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81POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA �6� �"-Ê��Ê/,� 1/���"Ê�� � /��Ê "Ê ,�-��Ê Denise Lucena Cavalcante142 Pós-Doutora pela Universidade de Lisboa. Doutora pela PUC/SP. Professora de Direito Tributário e Financeiro da UFC SUMARIO: 1. Considerações iniciais. 2. Sustentabilidade inanceira com foco na proteção ambiental. 3. Perspectivas da tributação ambiental no Brasil. 4. Estímu- los iscais ecológicos nos tributos tradicionais no âmbito brasileiro. 4.1. Incentivos no setor de transportes. 4.2. Incentivos no setor imobiliário. 4.3. ICMS ecológico. 5. Projetos de lei relevantes em matéria de tributação ambiental. 6. Considerações inais. 7. Referências. 142 £°Ê " -�� ,��) -Ê� � ���- Esse artigo tem por objetivo apresentar alguns pontos relevantes do desenvolvimento da tributação ambiental no contexto brasileiro, desta- cando a doutrina como também, os avanços da legislação que se instaura no país nos últimos anos. 142. Líder do Grupo de Pesquisa em Tributação Ambiental UFC/CNPq. Procuradora da Fazenda Nacional/Ministério da Fazenda/Brasil. E-mail: deniluc@fortalnet.com.br. URQUIZU.indb 81 10/04/13 10:49 DENISE LUCENA CAVALCANTE PARTE PRIMERA TRIBUTOS Y PROTECCIÓN AMBIENTAL 82 POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA Ressalta-se que, sendo o Brasil um país de proporções continentais, muito ainda tem o que ser feito no âmbito da tributação ambiental, prin- cipalmente em relação a necessidade de uniformização legislativa entre os entes federativos (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) que, em alguns casos, têm tido posicionamentos diferentes e, em alguns momen- tos até antagônicos. Contudo, mesmo diante das diiculdades em harmonizar a legislação no Brasil, não se pode deixar de reconhecer que os primeiros passos já foram dados e já se observa um processo de redirecionamento do sistema tributário nacional para a proteção ambiental. O Direito Tributário brasileiro deve ampliar seu foco para dar diretri- zes à sustentabilidade inanceira, que deverá atuar em prol da sustentabi- lidade ambiental com a máxima urgência que o caso requer. Ó°ÊÊ-1-/ /� ������ Ê�� � �,�Ê "�Ê �" "Ê �Ê*,"/ ��"Ê�� � /�� Trataremos aqui da sustentabilidade no sentido utilizado na área ju- rídica, que é diferente da concepção da área econômica. Na teoria eco- nômica a sustentabilidade inanceira refere-se à questão da solvabilidade inanceira do governo em relação à dívida pública. Na área jurídica a sus- tentabilidade está diretamente relacionada com a boa governança focada no desenvolvimento econômico comprometido com o meio ambiente143. Não se pode mais permitir que o crescimento econômico descontro- lado das nações ponha em risco todo o Planeta. Isso seria admitir um assassinato consensual das futuras gerações. Daí por que a palavra de ordem deste novo milênio é sustentabilidade, mesmo cientes de que não será fácil a assimilação das novas diretrizes exigidas por essa nova era, 143. Sobre essa questão ver: CAVALCANTE, Denise Lucena. Sustentabilidade inanceira em prol da sustentabilidade ambiental. In: Novos horizontes da tributação: um diálogo luso-brasileiro. Cadernos IDEFF Internacional, n. 2, Coimbra: Almedina, p. 95-208, 2012. URQUIZU.indb 82 10/04/13 10:49 AVANÇOS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 83POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA uma vez que, em alguns casos, representam mudanças drásticas do com- portamento de toda uma civilização. Para a promoção do desenvolvimento sustentável o mundo contem- porâneo tem de deinir diretrizes claras e promover medidas diretas, dei- xando de lado as tradicionais formas de desenvolvimento econômico que só visam ao im, sem se preocuparem com os meios utilizados e as con- sequentes formas de deterioração dos recursos ambientais para alcançar suas metas. No âmbito mundial, o alerta para a questão do desenvolvimento sus- tentável144 foi formalmente consagrado pela ONU por intermédio da Co- missão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ao expressar, em 1987, no documento Our Common Future, conhecido também como Relatório Brundtland, que o desenvolvimento sustentável é o que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. O grande desaio, contudo, ainda é a deinição de metas para os paí- ses em desenvolvimento que necessitam crescer, mas, paralelamente, têm que se adequar às novas diretrizes da chamada economia verde, sendo este um dos objetivos do Programa das Nações Unidas para o Desen- volvimento (PNUD), quando formulou um guia para auxiliar os países na elaboração de políticas de inanciamento da luta contra a mudança climática. O desenvolvimento acelerado e desgovernado nas últimas décadas trouxe como consequência a insegurança na preservação da raça humana ante os desequilíbrios ambientais hoje predominantes em todos os cantos do Planeta. Vivemos na era da «sociedade de risco», como bem denomi- nou Ulrich BECK, na qual os processos de modernização de um lado dis- 144. «As raízes dessa expressão estão na constatação da impossibilidade de continuidade do desenvolvimento econômico, nos moldes até então compreendidos, por causarem um, ace- larado e, muitas vezes, irreversível declínio dos recursos naturais. [...] Desenvolvimento sustentável implica, então, o ideal de um desenvolvimento harmônico da economia e eco- logia que deve ser ajustado numa correlação de valores em que o máximo econômico relita igualmente em máximo ecológico.» (DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. 3. ed. São Paulo: Saraiva, p. 112-113). URQUIZU.indb 83 10/04/13 10:49 DENISE LUCENA CAVALCANTE PARTE PRIMERA TRIBUTOS Y PROTECCIÓN AMBIENTAL 84 POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA tribuem riquezas e de outro repartem riscos: modernização como causa, dano como efeito colateral.145 É momento de uma séria mobilidade internacional com vistas a con- ter os avanços da devastação ambiental, sob pena de submeter a risco todo o futuro da humanidade. E não adianta uma «política de camula- gem» das atividades exercidas por alguns países desenvolvidos, que têm um discurso em seu território e uma prática bem diferente nos países de Terceiro Mundo, onde comumente exercem suas atividades industriais e poluentes146. Todas as nações precisam ter consciência de que, agora, ante a fragilidade da natureza e dos tantos abusos praticados pelo homem, o risco é global. No caso dos países em desenvolvimento, como muitos da América Latina, a adequada noção de desenvolvimento sustentável é de enorme relevância, pois não se pode ter uma visão estreita, no sentido de travar o desenvolvimento ou, demasiadamente elástica, ao ponto de causar da- nos ambientais irreversíveis. Políticas públicas adequadas podem e de- vem equacionar a fórmula ideal do que se pretende efetivamente descrever 145. «O conteúdo teórico e o referencial axiológico dos riscos condicionam outros componen- tes: a conlitiva pluralização e diversidade deinitória de riscos civilizacionais observável. Atinge-se, por assim dizer, uma superprodução de riscos, que em parte se relativizam, em parte se complementam, em parte invadem o terreno um dos outros. Cada ponto de vista interessado procura armar-se com deinições de risco, para poder dessa maneira rechaçar os riscos que ameacem seu bolso. Ameaças ao solo, à lora, ao ar, à água e à fauna ocupam uma posição especial nessa luta de todos contra todos em torno das deinições mais lucrativas, na medida em que dão espaço ao bem comum e às vozes daqueles que não têm voz própria (talvezsó mesmo direitos eleitorais ativos e passivos estendidos às gramíneas e minhocas serão capazes de trazer as pessoas à razão). No que diz respeito aos referenciais dos riscos em termos de valores e interesses, tal pluralização é evidente: alcance, urgência e existência de riscos oscilam com a diversidade de valores e interesses. É menos claro se isto também afeta a interpretação do conteúdo dos riscos.» (BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Tradução de Sebastião Nascimento. Título original: Risikogesellschaft. São Paulo: 34, 2010, p. 37). 