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1 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO COMERCIAL DE 14,56 kWp NO MUNICÍPIO DE SERRA PERFORMANCE EVALUATION OF A 14.56 kWp COMMERCIAL GRID CONNECTED PHOTOVOLTAIC SYSTEM IN THE MUNICIPALITY OF SERRA BEATRICE RYIE SHIMOURA NARIMATU* FELIPE ALVIM CRIBARI** WARLEY TEIXEIRA GUIMARÃES*** RESUMO A micro usina fotovoltaica referente a este artigo está localizada no município de Serra e entrou em operação em junho de 2016 com potência instalada de 14,56 kWp, com o objetivo de reduzir os custos de energia elétrica de um estabelecimento comercial. O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho deste sistema fotovoltaico conectado à rede, de forma a comparar os dados de geração de energia elétrica estimados com os dados reais de geração registrados e seus respectivos índices de mérito. Seguidos por comparar os resultados obtidos com os índices de mérito de outros dois sistemas fotovoltaicos conectados à rede localizados no município de Curitiba. O sistema avaliado apresenta rendimento de 94,03%, enquanto que, 69,99% para o Escritório Verde do município de Curitiba e 70,05% para o edifício da empresa Elco também localizada no município de Curitiba. Conclui-se que a produção de energia do edifício comercial do município de Serra está atendendo ao objetivo de reduzir os custos de energia, e apresenta valores elevados de eficiência do microgerador, mesmo sob efeitos dos fatores climáticos e poluição local. Palavras-chave: avaliação de desempenho, rendimento, sistema fotovoltaico conectado à rede. ABSTRACT The photovoltaic micro power plant referred to in this article is located in the municipality of Serra and started operating in June 2016 with an installed power of 14.56 kWp, with the objective of reducing the electricity costs of a commercial establishment. The objective of this work was to evaluate the performance of this grid connected photovoltaic system, in order to compare the estimated electric power generation data with the actual generation data recorded and their respective merit indices. Followed by comparing the results obtained with the merit indices of two other networked photovoltaic systems located in the city of Curitiba. The evaluated system shows a yield of 94.03%, while, 69.99% for the Green Office of the municipality of Curitiba and 70.05% for the building of the company Elco also located in the city of Curitiba. It is concluded that the energy production of the commercial building of the municipality of Serra is meeting the objective of reducing energy costs, and presents high values of micro generator efficiency, even under the effects of climatic factors and local pollution. Keywords: Performance evaluation, yield, grid connected photovoltaic system. *Graduanda de Engenharia Elétrica pela FAESA – Faculdades Integradas São Pedro. **Graduando de Engenharia Elétrica pela FAESA – Faculdades Integradas São Pedro. ***Professor MSc. da FAESA Centro Universitário. 2 INTRODUÇÃO A energia é substancial para vida moderna, e é utilizada do começo ao término dos nossos dias, como para o lazer, e para produção de bens ou prestação de serviços. Diante das necessidades e os avanços tecnológicos, a procura por produtos alimentados por energia elétrica tem crescido rapidamente, levando o consumo de energia elétrica mundial a um aumento instável. De acordo com Pereira et al. (2014) para atender à crescente demanda de energia são necessários altos investimentos em: barragens para construção de usinas hidrelétricas; usinas termelétricas convencionais ou nucleares; exploração de petróleo e seus derivados; no desenvolvimento de fontes alternativas de energia. O consumo excessivo e a premência em produção de energia provocam impactos ambientais e sociais, como destruição de vegetação natural; assoreamento do leito dos rios; extinção de fauna e flora; rompimento de barragens; deslocamento de populações ribeirinhas; formação de chuvas ácidas e outros. Assim sendo, é necessário um planejamento energético que assegure atender ao crescimento das demandas de energia de maneira eficaz, e principalmente um desenvolvimento sustentável. De acordo com a Agência de Serviços Públicos de Energia do Estado do Espírito Santo – ASPE (2013): A Agência Internacional de Energia (International Energy Agency - IEA), mostra que as fontes renováveis avançam na geração de energia: o cenário mostra um aumento da quota de energias renováveis para a geração de energia elétrica mundial de 20% em 2010, de 28% em 2020 e 57% até 2050. Nesse cenário, 7.500 TWh de eletricidade