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ABUSO AUTORIDADE Solange

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 
PROFESSORA SOLANGE DE OLIVEIRA RAMOS1 
 
 
 
 
Comentários à Lei sobre Abuso de Autoridade 
 
 
Material didático 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1
 Mestre em Direito. Professora de Direito Penal dos Cursos de Graduação e Pós – graduação em Direito 
da Universidade Gama Filho. 
Comentários à Lei de Abuso de Autoridade 
 
DIREITO DE REPRESENTAÇÃO 
 
A Lei n. 4.898/65 regula o direito de representação e o processo de 
responsabilidade administrativa, civil e penal, contra as autoridades que, no 
exercício de suas funções, cometerem abusos. 
 
Art. 1a O direito de representação e o processo de 
responsabilidade administrativa civil e penal, contra as 
autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem 
abusos, são regulados pela presente Lei. 
 
Art. 2" O direito de representação será exercido por meio de 
petição: 
a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal 
para aplicar, à autoridade, civil ou militar culpada, a 
respectiva sanção; 
b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver 
competência para iniciar processo-crime contra a autoridade 
culpada. 
Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e 
conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de 
autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação 
do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de três, se 
as houver. 
 
A falta de representação do ofendido, inscrita na dicção do art. 1º. da Lei 
4898/65, entretanto, não tem natureza de condição de procedibilidade, posto 
que, nao impede o Ministério Publico, de promover a ação penal pública. 
 
Nesse sentido, esclarecedor o posicionamento jurisprudencial: 
 
 "A falta de representação do ofendido não obsta a iniciativa 
do Ministério Público para dar inicio a ação pena! por crimes 
previsto', na Lei_4.898/65. A Lei n. 5.249/67 é taxativa. 
Dispensa-se inquérito policial ou justificação preliminar para 
instruir a denúncia" (TACrim —JTACrim, 76/150). 
 
"A exigência de representação para legitimar a atuação do 
Ministério Publico na promoção de ação penal pelo crime de 
abuso de autoridade foi abolida pela Lei n. 5.249/67. que 
revogou o art. 12 da Lei. 4.898/65" (RT, 375/363). 
 
 
 
 
"ABUSO DE AUTORIDADE ~ Pretendida necessidade de 
representação para legitimar a atuação do Ministério Público 
na promoção da ação penal — Inadmissibilidade — 
Exigência dispensada ~ Revogação do art. 12 da Lei 
4.898/65 pela Lei 5.249/67 — Preliminar repelida" (RT 
575/363) 
 
 
Sobre a responsabilidade que resulta da prática de abuso de autoridade, 
descreve o art. 9a da lei; 
 "simultaneamente com a representação dirigida à 
autoridade administrativa ou independentemente dela, 
poderá ser promovida, pela vítima do abuso, 
responsabilidade civil ou penal ou ambas, da autoridade 
culpada" 
 
A responsabilidade administrativa é a que resulta da prática do ilícito 
administrativo, dando ensejo à aplicação das sanções administrativas, com 
observancia do princípio do devido processo legal e, ainda, fazendo depender 
da gravidade do abuso, como se depreende do artigo 6º.: 
" O abuso de autoridade sujeitará o seu auto à sanção 
administrativa, civil e penal. 
§ 1° A sanção administrativa será aplicada de acordo com a 
gravidade do abuso cometido e consistirá em: 
a) advertência; 
b) repreensão; 
c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo 5 (cinco) 
a 180 (cento e oitenta) dias, com perda de vencimentos e 
vantagens; 
d) destituição da função; 
e) demissão; 
f) demissão, a bem do serviço público.” 
A responsabilidade civil é a obrigação que se impõe, no sentido de reparar o 
dano causado à vitima do abuso. Não sendo possível a fixação do dano, a 
sanção civil consistirá no pagamento de indenização. 
Art.6º. (...) 
§ 2a A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do 
dano, consistirá no pagamento de uma indenização de 
quinhentos a dez mil cruzeiros. 
§ 3° A sanção penal será aplicada de acordo com as regras 
dos arts. 42 a 56 do Código Penal e consistirá em: 
a) multa de cem cruzeiros a cinco mil cruzeiros; 
b) detenção por 10 (dez) dias a 6 (seis) meses; 
c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de 
qualquer outra função pública por prazo até 3 (três) anos. 
§ 4° As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser 
aplicadas autônoma ou cumulativamente. 
§ 5a Quando o abuso for cometido por agente de autoridade 
policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser 
cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o 
acusado exercer funções de natureza policial ou militar no 
município da culpa, por prazo de l (um) a 5 (cinco) anos. 
A responsabilidade penal é a que resulta do cometimento do crime de abuso de 
autoridade, com previsão das seguintes sanções: 
Multa: fixada em dias multa, não podendo ser inferior a 1/30 do salário mínimo, 
nem superior a cinco vezes o salário mínimo, devendo ser paga em dez dias 
após o transito em julgado da sentença. 
Detenção: dez dias a seis meses, perda do cargo e inabilitação do exercício de 
qualquer outra função pública pelo prazo de até 03 (três) anos. 
As penas, em sede de abuso de autoridade, podem ser aplicadas de forma 
autônoma ou na forma cumulativa. Se o crime foi cometido por autoridade 
policial civil, militar ou de qualquer outra categoria, o magistrado pode aplicar 
qualquer das sanções previstas de forma autônoma, bem como poderá 
cumular com a pena acessória de, por exemplo, não poder exercer, o acusado, 
função de natureza policial ou militar no município da culpa. 
 
