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Evapotranspiração Agrometeorologia Prof. Fábio Adriano Monteiro Saraiva FARO/PVH – 2013 Aula Prec. ET Q Em uma escala intermediária, a ET assume papel fundamental no balanço hídrico de micro-bacias hidrográficas, juntamente com a precipitação. O balanço entre a água que entra na micro-bacia pela chuva e que sai por ET, irá resultar na vazão (Q) do sistema de drenagem. Micro-bacia Hidrográfica Prec. ET Em uma escala local, no caso de uma cultura, a ET da cultura se restringe aos processos de evaporação da água do solo e da vegetação úmida e de transpiração das plantas. O balanço entre a água que entra na cultura pela chuva e a que sai por ET, irá resultar na variação do armazenamento de água no solo, que por sua vez condicionará o crescimento, o desenvolvimento e o rendimento da cultura. Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva ET - EVAPOTRANSPIRAÇÃO A importância da ET na agricultura . Da água doce que realmente é utilizada, 70% o é na prática da irrigação. Portanto, racionalizar o uso da água na agricultura, por meio da correta determinação da ET da cultura é imprescindível. Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva Definição de Evaporação A evaporação é um processo físico de mudança de fase, passando do estado líquido para o estado gasoso. A água em forma de vapor (gasosa) existente na Atmosfera é proveniente dos oceanos, lagos, rios, do solo e da vegetação úmida (evaporação do orvalho ou da água interceptada das chuvas) Evaporação da água das superfícies de água livre, vegetação úmida ou do solo Para que ocorra evaporação da água há a necessidade de energia. Essa energia é chamada de calor latente de vaporização (E), que em média corresponde a: E = 2,45 MJ/kg (a 20oC) Água ou Solo Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva Transpiração – Teoria da Coesão Evaporação O abaixamento do potencial hídrico da atmosfera (ar) promove a evaporação das paredes celulares. Isso promove a redução do potencial hídrico nas paredes celulares e no citoplasma Coesão (no xilema) A coluna de água no xilema é mantida por coesão das moléculas de água nos vasos. Bolhas de ar bloqueia o movimento Absorção de água (do solo) O menor potencial hídrico das raízes provoca a entrada de água. A área de absorção depende da quantidade de radículas. A água se move através da endoderme por osmose solo = - 0,1 a - 2 atm raíz = - 1 a - 10 atm folhas = - 5 a - 40 atm ar = - 100 a - 1000 atm Definição de Transpiração A transpiração é um processo biofísico pelo qual a água que passou pela planta, fazendo parte de seu metabolismo, é transferida para a atmosfera preferencialmente pelos estômatos, obedecendo uma série de resistências desde o solo, passando pelos vasos condutores (xilema), mesófilo, estômatos e finalmente indo para a atmosfera. Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva Como é praticamente impossível se distinguir o vapor d´água proveniente da evaporação da água no solo e da transpiração das plantas, a evapotranspiração é definida como sendo o processo simultâneo de transferência de água para a atmosfera por evaporação da água do solo e da vegetação úmida e por transpiração das plantas Definição de Evapotranspiração Fatores Determinantes da Evapotranspiração Fatores Climáticos Fatores da Planta (Kc) Fatores de Manejo e do Solo ETr Fatores do Clima: saldo de radiação, temperatura do ar, umidade relativa do ar e velocidade do vento Fatores de Manejo e do Solo: espaçamento/densidade de plantio, orientação de plantio, uso de cobertura morta (plantio direto), capacidade de armazenamento do solo, impedimentos físicos/químicos, uso de quebra-ventos, etc... Fatores da Cultura: altura, área foliar, tipo de cultura, albedo, profundidade do sistema radicular. Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva TIPOS DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO 1. EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL OU DE REFERÊNCIA 2. EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL 3. EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE OÁSIS 4. EVAPOTRANSPIRAÇÃO DA CULTURA Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva Conceitos de Evapotranspiração Evapotranspiração Potencial (ETP) ou de referência (ETo) Clima Saldo de radiação Temperatura Umidade relativa Veloc. do vento Cultura de referência Sem restrição hídrica ETP ou ETo é a evapotranspiração de uma extensa superfície vegetada, sendo esta rasteira (normalmente gramado), em crescimento ativo, cobrindo totalmente o solo, com altura entre 8 e 15cm (IAF 3), sem restrição hídrica e com ampla área de bordadura para evitar a advecção de calor sensível (H) de áreas adjacentes. Nesse caso a ET depende apenas das variáveis meteorológicas, sendo portanto ETP uma variável meteorológica, que expressa o potencial de evapotranspiração para as condições meteorológicas vigentes. Condição de ETP ou ETo + Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva Evapotranspiração Real (ETR) Clima Saldo de radiação Temperatura Umidade relativa Veloc. do vento Cultura de referência Com ou sem restrição hídrica ETR Percentagem de redução de ET com a umidade do solo (Ks) - umidade do solo cc pmp CAD AFD ETR é a evapotranspiração que ocorre numa superfície vegetada independente de sua área , de seu porte e da umidade do solo,, com ou sem restrição hídrica. Nesse caso: ETR ≤ ETP Pode-se dizer que: ETR = ETP * Ks Se Ks =1 – ETR = ETP Se Ks < 1 – ETR < ETP CAD + 0 CAD – Capacidade de água disponível no solo Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva Evapotranspiração de Oásis (ETO) Efeito Varal Curva de Evapotranspiração Vento Predominante Real Seco Transição Área Tampão Úmido Oásis Bal. Vertical + Bal. Horizontal Potencial Bal. Vertical é a evapotranspiração de uma área vegetada úmida (irrigada) que é circundada por uma extensa área seca, de onde provém energia por advecção (calor sensível, H´), a qual aumenta a quantidade de energia disponível para a ET. A figura ao lado mostra os diferentes tipos de ET descritos anteriormente. Na área seca tem-se ETR, limitada pelas condições de umidade do solo. Na área irrigada (bordadura ou área tampão) tem-se ETO, a qual é condicionadapelos balanços vertical (Rn) e horizontal (H´) de energia. No centro da área úmida tem-se ETP, a qual depende única e exclusivamente do balanço vertical de energia. Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva Coeficiente de cultura (KC) É uma fator indicativo do consumo ideal de água, ao longo do ciclo da planta. É determinado experimentalmente e seu valor representa a razão entre ETmax/ETP para cada estádio de desenvolvimento da cultura. Evapotranspiração de Cultura (ETc) Evapotranspiração de Cultura (ETc) Coeficiente de Cultura (Kc) Cultura sem restrição hídrica e em condições ótimas de desenvolvimento ETc é a evapotranspiração de uma cultura em dada fase de seu desenvolvimento, sem restrição hídrica, em condições ótimas de crescimento e com ampla área de bordadura para evitar a advecção de calor sensível (H) de áreas adjacentes. Assim ETc depende das condições meteorológicas, expressas por meio da ETP (ou ETo), do tipo de cultura (maior ou menor resistência à seca) e da área foliar. Como a área foliar da cultura padrão é constante e a da cultura real varia, o valor de Kc também irá variar. ETc = Kc * ETP Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva Coeficiente de cultura (KC) É uma fator indicativo do consumo ideal de água, ao longo do ciclo da planta. É determinado experimentalmente