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Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE Centro de Engenharias e Ciências Exatas - CECE Apostila de Caracterização e Dinâmica da Partícula Prof. Marcos Moreira Toledo – PR 2014 SUMÁRIO 1. CARACTERIZAÇÃO DA PARTÍCULA 1 1.1 Algumas Definições para Partículas 2 1.2 Algumas Definições para um Conjunto de Partículas (Leitos) 6 1.3 Análise Granulométrica 8 1.4 Distribuições de Tamanhos 10 1.5 Pipeta de Andreasen 13 2. DINÂMICA DA PARTÍCULA 14 2.1 Efeito da Presença de Fronteiras Rígidas 17 2.2 Influência da Concentração de Partículas 17 BIBLIOGRAFIA 21 PROF. DR. GIULIO MASSARANI – UM BREVE HISTÓRICO 22 Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 1 1. CARACTERIZAÇÃO DA PARTÍCULA A caracterização da partícula ou de um conjunto de partículas é algo de extrema importância nas operações unitárias, pois conhecendo-se a partícula (ou o conjunto de partículas) é possível dimensionar e operar equipamentos mais próximo ao ideal, o que acarreta em menores custos no processo. Quanto ao tamanho as partículas podem ser classificadas em: - pós (partículas de 1m a 0,5mm) - sólidos granulares (de 0,5mm a 10mm) - blocos pequenos (1 a 5cm) - blocos médios (5 a 15cm) - blocos grandes (maiores do que 15cm) O tamanho da partícula pode ser obtido por diversos meios: diretamente ou microscopia, por picnometria, por peneiramento, decantação, elutriação ou centrifugação. A picnometria consiste basicamente em se colocar N partículas (com tamanhos próximos) em um picnômetro. Conhecendo-se o volume total do picnômetro, completa-se o picnômetro com um líquido cuja massa específica seja conhecida. Sabendo a diferença de massa entre o picnômetro com as partículas e o líquido e o picnômetro apenas com as partículas, determina-se a massa de líquido utilizada e por conseguinte, o volume utilizado de líquido. Conhecendo-se o volume total do picnômetro determina-se o volume ocupado pelas N partículas e assim, o volume ocupado por cada partícula. Assumindo que as partículas sejam esféricas, determina-se então o diâmetro equivalente da partícula (dP). O peneiramento consiste em fazer a partícula passar através de malhas progressivamente menores, até que ela fique retida. O tamanho da partícula estará compreendido entre a medida da malha que a reteve e a da imediatamente anterior. A média aritmética das aberturas destas malhas servirá para caracterizar o tamanho da partícula. A decantação e a elutriação são métodos indiretos que se baseiam na medida da velocidade de decantação da partícula num fluido. Conhecendo- se a relação entre a velocidade da partícula e o seu tamanho será então determinado o tamanho da partícula. O método de centrifugação, também indireto, obedece ao mesmo princípio da decantação, porém a força gravitacional é substituída por uma força centrífuga cujo valor pode ser bastante grande. É útil principalmente quando as partículas são muito pequenas, sendo por isso de decantação natural muito lenta. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 2 1.1 Algumas Definições para Partículas Seja D o tamanho característico da partícula, obtido por qualquer um dos métodos anteriores. Esta dimensão será o diâmetro, mesmo que a partícula não seja esférica. As características importantes do material poderão ser calculadas como segue: 1.1.1 Superfície externa da partícula (SP) 2 P B.DS (1) O valor do parâmetro B depende da forma da partícula. Para cubos é igual a 6 e para esferas vale . 