"ABUSO DE AUTORIDADE — Policial condenado — Pena 
acessória — Interdição de direito — Perda do cargo público 
e ina-bilitação temporária para qualquer/unção publica — 
Inteligência dos arts. 6a, §§ 3a e 4a, da Lei 4.898/65 e 67 e 69 
do CP" (TACrimSP —ST, 572/357). 
 
"ABUSO DE AUTORIDADE—Policial que prende ilegalmen-
te pessoas suspeitas, submetendo-as a torturas e vexames 
— Condenação mantida, exceto quanto à pena acessória de 
perda da função pública—Declaração de voto—Inteligência 
dos arts. 3", 4" e 6" da Lei 4.898/65" (TACrimSP, RT, 
556/343). 
ABUSO DE AUTORIDADE: aspectos penais 
O objeto jurídico é o regular funcionamento da administração publica e respeito 
à dignidade da pessoa humana. 
O sujeito ativo repousa sobre a autoridade, definida como aquela que exerce 
cargo, emprego ou função publica, de natureza civil ou militar, ainda que de 
forma transitória e sem remuneração. 
A norma em comentário, exclui os que exercem munus publico - síndico e 
inventariante. 
Para a tipificação do crime de abuso de autoridade se faz necessário o nexo 
funcional, porquanto, a autoridade fora de suas funções, não comete abuso de 
autoridade. 
Aquele que, não sendo autoridade, comete o crime em concurso com 
autoridade, conhecendo esta qualidade do autor, será responsabilizado 
penalmente, na forma do concurso eventual de pessoas. 
O sujeito passivo primário é o Estado e, de forma secundária , a vítima 
prejudicada. 
As condutas tipificadas podem ser resumidas em duas modalidades: crimes de 
atentado e crimes de perigo de dano. As condutas na modalidade de crimes de 
atentado são as elencadas no art.3º.; 
“Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: 
a) à liberdade de locomoção; 
 b) a inviolabilidade de domicilio: 
c) ao sigilo da correspondência; 
d) à liberdade de consciência e de crença; 
e) ao livre exercício do culto religioso; 
f) à liberdade de associação; 
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício 
do voto; 
h) ao direito de reunião; 
i) à incolumidade física do indivíduo; 
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício 
profissional.”As figuras elencadas no art.4º. são consideradas como crimes de perigo de 
dano: 
 
Art. 4° Constitui também abuso de autoridade: 
a) ordenar ou executar medida privativa de liberdade 
individual, sem as formalidades legais ou com abuso de 
poder; 
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame 
ou a constrangimento não autorizado em lei; 
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a 
prisão ou detenção de qualquer pessoa; 
d) deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão OU 
detenção ilegal que lhe seja comunicada; 
e) levar à prisão e nela deter quem quer se proponha a 
prestar fiança, permitida em lei; 
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial 
carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra 
despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer 
quanto à espécie, quer quanto ao seu valor; 
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial 
recibo de importância recebida a título de carceragem, 
custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa; 
h) o ato lesivo da honra ou do património de pessoa natural 
ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder 
ou sem competência legal; 
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de 
medida de segurança, deixando de expedir em tempo 
oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade. 
 
 
Pode haver concurso formal de crimes, quando da ocorrencia da prática de 
duas ou mais condutas caracterizadoras do abuso de autoridade, por meio de 
uma só ação ou omissão (art. 70 do CP). 
 
Da mesma forma, admissível, também, a ocorrencia de concurso material de 
crimes, se houver a prática de uma conduta caracterizadora do abuso de 
autoridade e outra tipificada como crime pelo código penal ou legislação 
complementar haverá concurso material de delitos. Ex.: abuso de autoridade e 
lesão corporal. 
 