renovável serão gerados em 2020 contra a geração total de 27.165 TWh. Hidrelétricas dão a maior contribuição (17% da geração total de eletricidade), seguida pelas fontes eólica (6%), biomassa e resíduos (3%) e solar (2%). Entre as fontes mais eficientes de energia limpa, renovável e compatível com projetos de expansão econômica e desenvolvimento social destaca-se nitidamente a energia solar, devido à sua confiabilidade e à consistente redução dos custos das tecnologias utilizadas em sua exploração (ASPE, 2013). Com a Resolução Normativa da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL nº 482/2012 os consumidores passaram a ter o direito de gerar sua própria energia, dentro dos padrões de micro e minigeração, possibilitando a permuta de energia elétrica com a concessionária de energia, permitindo que a parte excedente de geração seja injetada na rede. Em 2015 foi criado a Resolução Normativa nº 687, uma atualização contendo aprimoramentos da normativa de 2012 onde uma das maiores mudanças foi o aumento do limite de potência para produção de energia. Tal normativa estimulou a geração própria de eletricidade em casas, empresas, prédios, condomínios e estabelecimentos diversos. Os níveis de produção de energia elétrica dos módulos fotovoltaicos, também chamados de painéis ou placas solares, são irregulares, de forma que essas possam exceder os níveis planejados como em dias de irradiação solar mais intensos, ou até mesmo com mais horas de exposição solar. O ângulo de inclinação dos módulos também influencia no processo de produção de energia. Porém, há fatores que causam perda de desempenho durante o processo de produção de energia dos módulos, como sombreamento, poeira e poluição que causam interferências e até mesmo criando ambientes propícios ao cultivo de bactérias e fungos, aquecimento excessivo dos módulos e outros fatores. Deve-se lembrar que a temperatura ambiente não está relacionada a irradiação, porém influenciam no desempenho de produção de energia dos módulos. Esse estudo visa obter informações do comportamento real de um sistema fotovoltaico conectado à rede (SFCR) instalado e comparar os resultados obtidos com outros dois sistemas 3 fotovoltaicos do município de Curitiba, como forma de apresentar os benefícios da energia solar fotovoltaica e o comportamento destes sistemas, mesmo quando considerados fatores que reduzem a produção de energia elétrica. Os dados utilizados para comparação foram escolhidos por estes apresentarem registros superiores a um ano, de acordo com estudos de Gehring, Lopes e Dalmolin (2015) e Machado e Correa (2015). SETOR ENERGÉTICO BRASILEIRO De acordo com os dados da Matriz de Energia Elétrica da ANEEL (2017a), o Brasil possui um total de 152.123.081 kW de potência instalada com previsão para crescimento de mais 24.598.202 kW para os próximos anos. De todo valor de produção de energia elétrica no país atualmente cerca de 61,587% dessa energia é gerada através de usinas hidrelétricas; 1,2413% por usinas nucleares; 6,5087% por usinas eólicas e apenas 0,0148% por usinas solares. Figura 1. Figura 1 – Matriz energética brasileira. Fonte: ANEEL (2017a). No Brasil, a maior fontede energia elétrica provém da geração das usinas hidrelétricas e deve permanecer assim durante um bom tempo pois esta possui um grande potencial hídrico no nosso país (REIS, 2013). Porém em alguns períodos do ano passamos por momentos de crises hídricas, períodos de secas e escassez no abastecimento de água, de forma a comprometer também a produção de energia elétrica do país como visto em 2001. Embora sejamos dotados de vasta e densa rede hidrográfica, nem todos os países provém das mesmas condições para gerar energia hidrelétrica. Como solução, esses países fazem uso de energias alternativas como as termoelétricas, biomassa, nuclear e eólica. Porém quando se trata de sustentabilidade estas apresentam pontos negativos. Em maio de 2017 o número de mini e microgeradores de energia elétrica superou 10 mil instalações no Brasil. 10.385 micro e mini usinas com potência instalada de 113.195,48 kW. Destas, 10.280 instalações de energia solar. O estado com o maior número de micro e minigeradores é Minas Gerais (2.225 conexões), seguido de São Paulo (2.094) e Rio Grande do Sul (1.096). O estado do Espírito Santo contribui com 482 conexões com potência de 1.518,27 kW (ANEEL, 2017b). 