e seu valor representa a razão entre ETmax/ETP para cada estádio de desenvolvimento da cultura. Variação de Kc com o desenvolvimento de culturas anuais Kc médio Kc final Estabele- cimento Desenvolvimento Vegetativo Florescimento e Frutificação Maturação Tempo (dias) Observa-se que os valores de Kc acompanham basicamente a área foliar da cultura. No caso das culturas anuais o Kcini varia de 0,3 a 0,5, Kc médio de 0,8 a 1,2, e o Kc final de 0,4 a 0,7, dependendo do tipo de cultura. No caso de culturas perenes ou árvores, os valores de Kc também irão variar de acordo com o IAF e o tipo de cultura. Veja a seguir as diferenças nos estágios de desenvolvimento entre os diversos tipos de cultura, inclusive a de referência. Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva LCE 360 - Meteorologia Agrícola Sentelhas/Angelocci Comparação dos estágios de desenvolvimento (e do IAF) de diferentes tipos de cultura e da cultura de referência Estação de Crescimento Anual Capins Perenes Culturas Perenes Árvores Cultura de referência (gramado) Tipo de Cultura Início Desenv. Vegetativo Meia-estação Final da estação Evapotranspiração real da Cultura (ETr) Com ou sem restrição hídrica Kc * Ks ETr - umidade do solo cc pmp CAD AFD ETr é a evapotranspiração nas mesmas condições de contorno de ETc, porém, com ou sem restrição hídrica. Nesse caso: ETr ≤ ETc ETr = ETP * Kc * Ks Kc médio Kc final Tempo (dias) Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva MÉTODOS DE AFERIÇÃO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO 1. DIRETOS • Aparelhos que medem a quantidade evapotranspirada diretamente, em campo. 2. INDIRETOS •Aparelhos que fornecem dados para o cálculo da evapotranspiração •Equações empíricas Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva Medida da Evaporação (Método direto ) Tanque de 20m2 Parafuso micrométrico LCE 360 - Meteorologia Agrícola Sentelhas/Angelocci O tanque de 20m2 é utilizado para medir a evaporação (E20). Suas medidas se assemelham às obtidas em lagos. Portanto, sofre pouca influência de fatores externos, dado o grande volume de água que ele contém. ELago = E20 A evaporação é medida com tanques evaporimétricos, onde obtém-se a lâmina de água evaporada de uma determinada área. Lisímetro de pesagem para a medida da ET do cafeeiro Montagem de um lisímetros Medida da Evapotranspiração (Método direto ) A evapotranspiração é medida com tanques vegetados denominados de lisímetros ou evapotranspirômetros, que servem para determinar qualquer tipo de ET. Método do Tanque Classe A Método empírico, baseado na proporcionalidade existente a evaporação de água do tanque classe A (ECA) e a ETP, visto que ambas dependem exclusivamente das condições meteorológicas. A conversão de ECA em ETP depende de um coeficiente de proporcionalidade, denominado coeficiente do tanque (Kp). Kp depende por sua vez de uma série de fatores, sendo os principais o tamanho da bordadura, a umidade relativa do ar e a velocidade do vento. ETP = ECA * Kp O valor de Kp é fornecido por tabelas, equações, ou ainda pode-se empregar um valor fixo aproximado, caso não haja disponibilidade de dados de UR e U para sua determinação. Duas situações são consideradas para a obtenção do Kp. MÉTODOS INDIRETOS LCE 360 - Meteorologia Agrícola Sentelhas/Angelocci Vento (km/d) Bordadura (m) UR <40% 40 a 70% >70% Leve 1 0,55 0,65 0,75 (<175) 10 0,65 0,75 0,85 100 0,70 0,80 0,85 1000 0,75 0,85 0,85 Moderado 1 0,50 0,60 0,65 (175 a 425) 10 0,60 0,70 0,75 100 0,65 0,75 0,80 1000 0,70 0,80 0,80 Valores de Kp para o Caso A Vento (km/d) Bordadura (m) UR <40% 40 a 70% >70% Leve 1 0,70 0,80 0,85 (<175) 10 0,60 0,70 0,80 100 0,55 0,65 0,75 1000 0,50 0,60 0,70 Moderado 1 0,65 0,75 0,80 (175 a 425) 10 0,55 0,65 0,70 100 0,50 0,60 0,65 1000 0,45 0,55 0,60 