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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO. Aula 01 – O surgimento da Filosofia. Na Grécia Antiga, a religião e o mito eram as fontes originárias de conhecimento. Através deles, os gregos tinham as respostas fundamentais para as grandes questões da existência. A partir do século VI a.C., no entanto, surgiram alguns sábios que propuseram uma outra forma de pensar e de explicar o mundo. Eles passaram a utilizar os argumentos racionais (não mais os religiosos ou míticos) para teorizar a realidade a partir de elementos presentes no próprio mundo natural, sem que precisassem apelar a um mundo sobrenatural. Nesse contexto, nasce a Filosofia. A seguir, você entenderá melhor esses acontecimentos. O saber deixou de ser sagrado e tornou-se objeto de discussão. Os cidadãos da polis (cidade), passaram a ir à ágora (praça pública) para debaterem os problemas de interesse comum e para decidirem os rumos da cidade. Tal mentalidade libertou os homens das ideias de pré-determinação e dos desígnios divinos que lhes impunham o destino do qual não poderiam escapar. A política, por sua vez, permitiu aos cidadãos debaterem e traçarem o seu próprio destino em praça pública. - A TRANSIÇÃO – 1) O nascimento da Filosofia ocorreu no século VI a.C., nas colônias gregas da Magna Grécia (sul da Itália) e Jônia (atual Turquia). 2) A Filosofia, tendo como fundamento a razão (logus), estabeleceu uma nova forma de interpretação da realidade. 3) A Filosofia nasceu fincada no chão da sociedade grega, sob condições políticas, econômicas e culturais que determinaram todo o edifício racional que fora construído pelos inúmeros pensadores. - NOVAS INTERPRETAÇÕES DA REALIDADE - Se antes os fenômenos eram governados por leis divinas, quase inacessíveis aos humanos, com o pensamento racional, foi possível conhecer as causas ou princípios que explicavam o mundo e, com isso, conferir previsibilidade e controle sobre os fenômenos da natureza e da sociedade humana. Já não eram mais os deuses que governam o mundo e os humanos, mas sim leis intrínsecas às coisas. Tais leis davam-se a conhecer ao espírito humano que se utilizava da razão para trazê-las à luz. - O EDIFÍCIO RACIONAL - A Filosofia nasceu fincada no chão da sociedade grega, sob condições políticas, econômicas e culturais que determinaram todo o edifício racional que fora construído pelos inúmeros pensadores. - OS FATORES POLÍTICOS – 1) As origens da Filosofia vinculam-se ao processo de consolidação da democracia grega em torno da polis. 2) A cidade-estado grega era o espaço legítimo e legitimador de sua liberdade, a ponto de o Estado tornar-se horizonte ético do homem grego. 3) Esta era a base da cidadania grega: os cidadãos são a finalidade última do Estado, o bem do Estado é seu próprio bem, sua liberdade, sua grandeza. 4) A democracia grega se apoiava em uma concepção de cidadania excludente. Eram considerados cidadãos, apenas os homens (varões) que possuíam bens ou riquezas. Portanto, estavam excluídos da cidadania as mulheres, os estrangeiros, os escravos e os homens pobres. - OS FATORES RELIGISOS – 1) Os gregos conseguiram alcançar um patamar de liberdade religiosa muito elevado em relação a outros povos da Ásia Menor e do Oriente Próximo. 2) Enquanto em outras nações o poder religioso, aliado às monarquias de cunho tributário, servia para legitimar o Estado absoluto e o poder do rei, algumas cidades- estado da Grécia construíram uma relativa liberdade, baseada na autoridade do Pater Familias (Pai de Família). 3) A religião grega não se baseava em um livro Sagrado. Portanto, os gregos não tinham dogmas a serem defendidos, ortodoxia, nem heresias, ou uma casta sacerdotal. Estava aberto o caminho para o livre pensar. - OS FATORES ECONÔMICOS – 1) O florescimento das cidades-estado gregas deveu-se principalmente ao desenvolvimento da indústria artesanal e do comércio. Antes disso, a Grécia era predominantemente agrária, sendo dominada politicamente por grandes proprietários de terras. Neste contexto, é mais compreensível que cultivasse uma visão mítica do mundo, mais ligada aos ciclos do clima. 