4 Energias alternativas e energias renováveis Fontes alternativas são definidas de acordo com o contexto político, econômico e regional, ou seja, a caracterização de alternativas é diferente para cada país. Segundo Villalva (2015), o conceito de energia alternativa não é exclusivo das fontes renováveis, entretanto a maior parte dos sistemas alternativos de geração de eletricidade emprega fontes renováveis. De acordo com Reis (2013), as fontes renováveis são classificadas como fontes capazes de serem repostas pela natureza de maneira mais rápida que a sua utilização energética, exemplos disso são as aguas dos rios e mares, os ventos e o sol ou aquela cujo manejo humano pode ser realizado de forma compatível com as necessidades de sua utilização energética, como a biomassa. Basicamente consideradas as fontes que não se apoiam em recursos limitados, de forma que seu uso não cause escassez. As unidades consumidoras com geração distribuídas são divididas entre as fontes renováveis. O total de usinas no Brasil são: 12 para Centrais Geradoras Hidrelétricas; 50 para Central Geradora Eólica; mais de 10 mil para Central Geradora Solar Fotovoltaica e de 46 para Usina Termelétrica, como visto na Figura 2. Figura 2 – Total de instalações por fonte. Fonte: ANEEL (2017b). Embora existam impactos negativos na utilização de energias renováveis, estas são limpas e seguras quando comparadas as fontes não renováveis. Exemplo disso é a utilização de combustíveis fósseis que podem causar vazamentos de petróleo e a emissão de poluentes ocasionados pela queima de combustíveis. A energia fotovoltaica, tema de estudo deste trabalho, é uma fonte alternativa de energia para o nosso país e também uma fonte renovável, sendo excelente opção para suprir as demandas instáveis de energia e para diminuição dos custos na tarifa de energia elétrica. ENERGIA SOLAR Quando se fala em energia, deve-se lembrar de que o Sol é o responsável pela origem de praticamente todas as outras fontes de energia na Terra (PINHO; GALDINO, 2014), como na conversão de energia solar em biomassa através da fotossíntese; as variações dos gradientes de temperatura entre as massas de ar quente na energia eólica; processo de decomposição dos combustíveis fósseis e provendo o ciclo hidrológico para energia hidrelétrica; além de ser fonte inesgotável de energia. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética - EPE (2016) o Brasil está localizado em uma região com incidência vertical dos raios solares, de forma a estar favorecida de altos índices de irradiação em quase todo território nacional. Sua proximidade com a linha do equador faz com 5 que a variação solar seja pequena ao longo do ano, acrescentando ainda mais vantagens para o aproveitamento deste recurso no país. A energia solar propaga-se para a terra por meio de radiação eletromagnética que, a partir do limite superior da atmosfera, sofre uma série de reflexões, dispersões e absorções em seu percurso até o solo (REIS; CUNHA, 2006). Os níveis de radiação variam de acordo com as oscilações climáticas e região, devido as diferenças de latitude. De toda energia solar que chega à Terra, aproximadamente metade atinge a superfície, totalizando cerca de 885 milhões de TWh/ano (IEA, 2014). De acordo com Cabral e Vieira (2012) a quantidade de radiação incidente em nosso país é dominante durante quase todos os meses do ano, com alto potencial de produção de energia solar. Efeito Fotovoltaico ou Fotoelétrico O efeito fotovoltaico ocorre nas células fotovoltaicas é dispositivo elétrico que converte a energia do sol diretamente em energia elétrica, esta possui em sua composição duas camadas de semicondutores de silícios dopados, convertendo a energia solar incidente em uma diferença de potencial nas extremidades das células (CRESESB, 2006), representado na Figura 3. Em poucas palavras, os sistemas fotovoltaicos são capazes de gerar energia elétrica através dos módulos que ao receberem a radiação solar fazem a transformação em corrente contínua, esta por sua vez é enviada ao inversor. Um módulo fotovoltaico é formado por um conjunto de células, e um arranjo é formado por conjuntos de módulos. Sua disposição pode ser realizada em série ou paralelo dependendo da necessidade de cada instalação e respeitando os limites de tensão de entrada do inversor, não ultrapassando a máxima de tensão de circuito aberto do inversor. As células fotovoltaicas produzem pouca energia quando isoladas. Por isso, para a produção de energia elétrica em larga escala, as células são ligadas em série e em paralelo, permitindo obter uma tensão maior e uma capacidade de corrente elétrica maior (GUIMARÃES et al. 2013). Figura 3 – Efeito fotovoltaico. Fonte: FOTOVOLTEC, 2016. Em uma ligação em série dos módulos, liga-se o pólo positivo de um módulo ao pólo negativo