Valores de Kp para o Caso B * Raio de bordadura do tanque com grama * Raio de bordadura do tanque sem grama Método do Tanque Classe A Exemplo Além das tabelas, Kp pode ser determinado pela seguinte equação: Kp = 0,482 + 0,024 Ln (B) – 0,000376 U + 0,0045 UR B = bordadura, em m; U = velocidade do vento, em km/d; UR = umidade relativa do ar, em % Além disso pode-se adotar um valor fixo de Kp, quando não se dispõe dos dados de B, U e UR: Kp = 0,7 a 0,8 Local: Piracicaba (SP) – latitude 22o42´S 25/02/2001 – ECA = 5,6 mm/d, UR = 68%, U = 2,0 m/s (172,8 km/d), B = 10m Kp Tabelado para o Caso A – Kp = 0,75 ETP = 0,75 * 5,6 = 4,2 mm/d Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva Métodos de Estimativa da ETP ou ETo Método de Thornthwaite Método empírico baseado apenas na temperatura média do ar, sendo esta sua principal vantagem. Foi desenvolvido para condições de clima úmido e, por isso, normalmente apresenta sub-estimativa da ETP em condições de clima seco. Apesar dessa limitação, é um método bastante empregado para fins climatológicos, na escala mensal. Esse método parte de uma ET padrão (ETp), a qual é a ET para um mês de 30 dias e com N = 12h. A formulação do método é a seguinte: ETp = 16 (10 Tm/I)a(0 ≤ Tm < 26,5oC) ETp = -415,85 + 32,24 Tm – 0,43 Tm2 (Tm 26,5oC) I = 12 (0,2 Ta)1,514 sendo Ta = temp. média anual normal a = 0,49239 + 1,7912 10-2 I – 7,71 10-5 I2 + 6,75 10-7 I3 ETP = ETpp * Fc (mm/mês), ETpp evapotranspiração potencial média padrão mensal Fc = N/12 * NDP/30 sendo N = fotoperíodo do mês em questão NDP = dias do período em questão ATENÇÃO :Fc poderar ser dado em forma de tabela, assim não é necessário calcular Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva Método de Thornthwaite Exemplo Local: Piracicaba (SP) – latitude 22o42´S Janeiro – Tmed = 24,4oC, N = 13,4h, NDP = 31 dias, Ta = 21,1oC I = 12 (0,2 21,1)1,514 = 106,15 a = 0,49239 + 1,7912 10-2 (106,15) – 7,71 10-5 (106,15)2 + 6,75 10-7 (106,15)3 = 2,33 ETp = 16 (10 24,4/106,15)2,33 = 111,3 mm/mês ETP = 111,3 * COR COR = 13,4/12 * 31/30 ETP = 111,3 * 13,4/12 * 31/30 = 128,4 mm/mês ETP = 128,4 mm/mês ou 4,14 mm/dia Agrometeorologia Fábio Adriano Monteiro Saraiva a c T FETP I 1016 Método de Thornthwaite O método de Thorntwaite é calculado da seguinte forma: a c T FETP I 1016 Onde: ETP = Evapotranspiração potencial (mm/mês) Fc = Fator de correção em função da latitude e mês do ano; (ver tabela) a = 6,75 . 10-7 . I3 – 7,71 . 10-5 . I2 + 0,01791 . I + 0,492 (mm/mês) I = índice anual de calor, correspondente a soma de doze índices mensais; T =Temperatura média mensal (oC) 12 1 514,1 5i iTI Método de Thornthwaite O indice de area foliar (IAF), denominado por Watson (1947) como sendo a razão entre a área foliar do dossel e a unidade de superfície projetada no solo (m2/m2), e uma variavél biofísica que esta diretamente relacionada com a transpiração e a produtividade florestal. O IAF é computado ao considerar a superfície de apenas uma das faces das folhas. Para plantações florestais é importante quantificar o IAF: - torna-se possível sua utilização como variável de entrada em modelos hidrológicos e de crescimento; - permite computar o uso de água de plantações florestais e é fundamental tanto na avaliação de seus impactos ambientais quanto na aferição de sua sustentabilidade; - os modelos de crescimento permitem, por outro lado, simular o efeito de variações climáticas e da fertilidade do solo sobre o potencial produtivo dessas plantações. ÍNDICE DE ÁREA FOLIAR (IAF) Balanço Hídrico Prof. Fábio Adriano Monteiro Saraiva FARO/PVH – 2013 Aula (BH Climatológico Normal) Engenharia Florestal - EFO 17 Agrometeorologia Ciclo Hidrológico e Balanço Hídrico LCE 360 - Meteorologia Agrícola O balanço hídrico nada mais é do que o computo das entradas