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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL PROFESSORA SOLANGE DE OLIVEIRA RAMOS1 Comentários à Lei sobre Abuso de Autoridade Material didático 1 Mestre em Direito. Professora de Direito Penal dos Cursos de Graduação e Pós – graduação em Direito da Universidade Gama Filho. Comentários à Lei de Abuso de Autoridade DIREITO DE REPRESENTAÇÃO A Lei n. 4.898/65 regula o direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem abusos. Art. 1a O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente Lei. Art. 2" O direito de representação será exercido por meio de petição: a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à autoridade, civil ou militar culpada, a respectiva sanção; b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar processo-crime contra a autoridade culpada. Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de três, se as houver. A falta de representação do ofendido, inscrita na dicção do art. 1º. da Lei 4898/65, entretanto, não tem natureza de condição de procedibilidade, posto que, nao impede o Ministério Publico, de promover a ação penal pública. Nesse sentido, esclarecedor o posicionamento jurisprudencial: "A falta de representação do ofendido não obsta a iniciativa do Ministério Público para dar inicio a ação pena! por crimes previsto', na Lei_4.898/65. A Lei n. 5.249/67 é taxativa. Dispensa-se inquérito policial ou justificação preliminar para instruir a denúncia" (TACrim —JTACrim, 76/150). "A exigência de representação para legitimar a atuação do Ministério Publico na promoção de ação penal pelo crime de abuso de autoridade foi abolida pela Lei n. 5.249/67. que revogou o art. 12 da Lei. 4.898/65" (RT, 375/363). "ABUSO DE AUTORIDADE ~ Pretendida necessidade de representação para legitimar a atuação do Ministério Público na promoção da ação penal — Inadmissibilidade — Exigência dispensada ~ Revogação do art. 12 da Lei 4.898/65 pela Lei 5.249/67 — Preliminar repelida" (RT 575/363) Sobre a responsabilidade que resulta da prática de abuso de autoridade, descreve o art. 9a da lei; "simultaneamente com a representação dirigida à autoridade administrativa ou independentemente dela, poderá ser promovida, pela vítima do abuso, responsabilidade civil ou penal ou ambas, da autoridade culpada" A responsabilidade administrativa é a que resulta da prática do ilícito administrativo, dando ensejo à aplicação das sanções administrativas, com observancia do princípio do devido processo legal e, ainda, fazendo depender da gravidade do abuso, como se depreende do artigo 6º.: " O abuso de autoridade sujeitará o seu auto à sanção administrativa, civil e penal. § 1° A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso cometido e consistirá em: a) advertência; b) repreensão; c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo 5 (cinco) a 180 (cento e oitenta) dias, com perda de vencimentos e vantagens; d) destituição da função; e) demissão; f) demissão, a bem do serviço público.” A responsabilidade civil é a obrigação que se impõe, no sentido de reparar o dano causado à vitima do abuso. Não sendo possível a fixação do dano, a sanção civil consistirá no pagamento de indenização. Art.6º. (...) § 2a A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no pagamento de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros. § 3° A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos arts. 42 a 56 do Código Penal e consistirá em: a) multa de cem cruzeiros a cinco mil cruzeiros; b) detenção por 10 (dez) dias a 6 (seis) meses; c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até 3 (três) anos. § 4° As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou cumulativamente. § 5a Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de l (um) a 5 (cinco) anos. A responsabilidade penal é a que resulta do cometimento do crime de abuso de autoridade, com previsão das seguintes sanções: Multa: fixada em dias multa, não podendo ser inferior a 1/30 do salário mínimo, nem superior a cinco vezes o salário mínimo, devendo ser paga em dez dias após o transito em julgado da sentença. Detenção: dez dias a seis meses, perda do cargo e inabilitação do exercício de qualquer outra função pública pelo prazo de até 03 (três) anos. As penas, em sede de abuso de autoridade, podem