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EXTRAFISCALIDADE - TRIBUTAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO SOCIOAMBIENTAL

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL 
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE VACARIA 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E COMUNICAÇÃO 
CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS 
 
 
 
 
 
MAICON JOSÉ PARIZOTTO ZULIANELLO 
 
 
 
 
 
 
 
EXTRAFISCALIDADE: TRIBUTAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO 
SOCIOAMBIENTAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
VACARIA 
2015
 
 
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL 
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE VACARIA 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E DE COMUNICAÇÃO 
CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS 
 
 
 
 
 
MAICON JOSÉ PARIZOTTO ZULIANELLO 
 
 
 
 
EXTRAFISCALIDADE: TRIBUTAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO 
SOCIOAMBIENTAL 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso para 
obtenção do Grau de Bacharel em 
Ciências Contábeis 
 
Orientador Profª. Me. Maria Teresa 
Martinigui Pacheco 
 
 
 
 
 
VACARIA 
2015
3 
 
 
MAICON JOSÉ PARIZOTTO ZULIANELLO 
 
 
 
 
 
 
EXTRAFISCALIDADE: TRIBUTAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO 
SOCIOAMBIENTAL 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso para 
Obtenção do Grau de Bacharel em 
Ciências Contábeis 
 
Aprovado em 16 de Julho de 2015. 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
____________________________________________ 
Professora Me. Maria Teresa Martinigui Pacheco 
Universidade de Caxias do Sul 
 
____________________________________________ 
Professor Me. Marco André Pegorini 
Universidade de Caxias do Sul 
 
____________________________________________ 
Professor Me. Oderson Panosso 
Universidade de Caxias do Sul 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho à minha 
esposa Liliane Melo do Amaral 
por ter sido a grande 
incentivadora e companheira 
desde o início de minha 
jornada acadêmica. 
 
5 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço à minha esposa Liliane Melo do Amaral, pelo incentivo e apoio 
nestes anos de graduação; 
Aos meus pais Neusa Parizotto e Elton José Zulianello, pela educação e 
valores recebidos; 
Aos meus avós Mario Zulianello (em memória) e Lodovina Bizotto Zulianello, 
pelo carinho e afeto que sempre a mim dedicaram; 
A minha orientadora Professora Maria Teresa Martiningui Pacheco, pela 
paciência e orientações prestadas na execução deste trabalho; 
Ao Professor Marco André Pegorini, pelo apoio e compreensão durante 
minha jornada acadêmica; 
A direção da empresa Transportes Cavalinho, em especial ao Sr. Afrânio 
Mendes, pela prontidão em atender minhas solicitações; 
Ao professor Sérgio Hoffman, pela atenção dedicada e conhecimentos 
transferidos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano.” 
(Isaac Newton) 
 
7 
 
 
RESUMO 
 
Partindo do princípio de que o meio ambiente é um bem comum a toda sociedade, 
sendo responsabilidade coletiva sua preservação para as gerações futuras, o 
presente trabalho apresenta um estudo à respeito da extrafiscalidade, evidenciando 
os benefícios sociais e tributários que as organizações podem receber em 
contrapartida à adoção de uma postura voltada à preservação ambiental. Em razão 
da característica coletiva que os impactos ambientais causam, esta postura favorece 
à própria empresa, satisfazendo o objetivo geral que é demonstrar as implicações 
que atitudes socioambientais positivas causam nas organizações. Para tanto, 
efetuou-se um levantamento da bibliografia relacionada, bem como, da legislação 
pertinente, encerrando com um estudo de caso onde se demonstrou a aplicabilidade 
dos conceitos expostos. A empresa estudada tem sua administração voltada para o 
socioambiental, desenvolvendo diversos projetos visando a conscientização da 
sociedade para a preservação, além do controle total sobre os resíduos gerados por 
sua atividade. Tais fatos evidenciam a responsabilidade social da empresa, 
justificando uma contrapartida do Estado que pode se dar por intermédio da 
diminuição da carga tributária. Conclui-se que a utilização da extrafiscalidade reduz 
significativamente o valor dos tributos os quais as empresas estão sujeitas. 
Inevitavelmente, o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental devem 
caminhar num mesmo sentido, visto que com as novas exigências e anseios da 
sociedade, empresas que não demonstrem seu respeito a essas questões tendem a 
ser superadas. 
 
Palavras-Chave: Meio Ambiente. Sustentabilidade. Tributação. Extrafiscalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
ABSTRACT 
 
Assuming that the environment is a common good the whole society, collective 
responsibility and its preservation for future generations, this paper presents a study 
regarding the extrafiscality, highlighting the social and tax benefits that organizations 
can receive in return the adoption of a targeted approach to environmental 
preservation. Due to the collective character that environmental impacts cause, this 
posture favors the company itself, meeting the overall goal is to demonstrate the 
implications of positive environmental attitudes cause in organizations. Therefore, we 
performed a survey of the related literature, as well as the relevant legislation, ending 
with a case study where it demonstrated the applicability of the concepts exposed. 
The company studied has directed his administration to the environmental, 
developing several projects aimed at raising awareness of society to preserve, in 
addition to full control over the waste generated by their activities. These facts show 
the social responsibility of the company, justifying a consideration of the state that 
can occur through low taxes. We conclude that the use of extrafiscality significantly 
reduces the amount of taxes which companies are subject. Inevitably, economic 
development and environmental protection must go in the same direction, where as 
with the new demands and aspirations of society, companies that do not show their 
respect to those issues tend to be overcome. 
 
Keywords: Environment. Sustainability. Taxation. Extrafiscality. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1 – Veículos fabricados no Proconve Fase 7 (2012-2013).................... 79 
Tabela 2 – Veículos fabricados no Proconve Fase 6 (2011)............................. 82 
Tabela 3 – Veículos fabricados no Proconve Fase 6 (2010)............................. 83 
Tabela 4 – Veículos fabricados no Proconve Fase 6 (2009)............................. 83 
Tabela 5 – Veículos fabricados no Proconve Fase 5 (2008)............................. 84 
Tabela 6 – Veículos fabricados no Proconve Fase 5 (2007)............................. 85 
Tabela 7 – Veículos fabricados no Proconve Fase 5 (2006)............................. 87 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 1 - Alíquotas de ICMS sobre combustíveis, por estado.......................... 63 
Figura 2 – Fases do PROCONVE para veículos à diesel.................................. 77 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
 
Quadro 1 - Princípios da Prevenção e Precaução............................................. 37 
Quadro 2 - Benefícios tributários....................................................................... 51 
Quadro 3 - Alíquotas PIS e COFINS – Combustível (por m³)............................ 64 
Quadro 4 - CIDE – Combustível (por m³).......................................................... 65 
Quadro 5 - Diferença no Valor do IPVA aplicando-se a extrafiscalidade.......... 87 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15 
1.1 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 16 
1.2 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA .................................................................17 
1.3 HIPÓTESES OU PROPOSIÇÕES ...................................................................... 17 
1.4 OBJETIVOS ........................................................................................................ 18 
1.4.1 Objetivo geral ................................................................................................. 18 
1.4.2 Objetivos específicos ..................................................................................... 18 
1.5 METODOLOGIA .................................................................................................. 18 
1.6 ESTRUTURA DO ESTUDO ................................................................................ 19 
2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 21 
2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL .......................................................................... 22 
2.2 SUSTENTABILIDADE ......................................................................................... 24 
2.2.1 Desenvolvimento sustentável ....................................................................... 24 
2.2.2 Gestão ambiental............................................................................................ 27 
2.2.2.1 Política nacional do meio ambiente ............................................................... 28 
2.2.2.2 Normatização ISO 14001 e implantação de sistema de gestão ambiental.... 29 
2.3 CRÉDITOS DE CARBONO ................................................................................. 31 
2.3.1 Efeito estufa e aquecimento global .............................................................. 31 
2.3.2 Mercado de carbono ...................................................................................... 32 
2.4 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS BÁSICOS ................................................................ 34 
2.4.1 Da prevenção .................................................................................................. 36 
2.4.2 Da precaução .................................................................................................. 36 
2.4.3 Do poluidor pagador ...................................................................................... 37 
2.4.4 Do usuário pagador........................................................................................ 39 
2.4.5 Do protetor recebedor .................................................................................... 39 
2.5 TRIBUTAÇÃO VOLTADA AO MEIO AMBIENTE ................................................ 41 
2.5.1 Tributação ambiental ..................................................................................... 41 
2.5.2 Princípios constitucionais da tributação ..................................................... 43 
2.5.2.1 Da seletividade tributária ............................................................................... 44 
2.5.2.2 Da parafiscalidade ......................................................................................... 44 
13 
 
