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Universidade Estácio de Sá Polo: Parangaba Curso: Direito Disciplina: Direito Penal IV Docente: Antônio Augusto Discente: Rubens Melo da Silva Matrícula: 2016.01.66.887-2 Caso Concreto Semana 5 (Crime de Tortura – Lei n. 9455/97) No que concerne às condutas prevista na lei n. 9455/97 e seu confronto com condutas previstas no Código Penal, analise as seguintes situações hipotéticas e responda, de forma objetiva e fundamentada, se a tipificação apresentada está correta: Situação 1: Agente que submete seu filho, de 2 anos de idade, por diversas vezes a queimaduras com o fim de causar intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal, pois ficava incomodado com o choro do bebê pratica a conduta de maus tratos prevista no art. 136, do Código Penal. Não concordamos com a interpretação que o crime em questão seja maus tratos, mas sim, crime de tortura. Conforme dispõe o inciso II do art. 1º da Lei 9.455/97: “Art. 1º. Caput (...) II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo”. (Grifo nosso) O que temos é um crime no qual o núcleo do elemento subjetivo está presente na intenção de expor a vítima a grave sofrimento, como sendo uma forma de aplicação de castigo, ou ainda, uma medida de caráter preventivo. Existe um identificação para esse tipo de tortura que é classificada como Tortura-castigo, e é nesse aspecto que devemos centrar nossa atenção para diferenciação para com outro tipo de crime. Ressalta-se, portanto, que não devemos confundir o crime de tortura ora em estudo com delito classificado como maus-tratos. Segundo ensinamento Gonçalves (2018, p. 179), temos: “Essa forma de tortura muito se assemelha ao crime de maus-tratos (art. 136 do Código Penal). A diferença está no elemento normativo da tortura, existente apenas nesse inciso II, que pressupõe que a vítima seja submetida a intenso sofrimento físico ou mental. A caracterização desse dispositivo, assim, é reservado a situações extremas”. (Grifo nosso). Situação extrema é justamente é o que vemos aqui ao constatar mediante aos autos do processo foi executado atos que tipificam a conduta de sofrimento físico a vítima. A consumação, nesse contexto, ocorreu no momento em que a vítima é submetida a intenso sofrimento através de queimaduras na criança de penas dois anos de idade. Nesse aspecto, deverá ser aplicado qualificado de causa de aumento de pena, conforme previsão legal presento no § 4º do art. 1º da Lei nº 9.455/97, in verbis: “Art. 1º. § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: (...) II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de sessenta anos. Por criança, e sobre a condição de observância para evitar bis in idem, devemos destacar que, em termos doutrinários, segundo Gonçalves (2018, p. 184): “Criança é a pessoa menor de 12 anos, enquanto adolescente é quem possui 12 anos ou mais, e menos de 18 anos. (...) Por se tratar de causa de aumento de pena do crime de tortura, mostra-se inviável a incidência de agravantes genéricas que se referem às mesmas hipóteses no Código Penal, sob pena de se incorrerem bis in idem”. (Grifo nosso) Portanto, o crime sofrido deverá ser considerado como tortura e não como crime de maus-tratos. Por fim, recorremos ensinamentos de Cunha (2015, p. 150) para diferenciação entre os dois crimes em estudo, assim: “O delito em estudo não se confunde com aquele previsto no art. 1º, inciso II, da Lei 9.455 (Lei de Tortura). Embora com textos semelhantes, o delito de tortura traz elemento normativo e subjetivo que evitam qualquer confusão. Exige-se, no caso da tortura, que a vítima seja submetida a intenso sofrimento físico ou mental, enquanto no delito de maus-tratos basta a provocação de simples perigo. Ademais, a intenção do agente, ao torturar, é calcada no horror, visando causar sofrimento à vítima. No crime de maus-tratos o agente age com abuso do exercício de um direito regular”. (Grifo nosso) Conforme exposto, requer ao Juiz que sejam aplicadas as medidas legais cabíveis para reestabelecimento da paz e a punição do acusado nos termos exigidos por nosso ordenamento jurídico. Referência bibliográfica: CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial, volume único, 7ª. Ed. Salvador, BA: Juspodivm, 2015. GONÇALVES, Victor Eduardo Rio. Legislação penal especial esquematizado. 4. Ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. VADE MECUM RT. 14 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista do Tribunais, 2017. Situação 2: Delegado de Polícia ao perceber que na sala ao lado, agente policial lotado em sua Delegacia, submete indivíduo preso em flagrante a sofrimento físico mediante violência, como forma de aplicar-lhe castigo pessoal e nada faz para impedir tal conduta será responsabilizado como partícipe da conduta de tortura perpetrada pelo policial. Não estamos diante de conduta partícipe de tortura, mas sim omissão perante a tortura, conforme dispões o § 2º do art. 1º da Lei 9.455/97, in verbis: “Art. 1º, § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evita-las ou apurá- las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos”. Esse artigo recebe forte crítica doutrinária, conforme Gonçalves (2018, p. 182): “Esse dispositivo contém um equívoco, uma vez que tipifica como crime menos grave a conduta de quem tem o dever de evitar a tortura e deixa de fazê-lo. Ora, nos termos do art. 13, § 2º, do Código Penal, responde pelo resultado, na condição de partícipe, aquele que deve e pode agir para evita-lo e não o faz. Por consequência, quando uma pessoa tortura a vítima para obter dela uma confissão, e outra, que podia e devia evitar tal resultado, omite-se, ambas respondem pelo crime de tortura do art. 1º, I, “a”, da Lei n. 9.455/95 (que é delito mais grave), e não por esse crime descrito no § 2º. Essa solução atende que, podendo evitar o resultado, deixa de fazê-lo (art. 5º, XLIII, da CF)”. Nesse contexto, convém destacar o conceito participação de agentes em condutas criminosas. Segundo Greco (2016, p. 549), a participação: “(...) será sempre uma atividade acessória, dependente da principal. Nesse sentido são as lições de Paul Bockelmann1, quando aduz que ‘a participação é, necessariamente, acessória, quer dizer, dependente da existência de um fato principal. Essa acessoriedade não é ‘produto da lei’, mas está na natureza das coisas”. Quando analisamos tecnicamente as características que envolvem essa atividade acessória na participação devemos nos ater ocorre aqui uma divisão entre moral ou material. Greco (2016, p. 549), argumenta que: “Diz-se moral a participação nos casos de induzimento (que é tratado pelo Código Penal como determinação) e instigação. Material seria a participação por cumplicidade (prestação de auxílios materiais)”. No caso em estudo temos a figura de um Delegado de Polícia que se omite diante de atos de sofrimento físico mediante violência a um indivíduo preso. Sobre esse aspecto, recorremos novamente aos ensinamentos doutrinários, Gonçalves (2018, p. 182), que nos ensina: “Dessa forma, o § 2º do art. 1º da Lei n. 9.455/97 somente será àquele que tem o dever jurídico de apurar a conduta delituosa e não o faz. Como tal 1 BOCKELMANN, Paul. Relaciones entre autoria e participación, p. 7 dever jurídico incumbe às autoridades policiais e seus agentes, torna-se evidente a impossibilidadede aplicação do aumento do § 4º, I, do art. 1º da lei (crime cometido por agente público), já que isso constituíra bis in idem”. Portanto, cabe aqui importante alerta: embora o delito de omissão perante a tortura esteja previsto na Lei n. 9.455/97 não constitui crime de tortura (GONÇALVES, 2018, p. 182). Assim, a tipificação será por omissão perante tortura, e não tortura. Referência bibliográfica: GONÇALVES, Victor Eduardo Rio. Legislação penal especial esquematizado. 4. Ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. 18 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016. VADE MECUM RT. 14 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista do Tribunais, 2017. Situação 3: Um agente que se encontra detido em uma delegacia da polícia civil por ter ameaçado a vida de um terceiro lá apresentou comportamento violento e incontido: agrediu outro detentos e dirigiu ofensas contra os policiais. Após ter sido separado de outros detentos e algemado provocou, ofendeu e cuspiu no rosto do policial que o algemou. O policial, ato contínuo, adentrou a cela e lhe desferiu vários golpes de cassetete, causando graves lesões, cessando sua conduta somente após a