e saídas de água de um sistema. Várias escalas espaciais podem ser consideradas para se contabilizar o balanço hídrico. Na escala macro, o “balanço hídrico” é o próprio “ciclo hidrológico”, cuja resultado fornecerá a água disponível no sistema (no solo, rios, lagos, vegetação úmida e oceanos), ou seja na biosfera. Fluxos componentes do balanço hídrico para condições naturais LCE 360 - Meteorologia Agrícola Sentelhas/Angelocci ARM P O Ri DLi Ro DLo AC DP ET Considerando-se um volume controle de solo, o BH apresenta os seguintes fluxos (variação no intervalo de tempo considerado). Ri = escorrimento (deflúvio) superficial DLi = escorrimento sub-superficial = drenagem profunda = ascensão capilar LCE 360 - Meteorologia Agrícola Sentelhas/Angelocci Entradas P = chuva O = orvalho Ri = escorrimento (deflúvio) superficial DLi = escorrimento sub-superficial AC = ascensão capilar Saídas ET = evapotranspiração Ro = escorrimento (deflúvio) superficial DLo = escorrimento sub-superficial DP = drenagem profunda Equacionando-se as entradas (+) e as saídas (-) de água do sistema, tem-se a variação de armazenamento de água no solo ARM = P + O + Ri + DLi + AC – ET – Ro – DLo – DP A chuva representa a principal entrada de água em um sistema, ao passo que a contribuição do orvalho só assume papel importante em regiões muito áridas, sendo assim desprezível. As entradas de água pela ascensão capilar também são muito pequenas e somente ocorrem em locais com lençol freático superficial e em períodos muito secos. Mesmo assim, a contribuição dessa variável é pequena, sendo também desprezível. Já os fluxos horizontais de água (Ri, Ro, DLi e DLo), para áreas homogêneas, se compensam, portanto, anulando-se. A ET é a mais significativa saída de água do sistema, especialmente nos períodos secos, ao passo que DP constitui-se em outra via de saída de água do volume controle de solo nos períodos excessivamente chuvosos. LCE 360 - Meteorologia Agrícola Sendo assim, pode-se considerar que Ri Ro, DLi DLo, O e AC desprezíveis, o que resulta na seguinte equação geral do balanço hídrico: ARM = P – ET – DP Por meio dessa equação, pode-se determinar a variação da disponibilidade de água no solo. Caso se conheça a capacidade de água disponível (CAD) desse solo, pode-se determinar também a quantidade de água armazenada por ele. Uma das formas de se contabilizar o balanço de água no solo é por meio do método proposto por Thornthwaite e Mather (1955), denominado de Balanço Hídrico Climatológico, no qual a partir dos dados de P, de ETP e da CAD, chega-se aos valores de disponibilidade de água no solo (Armazenamento = ARM), de alteração do armazenamento de água do solo (ALT = ARM), de evapotranspiração real (ETR), de deficiência hídrica (DEF) e de excedente hídrico (EXC = DP). LCE 360 - Meteorologia Agrícola Sentelhas/Angelocci Balanço Hídrico Climatológico O Balanço Hídrico Climatológico foi desenvolvido inicialmente com o objetivo de se caracterizar o clima de uma região, de modo a ser empregado na classificação climática desenvolvida por Thornthwaite na década de 40. Posteriormente, esse método começou a ser empregado para fins agronômicos dada a grande interrelação da agricultura com as condições climáticas. O Balanço Hídrico Climatológico (BHC) elaborado com dados médios de P e ETP de uma região é denominado de BHC Normal. Esse tipo de BH é um indicador climatológico da disponibilidade hídrica na região, por meio da variação sazonal das condições do BH ao longo de um ano médio (cíclico), ou seja, dos períodos com deficiências e excedentes hídricos. Essas informações são de cunho climático e, portanto, auxiliam no PLANEJAMENTO AGRÍCOLA. O Balanço Hídrico Climatológico (BHC) elaborado com dados de P e ETP de um período ou de uma seqüência de períodos (meses, semanas, dias) deum ano específico para uma certa região é denominado de BHC Seqüencial. Esse tipo de BH fornece a caracterização e variação sazonal das condições do BH (deficiências e excedentes) ao longo do período em questão. Essas informações são de grande importância para as TOMADAS DE DECISÃO. LCE 360 - Meteorologia Agrícola i Elaboração do Balanço Hídrico Climatológico Para se elaborara o BHC, seja ele o Normal ou o Seqüencial, há a necessidade de se conhecer a capacidade de água disponível no solo (CAD). A CAD representa a lâmina máxima de água que determinado tipo de solo pode reter em função de suas características físico-hídricas, ou seja, umidade na capacidade de campo (cc), umidade no ponto de murcha permanente (pmp), massa específica do solo (dg) e da profundidade efetiva do sistema radicular (Zr), onde se concentram cerca de 80% das raízes. Veja a representação esquemática abaixo e a seguir as diferentes formas de se determinar a CAD. (cm3/cm3) Z cc sat pmp Zr 0 0 Água gravitacional Água residual Capacidade de Água Disponível (CAD) Esquema didático da capacidade de água disponível (CAD) (a) e da distribuição física (b) de um solo. LCE 360 - Meteorologia Agrícola i Elaboração do Balanço Hídrico Climatológico Antes de iniciarmos o BHC propriamente dito, há a necessidade de se entender como o método proposto por T&M (1955) considera a retirada e a reposição de água do solo. Os autores adotaram uma função exponencial para a retirada de água do solo (ver esquema abaixo), ao passo que a reposição é direta, simplesmente somando-se ao armazenamento de água do solo o saldo positivo do balanço entre P e ETP [(P – ETP)+]. ARM/CAD |NAc/CAD| 1 0 0 RETIRADA DE ÁGUA DO SOLO Nac = negativo acumulado = (P-ETP)<0 Sempre que houver valor de (P-ETP)<0, esse valor deve ser acumulado e em função dele se clacula o ARM, usando-se a seguinte expressão: ARM = CAD * e-|NAc/CAD| Retirada se (P – ETP) < 0 R e p o s iç ã o s e ( P – E T P ) 0 REPOSIÇÃO DE ÁGUA NO SOLO Sempre que houver valor de (P-ETP)0, esse valor deve ser somado ao ARM do período anterior e em função desse novo valor de ARM, calcula-se o novo NAc usando-se a seguinte expressão: NAc = CAD * Ln ARM/CAD ARM = P – ET – DP LCE 360 - Meteorologia Agrícola Elaboração do Balanço Hídrico Climatológico Conhecendo-se P, ETP, a CAD e como se dá a retirada e reposição de água no solo, pode- se agora iniciar a elaboração do BHC propriamente dita. Porém, antes iremos fazer algumas simulações para que o processo fique bem claro. Para tais simulações iremos considerar intervalos de tempo de 5 dias, numa seqüência de 6 períodos, e uma CAD = 100mm. Além disso, é necessário se definir algumas outras variáveis: NAc = (P-ETP)>0 ARM = CAD e-|NAc/CAD| NAc = CAD Ln (ARM/CAD) ALT = ARMi – ARMi-1 Se (P-ETP) 0 ETR = ETP Se (P-ETP) < 0 ETR = P + |ALT| DEF = ETP – ETR Se ARM < CAD EXC = 0 Se ARM = CAD EXC = (P-ETP) - ALT LCE 360 - Meteorologia Agrícola Simulação 1 P = 50 mm ETP = 25 mm ARMi = 100 ARMf = 100 (P-ETP) = +25 mm ARMf = 100 + 25 = 100 NAc = 0 ALT = 100 – 100 = 0 ETR = ETP = 25 mm DEF = 0 EXC = 25 – 0 = 25 mm Simulação 2 P = 10 mm ETP = 25 mm ARMi = 100 ARMf = 86 (P-ETP) = -15 mm ARMf = 100 * e-15/100 = 86 NAc = -15 ALT = 86 – 100 = -14 ETR = 10 + |-14| = 24 mm DEF = 25 – 24 = 1 mm EXC = 0 Situações Simuladas do Balanço Hídrico Climatológico Obs: veja que ARM não pode ultrapassar a CAD P = precipitação , ARMf = armazenamento final de água , ARMf = armazenamento inicial de água e NAc = negativo acumulado, DEF = deficiência hídrica, EXC = excedente hídrico , ETR = evapotranspiração real, ETP = evapotranspiração potencial LCE 360 - Meteorologia Agrícola Simulação 3 P = 0 mm ETP = 25 mm ARMi = 86 ARMf = 67 Simulação 4 P = 40 mm ETP = 25 mm ARMi = 67 ARMf = 82 (P-ETP) = -25 mm