146. «As indústrias de risco foram transferidas para os países com mão de obra barata. Isto não aconteceu por acaso. Existe uma sistemática ‘força de atração’ entre pobreza extrema e riscos extremos. [...] Em escala mundial, isto ocorre de forma particularmente eloquente: miséria material e cegueira diante do risco coincidem.» (BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Tradução de Sebastião Nascimento. Título original: Risikogesells- chaft. São Paulo: 34, 2010, p. 49-50). URQUIZU.indb 84 10/04/13 10:49 AVANÇOS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 85POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA como desenvolvimento sustentável. E esta fórmula há de considerar os elementos que a integram, sendo tradicionalmente citados o desenvolvi- mento econômico, a equidade social e o equilíbrio ambiental. Daí a concordância com a airmação de que o desenvolvimento não precisa ser contraditório em relação à sustentabilidade147, ao contrário, a introdução da variável ambiental nas atividades econômicas tende a criar mercados e oportunidades. As diretrizes a serem impostas com fulcro no desenvolvimento sustentável não podem ser vistas como blo- queio ao crescimento econômico148, mas sim como possibilidades de novos e diferenciados mercados. Alguns setores já anteciparam este «mercado verde», como, por exemplo, a construção civil, por meio do Green Building e o setor automobilístico, com a fabricação dos veículos não poluentes149, o setor energético quando parte para a produção de energia limpa etc. 147. Assim airma Juarez Freitas: «Quando alguns autores, como é o caso de Anthony Giddens, opõem reservas à expressão desenvolvimento sustentável, vendo-a como oximoro (contra- dição em termos), estão a cogitar de acepção demasiadamente convencional do desenvolvi- mento, isto é, aquela que o embaralha com o crescimento econômico e se exprime no velho PIB. Entretanto, o desenvolvimento não precisa ser contraditório com a sustentabilidade. Claro que não. Desde que se converta num deixar de se envolver com tudo aquilo que apri- siona e bloqueia o lorescimento integral dos seres vivos, o desenvolvimento pode-deve ser plenamente sustentável e homeostático. [...]. Superam-se, a pouco e pouco, os graves enga- nos induzidos pelo PIB, que não mede qualidade de vida, minimamente. Avança-se, rumo à avaliação líquida da atividade econômica.» (FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 43). 148. O comentário a seguir destaca esse receio da perda de competitividade: «The key issue to which those countries which have implemented Green tax reform have been confronted is the pos- sible loss of international competitiveness. Since the bulk of environmentally related taxes deal with energy and transport issues, there is a risk that the competitiveness of some industries could be hurt. This is why some industry sectors (in particular energy intensive industries) are strongly opposed to environmental taxes and tends to promote other instruments, such as voluntary approaches.» (BARDE, Jean-Philippe. Implementing green tax reforms in OECD Countries: progress and barriers. In: ASHIABOR, Hope et al (Ed). Critical issues in environmental taxation: interna- tional and comparative perspectives. V. II, United KINGdom: Richmond Law & Tax, 2005, p. 14). 149. Sobre esta questão no Brasil ver: CAVALCANTE, Denise Lucena. Políticas públicas ambientais no setor automobilístico. In: SCAFF, Fernando Facury; ATHIAS, Jorge Alex (Org.). Direito tributário e econômico aplicado ao meio ambiente e à mineração. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 216-230. URQUIZU.indb 85 10/04/13 10:49 DENISE LUCENA CAVALCANTE PARTE PRIMERA TRIBUTOS Y PROTECCIÓN AMBIENTAL 86 POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA Para alcançar esses objetivos globais temos defendido a criação de uma teoria geral da tributação ambiental transnacional150, com o objetivo de adequar os conceitos universais do Direito Ambiental às inanças pú- blicas, viabilizando, na medida do possível, a elaboração de normas volta- das para as políticas públicas ambientais, principalmente as referentes às atividades estatais regulatórias. Nesse contexto, é importante que o Brasil, juntamento com os demais países, adequem suas normas iscais dando ênfase a questão ecológica, ainal, da mesma forma que o ambiente não tem fronteiras, também não poderão ser divergentes as diretrizes do Direito Tributário Ambiental. As nações devem buscar soluções comuns para o bem-estar mundial. Impor- tante é chegar a um consenso mínimo para a elaboração de uma teoria transnacional, com o necessário intercâmbio de experiências dos modelos que já estão sendo utilizados e os que dão certo. Apresentaremos aqui, sinteticamente, uma descrição geral de algumas medidas ambientais de caráter iscal já introduzidas no Brasil, esperando contribuir para o necessário estudo comparado da legislação isco-ambien- tal, tema dos mais recentes e relevantes no ordenamento jurídico mundial. ΰÊÊ* ,-* /�6�-Ê��Ê/,� 1/���"Ê �� � /��Ê "Ê ,�-�� Embora a crise ambiental seja universal, cada país está em momento muito diferente no grau de evolução desta crise. Enquanto no âmbito da União Europeia, por exemplo, avançam as discussões e aperfeiçoamento da cobrança de tributos sobre a poluição, como o carbon tax, já buscando deinir preços sobre as emissões do gás carbônico – CO 2 , países como o Brasil e muitos outros da América Latina ainda lutam para inserir em sua 150. Ver CAVALCANTE, Denise Lucena. Perspectivas da tributação ambiental na contemporanei- dade. In: WACHOWICZ, MARCOS; MATIAS, João Luis Nogueira (Coord.). Propriedade e meio ambiente – da inconciliação à convergência. Florianópolis: Fundação Boiteaux, 2011, p. 83-96. URQUIZU.indb 86 10/04/13 10:49 AVANÇOS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 87POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA cultura a reciclagem do lixo doméstico, utilizando a redução de tributos para fomentar a educação ambiental, como é o exemplo da redução do imposto predial e territorial urbano (IPTU) da cidade brasileira de Forta- leza que, mediante uma lei, concedeu um desconto de 5% aos condomí- nios residenciais que reciclassem o seu lixo.151 Os instrumentos iscais ambientais contemporâneos estão se dissemi- nando no país neste momento e fortalecendo a deinição e os contornos da tributação ambiental152 A sistematização das diretrizes isco-ambientais deve ser meta gover- namental, bem como, a contraposição da perspectiva contemporânea da tributação com a proteção do meio ambiente, considerando o fato de que a tributação ambiental tem papel fundamental na promoção da sustenta- bilidade ambiental. O momento é de permitir a inovação iscal na adequação dos tributos às atuais exigências ambientais e esta deve ser necessariamente por meio de uma diretriz governamental. Esperasse que o Estado assuma seu papel de sujeito ativo nesta fase de transição para novos modelos econômicos ditos verdes. Não se trata simplesmente de reduzir a discussão ao tributo ecológico. Na verdade, sequerse defende um conceito próprio de tributo ambiental, pois entendemos que não se trata de uma espécie tributária distinta das 151. Lei Complementar nº 0073, de 28 de dezembro de 2009: Art. 2º. Será concedido desconto de 5% (cinco por cento) no valor do IPTU, nos casos de imóveis que instituam separação de resíduos sólidos e que destinem sua coleta para associações e/ou cooperativas de cata- dores de lixo. Disponível em: <http://www.sein.fortaleza.ce.gov.br/legislacao/gerados/leis/ LEI_N73_2009.pdf>. Acesso em: 29 de jul. 2012. 152. «Experience over the last decades has proven that environmentally related taxes can be effective and efficient instruments for environmental policy. They introduce a price signal that helps ensure that polluters take into account the cost of pollution on environmentally related taxes contribute to envi- ronmental improvements by causing price increases that reduce the demand for the environmentally harmful products in questions. All OECD member countries apply several environmentally related taxes. A database operated in co-operation between OECD and the Europe Environment Agency (EEA), currently details about 375 such taxes in OECD countries – plus i.a. some 250 environmen- tally related fees and charges. The taxes raise revenues in the order of 2-2,5% of GDP. About 90% of this revenue stem from taxes on motor vehicle fuel and motor vehicles, whereas revenue-raising is not a prime motivation for many other taxes applied.» (OECD. The political economy of en- vironmentally related taxes. 2006, p. 10). URQUIZU.indb 87 10/04/13 10:49 DENISE LUCENA CAVALCANTE PARTE PRIMERA TRIBUTOS Y PROTECCIÓN AMBIENTAL 88 POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA que estão em curso. Ao contrário, a tributação ambiental não preconiza uma espécie tributária nova, mas, sim, uma reordenação do sistema tri- butário com foco na sustentabilidade ambiental. O que se constata hoje é o surgimento de um novo critério global para o redirecionamento dos sistemas iscais, qual seja, o critério ambiental, sendo a epistemologia ambiental153 o ponto de partido neste redirecionamento. De fato, o mundo que se apresenta hoje é completamente diferente dos modelos que tínhamos nas últimas décadas. Outras realidades surgem e nos impõem novas formas de tratar o próprio Direito. E um mundo em transformação exige também transformação do sistema tributário global. Cada país deve analisar as necessidades de sua sociedade e identiicar os problemas locais, inclusive considerando os recursos naturais em seu terri- tório, com a consciência de que suas soluções terão consequências globais, levando em conta o fato de que um dos grandes desaios do século XXI é exatamente uma deinição global sobre a gestão dos recursos naturais. Mesmo que os países estejam em fases distintas, porém, cada qual no seu ritmo, não se deve relaxar na implementação das necessárias e urgen- tes medidas de proteção ambiental. Instrumentos econômicos diferentes deverão ser utilizados em cada caso. Há a necessidade de estreitar este diálogo entre os âmbitos iscal e ambiental, proporcionando as mudanças necessárias aos modelos produtivos154. 