 
2.5.2.3 Da extrafiscalidade ........................................................................................ 45 
2.5.2.3.1 Do incentivo fiscal....................................................................................... 47 
2.5.2.3.2 Da extrafiscalidade ambiental .................................................................... 48 
2.6 ESPÉCIES DE TRIBUTOS ................................................................................. 51 
2.6.1 IPI ..................................................................................................................... 52 
2.6.2 ICMS ................................................................................................................ 53 
2.6.3 ISSQN .............................................................................................................. 54 
2.6.4 Imposto de renda ........................................................................................... 55 
2.6.5 Contribuição social ........................................................................................ 56 
2.6.6 ITR.................................................................................................................... 57 
2.6.7 IPTU ................................................................................................................. 57 
2.6.8 IPVA ................................................................................................................. 59 
2.6.9 IOF ................................................................................................................... 61 
2.6.10 Impostos sobre combustíveis ..................................................................... 62 
2.6.10.1 ICMS - Combustíveis ................................................................................... 62 
2.6.10.2 PIS/COFINS combustíveis .......................................................................... 64 
2.6.10.3 CIDE combustíveis ...................................................................................... 64 
2.6.11 Taxas ambientais ......................................................................................... 65 
2.7 CONTABILIDADE AMBIENTAL .......................................................................... 66 
2.7.1 Ativos ambientais ........................................................................................... 68 
2.7.2 Passivos ambientais ...................................................................................... 69 
2.7.3 Receitas ambientais ....................................................................................... 70 
2.7.4 Custos ambientais.......................................................................................... 70 
2.7.5 Despesas ambientais ..................................................................................... 71 
2.7.6 Evidenciação da contabilidade ambiental .................................................... 71 
2.8. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO ........................................................................ 73 
3 ESTUDO DE CASO ............................................................................................... 74 
3.1 CONCEITUAÇÃO DA EMPRESA ....................................................................... 74 
3.1.1 Ações socioambientais desenvolvidas ........................................................ 75 
3.2 PROCONVE ........................................................................................................ 76 
3.2.1 Padronização EURO 5 .................................................................................... 77 
3.3 APLICAÇÃO DA SELETIVIDADE TRIBUTÁRIA NO IPVA .................................. 78 
14 
 
 
3.3.1 Análise dos resultados .................................................................................. 87 
3.4 SELETIVIDADE DE CRÉDITO DE CARBONO ................................................... 88 
4 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 89 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 92 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
O Artigo 225 da Constituição Federal de 1988 considera que “todos têm 
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”, sendo dever da coletividade a 
sua preservação e manutenção para as gerações futuras. Dentro do contexto da 
responsabilidade social, inclusive como forma de se justificar à sociedade 
consumidora cada vez mais exigente com o respeito ao meio ambiente por parte das 
organizações, constata-se a convergência dos interesses da comunidade, Estado e 
empresas no que tange à preservação dos recursos naturais. Não obstante, o artigo 
170 disciplina que "a ordem econômica, fundadana valorização do trabalho humano 
e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos a existência digna, conforme os 
ditames da justiça social", observando-se, dentre outros princípios, a defesa do meio 
ambiente. 
Após séculos de degradação ambiental causada pela expansão da 
economia e a intensa produção industrial, consumidores, investidores, empresas e 
instituições despertaram para a necessidade do crescimento sustentável, de forma a 
não esgotar os recursos ainda disponíveis. Apesar de o tema da convergência entre 
desenvolvimento econômico e ambiente não ser recente, visto que começou a ser 
discutido de forma global na Conferência de Estocolmo no ano de 1972, grande 
parte das empresas ainda não entende a preservação como forma de obtenção de 
benefícios, tanto fiscais como mercadológicos, sendo que no atual cenário 
corporativo, altamente competitivo e globalizado, uma atitude ambientalmente 
consciente resulta em vantagens essenciais para o fortalecimento da organização. 
Apesar de um tanto quanto vaga, a legislação brasileira possui dispositivos 
que visam incentivar as empresas que adotam condutas ambientalmente 
responsáveis, bem como buscam desestimular comportamentos contrários a essas 
boas práticas. Dentre eles, os que impactam grandemente na economia das 
organizações modernas são os “tributos ambientais”, que possuem tratamento 
diferenciado para os que abraçam uma atitude consciente, e também o comércio 
dos créditos de carbono, que, a partir dos anos 2000 com a assinatura do Protocolo 
de Quioto, criou um mercado internacional com o objetivo de reduzir a emissão dos 
16 
 
 
gases que interferem no clima do planeta. Empresas que diminuem o lançamento 
dos chamados “Gases de Efeito Estufa” (GEE) obtêm tais créditos, podendo 
comercializá-los como commodities nos mercados financeiros. 
O estudo do direito ambiental, a aplicação dos benefícios da extrafiscalidade 
voltada ao meio ambiente e a comercialização dos créditos de carbono, apesar de 
sua atualidade e publicidade ainda é assunto recente no Brasil e restrito, 
praticamente, às grandes corporações, porém, este tema, é de extrema importância 
para as organizações, tendo em vista que tais instrumentos são excelentes 
ferramentas para a obtenção de uma satisfatória qualidade do meio ambiente, sem 
detrimento do crescimento econômico. Desta forma, a chamada “tributação 
ambiental” mostra sua capacidade de ser usada não somente como instrumento de 
arrecadação e sustentação financeira estatal, mas também, e principalmente, como 
mecanismo de desenvolvimento sustentado e controle social. Além disso, a 
preservação pode ser usada efetivamente como mercadoria, comercializável, com 
um grande potencial de geração de receitas. 
O presente trabalho visa demonstrar os benefícios fiscais, mercadológicos e 
sociais que a preservação ambiental e a promoção da sustentabilidade podem 
proporcionar às organizações. 
 
 
1.1 JUSTIFICATIVA 
 
A carga tributária brasileira representa mais de 35% do PIB (Produto Interno 
Bruto) nacional1, o que significa dizer que 1/3 de toda a riqueza produzida no país é 
direcionada para o pagamento de impostos. Somente no primeiro trimestre de 2015, 
293 Bilhões de reais foram arrecadados em tributos pelo governo nas três esferas2. 
Tendo em vista este cenário, para a sobrevivência das empresas o ato de gerenciar 
tributos é gerenciar custos que impactam diretamente no resultado. Algumas classes 
de impostos podem ser utilizadas como instrumento de planejamento tributário no 
campo ambiental, por meio da seletividade e extrafiscalidade e conforme sua 
natureza, possibilitando desestimular atividades produtivas que afetem 
 
1 PIB Brasileiro. Disponível em: <http://goo.gl/585MsL> Acesso em: 14/03/2015 
2 Arrecadação Tributária. Disponível em: <http://goo.gl/RYZSm8> Acesso em: 14/03/2015 
17 
 
 
negativamente o meio ambiente, e no sentido contrário incentivar as empresas que 
se comprometam com a preservação, de forma a balizar o comportamento 
empresarial. Ao proporcionar tais benefícios, além de desencorajar as atividades 
danosas ao meio ambiente sem que haja a criação ou instituição de novos tributos, 
pretende-se “premiar” os setores que mudarem sua forma de produzir e 
implementam novas tecnologias e métodos, objetivando o desenvolvimento 
sustentável. 
 
 
1.2 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA 
 
Com base na delimitação do tema proposto, a questão de pesquisa para o 
estudo é: Como os mecanismos de tributação ecológica afetam as 
organizações? 
 
 
1.3 HIPÓTESES OU PROPOSIÇÕES 
 
H1: A extrafiscalidade ambiental é uma forma de diminuir consideravelmente 
a carga tributária das empresas. 
H2: Medidas socioambientais, voltadas ao desenvolvimento sustentável 
beneficiam tanto às organizações quanto o Estado e a própria sociedade. 
H3: A economia moderna não mais comporta empresas que não se voltaram 
para novas formas de produção, visando a sustentabilidade. 
H4: Desenvolvimento econômico e preservação ambiental devem ser 
trabalhados de forma conjunta. 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
1.4 OBJETIVOS 
 
 
1.4.1 Objetivo geral 
 
Demonstrar com a adoção de práticas socioambientais os benefícios fiscais 
e tributários a uma empresa de transporte rodoviário, com a matriz localizada no 
Município de Vacaria/RS. 
 
1.4.2 Objetivos específicos 
 
- Pesquisar na literatura científica disponível sobre responsabilidade social, 
sustentabilidade, extrafiscalidade e contabilidade ambiental; 
- Efetuar pesquisa na legislação fiscal e tributária relacionado à tributação 
voltado ao meio ambiente; 
- Verificar quais são os principais tributos que podem sofrer alterações ao se 
adotar uma administração empresarial voltada à sustentabilidade; 
- Realizar estudo de caso da empresa do ramo do transporte rodoviário, com 
matriz localizada no Município de Vacaria/RS, que utiliza a preservação ambiental 
como princípio norteador de suas atividades. 
 