"COMPETÊNCIA CRIMINAL — Abuso de autoridade — In-
competência do Judiciário para aplicação do artigo 6°, § 5° 
da Lei n. 4.898/65 — Inocorrência — Sanção que tanto pode 
ser penal como administrativa — Preliminar rejeitada — 
Recurso parcialmente provido para outro fim. Quando o 
abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou 
militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena 
autônoma ou acessória, de não poder o acusado 
exercer/unções de natureza policia! ou militar no município 
da culpa, por prazo de um a cinco anos" (TJSP—Ap. Crim, 
179.51^ 3 — São Paulo — Rei. Renato Talll — 2a Câm. 
Crim. — v.u. 4-1995). 
 
 
"CRIME — Abuso de Autoridade — Atentado à 
inviolabilidade do domicílio—Artigo 3a, letra 'b' da Lei 
4.898/65 — Não caracterização — Diligência policial na 
residência do reclamante a fim de detectar possível crime de 
sequestro em andamento — Magistrado que apenas 
acompanhou a diligência não sendo por ela responsável — 
Atitude que poderá gerar apenas apuração disciplinar — Ato 
ademais, de que não há referência a violência, escândalo ou 
ostentação de armamentos — Imputação inconsistente — 
Determinado arquivamento dos autos" (TJSP ~ Recl. 24.610-
0 — São Paulo • Rei. Luís de Macedo — OESP — m.v. — 
23-11-1994).” 
 
"CRIME ~ Abuso de autoridade — Caracterização -— 
Prática por policiais de indevida prisão — Emprego de 
violência e grave ameaça — Recurso parcialmente provido 
para outro,fim" (TJSP —Ap. Cmn. 179.510-3 — São Paulo 
— Rei. Renato Talli — 2a Câm. Crim.—v.u.—3-4-1995). 
 
"CRIME CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA—Pre-
varicação — Ocorrência — Abuso de autoridade cometido 
por policiais — Responsabilidade do delegado Que assumiu 
o comando da situação, sem no entanto tomar as medidas 
que lhe competiam —Ari. 319 do Código Penal—Recurso 
não provido" (TJSP—Ap. Crim. 105.624-3 — Jacarei— Rel. 
Andrade Cavalcanti — 25-11-1991). 
 
"ABUSO DE PODER — Caracterização — Prisão executada 
por investigadores/ora da situação flagrância! e à revelia da 
autoridade judiciária — Participação dos delegados no 
comando da operação, demonstrada — Recurso não 
provido" (TJSP — Ap. Crim. 116.176-3 — São Paulo — Rei. 
Andrade Cavalcanti —- 23-11-1992). 
 
"ABUSO DE AUTORIDADE—Acusado que, na condição de 
policial civil, ao ser chamado pura tomar providências em 
relação a indivíduo que promovia desordens, desfecha-lhe 
um tiro na perna — Vítima embriagada e desarmada que 
não ofereceu resistência — Legitima defesa inexistente — 
Aplicação do art. 3", 'i', da Lei 4.898/65" 
 
 
O particular pode ser sujeito ativo dos crimes de abuso de autoridade, nos 
termos do art. 30 do Código Penal, desde que atue em concurso com a 
autoridade, conhecendo essa circunstância elementar. 
 
"Nada impede que uma pessoa não funcionária pública 
pratique o crime de abuso de autoridade, desde que ofaça,^ 
em concurso com uma das pessoas mencionadas no art. 5a 
da Lei l 4.898/65" (TACrim — JTACrim, 66/440). 
 
"Um indivíduo não funcionário público pode cometer um 
crime de abuso de autoridade, desde que o faça em 
concurso com uma das pessoas mencionadas no art. 5" da 
Lei 4.898/65" ( JTACrim, 85/159). 
 
ASPECTO ADMINISTRATIVO 
 
Visa, o processo administrativo, a aplicação das sanções administrativas 
previstas no art. 6°, § 1a, da lei. 
 
 A autoridade civil ou militar competente, quando do recebimento da represen-
tação, deverá determinar a instauração de inquérito administrativo para apurar 
o fato. 
 
Art. 7" Recebida a representação em que for solicitada a 
aplicação de sanção administrativa, a autoridade civil ou 
militar competente determinará a instauração de inquérito 
para apurar o Fato. 
 
O referido inquérito seguirá o rito fixado na legislação própria de cada carreira 
ou, na hipótese de inexistência de normas próprias, a aplicação daquelas 
fixadas pelo Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União. 
 
§ 1a O inquérito administrativo obedecerá às normas 
estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais, 
civis ou militares, que estabeleçam o respectivo processo. 
 
 
 
 
 
 
Com o propósito de imprimir celeridade na esfera da apuração administrativa, 
dispõe a norma, no que concerne ao processo administrativo, que o 
procedimento não será sobrestado para o fim de aguardar a decisão da ação 
penal ou civil, reafirmando a independência entre as esferas administrativa, civil 
e penal. 
 