153. «O saber ambiental vai derrubando certezas e abrindo os raciocíonios fechados que expulsam o ambiente dos círculos concêntricos do conhecimento. A epistemologia ambiental confronta o projeto positivista (universal, objetivo) do conhecimento e deslinda as estratégias de poder que se entrelaçam nos paradigmas cientíicos e na racionalidade da modernidade. Esta é sua coerência estratégica. A epistemologia ambiental é uma política do saber que busca a sustenta- bilidade da vida. Para além do propósito de internalizar o ambiente externalizado da centrali- dade do conhecimento e do assédio do poder da ciência; para além do acoplamento da teoria e do pensamento com uma realidade dada, a epistemologia ambiental muda as formas de ser do mundo na relação que o ser estabelece com o pensar, com o saber e o conhecer. É uma epis- temologia política da vida e da existência humana.» (LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental. Tradução de Sandra Valenzuela. 4. Ed., São Paulo: Cortez, 2007 , p. 13-14). Ver também: BEL- CHIOR, Germana Parente Neiva. Hermenêutica jurídica ambiental. São Paulo: Saraiva, 2011. 154. César Garcia Novoa informa que para superar os efeitos da crise a Espanha aprovou em 2009 um Projeto de Lei de Economia Sustentável que tem por objeto introduzir no ordenamento URQUIZU.indb 88 10/04/13 10:49 AVANÇOS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 89POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA Para os países emergentes, este raciocínio aufere mais força a cada dia. Ao contrário do que se pensava até bem pouco tempo, no sentido de que as soluções e diretrizes referentes às grandes questões ambientais partiriam exclusivamente dos países desenvolvidos e dos grandes polui- dores, a história dos últimos anos é surpreendente quando constata um crescimento acelerado das economias emergentes, destacando-se nesse contexto o Brasil. Estes países começam a buscar suas vozes nas decisões globais e a reagir quando diretrizes unilaterais estão sendo impostas pelas grandes nações que, por vezes, estabelecem linhas diretivas que são ver- dadeiros óbices ao próprio desenvolvimento. No Brasil não seria viável se falar nesse momento num novo tributo, ainda que verde, por mais relevante que fosse a sua destinação, conside- rando a elevada carga tributária incidente sobre os cidadãos brasileiros. Daí a importância hoje de novas perspectivas da tributação ambiental sob o aspecto estrutural, que vai muito além da mera imposição tributária, alcançando necessariamente os incentivos iscais. Enfatizamos, porém, o fato de que os benefícios e incentivos iscais em matéria ambiental devem ser acompanhados sempre com a previsão dos seus efeitos relativamente à questão ambiental que se busca proteger e, ainda, com o relatório da renúncia de receita para que não ocorra um desequilíbrio no sistema iscal155. Nessa perspectiva, o Brasil também tem estabelecido novas diretri- zes nos mais diversos setores, mesmo que ainda produza uma legislação jurídico reformas estruturais necessárias para o desenvolvimento sustentável. (NOVOA, Cés- ar Garcia. Medidas iscales para hacer frente a la crisis económica en España. In: MONTEIRO, Sónia; COSTA, Suzana; PEREIRA, Liliana (Coord.). A iscalidade como instrumento de recu- peração econômica. Porto: Vida Económica, 2011, p. 167-192). Ver também: RUIZ GALDÓN, Juan Manuel; JIMÉNEZ FERNÁNDEZ, Angel. El município español ante la tributación ambi- ental en momentos de crisis económica. In: SERRANO ANTÓN, Fernando (Org.). Tributación ambiental y haciendas locales. Navarra: Aranzadi, 2011, p. 159-173. 155. No Brasil, assim está previsto na Lei Complementar n. 101/2000: «Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-inanceiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao dispositivo na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições....». URQUIZU.indb 89 10/04/13 10:49 DENISE LUCENA CAVALCANTE PARTE PRIMERA TRIBUTOS Y PROTECCIÓN AMBIENTAL 90 POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA isco-ambiental voltada para questões setoriais e sem uma uniformida- de nacional, tais diretrizes tem relevância histórica no atual contexto de mudanças, por isso devem ser enaltecidas e divulgadas, aguardando o momento certo deixá-las compatíveis entre si. No cenário mundial, é importante destacar o papel do Brasil com seu grandepotencial de recursos naturais, motivo pelo qual este é um dos prin- cipais países que deve efetivar medidas pontuais na proteção ambiental. Com efeito, bem airma Juarez Freitas quando diz que o Brasil, por moti- vos geopolíticos altamente favoráveis, tem tudo para se converter numa das grandes lideranças mundiais no paradigma da sustentabilidade.156 No Brasil há autorização constitucional para a utilização de instru- mentos iscais como indutores de atividades econômicas, por intermédio de tratamento diferenciado que se exprime por estímulos ou desestímulos iscais, nos termos do art. 170, inc. VI, da Constituição da República: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por im assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...); VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferen- ciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação. Essa diretriz foi introduzida no ordenamento brasileiro pela Emenda Constitucional n. 42/2003, ou seja, após a aprovação do Protocolo de Kyo- to (1997). O Brasil, desde que aprovou o texto do Protocolo de Kyoto, pelo do Decreto Legislativo n. 144, de 20 de junho de 2002, destaca sua parti- 156. «Para isso, mais do que de reformas cosméticas, carece simultaneamente de inovação pessoal e institucional, na abertura de campos promissores para empreendimentos ligados à econo- mia verde, sem o engano de supor que o desenvolvimento sustentável precise gerar inevita- velmente decréscimo recessivo. Bem ao contrário. Oportunidades brilhantes estão a frente. Força realizar a transição para uma cultura do desenvolvimento (de baixo carbono, alta in- clusão, trabalho seguro e decente), em substituição à calçada na economia dos combustíveis fósseis e nos vícios da política.» (FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. Belo Horizonte: Forúm, 2011, p. 29-30). URQUIZU.indb 90 10/04/13 10:49 AVANÇOS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 91POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA cipação mundial na diminuição do efeito estufa157. O compromisso brasi- leiro na redução das emissões dos gases efeito estufa se formalizou através da Lei nº 12.187/2009158, que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima. Estima-se que parte da redução das emissões brasileiras virá do im do desmatamento, principalmente na Amazônia. Os planos de ação em curso no Brasil pretendem principalmente conter o desmatamento na Amazônia, que é o bioma mais ameaçado do País. Muitas outras metas estão sendo implantadas no Brasil de modo a integrar o país nas metas internacionais desse novo século, que deve ser marcado como a era da responsabilidade isco-ambiental, devendo as 157. Foi implantado no Brasil o Programa para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura – Programa ABC, para o Ano Safra 2012/2013. Disponível em: www.bndes.gov. br. Acesso em 10 out. 2012. 158. Esta lei foi alterada recentemente pela Lei n. 12.727, de 17/10/12, que prevê: «Art. 1º-A. Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de Pre- servação Permanente e as áreas de Reserva Legal; a exploração lorestal, o suprimento de matéria-prima lorestal, o controle da origem dos produtos lorestais e o controle e preven- ção dos incêndios lorestais, e prevê instrumentos econômicos e inanceiros para o alcance de seus objetivos. Parágrafo único. Tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável, esta Lei atenderá aos seguintes princípios: I – airmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação das suas lorestas e de- mais formas de vegetação nativa, bem como da biodiversidade, do solo, dos recursos hídri- cos e da integridade do sistema climático, para o bem estar das gerações presentes e futuras; II – reairmação da importância da função estratégica da atividade agropecuária e do papel das lorestas e demais formas de vegetação nativa na sustentabilidade, no crescimento eco- nômico, na melhoria da qualidade de vida da população brasileira e na presença do País nos mercados nacional e internacional de alimentos e bioenergia; III – ação governamental de proteção e uso sustentável de lorestas, consagrando o compro- misso do País com a compatibilização e harmonização entre o uso produtivo da terra e a preservação da água, do solo e da vegetação; IV – responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em cola- boração com a sociedade civil, na criação de políticas para a preservação e restauração da vegetação nativa e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais; V – fomento à pesquisa cientíica e tecnológica na busca da inovação para o uso sustentável do solo e da água, a recuperação e a preservação das lorestas e demais formas de vegetação nativa; VI – criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a preservação e a recu- peração da vegetação nativa e para promover o desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis. URQUIZU.indb 91 10/04/13 10:49 DENISE LUCENA CAVALCANTE PARTE PRIMERA TRIBUTOS Y PROTECCIÓN AMBIENTAL 92 POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA atividades estatais de arrecadação e as programações orçamentárias de despesa se voltarem para ações econômicas que promovam o estímulo ao desenvolvimento econômico para resguardo do meio ambiente. O conceito de gestão iscal responsável no Brasil deve ser ajustado às necessidades ambientais contemporâneas, motivo pelo qual sugeri- mos a alteração da Lei de Responsabilidade Fiscal –Lei Complementar n. 101/2000– no sentido de incluir em seus princípios o critério ambiental como condição de boa gestão e, ainda, acrescentar em seu texto uma análise diferenciada para as renúncias de receita quando decorrentes de medidas voltadas à proteção ambiental. Resta claro, também, que muitas das atuais leis que tenham por base a tributação ambiental não são deinitivas; ao contrário, serão úteis somente enquanto perdurar a necessidade de sua adoção, principalmente quando se tratar de incentivo iscal, que não poderá ser eterno. Em alguns casos, a eiciência da lei será inversamente proporcional a sua durabilidade. Isso signiica que a interferência do Estado passa sofrer gradualmen- te por diversas alterações, hoje incentivando determinadas condutas nas atividades econômicas159 com redução ou extinção de tributos; num fu- turo próximo, eliminando os incentivos que não forem mais necessários e, inalmente, chegando à fase em que as atividades prejudiciais ao meio ambiente sejam punidas. Portanto, o que se prevê é um caminho rápido que irá do prêmio à sanção, de acordo com o grau de consciência socio- ambiental de cada povo160. 159. «La política subvencional es ahora una de las funciones principales de nuestro Estado Social. Además, las subvenciones ya no son medidas discrecionales absolutas. Puede existir cierto margen de libertad en la selección de las actividades, fines o ámbitos que se pretenden subvencionar, pero ahora responden a una actividad programada, planificada, constante, indefinida en el tiempo y sólo resta cierta margen de apreciación en los criterios específicos de selección de los beneficiarios.» (SESMA SÁNCHEZ, Begora. Disposiciones generales de la ley general de subvenciones y de su reglamento. In: MARTÍNEZ GINER, Luis Alfonso; NAVARRO FAURE, Amparo (Coord.). Régimen jurídico-inanciero de las subvenciones públicas. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010, p. 20). 160. «Sem dúvida que o prêmio se encontra mais presente no Estado intervencionista e a su- gestão, estanque, de força e coação, represália e punição, do Direito,não mais representa o único meio de orientação social. Norberto Bobbio, citado nos primeiros capítulos, distinguia ordenamento repressivo de ordenamento promocional. Para o primeiro, existiam três formas URQUIZU.indb 92 10/04/13 10:49 AVANÇOS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 93POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA Vive-se uma fase de transição do princípio do poluidor-pagador, pas- sando atualmente pelo protetor-recebedor, até que se estabilizará o con- ceito de sustentabilidade para inalmente concluir com o processo no não-protetor-infrator. Novas políticas iscais ambientais devem se somar aos programas de governos, para que sejam desenvolvidos cada vez mais projetos que vi- sem, de um lado, a garantir segurança, qualidade e economia no desen- volvimento econômico e, de outro, mitigar o impacto desses projetos no meio ambiente. Por exemplo, o estímulo à execução de medidas, como a utilização de aquecedores solares em residências, alia economia e res- peito ao meio ambiente e necessita de um tratamento diferenciado para o Estado mediante benefícios e incentivos iscais. Junto a ela deveriam se somar outras ações eicazes como a utilização de materiais recicláveis que causem menos impactos, além de técnicas e processos na construção civil que evitem o desperdício de energia e matérias-primas161. de impedir uma ação: a) torná-la impossível; b) torná-la difícil; e c) torná-la desvantajosa. No segundo caso, de um ordenamento promocional, as formas de impedir a ação eram: a) torná-la necessária; b) torná-la fácil; e c) torná-la vantajosa. É neste último exemplo que certamente são encontradas as leis de incentivos iscais. Os contribuintes devem poder usar técnicas e meios para reduzir ou eliminar o encargo tributário. Mas para que isso aconteça o Poder Público tem que proporcionar caminhos, mais fáceis e vantajosos, para empregar a terminologia de Bobbio. [...] Os incentivos iscais são tratamentos diferenciados para estimu- lar condutas e nortear diretrizes políticas e econômicas. Representam supressão ou redução da carga tributária. A doutrina estrangeira reconhece serem mais eicazes os incentivos para o controle da poluição, enaltecendo a desoneração em detrimento da imposição tributária, pois a mudança de comportamentos se dá antes de qualquer evento danoso, enquanto a punição sempre ocorre posteriormente, depois do prejuízo já consumado.» (TRENNEPOHL, Terence Dornelles. Incentivos iscais no direito ambiental. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 110- 111.) 161. «O que hoje é opcional em termos de utilização ambientalmente adequada da propriedade urbana, num futuro próximo será uma obrigação. Consequentemente caminha-se para o momento em que a utilização da propriedade fora das adequações ambientais será punida através de sanções severas. Contudo, até que este momento chegue, muito ainda tem que ser feito, principalmente em matéria legislativa, que ainda carece de fundamentação ecológica e de coerência sistemática. Daí porque se defende hoje a adoção da sanção premial no âmbito da tributação ambiental. [...] Analisando a atuação da sociedade contemporânea observa-se que, infelizmente, somente os princípios éticos não são suicientes para proporcionar as mudanças necessárias. É preciso mais. É preciso incentivos econômicos, daí a importân- cia do Estado nesta fase de mudanças de paradigmas relativos à propriedade. Proporcionar URQUIZU.indb 93 10/04/13 10:49 DENISE LUCENA CAVALCANTE PARTE PRIMERA TRIBUTOS Y PROTECCIÓN AMBIENTAL 94 POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA Interessante também destacar no Brasil a introdução do lucro ambien- tal que recompensa diretamente em dinheiro quem está protegendo o meio ambiente. O Decreto n. 7.572, de 28/09/2011, regulamenta dispositivos da Medida Provisória n. 535, de 2 de junho de 2011, que tratam do Programa de Apoio à Conservação Ambiental – Programa Bolsa Verde. Essa política pretende levar às classes mais baixas uma forma de educação ambiental, pa- gando valores anuais para as famílias mantenham preservada a loresta da área onde moram no Interior do Amazonas em troca do dinheiro recebido. Outro ponto a esclarecer é sobre a vinculação do Direito Tributário com as questões ambientais, que não pode ser vista meramente como meio do Estado aumentar sua arrecadação. Ao contrário, nesse momento, o Estado em algumas situações terá que renunciar a parte de sua receita tributária por meio de incentivos iscais destinados às atividades não poluentes, po- rém, numa análise a longo prazo, reduzirá despesas futuras decorrentes do dano ambiental evitado. Assim já foi discutido no texto abaixo162: Não se trata aqui de defender uma competência iscal negativa ad in- finitum, com benefícios abusivos e sem a devida fundamentação, mas sim, incentivos iscais pontuais e com prazos determinados, com o objetivo de atrair investimentos em atividades e projetos não poluen- tes que trarão benefícios imediatos para toda humanidade. Ressalta- se o rigor que deve ser tratado este tema de benefícios para que não se corra o risco de criar benefícios iscais decorrentes de mero lobby político e pressões econômicas, prática tão usual em diversos sistema jurídicos, principalmente o brasileiro. Os benefícios iscais na área de produtos e atividades não poluentes se justiicariam na medida da comprovação do favorecimento de todos. incentivos iscais que viabilizem uma educação ambiental com a utilização adequada da propriedade urbana pode ser um excelente começo para uma mudança de comportamento social.» (CAVALCANTE, Denise Lucena; DANTAS, Eric de Moraes e. Novas perspectivas para o imposto sobre a propriedade territorial urbana – da mitigação dos impactos ambientais decorrentes dos resíduos sólidos: do panorama local para o nacional. In: WACHOWICZ, MAR- COS; MATIAS, João Luis Nogueira (Org.). Direto de propriedade e meio ambiente: novos desaios para o século XXI. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2010, p. 312). 162. CAVALCANTE, Denise Lucena. Políticas públicas ambientais no setor automobilístico. In: SCAFF, Fernando Facury; ATHIAS, Jorge Alex (Coord.). Direito tributário e econômico apli- cado ao meio ambiente e à mineração. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 221. URQUIZU.indb 94 10/04/13 10:49 AVANÇOS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 95POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA No que se refere à política iscal, a situação ainda é mais agravante, uma vez que o Estado quase sempre foca somente na arrecadação imedia- ta, sem levar em consideração as conseqüências a longo e médio prazos163. Então, é fundamental para a proteção do meio ambiente que as po- líticas iscais intervencionistas, regulatórias e promocionais sejam parte da política econômica geral do País, devendo estar coordenadas entre si e com as demais políticas estatais, como a monetária, a do comércio exte- rior, dos preços e salários, entre outras. A gestão isco-ambiental passa a ser tema relevante posto no âmbito contemporâneo, devendo, muito em breve, ser uma característica indis- pensável a todos os gestores públicos brasileiros, como está devidamen- te previsto no Projeto de Lei Complementar n. 493/2009164, art. 2o, ao prever que em todos os contratos, compras, obras, serviços e aquisições governamentais deverá ser considerado o impacto ambiental. O papel dos governos locais é fundamental nesta transição, tanto nos in- vestimentos públicos, como na institucionalização de hábitos de consumo e de produção mais sustentáveis. Ainal, o governo tem que ser o primeiro a mudar. No Brasil, seguindo essa diretriz, podemos indicar como bom exem- plo a Lei n. 12.462, de 5 de agosto de 2011, que ao instituir o Regime Di-ferenciado de Contratações Públicas (RDC), passou a exigir a obrigatorie- dade de observância ao desenvolvimento nacional sustentável165 aplicável 163. «Política fiscal o tributaria – para las finanzas modernas, la importancia principal de los tributos no sólo debe tenerse en cuenta desde el punto de vista de los ingresos que proporciona al fisco, sino también desde el aspecto del intervencionismo. El impuesto, cuya finalidad es obtener fondos para cubrir las erogaciones estatales, puede ser, además, un instrumento que permita al Estado tomar injerencia en la actividad nacional, orientándola. Desde el punto de vista económico, cabe asignar a la política fiscal o tributaria importantes objetivos, como el de favorecer o frenar determinada forma de explotación, la fabricación de ciertos bienes, la realización de determinadas negociaciones, o más generalmente, también se le atribuyen a esta política las importantes misiones de actuar sobre la coyuntura y promover el desarrollo económico.» (VILLEGAS, Héctor B. Curso de inanzas, dere- cho inanciero y tributario. 5. ed. Buenos Aires: Depalma, 1995, p. 818). 164. Projeto em tramitação na Câmara dos Deputados, com a Comissão de Trabalho, de Adminis- tração e Serviço Público (CTASP) desde 17/03/2011. 165. Lei n. 12.462/2011: «Art. 3o. As licitações e contratações realizadas em conformidade com o RDC deverão observar os princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da URQUIZU.indb 95 10/04/13 10:49 DENISE LUCENA CAVALCANTE PARTE PRIMERA TRIBUTOS Y PROTECCIÓN AMBIENTAL 96 POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA às licitações e contratos necessários à realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016 e da Copa das Confederações da Federação Inter- nacional de Futebol Associação –FIFA 2013 e da Copa do Mundo– FIFA 2014166. Também relevante no panorama brasileiro é a crítica relativa à tributa- ção indistinta no consumo de energia elétrica, que não identiica a origem da energia, ou seja, se é produzida por meio de energias renováveis ou não. Essa prática não estimula a substituição dos combustíveis fósseis e, consequentemente, não se está trabalhando para a redução das emissões dos gases poluentes, conforme previsto nas últimas negociações interna- cionais. No que concerne à questão energética apontada pela ONU, constata- se que, no Brasil, também há esse problema, uma vez que as contas de energia cobradas dos consumidores não diferencia e nem indica no seu consumo a proveniência da fonte energética. Ressaltamos, ainda, o fato de a principal fonte de energia no Brasil ser a hidráulica, que representa 74% da oferta interna167, não justiicando o elevado valor pago pelo con- sumidor inal. igualdade, da publicidade, da eiciência, da probidade administrativa, da economicidade, do desenvolvimento nacional sustentável, da vinculação ao instrumento convocatório e do julgamento objetivo». 166. Sobre esta questão comenta Juarez Freitas: «Força vestir, para tanto, nos certames licita- tórios, as lentes da sustentabilidade social, ambiental, econômica, com todas as correlações éticas e jurídico-políticas. Não se trata de simples faculdade, tampouco de modismo pas- sageiro, como costuma objetivar o conservadorismo redutor. Trata-se de assumir, vez por todas, que, em qualquer processo administrativo, o Estado tem de implementar políticas públicas, com o desempenho da função indutora de práticas sustentáveis, ao lado da fun- ção isonômica de oferecer igualação formal e substancial de oportunidades. Vale dizer; as licitações e as contratações públicas, nos próximos tempos, obrigatoriamente terão de ser examinadas num horizonte intertemporal dilatado, mais responsável e conseqüente. (Licitações e sustentabilidade: ponderação obrigatória dos custos e benefícios sociais, am- bientais e econômicos. Revista Interesse Público, Belo Horizonte: Fórum, ano 13, n. 70, nov. dez., 2011, p. 15). 167. Fonte: Balanço energético nacional (2011). Ministério de Minas e Energia/Brasil. Disponí- vel em: <https://ben.epe.gov.br/downloads/Relatorio_Final_BEN_2011.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2012. URQUIZU.indb 96 10/04/13 10:49 AVANÇOS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 97POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA {°ÊÊ -/��1�"-Ê��- ��-Ê "�$�� "-Ê "-Ê/,� 1/"-Ê /,��� �" ��-Ê "Ê�� �/"Ê ,�-�� �,"Ê Ê No Brasil alguns tributos já estão direcionando parte de sua inalidade para a proteção ambiental, da mesma forma que importantes benefícios e incentivos têm iniciado sua parceria com as políticas públicas ambientais. Evidente que os resultados ainda não podem ser dimensionados nesse pri- meiro momento, mas certamente mudanças relevantes estão previstas para mé- dio e longo prazos, principalmente no que se refere à criação de estímulos que visam a propiciar uma mudança no comportamento do cidadão brasileiro. Vejamos a seguir alguns exemplos relevantes na legislação brasileira. {°£°Ê�ViÌÛÃÊÊÃiÌÀÊ`iÊÌÀ>ëÀÌià Considerando o elevado índice de poluição decorrente do setor de transportes no Brasil, que apesar de sua dimensão continental, pouco infraestrutura tem no âmbito do transporte coletivo ferroviário e luvial, perceber-se-á que a maioria das medidas atualmente implantadas estão voltadas para o veículo particular. Algumas medidas de incentivos iscais já existem no âmbito da inci- dência do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), que tem como fato gerador a propriedade de veículo automotor de qual- quer espécie. Em relação a sua aplicação voltada à proteção ambiental, destaca-se, dentre elas, o tratamento diferenciado pelos estados brasileiros em relação à tributação de veículos elétricos ou menos poluentes, repre- sentando esta redução de alíquota um estímulo à diminuição da poluição causada pela emissão de gases oriundos dos veículos tradicionais. No caso da isenção para veículos elétricos ela está em vigor em sete estados brasileiros168 que concedem isenção total do imposto nesses ca- 168. Ceará (Lei n. 12.023 – art. 4, IX – veículos movidos a motor elétrico); Maranhão (Lei n. 5.594 – art. 9º, XI – veículos movidos a força motiz elétrica); Pernambuco (Lei n. 10.849 URQUIZU.indb 97 10/04/13 10:49 DENISE LUCENA CAVALCANTE PARTE PRIMERA TRIBUTOS Y PROTECCIÓN AMBIENTAL 98 POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA sos. São eles: Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piaui, Rio Grande do Nor- te, Rio Grande do Sul, Sergipe. Outros estados como Rio de Janeiro169 e São Paulo170, aplicam uma alíquota reduzida para os veículos movidos a – art. 5, XI – veículo movido a motor elétrico); Piauí (Lei n. 4.548 – art. 5, VII – veículo movido a motor elétrico); Rio Grande do Norte (Lei n. 6.967 – art. 8, XI – veículos movidos a motor elétrico); Rio Grande do Sul (Lei n. 8.115 – art. 4, II – [...] de força motriz elétrica); Sergipe (Lei n. 3.287 – art. 4, XI – veículos movidos a motor elétrico). 