2) O crescimento industrial e comercial fez florescerem as cidades-estado, fazendo surgir novos atores sociais, que começavam a dominar o cenário político e ameaçar o poder da nobreza fundiária. É nessas circunstâncias que a Filosofia nasce, fazendo justificar o poder emergente de comerciantes e artesãos. Vale notar que essas mudanças ocorreram primeiro nas colônias gregas da Ásia Menor (em Mileto, principalmente), se expandido, depois, para a região da Itália Meridional, chegando, então, ao centro da Grécia, em Atenas. Isto, porque, estando longe do controle central, puderam desenvolver instituições políticas autônomas e desenvolver um comércio próprio. - O DISCURSO MÍTICO-RELIGIOSO – 1) Os gregos cultuavam muitos deuses. Estes múltiplos deuses estavam no mundo e faziam parte dele. Diferente dos judeus ou dos cristãos, os gregos não desenvolveram a ideia de um Deus criador, transcendente, absolutamente separado do mundo criado, cuja existência deriva e depende inteiramente dele. 2) Os deuses gregos nasceram no mundo. A geração dos deuses deu-se ao mesmo tempo da geração do universo. Os deuses e o mundo, a partir de uma espécie de caos primordial, foram diferenciando-se, ordenando-se, até tomarem a sua forma definitiva de cosmo organizado. 3) A gênese dos deuses e do mundo operou-se a partir de potências primordiais, como o Caos e a Gaia (terra), donde saíram, ao mesmo tempo e no mesmo movimento, o mundo, tal como pode ser contemplado pelos humanos, e os deuses que presidem a ele invisíveis na sua morada celeste. 4) Há, portanto, o divino no mundo, assim como o mundano nas divindades. O homem grego vive num mundo cheio de deuses e, por isso, não separa natureza e sobrenatureza, como dois domínios opostos. Os saberes sobre os deuses eram veiculados por narrativas eminentemente orais. Ou seja, por histórias que eram transmitidas de boca a ouvido, e que passavam adiante, de boca em boca, através das fábulas contadas pelas mulheres às crianças nos lares e das vozes e dos cantos dos poetas ao público em geral. Mais tarde, no século VII a.C., esta tradição oral foi escrita por Hesíodo em textos que ficaram conhecidos como Teogonia e Cosmogonia (respectivamente, a origem dos deuses e a origem do mundo). Esta tradição de base oral constitui o que chamamos de mito. - O DISCURSO FILOSÓFICO – 1) A princípio, os filósofos pré-socráticos, também chamados de "naturalistas" ou filósofos da physis, tinham como escopo especulativo o problema cosmológico, ou cosmo-ontológico, e buscavam o princípio (ou arché) das coisas. 2) Cada um dos filósofos pré-socráticos sugeriu um elemento primordial (princípio) ou causa de todas as coisas que compõem a realidade física. 3) Em um segundo momento, surge a sofística e o foco da filosofia muda do cosmo para o homem e o problema moral. - FISLÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS - Como sugere o nome, os filósofos pré-socráticos são aqueles que antecedem a Sócrates. Contudo, essa divisão se dá mais propriamente devido ao objeto de sua filosofia (o interesse pelo estudo da natureza) em relação à novidade introduzida por Sócrates, do que em relação à cronologia. Já que, temporalmente, alguns dos ditos pré-socráticos são contemporâneos a Sócrates, ou mesmo posteriores a ele (como no caso de alguns sofistas). - A PHYSIS - Palavra grega que significa natureza - entendendo-se este termo não em seu sentido corriqueiro, mas como realidade primeira, originária e fundamental, ou como o que é primário, elementar e persistente, em oposição ao que é secundário, derivado e transitório. - ARCHÉ - Para os filósofos pré-socráticos, a arché (origem) seria um princípio que deveria estar presente em todos os momentosda existência de todas as coisas; no início, no desenvolvimento e no fim de tudo. Princípio pelo qual tudo vem a ser. - ELEMENTOS PROMORDIAIS – Tales de Mileto - a água Anaximandro de Mileto - o apeíron Anaxímenes de Mileto - o ar Xenófanes de Cólofon - a terra Heraclito de Éfeso - o fogo Pitágoras de Samos - o número Demócrito de Abdera - o átomo Empédocles de Agrigento - os quatro elementos (terra, água, fogo e ar) Aula 02 – Sócrates, Platão e Aristóteles. - SÓCRATES – Sócrates deu uma nova direção à Filosofia. Enquanto o interesse dos filósofos pré- socráticos recaiu sobre os estudos da natureza (physis), Sócrates interessou-se pelas questões humanas, a ética, a política, o conhecimento, a educação, entre outros problemas que afetam o homem. As fontes mais importantes de informações sobre Sócrates são as escritas por Platão, Xenofonte e Aristóteles. Sócrates foi mestre de Platão. Alguns historiadores afirmam que só se poder falar de Sócrates como um personagem de Platão, por ele nunca ter deixado nada escrito de sua própria autoria. Nos diálogos de Platão, Sócrates é apresentado como um homem dotado de uma mente rigorosa, racional e inquisitiva, que questionava continuamente as crenças fundamentais das pessoas. O Método Socrático consistia em fazer perguntas e desvendar o que estava oculto em cada uma delas, num processo denominado maiêutica. A filosofia de Sócrates exprimia-se por meio de diálogos. Na sua doutrina, a confiança na razão assumia uma papel central: “ninguém é mau voluntariamente”, sendo o mal consequência da ignorância. O granbde princípio socrático era o conhecimento de si próprio: “Conhece-te a ti mesmo”. - PLATÃO – Desde jovem, Platão tinha ambições políticas, mas logo se decepcionou com a liderança política de Atenas. Ele se tornou discípulo de Sócrates, seguindo sua filosofia e aderindo ao método por ele utilizado: a busca da verdade através de perguntas, respostas e mais perguntas. Após a morte de Sócrates, Platão abandonou a cidade. As suas viagens levaram-no a lugares como Egito, Cirene e Sicília. Quando regressou a Atenas, co-fundou uma escola que ficou conhecida por Academia, situada no Jardim de Academos, onde se ensinavam os mais diversos assuntos, desde a Matemática à Biologia, da Filosofia à Astronomia. Os ensinamentos de Platão foram escritos em forma de diálogo (aproximadamente trinta), de uma conversa ou um debate entre várias pessoas. Seus diálogos são divididos em três fases. A primeira fase é representada com Platão tentando comunicar a filosofia de Sócrates. Os diálogos da segunda e terceira fase relatam as próprias ideias de Platão, por mais que ele continue a utilizar Sócrates como personagem em seus diálogos. Em oposição aos sofistas, Platão propõe um novo método: a dialética (ou arte de pensar), que vai das palavras às ideias. Estas constituem a própria essência, fundamento e modelo das coisas sensíveis e individuais. Platão foi o responsável pela formulação de uma nova maneira de pensar e de perceber o mundo. Este ponto fundamental consiste na descoberta de uma realidade causal supra-sensível, não-material, eterna e imutável. Tal realidade subsistiria num mundo separado do mundo sensível e material: o mundo das formas ou das ideias. Platão, portanto, divide o existente em duas partes: o mundo das ideias e o mundo físico em que vivemos. No mundo das ideias, tudo é constante e real. Já no mundo físico (ou mundo sensível), tudo está sujeito ao fluxo, à mudança, daí seu caráter relativo e aparente. De um lado, o mundo das ideias ou das formas puras e imutáveis, e de outro, o mundo das coisas mutáveis. O mundo sensível é uma pálida reprodução do mundo inteligível. Trata-se de um mundo de cópias imperfeitas das ideias ou formas, constituindo um mundo de sombras, conforme a famosa Alegoria da Caverna. Segundo