Buscar

Caso Concreto Direito Penal IV Semana 5 Crime de Tortura

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Universidade Estácio de Sá 
Polo: Parangaba 
Curso: Direito 
Disciplina: Direito Penal IV 
Docente: Antônio Augusto 
Discente: Rubens Melo da Silva 
Matrícula: 2016.01.66.887-2 
Caso Concreto Semana 5 (Crime de Tortura – Lei n. 9455/97) 
No que concerne às condutas prevista na lei n. 9455/97 e seu confronto com 
condutas previstas no Código Penal, analise as seguintes situações hipotéticas 
e responda, de forma objetiva e fundamentada, se a tipificação apresentada está 
correta: 
Situação 1: Agente que submete seu filho, de 2 anos de idade, por diversas 
vezes a queimaduras com o fim de causar intenso sofrimento físico ou mental, 
como forma de aplicar castigo pessoal, pois ficava incomodado com o choro do 
bebê pratica a conduta de maus tratos prevista no art. 136, do Código Penal. 
Não concordamos com a interpretação que o crime em questão seja maus 
tratos, mas sim, crime de tortura. 
Conforme dispõe o inciso II do art. 1º da Lei 9.455/97: 
 “Art. 1º. Caput (...) 
II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou 
autoridade, com emprego de violência ou grave 
ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, 
como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de 
caráter preventivo”. (Grifo nosso) 
 O que temos é um crime no qual o núcleo do elemento subjetivo está 
presente na intenção de expor a vítima a grave sofrimento, como sendo uma 
forma de aplicação de castigo, ou ainda, uma medida de caráter preventivo. 
 Existe um identificação para esse tipo de tortura que é classificada como 
Tortura-castigo, e é nesse aspecto que devemos centrar nossa atenção para 
diferenciação para com outro tipo de crime. Ressalta-se, portanto, que não 
devemos confundir o crime de tortura ora em estudo com delito classificado como 
maus-tratos. Segundo ensinamento Gonçalves (2018, p. 179), temos: 
“Essa forma de tortura muito se assemelha ao crime 
de maus-tratos (art. 136 do Código Penal). A 
diferença está no elemento normativo da tortura, 
existente apenas nesse inciso II, que pressupõe que 
a vítima seja submetida a intenso sofrimento físico ou 
mental. A caracterização desse dispositivo, assim, é 
reservado a situações extremas”. (Grifo nosso). 
 Situação extrema é justamente é o que vemos aqui ao constatar mediante 
aos autos do processo foi executado atos que tipificam a conduta de sofrimento 
físico a vítima. A consumação, nesse contexto, ocorreu no momento em que a 
vítima é submetida a intenso sofrimento através de queimaduras na criança de 
penas dois anos de idade. 
 Nesse aspecto, deverá ser aplicado qualificado de causa de aumento de 
pena, conforme previsão legal presento no § 4º do art. 1º da Lei nº 9.455/97, in 
verbis: 
“Art. 1º. § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um 
terço: 
(...) 
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, 
portador de deficiência, adolescente ou maior de 
sessenta anos. 
 Por criança, e sobre a condição de observância para evitar bis in idem, 
devemos destacar que, em termos doutrinários, segundo Gonçalves (2018, p. 
184): 
“Criança é a pessoa menor de 12 anos, enquanto 
adolescente é quem possui 12 anos ou mais, e menos 
de 18 anos. (...) Por se tratar de causa de aumento de 
pena do crime de tortura, mostra-se inviável a 
incidência de agravantes genéricas que se referem às 
mesmas hipóteses no Código Penal, sob pena de se 
incorrerem bis in idem”. (Grifo nosso) 
 Portanto, o crime sofrido deverá ser considerado como tortura e não como 
crime de maus-tratos. Por fim, recorremos ensinamentos de Cunha (2015, p. 
150) para diferenciação entre os dois crimes em estudo, assim: 
“O delito em estudo não se confunde com aquele 
previsto no art. 1º, inciso II, da Lei 9.455 (Lei de 
Tortura). Embora com textos semelhantes, o delito de 
tortura traz elemento normativo e subjetivo que 
evitam qualquer confusão. Exige-se, no caso da 
tortura, que a vítima seja submetida a intenso 
sofrimento físico ou mental, enquanto no delito de 
maus-tratos basta a provocação de simples 
perigo. Ademais, a intenção do agente, ao torturar, é 
calcada no horror, visando causar sofrimento à vítima. 
No crime de maus-tratos o agente age com abuso do 
exercício de um direito regular”. (Grifo nosso) 
 Conforme exposto, requer ao Juiz que sejam aplicadas as medidas legais 
cabíveis para reestabelecimento da paz e a punição do acusado nos termos 
exigidos por nosso ordenamento jurídico. 