do outro, e a saída é realizada entre o positivo do primeiro módulo ao negativo do último módulo deste arranjo. Assim, a corrente total do conjunto será a mesma de um módulo e a tensão do arranjo é a soma das tensões em cada módulo. Em uma ligação em paralelo, liga-se o pólo 6 positivo de um módulo com o positivo de outro, e a saída é feita tornando o pólo positivo e negativo do último módulo do arranjo em paralelo. Desta forma, a corrente total do arranjo será igual a soma das correntes de cada módulo, e a tensão do arranjo será igual a tensão de cada módulo (LISITA JÚNIOR, 2014). Sistemas isolados ou Off-Grid Sistemas isolados ou autônomos são basicamente utilizados em locais de difícil acesso a rede de distribuição, ou seja, de forma independente desta. De acordo com a empresa NeoSolar (2014), a energia produzida é armazenada em baterias que garantem o abastecimento em períodos sem sol. Os equipamentos de um sistema isolado são basicamente: os módulos; as baterias, que armazenam a energia elétrica produzida para eventuais usos; o controlador de carga que garantem o correto abastecimento das baterias sem sobrecargas; e o inversor que realiza a conversão de corrente contínua em corrente alternada. Sistemas conectados à rede ou Grid-Tie A regulamentação do sistema fotovoltaico conectado à rede foi feita pela Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, em 2012 a partir da Resolução Normativa nº 482/2012, que trata da microgeração e minigeração distribuída. Em 2015 esta foi atualizada para Resolução Normativa nº 687 trazendo mais vantagens e favorecendo ainda mais as condições de micro e minigeração de energia, como: autoconsumo remoto; geração compartilhada; redução dos prazos de conexão à rede de 82 dias para34; geração em condomínios, de forma que a produção de energia seja repartida entre cada residência, e os créditos de compensação são abatidos de forma independente para cada (ANEEL, 2017c). Sistemas conectados à rede são aqueles em que o arranjo fotovoltaico representa uma fonte complementar ao sistema elétrico de grande porte ao qual está conectado. São sistemas que não utilizam armazenamento de energia, pois toda a potência gerada é entregue à rede instantaneamente (REIS, 2013). Diferente dos sistemas isolados, os conectados à rede operam em locais já atendidos por energia elétrica, seu objetivo é gerar energia para consumo local, de forma a reduzir e até mesmo anular o consumo da distribuidora de energia local, porém não excluindo as taxas de utilização da rede da distribuidora de energia. Em casos de excedentes de energia produzida, esta será transformada em créditos de energia. A queda dos preços dos painéis fotovoltaicos, devido ao aperfeiçoamento da tecnologia de fabricação das células fotovoltaicas e a economia devido a massificação dos sistemas fotovoltaicos no mundo influenciam a diminuição dos custos de geração fotovoltaica e reduzem principalmente o tempo de retorno do investimento. Outras vantagens são (NARUTO, 2017): • Incentivos fiscais; • Subsídios do governo para geração distribuída; • Redução da sobrecarga do sistema e diminuição dos períodos de conexão do consumidor com a rede; • Ocupação de áreas já utilizadas, como coberturas, fachadas e telhados, desta forma não há ocupação de uma área complementar. Quando comparados o emprego de sistemas conectados à rede e sistemas isolados, esta primeira apresenta vantagens, de acordo com a empresa SOLARBRAS ENERGIAS RENOVÁVEIS (2012): • Cerca de 20% a 30% mais eficiente; • Possui custo total cerca de 40% mais barato, visto que um dos motivos é a não utilização de baterias; • Processo de implementação mais simples; • Consumo de energia pode ser ampliado sem a necessidade de alteração do sistema. 7 Inversores Inversor é o responsável por transformar a energia de corrente contínua (CC ou DC) entregue pelos módulos em corrente alternada (CA ou AC), sincronizando com a tensão e a frequência da rede da distribuidora (FRONIUS, 2017) de maneira a atender as exigências de qualidade e segurança. O sistema conectado à rede opera em paralelo com a rede de distribuição, de forma a interromper imediatamente a transferência de energia para esta, segundo BLUESOL (2017) os inversores interativos (grid-tie) somente funcionam quando são ligados à rede elétrica, e não conseguem alimentar diretamente aos equipamentos consumidores. RESOLUÇÃO NORMATIVA ANEEL Nº 482 Microgeração e Minigeração A Resolução Normativa ANEEL nº 482/2012 trata a micro e minigeração distribuídas de energia elétrica de forma a produzir energia elétrica a partir de pequenas centrais