 
1.5 METODOLOGIA 
 
A metodologia da pesquisa caracteriza o perfil científico de estudo. Para 
alcançar os objetivos almejados com o desenvolvimento desta pesquisa, serão 
utilizados procedimentos metodológicos. Segundo Cervo et al. (2007, p. 27), método 
é “a ordem que deve se impor aos diferentes processos necessários para atingir um 
certo fim ou um resultado desejado”. Os autores prosseguem afirmando que em se 
tratando de ciência, método pode ser entendido como o “conjunto de processos 
empregados na investigação e na demonstração da verdade”. 
19 
 
 
Quanto aos procedimentos técnicos, será realizada uma pesquisa 
bibliográfica por meio de levantamento dos assuntos relacionados ao tema da 
investigação, procurando evidenciar os mais variados assuntos que devem ser 
considerados na tributação voltada ao meio ambiente. 
Em relação à pesquisa bibliográfica, Gil (1999) coloca que a mesma é 
desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e 
artigos científicos. A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de 
permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla 
do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Esta vantagem se torna 
particularmente importante quando o problema de pesquisa necessita de dados 
muito esparso pelo espaço. Para Mattar (1997), as pesquisas bibliográficas são 
vantajosas por serem mais rápidas e econômicas, sendo que para o autor a melhor 
forma de aprofundar um problema de pesquisa é mediante o levantamento de 
trabalhos já realizados. 
O estudo de caso na visão de Yin (2005, p. 20) pode ser utilizado em 
diversas situações: “para contribuir com o conhecimento que temos dos fenômenos 
individuais, organizacionais, sociais, políticos e de grupo”, surgidas da necessidade 
de entender os fenômenos sociais. Segundo o autor, o estudo de caso não 
necessita ser uma interpretação precisada realidade, mas sim uma ferramenta para 
“estabelecer uma estrutura de discussão e debate entre os estudantes”. 
Neste contexto, será realizado um estudo de caso relacionado a uma 
empresa do ramo de transporte rodoviário, localizada no Município de Vacaria-RS, 
visando aplicar de forma prática os conceitos teóricos levantados através da 
pesquisa bibliográfica, mediante o emprego dos princípios da extrafiscalidade no 
Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA. 
 
 
1.6 ESTRUTURA DO ESTUDO 
 
Este trabalho estrutura-se em três capítulos, com a intenção de proporcionar 
uma melhor compreensão do tema escolhido. 
20 
 
 
 No primeiro capítulo será apresentada uma contextualização do tema, a 
questão de pesquisa, as hipóteses, os objetivos gerais e específicos, a metodologia 
a ser utilizada, bem como a descrição da organização do trabalho. 
No segundo capítulo será abordada a fundamentação teórica, onde se 
busca subsídios para efetivação da pesquisa. Inicialmente serão explanados alguns 
conceitos e definições referentes a responsabilidade socioambiental, bem como 
suas implicações na administração das organizações. Na sequência, serão 
apresentados os princípios ambientais e tributários básicos, além dos fundamentos 
da contabilidade ambiental, culminando com a exposição dos principais tributos que 
podem sofrer alterações quando da adoção de uma mentalidade de 
responsabilidade por parte das empresas. 
No terceiro capítulo será efetuado um estudo de caso em uma empresa do 
ramo de transportes na cidade de Vacaria-RS, onde se buscará aplicar os conceitos 
teóricos na prática, mediante o emprego dos preceitos da extrafiscalidade no 
Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA. 
Ao término, serão apresentadas as conclusões da pesquisa onde se 
pretende atingir o objetivo principal, ou seja, demonstrar se a adoção de práticas 
socioambientais por parte das empresas se reflete em ganhos contabilizáveis pelas 
organizações, principalmente na diminuição das alíquotas ou base de cálculo dos 
impostos que impactam diretamente nos resultados financeiros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO 
 
 
A Constituição Federal de 1988 fixa objetivamente o direito ambiental 
brasileiro e determina seus parâmetros e critérios fundamentais para a interpretação 
desse direito, oferecido a todos os brasileiros e estrangeiros que vivam no país. 
Voltando ao já citado Artigo 225 da Constituição Federal, tanto a sociedade quanto o 
Estado tem o dever de conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado e, 
especialmente, preservar a vida de ameaças que possam surgir. 
Segundo Fiorillo e Ferreira (2005), o direito fundamental ao meio ambiente 
está intimamente ligado à cidadania, aos valores sociais do trabalho, a livre 
iniciativa, a soberania da nação, ao pluralismo político e, principalmente, a dignidade 
da pessoa humana. Ainda, de acordo com os autores, exatamente para fixar a 
existência concreta dos direitos constitucionais coletivos no Brasil, a Carta Magna 
não só disciplinou sua existência (art. 5º) como propiciou sua proteção atribuindo a 
defesa dos interesses da coletividade a toda à sociedade. 
O patrimônio ambiental são todos os bens considerados essenciais para a 
manutenção da vida humana e animal, constantes no Art. 6º da CF, e são 
fundamentalmente o direito à educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, 
previdência social, proteção à maternidade e infância e assistência social, ou seja, 
para Fiorillo e Ferreira (2005), juridicamente “bem ambiental” não está ligado apenas 
à proteção da vida humana, mas, sobretudo à proteção da vida humana com 
dignidade (grifo nosso). Vale ressaltar que os bens ambientais são de “uso comum 
do povo”, de forma que não se pode dispor e usufruí-los da forma como for 
conveniente a cada um, pelo fato de que eles ultrapassam a esfera individual e suas 
implicações tem reflexo coletivo. Neste sentido, Miranda (2009) considera que o 
patrimônio ambiental precisa ser essencialmente defendido em razão dos interesses 
da coletividade, resultando em normas ambientais que tenham por objetivo garantir 
a vida saudável, derivada do ambiente ecologicamente preservado. 
 
 
22 
 
 
2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL 
 
A partir do final do século XX, com o crescente processo de globalização e 
incremento da tecnologia, a sociedade passou por intensas e expressivas 
alterações. Após a Revolução Industrial se convencionou explicar a questão do 
desenvolvimento somente pela ótica econômica, porém, o progresso da ciência e o 
surgimento das mais diversas tendências sociais, culturais e econômicas 
modificaram profundamente os costumes e romperam com antigos paradigmas, 
obrigando a sociedade á percepção de sua responsabilidade para com o bem estar 
da coletividade e com a manutenção da qualidade de vida de sua geração e das 
futuras. 
Com o crescimento populacional desordenado, principalmente nos países 
subdesenvolvidos, o Estado passa a encontrar dificuldades em suprir todas as 
demandas da população, obrigando-se, em conjunto com as empresas e a própria 
sociedade a assumirem e partilharem a responsabilidade pela sua própria 
sobrevivência, tal qual discorre Benedicto (1997): 
 
Toda empresa tem uma responsabilidade social. É seu dever pensar no 
bem-estar da sociedade, e não apenas no lucro. A preocupação com o 
social passou a ser até uma questão de sobrevivência. É uma forma de 
"marketing”. (...) A responsabilidade social pode ser definida como o 
dever da empresa de ajudar a sociedade a atingir seus objetivos (grifo 
nosso). É uma maneira de a empresa mostrar que não existe apenas para 
explorar recursos econômicos e humanos, mas também para contribuir com 
o desenvolvimento social. É, em síntese, uma espécie de prestação de 
contas. (BENEDICTO, 1997, p. 76) 
 
Neste entendimento, a empresa retira seus recursos quer seja do meio 
ambiente (recursos naturais), seja da própria sociedade (recursos humanos, 
subsídios governamentais), logo, é sua obrigação “pagar” por tais recursos, por meio 
da comercialização de seus produtos e serviços com qualidade, ou especialmente 
mediante ações que busquem a melhora da sociedade em que atuam. Neste 
sentido, Donaire (1999, p. 20) afirma que a responsabilidade da corporação para 
com a empresa extrapola a geração de bens e serviços, incluindo a “proteção 
ambiental, projetos filantrópicos e educacionais, planejamento da comunidade, 
equidade nas oportunidades de emprego, serviços sociais em geral, de 
conformidade com o interesse público”. 
23 
 
 
Para Cirino (2007), a problemática socioambiental é uma das grandes 
ameaças à sociedade contemporânea, cenário que transformou significativamente 
as bases das empresas: 
 
Todas as fases da atividade econômica passaram a ser permeadas por 
outras expectativas, isto é, por outros agentes e considerações. Essa é a 
nova configuração que se impõe às empresas: ética e responsabilidade 
para com a sociedade e o meio ambiente. Um novo modelo de empresa 
está sendo exigido tanto por grupos sociais de pressão, quanto pelo próprio 
consumidor. Diante dessas mudanças, cresce o número de empresas que 
se voltam à chamada responsabilidade social. (CIRINO, 2007, p. 3) 
 
Donaire (1999) salienta as transformações às quais as empresas foram 
submetidas nas últimas décadas, visto que até um passado muito recente eram 
vistas apenas como instituições econômicas com compromissos voltados a resolver 
apenas os problemas econômicos, quando se viram obrigadas a desempenhar 
novos papéis resultantes das mutações do ambiente onde atuam. O autor prossegue 
afirmando que as organizações estão se voltando a problemas muito além da 
questão econômica, abraçando preocupações de caráter social e gerando novas 
expectativas na sociedade, afetando profundamente seu modo de atuação, o que 
acaba por criar novas diretrizes e limitaçõespara sua operação. 
Ainda consoante ao entendimento de Donaire (1999), essa nova abordagem 
é resultante da mudança de mentalidade, do econômico puro e simples para o 
social, de modo a valorizar aspectos que visem a dignidade humana: 
 
Portanto, muitas das decisões internas da organização hoje requerem 
considerações explicitas das influências provindas do ambiente externo, e 
seu contexto inclui considerações de caráter social e político que se somam 
às tradicionais considerações econômicas. Hoje, a sociedade tem 
preocupações ecológicas, de segurança, de proteção e defesa do 
consumidor, de defesa dos grupos minoritários, de qualidade dos produtos 
etc., que não existiam de forma tão pronunciada nas últimas décadas. Isso 
tem pressionado as organizações a incorporar esses valores em seus 
procedimentos administrativos e operacionais. (DONAIRE, 1999, p. 16) 
 
