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MÉTODOS PARTICIPATIVOS PARA A AGRICULTURA FAMILIAR EM TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA Profa: Albejamere P. de Castro 1 Universidade Federal do Amazonas Faculdade de Ciências Agrárias Dep. De Ciências Fundamentais e Desenvolvimento Agrícola Disciplina: Comunicação e Transferência de Tecnologia Imagens: Núcleo de Socioeconomia, UFAM, 2008. 2 METODOLOGIA E MÉTODO Metodologia é o estudo dos métodos, ou as etapas a seguir num determinado processo. Tem como finalidade captar e analisar as características dos vários métodos disponíveis, avaliar suas capacidades, potencialidades e limitações (THIOLLENT, 2000). Definindo conceitos metodologia método 3 • Público alvo • Objetivos • Mensagem transmitida Métodos Método é o caminho pelo qual se atinge um objetivo de determinado trabalho. O método que devemos empregar ao transmitir uma tecnologia deve ser selecionado não em função da facilidade com que ele possa ser aplicado pelo extensionista, mas pela sua adequação ao público, aos objetivos e à mensagem que desejamos transmitir. A combinação de dois ou mais métodos e/ou técnicas podem ser utilizados para aumentar a eficiência na decodificação da mensagem. 4 Segundo Robert Chambers (1992), um especialista em desenvolvimento rural, nos anos 50 e 60 os países industrializados pensavam que desenvolvimento rural era fácil. Era só dispor de tecnologias “modernas” desenvolvidas na Europa e nos EUA e transferi-las para os produtores pobres que utilizassem técnicas ditas “primitivas”. Não funcionou! Técnicos e pesquisadores começaram a perceber que o “desenvolvimento rural não é fácil de se fazer”. Um pouco de história... BREVE HISTÓRIA DE METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS 5 Os “trabalhadores de desenvolvimento” verificaram que as novas tecnologias geradas e/ou introduzidas pelos diagnósticos não estavam sendo adotadas pelo público alvo. Isto porque estas tecnologias não eram consideradas apropriadas às condições reais os pequenos produtores. Geralmente, os especialistas não levavam em consideração os fatores socioeconômicos e culturais destas populações. Para superar estes desafios e dificuldades, nos anos 70 e 80, especialistas na África, Ásia e América Latina desenvolveram novas metodologias de pesquisa e extensão com a preocupação de conhecer melhor os sistemas agrícolas, utilizando uma abordagem sistêmica. Os problemas... 6 ANÁLISE SISTÊMICA: uma abordagem metodológica de pesquisa para a agricultura familiar A partir da década de 1950, diversas escolas de pensamento científico iniciaram o questionamento e a problematização do método mecanicista. Surgiu, desta forma, uma nova maneira de observar e compreender a relação do homem com a natureza. Essa nova abordagem recebeu várias denominações, entre as quais: análise sistêmica, análise de sistemas, abordagem sistêmica, análise estrutural, análise funcional. Imagens: Núcleo de Socioeconomia, UFAM, 2008. 7 A utilização da abordagem Sistêmica no estudo das comunidades rurais pode ser considerada como sendo resultado: da constatação da existência de uma importante diferenciação social no interior das sociedades agrárias. das conseqüências que essa situação acarretava para a concepção e promoção do desenvolvimento rural local (MORIN, 2004). Portanto... Imagens: Núcleo de Socioeconomia, UFAM, 2008. 8 Na abordagem sistêmica, a diferenciação dos agricultores é realizada em função de particularidades socioculturais, econômicos e ambientais, as quais influenciam a agricultura em determinado espaço geográfico. Partindo do pressuposto de que as políticas de desenvolvimento centradas em pacotes tecnológicos atendem aos interesses de apenas uma parcela dos agricultores. Constata-se a necessidade de identificar os diferentes agricultores e suas necessidades e limitações, antes de qualquer proposição de intervenção capaz de promover o desenvolvimento rural. 9 Várias definições de sistema são apresentadas por diferentes autores: Edgar Morin 2004, Enrique Leff 2006 e Cloves Cavalcanti, 1997, coincidem nos seguintes aspectos: a) ênfase à interação das partes constituintes do sistema; b) acrescentam o aspecto da organização; c) e incorporam a noção de totalidade. • Com base nessas contribuições, pode-se definir um sistema como sendo um conjunto de elementos em interação dinâmica, organizados em função de um objetivo. 