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CLÍNICA DE PEQUENOS P2 - Infecção do Trato Urinário (1)

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Infecção do Trato Urinário
A infecção do trato urinário é mais comum nos cães, enquanto os gatos por sua vez adquirem mais inflamações assépticas, pois eles têm maior capacidade de concentrar a urina, em comparação com o cão. As fêmeas são mais propensas a adquirirem infecções, pois a anatomia do trato reprodutivo muito próximo ao trato digestivo favorece o início da infecção. Já os machos, por sua vez, possuem além da uretra mais longa e estreita, e com trato digestivo mais distante do trato reprodutivos, produzem as secreções prostáticas – possuem ação bactericida. A uretra é a porta de entrada para os agentes causadores de infecções, e ao mesmo tempo possui um mecanismo de proteção contra os mesmos. A maioria dos agentes bacterianos são comensais da pele e do trato digestivo.
Nos cães, a maioria das infecções se instalam na uretra e na vesícula, podendo atingir a pelve renal por via ascendente caracterizando uma pielonefrite (região da pelve e medular acometidas). A região medular do rim tem grande concentração de amônia e sais, o que dificulta a fagocitose de microorganismos, impedindo o combate adequado contra infecções nessa região do órgão. Além disso, a ativação do sistema complemento também é inibida nessa região, assim como a dificuldade na migração de neutrófilos. Todas essas características da região medular do rim a fazem ser conhecida também como deserto imunológico.
Os sinais de infecção do trato urinário como poliúria e a polidipsia compensatória são causadas pela perda de função da alça de Henle, que perde a capacidade de concentrar a urina e de reabsorver a agua, que acaba por ser excretada. O ureter entra de forma obliqua na vesícula, o que impede o refluxo de urina para os rins ou a passagem de mais conteúdo para a bexiga quando a mesma já está completamente repleta. Durante uma infecção urinaria, a parede da bexiga fica espessada, impedindo que o refluxo de urina seja interrompido, fazendo com que a infecção suba até os rins. As infecções urinarias complicadas têm em associação alguma alteração permanente do trato urinário, que sempre irá levar a recorrência de infecções.
Etiologia: frequentemente estão envolvidos agentes como E. coli, Streptococcus, Staphylococcus, Enterococcus, e colonizam de forma comensal a forma mais distal da uretra, que possui de sua extremidade até aproximadamente a região medial receptores bacterianos – as bactérias comensais se ligam a esses receptores, impedindo a ligação de bactérias patogênicas a esses receptores. Quanto mais distal se está na uretra, menor o número de receptores bacterianos. O agente deve ter capacidade de aderência, que é feita através de fimbrias. O Antígeno K realiza a opsonização e impede a fagocitose. Os agentes diminuem a peristalse da vesícula e da uretra, facilitando sua instalação. 
A quebra dos mecanismos de defesa levam à infecção; há eliminação mecânica via urina das bactérias comensais (cerca de 90%). A retenção de urina impede a liberação constante de bactérias comensais, predispondo as infecções. Alguns agentes de infecções são urease positivos, o que significa que eles transformam a ureia presente na urina em amônia – formação de NH3, que sequestra o H+ e forma o NH4, aumentando o pH e o tirando da acidez (que inibem as infecções bacterianas) levando a cristalização dos sais de estruvita. 
As rações atuais são ricas em proteína – o que acaba dando mais substrato para a formação de ureia -, e em sais. Os urólitos dão origem as infecções urinarias, assim como o contrário também é verdadeiro. Os glicosaminoglicanos são fatores inibidores da formação de urólitos e impedem a aderência de bactérias ao fazerem o revestimento da parede interna do trato urinário. O valor residual aceitável de urina na bexiga fica em torno de 0,2 a 0,4 ml/kg, e aumenta em casos de lesão medular por não haver ação do musculo que realiza a contração da bexiga – maior risco de ocorrência de infecções. 
Fisiopatogenia
Micções alteradas por hábitos, alteração no SN simpático (fecha o esfíncter) e parassimpático (faz a contração da bexiga), aumento do tempo de persistência da urina e distensão da parede da vesícula. Outras causas: cateterizações frequentas fazem com que a bactéria seja empurrada para a parte mais distal da uretra, defeitos congênitos como ureter ectópico e persistência de úraco, urolitíase – cálculo faz pressão física na parede e há presença de bactérias entremeadas no seu interior –, neoplasias e incontinência urinaria. 
A pielonefrite atinge a pelve e o parênquima, pode ser uni ou bilateral, e as causas hematógenas incluem os cálculos dentários, endocardite e espondilite. 
Sinais clínicos de cistites 
Sem poliúria e polidipsia compensatória por não haver influencia na reabsorção de agua, há polaquiúria, disúria, hematúria macro ou microscópica. Pode haver febre e anorexia, e a urina está concentrada. 
Sinais clínicos de pielonefrite
Poliúria (leva a desidratação) e polidipsia compensatória, febre, vômitos, apatia, letargia, anorexia, dor renal, animal em posição antiálgica. 
Diagnostico 
Hemograma e bioquímica – observa-se leucocitose com desvio à esquerda na pielonefrite. Urinalise feita através de cistocentese, em casos de coleta por micção espontânea deve-se eliminar o primeiro e último jatos, inclusive na cateterização. Na USG observa-se a parede da bexiga espessada e aumento da celularidade. 
Tratamento
Consiste na eliminação de causas primarias como: diabetes (glicosúria e baixa densidade urinaria), persistência do úraco, urólitos (agressão mecânica), excesso de pregas perivulvares ou vulvas infantis por castração precoce, piodermites e incontinência urinaria. 
Testes de sensibilidade bacteriana como cultura e antibiograma demoram cerca de 7 dias para ficarem prontos, enquanto isso deve-se tratar o animal de forma empírica ou com resultado da coloração Gram. 
Gram Positivo – Amoxicilina, Amoxicilina com Clavulanato, Ampicilina.
Gram Negativo – Sulfa com Trimetopim ou Enrofloxacina, que possui um amplo espectro, mantém altas concentrações no sistema urinário e também são utilizadas para pielonefrite. 
Podem ocorrer reicidivas por reinfecções após o tratamento – cuidado com a resistência bacteriana. Em casos de dor renal, entrar com a Codeína (opióide). Pode-se utilizar também acidificantes (amoniacais) e glicosaminoglicanos. NÃO UTILIZAR ANTIINFLAMATÓRIOS!

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