Platão, os sentidos físicos não nos revelam a verdadeira natureza das coisas. Por exemplo, ao observarmos algo branco ou belo, jamais chegaremos a ver a brancura ou a beleza plena, embora tragamos, dentro de nós, uma ideia do que elas são. Assim, as únicas coisas, de fato, permanentes e verdadeiras para Platão, seriam as ideias. Observar o mundo físico (tal como a ciência faz hoje em dia) pouco serviria, portanto, para alcançarmos uma compreensão da realidade, embora servisse para reconhecermos, ou recordarmos, as ideias perfeitas que traríamos dentro de nós. Ideias ou formas são arquétipos imutáveis. De acordo com Platão, só essas ideias/formas são o fundamento do verdadeiro conhecimento. Platão distinguiu dois níveis de saber: opinião e conhecimento. - A REPÚBLICA – Segundo Platão, a melhor forma de governo é a aristocracia por mérito. Ele divide o estado ideal em três classes: a classe dos comerciantes, a classe dos militares e a classe dos filósofos-reis. As classes não são hereditárias, elas são determinadas pelo tipo de educação obtida pela pessoa. Com maior nível de educação, a pessoa pertence à classe dos filósofos-reis, que são os encarregados de governar o país. A República aborda diversos temas sobre justiça, governo e apresenta um governo utópico. Essa obra vem sendo amplamente lida através dos séculos, por mais que suas propostas nunca tenham sido adotadas como uma forma de governo concreta. Na República, também encontramos o famoso Mito da Caverna (ou Alegoria da Caverna). Trata-se de uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância. Em outras palavras, podemos dizer que a Alegoria da Caverna trata da passagem gradativa do senso comum, enquanto visão de mundo e explicação da realidade, para o conhecimento filosófico. - Alegoria da Caverna - A alegoria da caverna, também conhecido como parábola da caverna, mito da caverna ou prisioneiros da caverna, trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade, onde Platão discute sobre teoria do conhecimento, linguagem e educação na formação do Estado ideal. - ARISTÓTELES – Aristóteles é considerado um dos mais fecundos pensadores de todos os tempos. Aristóteles nasceu em Estagira, na península macedônica da Calcídica (por isso, ele também é chamado de o Estagirita). Era filho de Nicômano, amigo e médico pessoal do rei Amintas 2º, pai de Filipe e avô de Alexandre, o Grande. Aos 16 ou 17 anos, Aristóteles mudou-se para Atenas (centro intelectual e artístico da Grécia) e estudou na Academia de Platão até a morte do mestre, no ano 347 a.C. Após a morte de Platão, Aristóteles passou algum tempo em Assos, no litoral da Ásia Menor (atual Turquia), onde casou-se com Pítias, a sobrinha do tirano local. Sendo este assassinado, o filósofo fugiu para Mitilene, na ilha de Lesbos. Foi depois convidado para a Corte da Macedônia onde, durante três anos, exerceu o cargo de tutor de Alexandre, mais tarde “o Grande”. Em 355 a.C., Aristóteles voltou a Atenas e fundou uma escola próxima ao templo de Apolo Lício, que recebeu o nome de Liceu. O caminho coberto ("peripatos") por onde costumava caminhar enquanto ensinava deu à escola um outro nome: Peripatética. A escola se tornaria a rival e ao mesmo tempo a verdadeira herdeira da Academia platônica. Com a morte de Alexandre, em 323 a.C., o imenso império erguido por ele esfacelou-se. Em Atenas eclodiu um movimento que visava a restaurar a independência da cidade- estado. Malvisto pelos atenienses por causa da sua origem macedônica, Aristóteles foi acusado de “ateísmo” ou “impiedade”. Para não ter o mesmo fim de Sócrates, condenado ao suicídio, exilou-se voluntariamente em Cálcida, na ilha da Eubéia, onde morreu um ano depois. As investigações filosóficasde Aristóteles consideraram várias áreas do conhecimento. Podemos citar a Biologia, a Zoologia, a Física, a História Natural, a Poética, a Psicologia, sem falar em disciplinas