10 • As unidades familiares podem ser identificadas como um sistema, com suas diversidades e inter- relações entre os componentes e o meio ambiente. • O produtor rural e sua família constituem a parte central deste sistema. • Essa concepção de unidade familiar rural numa abordagem sistêmica predispõe uma nova organização da pesquisa científica e técnica, mais voltada à promoção do desenvolvimento agrícola. •A percepção do agricultor quanto ao seu sistema de produção, já demonstra a inter-relação entre os componentes presente neste sistema. IV SEMPE, Michel Thiollent, 2001. 11 Desenho do Sr. Moacir, 54 anos, agricultor e morador do Lago de Araras, revela a percepção do componente sítio. No sítio estão presente as culturas (anuais, bianuais e perenes), casa do sítio (A) e a casa de farinha (B), nas margens do sítio estão os componentes roça (C), capoeira (D) e floresta (E). 12 A EXTENSÃO A extensão rural na perspectiva de uma extensão ativa e participativa deve ser executada mediante o uso de metodologias participativas. Os agentes sociais devem desempenhar um papel educativo, atuando como animadores e facilitadores de processos de desenvolvimento rural sustentável. Nesse contexto de mudança, o potencial endógeno das comunidades deve ser privilegiado com o intuito de resgatar e interagir com os conhecimentos dos agricultores familiares, estimulando o uso sustentável dos recursos locais. 13 METODOLOGIA PARTICIPATIVA A metodologia participativa capacita os atores, envolvendo-os na construção do projeto e no seu desenrolar, nas discussões e formas de atuação coletivas que potencializam o senso crítico; Cria condições que possibilitam melhor interação entre participantes da pesquisa ou extensão; Está associada a uma postura ética e visa um tipo de emancipação, com discussão e autonomia dos participantes. 14 METODOLOGIA DE PESQUISA-AÇÃO (PA) É definida como um tipo de pesquisa organizada de modo participativo, que visa junto com os atores sociais envolvidos identificar problemas, buscar soluções e implementar possíveis ações coletivas o objetivo da pesquisa-ação é resolver ou esclarecer os problemas identificados em situações observadas dentro das comunidades rurais. THIOLLENT, 2007 15 OS RESULTADO NA PA Descreve o modo de resolução de problemas concretos encontrados no decorrer da realização do projeto. Conhecimentos são validados pela experimentação durante a pesquisa-ação. Proporciona a formação de uma comunidade capacitada, com competências individuais e coletivas. Propõe novos questionamentos para pesquisas em estudos posteriores. FERRAMENTAS UTILIZADAS EM PA Visitas; Reuniões, Entrevistas individuais e coletivas; Observação participante; Diário de campo; História de vida (para o resgate do conhecimento); Unidades demonstrativas. DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS Folder; Cartilhas; Dia-de-campo; Palestra; Publicações e etc. 16 SAS (SISTEMA ABERTO SUSTENTÁVEIS) SAS => foi uma ação que teve como fundamentação a participação efetiva das comunidades rurais. O estudo foi realizado no Município de Manacapuru nas áreas lacustres denominadas de sistemas:lago Jacaré, lago Cururu e lago Grande. Objetivo => a co-gestão no manejo dos lagos e a melhoria da qualidade de vida Exemplificando... Para que esse processo se efetivasse foi necessário um conjunto de ações endógenas e exógenas de participação tais como: Diagnóstico e planejamento participativo; Definições de Unidades de Co-gestão (os lagos); Criação de uma institucionalidade participativa (p. ex. Conselho Local de Gestão); Formação continuada e integrada para gestão local (p. ex. Formação de agentes de Desenvolvimento Sustentável); Fortalecimento da sociedade civil (p. ex. Associações); 17 18 AGRICULTURA FAMILIAR A agricultura familiar se caracteriza como uma forma de organização da produção em que os critérios utilizados para orientar as decisões relativas à exploração não se restringem apenas a produção/rentabilidade econômica, mas, sobretuto, as necessidades e objetivos da família. MDA, 2008 A agricultura familiar é a principal responsável pela produção de alimentos do país. Witkoski,2007 Para isto os agricultores familiares realizam o planejamento e a organização social do trabalho, eliminando desperdícios, possibilitando a organização familiar. Diante disto, deve haver uma mudança de postura dos agentes envolvidos com a Assistência Técnica e de Extensão Rural na relação com os agricultores familiares. Essa mudança passa pela adoção de metodologias que contemplem os saberes tradicionais e que considerem a propriedade como um todo, sob a ótica da abordagem sistêmica. 