§ 2a Não existindo no Município, no Estado ou na legislação 
militar normas reguladoras do inquérito administrativo serão 
aplicadas, supletivamente, as disposições dos arts. 219 a 
225 da Lei n. 1.711, de 28 de outubro de 1952 (Estatuto dos 
Funcionários Públicos Civis da União). 
§ 3a O processo administrativo não poderá ser sobrestado 
para o fim de aguardar a decisão da ação penal ou civil. 
DO PROCEDIMENTO PREVISTO NA LEGISLAÇÃO 
Em linhas gerais, o procedimento segue a seguinte estrutura: 
1) Oferecimento da denuncia pelo Ministério Publico ou, ação privada, no 
caso de inércia; 
2) Recebida a denuncia, o réu será citado para comparecer à audiência de 
instrução e julgamento; 
3) Qualificação e interrogatório do acusado; 
4) Oitiva de perito 
5) Oitiva de testemunhas de acusação; 
6) Oitiva de testemunhas de defesa; 
7) Debate oral 
8) Encerrado o debate, sentença imediatamente proferida pelo juiz. 
 
Art. 16. Se o órgão do Ministério Público não oferecer a 
denúncia no prazo fixado nesta Lei, será admitida ação 
privada. O órgão do Ministério Público poderá porém aditar a 
queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva e intervir 
em todos os termos do processo. interpor recursos e, a todo 
tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a 
ação como parte principal. 
Art. 17. Recebidos os autos, o juiz, dentro do prazo de 48 
(quarenta e oito) horas, proferirá despacho, recebendo ou 
rejeitando a denúncia. 
 § 1a No despacho em que receber a denúncia, o juiz 
designará, desde logo, diae hora para a audiência de 
instrução e julgamento, que deverá ser realizada, 
improrrogavelmente, dentro de 5 (cinco) dias. 
§ 2a A citação do réu para se ver processar, até julgamento 
final e para comparecer à audiência de instrução e 
julgamento, será feita por mandado sucinto que será 
acompanhado da segunda via da representação e da de-
núncia. 
Art. 18. As testemunhas de acusação e defesa poderão ser 
apresentadas em juízo, independentemente de intimação. 
Parágrafo único. Não serão deferidos pedidos de precatória 
para a audiência ou a intimação de testemunhas ou, salvo o 
caso previsto no art. 14, é, requerimentos para a realização 
de diligências, perícias ou exames, a não ser que o juiz, em 
despacho motivado, considere indispensáveis tais 
providências. 
Art. 19. A hora marcada, o juiz mandará que o porteiro dos 
auditórios ou o oficial de justiça declare aberta a audiência, 
apregoando em seguida o réu, as testemunhas, o perito, o 
representante do Ministério Público ou o advogado que 
tenha subscrito a queixa e o advogado ou defensor do réu. 
Parágrafo único. A audiência somente deixará de realizar-se 
se ausente o juiz. 
Art. 20. Se até meia hora depois da hora marcada o juiz não 
houver comparecido, os presentes poderão retirar-se, 
devendo o ocorrido constar rio livro de termos de audiência. 
Art. 21. A audiência de instrução e julgamento será pública, 
se contrariamente não dispuser o juiz, e realizar. se-á em dia 
útil, entre 1() (dez) e 18 (dezoito) horas, na sede do juízo ou, 
excepcionalmente, no local que o juiz designar. 
Art. 22. Aberta a audiência ojuiz fará a qualificação e o 
interrogatório do réu, se estiver presente. 
Parágrafo único. Não comparecendo o réu nem seu 
advogado, ojuiz nomeará imediatamente defensor para 
funcionar na audiência e nos ulteriores termos do processo. 
Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o juiz 
dará a palavra, sucessivamente, ao Ministério Público ou ao 
advogado que houver subscrito a queixa e ao advogado ou 
defensor do réu, pelo prazo de 15 (quinze) minutos para 
cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do juiz. 
Art. 24. Encerrado o debate, o juiz proferirá imediatamente a 
sentença. 
 
A este ponto, imperioso trazer à análise, a discussão doutrinária sobre a 
aplicação do rito do Juizado Especial Criminal. 
 
Nas palavras de Andreucci2 “desde a edição da Lei n. 9099/95, entendeu-se 
que a Lei de Abuso de Autoridade estava excluída da competência dos 
Juizados Especiais, à vista do disposto no art. 61, in fine, dessa lei, não 
obstante a sanção estabelecida para as figuras criminosas estabelecidas, isso 
porque a Lei de Abuso de Autoridade prevê rito próprio e especial, pelo que 
não caberia transação nem suspensão condicional do processo aos crimes 
nela tipificados.” 
 