Responsabilidade social, portanto, não é apenas a função ou obrigações 
que a legislação impõe. Em face dessa realidade, além da competência técnica e 
administrativa, as empresas devem desenvolver a capacidade de entendimento do 
contexto social em que estão inseridas, buscando a habilidade de se moldar as 
mudanças constantes no ambiente político, econômico e social. Não obstante, a 
24 
 
 
própria sobrevivência das organizações depende de sua atuação responsável, 
atendendo às expectativas da sociedade. Nesta conjuntura, o lucro por si só não 
pode (ou não deveria) ser a maior preocupação das empresas. Donaire (1999) 
entende que a lucratividade em relação à responsabilidade social é observada no 
longo prazo: 
 
Nesse sentido, a maximização do lucro deve ser vista em um contexto de 
longo prazo, pois, se é verdade que em curto prazo o comprometimento 
com problemas sociais pode resultar num lucro menor, também pode se 
transformar em condições mais favoráveis no futuro para a continuidade da 
lucratividade e da sobrevivência da empresa. Na verdade, não pode haver 
nenhuma esperança de existir uma organização viável economicamente em 
uma sociedade deteriorada socialmente. (DONAIRE, 1999, p. 22) 
 
Uma empresa é socialmente responsável quando extrapola a obrigação de 
respeitar as leis, pagar tributos e observar as condições adequadas de salubridade 
para os trabalhadores. Enquanto a obrigação social constitui-se nas ações 
empresariais em prol do social, tendo em vista uma base legal, a responsabilidade 
social implica no fato de que a empresa deve considerar os aspectos financeiros e 
sociais nas suas decisões estratégicas, porém, devendo ir além dos limites impostos 
pela legislação. 
 
 
2.2 SUSTENTABILIDADE 
 
 
2.2.1 Desenvolvimento sustentável 
 
A proteção ao meio ambiente é um preceito constitucional enquadrado na 
categoria de bens coletivos, visto que os efeitos de sua degradação tem reflexo 
coletivo. Responsabilidade ambiental pode ser entendida como um conjunto de 
costumes, ações e boas práticas visando o respeito ao meio ambiente e o 
desenvolvimento sustentável. Santos Júnior e Bassoli (2009) destacam a interação 
entre o desenvolvimento econômico e ambiental: 
 
 
25 
 
 
Não se pode relacionar a regulação da atividade econômica e a defesa do 
meio ambiente sem lançar mão do princípio do desenvolvimento 
sustentável. Deve-se buscar a compatibilização entre desenvolvimento e 
crescimento econômico com preservação ambiental e, consequentemente, 
com desenvolvimento social e humano, todos albergados pelo 
desenvolvimento nacional a que se refere o Art. 3º, inciso II, da Lei Maior, 
que estatui os objetivos da República (SANTOS JUNIOR; BASSOLI, 2009, 
p. 06). 
 
O conceito de sustentabilidade está ligado ao uso da natureza sem 
comprometer a satisfação das necessidades das futuras gerações, porém, o atual 
modelo de desenvolvimento está calcado na utilização intensa desses recursos sem 
levar em conta a capacidade de regeneração natural. O art. 3º da Política Nacional 
do Meio Ambiente3 define que, “(...) meio ambiente (...) é o conjunto de condições, 
leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, 
abriga e rege a vida em todas as suas formas”. É consenso que a qualidade 
ambiental reflete a qualidade de vida, e o uso desenfreado dos recursos naturais 
impacta diretamente os ciclos naturais, refletindo negativamente sobre seus 
integrantes. 
Wanderley Júnior et al. (2007, p. 1277) asseveram que, “não obstante o 
dever de preservação e conservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado, 
atualmente estamos vivendo uma intensa crise ambiental (...) que configura-se, 
essencialmente, no esgotamento dos modelos desenvolvimentistas levados a efeito 
nas últimas décadas”. Os autores sustentam que, superar esta crise não implica em 
apenas promover um desenvolvimento sustentável na questão financeira, mas 
acima de tudo gerar uma mudança efetiva da atitude da sociedade como um todo 
em relação aos seus hábitos. 
Cada vez mais os governos procuram estimular o desenvolvimento 
econômico, aliando este à defesa dos recursos naturais visto que não são dois polos 
opostos, mas conceitos interdependentes e complementares em razão de que o 
crescimento da economia sem detrimento da qualidade do meio ambiente é o cerne 
do desenvolvimento sustentável. A preocupação com a preservação ambiental é um 
tópico de extrema relevância para todas as esferas econômicas, não só em face das 
exigências legais e normatizações, mas pelas pressões mercadológicas advindas do 
consumidor, que entende o impacto que a atividade humana causa no ambiente, e a 
 
3 Política Nacional do Meio Ambiente: Lei Federal 6938 de 31 de agosto de 1981 
26 
 
 
cada dia exige mais critério por parte das organizações, tal qual observa Monteiro 
(2012): 
 
Na sociedade contemporânea, o problema ecológico assumiu uma 
presença marcante na vida diária das pessoas, consumidores e empresas. 
Investir na economia verde e sustentável passou a ter um papel importante 
nas estratégias e no planejamento estratégico das organizações, como 
prioridade na busca de uma dimensão socioambiental do desenvolvimento. 
O tema economia verde remete a um conceito conciliador, que aponta para 
as oportunidades de negócios que se abrem em virtude das questões 
climáticas, em vez de pontuar as dificuldades e o custo que a transição 
pode acarretar, e busca estratégias capazes de responder simultaneamente 
às urgências sociais e ambientais. (MONTEIRO, 2012, p. 2) 
 
Ressalta-se que qualquer empresa mercantil tem como objetivo principal a 
obtenção de lucros, porém, deve observar sua função social, da qual faz parte 
preservar o bem comum que é o meio ambiente. No mundo onde o consumidor, 
cada vez mais informado, passa a exigir um comportamento responsável das 
empresas, uma mentalidade sustentável nos negócios transforma-se em uma 
grande vantagem competitiva, assim como ressalta Viegas (2008): 
 
O homem pratica grande parte de seus atos através do uso de seus bens 
(envolve direito de propriedade), no exercício de atividade econômica (...). 
Se assim de fato ocorre, toda relação privada tendente à busca de 
desenvolvimento econômico há de ser socialmente sustentável, ou seja, só 
se admite a realização de atividades humanas com responsabilidade social, 
sendo lógico concluir que compreende a proteção ambiental, já que o meio 
ambiente ecologicamente equilibrado interessa finalisticamente a todos. 
(VIEGAS, 2008, p. 122) 
 
Este modelo de desenvolvimento com responsabilidade, incentivado nas 
mudanças sociais e tecnológicas entende que o formato tradicional que ignora os 
impactos de sua atividade é insustentável e impraticável em médio e longo prazo, 
tendo em vista que os passivos ambientais são problemas interligados e 
interdependentes, exigindo da sociedade e principalmente das empresas uma 
mudança radical de conceitos e comportamentos. Barbieri (2011) assegura que o 
desenvolvimento sustentável derivado chamado “pacto intergeracional”, calcado na 
preocupação constante com o gerenciamento e a preservação dos recursos 
naturais, focado no atendimento às demandas básicas de todos os humanos e na 
manutenção da qualidade de vida das futuras gerações. 
27 
 
 
O conceito de desenvolvimento sustentável já se transformou em consenso 
na comunidade internacional, sendo estudado e debatido em diversas conferências 
de âmbito global. O grande questionamento surge em como aplica-lo no cotidiano 
empresarial, objetivando a necessidade de mudança de paradigmas sem perda de 
produtividade. 
 
2.2.2 Gestão ambiental 
 
A gestão ou administração ambiental está atrelada ao desenvolvimento 
sustentável, consistindo em todas as diretrizes, normatizações e atividades 
administrativas e operacionais de planejamento, direção, controle e gerenciamento 
de recursos visando alcançar efeitos positivos sobre o meio ambiente, reduzindo 
danos e abolindo práticas danosas. A Conferência de Estocolmo de 19724 definiu 
que “desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do 
presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem as 
suas próprias necessidades”, ficando fundamentadas as relações entre o homem e a 
natureza, nas quais o desenvolvimento e política ambiental são partes de um 
mesmo processo. Para Barbieri (2011), as principais metas de políticas ambientais e 
desenvolvimentistas advindas desses conceitos são os seguintes: 
 
a) retomar o crescimento como condição necessária para erradicar a 
pobreza; 
b) mudar a qualidade do crescimento para torná-lo mais justo, equitativo e 
menos intensivo em matérias primas e energia; 
c) atender as necessidades humanas essenciais de emprego, alimentação, 
energia, água e saneamento; 
d) manter um nível populacional sustentável; 
e) conservar e melhorar a base de recursos; 
f) reorientar a tecnologia e administrar os riscos; e 
g) incluir o meio ambiente e a economia no processo decisório. 
(BARBIERI, 2011, p. 36) 
 
Já, Donaire (1999) comenta que atitudes de preservação ambiental não são 
apenas uma exigência da legislação, passível de multas, sanções e penalidades, 
tratando-se, entretanto, de um panorama de ameaças e oportunidades, no qual suas 
implicações resultam em posições na concorrência e a própria permanência ou 
 
4 Conferência de Estocolmo de 1972. Disponível em: <http://goo.gl/5EwGNG> Acesso em: 
19/03/2015 
28 
 
 
saída do mercado, significando que o respeito ao meio ambiente e suas questões 
resulta no sucesso da empresa, e, caso contrário, pode conduzir ao fracasso. Ainda, 
Donaire (1999, p. 19) salienta que além das habilidades técnicas, administrativas e 
interpessoais, o administrador moderno tem obrigação de “desenvolver habilidades 
que se evidenciem importantes para o entendimento do contexto social e político do 
ambiente externo que envolve a tarefa de administrar”. 
De outra forma Dias (2011, p. 104) conceitua gestão ambiental como “o 
conjunto de responsabilidades organizacionais, procedimentos, processos e meios 
que se adotam para implantação de uma política ambiental em determinada 
empresa ou unidade produtiva”, ou seja, é a sistematização de processos de gestão 
voltados ao meio ambiente, quando uma organização deseja alcançar seus objetivos 
dentro das normas legais e sociais. O desenvolvimento sustentável é apoiado em 
três alicerces: econômico, social e ambiental, de forma a empresa necessita ser 
economicamente viável, dar condições de trabalho aos empregados de diferentes 
culturas e, principalmente, zelar pela eficiência e consciência ecológica de sua 
produção. 
 