ser aplicadas de forma autônoma ou na forma cumulativa. Se o crime foi cometido por autoridade policial civil, militar ou de qualquer outra categoria, o magistrado pode aplicar qualquer das sanções previstas de forma autônoma, bem como poderá cumular com a pena acessória de, por exemplo, não poder exercer, o acusado, função de natureza policial ou militar no município da culpa. "ABUSO DE AUTORIDADE — Policial condenado — Pena acessória — Interdição de direito — Perda do cargo público e ina-bilitação temporária para qualquer/unção publica — Inteligência dos arts. 6a, §§ 3a e 4a, da Lei 4.898/65 e 67 e 69 do CP" (TACrimSP —ST, 572/357). "ABUSO DE AUTORIDADE—Policial que prende ilegalmen- te pessoas suspeitas, submetendo-as a torturas e vexames — Condenação mantida, exceto quanto à pena acessória de perda da função pública—Declaração de voto—Inteligência dos arts. 3", 4" e 6" da Lei 4.898/65" (TACrimSP, RT, 556/343). ABUSO DE AUTORIDADE: aspectos penais O objeto jurídico é o regular funcionamento da administração publica e respeito à dignidade da pessoa humana. O sujeito ativo repousa sobre a autoridade, definida como aquela que exerce cargo, emprego ou função publica, de natureza civil ou militar, ainda que de forma transitória e sem remuneração. A norma em comentário, exclui os que exercem munus publico - síndico e inventariante. Para a tipificação do crime de abuso de autoridade se faz necessário o nexo funcional, porquanto, a autoridade fora de suas funções, não comete abuso de autoridade. Aquele que, não sendo autoridade, comete o crime em concurso com autoridade, conhecendo esta qualidade do autor, será responsabilizado penalmente, na forma do concurso eventual de pessoas. O sujeito passivo primário é o Estado e, de forma secundária , a vítima prejudicada. As condutas tipificadas podem ser resumidas em duas modalidades: crimes de atentado e crimes de perigo de dano. As condutas na modalidade de crimes de atentado são as elencadas no art.3º.; “Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: a) à liberdade de locomoção; b) a inviolabilidade de domicilio: c) ao sigilo da correspondência; d) à liberdade de consciência e de crença; e) ao livre exercício do culto religioso; f) à liberdade de associação; g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto; h) ao direito de reunião; i) à incolumidade física do indivíduo; j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.”As figuras elencadas no art.4º. são consideradas como crimes de perigo de dano: Art. 4° Constitui também abuso de autoridade: a) ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder; b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa; d) deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão OU detenção ilegal que lhe seja comunicada; e) levar à prisão e nela deter quem quer se proponha a prestar fiança, permitida em lei; f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie, quer quanto ao seu valor; g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa; h) o ato lesivo da honra ou do património de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade. Pode haver concurso formal de crimes, quando da ocorrencia da prática de duas ou mais condutas caracterizadoras do abuso de autoridade, por meio de uma só ação ou omissão (art. 70 do CP). Da mesma forma, admissível, também, a ocorrencia de concurso material de crimes, se houver a prática de uma conduta caracterizadora do abuso de autoridade e outra tipificada como crime pelo código penal ou legislação complementar haverá concurso material de delitos. Ex.: abuso de autoridade e lesão corporal. "COMPETÊNCIA CRIMINAL — Abuso de autoridade — In- competência do Judiciário para aplicação do artigo 6°, § 5° da Lei n. 4.898/65 — Inocorrência — Sanção que tanto pode ser penal como administrativa — Preliminar rejeitada — Recurso parcialmente provido para outro fim. Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer/unções de natureza policia! ou militar no município da culpa, por prazo de um a cinco anos" (TJSP—Ap. Crim, 179.51^ 3 — São Paulo — Rei. Renato Talll — 2a Câm. Crim. — v.u. 4-1995). "CRIME — Abuso de Autoridade — Atentado à inviolabilidade do domicílio—Artigo 3a, letra 'b' da Lei 4.898/65 — Não caracterização — Diligência policial na residência do reclamante a fim de detectar possível crime de sequestro em andamento — Magistrado que apenas acompanhou a diligência não sendo por ela responsável — Atitude que poderá gerar apenas apuração disciplinar — Ato ademais, de que não há referência a violência, escândalo ou ostentação de armamentos — Imputação inconsistente — Determinado arquivamento dos autos" (TJSP ~ Recl. 24.610- 0 — São Paulo • Rei. Luís de Macedo — OESP — m.v. — 23-11-1994).” "CRIME ~ Abuso de autoridade — Caracterização -— Prática por policiais de indevida prisão — Emprego de violência e grave ameaça — Recurso parcialmente provido para outro,fim" (TJSP —Ap. Cmn. 179.510-3 — São Paulo — Rei. Renato Talli — 2a Câm. Crim.—v.u.—3-4-1995). "CRIME CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA—Pre- varicação — Ocorrência — Abuso de autoridade cometido por policiais — Responsabilidade do delegado Que assumiu o comando da situação, sem no entanto tomar as medidas que lhe competiam —Ari. 319 do Código Penal—Recurso não provido" (TJSP—Ap. Crim. 105.624-3 — Jacarei— Rel. Andrade Cavalcanti — 25-11-1991). "ABUSO DE PODER — Caracterização — Prisão executada por investigadores/ora da situação flagrância! e à revelia da autoridade judiciária — Participação dos delegados no comando da operação, demonstrada — Recurso não provido" (TJSP — Ap. Crim. 116.176-3 — São Paulo — Rei. Andrade Cavalcanti —- 23-11-1992). "ABUSO DE AUTORIDADE—Acusado que, na condição de policial civil, ao ser chamado pura tomar providências em relação a indivíduo que promovia desordens, desfecha-lhe um tiro na perna — Vítima embriagada e desarmada que não ofereceu resistência — Legitima defesa inexistente — Aplicação do art. 3", 'i', da Lei 4.898/65" O particular pode ser sujeito ativo dos crimes de abuso de autoridade, nos termos do art. 30 do Código Penal, desde que atue em concurso com a autoridade, conhecendo essa circunstância elementar. "Nada impede que uma pessoa não funcionária pública pratique o crime de abuso de autoridade, desde que ofaça,^ em concurso com uma das pessoas mencionadas no art. 5a da Lei l 4.898/65" (TACrim — JTACrim, 66/440). "Um indivíduo não funcionário público pode cometer um crime de abuso de autoridade, desde que o faça em concurso com uma das pessoas mencionadas no art. 5" da Lei 4.898/65" ( JTACrim, 85/159). ASPECTO ADMINISTRATIVO Visa, o processo administrativo, a aplicação das sanções administrativas previstas no art. 6°, § 1a, da lei. A autoridade civil ou militar competente, quando do recebimento da represen- tação, deverá determinar a instauração de inquérito administrativo para apurar o fato. Art. 7" Recebida a representação em que for solicitada a aplicação de sanção administrativa, a autoridade civil ou militar competente determinará a instauração de inquérito para apurar o Fato. O referido inquérito seguirá o rito fixado na legislação própria de cada carreira ou, na hipótese de inexistência de normas próprias, a aplicação daquelas fixadas pelo Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União. § 1a O inquérito administrativo obedecerá às normas estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais, civis ou militares, que estabeleçam o respectivo processo. Com o propósito de imprimir celeridade na esfera da apuração administrativa, dispõe a norma, no que concerne ao processo administrativo, que o procedimento não será sobrestado para o fim de aguardar a decisão da ação penal ou civil, reafirmando a independência entre as esferas administrativa, civil e penal. § 2a Não existindo no Município, no Estado ou na legislação militar normas reguladoras do inquérito administrativo serão aplicadas, supletivamente, as disposições dos arts. 219 a 225 da Lei n. 1.711, de 28 de outubro de 1952 (Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União). § 3a O processo administrativo não poderá ser sobrestado para o fim de aguardar a decisão da ação penal ou civil. DO PROCEDIMENTO PREVISTO NA LEGISLAÇÃO Em linhas gerais, o procedimento segue a seguinte estrutura: 1) Oferecimento da denuncia pelo Ministério Publico ou, ação privada, no caso de inércia; 2) Recebida a denuncia, o réu será citado para comparecer à audiência de instrução e julgamento; 3) Qualificação e interrogatório do acusado; 4) Oitiva de perito 5) Oitiva de testemunhas de acusação; 6) Oitiva de testemunhas de