, a regulação autônoma das relações jurídicas privadas e a regulação das limitações impostas pelo Estado com o objetivo de garantir tais liberdades individuais. É nesse sentido que se destaca a separação rígida entre o direito civil e o direito constitucional, cabendo ao primeiro a missão de regular livremente a vida privada com normas próprias e ao segundo apenas regular as limitações de formulação dessas regras voltadas para os direitos individuais. Com efeito, o constitucionalismo liberal – alicerçado na tutela de direitos civis e políticos – faz a separação rígida entre o Estado e a sociedade civil de modo que ao primeiro cabe apenas a tarefa de garantir a coexistência pacífica entre relações individuais no âmbito da segunda. Daí a ideia-força de Constituição- garantia; de constitucionalismo garantista; de constitucionalismo minimalista e absenteísta. Portanto, é certo afirmar que relações entre o direito constitucional e o direito civil nesta primeira fase se caracterizavam pelo isolamento; duas esferas jurídicas que não se comunicavam, mas, que, entretanto, tinham origem 10 comum, qual seja, a limitação do poder do Estado como reação ao sistema político absolutista e sua concentração de poder nas mãos do rei. Nesse sentido, como já amplamente visto no nosso curso, foi a Revolução Francesa de 1789 o grande marco de criação do direito constitucional liberal- garantista, que atribuía à Constituição escrita papel muito limitado porque voltado para a vinculação do legislador ordinário. A Constituição escrita de per si não tinha força normativa, pois constituída de princípios abertos sem latitude de gerar diretamente direito subjetivo. Diferente era a posição do Código Civil napoleônico, centro de luz do sistema jurídico como um todo. Se a Constituição escrita simbolizava uma mera convocação à atuação do legislador democrático no sentido de realizar sua concretização por intermédio de leis infraconstitucionais supervenientes, estas últimas, sim, com aplicabilidade direta e imediata, o Código Civil napoleônico, ao contrário, na qualidade de principal legado do Estado liberal de Direito, desempenhava o papel principal de regular a tutela da propriedade e da liberdade de contratar, elementos fundantes do ideário liberal burguês. E assim é que Código Civil napoleônico seguia cumprindo seu papel central de Constituição do direito privado, cuja tarefa era atribuir segurança jurídica às relações jurídicas privadas livres da intervenção estatal e atreladas aos atores dominantes do cenário jurídico liberal, quais sejam, o proprietário e o contratante. Nesse sentido, em feliz síntese, as palavras de Gustavo Tepedino, in verbis: Afirmava-se, significativamente – e afirma-se ainda hoje nos cursos jurídicos –, que o Código Civil Brasileiro, como os outros códigos de sua época, era a Constituição do direito privado. De fato, cuidava- se da garantia legal mais elevada quanto à disciplina das relações patrimoniais, resguardando-as contra a ingerência do Poder Público ou de particulares que dificultassem a circulação de riquezas. O direito público, por sua vez, não interferiria na esfera privada, 11 assumindo o Código Civil, portanto, o papel de estatuto único e monopolizador das relações privadas. 3 Como certamente já se terá percebido, o direito constitucional do Estado liberal de Direito preza pela negatividade do Estado e, por via de consequência, garante a hegemonia do Código Civil no âmbito das relações privadas. A figura abaixo sintetiza tal ideia. Constituição-Garantia: Carta Política sem força normativa Código Civil: Verdadeira Constituição do direito privado Regras Formais de Limitação Da figura acima, devemos destacar, em primeiro lugar, que o constitucionalismo liberal adotou um modelo inicial de quase incomunicabilidade entre o direito público e o direito privado. Ou seja, as relações entre o direito constitucional e o direito civil são independentes, muito embora sirvam para um objetivo comum e que é dar segurança jurídica para a atuação livre dos atores dominantes do regime liberal. Aqui é importante compreender que a primeira fase simboliza a fase de constitucionalização dos direitos naturais do homem, ou seja, ocorre a positivação desses direitos naturais do homem em uma Constituição escrita e dotada de supremaciasobre todos os poderes constituídos do Estado. 3 TEPEDINO, Gustavo. Premissas metodológicas para a constitucionalização do direito civil. In: Temas de direito civil. 