19 20 A COMPOSIÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO TRADICIONAL NA AMAZÔNIA É constituída principalmente por: roça; capoeira; sítio ou quintal, criação de animal, extrativismo animal e vegetal, que fazem parte do sistema produtivo: A geração de produtos dependerá, fundamentalmente da quantidade de força de trabalho disponível Noda, Noda e Martins (2002) Cabe ressaltar, que o uso da abordagem sistêmica no estudo da agricultura familiar é eficaz, porque leva em consideração: - aspectos tecnológicos e/ou econômicos, - aspectos biológicos, - administrativos, sociais, - históricos e culturais - e principalmente os desejos, talentos e vocações dos agricultores para produzir alimento. A adoção dessa metodologia pelos agentes de assistência técnica e extensão rural poderá ser útil em trabalhos com a agricultura familiar. Morin, 2004 21 IV SEMPE, Michel Thiollent, 2001. 22 PESQUISA E EXTENSÃO EM SISTEMAS AGROFLORESTAIS - PESA A Pesa é uma metodologia interativa, participativa e dinâmica. Possui uma uma perspectiva multidisciplinar, que reconhece a influência do domínio agroflorestal na determinação do desenvolvimento sustentável. Alguns atributos: Uma abordagem integral – A propriedade é vista como um sistema integrado e interligado; Uma perspectiva dinâmica, interativa que busca solucionar problemas; Reconhece a importância do saber local Avalia as tecnologias por meios de ensaios nas unidades produtivas; Fornece um canal de “feedback” - através da comunicação; Não separa a pesquisa da extensão; 23 24 MÉTODOS PARTICIPATIVOS Na década de 80 surgiram as primeiras publicações com métodos participativos. Os principais métodos utilizados em pesquisa e extensão são: PD (Pesquisa - Desenvolvimento), DRP (Diagnóstico Rural Participativo) DPT (Desenvolvimento de Participativo de Tecnologia), PP (Planejamento Participativo). Estes métodos incluem como instrumento fundamental: as técnicas de diagnósticos que consideram o “conhecimento local”. VANTAGENS DOS MÉTODOS PARTICIPATIVO Permitem que a aprendizagem progressiva seja flexiva, exploratória, interativa e inventiva; Permitir aprender junto com as populações rurais, descobrir e usar os seus critérios e categorias, e encontrar, entender e apreciar conhecimento técnico local; Utilizam diferentes técnicas, fontes e disciplinas, junto com o uso de uma variedade de informantes, numa grande variedade de lugares. (CHAMBERS, 1992). Thiollent, 2001. 25 PD (PESQUISA – DESENVOLVIMENTO) Princípios básicos da abordagem de PD: 1- Considerar a diferença social na sociedade agrária e a necessidade de identificar grupos homogêneos para desenvolver soluções apropriadas; 2- Aborda o enfoque sistêmico; 3- Tenta compreender e explicar os fenômenos observados, assim como as estratégias dos agricultores. OS PASSOS DA PD Observação do meio e diagnóstico da situação; Formulação de hipóteses e técnicas organizacionais; Definição de um protocolo de intervenção ou experimentação; Realização das obrigações previstas no protocolo e observação; Avaliação e interpretação dos resultados; Difusão dos resultados. 26 DRP (DIAGNÓSTICO RURAL PARTICIPATIVO) É um processo participativo de levantamento e sistematização de informações sobre determinada realidade. Formam as bases para o desenho de projetos de pesquisa e extensão. Objetivos: Levantar a situação atual vivida por um grupo ou comunidade. Garantir a participação efetiva e representatividade dos vários segmentos (mulheres, jovens e idosos). Subsidiar discussões e futuros planejamentos. Ferramentas utilizadas em DRP 27 Entrevistas Semi-estruturadas; Mapas mentais; Matrizes históricas; Rotinas diárias; Calendário Sazonal; Matrizes de problemas; Matrizes de priorização; Fortalezas, oportunidades, fraquezas e ameaças - FOFA Exemplo: Os sub-programas do Programa Fome zero HORTA COMUNITÁRIA: PROGRAMA DE GERAÇÃO DE RENDA E MELHORIA DA QUALIDADE DE ALIMENTAÇÃO DE COMUNIDADES RURAIS SUBPROJETO 04 OBJETIVOS • Introdução de horta comunitária • Estimular o consumo de hortaliças ATIVIDADES • Realização de mini-cursos • Confecção de unidade demonstrativa • Visitas Técnicas • Palestras sobre