geradoras que utilizem fontes renováveis de energia elétrica ou cogeração qualificada, conectadas à rede de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras. A atual Resolução Normativa nº 687 classifica microgeração distribuída referente a potência menor ou igual a 75 kW, e a minigeração referente a potências superiores a 75 kW e menores ou iguais a 3 MW para fonte hídrica ou 5 MW para as demais fontes. Enquanto, a antiga Resolução Normativa dizia que para microgeração a potência de menor ou igual a 100 kW, e para minigeração a potência superior a 100 kW e menor ou igual a 1 MW para fontes hidráulicas, biomassa, eólica, solar ou cogeração qualificada (ANEEL, 2015). Geração compartilhada Geração compartilhada possibilita a instalação de geração distribuída em estabelecimento/empreendimentos de múltiplas unidades consumidoras, como condomínios. Assim, a energia gerada é repartida em porcentagens definidas pelos próprios consumidores. Autoconsumo remoto Através do autoconsumo remoto é possível instalar o sistema de energia solar em locais distantes do ponto de consumo de energia, como em áreas urbanas e terrenos remotos de propriedade do consumidor. Dessa forma o local de instalação deve estar na mesma área de concessão, ou seja, dentro da área em que a companhia energética atua, para que haja a compensação dos créditos de energia. Compensação de energia elétrica De toda quantidade de energia produzida por um sistema fotovoltaico conectado à rede, a parte excedente, ou que não foi consumida é passada a rede da distribuidora de energia atuando basicamente como uma bateria; em períodos onde não há produção de energia fotovoltaica (como a noite ou dias nublados), a rede da concessionária irá ¨ devolver¨ a energia para a unidade consumidora de forma que o valor consumido seja descontado do valor excedente, chamado de crédito de energia. Sobre o crédito de energia, a Resolução Normativa nº 687, ANEEL (2015), diz: Para fins de compensação, a energia ativa injetada no sistema de distribuição pela unidade consumidora será cedida a título de empréstimo gratuito para a distribuidora, passando a unidade consumidora a ter um crédito em quantidade de energia ativa a ser consumida por um prazo de 60 (sessenta) meses. 8 FATORES QUE INFLUENCIAM O DESEMPENHO DO SISTEMA FV A corrente gerada nos módulos aumenta linearmente com o aumento da Intensidade luminosa, representado na Figura 4. Por outro lado, o aumento da temperatura na célula faz com que a eficiência do módulo caia abaixando assim os pontos de operação para potência máxima, representado na figura 5 (CRESESB, 2006). Por ficarem expostos ao sol os painéis sofrem de aquecimentos em dias quentes e de alta incidência de irradiação solar, de forma a afetar a produção de energia elétrica do sistema. Figura 4 - Efeito causado pela variação de intensidade luminosa. Fonte: CRESESB, 2006. Figura 5 - Efeito causado pela temperatura na célula. Fonte: CRESESB, 2006. De acordo com Buiatti et al., (2016), sobre os ângulos de inclinação dos módulos visando a maximização da produção anual e considerando a localização do país estar no hemisfério sul, é usual considerar que os arranjos fotovoltaicos estejam orientados para o Norte. Pode se considerar a inclinação do arranjo sendo a mesma da latitude do local de instalação. Para Guimarães et al., (2013), o sombreamento causado pela poluição atmosférica pode, em muitos casos, ser reduzido pela chuva, mas também existem chuvas que depositam impurezas sobre a cobertura de vidro dos geradores. Estas impurezas quando acumuladas a longo prazo causam sombreamento nos módulos, afetando sua produção de energia. 9 A higienização dos módulos é de grande importância não apenas para produção de energia, mas também para que não ocorra perdas dos módulos de forma que estes venham a ser descartados e substituídos. De acordo com informações de estudo publicadas pela USP (2014), biofilmes superficiais formados por fungos e outros microrganismos e outros materiais particulados associados, podem reduzir em até 10% a produção de energia de painéis fotovoltaicos. Os níveis de irradiação solar são diferentes para cada região do país, como mostra a Figura 6. O efeito fotovoltaico depende da irradiação solar para produção de energia. Logo, quanto melhor os índices de irradiação de uma região, melhor será a produção de energia da usina. Figura 6 – Atlas de Irradiação no Brasil. Fonte: ANEEL, 2000. PRODUTIVIDADE E DESEMPENHO Com o objetivo de se comparar o desempenho de sistemas fotovoltaicos operando sob diferentes configurações e em diferentes localidades, a engenharia de sistemas fotovoltaicos se utiliza de alguns indicadores de produtividade, conhecidos como índices de mérito. Esses índices permitem verificar se um determinado sistema fotovoltaico está produzindo energia de forma otimizadaou se deve ser reconfigurado para aproveitar ao máximo o recuso solar disponível (BENEDITO, 2009). 