3. ed., 2004. p. 2. 12 Tendo como referência a classificação de Klaus Stern,4 é correto afirmar que esta primeira fase de constitucionalização retrata com precisão a passagem da doutrina de afirmação dos direitos naturais do homem para a constitucionalização dos direitos fundamentais, iniciada com as sucessivas declarações dos movimentos liberais do século XVIII (Revolução francesa de 1789 e Declaração de Virgínia de 1776). O importante é compreender que a fase de hegemonia do Código Civil marca a inauguração do constitucionalismo democrático ocidental e, na sua esteira, do conceito de Estado de Direito, superando-se desse modo a mera proteção filosófica dos direitos naturais do homem (desenvolvida pela doutrina contratualista de Hobbes, Locke e Rousseau). Nessa linha, pode-se dizer que a primeira fase de constitucionalização é operada a partir da vontade política da burguesia em ascensão na França, cuja pretensão era afastar o poder absoluto do monarca, para poder atuar livremente como proprietário, contratante e decisor político fundamental do novo modelo de Estado. Ora, é bem de ver que a ideia-força de Constituição-Garantia, vislumbrada como documento constitucional superior que deve conter apenas comandos de regulação da separação de poderes do Estado e da proteção dos direitos das liberdades individuais é plenamente consoante com as aspirações políticas dessa burguesia em ascensão. Criar uma esfera constitucional limitada e de cunho minimalista-absenteísta propiciava o ambiente jurídico ideal para a livre atuação dos indivíduos na esfera privada. Com isso, a constitucionalização dos direitos naturais do homem ligados às liberdades individuais garantia não apenas a passagem do Estado Absoluto 4 A lição de Klaus Stern estabelece as três fases de evolução dos direitos humanos, a saber: i) uma pré- história dos direitos fundamentais, que se estende até o século XVI; ii) uma fase intermediária, que corresponde ao período de elaboração da doutrina jusnaturalista e da afirmação dos direitos naturais do homem; iii) a fase de constitucionalização, iniciada em 1776, com as sucessivas declarações de direito dos novos estados americanos. Cf SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 3. ed. rev.atual.ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 40. 13 para o Estado liberal de Direito, mas, principalmente, criava dois mundos apartados, sem conexão ético-normativa entre eles. Engendra-se dessarte um novo aparato jurídico com características marcantes no campo do direito público (constituição escrita, garantista, sintética, minimalista, negativa, absenteísta, garantidora das liberdades individuais, da igualdade formal, do princípio da legalidade, do devido processo legal etc.), que não se comunica com o outro aparato jurídico no campo do direito privado caracterizado pela autonomia da vontade privada, da propriedade absoluta, da liberdade de contratar, da segurança jurídica máxima etc. Sem nenhuma dúvida, o liberalismo político conhece seu momento áureo na história moderna do constitucionalismo democrático nesta primeira fase de hegemonia do Código Civil. De fato, as ideias desenvolvidas no âmbito do juscontratualismo de Locke foram incorporadas de forma plena à realidade jurídica do Estado liberal de Direito. Talvez por isso mesmo, tendo absorvido integralmente os princípios propostos pela reflexão filosófica de John Locke, o direito constitucional liberal haja presumido demais de si mesmo, considerando que podia prescindir da atuação positiva do Estado na promoção da efetividade dos direitos fundamentais do cidadão comum. De fato, como veremos na sequência de nossas aulas, a pretensão de criar mundos apartados vai gestar uma realidade histórica bem diferente daquela pretendida pelo pensamento jusfilosófico lockiano, vale dizer não apenas de exclusão social, como também de exploração do homem pelo homem no seio do capitalismo industrial. Com efeito, o conceito de mundos apartados traz no seu âmago a concepção restritiva do papel da Constituição, dita Constituição-Garantia e pela qual se reconhece apenas o poder de estabelecer as regras de funcionamento do processo decisional do quadro político do Estado e de garantir o catálogo de direitos negativos de defesa contra esse mesmo Estado. 