1.1.2 Volume da Partícula (VP) 3 P C.DV (2) O parâmetro C também depende da forma, sendo igual a 1 para partículas cúbicas e /6 para partículas esféricas. 1.1.3 Fator de forma () e fator de forma de Leva (L) C B (3a) 3/22/3 P P L C B 25,0 V S 25,0 (3b) O fator de forma é igual a 6 para cubos e esferas, sendo maior para partículas irregulares. Muitos produtos de operações de moagem têm fator de forma igual a 10,5. Para materiais pulverizados varia de 7 a 8 e, para partículas laminares de mica, é igual a 55. O fator de forma de Leva é utilizado para calcular a perda de carga de fluidos através de leitos sólidos porosos ou fluidizados. 1.1.4 Número de partículas da amostra (N) Sendo m a massa da amostra e a massa específica do sólido, o número de partículas será: Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 3 .C.D m N 3 (4) 1.1.5 Superfície externa total (ST) D. m. B.D .C.D m N.SS 2 3PT (5) 1.1.6 Superfície específica (SW) D.m S S TW (6) 1.1.7 Diâmetro equivalente (dP) É o diâmetro da esfera com volume igual ao volume da partícula. 3/1 P P 6.V d (7) 1.1.8 Diâmetro de peneira (d#) É a média aritmética entre a medida da malha que reteve a partícula e a da malha imediatamente anterior. 1.1.9 Diâmetro de Stokes (dSt) É o diâmetro definido relativo ao escoamento laminar de uma esfera em ReD<0,1 a partir de um balanço de forças no instante em que a força resultante é nula. Sabendo-se então que o peso da partícula deve ser igual à soma do empuxo com a força de resistência, tem-se: .g.VP PS (8) .g.VE P (9) tSt 2 tD d .vd...3 2 .A.v.C F (10) D D Re 24 C (11) (para ReD<0,1) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 4 .d.v ReD (12) dFEP (13) )g( .v18. d S t St (14) onde viscosidade do fluido massa específica do fluido S massa específica do sólido g aceleração da gravidade vt velocidade terminal CD coeficiente de arraste ReD número de Reynolds da partícula 1.1.10 Diâmetro médio de Sauter (D ) Considere que as partículas de um dado material apresentem os fatores B e C e a massa específica constantes independentemente do tamanho das partículas. Sabendo que: m dD dD dN B.D S 0 2 W (15) e dD dX .C.D m dD dN 3 S (16) então S W .DC. B S (17) e o diâmetro médio de Sauter é dado por: Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 5 SW .C.S B D (18) Esse diâmetro também é dado por: 1 0 .dD dD dX . D 1 1 D (contínua) (19) para uma distribuição contínua, e por: n 1i i i D X 1 D (discreta) (20) para uma distribuição discreta, onde: iX fração contida em determinada peneira iD média aritmética dos tamanhos das peneiras i-1 / i 1.1.11 Esfericidade() A esfericidade expressa a forma de uma partícula independente de seu tamanho. É a razão entre a área superficial da esfera de mesmo volume que a partícula e a área superficial da partícula. PP P .Sd 6.V (21) A esfericidade pode ser determinada através da medida da superfície específica que pode ser feita por diferentes técnicas como o BET, a permeametria e por meio da difusão de Knudsen. Seja dP a dimensão característica da partícula. A equação (17) toma a forma: SP W .DC. B S (21a) onde B=/ e C=/6, portanto, Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 6 SPW .D.S 6 (21b) Uma forma simples e rápida de se fazer uma estimativa sobre a esfericidade de uma partícula é dividir a menor dimensão pela maior dimensão. 