defesa; 7) Debate oral 8) Encerrado o debate, sentença imediatamente proferida pelo juiz. Art. 16. Se o órgão do Ministério Público não oferecer a denúncia no prazo fixado nesta Lei, será admitida ação privada. O órgão do Ministério Público poderá porém aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva e intervir em todos os termos do processo. interpor recursos e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. Art. 17. Recebidos os autos, o juiz, dentro do prazo de 48 (quarenta e oito) horas, proferirá despacho, recebendo ou rejeitando a denúncia. § 1a No despacho em que receber a denúncia, o juiz designará, desde logo, diae hora para a audiência de instrução e julgamento, que deverá ser realizada, improrrogavelmente, dentro de 5 (cinco) dias. § 2a A citação do réu para se ver processar, até julgamento final e para comparecer à audiência de instrução e julgamento, será feita por mandado sucinto que será acompanhado da segunda via da representação e da de- núncia. Art. 18. As testemunhas de acusação e defesa poderão ser apresentadas em juízo, independentemente de intimação. Parágrafo único. Não serão deferidos pedidos de precatória para a audiência ou a intimação de testemunhas ou, salvo o caso previsto no art. 14, é, requerimentos para a realização de diligências, perícias ou exames, a não ser que o juiz, em despacho motivado, considere indispensáveis tais providências. Art. 19. A hora marcada, o juiz mandará que o porteiro dos auditórios ou o oficial de justiça declare aberta a audiência, apregoando em seguida o réu, as testemunhas, o perito, o representante do Ministério Público ou o advogado que tenha subscrito a queixa e o advogado ou defensor do réu. Parágrafo único. A audiência somente deixará de realizar-se se ausente o juiz. Art. 20. Se até meia hora depois da hora marcada o juiz não houver comparecido, os presentes poderão retirar-se, devendo o ocorrido constar rio livro de termos de audiência. Art. 21. A audiência de instrução e julgamento será pública, se contrariamente não dispuser o juiz, e realizar. se-á em dia útil, entre 1() (dez) e 18 (dezoito) horas, na sede do juízo ou, excepcionalmente, no local que o juiz designar. Art. 22. Aberta a audiência ojuiz fará a qualificação e o interrogatório do réu, se estiver presente. Parágrafo único. Não comparecendo o réu nem seu advogado, ojuiz nomeará imediatamente defensor para funcionar na audiência e nos ulteriores termos do processo. Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o juiz dará a palavra, sucessivamente, ao Ministério Público ou ao advogado que houver subscrito a queixa e ao advogado ou defensor do réu, pelo prazo de 15 (quinze) minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do juiz. Art. 24. Encerrado o debate, o juiz proferirá imediatamente a sentença. A este ponto, imperioso trazer à análise, a discussão doutrinária sobre a aplicação do rito do Juizado Especial Criminal. Nas palavras de Andreucci2 “desde a edição da Lei n. 9099/95, entendeu-se que a Lei de Abuso de Autoridade estava excluída da competência dos Juizados Especiais, à vista do disposto no art. 61, in fine, dessa lei, não obstante a sanção estabelecida para as figuras criminosas estabelecidas, isso porque a Lei de Abuso de Autoridade prevê rito próprio e especial, pelo que não caberia transação nem suspensão condicional do processo aos crimes nela tipificados.” Assim preconizava o Supremo Tribunal Federal: 2 Legislação Penal Especial. São Paulo: Saraiva "A transação penal prevista na Lei dos Juizados Especiais Criminais é restrita às infrações penais de menor potencial ofensivo, sendo inaplicável aos processos por crime de abuso de autoridade sujeitos a procedimento especial previsto na Lei 4.898/65 " (STF — RT, 759/550). O tema foi absolutamente esclarecido, na lição de Damásio de Jesus3 quando afirma “ com a vigência da Lei n. 10.259/2001, foi adotado o entendimento de que, por não conter ela cláusula restritiva em virtude de procedimento especial, poderiam os crimes de abuso de autoridade ser considerados de menor potencial ofensivo, restando, dessa feita, ampliada ainda mais a competência dos Juizados Especiais Criminais.O parágrafo único do art. 2a da Lei 10.259/01 derrogou também a parte final do art. 61 da Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei n. 9.099/95), ampliando a sua extensão. Em consequência, devem ser considerados delitos de menor potencial ofensivo, para efeito do art. 61 da Lei n. 9.099/95, aqueles aos quais a lei comine, no máximo, pena detentiva não superior a dois anos, ou multa, sem exceção.Em conclusão, suprimiu-se a exceção constante da parte final do art. 61 da Lei n. 9.099/95, referente aos crimes com procedimento especial, de modo que, independentemente do rito, crimes de menor potencial ofensivo são todos aqueles aos quais a lei comine pena máxima não superior a dois anos, bem como todos aos quais seja cominada alternativamente a pena pecuniária, qualquer que seja a pena privativa de liberdade cominada, em abstrato. Regras básicas sobre competência: a) Aos crimes de abuso de autoridade aplicam-se as regras gerais de competência estabelecidas nos arts. 69 e s. do Código de Processo Penal. b) Ainda que praticado por militar, compete à Justiça Comum o processo e julgamento dos crimes de abuso de autoridade. Nesse sentido a Súmula 172 do Superior Tribunal de Justiça: "Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço". "Policiais militares denunciados perante a Justiça Comum e Militar. Imputações distintas. Competência dn primeira para o processo e julgamento do crime de abuso de autori-dade, não previsto no Código Penal Militar, e da segunda para o de lesões corporais, porquanto os mesmos se encontravam em serviço de policiamento. Unidade de processo e julgamento excluída peia incidência do art. 79, I, do CPP" (STJ — RT, 663/347). 3 Damásio de Jesus, A exceção do art. 61 da Lei dos Juizados Especiais Criminais em face da Lei n. 10.259, disponível em www.damasio.com.br Com a entrada em vigor da Lei n. 11.313, de 28-6-2006, nova redaçâo foi aplicada aos artigos 60 e 61 da Lei n. 9.099/95, soterrando, definitivamente, qualquer discussão sobre o conceito de crime de menor potencial ofensivo, restando pacificada a aplicação do rito do Juizado Especial Criminal, aos crimes de abuso de autoridade. TEXTO COMPLEMENTAR Projeto que muda a lei de abuso de autoridade. POR PRISCYLA COSTA4 A autoridade que submeter pessoa sob sua guarda a constrangimento ou vexame poderá ser criminalmente processada e pegar até oito anos de prisão. É o que prevê minuta de projeto que altera a lei de abuso de autoridade, apresentada nesta quarta-feira (23/7) pelo presidente da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), ao ministro da Justiça, Tarso Genro. O projeto foi apresentado uma semana depois de o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, se reunir com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e defender as mudanças. A audiência teve a participação também de Tarso Genro. No encontro, Gilmar propôs alterações na legislação sobre abuso de autoridade depois dos vazamentos de conteúdo de gravações feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, e da “espetacularização” de operações de busca e apreensão feitas pela PF. Pelo projeto criado por Jungmann, o abuso será caracterizado quando a autoridade praticar, omitir ou retardar ato, no exercício da função pública, para prejudicar, embaraçar ou prejudicar os direitos fundamentais do cidadão garantidos na Constituição Federal, como, por exemplo, a liberdade individual, a integridade física e moral, a intimidade, a vida privada e a inviolabilidade da casa. A pena para quem praticar o crime de abuso de autoridade, de acordo com a proposta de Jungmann, é de quatro a oito anos de prisão e multa equivalente a 24 meses de salário da autoridade. A lei atual — Lei 4.898, de 1965 — prevê pena de, no máximo, seis meses de prisão. O projeto de Jungmann destaca entre os principais casos de abuso de autoridade atos que violem a igualdade entre homens e mulheres;a integridade física e moral das pessoas, por meio da chamada “espetacularização” das operações; a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. O texto prevê o enquadramento como abuso de casos como a ridicularização de inocentes, vulgarização e quebra de sigilo, ordem ou execução de medida privativa da liberdade individual sem as formalidades legais, entre outros pontos. Também será considerado abuso de autoridade fazer afirmação falsa em ato praticado em investigação policial ou administrativa, inquérito civil, ação civil pública, ação de improbidade administrativa ou ação penal pública. 