propriamente filosóficas como a Ética, a Teoria Política, a Estética e a Metafísica. A metafísica aristotélica é a ciência que estuda “o ser enquanto ser”, ou os princípios e as causas do ser e de seus atributos essenciais. Podemos sintetizar a metafísica aristotélica em quatro questões gerais: potência e ato; matéria e forma; particular e universal; e movido e motor. Conheça, inicialmente, duas dessas questões. - POTÊNCIA E ATO - A doutrina da potência e do ato é fundamental na metafísica aristotélica. Todo ser, que não seja o Ser perfeitíssimo (Deus), é uma síntese (um sínolo), um composto de potência e de ato, em diversas proporções, conforme o grau de perfeição, de realidade dos vários seres. Um ser desenvolve-se, aperfeiçoa-se, passando da potência ao ato. Esta passagem da potência ao ato é a atualização de uma possibilidade, de uma potencialidade anterior. Por exemplo, um ovo está em ato, mas é potência de uma ave. Esta doutrina é aplicada e desenvolvida por Aristóteles, especialmente, quando este trata da doutrina da matéria e da forma, que representam a potência e o ato no mundo, na natureza em que vivemos. - MATÉRIA E FORMA – Segundo Aristóteles, o indivíduo é composto por dois elementos: a matéria e a forma. O composto de matéria e forma (o sínolo) constitui a substância. A matéria aristotélica, porém, não é o puro não-ser de Platão (mero princípio de decadência), pois esta é também condição indispensável para concretizar a forma. Então, não existe a forma sem a matéria, ainda que a primeira seja princípio de atuação e determinação da segunda. Com respeito à matéria, a forma é, portanto, princípio de ordem e finalidade, racional, inteligível. Diversamente da ideia platônica, a forma aristotélica não é separada da matéria, e sim imanente e operante nela. Ao contrário, as formas aristotélicas são universais, imutáveis, eternas, como as ideias platônicas. Os elementos constitutivos da realidade são, portanto, a forma e a matéria. A realidade, porém, é composta de indivíduos, substâncias, que são um composto (um sínolo) de matéria e forma. Por consequência, estes dois princípios não são suficientes para explicar o surgir das substâncias e dos indivíduos que não podem ser atuados, a não ser por um outro indivíduo, isto é, por uma substância em ato. Com isso, existe a necessidade de um terceiro princípio, a causa eficiente, para poder explicar a realidade efetiva das coisas. A causa eficiente, por sua vez, deve operar para um fim, que é precisamente a síntese da forma e da matéria, produzindo esta síntese o indivíduo. Daí uma quarta causa, a causa final, que dirige a causa eficiente para a atualização da matéria mediante a forma. - PARTICULAR E UNIVERSAL. Mediante a doutrina da matéria e da forma, Aristóteles explica o indivíduo, a substância física, a única realidade efetiva no mundo, que é precisamente o composto (sínolo) de matéria e de forma. A essência, que é igual em todos os indivíduos de uma mesma espécie, deriva da forma. Já a individualidade, pela qual toda substância é original e se diferencia de todas as demais, depende da matéria. O indivíduo é, portanto, potência realizada, matéria enformada, universal particularizado. Mediante a doutrina da matéria e da forma é explicado o problema do universal e do particular, que tanto atormentava Platão. Aristóteles faz o primeiro (a ideia) imanente no segundo (a matéria), depois de ter eficazmente criticado o dualismo platônico, que fazia os dois elementos transcendentes e exteriores um ao outro. - MOVIDO E MOTOR – Da relação entre a potência e o ato, entre a matéria e a forma, surge o movimento, a mudança, o vir a ser, a que é submetido tudo que tem matéria, potência. A mudança é, portanto, a realização do possível. Esta realização do possível, porém, pode ser levada a efeito unicamente por um ser que já está em ato, que possui já o que a coisa movida deve vir