Assim preconizava o Supremo Tribunal Federal: 
 
2
 Legislação Penal Especial. São Paulo: Saraiva 
 
 "A transação penal prevista na Lei dos Juizados Especiais 
Criminais é restrita às infrações penais de menor potencial 
ofensivo, sendo inaplicável aos processos por crime de 
abuso de autoridade sujeitos a procedimento especial 
previsto na Lei 4.898/65 " (STF — RT, 759/550). 
 
O tema foi absolutamente esclarecido, na lição de Damásio de Jesus3 quando 
afirma “ com a vigência da Lei n. 10.259/2001, foi adotado o entendimento de 
que, por não conter ela cláusula restritiva em virtude de procedimento especial, 
poderiam os crimes de abuso de autoridade ser considerados de menor 
potencial ofensivo, restando, dessa feita, ampliada ainda mais a competência 
dos Juizados Especiais Criminais.O parágrafo único do art. 2a da Lei 
10.259/01 derrogou também a parte final do art. 61 da Lei dos Juizados 
Especiais Criminais (Lei n. 9.099/95), ampliando a sua extensão. Em 
consequência, devem ser considerados delitos de menor potencial ofensivo, 
para efeito do art. 61 da Lei n. 9.099/95, aqueles aos quais a lei comine, no 
máximo, pena detentiva não superior a dois anos, ou multa, sem exceção.Em 
conclusão, suprimiu-se a exceção constante da parte final do art. 61 da Lei n. 
9.099/95, referente aos crimes com procedimento especial, de modo que, 
independentemente do rito, crimes de menor potencial ofensivo são todos 
aqueles aos quais a lei comine pena máxima não superior a dois anos, bem 
como todos aos quais seja cominada alternativamente a pena pecuniária, 
qualquer que seja a pena privativa de liberdade cominada, em abstrato. 
 
Regras básicas sobre competência: 
 
a) Aos crimes de abuso de autoridade aplicam-se as regras gerais de 
competência estabelecidas nos arts. 69 e s. do Código de Processo Penal. 
 
b) Ainda que praticado por militar, compete à Justiça Comum o processo e 
julgamento dos crimes de abuso de autoridade. Nesse sentido a Súmula 172 
do Superior Tribunal de Justiça: 
 
"Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por 
crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em 
serviço". 
 
"Policiais militares denunciados perante a Justiça Comum e 
Militar. Imputações distintas. Competência dn primeira para o 
processo e julgamento do crime de abuso de autori-dade, 
não previsto no Código Penal Militar, e da segunda para o de 
lesões corporais, porquanto os mesmos se encontravam em 
serviço de policiamento. Unidade de processo e julgamento 
excluída peia incidência do art. 79, I, do CPP" (STJ — RT, 
663/347). 
 
 
3
 Damásio de Jesus, A exceção do art. 61 da Lei dos Juizados Especiais Criminais em face da 
Lei n. 10.259, disponível em www.damasio.com.br 
Com a entrada em vigor da Lei n. 11.313, de 28-6-2006, nova redaçâo foi 
aplicada aos artigos 60 e 61 da Lei n. 9.099/95, soterrando, definitivamente, 
qualquer discussão sobre o conceito de crime de menor potencial ofensivo, 
restando pacificada a aplicação do rito do Juizado Especial Criminal, aos 
crimes de abuso de autoridade. 
 
TEXTO COMPLEMENTAR 
 
Projeto que muda a lei de abuso de autoridade. 
 
POR PRISCYLA COSTA4 
 
A autoridade que submeter pessoa sob sua guarda a constrangimento ou 
vexame poderá ser criminalmente processada e pegar até oito anos de prisão. 
É o que prevê minuta de projeto que altera a lei de abuso de autoridade, 
apresentada nesta quarta-feira (23/7) pelo presidente da Comissão de 
Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos 
Deputados, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), ao ministro da Justiça, Tarso 
Genro. 
O projeto foi apresentado uma semana depois de o presidente do Supremo 
Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, se reunir com o presidente da 
República, Luiz Inácio Lula da Silva, e defender as mudanças. A audiência teve 
a participação também de Tarso Genro. No encontro, Gilmar propôs alterações 
na legislação sobre abuso de autoridade depois dos vazamentos de conteúdo 
de gravações feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, e da 
“espetacularização” de operações de busca e apreensão feitas pela PF. 
Pelo projeto criado por Jungmann, o abuso será caracterizado quando a 
autoridade praticar, omitir ou retardar ato, no exercício da função pública, para 
prejudicar, embaraçar ou prejudicar os direitos fundamentais do cidadão 
garantidos na Constituição Federal, como, por exemplo, a liberdade individual, 
a integridade física e moral, a intimidade, a vida privada e a inviolabilidade da 
casa. 
A pena para quem praticar o crime de abuso de autoridade, de acordo com a 
proposta de Jungmann, é de quatro a oito anos de prisão e multa equivalente a 
24 meses de salário da autoridade. A lei atual — Lei 4.898, de 1965 — prevê 
pena de, no máximo, seis meses de prisão. 
O projeto de Jungmann destaca entre os principais casos de abuso de 
autoridade atos que violem a igualdade entre homens e mulheres;a integridade 
física e moral das pessoas, por meio da chamada “espetacularização” das 
operações; a razoável duração do processo e os meios que garantam a 
celeridade de sua tramitação. 
O texto prevê o enquadramento como abuso de casos como a ridicularização 
de inocentes, vulgarização e quebra de sigilo, ordem ou execução de medida 
privativa da liberdade individual sem as formalidades legais, entre outros 
pontos. Também será considerado abuso de autoridade fazer afirmação falsa 
em ato praticado em investigação policial ou administrativa, inquérito civil, ação 
civil pública, ação de improbidade administrativa ou ação penal pública. 
 