14 No centro do sistema jurídico, não se encontra a Constituição escrita, mas, sim, o Código Civil, todo-poderoso e independente no campo das relações jurídicas privadas. O sol do ordenamento jurídico, brilhando sobre tudo e sobre todos, a verdadeira Constituição do direito privado, a norma jurídica em sua plenitude. No epicentro do mundo infraconstitucional do Estado liberal de Direito, o Código Civil detentor do monopólio hermenêutico das relações jurídicas privadas. Já a Constituição, mera Carta Política, pauta de valores axiológicos sem nenhuma normatividade, sem nenhuma eficácia social, sempre dependente da intervenção superveniente do legislador ordinário. No epicentro do longínquo e separado mundo constitucional do Estado liberal de Direito, o binômio regras do jogo político-proteção das liberdades individuais. Em outras palavras, a Constituição-Garantia deve ditar “as regras do jogo político” de modo a garantir o funcionamento democrático da atuação dos representantes eleitos, não cabendo ao juiz constitucional fazer nenhuma avaliação a respeito de valores materiais insculpidos no documento constitucional. Esta é a missão precípua do legislador ordinário: aferir de modo abstrato os valores materiais transformando-os em regras jurídicas de aplicação mecânica. Não cabe à Constituição se envolver com tal dimensão emancipadora do direito. Ao contrário, o exegeta constitucional deve interpretar a Constituição segundo o Código Civil e não o Código segundo a Constituição. Em essência, as constituições liberais não se importavam com os direitos sociais, econômicos, culturais e trabalhistas (direitos fundamentais de segunda dimensão). É por isso que seu conteúdo voltava-se para a estruturação do Estado e para o indivíduo, isoladamente considerado. A Constituição-Garantia é o paradigma do liberalismo político e suas funções primordiais são, basicamente, limitar o poder do Estado e garantir os direitos 15 fundamentais de primeira dimensão, separando-se, destarte, as esferas privada e pública. Nesse sentido, a lição de Maria Celina Bodin de Moraes Tepedino, in verbis: Neste universo jurídico, as relações do direito público com o direito privado apresentam-se bem definidas. O direito privado insere-se no âmbito dos direitos naturais e inatos dos indivíduos. O direito público é aquele emanado pelo Estado para a tutela de interesses gerais. As duas esferas são quase impermeáveis, atribuindo-se ao Estado o poder de impor limites aos direitos dos indivíduos somente em razão de exigências dos próprios indivíduos.5 O perigo para os direitos de primeira dimensão vinha do poder executivo, ainda associado à figura do monarca absoluto, daí, pois, a crença inabalável na separação rígida entre direito público e direito privado. Nesse diapasão, caberia à Constituição-Garantia ditar as regras do jogo democrático enquanto o Código Civil se responsabilizaria pelos comandos normativos delineadores do direito privado, ou seja, as relações jurídicasentre particulares teriam por verdadeira Constituição o próprio Código Civil. Tal posição hegemônica do Código Civil se explicaria pela primazia do individualismo dentro de uma perspectiva de negatividade do Estado, isto é, a fixação de zonas de não interferência estatal, que, a um só tempo, serviriam para potencializar a esfera de autonomia privada e para coarctar o poder público. E mais: segundo decorre da própria noção de primazia do individualismo de inspiração iluminista, há uma nítida separação entre o direito público e o direito privado, uma vez que o primeiro se consubstancia através de uma Constituição do tipo Garantia, enquanto o segundo tem o Código Civil como sua verdadeira Constituição. No Estado Liberal, o direito constitucional atua 5 TEPEDINO, Maria Celina B. M. A caminho de um direito civil constitucional. In: Revista de direito civil, v. 65, p. 22. 16 mais como elemento de valor moral sem conteúdo jurídico, isto é, uma pauta de valores vinculantes do poder legislativo, sendo incapaz de gerar direitos subjetivos de per si. Assim sendo, restava ao Código Civil o dever de regular completa e autonomamente as relações jurídicas na esfera privada. Características e Crise do Estado Legislativo de Direito Em linhas gerais, como acabamos de constatar, o Estado burguês de Direito (expressão de Carl Schmitt) inaugurou o constitucionalismo liberal, marco de um Estado legislativo de direito, no qual prevalecia a vontade do poder legislativo. Somente com o advento do Welfare State é que a primazia retorna ao poder executivo em função da necessidade de programar políticas públicas voltadas para a busca da