a ser, visto ser impossível que o menos produza o mais, o imperfeito o perfeito, a potência o ato, mas vice-versa. Mesmo que um ser se mova a si mesmo, aquilo que move deve ser diverso daquilo que é movido, deve ser composto de um motor e de uma coisa movida. Por exemplo, a alma é que move o corpo. O motor pode ser unicamente ato, forma. A coisa movida, enquanto tal, pode ser unicamente potência, matéria. Eis a grande doutrina aristotélica do motor e da coisa movida, doutrina que culmina no motor primeiro, absolutamente imóvel, ato puro, isto é, Deus. - OS TRÊS PRINCÍCPIOS – 1) Princípio da Identidade: Um ser é sempre idêntico a si mesmo: A é A. 2) Princípio da não contradição: É impossível que um ser seja e não seja idêntico a si mesmo ao mesmo tempo e na mesma relação. É impossível que A seja A e não-A. 3) Princípio do terceiro excluído: Dadas duas proposições com o mesmo sujeito e o mesmo predicado, uma afirmativa e outra negativa, uma delas é necessariamente verdadeira e a outra necessariamente falsa. A é x ou não-x, não havendo terceira possibilidade. Aula 03 – Filosofia Medieval – parte I. A Filosofia Medieval compreende um período histórico que vai do final do helenismo (séculos IV e V) até o Renascimento (final do século XV e início do século XVI). É a maior parte da produção filosófica da Idade Média. A fase final da Filosofia Medieval (séculos XI e XV) equivale ao desenvolvimento da escolástica e a criação das universidades. Esse período tem as seguintes características: 1) A filosofia de São Tomás de Aquino, que se aproximou dos textos de Aristóteles, resultou numa nova contribuição para o desenvolvimento da escolástica. 2) Posições controvertidas que foram assumidas na Filosofia, na Teologia e na Política. 3) A presença da tradição aristotélica na Europa ocidental. 4) O levantamento de questões que aproximavam a Teologia da Filosofia, investigando racionalmente os fundamentos da fé cristã. 5) O pensamento de Santo Agostinho. 6) A transição do helenismo para o cristianismo. O termo escolástica designa todos aqueles que pertencem a uma escola ou que se vinculam a uma determinada escola de pensamento e de ensino. Conheça, agora, os fatores históricos que contribuíram para o seu desenvolvimento. 1) As culturas bárbaras que se estabelecem na Europa Ocidental não tinham conhecimento e, nem tampouco, interesse pela Filosofia. Só a partir do século IX, cinco séculos após a morte de Santo Agostinho, a situação começa a mudar. 2) Em 529, São Bento fundou, na Itália, a ordem monástica beneditina, diferente das ordens monásticas das igrejas orientais, que eram exclusivamente contemplativas. Graça aos monges copistas, foram preservados os textos da antiguidade clássica grego- romana, nas bibliotecas. 3) Progressivamente, o mundo europeu ocidental começava a se reestruturar. A primeira grande tentativa de reestruturação aconteceu no natal do ano 800, quando o papa Leão III, convidou Carlos Magno para ir à Roma e lá o consagrou imperador do sacro império romano germânico. Após a morte de Carlos Magno, seu império foi dividido entre o seu filho e os sucessores deste, levando a uma nova fragmentação política, que gerou grandes conflitos. 4) É, portanto, em torno dos séculos XI e XII que vamos assistir o surgimento da chamada escolástica. Neste contexto, aparece a famosa querela entre a razão e a fé que percorre toda a Filosofia Medieval. No entanto, o desenvolvimento da Filosofia torna-se possível devido à difusão de consolidação das escolas nos mosteiros e catedrais. Aula 04 – Filosofia Medieval – parte II. A Filosofia Medieval contou com a valiosa contribuiçãodo pensamento árabe. Conheça os fatores históricos que contribuíram para a fusão entre a cultura árabe, a filosofia grega e o pensamento cristão. 