2.2.2.1 Política nacional do meio ambiente 
 
Apesar dos graves problemas com poluição e desmatamento historicamente 
enfrentados pelo Brasil, o país é um dos que possui, há mais tempo, uma legislação 
ambiental consolidada, antecessora inclusive dos países desenvolvidos como 
Canadá, Japão, Alemanha e França. A Política Nacional do Meio Ambiente foi criada 
no ano de 1981 com a publicação da Lei Federal 6.938, estabelecendo o SISNAMA 
(Sistema Nacional do Meio Ambiente), objetivando a criação e manutenção de 
padrões e métodos que possibilitem a sustentabilidade mediante mecanismos e 
ferramentas adequadas a proteção do meio ambiente. 
O Artigo 2º desta Lei institui que a Política Nacional do Meio Ambiente 
objetiva a “preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à 
vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, 
aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana 
(...)”. 
29 
 
 
Para efeito deste estudo, vale destacar os seguintes trechos da Politica 
Nacional de Meio Ambiente: 
 
Art 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: 
(...) 
V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou 
absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; 
(...) 
Art. 13º - O Poder Executivo incentivará as atividades voltadas ao meio 
ambiente, visando: 
I - ao desenvolvimento, no País, de pesquisas e processos tecnológicos 
destinados a reduzir a degradação da qualidade ambiental; 
(...) 
III - a outras iniciativas que propiciem a racionalização do uso de recursos 
ambientais. 
(BRASIL, Lei Federal nº 6938 de 1981) 
 
Esta lei formalizou uma Política Nacional, unificando e integrando diversas 
políticas regionais, estaduais e municipais, obrigando os entes da federação a se 
voltarem para a temática ambiental, seguindo diretrizes em comum. 
 
2.2.2.2 Normatização ISO 14001 e implantação de um sistema de gestão ambiental 
 
Criada em 1947, a International Organization for Standardization (ISO)5, é 
uma organização internacional criada com o objetivo de instituir e divulgar padrões 
de normatização mundiais, a fim de facilitar o comércio internacional e o intercâmbio 
de conhecimento e tecnologias. A norma ISO 14001 consiste em uma série de 
regras, princípios e regulamento aplicáveis às organizações com o objetivo de 
alcançar um desempenho ambiental satisfatório e responsável. Foi desenvolvida de 
modo a ser utilizada em todos os tipos e portes de organizações, em qualquer 
contexto geográfico, cultural e social, tendo como finalidade específica sustentar a 
proteção ao meio ambiente em consonância às necessidades socioeconômicas. 
Além dos ganhos óbvios na qualidade de vida das comunidades em que a 
empresa está inserida e o cumprimento de sua função social, a adoção da ISO 
14001 coloca a organização em outro patamar aos olhos do mercado, visto que esta 
certificação é indispensável à exportação para diversos países da União Europeia e 
América do Norte, bem como é possível conseguir taxas de financiamentos mais 
 
5 Certificação ISO. Disponível em: <http://www.iso.org/iso/home.html> Acesso em: 27/03/2015 
30 
 
 
brandas em instituições financeiras. O Banco Itaú, por exemplo, destina uma linha 
de crédito especial para empresas certificadas: 
 
Ao considerar as questões sociais e ambientais em nossas decisões, 
aprimoramos os processos de gestão de risco. E, ao mesmo tempo, 
identificamos oportunidades para inovar os negócios, buscando uma 
relação equilibrada e benéfica para o banco, seus clientes e a sociedade. 
Por isso, definimos como um dos focos de nossa estratégia para alcançar a 
performance sustentável (BANCO ITAU S/A, 2014)6. 
 
A adoção da ISO 140017 implica no desenvolvimento de um Sistema de 
Gestão Ambiental que, conforme explanado anteriormente, pode ser definido como 
uma série de métodos e processos que objetivam resolver, mitigar ou prevenir 
problemas relacionados ao meio ambiente. Para sua efetiva implantação, a empresa 
deverá, em linhas gerais: 
- Estabelecer políticas ambientais claras e objetivas; 
- Identificar os aspectos ambientais de sua atividade para gradar os 
impactosambientais por ela gerados; 
- Respeitar a legislação aplicável; 
- Definir prioridades, estabelecendo objetivos e metas ambientais; 
- Estruturar a empresa de forma que esses objetivos e metas possam ser 
implementados; 
- Efetuar acompanhamento constante de sua política ambiental, avaliando e 
corrigindo conforme a necessidade; e 
- Ser capaz de adaptar-se às mudanças. 
Tendo esses princípios em evidência, devem-se instituir processos mais 
complexos que visem reduzir e controlar os danos ao meio ambiente, principalmente 
no que diz respeito à emissão de poluentes, mas também adotar práticas 
administrativas simples como reduzir o consumo de materiais, reciclar e, 
principalmente, manter o aprimoramento contínuo destes processos. Vale frisar que 
o respeito à legislação ambiental é fator determinante, visto que a preservação é o 
objetivo da normatização. 
 
6 Banco Itaú. Disponível em: <http://goo.gl/17e0Cl> Acesso em: 20/03/2015 
7 Certificação ISO 14001. Disponível em: <http://goo.gl/UvsuKx> Acesso em: 27/03/2015 
31 
 
 
Segundo o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia –
INMETRO8, responsável pela edição de normas técnicas no Brasil, o primeiro passo 
para a obtenção da certificação ABNT NBR ISO 14001 é o contato com um dos 
Organismos de Certificação de Sistemas de Gestão Ambiental acreditados pela 
Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro (CGCRE), cuja lista dos Organismos 
de Certificação encontra-se disponível no site oficial do órgão9. 
 
 
2.3 CRÉDITOS DE CARBONO 
 
 
2.3.1 Efeito estufa e aquecimento global 
 
Dentre os grandes problemas ambientais da atualidade, talvez o mais 
debatido e o que mais gera dados preocupantes seja o chamado efeito estufa10, que 
é um fenômeno natural onde compostos químicos como o gás carbônico (CO2), 
metano (CH4) e mesmo o vapor d'água existentes na atmosfera agem como uma 
barreirado planeta. Esse processo retém o calor próximo da superfície para 
estabilizar a temperatura numa média global de 15°C, evitando que a energia solar 
concentrada pela terra durante o dia seja perdida e remetida de volta ao espaço, 
regulando os processos naturais que possibilitam a existência da vida no planeta. 
Todavia, com a forte intervenção humana sobre a natureza, principalmente 
com o lançamento de substâncias como o gás carbônico (CO²), óxido nitroso (N²O), 
o metano (CH4), o clorofluorcarboneto (CFC), os Hidrofluorcarbonetos (HFCs) e o 
Hexafluoreto de enxofre (SF6), causado pela destruição da cobertura vegetal, 
queimadas e, sobretudo, pela utilização de combustíveis fósseis (tanto em 
automóveis como nos processos produtivos), o fenômeno natural do Efeito Estufa é 
amplificado, causando sérios desequilíbrios no clima. 
 
8 Implementação ISO 14001. Disponível em: <http://goo.gl/ECkSJM> Acesso em: 27/03/2015 
9 INMETRO. Disponível em: <http://goo.gl/U5thr0> Acesso em: 27/03/2015 
10 Efeito estufa. Disponível em: <http://goo.gl/UkIIHR> Acesso em: 10/02/2015 
32 
 
 
Segundo o Relatório Científico do Painel Intergovernamental sobre 
Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês)11, a concentração dos gases que 
amplificam o efeito estufa chegaram aos níveis mais altos dos últimos 800 mil anos, 
sendo que a temperatura média na superfície da Terra e dos oceanos aumentou 
0,85ºC entre 1880 e 2012. Ainda, de acordo com o relatório, caso os níveis de 
emissão de gases continuem nos níveis atuais, o futuro reserva um aumento 
gradativo de pelo menos 4ºC nos próximos 70 anos, o que poderá provocar secas 
em áreas antes férteis, inundações, aumento do nível do mar e extinção de 
espécies, bem como os potenciais conflitos provenientes do esgotamento de 
recursos naturais12. 
 