4
 Disponível em WWW.conjur.com.br, em 28/07/2008 
Jungmann considera o projeto uma “trincheira do cidadão”, para que ele tenha 
meios de se defender contra eventuais abusos estatais. A proposta, segundo 
deputado, permite ao cidadão entrar com uma ação na Justiça no caso de 
omissão da autoridade que investiga o caso de abuso de poder que não tome 
qualquer providência em 60 dias. “O próprio cidadão passa a ter o direito de 
entrar com uma ação contra qualquer autoridade”, explicou. 
O deputado não vê semelhanças da sua proposta a uma “lei da mordaça” para 
restringir a atuação de autoridades. Segundo ele, sua preocupação é garantir 
que não se use informações oficiais com má-fé. “Tenho a preocupação de 
evitar o conluio que possa haver entre determinados órgãos ou instituições, 
enfim, são amplas garantias constitucionais que estão aqui dentro [no projeto 
de lei] e que são favoráveis à atuação tanto da Procuradoria-Geral da 
República, dos procuradores que não terão em nada limitado o seu trabalho, 
como também da Polícia Federal”, afirmou. 
Jungmann disse que o ministro da Justiça vai estudar a proposta, e se possível 
fazer um projeto único para servir de base para um texto sobre o mesmo tema 
em elaboração no ministério. 
 