10 A Produtividade anual, ou YF (Final Yield) é fundamental para a determinação do desempenho de um sistema fotovoltaico, correspondente à energia gerada em kWh pela potência instalada do sistema em kWp, permitindo a comparação da energia produzida de diversos sistemas fotovoltaicos com potências diferentes. Segundo Benedito (2009) em último caso, YF representaria o número de horas que o sistema deveria operar em sua potência nominal para produzir a mesma quantidade de energia entregue no período. O desempenho global, ou PR (Performance Ratio) é uma unidade de medida que avalia a eficiência de um sistema fotovoltaico também designada como fator de qualidade ou taxa de desempenho. O objetivo da Performance Ratio é fornecer relação entre rendimento real gerada por um sistema fotovoltaico com o rendimento esperado visto nos cálculos. Seu valor é dado em porcentagem, de modo a fornecer a proporção de energia disponível e o consumo. Em virtude de ser independente do alinhamento de um sistema fotovoltaico e da radiação, a Performance Ratio pode ser utilizada para comparações de sistemas fotovoltaicos de locais diferentes (SMA, 2011). A Performance Ratio informa acerca da eficácia energética e da fiabilidade de um sistema fotovoltaico comparando assim o rendimento de um sistema fotovoltaico com rendimento de outros sistemas fotovoltaicos ou o estado do sistema fotovoltaico monitorizado durante um longo período de tempo (CARVALHO, 2011). Sobre os valores da Performance Ratio, a empresa SMA (2011) quanto mais próximos de 100% estiver o valor da PR, mais eficaz é este sistema fotovoltaico. Um valor de 100% raramente será atingível na realidade, pois durante a operação do sistema fotovoltaico também ocorrem perdas inevitáveis. Sobretudo, sistemas fotovoltaicos eficientes atingem no mínimo 80%. O acompanhamento regular da PR com intervalos de tempo regulares não se destina a uma comparação absoluta e sim ao controle do progresso do rendimento do sistema fotovoltaico, sendo assim possível detectar falhas. METODOLOGIA O sistema fotovoltaico conectado à rede foi instalado em um edifício comercial, localizado na Praia da Baleia, no município de Serra/ES, sobre telhas de fibrocimento, fixado a uma estrutura de alumínio com inclinação de 15° voltada para norte geográfico e é composto por 56 módulos de 260 W do fabricante Canadian Solar modelo CS6P-260, classificação A pelo INMETRO, com 60 células de silício policristalino cada módulo, 16,16% de eficiência, dimensões de 1640 x 990 x 35 mm, pesando 18,5 kg, com tensão de circuito aberto de 37,5 V, corrente de curto circuito de 9,12 A. Principais informações na Figura 7. Figura 7 – Dados do módulo. Fonte: Elaborado pelos autores. Os módulos foram dispostos em 4 fileiras de 14 módulos interligados em série por cabo de 6 mm2 do fabricante Conduspar, de material em cobre eletrolítico com isolamento para tensões nominais de até 1000 V. Os cabos para sistemas fotovoltaicos possuem revestimento que suporte a exposição à luz solar e que suporte as condições ambientais adversas, como alta temperatura e radiação UV. O arranjo fotovoltaico foi conectado a um inversor do fabricante Fronius modelo Symo 15.0-3-M de 150 kW, com eficiência de 98%. Dados do inversor na Figura 8. 11 Figura 8 – Dados do inversor. Fonte: Elaborado pelos autores. Figura 9 – Inversor da instalação. Fonte: Elaborado pelos autores. 12 Figura 10 – Instalação fotovoltaica município de Serra. Fonte: Elaborado pelos autores. Para a análise do sistema fotovoltaico foram definidos alguns parâmetros, dentre eles o cálculo da quantidade de energia estimada Ee, representado pela Equação (1), a partir das especificações do fabricante dos painéis e do inversor, juntamente aos dados de irradiação fornecidos pelo Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio Brito – CRESESB, originados da estação mais próxima, localizada no município de Vitória à 21,7 km de distância da usina de micro geração. 