igualdade material e da dignidade da pessoa humana, suprindo a falta de investimentos privados na área social. Lenio Luiz Streck capta, com precisão, o sensível deslocamento que ocorre na passagem do Estado legislativo de Direito (Estado liberal), cujo centro de decisão apontava para o Legislativo (o que não é proibido é permitido, direitos negativos) para o Estado Social, cuja primazia ficava com o Executivo, em face da necessidade de realizar políticas públicas e sustentar a intervenção do Estado na economia; já no Estado Democrático de Direito, o foco de tensão se volta para o Judiciário.6 Portanto, de tudo se vê que o Estado legislativo de direito em tudo se amolda ao Estado burguês liberal, implantado revolucionariamente para atender aos anseios da classe em ascensão, daí o surgimento do constitucionalismo como limitação do Estado. Com base na supremacia da autonomia privada, surge o Estado legislativo de Direito garantidor das liberdades individuais e dos interesses da burguesia, que, fazendo uso deste tipo de constitucionalismo 6 STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) Crise: Uma Exploração Hermenêutica da Construção do Direito. 8 ed. rev. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 52. 17 logra obter a conquista do poder político, uma vez que o poder econômico já detinha desde a fase pré-revolucionária. Em apertada síntese, alinhamos as seguintes características do Estado legislativo de Direito: No âmbito da constitucionalização dos direitos naturais do homem, o Estado legislativo de Direito simboliza o momento áureo de transformação, no qual se supera o pré-constitucionalismo jusnaturalista e atinge-se o constitucionalismo democrático como elemento limitador do Estado; Responsável pelo colapso do absolutismo, o Estado legislativo de Direito cria as condições de possibilidade de implantação do constitucionalismo democrático moderno, calcado na separação de poderes e na garantia das regras do jogo democrático; Sob a perspectiva do regime jurídico de proteção dos direitos fundamentais, o Estado legislativo de Direito gesta a primeira dimensão de direitos, caracterizada pela concepção de um catálogo de direitos geradores de zonas de não interferência estatal nas relações privadas; Sob o prisma do conteúdo material dos direitos fundamentais a proteger, o Estado legislativo de Direito projeta a prevalência das liberdades individuais sobre as razões de Estado, isto é, projeta o pleno gozo dos direitos civis (garantidores das liberdades individuais) e políticos (garantidores da participação efetiva nos destinos da nação) que não podem ser violados em nome dos interesses e das razões de Estado; 18 Sob a ótica do controle de constitucionalidade, o Estado legislativo de Direito consolida os princípios da supremacia e da unidade da Constituição, forjando o chamado bloco de constitucionalidade calcado nos direitos de primeira dimensão, o que evidentemente limita também a atividade legiferante do Estado. Em suma, a contribuição mais relevante do Estado legislativo de Direito para o constitucionalismo democrático e para a dogmática dos direitos fundamentais foi, induvidosamente, a de conceber tais direitos tanto como criação como também limitações feitas Estado-legislador e a ele próprio dirigidas (Estado de Direito) e cuja observância, a partir do célebre caso norte-americano Madison x Marbury, poderia ser aferida pelo poder judiciário, por meio do sistema de controle de constitucionalidade. Com tal tipo de intelecção supera-se o paradigma do constitucionalismo britânico da onipotência do poder legislativo em relação aos demais poderes, deslocando-se para o paradigma da supremacia da Constituição e do equilíbrio entre os três poderes. Ou seja, afasta-se da ideia-força de que o Parlamento, na qualidade de representante legítimo da vontade popular, tem legitimidade democrática para edificar teses incensuráveis pelo poder judiciário, este, sim, desprovido de qualquer tipo de legitimação democrática. Sob a ótica da violação dos direitos fundamentais do cidadão comum, o perigo vinha do poder executivo, figura política diretamente associada ao monarca, daí, por conseguinte, a limitação do poder estatal mediante o respeito à lei, verdadeira personificação da vontade popular. É nesse diapasão que o Estado legislativo de Direito substitui a supremacia do Parlamento pela supremacia da Constituição com a devida sujeição dos atos do poder público ao controle