ARMf = 100 * e-40/100 = 67 NAc = -15 + (-25) = -40 ALT = 67 - 86 = -19 ETR = 0 + |-19| = 19 mm DEF = 25 – 19 = 6 mm EXC = 0 (P-ETP) = +15 mm ARMf = 67 + 15 = 82 NAc = 100 Ln 82/100 = -20 ALT = 82 – 67 = +15 ETR = ETP = 25 mm DEF = 0 EXC = 15 – 15 = 0 Situações Simuladas do Balanço Hídrico Climatológico LCE 360 - Meteorologia Agrícola Simulação 5 P = 2 mm ETP = 25 mm ARMi = 82 ARMf = 65 Simulação 6 P = 100 mm ETP = 25 mm ARMi = 65 ARMf = 100 (P-ETP) = -23 mm ARMf = 100 * e-43/100 = 65 NAc = -20 + (-23) = -43 ALT = 65 - 82 = -17 ETR = 2 + |-17| = 19 mm DEF = 25 – 19 = 6 mm EXC = 0 (P-ETP) = +75 mm ARMf = 65 + 75 = 100 NAc = 100 Ln 100/100 = 0 ALT = 100 – 65 = +35 ETR = ETP = 25 mm DEF = 0 EXC = 75 – 35 = 40 mm Obs: veja que ARM não pode ultrapassar a CAD Situações Simuladas do Balanço Hídrico Climatológico LCE 360 - Meteorologia Agrícola i Roteiro para a Elaboração do Balanço Hídrico Climatológico OBS: O roteiro a seguir é apresentado para a elaboração de um Balanço Hídrico Climatológico Normal, ou seja, para um ano cíclico. Porém, com exceção para o modo de inicialização do BH, esse mesmo roteiro servirá para a elaboração do balanço hídrico Seqüencial e também o de Cultura (quando usaremos ETc ao invés de ETP e estimaremos ETr ao invés de ETR). 1) Estimativa da ETP – deve-se estimar a ETP com o método mais adequado para a região, em função dos dados meteorológicos disponíveis 2) Obtenção de dados de chuva (P) – esses dados devem ser obtidos junto a publicações que forneçam as normais climatológicas da região 3) Calcular (P-ETP), mantendo-se os sinais positivos (+) e negativos (-) OBS: a partir daqui deve-se preencher as colunas a seguir (NAc e ARM) simultâneamente, iniciando-se com o primeiro mês com valor de (P-ETP) < 0, após uma seqüência de valores positivos de (P-ETP), ou seja no início da estação seca. Porém, o valor de ARM a ser determinado para se iniciar o BHC Normal, será o do último mês (período) da estação úmida [com (P-ETP)0]. A determinação do ARM no último período da estação úmida deverá seguir as seguintes condições: A – se (P-ETP) anual 0 ARM = CAD no último período da estação úmida B – se (P-ETP) anual < 0, mas (P-ETP)+ CAD Idem a A C – se (P-ETP) anual < 0 e (P-ETP)+ < CAD NAc = CAD*Ln [((P-ETP)+/CAD)/(1 - e(P-ETP) -/CAD)] no último período da estação úmida LCE 360 - Meteorologia Agrícola 4) Determinação do NAc e do ARM Se (P-ETP) < 0 Calcula-se o NAc, ou seja os valores acumulados de (P-ETP) negativos, e posteriormente se calcula o valor do ARM (ARM = CAD e-|NAc/CAD| ) Se (P-ETP) 0 Calcula-se primeiro o ARM [ARM = ARM anterior + (P-ETP)] e, posteriormente, calcula-se o NAc [NAc = CAD Ln (ARM/CAD)]. Nessa condição, o NAc deve ser determinado caso haja um próximo período com (P- ETP)<0 5) Cálculo da Alteração (ALT = ARM) ALT = ARMatual – ARManterior (ALT > 0 reposição; ALT < 0 retirada de água do solo) 6) Determinação da ETR (EvapotranspiraçãoReal) Se (P-ETP) < 0 ETR = P + |ALT| Se (P-ETP) 0 ETR = ETP 7) Determinação da DEF (Deficiência hídrica = quanto o sistema solo-planta deixou de evapotranspirar) DEF = ETP - ETR 8) Determinação do EXC (Excedente hídrico, que corresponde à água que não pode ser retida e drena em profundidade = água gravitacional) Se ARM < CAD EXC = 0 Se ARM = CAD EXC = (P-ETP) - ALT LCE 360 - Meteorologia Agrícola Exemplo do Balanço Hídrico Climatológico Normal Mês ETP P (P-ETP) NAc ARM ALT ETR DEF EXC mm mm mm mm mm mm mm mm mm Jan 116 271 +155 0 100 0 116 0 155 Fev 97 215 Mar 104 230 Abr 88 119 Mai 78 20 Jun 63 9 Jul 62 5 Ago 90 12 Set 94 30 Out 109 123 Nov 106 223 Dez 106 280 Ano 1113 1537 +424 Local: Período: 1961-2012 CAD = 100 mm Mês em que se iniciou o BHC Normal (Usando critério A da inicialização) Exemplo do Balanço Hídrico Climatológico Normal Mês ETP P (P-ETP) NAc