2.3.2 Mercado de carbono 
 
O mercado de créditos de carbono nasceu com a instituição da Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança Climática13 (UNFCCC, em inglês), 
assinada na cidade de Nova York (EUA) no ano de 1992. Ratificada em 1997, na 
cidade de Quioto, no Japão, mediante o Protocolo de Quioto, decidiu-se que os 
países subscritores precisariam comprometer-se de forma incisiva e enérgica na 
limitação e diminuição de emissão dos gases prejudiciais, abrindo caminho para que 
essa redução pudesse ter valor econômico. 
Além do CO², a redução no lançamento de outros gases que impactam o 
clima também pode ser transformada em créditos de carbono, chamados de 
“carbono equivalente”. Os protocolos internacionais quantificam o que os países 
signatários (em especial os mais desenvolvidos e industrializados) podem emitir em 
termos de gases de efeito estufa, e aqueles que não conseguem atingir as metas de 
reduções tornam-se compradores de créditos de carbono, inclusive de empresas, o 
que coloca em vantagem os países que possuem recursos naturais preservados, 
principalmente as florestas. 
O Protocolo instituiu três mecanismos que são: Comércio de Emissões, 
Implementação Conjunta e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Os dois 
 
11 IPCC. Disponível em: <http://www.ipcc.ch/> Acesso em: 10/02/2015 
12 Impactos Ambientais. Disponível em: <http://goo.gl/ynD5zj> Acesso em: 11/01/2015 
13 UNFCC. Disponível em: <http://goo.gl/XqLdxY> Acesso em: 11/01/2015 
33 
 
 
primeiros são exclusivos dos países submetidos a metas obrigatórias, grupo o qual o 
Brasil não faz parte. Os países em desenvolvimento são submetidos ao Mecanismo 
de Desenvolvimento Limpo – MDL, a fim de obter as Reduções Certificadas de 
Emissões (RCEs, ou CERs, em inglês) sendo este um balizador para a 
regularização de empresas mercantis que almejam comercializar os créditos de 
carbono14. 
Um projeto MDL precisa ser registrado na ONU – Organização das Nações 
Unidas, e avaliado por comissões internacionais, seguindo os seguintes parâmetros 
técnicos15: 
a) Documentação do projeto, contendo informações técnicas, financeiras e 
ambientais, bem como a metodologia aplicada. O documento precisa ser validado 
pela Entidade Operacional Designada (EOD); 
b) Encaminhamento para a Autoridade Nacional Designada (AND), 
representada no Brasil pela Comissão Interministerial de Mudanças Globais do 
Clima; 
c) Registro no Comitê executivo do MDL, após aprovação pela AND. 
Salienta-se que este documento é imprescindível para execução do projeto e 
posterior comercialização dos créditos de carbono; 
d) Após os registros iniciais, é realizada a elaboração de um plano de 
monitoramento com a emissão de relatório contendo as informações do cálculo da 
redução de emissão; 
e) Com o projeto em andamento, o EOD verifica regularmente o 
cumprimento das metas estipuladas; 
f) No final do processo, o projeto é submetido a auditoria para a certificação 
final. 
g) O EOD determina Quantas RCEs (Redução Certificada de Emissão) 
serão conferidas ao projeto para posterior emissão pelo MDL, o que finalmente 
autoriza a comercialização dos créditos de carbono com os países desenvolvidos. 
Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM, o 
Protocolo de Quioto refere-se ao “Mercado Regulado”, também chamado 
Compliance, onde os países possuem metas de reduções obrigatórias a serem 
 
14 Reduções certificadas. Disponível em: <http://goo.gl/jO4QqI> Acesso em: 11/01/2015 
15 Projetos MDL. Disponível em: <http://goo.gl/96BvAs> Acesso em: 20/05/2015 
34 
 
 
cumpridas, conforme seu grau de industrialização. Existe, entretanto, o chamado 
“Mercado Voluntário”, onde empresas, ONGs (organizações não-governamentais), 
instituições, governos, ou mesmo cidadãos tomam a iniciativa de reduzir suas 
emissões voluntariamente. 
Os créditos de carbono (VERs - Verified Emission Reduction) podem ser 
originados em qualquer lugar do mundo e são auditados por entidades 
independentes do sistema das Nações Unidas. Dentre algumas características dosMercados Voluntários, pode-se destacar16: 
- Créditos não valem como redução de metas dos países; 
- A operação está sujeita a menos burocracia; 
- Fazem parte projetos com estruturas não necessariamente reconhecidas 
pelo mercado regulado, como o REDD17 (Redução das Emissões por 
Desmatamento e Degradação Florestal); 
Igualmente, outra forma de financiar projetos de redução de emissões ou de 
sequestro de carbono são os “Fundos Voluntários”, cujas principais características 
podem ser assim elencadas: 
 - Não fazem parte do mecanismo de mercado (não geram crédito de 
carbono); 
 - O valor da doação não pode ser descontado da meta de redução dos 
países doadores; 
- Podem entrar projetos com estruturas não reconhecidas pelo mercado 
regulado, como o REDD; 
 
 
2.4 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS BÁSICOS 
 
No entendimento de Miranda (2009, p. 28) princípios “servem como vetores 
para a interpretação normativa”, tendo por finalidade proporcionar segurança jurídica 
e base interpretativa para o direito. De acordo com o autor, os princípios tem como 
finalidade “proporcionar a segurança jurídica, pois uma vez cristalizados tornam-se 
 
16 Mercados voluntários. Disponível em: <www.ipam.org.br> Acesso em: 27/03/2015 
17 REDD. Disponível em: <http://goo.gl/om0aHE> Acesso em: 29/03/2015 
35 
 
 
parâmetros na aplicação da norma ao caso concreto”. Conforme já explanado no 
item 1 deste estudo, a proteção a vida e a dignidade humana são princípios básicos 
da Constituição, a qual elenca o meio ambiente como um bem comum à toda 
coletividade, e sua preservação uma obrigação conjunta. Para tanto, o Estado deve 
lançar mão de todas as ferramentas legais necessárias para sua preservação e, 
levando em conta o atual estágio de desenvolvimento, a manutenção das áreas 
naturais remanescentes. 
Os princípios ambientais básicos são fundamentados no direito ao meio 
ambiente sadio e na proteção à vida, saúde e dignidade humana. Com tal amparo, 
existe a possibilidade de compensação pela conservação ou não utilização de 
alguns recursos naturais produtivos, objetivando a utilização sustentável da 
natureza, conceito que vai ao encontro dos ensinamentos de Reali (2006): 
 
Quando se pretende estimular a adoção de comportamento adequado ao 
meio ambiente, (...), se aplica a exacerbação tributária, que tem dupla 
finalidade: induzir à mudança de comportamento e compensar as 
externalidades negativas (...). No caminho inverso e como estímulo às 
iniciativas ambientais positivas, cabe a utilização dos incentivos tributários 
de caráter desoneratório, como a isenção tributária ou a redução do 
quantum a ser pago. (REALI, 2006, p. 125) 
 
Na esfera ambiental prevenção e precaução são conceitos essenciais, uma 
vez que prejuízos ambientais são irreversíveis e irreparáveis, sendo praticamente 
impossível reestabelecer uma área degradada em iguais condições a anterior. Por 
esse motivo adotam-se tais princípios como o objetivo fundamental do direito 
ambiental, afirmação sustentada por Sebastião (2006): 
 
A precaução e a prevenção devem reger as decisões estatais e individuais 
relativas ao meio ambiente na medida em que, em alguns casos, é 
impossível a remoção da poluição e dos danos (...). Além disso, por vezes, 
mesmo que a reconstituição natural seja materialmente possível, seria muito 
onerosa e não poderia ser exigida do poluidor. Tem-se, então, que na 
grande parte das vezes, remediar é sempre economicamente mais 
dispendioso do que prevenir (SEBASTIÃO, 2006, p. 207). 
 
Fiorillo (2005) trata ambos os conceitos como sinônimos, porém, diversos 
autores abordam a prevenção e a precaução como princípios distintos. Ambos são 
descritos no Art. 225, §1º, Inc. V da Constituição Federal, na Política Nacional do 
36 
 
 
Meio Ambiente18, na Convenção da Diversidade Biológica e a Convenção Quadro 
das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima e na Conferência da ONU sobre o 
Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992. 
 
2.4.1 Da prevenção 
 
O Princípio da Prevenção é empregado como balizador das atividades de 
Licenciamento Ambiental pelos órgãos públicos, bem como na execução de Estudo 
de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Antes da 
realização de qualquer atividade humana é impossível prever a extensão total dos 
danos ambientais, portanto, deve-se adotar a prevenção. Esta pode ser definida 
como “ato ou efeito de prevenir ou de se prevenir; precaução para evitar qualquer 
mal; evitação, impedimento; Prevenção de acidentes”19. Segundo o entendimento de 
Miranda (2009), este princípio é aplicado aos impactos ambientais já conhecidos ou 
antevistos, dos quais seja possível estabelecer as medidas necessárias para prever, 
evitar ou mitigar os danos ambientais. 
 