169. Lei n. 2.877, de 22 de dezembro de 1997 – Rio de Janeiro: Art. 10. A alíquota do imposto é de: I – [...];II – 4% (quatro por cento) para automóveis de passeio e camionetas, exceto utilitários; II-A – 3% (três por cento) para automóveis de passeio e camionetas bi-combustíveis, movi- dos a álcool e/ou gasolina; (Redação acrescentada pela Lei n.º 5.635/2010). III – 3% (três por cento) para utilitários; IV – 2% (dois por cento) para ônibus, microônibus, motocicletas e ciclomotores; V – 1% (um por cento) para caminhões, caminhões-tratores e veículos de transporte de passageiros a taxímetro pertencentes a pessoas jurídicas; VI – 2% (dois por cento) para automóveis movidos a álcool; VII – 1% (um por cento) para veículos que utilizem gás naturalou energia elétrica; VIII – 0,5% (meio por cento) para veículos destinados exclusivamente à locação, de pro- priedade de pessoa jurídica com atividade de locação devidamente comprovada nos termos da legislação aplicável, ou na sua posse em virtude de contrato formal de arrendamento mercantil ou propriedade iduciária. IX – 4% (quatro por cento) para demais veículos não alcançados pelos incisos anteriores, in- clusive os veículos de procedência estrangeira. (Disponível em:<http://www.fazenda.rj.gov. br>. Acesso em: 25 set. 2012. 170. Lei n. 13.296, de 23 de dezembro de 2008 – São Paulo: Artigo 9º – A alíquota do imposto, aplicada sobre a base de cálculo atribuída ao veículo, será de: I – 1,5% (um inteiro e cinqüenta centésimos por cento) para veículos de carga, tipo cami- nhão; II – 2% (dois por cento) para: a) ônibus e microônibus; b) caminhonetes cabine simples; c) motocicletas, ciclomotores, motonetas, triciclos e quadriciclos; d) máquinas de terraplenagem, empilhadeiras, guindastes, locomotivas, tratores e similares; III – 3% (três por cento) para veículos que utilizarem motor especiicado para funcionar, exclusivamente, com os seguintes combustíveis: álcool, gás natural veicular ou eletricidade, ainda que combinados entre si; IV – 4% (quatro por cento) para qualquer veículo automotor não incluído nos incisos I a III deste artigo. (Disponível em: <http://info.fazenda.sp.gov.br>. Acesso em: 25 set. 2012. URQUIZU.indb 98 10/04/13 10:49 AVANÇOS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 99POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA álcool, gás natural ou energia elétrica, contribuindo para a diminuição da poluição. Quanto aos veículos elétricos a utilização no Brasil ainda é muito re- duzida, principalmente pelo alto custo dos tributos incidentes quando esse tipo de veículo ingressa no país171, mas, mesmo assim é importante estímular a sua utilização para induzir uma mudança futura no compor- tamento da população. Merece destaque a medida pioneira a ser adotada em 2013 no Estado do Rio de Janeiro denominada de IPVA VERDE. Com a criação da Nota Verde para os carros novos mais eicientes no controle da emissão de gases terão desconto no pagamento do imposto devido (IPVA) de acordo com a classiicação dos carros pelo IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente. Os percentuais deverão variar entre 10% e 20% para mais ou para menos no valor total do IPVA, dependendo da situação do automóvel. Em relação aos incentivos na utilização de gás natural veicular (GNV), medidas inovadoras tem se alastrado no país. O Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) publicou no Diário Oicial da União de 04 de outubro de 2012 a prorrogação de disposições de convênios que conce- dem benefícios, entre eles a isenção de ICMS sobre parcela de serviço de 171. «Produção de carro elétrico no país depende do governo. Fabricantes de carros elétricos di- zem que o caminho para a produção e venda desse tipo de veículo no País depende da ação do governo. «Enquanto não houver indicativo de políticas do governo não vamos trazer a tecnologia para o Brasil», airma o diretor de relações institucionais e governamentais da Re- nault Nissan, Antônio Calcagnotto. Durante mesa redonda no 8º Salão Latino-Americano de Veículos Elétricos e Componentes, representantes de fabricantes de veículos elétricos pedi- ram apoio do governo e redução de impostos para o setor. Segundo Calcagnotto, a tecnolo- gia funciona bem e os carros já estão sendo produzidos em massa. «Não são mais protótipos ou testes. Estamos prontos para trazer essa tecnologia se houver incentivo para isso.» Ele explica que o governo brasileiro tem de criar políticas públicas para gerar uma rede de infra- estrutura, envolver mais pessoas e atrair fábricas de veículos elétricos. «Não é a população que vai começar a comprar o veículo elétrico. O uso dessa desse tipo de carro começa pelo Estado. Ocorre que os incentivos para municípios e Estados entrarem nesse mercado ainda são muito pequenos», airma. «Não há como convencer taxistas e a população a pagar R$ 200 mil por um carro elétrico.» Segundo Calcagnotto, o mesmo carro nos Estados Unidos custa em torno de US$ 21 mil(cerca de R$ 42 mil). «O elevado custo no Brasil é provocado pelos impostos», critica. (Fontes: Terra | Valor Econômico, 13/08/2012. (Disponível em: <http://www.abve.org.br/destaques/2012/destaque12025.asp>. Acesso em: 02 out. 2012. URQUIZU.indb 99 10/04/13 10:49 DENISE LUCENA CAVALCANTE PARTE PRIMERA TRIBUTOS Y PROTECCIÓN AMBIENTAL 100 POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA transporte do gás natural. No Estado de Pernambuco haverá isenção de ICMS (Imposto sobre circulação de mercadorias sobre prestações de ser- viços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação) para os taxistas utilizarem gás natural e, ainda, a produção de novos veículos movidos a gás. No âmbito federal destaca o recente Decreto n. 7.819/2012 que regula- menta o novo regime automotivo brasileiro, conhecido como INOVAR AUTO, que será válido entre 2013 e 2017. O benefício da redução do Imposto sobre a Propriedade Industrial (IPI) é um incentivo para que as empresas invistam em processos de fabricação e uso de componentes mais eicientes, para redu- zir o consumo de combustíveis e incentivando a propriedade de carros com preços menores, mais eicientes e com menos emissão de carbono. {°Ó°Ê�ViÌÛÃÊÊÃiÌÀÊL?À O setor imobiliário também vem alterando seu comportamento na área ambiental, sendo cada vez mais divulgada a função socio-ambiental da propriedade no país. O Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) é o tributo que mais se visualiza no Brasil as matérias de tributação ambiental. No caso do IPTU os resultados dos incentivos ecológicos já são visíveis em muitos municí- pios brasileiros. O chamado IPTU Verde trata de benefícios iscais concedidos à popu- lação, mediante a adoção dos princípios da sustentabilidade nas ediica- ções. Muitas são as possibilidades de redução do impostos para aqueles contribuintes que adotem medidas «verdes» na utilização de sua proprie- dade urbana. Exemplos são muitos, como os destacados a seguir. Na cidade de Guarulhos (São Paulo), a Lei nº 6.793/2010 concedeu até 20% de desconto do imposto para imóveis que utilizam energia solar ou eólica; que têm telhados feitos de materiais menos agressivos ao meio ambiente; que reciclam seu lixo, entre outros. A medida está prevista. O Município de Guarulhos (Lei 6.793/2011), elenca um rol de ati- vidades que propiciam a redução de alíquotas, tais como: arborização URQUIZU.indb 100 10/04/13 10:49 AVANÇOS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 101POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA – imóveis com uma ou mais árvores terão desconto de até 2% no valor anual do IPTU; sistema de captação de água de chuva – 3% de desconto; sistema de aquecimento hidráulico solar – 3% de desconto e sistema de aquecimento elétrico solar 3% de desconto; construções com materiais sustentáveis – 3% de desconto; utilização