de constitucionalidade pelo poder judiciário. De outra banda, entretanto, como visto amplamente, a Constituição liberal tem como característica nuclear servir como pauta de valoração para o 19 legislador ordinário; as normas constitucionais são, em essência, fórmulas jurídicas vazias que deveriam ser preenchidas pelos representantes do povo, cabendo-lhes atuar como “caixas de repercussão” dessa consciência jurídica geral insculpida na Carta Ápice. Discordando desta perspectiva e apontando algumas características das pautas de valoração, Karl Larenz esclarece que elas: não são ‘fórmulas vazias pseunormativas’ que seriam compatíveis com todas ou quase todas as formas concretas de comportamento e regras de comportamento. [Ao contrário], estas pautas alcançam o seu preenchimento de conteúdo mediante a consciência jurídica geral dos membros da comunidade jurídica, que não só é cunhada pela tradição, mas que é compreendida como estando em permanente reconstituição. Os tribunais consideram-se de certo modo como ‘caixas de repercussão’ dessa consciência jurídica geral. 7 Já Luigi Ferrajoli, renomado constitucionalista italiano, mostra que o Estado de Direito moderno nasce sob a forma do Estado legislativo de Direito e tendo como critério exclusivo de identificação do direitoválido a afirmação do princípio da legalidade, com independência de sua valoração como justo. Graças a este princípio, uma norma jurídica é válida não por ser justa, mas exclusivamente por haver sido “posta” por uma autoridade dotada de competência normativa. 8 Esse "modelo de Estado legislativo de Direito", escreve Luigi Ferrajoli, entra em crise: La crisis se manifiesta en otras tantas formas de regresión a un Derecho jurisprudencial de tipo premoderno (...) la crisis afecta al principio de legalidad (...) y tiene su génesis en dos factores: la inflación legislativa y la disfunción del lenguaje legal (...) Las leyes, 7 LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. Tradução de José Lamego. Lisboa: Fundação Gulbenkian, 1968. p. 264. 8 FERRAJOLI, Luigi. “Pasado y futuro del estado de derecho”. In: CARBONELL, Miguel (organizador). Neoconstitucionalismo(s). Madrid: Editorial Trotta, 2003. p. 16. 20 en todos los ordenamientos avanzados, están formuladas en un lenguaje cada vez más oscuro y tortuoso, dando lugar a veces a intrincados enredos y laberintos normativos. 9 Com efeito, a crise do Estado legislativo de Direito vem com o advento dos movimentos sociais que buscam resgatar a dignidade da pessoa humana sob os influxos de uma sociedade capitalista e desigual. Reivindica-se um novo rol de direitos fundamentais atrelados às relações produtivas e trabalhistas, ligados à previdência e assistência sociais, ao transporte, à moradia, ao lazer, etc. Nessa linha de raciocínio, Bolzan de Morais mostra a história da passagem da estatalidade mínima do Estado legislativo de Direito para o Estado Democrático Social de Direito como fruto dos movimentos operários na chamada questão Social: São os direitos relativos às relações de produção e seus reflexos, como a previdência e assistência sociais, o transporte, a salubridade pública, a moradia, etc., que vão impulsionar a passagem do chamado Estado Mínimo – onde lhe cabia tão-só assegurar o não impedimento do livre desenvolvimento das relações sociais no âmbito do mercado caracterizado por vínculos intersubjetivos a partir de indivíduos formalmente livres e iguais –para o Estado Social de caráter intervencionista – que passa a assumir tarefas até então próprias ao espaço privado através de seus ator principal: o indivíduo.10 Em conclusão, não resta dúvida de que a formação do Estado Legislativo de Direito deve ser associada ao Estado burguês liberal e à primeira geração de direitos fundamentais. Trata-se da primeira versão do conceito de Estado de 9 FERRAJOLI, Luigi. “Pasado y futuro del estado de derecho”. In: CARBONELL, Miguel (organizador). Neoconstitucionalismo(s). Madrid: Editorial Trotta, 2003. p. 18. 10 MORAIS, José Luis Bolzan de. As crises do estado. In: MORAIS, José Luis Bolzan de (org.). O estado e suas crises. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 35. 