Referência bibliográfica: 
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial, 
volume único, 7ª. Ed. Salvador, BA: Juspodivm, 2015. 
GONÇALVES, Victor Eduardo Rio. Legislação penal especial 
esquematizado. 4. Ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. 
VADE MECUM RT. 14 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista 
do Tribunais, 2017. 
 
Situação 2: Delegado de Polícia ao perceber que na sala ao lado, agente policial 
lotado em sua Delegacia, submete indivíduo preso em flagrante a sofrimento 
físico mediante violência, como forma de aplicar-lhe castigo pessoal e nada faz 
para impedir tal conduta será responsabilizado como partícipe da conduta de 
tortura perpetrada pelo policial. 
 Não estamos diante de conduta partícipe de tortura, mas sim omissão 
perante a tortura, conforme dispões o § 2º do art. 1º da Lei 9.455/97, in verbis: 
“Art. 1º, § 2º Aquele que se omite em face dessas 
condutas, quando tinha o dever de evita-las ou apurá-
las, incorre na pena de detenção de um a quatro 
anos”. 
 Esse artigo recebe forte crítica doutrinária, conforme Gonçalves (2018, p. 
182): 
“Esse dispositivo contém um equívoco, uma vez que 
tipifica como crime menos grave a conduta de quem 
tem o dever de evitar a tortura e deixa de fazê-lo. Ora, 
nos termos do art. 13, § 2º, do Código Penal, 
responde pelo resultado, na condição de partícipe, 
aquele que deve e pode agir para evita-lo e não o faz. 
Por consequência, quando uma pessoa tortura a 
vítima para obter dela uma confissão, e outra, que 
podia e devia evitar tal resultado, omite-se, ambas 
respondem pelo crime de tortura do art. 1º, I, “a”, da 
Lei n. 9.455/95 (que é delito mais grave), e não por 
esse crime descrito no § 2º. Essa solução atende que, 
podendo evitar o resultado, deixa de fazê-lo (art. 5º, 
XLIII, da CF)”. 
 Nesse contexto, convém destacar o conceito participação de agentes em 
condutas criminosas. Segundo Greco (2016, p. 549), a participação: 
“(...) será sempre uma atividade acessória, 
dependente da principal. Nesse sentido são as lições 
de Paul Bockelmann1, quando aduz que ‘a 
participação é, necessariamente, acessória, quer 
dizer, dependente da existência de um fato principal. 
Essa acessoriedade não é ‘produto da lei’, mas está 
na natureza das coisas”. 
 Quando analisamos tecnicamente as características que envolvem essa 
atividade acessória na participação devemos nos ater ocorre aqui uma divisão 
entre moral ou material. Greco (2016, p. 549), argumenta que: 
“Diz-se moral a participação nos casos de 
induzimento (que é tratado pelo Código Penal como 
determinação) e instigação. Material seria a 
participação por cumplicidade (prestação de auxílios 
materiais)”. 
 
 No caso em estudo temos a figura de um Delegado de Polícia que se 
omite diante de atos de sofrimento físico mediante violência a um indivíduo 
preso. Sobre esse aspecto, recorremos novamente aos ensinamentos 
doutrinários, Gonçalves (2018, p. 182), que nos ensina: 
“Dessa forma, o § 2º do art. 1º da Lei n. 9.455/97 
somente será àquele que tem o dever jurídico de 
apurar a conduta delituosa e não o faz. Como tal 
 
1 BOCKELMANN, Paul. Relaciones entre autoria e participación, p. 7 
dever jurídico incumbe às autoridades policiais e seus 
agentes, torna-se evidente a impossibilidadede 
aplicação do aumento do § 4º, I, do art. 1º da lei (crime 
cometido por agente público), já que isso constituíra 
bis in idem”. 
 Portanto, cabe aqui importante alerta: embora o delito de omissão perante 
a tortura esteja previsto na Lei n. 9.455/97 não constitui crime de tortura 
(GONÇALVES, 2018, p. 182). Assim, a tipificação será por omissão perante 
tortura, e não tortura. 
Referência bibliográfica: 
GONÇALVES, Victor Eduardo Rio. Legislação penal especial 
esquematizado. 4. Ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. 18 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 
2016. 
VADE MECUM RT. 14 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista 
do Tribunais, 2017. 