ARM ALT ETR DEF EXC mm mm mm mm mm mm mm mm mm Jan 116 271 +155 0 100 0 116 0 155 Fev 97 215 +118 0 100 0 97 0 118 Mar 104 230 +126 0 100 0 104 0 126 Abr 88 119 +31 0 100 0 88 0 31 Mai 78 20 -58 -58 56 -44 64 14 0 Jun 63 9 Jul 62 5 Ago 90 12 Set 94 30 Out 109 123 Nov 106 223 Dez 106 280 Ano 1113 1537 Local: Período: 1961-1990 CAD = 100mm Mês em que se iniciou o BHC Normal (Usando critério A da inicialização) Exemplo do Balanço Hídrico Climatológico Normal Mês ETP P (P-ETP) NAc ARM ALT ETR DEF EXC mm mm mm mm mm mm mm mm mm Jan 116 271 +155 0 100 0 116 0 155 Fev 97 215 +118 0 100 0 97 0 118 Mar 104 230 +126 0 100 0 104 0 126 Abr 88 119 +31 0 100 0 88 0 31 Mai 78 20 -58 -58 56 -44 64 14 0 Jun 63 9 -54 -112 33 -23 32 31 0 Jul 62 5 Ago 90 12 Set 94 30 Out 109 123 Nov 106 223 Dez 106 280 Ano 1113 1537 +424 0 898 215 639 Local: Período: 1961-1990 CAD = 100mm Mês em que se iniciou o BHC Normal (Usando critério A da inicialização) LCE 360 - Meteorologia Agrícola Sentelhas/Angelocci Exemplo do Balanço Hídrico Climatológico Normal Mês ETP P (P-ETP) NAc ARM ALT ETR DEF EXC mm mm mm mm mm mm mm mm mm Jan 96 45 -51 -261 7 -5 50 46 0 Fev 80 58 -22 -283 6 -1 59 21 0 Mar 94 100 +6 -212 12 +6 94 0 0 Abr 75 115 +40 -65 52 +40 75 0 0 Mai 76 104 +28 -22 80 +28 76 0 0 Jun 63 122 +59 0 100 +20 63 0 39 Jul 60 133 +73 0 100 0 60 0 73 Ago 63 74 +11 0 100 0 63 0 11 Set 60 47 -13 -13 88 -12 59 1 0 Out 83 33 -50 -63 53 -35 68 15 0 Nov 89 18 -71 -134 26 -27 45 44 0 Dez 98 22 -76 -210 12 -14 36 62 0 Ano 937 871 -66 0 748 189 123 Local: Garanhuns, PE (Lat. 8o33´S) Período: 1961-1990 CAD = 100mm Mês em que se iniciou o BHC Normal (Usando critério B da inicialização) LCE 360 - Meteorologia Agrícola Sentelhas/Angelocci Aferição do BHC Normal P = ETP + (P-ETP) 871 = 937 + -66 P = ETR + EXC 871 = 748 + 123 ETP = ETR + DEF 937 = 748 + 189 ALT = 0 0 = 0 Representação gráfica do BHC Normal Aferição do BHC Normal Simplificada (EXC e –DEF) Completa (EXC, DEF, ALT) Garanhuns, PE (1961-1990) - CAD = 100mm -150 -100 -50 0 50 100 150 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez m m DEF(-1) EXC Garanhuns, PE (1961-1990) - CAD = 100mm -150 -100 -50 0 50 100 150 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez m m Deficiência Excedente Retirada Reposição Garanhuns, PE LCE 360 - Meteorologia Agrícola Sentelhas/Angelocci Exemplo do Balanço Hídrico Climatológico Normal Mês ETP P (P-ETP) NAc ARM ALT ETR DEF EXC mm mm mm mm mm mm mm mm mm Jan 105 143 +38 0 100 0 105 0 38 Fev 92 148 +56 0 100 0 92 0 56 Mar 90 121 +31 0 100 0 90 0 31 Abr 64 118 +54 0 100 0 64 0 54 Mai 44 131 +87 0 100 0 44 0 87 Jun 35 129 +94 0 100 0 35 0 94 Jul 36 153 +117 0 100 0 36 0 117 Ago 43 166 +123 0 100 0 43 0 123 Set 47 207 +160 0 100 0 47 0 160 Out 68 167 +99 0 100 0 68 0 99 Nov 82 141 +59 0 100 0 82 0 59 Dez 100 162 +62 0 100 0 100 0 62 Ano 806 1786 +980 0 806 0 980 Local: Passo Fundo, RS (Lat. 28o15´S) Período: 1961-1990 CAD = 100mm Neste caso, o BHC Normal pode ser iniciado em qualquer mês com ARM = CAD, pois não há negativo acumulado LCE 360 - Meteorologia Agrícola Sentelhas/Angelocci Aferição do BHC Normal P = ETP + (P-ETP) 1786 = 806 + 980 P = ETR + EXC 1786 = 806 + 980 ETP = ETR + DEF 806 = 806 + 0 ALT = 0 0 = 0 Representação gráfica do BHC Normal Aferição do BHC Normal Simplificada (EXC e –DEF) Completa (EXC, DEF, ALT) Passo Fundo, RS (1961-1990) - CAD = 100mm -150 -100 -50 0 50 100 150 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez m m DEF(-1) EXC Passo Fundo, RS (1961-1990) - CAD = 100mm -150 -100 -50 0 50 100 150 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez m m Deficiência Excedente Retirada Reposição 52/20 “Tente mover o mundo - o primeiro passo será mover a si mesmo.” Platão MENSAGEM
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