1) A fusão começa a partir do momento em que Alexandre (século IV a.C.) inicia a expansão do seu Império, levando e difundindo a cultura grega pelo Oriente Médio, conquistando a Índia. A partir desse momento, não restou mais dúvida a mistura entre a língua local e a grega com suas ricas tradições, formando os principais núcleos de cultura. 2) No período cristão (IV e V d.C.), outro marco se dará aprofundando essa fusão. Vários cristãos foram condenados e buscaram exílio no Oriente, principalmente na Síria e na Mesopotâmia. Esses cristãos, além de conhecedores da filosofia e da ciência grega, usavam a língua grega. 3) A fusão também foi influenciada pelo profeta Maomé (570-632), quando este assumiu a liderança religiosa do povo árabe, fundando a religião islâmica. Esse contexto, sem dúvida, favoreceu o encontro dos árabes com os núcleos de cultura de origem grega e cristã. Portanto, os cristãos da escolástica tiveram o primeiro contato com o pensamento de Aristóteles através desses núcleos de cultura. Aula 04 – Filosofia Moderna. O termo moderno já era usado na Filosofia Medieval, mas o conceito de modernidade veio de duas noções fundamentais relacionadas - a ideia de progresso e a valorização do indivíduo, que são decorrentes de fatores históricos como: - O Humanismo Renascentista (século XV). - A Reforma Protestante (século XVI). - A Revolução Científica (século XVII). - A redescoberta do ceticismo. O conceito de modernidade está quase sempre associado a um sentido positivo de mudança, transformação e progresso. No entanto, se tratou de um processo lento de transição já que as concepções tradicionalistas ainda continuavam a vigorar. Convêm ressaltar que os grandes pensadores do século XVII considerados revolucionários e inovadores, como Bacon e Descartes, jamais se autodenominaram modernos. - O HUMANISMO RENASCENTISTA - O conceito de Renascimento abrange os séculos XV e XVI, que foi o período histórico intermediário entre o medieval e o moderno. Podemos dizer que o traço mais característico desse período foi o humanismo. O humanismo teve também uma grande importância na política. As partes centrais do ideário humanista tratam da rejeição da tradição escolástica em favor de uma recuperação da natureza humana individual, ponto de partida de uma nova ordem. O principal pensador político mais original desse período foi sem dúvida Nicolau Maquiavel (autor de O Príncipe, publicado em 1532). - A REFORMA PROTESTANTE - Lutero combateu a escolástica. Sua concepção teológica é uma interpretação da doutrina de santo Agostinho sobre a luz natural que todo o indivíduo tem em si e que permite entender e aceitar a revelação, não necessitando da intermediação da igreja, dos teólogos, da doutrina dos concílios, a fé é suficiente. Se a discussão em torno da “regra da fé” abre caminho acerca do livre arbítrio e da salvação, essa discussão levanta questões de natureza moral. Para Lutero, a salvação só é possível pela graça divina, dom de Deus que independe do saber adquirido, ou da obediência da autoridade eclesiástica, assim rejeita a doutrina ética da escolástica tomista e o esforço humano não desempenha nenhum papel na salvação. - A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA - A Revolução Cientifica moderna teve seu ponto de partida na obra de Nicolau Copérnico, através de cálculos dos movimentos por meio dos corpos celestes. Copérnico sacudiu a visão de mundo medieval estático imaginando a terra girando em torno do sol, desenvolvendo sua pesquisa propondo a hipótese heliocêntrica. Ele conserva uma concepção de um cosmo fechado, tendo como limite a esfera das estrelas fixas, típica da visão antiga. A ideia de um universo infinito foi incorporada progressivamente à ciência moderna. Em 1609, o astrônomo alemão Johannes Kepler defendeu a ideia de que o universo é regido por leis matemáticas. Porém, é na verdade Galileu quem diz “a natureza é um livro escrito em linguagem geométrica”. Esse é o ponto de partida do mecanicismo que vê a natureza como