 
Situação 3: Um agente que se encontra detido em uma delegacia da polícia civil 
por ter ameaçado a vida de um terceiro lá apresentou comportamento violento e 
incontido: agrediu outro detentos e dirigiu ofensas contra os policiais. Após ter 
sido separado de outros detentos e algemado provocou, ofendeu e cuspiu no 
rosto do policial que o algemou. O policial, ato contínuo, adentrou a cela e lhe 
desferiu vários golpes de cassetete, causando graves lesões, cessando sua 
conduta somente após a intervenção de outro policial. Nesse caso a conduta do 
policial configura o delito de lesões corporais graves, no caso diagnosticado com 
detecção de queimaduras. 
 Não visualizamos características delitivas que possibilitem crime de Lesão 
Corporal, mas, sim Crime de Tortura prevista no § 1º do art. 1º da Lei n. 9.455/97, 
in verbis: 
“Art. 1, § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa 
presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico 
ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em 
lei ou não resultante de medida legal”. 
 Existem diferentes tipos de tortura que podem ser depreendidas através 
da intepretação da lei específica em estudo. Conforme argumentação doutrinária 
de Gonçalves (2018, p. 176), o ponto central diferenciação dos diferentes crimes 
dar-se pela motivação do torturador, nesse sentido temos: 
“(...) quanto à objetividade, meios de execução, sujeitos 
ativo e passivo, consumação, tentativa e ação penal, as 
regras são as mesmas para todas elas, que, dessa forma, 
se diferenciam apenas no que se refere à motivação do 
agente torturador”. 
 A descrição do ato delitivo realizado pelo policial contra um agente que já 
detido dentro de unidade de delegacia da polícia civil não deixa dúvidas, 
conforme descrito nos autos do processo: 
“O policial, ato contínuo, ofendeu e cuspiu no rosto do 
policial que o algemou. O policial, ato contínuo, adentrou a 
cela e lhe desferiu vários golpes de cassetete, causando 
graves lesões, cessando sua conduta somente após a 
intervenção de outro policial”. 
 Estamos diante de um crime de Tortura de presou sendo a objetividade 
jurídica emanada pelo legislador, segundo Gonçalves (2018, p. 181): 
“Garantir aos presos e às pessoas submetidas a medida de 
segurança o respeito à sua integridade física e corporal, 
previsto no art. 5º, XLIX, da Constituição Federal” 
 Assim, conforme ensinamento doutrinário constitucional, temos nas 
palavras de Lenza (2017, p. 2017), a seguinte orientação sobre importante inciso 
presente em nossa Carta Magna: 
“Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento 
desumano ou degradante, sendo que a lei considerará crime 
inafiançável a prática de tortura (art. 5º, XLIII, CF/88). A Lei 
n. 9.455/97 integrou a referida norma constitucional, definido 
os crimes de tortura”. 
 Convém também destacar que crime de tortura compõem importante 
relatório apontado pela Associação Nacional dos Procuradores da República, no 
tocante a federalização dos crimes contra direitos humanos, assim levando a 
incidente de deslocamento de competência (IDC), são levado em consideração 
diversas convenções sobre direito humanos de que o País já é parte, 
destacando, ainda o reconhecimento da competência obrigatória da Corte 
Interamericana de Direitos Humanos (Decreto n. 678/92, foi promulgada a 
Convenção Americana sobre Direito Humanos – Pacto de São José da Costa 
Rica), segundo Lenza (2017, p. 1185): 
“(...) a aludida Associação chegou a propor uma nova 
redação, definindo, previamente, o que entenderia por 
hipótese de grave violação de direitos humanos e, também, 
permitindo que a lei ordinária, no futuro, em face de novas 
convenções que viessem a ser celebradas, estabelecesse 
outras hipóteses de crimes contra direitos humanos. 
Haveria, dessa forma, total respeito ao juiz natural”. 
. Nesse sentido, aponta Lenza (2017, p. 1185): 
“Apenas para exemplificar, o que poderá servir de norte para 
a interpretação dos estudiosos, foram considerados, pela 
ANPR, crimes contra direitos humanos os seguintes delitos: 
tortura; homicídio doloso praticado por agente de quaisquer 
dos entes federados no exercício de suas funções ou por 
grupo de extermínio; crimes praticados contra as 
comunidades indígenas ou seus integrantes; homicídio 
doloso, quando motivado por preconceito de origem, raça, 
sexo, opção sexual, cor, religião, opinião política, idade ou 
quaisquer outras formas de discriminação, ou quando 
decorrente de conflitos fundiários de natureza coletiva; e 
uso, intermediação e exploração de trabalho escravo ou de 
criança e adolescentes, em quaisquer das formas previstas 
em tratados internacionais”. 