1.1.12 Relações entre dP, d# e dSt Para partículas com um “certo grau de uniformidade” (isométricas aquelas que apresentam 3 eixos perpendiculares entre si, como a esfera, o cubo e o tetraedro regular) pode-se considerar que: 0,065 log.843,0 d d P St (22) e de modo mais amplo, K d d P # (23) O valor de K varia em função do material. Para a areia, por exemplo, o valor é de 0,97. Para uma partícula esférica dSt=dP. 1.2 Algumas Definições para um Conjunto de Partículas (Leitos) 1.2.1 Porosidade () A porosidade é a razão entre o volume de vazios de um leito e o volume total do leito, ou seja total sólidostotal total vazios V VV V V (24) 1.2.2 Saturação de Líquido () A saturação de líquido é a razão entre o volume ocupado pelo líquido no leito e o volume de vazios, ou seja Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 7 vazios Líquido V V (25) Uma outra forma de se apresentar a quantidade de líquido em um leito é o “Liquid Holdup” (Lh), que nada mais é do que uma pequena modificação da saturação de líquido. Esse parâmetro é a razão entre o volume de líquido no leito e o volume total do leito, sendo dado por: . V V L total Líquido h (26) 1.2.3 Densidade Aparente do Leito (a) A densidade aparente é a razão entre a massa total do leito pelo seu volume. Se no leito existir partículas sólidas juntamente com gás e líquido tem-se que: LGS LGS LGS a ..).1.().1( VVV mmm (27) 1.2.3 Permeabilidade do Leito (k) A permeabilidade é um parâmetro que indica a facilidade que um fluido terá para percolar um determinado leito de partículas. A permeabilidade é dada por: 2 32 P )-150.(1 d. k (28a) ou por 22 WS 3 )-.(1).S( .22,0 k (28b) Conhecendo-se , S e PD , pode-se calcular SW a partir da equação (21b) e a permeabilidade a partir da equação (28b) conhecendo-se a porosidade. Assim, com uma simples análise de peneiras e com valores de massa específica do material, porosidade e esfericidade é possível se determinar os valores de grandezas da importância da superfície específica e da permeabilidade. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 8 1.3 Análise Granulométrica É o método que consiste em se passar o material através de uma série de peneiras com malhas progressivamente menores, cada uma das quais retém uma parte da amostra. Esta operação é aplicável a partículas entre 7cm e 40m. Todavia, abaixo de 80m o peneiramento já é insatisfatório. O material retido em cada peneira é pesado separadamente, sendo a sua quantidade relacionada com a abertura da malha que o reteve. Existem diversas séries de peneiras, mas a mais utilizada no Brasil é a série Tyler (veja a Tabela 1). Ela consta de catorze peneiras e tem como base uma peneira de 200 malhas por polegada (200 mesh), feita com fios de 0,053mm de espessura, o que dá uma abertura livre de 0,074mm. As demais peneiras da série e que são colocadas acima desta durante o ensaio, apresentam 150, 100, 65, 48, 35, 28, 20, 14, 10, 8, 6, 4 e 3 mesh respectivamente. Quando se passa de uma peneira para a imediatamente superior a área da abertura é multiplicada por dois e, portanto, o lado da malha é multiplicado por 2 . Tabela 1. Peneiras da Série Tyler Padrão. Abertura Livre Malha (mm) 3 6,680 4 4,699 6 3,327 8 2,362 10 1,651 14 1,168 20 0,833 28 0,589 35 0,417 48 0,295 65 0,208 100 0,147 150 0,104 200 0,074 Os resultados de uma análise granulométrica podem ser apresentados na forma de tabelas ou gráficos. A Tabela 2 é a análise granulométrica diferencial (AGD) do material e a Tabela 3 é a análise granulométrica acumulada de grossos ou retidos (AGAR) e a análise granulométrica acumulada de finos (AGAF). Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 9 Tabela 2. Análise granulométrica diferencial (AGD). Peneiras Abertura Di(mm) iD (mm) Fração i-1 / i iX 4 4,699 6 3,327 4,013 4/6 0,0251 8 2,362 2,844 6/8 0,1250 10 1,651 2,006 8/10 0,3207 14 1,168 1,410 10/14 0,2570 20 0,833 1,000 14/20 0,1590 28 0,589 0,711 20/28 0,0538 35 0,417 0,503 28/35 0,0210 48 0,295 0,356 35/48 0,0102 65 0,208 0,252 48/65 0,0077 100 0,147 0,178 65/100 0,0058 150 0,104 0,126 100/150 0,0041 200 0,074 0,089 150/200 0,0031 panela < 0,074 <0,074 - 200 0,0072 O valor de iX é a razão entre a massa retida na peneira i e a soma da massa retida em todas as peneiras. Tabela 3. Análise granulométrica acumulada (AGA). Peneiras Abertura Di(mm) Fração Acumulada Retida iX-1 (AGAR) Fração Acumulada de finos iX (AGAF) 4 4,699 0,0000 1,0000 6 3,327 0,0251 0,9749 8 2,362 0,1501 0,8499 10 1,651 0,4708 0,5291 14 1,168 0,7278 0,2721 20 0,833 0,8868 0,1131 28 0,589 0,9406 0,0594 35 0,417 0,9616 0,0384 48 0,295 0,9718 0,0282 65 0,208 0,9795 0,0205 100 0,147 0,9853 0,0143 150 0,104 0,9894 0,0106 200 0,074 0,9925 0,0075 - 200 - 1,0000 0,0000 Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 10 O valor de iX-1 é dado por: i21i X...XXX-1 (29) 1.4 Distribuições de Tamanhos 1.4.1 Gates-Gaudin-Schumann (GGS) m k D X (30) 1-m k D k m dD dX (31) onde Dk, m>0 e k=D100. Para a determinação de m basta plotar ln(X) versus ln(D), pois: m.ln(k)-m.ln(D)ln(X) (32) O coeficiente angular da reta representada pela equação (32) dará o valor de m. Para m=1 a distribuição é uniforme. Nos casos usuais m>1. Para D pequeno recai na distribuição RRB. 1.4.2 Rosin-Rammler-Bennet (RRB) n)-(D/D'e1X (33) n)(D/D'- 1n e. D' D D' 1 dD dX (34) onde n>0 e D’=D63,2. Para a determinaçãode n basta plotar ln(D) versus ln[ln(1/(1-X))], pois: )n.ln(D'-n.ln(D) X-1 1 lnln (35) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 11 O coeficiente angular da reta representada pela equação (35) dará o valor de n. Quando n>1 verifica-se a forma de “S” para a função representada pela equação (33). O valor de D para (dX/dD)max e n>1 é dado por: 1/n (dX/dD) n 1-n D'D max (36) 1.4.3 Log-Normal (LN) 2 erf(Z)]1[ X (37); )ln(2 )D/Dln( Z 50 (38) ...7.3! Z 5.2! Z 3.1! Z -Z 2 )duexp(-u 2 erf(Z) 753Z 0 2 (39) )ln( D2 )exp(-Z dD dX 2 (40) 1 D D D D 15,866 50 50 84,134 (40a) A reta na representação gráfica é feita com ln(D) em função de X. Para =1 todas as partículas têm o mesmo diâmetro. O valor de D para (dX/dD)max é dado por: 2 max )-(ln 50(dX/dD) .eDD (41) Frare et al. (2000) propuseram uma metodologia para a obtenção do diâmetro médio e do desvio-padrão da distribuição LN. Através dessa metodologia faz-se a regressão linear de ln(D) em função de z que é dado de acordo com o domínio de X segundo as equações abaixo. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 12 para 0X0,5 2X 1 t (41a) 32 2 ftetdt1 ctbta tz (41b) para 0,5<X1,0 2X-1 1 t (41c) 32 2 ftetdt1 ctbta -tz (41d) Os valores das constantes são: a=2,51557;b=0,802853;c=0,010328;d=1,432788;e=0,189269;f=0,001308 A equação utilizada na regressão é dada por: zln(D) (41e) Tendo sido determinados o coeficiente angular e o coeficiente linear, são obtidos D50 e por: )exp(D50 (41f) )exp( (41g) 1.4.4 O diâmetro médio de Sauter a partir das diferentes distribuições Conhecido o modelo de distribuição que melhor representa uma amostra, o diâmetro médio de Sauter pode ser calculado através das seguintes expressões do Quadro 1: Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 13 Quadro 1. Equações para o