Leia a minuta do projeto 
 
PROJETO DE LEI de 2008 
Do Sr. Raul Jungmann 
 
Dispõe sobre a defesa dos direitos e garantias fundamentais nos casos de 
abuso de autoridade. 
Art. 1º O abuso de autoridade no exercício de função pública, em razão dela ou 
a pretexto de exercê-la é punido na forma desta Lei, quando praticado por 
agente público de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios. 
DO ABUSO DE AUTORIDADE CONTRA DIREITOS E GARANTIAS 
FUNDAMENTAIS 
Art. 2º Praticar, omitir ou retardar ato, no exercício de função pública, em razão 
dela ou a pretexto de exercê-la, com o intuito de impedir, embaraçar ou 
prejudicar o gozo de qualquer dos direitos e garantias fundamentais constantes 
do Título II da Constituição, em especial aqueles perpetrados contra: 
I — a igualdade entre homens e mulheres (art. 5º, inciso I, da Constituição); 
II — a liberdade individual (art. 5º, inciso II, da Constituição); 
III — a integridade física e moral da pessoa (art. 5º, inciso III, da Constituição); 
IV — a liberdade de pensamento, consciência, crença, culto e expressão (art. 
5º, incisos IV a IX, da Constituição); 
V — a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (art. 5º, 
inciso X, da Constituição 
VI — a inviolabilidade da casa, da correspondência e das comunicações 
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas (art. 5º, incisos XI e XII, 
da Constituição); 
VII — a liberdade de trabalho, ofício ou profissão (art. 5º, inciso XIII, da 
Constituição); 
VIII — o acesso de todos à informação, na forma da Constituição e da 
legislação (art. 5º, incisos XIV e XXXIII, da Constituição); 
IX — a liberdade de locomoção e de reunião (art. 5º, incisos XV e XVI, da 
Constituição); 
X — a liberdade de associação para fins lícitos (art. 5º, inciso XVII a XXI, da 
Constituição); 
XI — a propriedade e sua função social (art. 5º, incisos XXII a XXXI, da 
Constituição); 
XII — a promoção da defesa do consumidor, na forma da legislação pertinente 
(art. 5º, inciso XXXII, da Constituição), inclusive do usuário de serviços públicos 
(art. 37, § 3º, da Constituição); 
XIII — o direito de petição aos poderes públicos e a obtenção de certidões em 
repartições públicas (art. 5º, inciso XXXIV, da Constituição); 
XIV — o acesso ao Poder Judiciário e aos remédios constitucionais (art. 5º, 
incisos XXXV e LXVIII a LXXVII, da Constituição); 
XV — o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5o, inciso 
XXXVI, da Constituição); 
XVI — o devido processo legal e seus consectários, inclusive a presunção de 
inocência (art. 5º, incisos XXXVII a XLIV e LI a LXVII, da Constituição); 
XVII — a dignidade do condenado (art. 5º, incisos XLV a L, da Constituição); 
XVIII — a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade 
de sua tramitação (art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição): 
Pena — reclusão de quatro a oito anos e multa equivalente ao valor de dois a 
vinte e quatro meses de remuneração ou subsídio devido ao réu. 
§ 1º Consideradas as circunstâncias a que se refere o art. 59 do Código Penal, 
o juiz também poderá decretar: 
I — a perda do cargo, emprego ou função; e 
II — a inabilitação para o exercício de qualquer outro cargo, emprego ou função 
pelo prazo de até oito anos. 
§ 2º As penas cominadas neste artigo serão aplicadas autônoma ou 
cumulativamente de acordo com as regras dos arts. 59 a 76 do Código Penal. 
§ 3º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou 
militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada pena autônoma ou 
acessória de não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou 
militar no município da culpa, por prazo de até doze anos. 
§ 4º São também crimes de abuso de autoridade quaisquer atentados contra 
outros direitos e garantias decorrentes do regime e dos princípios adotados 
pela Constituição e tratados internacionais em que a República Federativa do 
Brasil seja parte (art. 5º, § 2º, da Constituição). 
DO ABUSO DE AUTORIDADE EM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS 
Art. 3º Nas mesmas penas incorre quem: 
I — ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as 
formalidades legais ou com abuso de poder; 
II — submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a 
constrangimento 
III — deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou 
detenção de qualquer pessoa; 
IV — deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que 
lhe seja comunicada; 
V — levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança 
permitida em lei; 
VI — cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, 
emolumentos ou qualquer outra despesa sem previsão legal, quer quanto à 
espécie, quer quanto ao seu valor; 
VII — recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de 
importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de 
qualquer outra despesa; 
VIII — lesar a honra ou patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando 
praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; 
IX — prolongar a execução de prisão cautelar qualquer, de pena ou de medida 
de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir 
imediatamente ordem de liberdade; 
X — empregar a força, salvo quando indispensável em razão de resistência ou 
tentativa de fuga do preso (Código de Processo Penal, art. 284); 
XI — atuar com inobservância da repartição de competências funcionais; 
XII — fazer afirmação falsa ou negar ou calar a verdade em ato praticado em 
investigação policial ou administrativa, inquérito civil, ação civil pública, ação de 
improbidade administrativa ou ação penal pública, que esteja sob sua 
presidência ou de que participe; 
XIII — deturpar o teor de dispositivo constitucional ou legal, de citação 
doutrinária ou de julgado, bem como de depoimentos, documentos e alegações 
(art. 34, inciso XIV, da Lei no 8.906, de 4de julho de 1994 – Estatuto da 
Advocacia); 
XIV — omitir-se na apuração dos abusos perpetrados por subordinados seus 
ou sujeitos ao seu poder correcional. 
DO CONCEITO DE AUTORIDADE 
Art. 4º Considera-se autoridade, para os efeitos desta Lei, o ocupante de cargo, 
função ou emprego público da Administração Pública direta, autárquica ou 
fundacional, o membro de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios, do Ministério Público ou da Defensoria 
Pública e o detentor de mandato eletivo. 
DO PROCESSO 
Art. 5º O direito de representação será exercido por meio de petição: 
I — dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à 
autoridade civil ou militar implicada, a respectiva sanção; 
II — dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar 
processo—crime contra a autoridade culpada. 
Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a 
exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as suas 
circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no máximo 
de três, se as houver. 
Art. 6º É facultado ao ofendido ou seu representante legal intervir, como 
assistente do Ministério Público, em todos os termos do inquérito policial e da 
ação penal (Código de Processo Penal, arts. 268 a 274). 
§ 1º Na hipótese de o Ministério Público não oferecer denúncia no prazo de até 
sessenta dias da ocorrência do fato, o assistente poderá intentar ação penal 
privada (art. 5º, inciso LIX, da Constituição). 
§ 2º No caso do § 1º, o Ministério Público atuará como custos legis. 
§ 3º A assistência a que se refere o caput também pode ocorrer em processo 
administrativo disciplinar, salvo nos casos de sigilo. 
Art. 7º Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a 
notificação do requerido para oferecer manifestação por escrito, que poderá ser 
instruída com documentos e justificações, dentro do prazo de quinze dias (Lei 
dos atos de improbidade, art. 17, § 7º). 
§ 1º Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta dias, em decisão 
fundamentada, rejeitará a ação, se convencido da inexistência do abuso de 
autoridade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita (Lei dos 
atos de improbidade, art. 17, § 8º). 
§ 2º Recebida a petição inicial, será o réu citado para apresentar contestação 
(Lei dos atos de improbidade, art. 17, § 9º). 
§ 3º Da decisão que receber a petição inicial, caberá agravo (Lei dos atos de 
improbidade, art. 17, § 10). 
§ 4º Em qualquer fase do processo, reconhecida a inadequação da ação, o juiz 
extinguirá o processo sem julgamento do mérito (Lei dos atos de improbidade, 
art. 17, § 11). 
§ 5º Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realizadas nos processos 
regidos por esta Lei o disposto no art. 221, caput e § 1º, do Código de 
Processo Penal (Lei dos atos de improbidade, art. 17, § 12). 
DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CÍVEIS 
Art. 8º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do 
abuso cometido e consistirá em: 
I — advertência; 
II — repreensão; 
III — suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a trezentos e 
sessenta dias, com perda de vencimentos e vantagens; 
IV — destituição de cargo comissionado ou função gratificada; ou 
V — demissão, a bem do serviço público. 
Parágrafo único. O processo administrativo não poderá ser sobrestado para o 
fim de aguardar a decisão da ação penal ou civil. 
Art. 9º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no 
pagamento de uma indenização de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 100.000,00 
(cem mil reais). 
Parágrafo único. Proferida a sentença condenatória, a União exercerá, no 
prazo de trinta dias, o seu direito de regresso contra o responsável (art. 37, § 
6o, da Constituição). 
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS 
Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 
Art. 11. Fica revogada a Lei no 4.898, de 9 de dezembro de 1965. 
 