de energia eólica – 5% de desconto etc. A cidade de Porto Alegre, também através da Lei Complementar n. 482/2002 prevê a isenção de IPTU para área urbana considerada de inte- resse ecológico. Da mesma forma, na cidade de Natal (Lei n. 301/2009) prevê isenção de até 50% para propriedades que possuam vegetação arbórea de preser- vação permantente e integração do meio ambiente artiicial e natural. Também o município de Bocaína/SP através da Lei n. 2.209/2008 concede descontos do IPTU para as propriedades que possuam lixeiras suspensas e árvores plantadas. Recentemente o Rio de Janeiro através do Decreto n. 35.745,de 06/06/2012, criou o SELO QUALIVERDE, que é uma certiicação con- cedida pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro com o objetivo de incentivar empreendimentos que contemplem ações e práticas sustentá- veis destinadas a redução dos impactos ambientais. Como consequencia dessas medidas há previsão de projetos de lei que concedam benefícios iscais para a construção de prédios verdes, com descontos de impos- tos sobre a propriedade urbana e sobre a transmissão de bens imóveis (IPTU e ITBI), além de redução de impostos sobre serviços (ISS) durante as obras. Em matéria de construção sustentável o Brasil também vem aumen- tando o percentual de edifícios com certiicação ambiental. Recentemen- te, em setembro de 2012, o Projeto do Escritório Verde da Universida- de Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), recebeu reconhecimento da ONU (Organização das Nações Unidas) por contribuição na promoção de participação comunitária em práticas para a sustentabildade172. 172. Disponível em: < ecotelhado.blog.br/?tag=cobertura-verde>. Acesso em: 2 out. 2012. URQUIZU.indb 101 10/04/13 10:49 DENISE LUCENA CAVALCANTE PARTE PRIMERA TRIBUTOS Y PROTECCIÓN AMBIENTAL 102 POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA {°Î°Ê� �-ÊiV}V O denominado ICMS-ecológico173, apesar da denominação, não se trata de um tributo, mas, sim, de uma técnica de repasse de receitas dos Estados para os Municípios. É um instrumento de incentivo às gestões municipais que possibitam a conservação ambiental. A legislação brasileira deiniu critérios baseados nas metas ambientais para deinir o volume de repasse obrigatório do ICMS pertencente a cada município, nos termos previstos na Constituição Federal, art. 158, inciso IV e parágrafo único, inciso II.174 Essa medida é relevância no país para fomentar a gestão ambiental no âmbito municipal e tem beneiciado vários municípios brasileiros. x°ÊÊ*,"� /"-Ê� Ê� �Ê, � 6� / -Ê �Ê ��/�,��Ê� Ê/,� 1/���"Ê�� � /��Ê Nos últimos anos tem aumentado signiicativamente os números de projetos de lei que versam sobre incentivos iscais em prol do meio am- biente175. Apesar de não estarem sistematizados adequadamente, não se 173. Sobre o tema ver: http://www.icmsecologico.org.br. 174. Constituição Federal: «Art. 158. Pertencem aos Municípios: I – [...] IV – vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre ope- rações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação. Parágrafo único. As parcelas de receita pertencentes aos Municípios, mencionadas no inciso IV, serão creditadas conforme os seguintes critérios: I – três quartos, no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em seus territórios; II – até um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no caso dos Territórios, lei federal.» 175. No estudo realizado em 2009 destacamos projetos relevantes em matéria de tributação am- biental, porém, até esse ano de 2012, muitos ainda estão presos à lentidão do processo le- gislativo brasileiro.Ver: CAVALCANTE, Denise Lucena et al. Projetos em trâmite no congresso URQUIZU.indb 102 10/04/13 10:49 AVANÇOS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 103POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA pode deixar de reconhecer que esses projetos sinalizam uma mudança de postura na gestão pública. Entre as medidas que ainda estão no papel, destacamos os exemplos abaixo elencados: t� �1SPKFUP�EF�&NFOEB�$POTUJUVDJPOBM� 1&$ �O��������176: prevê a al- teração do artigo 150, da Constituição Federal para «instituir imuni- dade de impostos incidentes sobre produtos elaborados com material reciclado ou reaproveitado». t� �1SPKFUP�EF�&NFOEB�$POTUJUVDJPOBM� 1&$ �O����������177 (foi apensa- da à PEC 31/2007): dispõe sobre a alteração do art. 153, § 3º, inciso V, da Constituição Federal, sugerindo a seguinte redação: «V – [o Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI] sofrerá uma redução na base de cálculo em índice igual à porcentagem de material reciclado utilizado.» t� �1SPKFUP�EF�-FJ�O���� �EF�����178: dispõe sobre a organização e regu- lação do mercado de Carbono na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro através da geração de Redução Certiicada de Emissão – RCE em pro- jetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL. t� �1SPKFUP�EF�-FJ�O���������179: concede incentivos para construção de ediicações urbanas que na fase de planejamento, execução das obras nacional acerca do direito tributário ambiental. In: MAIA, Alexandre Aguiar (Coord.). Tribu- tação ambiental. Fortaleza: Tiprogresso, 2009, p. 405-449. 176. O projeto está na COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO, desde13/09/2012. Dispo- nível em: <http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=104116>. Acesso em: 2 nov. 2012. 177. A PEC n. 31/2007 teve varios outros projetos apensados reunindo num só texto diversas ma- térias referentes à Reforma Tributária. O projeto está no Plenário da Câmara dos Deputados desde 14/03/2012. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/ichadetra mitacao?idProposicao=347421>. Acesso em: 2 nov. 2012. 178. O projeto está aguardando Parecer na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) desde 02/05/2011. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/ichadetramitacao ?idProposicao=345329>. Acesso em: 2 nov. 2012. 179. O projeto está pronto para pauta no Plenário da Câmara dos Deputados desde 03/08/2010. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/ichadetramitacao?idProposic ao=340014>. Acesso em: 2 nov. 2012. URQUIZU.indb 103 10/04/13 10:49 DENISE LUCENA CAVALCANTE PARTE PRIMERA TRIBUTOS Y PROTECCIÓN AMBIENTAL 104 POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA e uso das ediicações utilizem práticas ecologicamente sustentáveis, reduzindo o impacto ambiental (CONSTRUÇÃO ECOLÓGICA). t� �1SPKFUP�EF�-FJ�O������������180 (teve apensados a este os Projetos de Lei n. 7.224/2010; n 1.428/2011; n. 3.873/2012): dispõe sobre incenti- vos iscais para projetos ambientais . t� �1SPKFUP�EF�-FJ�O����������181 5FN�BQFOTP�P�QSPKFUP�O���������� : dispõe sobre a organização e regulação do mercado de Carbono na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro através da geração de Redução Cer- tiicada de Emissão – RCE em projetos de Mecanismo de Desenvolvi- mento Limpo – MDL. t� �1SPKFUP�EF�-FJ�$PNQMFNFOUBS�O���������182: propõe uma Reformu- lação Tributária Ecológica, a im de regulamentar o artigo 146-A, da Constituição Federal, instituir os princípios da essencialidade e do diferencial tributário pela sustentabilidade ambiental e oneração das emissões de gases de efeito estufa, e criar a taxação sobre o carbono («carbon tax»), na forma de Contribuição de Intervenção no Domí- nio Econômico, para a sustentabilidade ambiental e a mitigação do aquecimento global. Esses e muitos outros projetos que tramitam no Congresso Nacio- nal sinalizam que o Brasil também está buscando ajustar-se as novas diretrizes mundiais voltadas para a economia verde. Espera-se, con- tudo, que importantes diretrizes não sejam retardadas pelos trâmites políticos e burocráticos em detrimento à urgência que a questão am- biental requer. 180. O projeto está na COORDENAÇÃO DE COMISSÕES PERMANENTES (CCP) desde 05/06/2012. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/ichadetramitacao ?idProposicao=301799>. Acesso em: 2 nov. 2012. 181. O projeto está aguardando Parecer na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) desde 02/05/2011. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/ichadetramitacao?idProposicao=345329&ord=1>. Acesso em: 2 nov. 2012. 182. Aguardando parecer da Comissão de Finanças e Tributação (Câmara dos Deputados) desde 24/05/2012. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/ichadetramitacao ?idProposicao=354998>. Acesso: 2 nov. 2012. URQUIZU.indb 104 10/04/13 10:49 AVANÇOS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 105POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA È°Ê " -�� ,��) -Ê�� ��- O Direito Tributário pode ser um importante aliado à causa ambien- tal. A possibilidade de adaptação do sistema tributário para esse im, tan- to por meio da arrecadação dos tributos, como por intermédio de medidas indutoras de comportamentos ambientalmente sustentáveis, podem pro- duzir resultados muito positivos na gestão estatal. Insistimos na tese de que não é necessário criar novos tributos, mas sim, adequar o sistema para o im ambiental. Concordamos, pois, com a airmação de Tulio Rosembuj183 no sentido de que os tributos ambientais não comportam, em regra, nenhuma atipicidade e seus elementos essen- ciais não são diferentes dos que já conhecidos. A sua particularidade é a deinição de seus objetivos no sentido de fomentar a busca pelo equilíbrio ecológico, como por exemplo, por meio do incentivo à utilização de ener- gia limpa, preservação e conservação dos recursos naturais, como água, ar, solo e desestímulos à utilização e produção de produtos danosos ao meio ambiente etc.Desta forma, não há que se criar uma conceituação es- pecíica de tributo ambiental184, considerando que já há um deinição do gênero no art. 3º, do Código Tributário Nacional Brasileiro. Não se trata 183. «Aquellas figuras tributarias de naturaleza ambiental deben acompañar al conjunto del sistema tributario y, para ello, despojarse de cualquier remota que delate su pretendida atipicidad. En primer lugar, el tributo ambiental no puede definirse por su finalidad que, como dije, es similar a la de los demás, si bien acompañada por un fundamento político, social y económico que lo justifica jurídicamente. La finalidad extrafiscal es provisoria, simplemente una cuestión de tiempo, hasta que se institucionalice la consolidación de la (prevención) necesidad propuesta por el deterioro del bien ambiental, en forma permanente y sistemática: el welfare ecológico es una pieza clave en la socie- dad del bienestar, tanto que de ello depende la supervivencia del propio ser humano o su entorno, donde el proceso de prevención persigue impedir la «no reproducción» del ambiente.» (ROSEMBUJ, Tulio. El impuesto ambiental. Barcelona: El Fisco, 2009, p. 76). 184. Em sentido contrário, há quem deina características próprias para o tributo ambiental. Neste sentido ver: PIMENTA, Carlos Rocha Ramos e; LOPES, Cidália M. Mota. Os limites da tributação ambiental. Um estudo empírico do crédito iscal à defesa e protecção ambiental em Portugal. Fiscalidade: Revista de Direito e Gestão Fiscal, n. 25, jan./mar., 2006, p. 72. OLIVEIRA, Maria Odette Batista de. Os impostos ambientais: alguns aspectos da sua temática. Fiscalidade: Revista de Direito e Gestão Fiscal, n. 19/20, jul./set. e out./dez., 2004, p. 94. NABAIS, José Casalta. Por um estado iscal suportável: estudos de direito iscal. V. III, Coim- bra: Almedina, 2005, p. 191-192. URQUIZU.indb 105 10/04/13 10:49 DENISE LUCENA CAVALCANTE PARTE PRIMERA TRIBUTOS Y PROTECCIÓN AMBIENTAL 106 POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA de uma espécie nova, mas sim de uma nova motivação. Os tributos com ins ambientais, em regra, também não terão exceção à aplicabilidade dos princípios constitucionais tributários185. O que deve ser considerado é a motivação do tributo com fulcro no art. 225, da Constituição da República Federativa do Brasil186, como mui- to bem explica Heleno Taveira Torres187, airmando que no tributo am- biental deve estar presente o motivo constitucional, que é a preservação do meio ambiente, não se vinculando meramente à inalidade no sentido de determinar o destino da receita. De igual modo, não há que se restringir o tributo com ins ambientais a uma só espécie de tributo. A questão da proteção ambiental pode ser fomentada por meio de qualquer espécie tributária, bem como por preços públicos e demais instrumentos da política iscal, como demonstrada a experiência recente de países diversos. Isso porque não se pode desprezar a importante função de proteção ambiental de vários impostos em curso, que não têm na sua hipótese de 185. Eric de Moraes e Dantas explica: «Evidencia-se que o que se intenta realizar não é a des- qualiicação dos tributos com natureza ambiental, negando-lhe a natureza tributária; pelo contrário, o que se pretende realizar é, sob uma ótica de valorização dos ditames constitucio- nais relacionado a priori, uma justiicação constitucional desses tributos de modo a que não percam a sua natureza tributária, buscando harmonizar possíveis tensões entre liberdades, propriedade e meio ambiente por uma releitura da capacidade contributiva aplicada ao fe- nômeno da inalidade extra(iscal) dos tributos. O problema, portanto, não reside em retirar a natureza tributária dos impostos extraiscais, mas em tornar explícito que mesmo os tri- butos extraiscais possuem natureza tributária. Desta natureza tributária decorre o dever de obediência aos limites impostos à tributação, de modo que uma maior margem de atuação dos Poderes estatais não autoriza, ainda que para promover direitos fundamentais, relativi- zações apriorísticas excessivas d‘outros direitos, igualmente fundamentais, do contribuinte». (DANTAS, Eric de Moraes e. Impostos extraiscais ambientais e as exigências de respeito à capacidade contributiva em busca da harmonização de direitos fundamentais. In: MATIAS, João Luis Nogueira; MELO, Alisson José; PEREIRA, Ana Carolina Barbosa (Org). Direitos fun- damentais, fundamentação e eicácia. Florianópolis: FUNJAB, 2011, p. 339-340). 186. «Art. 225. Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.» 187. TORRES, Heleno Taveira. Desenvolvimento, meio ambiente e extraiscalidade no Brasil. In: PIRES, Manuel. Extraiscalidade. Lisboa: Universidade Lusíada, 2011, p. 89. URQUIZU.indb 106 10/04/13 10:49 AVANÇOS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 107POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA incidência a previsão de fatos que repercutem no meio ambiente, entre- tanto, têm no critério quantitativo uma variação de alíquota que intervirá diretamente na proteção ambiental188, como a alíquota reduzida para os veículos elétricos brasileiros, no caso do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Não há como negar a relevância deste im- posto para o fomento à diminuição da poluição. Nosso entendimento em relação ao direito brasileiro é no sentido de que todas as espécies tributárias podem e devem incluir em sua moti- vação o critério ambiental, passando esse princípio geral da atividade econômica, previsto no art. 170, inciso VI, da Constituição da República Federativa do Brasil189, a integrar o rol dos princípios fundamentais do Direito Tributário. Dessa forma, o que se espera é uma remodelação ecológica190 do siste- ma tributário nacional, que deve considerar o meio ambiente como uma diretriz necessária, inclusive, redirecionando ecologicamente os tributos que não tinham na sua origem tal preocupação. 188. Neste sentido, airma: «Com criatividade, é possível adaptar e graduar os tributos conhe- cidos à inalidade preservacionista, em que o poluidor é levado a nãopoluir ou a reduzir a poluição para não ser tributado ou ter a sua carga tributária reduzida e o não-poluidor é isentado. (OLIVEIRA, José MARCOS Domingues de. Direito tributário e meio ambiente. 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 68). 189. «Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por im assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os princípios: I – [...]; VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.» 190. Tipke e Lang utilizam essa expressão com propriedade: «Em princípio há duas vias, a re- modelação ecológica de impostos existentes e a complementação do sistema tributário por novos impostos. Conforme a regra tributária de Canard ‘velhos tributos são bons tributos’ devem em primeiro lugar os tributos existentes ser adaptados em concordância com o prin- cípio da capacidade contributiva. Assim não deve o consumo atual ser por mais tempo preferido e impostos, que com o princípio da capacidade contributiva não são justiicáveis, podem como os impostos prediais ser ecologicamente redestinados. Novos impostos que devem estabelecer um preço ecologicamente justo, necessitam acima de tuda da harmoni- zação internacional. Esforços nacionais isolados deformam a concorrência internacional tão gravosamente, que considerando o mercado de trabalho o princípio da carga ecológica não pode persistir.» (TIPKE, Klaus; LANG, Joachim. Direito tributário. Tradução de Luiz Dória Furquim. Título original: Steuerrecht. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2008, p. 446). URQUIZU.indb 107 10/04/13 10:49 DENISE LUCENA CAVALCANTE PARTE PRIMERA TRIBUTOS Y PROTECCIÓN AMBIENTAL 108 POLÍTICAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL EN EL SIGLO XXI: MEDIDAS TRIBUTARIAS, CONTAMINACIÓN AMBIENTAL Y EMPRESA Ç°Ê, � ,� ��-Ê BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Tra- dução de Sebastião Nascimento. 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