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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO
Licenciatura em Letra – Português
 Turma 152 Polo Bauru
TCC II – Artigo acadêmico 
Ana Caroline Pissolatto 
RA 20015200058
A DIVERSIDADE LINGUISTICA COMO FORMA DE VALORIZAÇÃO CULTURAL NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Torrinha, dezembro de 2017. 
TÍTULO 
A diversidade linguística como forma de valorização cultural no processo ensino-aprendizagem
TEMA
O presente estudo tem como intenção analisar a diversidade linguística do povo brasileiro como forma de valorizar a sua cultura no processo ensino-aprendizagem, buscando observar que as variações linguísticas são determinadas por diversos fatores como a variação regional, a variação social e a variação individual. 
Mesmo diante das variações linguísticas, vemos que a linguagem padrão é a que importa no âmbito escolar, perpetuando os preconceitos e a desvalorização da linguagem popular.
Assim, mostra-se que a escola deve preparar os alunos a conviveram e a aceitarem as diversidades, as culturas e as variações linguísticas de cada grupo social, buscando valorizar as diferentes formas e maneiras da linguagem oral e escrita. 
OBJETO DE PESQUISA
	A valorização das variações linguísticas no ambiente escolar.
JUSTIFICATIVA
	 Com relação à vasta diversidade linguística existente no nosso território nota-se um grande preconceito linguístico e cultural com relação às classes baixas e também de algumas regiões do país, sendo taxadas como inferiores ou erradas. As escolas, nas aulas de Língua Portuguesa, supervalorizam a gramática normativa, perpetuando e disseminando cada vez mais esse preconceito linguístico. 
Diante desse cenário, faz-se necessário analisarmos e refletirmos sobre as práticas de ensino-aprendizagem na busca da valorização das diferentes culturas e das variações linguísticas e a fim de nos desprendermos desse preconceito, pois como diz Bagno, a língua é como um rio que se renova, e precisamos estar atentos às mudanças que ocorrem a nossa volta. 
METODOLOGIA
A pesquisa visa à produção de conhecimentos teóricos metodológicos, referindo-se a atuação dos profissionais envolvidos na sala de aula e sua postura frente às diversidades linguísticas dos alunos. A partir de fontes bibliográficas que tratam da matéria em questão, os problemas e hipóteses serão argumentados. Nossa investigação bibliográfica está inserida nas áreas da linguística, da sociolinguística e da pedagogia. Alguns autores são a base de sustentação para as reflexões aqui apresentadas: Bagno, Luft, Paulo Freire entre outros que argumentam com precisão e colaboram de forma legitima com os assuntos tratados nesta pesquisa.
1 Capítulo de desenvolvimento
1.1 O combate ao preconceito linguístico
Segundo Marcos Bagno (1999), nos dias atuais está cada vez mais comum a luta contra os diferentes tipos de preconceito existente ao redor do mundo todo, mostrando não haver fundamentos que sustente tal ignorância afim de anular e rebaixar o outro e, por consequência, ser superior, ou melhor, acreditar que é superior. 
Porém, o combate ao preconceito não sendo feito a respeito de um tipo específico: o preconceito linguístico. O preconceito linguístico vem sido propagado diariamente na televisão, na rádio, nas revistas, nos jornais e nos livros com a finalidade de impor o que é “certo” e o que é “errado”. 
Diante desse contexto, Marcos Bagno busca “encontrar os meios mais adequados de combater esse preconceito no nosso dia-a-dia, na nossa atividade pedagógica de professores em geral e, particularmente, de professores de língua portuguesa”. (BAGNO, 1999 p.14)
	
1.2 A mitologia dos preconceitos linguísticos
Marcos Bagno elenca alguns mitos que perpetuam o preconceito linguístico em nossa sociedade, mesmo que muitas vezes, de forma inconsciente. Muitos intelectuais importantes não reconhecem a diversidade da língua portuguesa falada no Brasil, acreditando “nesse (pre)conceito irreal da “unidade linguística do Brasil”” . (BAGNO, 1999 p.15)
Segundo Bagno esse é um dos mitos mais prejudicial a educação, pois: 	
“Ao não reconhecer a verdadeira diversidade do português falado no Brasil, a escola tenta impor sua norma linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos os 160 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de sua origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de seu grau de escolarização etc.”. (BAGNO, 1999 p.15)
“É preciso, portanto, que a escola e todas as demais instituições voltadas para a educação e a cultura abandonem esse mito da “unidade” do português no Brasil e passem a reconhecer a verdadeira diversidade linguística de nosso país para melhor planejarem suas políticas de ação junto à população amplamente marginalizada dos falantes das variedades não-padrão”. (BAGNO, 1999 p. 18)
Muitos acreditam ainda que o brasileiro não sabe português, que somente em Portugal se fala português, tratando-se de uma análise preconceituosa e desinformada, Bagno afirma: 
“O brasileiro sabe português, sim. O que acontece é que nosso português é diferente do português falado em Portugal. Quando dizemos que no Brasil se fala português, usamos esse nome simplesmente por comodidade e por uma razão histórica, justamente a de termos sido uma colônia de Portugal. Do ponto de vista linguístico, porém, a língua falada no Brasil já tem uma gramática — isto é, tem regras de funcionamento — que cada vez mais se diferencia da gramática da língua falada em Portugal. Por isso os linguistas (os cientistas da linguagem) preferem usar o termo português brasileiro, por ser mais claro e marcar bem essa diferença”. (BAGNO, 1999 p. 23)
“No que diz respeito ao ensino do português no Brasil, o grande problema é que esse ensino até hoje, depois de mais de cento e setenta anos de independência política, continua com os olhos voltados para a norma linguística de Portugal. As regras gramaticais consideradas “certas” são aquelas usadas por lá, que servem para a língua falada lá, que retratam bem o funcionamento da língua que os [pg. 26] portugueses falam”. (BAGNO, 1999 p. 26)
Para Bagno, muitos brasileiros assumem também esse preconceito com relação a outra língua, defendendo sempre a língua falada pela metrópole do eu a falada pela ex-colônia, pois “é o nosso eterno trauma de inferioridade, nosso desejo de nos aproximarmos, o máximo possível, do cultuado padrão “ideal”, que é a Europa”. (BAGNO, 1999 p. 29)
Outro mito apontado é que “o português é uma língua muito difícil”, isso ocorre porque o ensino da língua nas escolas é baseado na gramática portuguesa, ou seja, não corresponde a língua que nos brasileiros falamos e escrevemos. 