𝐸𝑒 = 𝑅 ⋅ 𝐴𝑚 ⋅ 𝜂𝑚 ⋅ 𝜂𝑖 ⋅ 𝑛ⅆ𝑚 ⋅ 𝑁𝑚 (1) Na equação 1, onde: Ee = Quantidade de energia estimada (kWh/mês); R = Taxa média de irradiação solar (kWh/m².dia); Am = Área do módulo (m²); ƞm = Eficiência do módulo fotovoltaico (%); ƞi = Eficiência do inversor (%); ndm = Número de dias no mês (dias); Nm = Número de módulos do arranjo. O índice produtividade (YF) relaciona a geração real com a capacidade do sistema, enquanto o rendimento global (PR) relaciona a produtividade do sistema com a energia disponibilizada para este. Para avaliação de desempenho do sistema fotovoltaico, serão utilizados os índices de mérito: YF (Final Yield) ou produtividade e PR (Performance Ratio) também chamada de rendimento global. A produtividade é calculada a partir da Equação (2). 13 𝑌𝐹 = 𝐸𝑔 𝑃𝑖 (2) Na equação 2, sendo: YF = Produtividade do sistema (kWh/kWp); Eg = Quantidade de energia gerada por mês (kWh); Pi = Potência instalada (kWp). O rendimento global é calculado pela Equação (3). 𝑃𝑅 = 𝐸𝑔∗100 𝐸𝑒 (3) Na equação 3, em que: PR = Rendimento global (%); Eg = Quantidade de energia gerada por mês (kWh); Ee = Quantidade de energia estimada (kWh/mês). Para realizar a avaliação de desempenho foram utilizados os dados registrados da geração da micro usina fotovoltaica no período um ano, referentes aos meses de junho de 2016 até maio de 2017. Os dados de produção de energia foram registrados diariamente com o uso do software de monitoramento do inversor da instalação, de modo a fornecer em tempo real os valores de geração de energia do sistema fotovoltaico em kWh e realizar a comparação dos resultados obtidos a partir dos índices de méritos YF e PR com os índices de mérito de outros dois sistemas fotovoltaicos conectados à rede localizadas em Curitiba/PR. Análise Operacional do Sistema A conexão destes módulos foi realizada em quatro fileiras com 14 módulos fotovoltaicos cada com tensão operacional de 425 V por fileira conectadas a um inversor de 15 kWp, com faixa de tensão de operação entre 200V e 600 V. Figura 11 – Distribuição dos módulos interligados em série. Fonte: Elaborado pelos autores. 14 RESULTADOS E DISCUSSÕES Com os dados de produção registrados durante o ano de acompanhamento foi elaborada a Figura 12, que mostra o comparativo entre os valores de energia real registrados e a energia estimada para produção deste sistema fotovoltaico em unidades de kWh/mês. Observa-se que nos meses de junho, outubro, novembro, dezembro, fevereiro, março, abril e maio, a energia gerada pelo sistema foi inferior aos valores estimados nos cálculos. Este acontecimento pode ter sido ocasionado por diversas causas, dentre elas os fatores climáticos, como por exemplo os dias chuvosos ou nublados. Porém, outros fatores levam a queda de desempenho do SFCR como, sombreamento, falha nas conexões, aquecimento excessivo dos módulos fotovoltaicos, poeiras causando sombreamento nos módulos entre outras. Nos meses de julho, agosto e setembro os valores de geração de energia real ultrapassam os valores previstos. Enquanto no mês de janeiro os valores de geração real estão próximos aos valores de geração estimadas. Como visto na Figura 12. Verificando os valores de produção gerada no período estudado, observa-se que os valores do SFCR oscilam entre o mínimo de 1417,2 kWh e máximo de 2624,89 kWh, correspondente aos meses de janeiro e junho respectivamente. Considerando que o principal objetivopara a instalação desta micro usina no estabelecimento comercial era reduzir os custos com energia elétrica, e analisando os valores de produção de energia reais e estimados, observa-se que este SFCR apresenta bom rendimento, com valores de produção média mensal de 1962,93 kWh. Com o intuito de analisar a eficiência dos sistemas fotovoltaicos de localizações distintas foram calculados os valores de produtividade do sistema fotovoltaico, YF gerado e YF estimados, representados na Figura 13. Figura 12 – Produção gerada x Produção estimada. Fonte: Elaborado pelos autores. Para YF gerado, o maior valor é de 180,28 kWh/kWp; o menor valor é de 97,33 kWh/kWp; com valor médio de 134,81 kWh/kWp. E para YF estimado, o maior valor é de 180,47 kWh/kWp; menor valor é de 107,87 kWh/kWp; com valor médio de 144,13 kWh/kWp. 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 jun/16 jul/16 ago/16 set/16 out/16 nov/16 dez/16 jan/17 fev/17 mar/17 abr/17 mai/17 Produção gerada x Produção estimada Produção gerada (kWh/mês) Produção estimada (kWh/mês) 15 Figura 13 – YF gerado x YF estimado. Fonte: Elaborado pelos autores. Com os resultados obtidos na avaliação de desempenho da micro usina foram realizadas comparações com dados das micro usinas do Escritório Verde e Elco Engenharia. Visando demonstrar a diferença de comportamento dos sistemas fotovoltaicos de diferentes e de mesmas localidades, comparando a produtividade dos sistemas e o rendimento global, apresentados na Figura 14. Figura 14 – YF Serra x YF Escritório Verde x YF Elco Engenharia. Fonte: Elaborado pelos autores. 