21 Direito (Estado liberal de Direito) que encontra no constitucionalismo democrático uma maneira de limitar o poder do Estado em prol das liberdades individuais. É nesse sentido que o Estado Legislativo de Direito serve como pano de fundo na consecução dos interesses de classes dominantes que não se ocupam dos direitos sociais, econômicos, culturais e trabalhistas. Esta nova segmentação de direitos fundamentais demandará a passagem do Estado legislativo de Direito para o Estado executivo de Direito (Welfare State), no qual predomina a intervenção do Estado com o objetivo de garantir este novo conjunto de direitos constitucionais fundamentais. Veja-se, nesse sentido, que o Estado legislativo de direito entra em crise exatamente pela sua incapacidade de garantir esses direitos de natureza positiva. Esta é a razão pela qual vamos, na sequência dos nossos estudos, examinar a segunda fase do fenômeno da constitucionalização do direito e que é fruto dessa passagem do Estado legislativo de Direito para o Welfare State (Estado executivo de Direito). Atividade Proposta O pós-positivismo identifica um conjunto de ideias difusas que ultrapassam o legalismo estrito do positivismo normativista, sem recorrer às categorias da razão subjetiva do jusnaturalismo. Sua marca é a ascensão dos valores, o reconhecimento da normatividade dos princípios e a essencialidade dos direitos fundamentais. Com ele, a discussão ética volta ao Direito. O pluralismo político e jurídico, a nova hermenêutica e a ponderação de interesses são componentes dessa reelaboração teórica, filosófica e prática que fez a travessia de um milênio para o outro. Assim sendo, responda, justificadamente, se é correto afirmar que o contexto do pós-positivismo corresponde à fase de mundos apartados da constitucionalização do direito. 22 Referências ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. Rio de janeiro: Malheiros, 2004. BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos teóricos e filosóficos do novo direito constitucional brasileiro (Pós-modernidade, teoria crítica e pós-positivismo). In: A nova interpretação constitucional. Ponderação Direitos fundamentais e Relações Privadas. Organizado por Luís Roberto Barroso. São Paulo: Renovar, 2003. LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. Tradução de José Lamego. Lisboa: Fundação Gulbenkian, 1968. STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da construção do direito. 8 ed. rev. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. Exercícios de Fixação Questão 1 As relações entre o direito civil e o direito constitucional atravessaram três fases bem distintas. Assinale a alternativa que contém a sequência correta: a) Mundos apartados, constitucionalização propriamente dita do direito, publicização do direito privado; b) Mundos apartados, constitucionalização propriamente dita do direito, publicização do direito civil; c) Publicização do direito constitucional, constitucionalização propriamente dita do direito, mundos apartados; 23 d) Mundos apartados, publicização do direito privado, constitucionalização propriamente dita do direito; e) Constitucionalização propriamente dita do direito, mundos apartados e publicização do direito privado. Questão 2 Leia o trecho abaixo e indique a alternativa correta: “Neste universo jurídico, as relações do direito público com o direito privado apresentam-se bem definidas. O direito privado insere-se no âmbito dos direitos naturais e inatos dos indivíduos. O direito público é aquele emanado pelo Estado para a tutela de interesses gerais. As duas esferas são quase impermeáveis, atribuindo-se ao Estado o poder de impor limites aos direitos dos indivíduos somente em razão de exigências dos próprios indivíduos”. A partir da leitura acima, analise as assertivas abaixo: 24 I. O constitucionalismo clássico do Estado Liberal caracteriza-se pela existência da chamada fragmentação do direito infraconstitucional, cuja gênese vem da ideia de polissistema jurídico de códigos autóctones reguladores das relações jurídicas privadas como um todo. II. No contexto da primeira fase da constitucionalização, o Código Civil se responsabilizava pelos comandos normativos delineadores do direito privado, ou seja, as relações jurídicas entre particulares teriam por verdadeira Constituição o próprio Código Civil. III. Com a crescente demanda das pressões antiabsolutistas, oconstitucionalismo clássico do Estado Liberal se voltou então para a proteção dos particulares tanto contra o Estado como contra o poder social de outros particulares. Somente é CORRETO o que se afirma em: a) I b) II e III c) II d) I e III Questão 3 Leia o trecho abaixo e indique a alternativa correta: “O fenômeno da descodificação é um processo que acompanha os movimentos que faz a sociedade, em todos os quadrantes da Terra, em que se adotou o sistema das codificações, particularmente, no Brasil, em que o Código Civil era considerado um corpo legislativo monolítico, por isso mesmo chamado de monossistema.” I. O Código Civil de 1916 era percebido como a Constituição do direito privado. 