Sala das Sessões, em de 2008. 
Deputado RAUL JUNGMANN 
PPS/PE 
 
JUSTIFICAÇÃO 
 
A Lei no 4.898, de 9 de dezembro de 1965, relativa ao abuso de autoridade, 
está defasada. Precisa ser repensada, em especial para melhor proteger os 
direitos e garantias fundamentais constantes da Constituição de 1988 (mais 
rica no particular do que a Constituição de 1946, vigente quando da 
promulgação da Lei no 4.898, de 1965), bem assim para que se possam tornar 
efetivas as sanções destinadas a coibir e punir o abuso de autoridade. 
Assim, o projeto de lei ora apresentado define como crimes de abuso de 
autoridade o praticar, o omitir e o retardar ato, no exercício de função pública, 
em razão dela ou a pretexto de exercê-la, com o intuito de impedir, embaraçar 
ou prejudicar o gozo de qualquer dos direitos e garantias fundamentais 
constantes do Título II da Constituição. Com isso, há evidente ganho de 
minúcia e rigor, o que vem a favor de uma tipificação mais exata de condutas, o 
que é essencial à boa técnica de elaboração de tipos penais (art. 2º). 
O projeto também atualiza os crimes de abuso de autoridade em situações 
específicas, mormente para coibir e punir condutas que escapem ao Estado de 
Democrático de Direito, ao pluralismo e à dignidade da pessoa humana (art. 
3º). 
Quanto aos aspectos processuais da matéria, o projeto permite que o ofendido 
ou seu representante legal acompanhem ou, até mesmo, assumam o 
pertinente processo administrativo ou judicial, se acaso as autoridades 
competentes para tanto não vierem a concorrer nos prazos próprios (art. 6º). 
Vale destacar que o projeto também se preocupa em não deixar a autoridade 
pública sujeita a feitos temerários, motivados por rixas ou disputas político-
partidárias. Para tanto, adota o bem sucedido mecanismo de defesa prévia 
havido nos processos de improbidade administrativa (art. 7º). 
Enfim, as multas e outras penas cominadas são redimensionadas para que 
venham a se tornar efetivas, ou seja, para que verdadeiramente concorram 
para coibir o abuso de autoridade ou para punir melhor aqueles que venham a 
constranger, com abuso de autoridade, o seu semelhante. 
É preciso acabar — de parte a parte — com a cultura do “você sabe com quem 
está falando?” Uma disciplina como a que consta do projeto não se assimila de 
uma hora para outra. Ao contrário. Veja-se: tão-só a sua premência já aponta 
para estágio ainda discreto de civilidade. É preciso mudar a cultura. Para tanto, 
nos primeiros passos, uma legislação de escopo pedagógico é imprescindível, 
ainda que – insista-se – a sua necessidade deponha menos a favor do grau de 
civilidade da sociedade do que se poderia desejar. 
Em razão do exposto, roga-se aos nobres pares apoio para o projeto de lei ora 
apresentado.

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