diâmetro médio de Sauter. Modelo Diâmetro médio de Sauter GGS m 1).k-(m D (42) RRB n 1 -1 D' D (43) 0 1m dtet tm (43a) LN 250 )(ln 2 1 -.expDD (44) 1.5 Pipeta de Andreasen O peneiramento tradicional é desaconselhado, por falta de precisão, na análise granulométrica de partículas menores que cerca de 70m (abertura da peneira Tyler n o 200: 74m). Neste caso recomenda-se vivamente o emprego da Pipeta de Andreasen que conduz, de um modo simples, confiável e pouco oneroso à distribuição de tamanhos expressa em termos do diâmetro da esfera que tem a mesma velocidade terminal que a partícula no movimento lento (regime de Stokes): dSt. A caracterização do diâmetro através de seu comportamento dinâmico é particularmente interessante no estudo do sedimentador, da câmara de poeira, do ciclone, da centrífuga e do precipitador eletrostático. Estabelece-se uma relação entre a concentração da suspensão medida num determinado instante de tempo em um plano de referência da proveta e a fração em massa das partículas (X) com diâmetro menor que dSt, ou seja: c(0) c(t) )X(dSt (45) onde c(0) está diretamente relacionado com a massa total para preencher a proveta. Essa técnica pode ser aplicada na faixa aproximada de 3m a 70m. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 14 2. DINÂMICA DA PARTÍCULA Seja uma partícula de massa m, volume V e densidade S movendo-se com velocidade v (velocidade do centro de massa da partícula) em um fluido de densidade . Seja u a velocidade do fluido. A equação do movimento da partícula é dada por: dS F.b)V.( dt dv m (46) onde “b” é a intensidade do campo exterior e “Fd” é a força resistiva que o fluido exerce sobre a partícula (não inclui o empuxo!). No campo gravitacional b=g (g aceleração da gravidade) e no campo centrífugo b=2.R ( velocidade angular da partícula; R distância da partícula até o centro da curvatura). Admitiremos que a partícula apresente um “certo grau de uniformidade” em sua forma, tornando aceitáveis as seguintes suposições: a) A posição relativa partícula-fluido não afeta o valor da força resistiva Fd; b) dF tem a direção da velocidade relativa vu . u é a velocidade do fluido e v é a velocidade da partícula. Dentro destas hipóteses, v-u )v-u( .v-u..CA. 2 1 F 2 Dd (47) onde CD é o coeficiente de arraste da partícula e A é uma área característica da partícula dada por: 4 .d A 2 P (48) A medida da velocidade terminal vt leva à determinação experimental do coeficiente de arraste CD, pois a partir das equações (46)-(48) para dv/dt=0 tem-se que: Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 15 2 t SP D v g).(d . 3 4 C (49) Verifica-se que CD é uma função do número de Reynolds e da esfericidade da partícula. As relações CD.Re 2 e CD/Re são de grande interesse neste estudo pois não utilizam U e nem dP respectivamente. Estas relações são dadas por: 2 S 3 P2 D b)..(.d . 3 4 ReC (50) 32 SD U b)..( . 3 4 Re C (51) onde v-uU (51a) e U..d Re P (51b) A seguir são apresentadas algumas relações para partículas esféricas e isométricas. partícula esférica isolada para Re<50.000 1/0,63 0,63 0,63 D 0,43 Re 24 C (52) -1/0,95 -0,95/2 2 D -0,95 2 D 43,0 ReC 24 ReC Re (53) 1/0,88 0,88 D 0,88/2 D Re/C 43,0 Re/C 24 Re (54) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 16 partícula isométrica isolada para Re<50.000 e 0,65<<1 1/0,85 0,85 2 0,85 1 D K Re.K 24 C (55) -1/1,2 -1,2/2 2 2 D 1,2- 2 D1 K ReC 24 Re.CK Re (56) 1/1,3 1,3 D 2 1,3/2 D1 Re/C K Re/CK 24 Re (57) 0,065 log.843,0K1 (58) .88,431,5K2 (59) Quadro 2. Correlações para a partícula isométrica isolada. Regime de Stokes Re<0,5 Regime de Newton 1.000<Re<50.000 Re.K 24 C 1 D (60) 2D KC (61) .18 b)..