intervenção de outro policial. Nesse caso a conduta do policial configura o delito de lesões corporais graves, no caso diagnosticado com detecção de queimaduras. Não visualizamos características delitivas que possibilitem crime de Lesão Corporal, mas, sim Crime de Tortura prevista no § 1º do art. 1º da Lei n. 9.455/97, in verbis: “Art. 1, § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal”. Existem diferentes tipos de tortura que podem ser depreendidas através da intepretação da lei específica em estudo. Conforme argumentação doutrinária de Gonçalves (2018, p. 176), o ponto central diferenciação dos diferentes crimes dar-se pela motivação do torturador, nesse sentido temos: “(...) quanto à objetividade, meios de execução, sujeitos ativo e passivo, consumação, tentativa e ação penal, as regras são as mesmas para todas elas, que, dessa forma, se diferenciam apenas no que se refere à motivação do agente torturador”. A descrição do ato delitivo realizado pelo policial contra um agente que já detido dentro de unidade de delegacia da polícia civil não deixa dúvidas, conforme descrito nos autos do processo: “O policial, ato contínuo, ofendeu e cuspiu no rosto do policial que o algemou. O policial, ato contínuo, adentrou a cela e lhe desferiu vários golpes de cassetete, causando graves lesões, cessando sua conduta somente após a intervenção de outro policial”. Estamos diante de um crime de Tortura de presou sendo a objetividade jurídica emanada pelo legislador, segundo Gonçalves (2018, p. 181): “Garantir aos presos e às pessoas submetidas a medida de segurança o respeito à sua integridade física e corporal, previsto no art. 5º, XLIX, da Constituição Federal” Assim, conforme ensinamento doutrinário constitucional, temos nas palavras de Lenza (2017, p. 2017), a seguinte orientação sobre importante inciso presente em nossa Carta Magna: “Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante, sendo que a lei considerará crime inafiançável a prática de tortura (art. 5º, XLIII, CF/88). A Lei n. 9.455/97 integrou a referida norma constitucional, definido os crimes de tortura”. Convém também destacar que crime de tortura compõem importante relatório apontado pela Associação Nacional dos Procuradores da República, no tocante a federalização dos crimes contra direitos humanos, assim levando a incidente de deslocamento de competência (IDC), são levado em consideração diversas convenções sobre direito humanos de que o País já é parte, destacando, ainda o reconhecimento da competência obrigatória da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Decreto n. 678/92, foi promulgada a Convenção Americana sobre Direito Humanos – Pacto de São José da Costa Rica), segundo Lenza (2017, p. 1185): “(...) a aludida Associação chegou a propor uma nova redação, definindo, previamente, o que entenderia por hipótese de grave violação de direitos humanos e, também, permitindo que a lei ordinária, no futuro, em face de novas convenções que viessem a ser celebradas, estabelecesse outras hipóteses de crimes contra direitos humanos. Haveria, dessa forma, total respeito ao juiz natural”. . Nesse sentido, aponta Lenza (2017, p. 1185): “Apenas para exemplificar, o que poderá servir de norte para a interpretação dos estudiosos, foram considerados, pela ANPR, crimes contra direitos humanos os seguintes delitos: tortura; homicídio doloso praticado por agente de quaisquer dos entes federados no exercício de suas funções ou por grupo de extermínio; crimes praticados contra as comunidades indígenas ou seus integrantes; homicídio doloso, quando motivado por preconceito de origem, raça, sexo, opção sexual, cor, religião, opinião política, idade ou quaisquer outras formas de discriminação, ou quando decorrente de conflitos fundiários de natureza coletiva; e uso, intermediação e exploração de trabalho escravo ou de criança e adolescentes, em quaisquer das formas previstas em tratados internacionais”. O respeito à dignidade da pessoa humana é fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1º, III), sendo os direitos da pessoa humana um dos chamados princípios sensíveis, exigindo adequado funcionamento do Judiciário brasileiro para estabelecimento que promovam a efetividade de causas relativas ao direitos humanos. O combate