“Por isso achamos que “português é uma língua difícil”: porque temos de decorar conceitos e fixar regras que não significam nada para nós. No dia em que nosso ensino de português se concentrar no uso real, vivo e verdadeiro da língua portuguesa do Brasil é bem provável que ninguém mais continue a repetir essa bobagem”. (BAGNO, 1999 p. 35)
Acreditam-se que somente sabe falar a língua portuguesa aquela pessoa que recebeu algum tipo de estudo durante a sua vida, ou seja, “qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-gramática-dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, “errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente”, e não é raro a gente ouvir que “isso não é português””. (BAGNO, 1999 p.40)
O mito nº 5 “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão”, pois sabemos: 
“Que no Maranhão ainda se usa com grande regularidade o pronome tu, seguido das formas verbais clássicas, com a terminação em -s característica da segunda pessoa: tu vais, tu queres, tu dizes, tu comias, tu cantavas etc. Na maior parte do Brasil, como sabemos, devido à reorganização do sistema pronominal de que já falei, o pronome tu foi substituído por você”. (BAGNO, 1999 p.46)
“Ora, somente por esse arcaísmo, por essa conservação de um único aspecto da linguagem clássica literária, que coincide com a língua falada em Portugal ainda hoje, é quese perpetua o mito de que o Maranhão é o lugar “onde melhor se fala o português” no Brasil”. (BAGNO, 1999 p.47)
Daí surge a importância de entendermos que de acordo com “toda variedade linguística atende às necessidades da comunidade de seres humanos que a empregam”. (BAGNO, 1999 p.47)
Infelizmente existe uma tendência de acreditarmos que a maneira correta de falarmos é da maneira que escrevemos, desprezando a língua falada pelo povo. Porém, Bagno nos mostra que toda língua possui sua variação, ou seja, nenhuma língua é falada de forma igual em todos os lugares.
Marcos Bagno ressalta ainda que: 
“É claro que é preciso ensinar a escrever de acordo com a ortografia oficial, mas não se pode fazer isso tentando criar uma língua falada “artificial” e reprovando como “erradas” as pronúncias que são resultado natural das forças internas que governam o idioma. Seria mais justo e democrático dizer ao aluno que ele pode dizer BUnito ou BOnito, mas que só pode escrever BONITO, porque é necessária uma ortografia única para toda a língua, para que todos possam ler e compreender o que está escrito, mas é preciso lembrar que ela funciona como a partitura de uma música: cada instrumentista vai interpretá-la de um modo todo seu, particular!”. (BAGNO, 1999 p. 52)
Muitos intelectuais perpetuam a ideia de que é preciso saber gramática para falar e escrever e que o domínio da norma culta é um instrumento de ascensão na sociedade, mas são ao acreditarmos nesses mitos “estaremos apenas contribuindo para a manutenção do círculo vicioso do preconceito linguístico”. (BAGNO, 1999 p. 72)
Ainda de acordo com Marcos Bagno os mitos são perpetuados e transmitidos por um circulo vicioso do preconceito linguístico formado por três elementos, sendo eles a gramática tradicional, os métodos tradicionais de ensino tradicionais e os livros didáticos. 
Podemos dizer eu o ensino da língua portuguesa passa por uma crise profunda e redundante, pelo fato de muitos intelectuais, escritores e gramáticos acreditarem e disseminarem eu a norma culta é a única que deve ser ensina aos alunos em sala de aula. Essa discrepância entre a norma culta e a linguagem usada pelo nosso povo brasileiro somente irá aumentar até os gramáticos tradicionais não acompanharem os avanços e as transformações da linguagem, perpetuando o preconceito linguístico.
1.3 
REFERENCIAL TEÓRICO 
BAGNO, Marcos. Linguística da norma. São Paulo: Loyola, 2004. 
BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola, 2003.
BAGNO, Marcos. Norma linguística. São Paulo: Loyola, 2001. 
BAGNO, Marcos. Português ou brasileiro? Um convite à pesquisa. 4.ed.São Paulo: Parábola, 2004. 
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 31 ed. São Paulo: Edições Loyla, 2004.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e lingüística. São Paulo: Pontes, 1992.
Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. São Paulo: Ática. 6ª edição. 1998.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 26ª Ed São Paulo: Cultrix, 2004.

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