O respeito à dignidade da pessoa humana é fundamento da República 
Federativa do Brasil (art. 1º, III), sendo os direitos da pessoa humana um dos 
chamados princípios sensíveis, exigindo adequado funcionamento do Judiciário 
brasileiro para estabelecimento que promovam a efetividade de causas relativas 
ao direitos humanos. O combate aos crimes de tortura envolvem esse rol. Nesse 
contexto, e com fito de ilustrar essa condição do debate envolvendo a 
problemática sobre os crimes de tortura e a possibilidade, real e concreta de 
aplicação do uso do Incidente de deslocamento de competência, citamos 
(LENZA, 2017, P. 1187): 
“IDC 3/GO: suspeita de atuação, em Goiânia, de grupo de 
extermínio com a suposta participação militares na prática 
dos crimes de homicídio e de tortura: o STJ determinou o 
deslocamento de competência para a Justiça Federal de 
dois inquéritos policiais e de um procedimento inquisitivo 
envolvendo policiais militares que teriam supostamente 
cometido graves violações aos direitos humanos no estado 
de Goiás. Assim, “o Colegiado determinou a transferência 
imediata à Polícia Federal, sob a fiscalização do Ministério 
Público Federal e sob a jurisdição do juízo federal criminal, 
do inquérito policial envolvendo o desaparecimento de Célio 
Roberto; do procedimento inquisitivo que trata do crime de 
tortura contra Michel Rodrigues da Silva; e do inquérito 
policial que apura o desaparecimento de Pedro Nunes da 
Silva e Cleiton Rodrigues” (Notícias STJ de 10.12.2014) (3ª 
Seção, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 10.12.2014, DJE de 
02.02.2015). 
No crime de Tortura do preso temos como elementos do tipo penal, 
conforme palavras Gonçalves (2018, p. 181): 
“Permissa do delito é que a vítima esteja legalmente presa 
ou sujeita a medida de segurança. Assim, comete o crime 
que adota medidas não previstas na Lei de Execuções 
Penais ou em outras leis similares, como cela escura, 
solitária, aplicação de choques, sessões de “pau-de-ararra” 
etc. Igualmente comete o crime quem coloca preso em 
regime disciplinar diferenciado sem prévia determinação 
judicial”. 
 Nesse aspecto, destaca-se que a vítima encontrava-se legalmente presa 
e sobre a custódia do Estado, e as práticas desempenhadas pelo agente policial 
não estão previstas na Lei de Execuções Penais. 
 Portanto, convém também ressaltar a importância do entendimento 
doutrinário sobre sujeitopassivo do crime de Tortura de Preso. Segundo 
Gonçalves (2018, p. 181): 
“Somente as pessoas presas ou sujeitas a medida de 
segurança. Pessoa presa é aquela que perdeu sua liberdade 
em razão de prisão em flagrante ou decorrente de ordem 
judicial (prisão preventiva, temporária, em virtude de 
condenação, prisão civil). Pessoa sujeita a medida de 
segurança é a que se encontra internada em hospital de 
custódia ou tratamento psiquiátrico, ou, na falta destes, em 
outro estabelecimento adequado, ou, ainda, a que está 
sendo submetida a tratamento ambulatorial”. 
 O crime de tortura encontra-se plenamente consumado no momento em 
que é causado o sofrimento na vítima. 
 Ressalta-se que conduta do agente policial contra vítima além do crime 
de tortura, tipifica-se também dentro das formas qualificadas por conta do 
resultado alcançado, no caso, lesões corporais. Assim, alegação inicial de delito 
isolado de lesões corporais graves não é autônomo, mas sim uma forma 
qualificada para crime de tortura em si, prevista, em nosso ordenamento jurídico 
no § 3º, art. 1 da Lei n. 9.455/97 que diz: 
“Art. 1º, § 3 º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou 
gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se 
resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos”. 
 Em termos doutrinários, sobre essa forma qualificadora ressalta-se, 
conforme Gonçalves (2018, p. 182): 
“Essas figuras qualificadas são exclusivamente 
preterdolosas, ou seja, configuram-se somente quando 
existe dolo de torturar e culpa em relação ao resultado 
agravador (lesão grave ou morte). (...) Já no crime de tortura 
da lei especial, o sofrimento que o agente impõe à vítima tem 
por finalidade uma das circunstâncias mencionadas na lei 
(obter informações, declaração, declaração ou confissão de 
alguém; provocar ação ou omissão criminosas; praticar 
discriminação racial ou religiosa; impor castigo ou medida 
preventiva). Acontece que, por excessos na execução do 
crime, o agente acaba causando culposamente a morte da 
vítima. É justamente por isso que se pode afirmar que a 
figura do crime de tortura qualificada pela morte (art. 1º, § 3º, 
da Lei n. 9.455/97) é exclusivamente preterdolosa”. 