uso de agrotóxicos • Palestras sobre valor nutricional das hortaliças METAS • Geração de renda e segurança alimentar • Estimular a realização de atividades pedagógicas nos tratos das hortaliças 30 DPT (DESENVOLVIMENTO PARTICIPATIVO DE TECNOLOGIA) É uma interação entre profissionais externos (facilitadores) e a população rural. A CONTRIBUIÇÃO MAIS IMPORTANTE DO DPT O desenvolvimento de um método para experimentação conjunta com agricultores para a geração de um “terceiro conhecimento”. Dá importância ao saber local; Compreende o fato de que as inovações podem ter diferentes fontes e de que essas fontes podem ser também os agricultores, dando importância ao potencial dos experimentos realizados pelo agricultor. A PRÁTICA DE DPT SEGUE OS SEGUINTES PASSOS: Identificar agricultores ativos locais que são experimentadores para estudar como eles executam seus próprios experimentos; Os pesquisadores devem facilitar uma discussão sistemática e a tomada de decisão pelos agricultores interessados; Grupos de agricultores-experimentadores são formados; Troca de resultados, idéias e de métodos de experimentação dos agricultores, por meio da extensão, de agricultor para agricultor. Ex. de projeto que utilizou o DTP=> Adubo da independência. 31 Produção de Hortaliças em comunidades do AGROFAM – Amazonas (2005) 33 PP – PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO Objetivos: Garantir a participação efetiva e representatividade dos envolvidos no projeto. Ferramentas: Análise de envolvidos. Contrato de parcerias. Matriz de impacto. Planilha de atividades, Matriz de Planejamento do Projeto, Plano operacional. (monitoria, avaliação e replanejamento).Identificação Formulação Exame de compromisso Monitoria Implantação Avaliação O Programa RS Rural Foi realizado anos de 1999 a 2002, constituiu-se em um grande processo de planejamento participativo, financiando projetos integrados de desenvolvimento comunitário definidos e implementados por milhares de comunidades rurais no Rio Grande do Sul. A articulação entre práticas de caráter coletivo e individual adequada à realidade de cada comunidade. 35 AS TÉCNICAS PARA EXTENSÃO RURAL PODEM SER DE CARÁTER: individuais: Objetivam atingir as pessoas individualmente. Ex.: contato, entrevista, visita. Grupais: Objetivam atingir as pessoas em grupo sem, contudo, afetar a relação público - extensionista. Ex.: curso, dia-de-campo ou dia especial, palestra, reunião, encontro, excursão, seminário, conferência. Massais: Visa atingir as pessoas em massa, isto é, um número indeterminado de pessoas. Ex.: cartaz, folheto, folder, rádio, televisão, jornal, campanha, exposição. Não podemos deixar de mencionar que o interesse pela pesquisa participativa voltada para a ação, recebeu influência de métodos utilizados nas ciências sociais, principalmente, o enfoque pedagógico empregado e experimentado por Paulo Freire ainda nos anos de 1960. Foi no final da década de 70 que iniciou-se uma discussão sobre a revisão dos pressupostos da extensão e da comunicação rural na transferência de tecnologia. •Tratava-se da discussão e valorização de proposta lançada em 1968, pelo educador brasileiro Paulo Freire. •Freire (1983) questionava o modelo de transferência de informações orientava a prática extensionista brasileira. Comunicação e transferência de tecnologia Na comunicação não há sujeitos passivos e, portanto, não deve ser informativa e muito menos persuasiva. 36 A concepção neste modelo era fundamentada numa visão distorcida do homem e do mundo e das relações homem/mundo => a concepção teórica mecanicista, unidirecional, autoritária. A comunicação no modelo difusionista 37 O modelo humanizador da comunicação descrito por Friedrich (1988). 38 39 O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO SEGUNDO PAULO FREIRE Para Freire o processo deve ser dialógico entre extensionistas e agricultores, de forma a permitir a reciprocidade na troca de conhecimentos e não, apenas, a transmissão de informações. 40 EXERCÍCIO PARA FIXAÇÃO 1) Qual é a importância dos métodos participativos na transferência de tecnologia para a agricultura familiar? 2) Como a comunicação contribui para a utilização de métodos e técnicas em extensão rural? 3) Quais são as principais metodologias participativas utilizadas em trabalhos de pesquisa e extensão em comunidades rurais?
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