(K.d U S1 2 P (62) 2 PS .K3 b.d).(4 U (63) b)..(K U..18 d S1 P (64) b).(4 .K3.U d S 2 2 P (65) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 17 2.1 Efeito da Presença de Fronteiras Rígidas Quando a partícula se movimenta em fluido com sua velocidade terminal, essa velocidade pode variar dependendo da distância que a partícula se encontra da parede mais próxima. A partir disso, define-se o parâmetro kP dado por: v v k tP (66) onde v é a velocidade da partícula isolada e vt é a velocidade da partícula em uma dada condição de distância da parede. As relações abaixo servem para determinar kP para partículas isométricas com 0,65<<1 e 0<DP/Dt0,5. Quadro 3. Correlações para kP. Re<0,1 4 P .475,01 1 k (67) 0,1< Re<1.000 BP A.Re1 10 k (68) 2,79e.91,8A (68a) .281,000117,0B (68b) Re>1.000 5,1 P 1k (69) v..d Re P (70) t P D d (71) onde Dt é o diâmetro do tubo. 2.2 Influência da Concentração de Partículas A velocidade terminal de uma partícula é influenciada pela presença de outras: um aumento na concentração da suspensão acarreta uma redução nesta velocidade, fato importante no estudo da separação sólido-fluido. A clássica correlação proposta por Richardson e Zaki é válida para porosidades inferiores a 75%, Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 18 n t .vv (72) ou n.vU (72a) onde v é a velocidade terminal da partícula isolada, é a porosidade e vt é a velocidade terminal de uma partícula não isolada. U está definido na equação (51a). Quadro 4. Valores de n da equação (72) para partículas arredondadas. Re<0,2 65,3n (73) 0,2< Re<1 1.Re35,4n -0,03 (74) 1< Re<500 1.Re45,4n -0,1 (75) Re>500 39,1n (76) Na sedimentação, vt da equação (72) é a velocidade da frente de sedimentação. Conhecendo-se os diferentes valores de vt para diferentes concentrações de um material A é possível de se realizar uma regressão linear a partir da equação (72), onde: )vln()ln(n)ln(vt (73) e determinar v. Com v entra-se na equação (51) e calcula-se CD/Re, o qual por sua vez, conhecendo-se a esfericidade da partícula, serve de entrada para a equações (57) ou (54) para se obter o valor de Re. Com Re entra-se na equação (51b) e calcula-se então o diâmetro das partículas na suspensão em análise. No transporte pneumático ou hidráulico vertical a equação (72a) também serve de base para se estimar a porosidade na operação. Seja A a área transversal do transportador, QF a vazão volumétrica superficial de fluido e QS a vazão volumétrica superficial de sólido. Sendo U dado pela equação (51a) tem-se que: A Q u F (74) A)1( Q v S (75) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 19 logo nSF A)1( Q A Q v 1 v v-u v U (76) Assim resolvendo a equação: nSF A)1( Q A Q v 1 (77) é possível determinar o valor da porosidade () do leito. Serão necessárias informações sobre o diâmetro e sobre a esfericidade da partícula, pois com essas informações calcula-se CD.Re 2 , depois Re e depois v que será utilizado na equação (77). Baseados na equação (72) Michael e Bolger desenvolveram um método que permite a caracterização de partículas floculadas (diâmetro e massa específica médios, grau de floculação e velocidade de sedimentação dos flocos). Uma vez determinada experimentalmente a velocidade de sedimentação da suspensão v a diferentes concentrações co, os parâmetros desejados podem ser estimados através do seguinte sistema de equações: 4,65ok.c1.vv (78) .18 )..