0 25 50 75 100 125 150 175 200 jun/16 jul/16 ago/16 set/16 out/16 nov/16 dez/16 jan/17 fev/17 mar/17 abr/17 mai/17 YF k W h /k W p YF Gerado x YF Estimado YF Gerado YF Estimado 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai Y F (k W h /k W p ) YF Serra x YF Escritório Verde x YF Elco Engenharia YF Serra YF Escritorio verde YF Elco 16 Os dados utilizados para produtividade do município de Curitiba são referentes ao período de junho de 2013 até maio de 2014 para o Escritorio Verde, e de junho de 2014 até maio de 2015 para escritorio da empresa Elco Engenharia. Um dos fatores que mais afetam as diferenças de resultados obtidos na comparação entre os dois municípios são as taxas médias de irradiação para cada região. Analisando a Figura 14, nota-se que os sistemas localizados na mesma região demostram comportamentos diferentes, possivelmente causados por influências de poeiras e/ou poluição, ângulo de inclinação dos módulos e orientação da cobertura. Porém, a produtividade da micro usina do município de Serra indica que o município de Serra é propício para geração de energia solar fotovoltaica, pois possui taxas de irradiação mais elevadas, que a região de Curitiba. Quanto ao rendimento global, a Figura 15 confirma que a micro usina do município de Serra apresenta valor de rendimento médio de 94,03%, enquanto em Curitiba o Escritório Verde apresenta média de 69,99% e a Elco Engenharia apresenta média de 70,05%. Observando o Figura 15, para a micro usina estudada neste trabalho os meses de julho, agosto e setembro, normalmente meses de baixa irradiação solar, alcançaram índices de rendimento global acima de 100%. Quando comparados os sistemas fotovoltaicos dos dois municípios, é evidente a diferença do rendimento global e da produtividade entre os dois municípios. Uma das causas aparentes é a localização geográfica de Curitiba, situada na região sul do país, com os menores índices de irradiação do Brasil, como visto na Figura 6. Figura 15 – PR Serra x PR Escritório verde x PR Elco Engenharia. Fonte: Elaborado pelos autores. 0 20 40 60 80 100 120 jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai P R ( % ) PR Serra x PR Escritório Verde x PR Elco Engenharia PR Serra PR Escritorio verde PR Elco 17 CONCLUSÃO Conclui-se que o município de Serra/ES é propício para geração de energia solar fotovoltaica, pois apresenta altas taxas de irradiação solar, com alto rendimento quando comparados aos do município de Curitiba/PR. Quando analisados os valores de rendimento e produtividade obtidos deve-se considerar as várias causas de influências para perdas de desempenho, incluindo a possibilidade de que a localização do edifício comercial que se encontra próxima da praia, afetando a produção de energia dos módulos devido a umidade e maresia. Entretanto, os resultados obtidos nesta avaliação são satisfatórios, apresentando valores elevados de eficiência do microgerador. Os resultados provam que a produção de energia elétrica por sistemas fotovoltaicos é uma ótima fonte alternativa de energia para o país de modo a suprir as crescentes demandas de energia que aumentam cada vez mais, até mesmo em regiões de menor incidência de irradiação solar. Por fim, a avaliação de desempenho do sistema fotovoltaico conectado à rede é essencial para o desenvolvimento de tecnologias de produção de energia fotovoltaica, vista como a energia do futuro, seu crescimento no mercado vem aumentando dia após dia. Logo, faz se necessário avaliar o desempenho dos SFCR até mesmo para a identificação de falhas, e comprovar seus desempenhos satisfatórios. 18 REFERÊNCIAS ANEEL. Atlas de Energia Solar. 2000. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/pdf/03-Energia_Solar(3).pdf>. Acesso em: 15 jun. 2017. ANEEL. Resolução Normativa Nº 687, de 24 de novembro de 2015. 2015. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2015687.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2017. ANEEL. Matriz de energia elétrica. 2017a. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/OperacaoCapacidadeBrasil.cfm>. Acesso em 16 mai. 2017. ANEEL. Brasil possui mais de 10 mil conexões de micro e minigeração distribuída. 2017b. Disponível em: <http://www.aneel.gov.br/sala-de-imprensa-exibicao/- /asset_publisher/XGPXSqdMFHrE/content/brasil-possui-mais-de-10-mil-conexoes-de-micro-e- minigeracao-distribuida/656877?inheritRedirect=false>. Acesso em 19 mai. 2017. ANEEL. Geração Distribuída. 2017c. 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