2.4.2 Da precaução 
 
Formalmente, o Princípio da Precaução ambiental foi instituído como 
Princípio nº15 da Conferência ECO-RIO 92, para que “quando houver ameaça de 
danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza cientifica não deve ser 
utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis 
para prevenir a degradação ambiental20”. O Princípio da Prevenção difere da 
Precaução pelo fato do primeiro ter como objetivo prevenir prejuízos quando as 
consequências da prática de determinados atos já conhecidos. Enquanto, o segundo 
é utilizado quando não se pode determinar, com certeza científica, quais as 
consequências ou eventuais prejuízos que um determinado ato trará ao meio 
ambiente. 
 
18 Política Nacional do Meio Ambiente. Lei 6938/81, art. 4º, inciso I e IV 
19 Prevenção de acidentes. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br> Acesso em: 30/03/2015 
20 Relatório ECO Rio 92. Disponível em: <http://goo.gl/7e1ZWZ> Acesso em: 30/03/2015 
37 
 
 
A adoção do Princípio da Precaução estabelece que sejam tomadas 
medidas ambientais que visem impedir o início de atividades que incorram em riscos 
ambientais, mesmo que potenciais, tal qual o entendimento de Barbieri (2011): 
 
Precaução difere de prevenção. Prevenir (do latim præve ̆nio) significa 
antecipar soluções diante de algo que se sabe que irá ocorrer ou poderá́ 
ocorrer segundo alguma estimativa. Para isso é necessário ter algum 
conhecimento sobre o que se pretende prevenir, seus efeitos e modos de 
ocorrência (...). Precaução significa antecipar a cautela (do latim præcautio) 
diante da incerteza, de algo que não se conhece ou cujo conhecimento é 
insuficiente para estabelecer medidas de prevenção. (BARBIERI, 2011, p. 
40) 
 
O Quadro 1 apresenta as diferenças entre os princípios da prevenção e da 
precaução. 
 
Quadro 1 - Princípios da prevenção e precaução 
Princípio da Prevenção Princípio da Precaução 
Certeza sobre prejuízos ambientais, atuais ou 
futuros. 
Incerteza científica sobre prejuízos ambientais 
futuros 
Atividade pode ser realizada ou autorizada, 
desde que tomadas as medidas mitigadoras e 
compensatórias 
 
Atividade não será realizada ou autorizada 
Fonte: Adaptado pelo autor, com base nos temas abordados no capítulo. 
 
2.4.3 Do poluidor pagador 
 
A Política Nacional de Meio Ambiente oferece uma visão ampla do Princípio 
do Poluidor Pagador. O Art. 3º estabelece que poluidor é “a pessoa física ou jurídica, 
de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade 
causadora de degradação ambiental” que tenha dado causa a “alteração adversa 
das características do meio ambiente”. Já poluição é entendida como “degradação 
da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente 
prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem condições 
adversas às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; 
afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; lancem matérias ou 
energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos”.Toda a sociedade, aí incluso governos, empresas, entidades e população 
em geral, tem o dever de manter o meio ambiente em equilíbrio, porém, apenas o 
agente que desobedecer as regras vigentes deve ser nominalmente 
38 
 
 
responsabilizado. Não obstante o desenvolvimento da mentalidade de 
sustentabilidade tanto da sociedade quanto das empresas, o atual modelo de 
produção, a fiscalização deficiente por parte do Estado aliados a uma legislação 
ambiental vasta e restritiva, tende por induzir ações que impactam de forma negativa 
no meio ambiente. 
O Artigo 225, §3º da Constituição prevê, além das sanções penais e 
administrativas que podem se traduzir em multas, a responsabilidade civil e objetiva 
do autor bem como a obrigação de reparar os danos causados, cabendo ao poluidor 
se utilizar de todas as ferramentas (inclusive pecuniárias), necessárias à sua 
compensação, bem como garantir que estes não ocorram novamente. Fiorillo (2005) 
chama à atenção para que isso não se traduza em salvo-conduto para a 
degradação: 
 
Este princípio reclama atenção. Não traz como indicativo ‘pagar para poder 
poluir’, ‘poluir mediante pagamento’ ou ‘pagar para evitar a contaminação’. 
Não se pode buscar através dele formas de contornar a reparação do dano, 
estabelecendo-se uma liceidade para o ato poluidor, como se alguém 
pudesse afirmar: ‘poluo, mas pago’. O seu conteúdo é bastante distinto. 
(FIORILLO, 2005, p. 30) 
 
Sendo assim, o causador da degradação deve arcar com o ônus de reparar 
os danos causados, de modo a estabelecer o equilíbrio entre a atividade econômica 
e a preservação e assim garantido à sociedade o direito constitucional do meio 
ambiente ecologicamente equilibrado. Além disso, pode incorrer nas multas 
previstas principalmente pelo Decreto Federal 6514/200821, que fixa valores que 
variam de R$ 50,00 a R$ 50.000.000,00. Cabe ressaltar que este tipo de punição 
ocorre nas três esferas concomitantemente: Administrativa (mediante imposição de 
multa e outras penalidades previstas em lei), cível (que pode se traduzir, além de 
nova multa, na obrigação de reparação do dano) e criminal (processo por crime 
ambiental, inclusive com possibilidade de reclusão dos responsáveis). Ademais, os 
três entes da Federação (União, Estado e Municípios) tem a responsabilidade 
compartilhada de fiscalizar e punir os danos ambientais. 
 
 
21 Decreto Federal 6514/2008. Disponível em: <http://goo.gl/yNMZlN> Acesso em: 27/03/2015 
39 
 
 
2.4.4 Do usuário pagador 
 
Ao contrário do Princípio do Poluidor Pagador que visa a reparação e 
punição, o Principio do Usuário Pagador imputa uma contrapartida financeira pelo 
direito de uso de um recurso, conforme o Inc. VII da Política Nacional do Meio 
Ambiente que indica que “à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de 
recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela 
utilização de recursos ambientais com fins econômicos”. A finalidade deste princípio 
é impedir que os não envolvidos em uma determinada atividade sejam onerados 
pelo uso de recursos ambientais, limitando esse ônus ao usuário efetivo. Adotar este 
princípio significa permitir que a natureza seja aproveitada economicamente, 
principalmente quando isso se traduza em benefício à sociedade e desde que 
observada a legislação pertinente. 
 
2.4.5 Do protetor recebedor 
 
Este Princípio fundamenta o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), 
baseado na possibilidade de remuneração ao agente que mantém boas práticas 
ambientais, seja de forma direta ou por subsídios e incentivos fiscais. Ao contrário 
da compensação ambiental, que está relacionada à recuperação da degradação 
resultante de atividades que se utilizam de recursos naturais, a compensação por 
serviços ambientais não decorre de obrigação legal, mas sim da adoção voluntária 
de uma postura de responsabilidade ambiental, cuja “premiação” é um dever do 
Estado como forma de estimular sua continuidade, conforme observa Hüpffer et al. 
(2011): 
 
A adoção de conduta no sentido de promover os recursos naturais sem a 
prévia degradação pelo agente é observada pelo Direito como um plus, 
consistindo, precisamente, no objeto do PSA, já que o Direito irá determinar 
a remuneração (a ser implementada pelos sistemas da Economia e Política) 
o plus exercido voluntariamente pelo cidadão (HÜPFFER et al, 2011, p. 
105) 
 
40 
 
 
O Código Florestal Brasileiro22 aborda este princípio, instituindo a 
possibilidade de pagamento para as atividades de conservação, que poderá ser na 
forma de subsídios, crédito com taxas menores em bancos públicos e outros 
incentivos: 
 
Art. 41. É o Poder Executivo federal autorizado a instituir, sem prejuízo do 
cumprimento da legislação ambiental, programa de apoio e incentivo à 
conservação do meio ambiente, bem como para adoção de tecnologias e 
boas práticas que conciliem a produtividade agropecuária e florestal, com 
redução dos impactos ambientais, como forma de promoção do 
desenvolvimento ecologicamente sustentável, observados sempre os 
critérios de progressividade, abrangendo as seguintes categorias e linhas 
de ação: 
I - pagamento ou incentivo a serviços ambientais como retribuição, 
monetária ou não, às atividades de conservação e melhoria dos 
ecossistemas e que gerem serviços ambientais, tais como, isolada ou 
cumulativamente: 
a) o sequestro, a conservação, a manutenção e o aumento do estoque e a 
diminuição do fluxo de carbono; 
b) a conservação da beleza cênica natural; 
c) a conservação da biodiversidade; 
d) a conservação das águas e dos serviços hídricos; 
e) a regulação do clima; 
f) a valorização cultural e do conhecimento tradicional ecossistêmico; 
g) a conservação e o melhoramento do solo; 
h) a manutenção de Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal 
e de uso restrito (BRASIL, 2012) 
 
Hüpffer et al. (2011, p. 104) destacam que este princípio opera tendo em 
vista a percepção da ineficácia dos instrumentos de controle e normatização 
ambiental, quando se faz necessário “utilizar instrumentos econômicos para a 
efetivação dessa tutela”. Os autores entendem que “dinheiro resolve mais que leis e 
decretos; enfim, que mercado e economia se sobrepõem à política, à justiça e aos 
direitos”. Baseado neste princípio e nas previsões da legislação fica fundamentada a 
possibilidade de utilização da preservação ambiental como ferramenta de 
crescimento das empresas. 
 