(D v FL 2 FL g (79) S S FL k. (80) onde v – velocidade de sedimentação da interface lodo-líquido clarificado no ensaio em batelada; v – velocidade terminal do floco à diluição infinita; k – volume de flocos por unidade de massa de sólido seco (fornece o grau de floculação); co – concentração em massa de sólido seco por unidade de volume de suspensão; Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 20 DFL – diâmetro médio dos flocos; FL – massa específica dos flocos; – massa específica do fluido; S – massa específica do sólido seco; g – aceleração da gravidade; – viscosidade do fluido. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 21 BIBLIOGRAFIA MASSARANI, G. Alguns Aspectos da Separação Sólido-Fluido. Programa de Engenharia Química COPPE/UFRJ - Rio de Janeiro, 1992. MASSARANI, G. Fluidodinâmica em Sistemas Particulados Editora UFRJ – Rio de Janeiro, 1997 MASSARANI, G. Problemas em Sistemas Particulados Editora Edgard Blucher – São Paulo, 1984 Frare, L. M; Gimenes, M. L; Pereira, N. C.; Mendes, E. S. Linearização do modelo log-normal para distribuição de tamanho de partículas. Acta Scientiarum 22(5):1235-1239, 2000. ISSN 1415-6814. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 22 PROF. Dr. GIULIO MASSARANI – UM BREVE HISTÓRICO Giulio Massarani nasceu em Roma, em 16 de dezembro de 1937. Filho de judeus italianos, era o caçula dos três irmãos e veio com a família da Itália para o Rio de Janeiro com cerca de um ano e meio de idade, por causa da perseguição aos judeus. Formou-se em Engenharia Química e em Química Industrial pela Escola Nacional de Química da Universidade do Brasil, atual UFRJ. É mestre pela Universidade de Houston, Texas, e Doutor pela Universidade Paul Sabatier, em Toulose, na França. Toda sua vida profissional foi vinculada à COPPE, no Programa de Engenharia Química, do qual fez parte desde a sua criação. Orientou 56 dissertações de mestrado e 26 teses de doutorado. Publicou mais de 200 trabalhos técnicos em revistas científicas, é autor de 20 livros e publicações didáticas. Formou doutores que criaram cursos de pós-graduaçãoem vários estados do país. Seu trabalho teve grande repercussão nos cursos de engenharia química de muitas universidades brasileiras. Ele também colaborava de forma permanente com instituições de ensino e pesquisa na França, Estados Unidos e Chile. Massarani foi agraciado com vários prêmios durante sua vida acadêmica. Entre eles, destacam-se: Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, concedido pelo Governo Federal; Medalha Rilem (Réunion Internationale des Laboratoires d’Éssais et de Recherches sur les Matériaux et les Constructions); Medalha Prof. João Cristóvão Cardoso, do Instituto de Química da UFRJ; e Prêmio Álvaro Alberto de Tecnologia, da Prefeitura do RJ. Também foi Membro Fundador da Academia Brasileira de Engenharia. Giulio Massarani faleceu no dia 28 de setembro de 2004 durante o Congresso Brasileiro de Engenharia Química (COBEQ), deixando a esposa - Edna - e quatro filhos - Mariana, Paulo, Luisa e Susana. Massarani é o grande mentor das pesquisas em Sistemas Particulados no Brasil. (Texto extraído do folder de promoção do livro “Aplicações em Sistemas Particulados” – Edição comemorativa dos 30 anos da área de pesquisa em Sistemas Particulados do DEQ/UFSCar, da publicação no JC e-mail 2616, de 29 de Setembro de 2004 e da publicação da FAPERJ.)
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