25 II. A legislação extravagante nasce em função das pressões do paradigma liberal que buscava regulamentar as relações de direito privado até então não protegidas pelo Estado. III. Com a crescente demanda das pressões sociais e trabalhistas, o Código Civil começa a perder capacidade de influência normativa no âmbito das relações jurídicas privadas. Somente é CORRETO o que se afirma em: a) I b) II e III c) III d) I e III Questão 4 São características da fase de mundos apartados, EXCETO: a) A predominância cêntrica do Código Civil; b) A intangibilidade do pacta sunt servanda; c) A força normativa da Constituição; d) A estatalidade negativa do liberalismo político. Questão 5 Com relação à fase de mundos apartados, analise as assertivas abaixo e assinale a resposta CORRETA: I. Nessa fase, a publicização do direito privado se explicaria pela primazia do individualismo dentro de uma perspectiva de negatividade do Estado. II. Nessa fase, o direito constitucional atuava mais como elemento teleológico, caracterizado pelo seu fim especifico, restando ao Código 26 Civil o dever de regulamentar completa e autonomamente as relações na esfera privada. a) As duas assertivas são falsas; b) A assertiva I é verdadeira e a assertiva II é falsa; c) Ambas as assertivas são verdadeiras; d) A assertiva I é falsa e a assertiva II é verdadeira. Atividade Proposta A resposta é negativa, na medida em que, sob a égide da fase de mundos apartados, inspirada no pensamento individualista burguês, as relações entre o direito civil (privado) e o direito constitucional (público) eram independentes; não se comunicavam entre si. Totalmente distinto é o 27 contexto do pós-positivismo. Na fase de mundos apartados, caberia ao Código Civil regular completamente a aplicação dos direitos fundamentais dos indivíduos, enquanto que à Constituição caberia a missão de regular a tutela de interesses gerais e limitadores voltados para esses direitos individuais. Ou seja, Código Civil e Constituição seriam duas esferas isoladas, cujas funções seriam, respectivamente, a regulação autônoma das relações jurídicas privadas e a regulação das limitações impostas pelo Estado com o objetivo de garantir tais liberdades individuais. Portanto, o contexto pós-positivista transita em terreno totalmente distinto, vale dizer, o direito civil deve ser lido à luz da Constituição. Exercícios de fixação Questão 1- D Justificativa: A resposta correta é a letra D. O fenômeno da constitucionalização possui três fases bem definidas, a saber: a) Fase de mundos apartados ou de predominância do Código Civil; b) Fase de fragmentação do direito ou de publicização do direito privado; c) Fase de constitucionalização propriamente dita do direito ou de filtragem constitucional. Questão 2 - C Justificativa: A assertiva I está errada, porque o constitucionalismo clássico do Estado Liberal caracteriza-se pela existência da hegemonia plena do Código Civil, a verdadeira Constituição do direito privado. Já a assertiva III está errada porque o constitucionalismo clássico do Estado Liberal não admite a eficácia horizontal dos direitos fundamentais, ou seja, não se voltou para a proteção dos particulares contra o poder social de outros particulares. Questão 3 - D 28 Justificativa: Somente a alternativa II está errada, porque a legislação extravagante nasce em função das pressões do paradigma do Estado Social de Direito e não do Estado liberal de Direito. Questão 4 - C Justificativa: Somente a alternativa C está errada, porque a fase de mundos apartados é característica do paradigma do Estado liberal de Direito, no qual a Constituição não tinha nenhuma força normativa exatamente porque eivada de princípios não enquadrados na categoria de norma jurídica. Questão 5 - D Justificativa: Somente a assertiva I está errada, porque a ideia de publicização do direito privado, ou seja, a penetração do direito público no direito privado somente começa a ocorrer na transição para o Welfare State. Na primeira fase, havia a primazia do individualismo dentro de uma perspectiva de negatividade do Estado. Atualizado em: 22 jun. 2014