 
 
 
 
22 BRASIL. Lei Federal 12.651/2012. Disponível em: <http://goo.gl/WlK9BA> Acesso em: 01/04/2015 
41 
 
 
2.5 TRIBUTAÇÃO VOLTADA AO MEIO AMBIENTE 
 
 
2.5.1 Tributação ambiental 
 
Os impostos no Brasil estão descritos no Art. 145 da Constituição Federal e 
previstos no Artigo 16 do Código Tributário Nacional – CTN, onde se conceitua que 
“imposto é tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente 
de qualquer atividade estatal específica (...)”. Ou seja, o imposto é um tributo não 
vinculado a nenhuma contrapartida do governo, possuindo predicados basicamente 
fiscais. Por sua definição, os tributos no Brasil têm como característica principal a 
sua utilização no custeio da máquina pública, assim sendo, não existe “tributação 
ecológica” propriamente dita ou oficial, mas sim uma estrutura de minoração de 
alíquotas tributárias que visa premiar os contribuintes que adotam a preservação 
ambiental no seu processo produtivo. 
Em matéria de direito tributário, Barrichello e Araújo (2007 apud RANGEL, 
2010) esclarecem que, o Estado se vale de dois grupos de instrumentos para 
interferência na economia na sociedade: “instrumentos de direção” e os 
“instrumentos de indução”. Os primeiros empregam normas que proíbem ou 
permitem determinados atos aplicando as penalidades previstas, enquanto nos 
instrumentos de indução, o estado direciona a economia e o funcionamento de 
mercadode forma a estimular ou desencorajar determinada conduta. Em relação á 
temática ambiental, esses instrumentos podem ser visualizados sob dois prismas: 
elevando-se a carga tributária no intuito de impedir condutas nocivas ao meio 
ambiente com finalidade de punição e, no sentido contrário, diminuindo a tributação 
como forma de incentivo às atitudes responsáveis e sustentáveis. Segundo Borges 
(2010), os instrumentos de indução não podem ser expressos na criação de novos 
tributos, mas sim mediante estímulos fiscais e econômicos: 
 
Há sim um mecanismo de concessão de benefícios fiscais e isenções 
tributárias a serem feitas através de lei específica, conforme estipula o art. 
150, §6º da CF. Isto não implica qualquer criação de tributo com vistas a 
onerar a atividade produtiva, mas sim auxiliar àqueles que possuem cadeia 
produtiva com a preservação ambiental. (BORGES, 2010, p. 09) 
 
42 
 
 
Os benefícios fiscais servem de ferramenta para o poder público fomentar 
certos setores produtivos de maneira a estimular o emprego de tecnologias, 
métodos e processos, os quais, ao mesmo tempo em que impulsionam a produção, 
ajudam a melhorar a qualidade de vida da sociedade. Cada vez mais os governos 
procuram instigar o desenvolvimento econômico aliando este à defesa do meio 
ambiente, pois são polos que podem e devem caminhar juntos, ou seja, o binômio 
“desenvolvimento econômico/meio ambiente”, é o conceito de “desenvolvimento 
sustentável”. Miguel (2012) afirma, em relação a intervenção do estado na 
economia, que alguns tributos possuem essa finalidade distinta da simples 
arrecadação, possuindo, então, função de extrafiscalidade: 
 
Conforme restou verificado, o conceito de extrafiscalidade está relacionado 
às finalidades não meramente arrecadatórias ou fiscais dos tributos. O 
prefixo “extra” indica uma exceção ou transbordamento da função 
meramente fiscal ou abastecimento dos cofres estatais. Nesse sentido, a 
principal finalidade de alguns tributos não será a de instrumento de 
arrecadação de recursos para o custeio das despesas públicas, mas a de 
um instrumento de intervenção estatal no meio social, na economia privada 
ou mesmo no meio ambiente. (MIGUEL, 2012, p. 10) 
 
Em face da excessiva carga tributária a qual os brasileiros estão sujeitos, 
seria incoerente a criação de impostos específicos que visassem a preservação, 
principalmente, tendo em vista a necessidade urgente de uma reforma tributária, 
ainda mais quando se tem em mente que um dos preceitos da extrafiscalidade é 
premiar e incentivar a adoção de boas práticas. Tributação ambiental, em suma, é a 
utilização de instrumentos legais tributários já existentes com a intenção de custear 
os serviços públicos ambientais e nortear o comportamento dos contribuintes para a 
preservação dos recursos naturais. 
Além das taxas que são rotineiramente empregadas como manutenção das 
ações de preservação por parte do poder público, a chamada “tributação verde” é 
utilizada como forma de desestimular atividades potencialmente poluidoras ou 
degradantes da qualidade ambiental. Os impostos sobre a renda, importação e 
exportação, IPI, ICMS, IPVA e IPTU, dentre outros, podem ser usados como 
mecanismos de extrafiscalidade, que beneficiam tanto as empresas (principalmente 
na forma de diminuição da carga tributária) como a população em geral, que passa a 
dispor de um meio mais equilibrado através das ações socioambientais 
desempenhadas por essas empresas. 
43 
 
 
Carneiro (2003 apud RANGEL, 2010) enfatiza que os tributos ambientais 
são instrumentos que possibilitam a interação entre a política econômica e a 
ambiental, sendo esta espécie de tributo uma fonte de receitas que visa recuperar, 
conservar e melhorar a qualidade do meio ambiente e o controle da poluição, 
buscando a otimização do aproveitamento dos recursos naturais e promovendo a 
sustentabilidade. Este cenário confirma a função extrafiscal de algumas classes de 
impostos. 
 
2.5.2 Princípios constitucionais da tributação 
 
Princípios são a base do ordenamento jurídico e, por essa razão, não podem 
existir leis ou normas que os contestem, servindo de base para toda a legislação 
brasileira. Os Princípios Tributários existem para proteger a sociedade contra 
eventuais abusos no poder de tributar exercido pelo governo, e estão dispostos à 
partir do Art. 150 da Constituição Federal, sendo os principais: 
a) Legalidade: Proíbe aos entes da federação exigir ou majorar tributos sem 
lei que autorize; 
b) Isonomia: Veda tratamento diferente a contribuintes que se encontram em 
situação equivalente, bem como qualquer distinção de profissão ou atuação; 
c) Irretroatividade: Proíbe à cobrança de tributos no exercício financeiro no 
qual houve a publicação da lei que o instituiu ou aumentou; 
d) Capacidade contributiva: Os tributos devem ser ajustados 
progressivamente de acordo com a capacidade econômica do contribuinte; 
e) Vedação do confisco: É proibido aos entes da federação utilizar-se da 
tributação como efeito de confisco, principalmente quando o contribuinte entender 
que um tributo é extremamente oneroso; 
f) Seletividade: Certos bens de maior utilidade social podem ser tributados 
com alíquotas diferenciadas em relação a outros bens, sendo a base da 
extrafiscalidade. 
 
44 
 
 
2.5.2.1 Da seletividade tributária 
 
A seletividade tributária é um mecanismo legal, ligado ao princípio da 
proporcionalidade, que permite modificar alíquotas de alguns tributos em 
consonância à capacidade de cada contribuinte. Mediante este princípio, certas 
categorias de bens de maior importância social, como medicamentos e alimentos, 
serão tributadas com alíquotas menores em relação a outros bens que não possuem 
esta característica. A seletividade tributária é uma das ferramentas de execução da 
extrafiscalidade, visto que escolhe os bens cujo consumo é mais ou menos 
essencial à sociedade para modificar sua tributação. No direito tributário brasileiro, a 
Constituição prevê nominalmente à aplicação dos preceitos da seletividade no 
Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI (artigo 153, § 3º, Inc. I), no Imposto 
sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS (artigo 155, § 2º, inc. III) e no 
Imposto sobre Propriedade Predial Urbana – IPTU (artigo 156,§ 1º, inc. II). 
Nota-se que o IPI e o ICMS seletivos são empregados como método de 
regulação econômica. Quando da incidência de alíquotas menores determinados 
pela essencialidade do bem, estes tem sua produção incentivada e, por 
consequência, mais facilidade de acesso por parte da população. 
 
2.5.2.2 Da parafiscalidade 
 
Conforme já citado anteriormente, os tributos tem a função primordial de 
sustentar os cofres públicos com o objetivo de viabilizar a satisfação das 
necessidades da sociedade, assumindo, assim seu caráter de fiscalidade. Não 
obstante, existem tributos difusos a esse conceito, que não tem a finalidade de 
simples arrecadação, possuindo uma função parafiscal. Este termo foi utilizado 
primeiramente no mundo financeiro, no Inventário Schuman23, para nominar tributos 
que não se enquadravam em apenas uma categoria, sendo sua fiscalização 
delegada à entidades coligadas ao Estado. 
Etimologicamente, tem origem no grego “para”, que significa “ao lado, além”, 
acrescido do latim “fiscalis”, que quer dizer “relativo ao tesouro público”, e de 
 
23Inventário Schumann. França, 1946 
45 
 
 
“fiscus”, “tesouro”24. Parafiscalidade, enfim, é um conceito que se diferencia da 
Fiscalidade e da Extrafiscalidade por não se associar à competência tributária, mas 
sim, à capacidade tributária ativa, da capacidade de fiscalização e arrecadação de 
tributos, ou seja, o tributo é parafiscal quando objetiva custear atividades que não 
são funções de competência direta do Estado, porém desenvolvidas em prol da 
sociedade por meio de entes específicos ligados ao Estado.

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