 Salienta-se que resultado morte não ocorreu, notadamente, por conta da 
intervenção de outro agente policial, já que, conforme podemos observar nos 
autos do processos não existiu em nenhum momento, após iniciada as 
agressões arrependimento, desistência ou qualquer outro gesto por parte do 
torturar para cessão as agressões que poderiam efetivamente levar a morte ao 
sujeito passivo. Portanto, as configurações que tipificam e estão presente em 
nosso ordenamento jurídico trazer à luz a conduta qualificadora que ensejaram 
lesões graves dentro de um contexto maior, ou seja, crime de tortura. 
Recorremos, nesse aspecto, as palavras basilares de Gonçalves (2018, p. 183): 
“As lesões graves ou gravíssimas que qualificam o crime de 
tortura são aqueles descritas no art. 129, §§ 1º e 2º, do 
Código Penal: incapacidade para as ocupações habituais 
por mais de trinta dias, perigo de vida, debilidade 
permanente de membro, sentido ou função, aceleração do 
parto, incapacidade para o trabalho, enfermidade incurável, 
perda ou inutilização de membro, sentido ou função, 
deformidade permanente ou aborto”. 
 Não obstante é importante aponta a conceituação que envolvem o crime 
preterdoloso, como demonstrado por Capez (2017, p. 234): 
“(...) é aquele em que o legislador, após descrever uma 
conduta típica, com todos os seus elementos, acrescenta-
lhe um resultado, cuja ocorrência acarreta um agravamento 
da sanção penal”. 
 Conforme descrito acima (através da lei e dos ensinamentos doutrinários), 
como demonstrado pelas provas testemunhais e periciais estamos diante de 
forma qualificadora corretamente prevista pelo legislador e não escapa aos olhos 
nem mesmo de inculto penal. As observações apontadas demonstram de forma 
inequívoca que o agente policial realizou a prática do crime de tortura e 
apresentou a forma qualificada através das lesões corporais graves devidamente 
comprovadas. 
 Ressaltamos também para correta aplicação do rigor exigido por 
legislador ao combate desse tipo de crime, solicita-se, também que seja 
realizada ao curso do processo penal aplicação de causa de aumento de pena, 
conforme descrito no § 4 do art. 1 da Lei n. 9.455/97, in verbis: 
 “Art. 1, § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: 
 I – se o crime é cometido por agente público. 
 Não resta dúvidas que trata-se de um agente público que efetivamente 
realizou o crime ora em estudo. Contudo, devemos evitar aumento da pena para 
evitar fenômeno processual do bis in idem já que o agente público, no caso, a 
condição de agente de segurança (que mantém sob custódia ou prisão o sujeito 
passivo) já é requisito do próprio tipo penal. 
 No tocante a possibilidade de argumentação da defesa para qualificar a 
conduta como sendo um ato de abuso de autoridade, refutamos essa ideia 
jurídica já que o dispositivo em análise não revogou a Lei n. 4.898/65, assim, 
continuam sendo aplicáveis a casos em que a conduta não se amolda a qualquer 
dos delitos tipificados na Lei de Tortura, portanto, identificado e devidamente 
configurado como sendo um crime de Tortura (dor e sofrimento causado por 
agente público contra quem está sobre medida de segurança e tutela do Estado), 
não cabe alegação de abuso de autoridade. 
 Requer, por fim, a correta aplicação das medidas legais cabíveis, com 
propósito não obstante ao caso ora estudo, como também uma resposta legal, 
firme e justa para nossa sociedade que em nenhuma hipótese aceita esse tipo 
de conduta criminosa desempenhada por agente público. O crime de tortura 
carrega de cores fortes e mancha toda a corporação e destrói a esperança na 
figura repressiva do Estado. A tortura destrói a construção de uma sociedade 
crente no Estado Democrático de Direito e mina os sonhos de funcionalismo 
público voltado para cidadania e a paz social. Portanto, não resta outra medidas 
que não sejam as mais duras possíveis para banir esse tipo de crime do nosso 
meio. 
Referência bibliográfica: 
BARROSO, Darlan. Manual de redação jurídica e língua portuguesa para a OAB. 
4 ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. 
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume 1, parte geral: arts. 1º a 120. 
21 ed. São Paulo: Saraiva, 2017. 
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Legislação penal especial esquematizado. 
4 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. 
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 
2017. 
VADE MECUM RT. 14 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista do 
Tribunais, 2017.

Outros materiais

Outros materiais