aos crimes de tortura envolvem esse rol. Nesse contexto, e com fito de ilustrar essa condição do debate envolvendo a problemática sobre os crimes de tortura e a possibilidade, real e concreta de aplicação do uso do Incidente de deslocamento de competência, citamos (LENZA, 2017, P. 1187): “IDC 3/GO: suspeita de atuação, em Goiânia, de grupo de extermínio com a suposta participação militares na prática dos crimes de homicídio e de tortura: o STJ determinou o deslocamento de competência para a Justiça Federal de dois inquéritos policiais e de um procedimento inquisitivo envolvendo policiais militares que teriam supostamente cometido graves violações aos direitos humanos no estado de Goiás. Assim, “o Colegiado determinou a transferência imediata à Polícia Federal, sob a fiscalização do Ministério Público Federal e sob a jurisdição do juízo federal criminal, do inquérito policial envolvendo o desaparecimento de Célio Roberto; do procedimento inquisitivo que trata do crime de tortura contra Michel Rodrigues da Silva; e do inquérito policial que apura o desaparecimento de Pedro Nunes da Silva e Cleiton Rodrigues” (Notícias STJ de 10.12.2014) (3ª Seção, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 10.12.2014, DJE de 02.02.2015). No crime de Tortura do preso temos como elementos do tipo penal, conforme palavras Gonçalves (2018, p. 181): “Permissa do delito é que a vítima esteja legalmente presa ou sujeita a medida de segurança. Assim, comete o crime que adota medidas não previstas na Lei de Execuções Penais ou em outras leis similares, como cela escura, solitária, aplicação de choques, sessões de “pau-de-ararra” etc. Igualmente comete o crime quem coloca preso em regime disciplinar diferenciado sem prévia determinação judicial”. Nesse aspecto, destaca-se que a vítima encontrava-se legalmente presa e sobre a custódia do Estado, e as práticas desempenhadas pelo agente policial não estão previstas na Lei de Execuções Penais. Portanto, convém também ressaltar a importância do entendimento doutrinário sobre sujeitopassivo do crime de Tortura de Preso. Segundo Gonçalves (2018, p. 181): “Somente as pessoas presas ou sujeitas a medida de segurança. Pessoa presa é aquela que perdeu sua liberdade em razão de prisão em flagrante ou decorrente de ordem judicial (prisão preventiva, temporária, em virtude de condenação, prisão civil). Pessoa sujeita a medida de segurança é a que se encontra internada em hospital de custódia ou tratamento psiquiátrico, ou, na falta destes, em outro estabelecimento adequado, ou, ainda, a que está sendo submetida a tratamento ambulatorial”. O crime de tortura encontra-se plenamente consumado no momento em que é causado o sofrimento na vítima. Ressalta-se que conduta do agente policial contra vítima além do crime de tortura, tipifica-se também dentro das formas qualificadas por conta do resultado alcançado, no caso, lesões corporais. Assim, alegação inicial de delito isolado de lesões corporais graves não é autônomo, mas sim uma forma qualificada para crime de tortura em si, prevista, em nosso ordenamento jurídico no § 3º, art. 1 da Lei n. 9.455/97 que diz: “Art. 1º, § 3 º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos”. Em termos doutrinários, sobre essa forma qualificadora ressalta-se, conforme Gonçalves (2018, p. 182): “Essas figuras qualificadas são exclusivamente preterdolosas, ou seja, configuram-se somente quando existe dolo de torturar e culpa em relação ao resultado agravador (lesão grave ou morte). (...) Já no crime de tortura da lei especial, o sofrimento que o agente impõe à vítima tem por finalidade uma das circunstâncias mencionadas na lei (obter informações, declaração, declaração ou confissão de alguém; provocar ação ou omissão criminosas; praticar discriminação racial ou religiosa; impor castigo ou medida preventiva). Acontece que, por excessos na execução do crime, o agente acaba causando culposamente a morte da vítima. É justamente por isso que se pode afirmar que a figura do crime de tortura qualificada pela morte (art. 1º, § 3º, da Lei n. 9.455/97) é exclusivamente preterdolosa”. Salienta-se que resultado morte não ocorreu, notadamente, por conta da intervenção de outro agente policial, já que, conforme podemos observar nos autos do processos