4 Disponível em WWW.conjur.com.br, em 28/07/2008 Jungmann considera o projeto uma “trincheira do cidadão”, para que ele tenha meios de se defender contra eventuais abusos estatais. A proposta, segundo deputado, permite ao cidadão entrar com uma ação na Justiça no caso de omissão da autoridade que investiga o caso de abuso de poder que não tome qualquer providência em 60 dias. “O próprio cidadão passa a ter o direito de entrar com uma ação contra qualquer autoridade”, explicou. O deputado não vê semelhanças da sua proposta a uma “lei da mordaça” para restringir a atuação de autoridades. Segundo ele, sua preocupação é garantir que não se use informações oficiais com má-fé. “Tenho a preocupação de evitar o conluio que possa haver entre determinados órgãos ou instituições, enfim, são amplas garantias constitucionais que estão aqui dentro [no projeto de lei] e que são favoráveis à atuação tanto da Procuradoria-Geral da República, dos procuradores que não terão em nada limitado o seu trabalho, como também da Polícia Federal”, afirmou. Jungmann disse que o ministro da Justiça vai estudar a proposta, e se possível fazer um projeto único para servir de base para um texto sobre o mesmo tema em elaboração no ministério. Leia a minuta do projeto PROJETO DE LEI de 2008 Do Sr. Raul Jungmann Dispõe sobre a defesa dos direitos e garantias fundamentais nos casos de abuso de autoridade. Art. 1º O abuso de autoridade no exercício de função pública, em razão dela ou a pretexto de exercê-la é punido na forma desta Lei, quando praticado por agente público de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. DO ABUSO DE AUTORIDADE CONTRA DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS Art. 2º Praticar, omitir ou retardar ato, no exercício de função pública, em razão dela ou a pretexto de exercê-la, com o intuito de impedir, embaraçar ou prejudicar o gozo de qualquer dos direitos e garantias fundamentais constantes do Título II da Constituição, em especial aqueles perpetrados contra: I — a igualdade entre homens e mulheres (art. 5º, inciso I, da Constituição); II — a liberdade individual (art. 5º, inciso II, da Constituição); III — a integridade física e moral da pessoa (art. 5º, inciso III, da Constituição); IV — a liberdade de pensamento, consciência, crença, culto e expressão (art. 5º, incisos IV a IX, da Constituição); V — a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (art. 5º, inciso X, da Constituição VI — a inviolabilidade da casa, da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas (art. 5º, incisos XI e XII, da Constituição); VII — a liberdade de trabalho, ofício ou profissão (art. 5º, inciso XIII, da Constituição); VIII — o acesso de todos à informação, na forma da Constituição e da legislação (art. 5º, incisos XIV e XXXIII, da Constituição); IX — a liberdade de locomoção e de reunião (art. 5º, incisos XV e XVI, da Constituição); X — a liberdade de associação para fins lícitos (art. 5º, inciso XVII a XXI, da Constituição); XI — a propriedade e sua função social (art. 5º, incisos XXII a XXXI, da Constituição); XII — a promoção da defesa do consumidor, na forma da legislação pertinente (art. 5º, inciso XXXII, da Constituição), inclusive do usuário de serviços públicos (art. 37, § 3º, da Constituição); XIII — o direito de petição aos poderes públicos e a obtenção de certidões em repartições públicas (art. 5º, inciso XXXIV, da Constituição); XIV — o acesso ao Poder Judiciário e aos remédios constitucionais (art. 5º, incisos XXXV e LXVIII a LXXVII, da Constituição); XV — o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5o, inciso XXXVI, da Constituição); XVI — o devido processo legal e seus consectários, inclusive a presunção de inocência (art. 5º, incisos XXXVII a XLIV e LI a LXVII, da Constituição); XVII — a dignidade do condenado (art. 5º, incisos XLV a L, da Constituição); XVIII — a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação (art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição): Pena — reclusão de quatro a oito anos e multa equivalente ao valor de dois a vinte e quatro meses de remuneração ou subsídio devido ao réu. § 1º Consideradas as circunstâncias a que se refere o art. 59 do Código Penal, o juiz também poderá decretar: I — a perda do cargo, emprego ou função; e II — a inabilitação para o exercício de qualquer outro cargo, emprego ou função pelo prazo de até oito anos. § 2º As penas cominadas neste artigo serão aplicadas autônoma ou cumulativamente de acordo com as regras dos arts. 59 a 76 do Código Penal. § 3º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada pena autônoma ou acessória de não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de até doze anos. § 4º São também crimes de abuso de autoridade quaisquer atentados contra outros direitos e garantias decorrentes do regime e dos princípios adotados pela Constituição e tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte (art. 5º, § 2º, da Constituição). DO ABUSO DE AUTORIDADE EM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS Art. 3º Nas mesmas penas incorre quem: I — ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder; II — submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento III — deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa; IV — deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada; V — levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança permitida em lei; VI — cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa sem previsão legal, quer quanto à espécie, quer quanto ao seu valor; VII — recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa; VIII — lesar a honra ou patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; IX — prolongar a execução de prisão cautelar qualquer, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade; X — empregar a força, salvo quando indispensável em razão de resistência ou tentativa de fuga do preso (Código de Processo Penal, art. 284); XI — atuar com inobservância da repartição de competências funcionais; XII — fazer afirmação falsa ou negar ou calar a verdade em ato praticado em investigação policial ou administrativa, inquérito civil, ação civil pública, ação de improbidade administrativa ou ação penal pública, que esteja sob sua presidência ou de que participe; XIII — deturpar o teor de dispositivo constitucional ou legal, de citação doutrinária ou de julgado, bem como de depoimentos, documentos e alegações (art. 34, inciso XIV, da Lei no 8.906, de 4de julho de 1994 – Estatuto da Advocacia); XIV — omitir-se na apuração dos abusos perpetrados por subordinados seus ou sujeitos ao seu poder correcional. DO CONCEITO DE AUTORIDADE Art. 4º Considera-se autoridade, para os efeitos desta Lei, o ocupante de cargo, função ou emprego público da Administração Pública direta, autárquica ou fundacional, o membro de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, do Ministério Público ou da Defensoria Pública e o detentor de mandato eletivo. DO PROCESSO Art. 5º O direito de representação será exercido por meio de petição: I — dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à autoridade civil ou militar implicada, a respectiva sanção; II — dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar processo—crime contra a autoridade culpada. Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de três, se as houver. Art. 6º É facultado ao ofendido ou seu representante legal intervir, como assistente do Ministério Público, em todos os termos do inquérito policial e da ação penal (Código de Processo Penal, arts. 268 a 274). § 1º Na hipótese de o Ministério Público não oferecer denúncia no prazo de até sessenta dias da ocorrência do fato, o assistente poderá intentar ação penal privada (art. 5º, inciso LIX, da Constituição). § 2º No caso do § 1º, o Ministério Público atuará como custos legis. § 3º A assistência a que se refere o caput também pode ocorrer em processo administrativo disciplinar, salvo nos casos de sigilo. Art. 7º Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do requerido para oferecer manifestação por escrito, que poderá ser instruída com documentos e justificações, dentro do prazo de quinze dias (Lei dos atos de improbidade, art. 17, § 7º). § 1º Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta dias, em decisão fundamentada, rejeitará a ação, se convencido da inexistência do abuso de autoridade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita (Lei dos atos de improbidade, art. 17, § 8º). § 2º Recebida a petição inicial, será o réu citado para apresentar contestação (Lei dos atos de improbidade, art. 17, § 9º). § 3º Da decisão que receber a petição inicial, caberá agravo (Lei dos atos de improbidade, art. 17, § 10). § 4º Em qualquer fase do processo, reconhecida a inadequação da ação, o juiz extinguirá o processo sem julgamento do mérito (Lei dos atos de improbidade, art. 17, § 11). § 5º Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realizadas nos processos regidos por esta Lei o disposto no art. 221, caput e § 1º, do Código de Processo Penal (Lei dos atos de improbidade, art. 17, § 12). DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CÍVEIS Art. 8º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso cometido e consistirá em: I — advertência; II — repreensão; III — suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a trezentos e sessenta dias, com perda de vencimentos e vantagens; IV — destituição de cargo comissionado ou função gratificada; ou V — demissão, a bem do serviço público. Parágrafo único. O processo administrativo não poderá ser sobrestado para o fim de aguardar a decisão da ação penal ou civil. Art. 9º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no pagamento de uma indenização de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais). Parágrafo único. Proferida a sentença condenatória, a União exercerá, no prazo de trinta dias, o seu direito de regresso contra o responsável (art. 37, § 6o, da Constituição). DAS DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 11. Fica revogada a Lei no 4.898, de 9 de dezembro de 1965. Sala das Sessões, em de 2008. Deputado RAUL JUNGMANN PPS/PE JUSTIFICAÇÃO A Lei no 4.898, de 9 de dezembro de 1965, relativa ao abuso de autoridade, está defasada. Precisa ser repensada, em especial para melhor proteger os direitos e garantias fundamentais constantes da Constituição de 1988 (mais rica no particular do que a Constituição de 1946, vigente quando da promulgação da Lei no 4.898, de 1965), bem assim para que se possam tornar efetivas as sanções destinadas a coibir e punir o abuso de autoridade. Assim, o projeto de lei ora apresentado define como crimes de abuso de autoridade o praticar, o omitir e o retardar ato, no exercício de função pública, em razão dela ou a pretexto de exercê-la, com o intuito de impedir, embaraçar ou prejudicar o gozo de qualquer dos direitos e garantias fundamentais constantes do Título II da Constituição. Com isso, há evidente ganho de minúcia e rigor, o que vem a favor de uma tipificação mais exata de condutas, o que é essencial à boa técnica de elaboração de tipos penais (art. 2º). O projeto também atualiza os crimes de abuso de autoridade em situações específicas, mormente para coibir e punir condutas que escapem ao Estado de Democrático de Direito, ao pluralismo e à dignidade da pessoa humana (art. 3º). Quanto aos aspectos processuais da matéria, o projeto permite que o ofendido ou seu representante legal acompanhem ou, até mesmo, assumam o pertinente processo administrativo ou judicial, se acaso as autoridades competentes para tanto não vierem a concorrer nos prazos próprios (art. 6º). Vale destacar que o projeto também se preocupa em não deixar a autoridade pública sujeita a feitos temerários, motivados por rixas ou disputas político- partidárias. Para tanto, adota o bem sucedido mecanismo de defesa prévia havido nos processos de improbidade administrativa (art. 7º). Enfim, as multas e outras penas cominadas são redimensionadas para que venham a se tornar efetivas, ou seja, para que verdadeiramente concorram para coibir o abuso de autoridade ou para punir melhor aqueles que venham a constranger, com abuso de autoridade, o seu semelhante. É preciso acabar — de parte a parte — com a cultura do “você sabe com quem está falando?” Uma disciplina como a que consta do projeto não se assimila de uma hora para outra. Ao contrário. Veja-se: tão-só a sua premência já aponta para estágio ainda discreto de civilidade. É preciso mudar a cultura. Para tanto, nos primeiros passos, uma legislação de escopo pedagógico é imprescindível, ainda que – insista-se – a sua necessidade deponha menos a favor do grau de civilidade da sociedade do que se poderia desejar. Em razão do exposto, roga-se aos nobres pares apoio para o projeto de lei ora apresentado.
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