não existiu em nenhum momento, após iniciada as agressões arrependimento, desistência ou qualquer outro gesto por parte do torturar para cessão as agressões que poderiam efetivamente levar a morte ao sujeito passivo. Portanto, as configurações que tipificam e estão presente em nosso ordenamento jurídico trazer à luz a conduta qualificadora que ensejaram lesões graves dentro de um contexto maior, ou seja, crime de tortura. Recorremos, nesse aspecto, as palavras basilares de Gonçalves (2018, p. 183): “As lesões graves ou gravíssimas que qualificam o crime de tortura são aqueles descritas no art. 129, §§ 1º e 2º, do Código Penal: incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias, perigo de vida, debilidade permanente de membro, sentido ou função, aceleração do parto, incapacidade para o trabalho, enfermidade incurável, perda ou inutilização de membro, sentido ou função, deformidade permanente ou aborto”. Não obstante é importante aponta a conceituação que envolvem o crime preterdoloso, como demonstrado por Capez (2017, p. 234): “(...) é aquele em que o legislador, após descrever uma conduta típica, com todos os seus elementos, acrescenta- lhe um resultado, cuja ocorrência acarreta um agravamento da sanção penal”. Conforme descrito acima (através da lei e dos ensinamentos doutrinários), como demonstrado pelas provas testemunhais e periciais estamos diante de forma qualificadora corretamente prevista pelo legislador e não escapa aos olhos nem mesmo de inculto penal. As observações apontadas demonstram de forma inequívoca que o agente policial realizou a prática do crime de tortura e apresentou a forma qualificada através das lesões corporais graves devidamente comprovadas. Ressaltamos também para correta aplicação do rigor exigido por legislador ao combate desse tipo de crime, solicita-se, também que seja realizada ao curso do processo penal aplicação de causa de aumento de pena, conforme descrito no § 4 do art. 1 da Lei n. 9.455/97, in verbis: “Art. 1, § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: I – se o crime é cometido por agente público. Não resta dúvidas que trata-se de um agente público que efetivamente realizou o crime ora em estudo. Contudo, devemos evitar aumento da pena para evitar fenômeno processual do bis in idem já que o agente público, no caso, a condição de agente de segurança (que mantém sob custódia ou prisão o sujeito passivo) já é requisito do próprio tipo penal. No tocante a possibilidade de argumentação da defesa para qualificar a conduta como sendo um ato de abuso de autoridade, refutamos essa ideia jurídica já que o dispositivo em análise não revogou a Lei n. 4.898/65, assim, continuam sendo aplicáveis a casos em que a conduta não se amolda a qualquer dos delitos tipificados na Lei de Tortura, portanto, identificado e devidamente configurado como sendo um crime de Tortura (dor e sofrimento causado por agente público contra quem está sobre medida de segurança e tutela do Estado), não cabe alegação de abuso de autoridade. Requer, por fim, a correta aplicação das medidas legais cabíveis, com propósito não obstante ao caso ora estudo, como também uma resposta legal, firme e justa para nossa sociedade que em nenhuma hipótese aceita esse tipo de conduta criminosa desempenhada por agente público. O crime de tortura carrega de cores fortes e mancha toda a corporação e destrói a esperança na figura repressiva do Estado. A tortura destrói a construção de uma sociedade crente no Estado Democrático de Direito e mina os sonhos de funcionalismo público voltado para cidadania e a paz social. Portanto, não resta outra medidas que não sejam as mais duras possíveis para banir esse tipo de crime do nosso meio. Referência bibliográfica: BARROSO, Darlan. Manual de redação jurídica e língua portuguesa para a OAB. 4 ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume 1, parte geral: arts. 1º a 120. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 2017. GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Legislação penal especial esquematizado. 4 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 2017. VADE MECUM RT. 14 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista do Tribunais, 2017.
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