um mecanismo, como as engrenagens de um relógio impulsionado por uma força externa. Galileu ainda postulava a ideia de órbitas circulares. Podemos considerá-lo como ponto de chegada de um processo da antiga visão de mundo e de ciência. São duas as grandes transformações científicas: - do ponto de vista da cosmologia - o modelo empreendido por Galileu - universo infinito e movimento dos corpos celestes, principalmente da terra; - do ponto de vista da ideia de ciência - a valorização da observação do método experimental que se opõe à ciência contemplativa dos antigos. - O CETICISMO - O interesse pelo ceticismo antigo é retomado no Renascimento como parte do movimento de volta aos clássicos. A Idade Média havia sido em grande parte ignorada pelos céticos devido à refutação do ceticismo por santo Agostinho. Possivelmente, os céticos foram os primeiros filósofos a questionar a possibilidade do conhecimento e a levantar a questão sobre os limites da natureza humana do ponto de vista cognitivo, o que será uma das grandes temáticas do pensamento moderno até Kant. Um dos primeiros a tratar dessa temática argumentou que os limites do nosso entendimento só podem ser superados pela fé. A revelação e a fé são as únicas possibilidades de superar a incerteza de uma ciência incapaz de alcançar o verdadeiro saber. Podemos considerar Michele de Montaigne o filósofo mais importante desse período, quanto à retomada e ao desenvolvimento do ceticismo, inclusive devido a sua influência em Descartes. A visão cética de Montaigne pode ser considerada um dos pontos de partida do subjetivismo e do individualismo. Diante de um mundo de incerteza, mergulhado em guerras e conflitos religiosos e políticos o homem refugia-se dentro de si. ANOTAÇÕES TEXTO “CONVITE À FILOSOFIA”. CRENÇAS – Coisas ou ideias em que acreditamos sem questionar, que são aceitas por serem óbvias e evidentes. ATITUDE FILOSÓFICA – Atitude de indagação, de questionamento, de não contentar-se com as crenças. 1ª atitude – Dizer não aos pré-juízos, aos pré-conceitos, ao pensamento comum, ao estabelecido. Face negativa da atitude filosófica. 2ª atitude – Questionar. Face positiva da atitude filosófica. ATITUDE CRÍTICA - Soma das faces negativa e positiva da atitude filosófica. Vide significado da palavra crítica. ATITUDE FILOSÓFICA – Perguntar o que é, como é e por que é. Perguntar o que é – O que significa? Perguntar como é – Como se relaciona com a realidade? Perguntar por que é – Por que existe? Qual sua causa (origem)? REFLEXÃO FILOSÓFICA (Conhece-te a ti mesmo) – Ver inicialmente o conceito de físico de reflexão (Física) – É o pensamento interrogando-se a si mesmo ou pensando-se a si mesmo. É radical, pois vai à raiz do pensamento. Esta se reúne em torno de três grandes conjuntos de perguntas: 1) As razões e as causas - Por quê? 2) O conteúdo ou o sentido do que pensamos – O quê? 3)A intenção ou a finalidade do que pensamos – Para quê? DEFINIÇÕES GERAIS DO QUE É A FILOSOFIA. 1) Visão de Mundo – Conjunto de ideias , valores e práticas pelos quais uma sociedade aprende e compreende o mundo e a si mesma. Por ser genérica demais confunde-se com religião , cultura, ciência, etc. 2) Sabedoria de vida – Atividade de algumas pessoas que pensam sobre a vida moral, dedicando-se a contemplação do mundo e dos outros seres humanos para aprender e ensinar a controlar seus desejos. Confunde-se com a sabedoria interior de cada individuo. 3) Esforço racional para conceber o Universo como uma totalidade ordenada e dotada de sentido – O próprio título dá a entender que a filosofiaestá ligada a religião ou à ciência. Hoje vemos que isso não é verdade. 4) Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas – Mais uma vez a filosofia é relacionada à ciência: para fundamentar práticas há de se praticar e a filosofia não realiza experimentos tal como os cientistas. PRINCIPAIS TRAÇOS DA FILOSOFIA. 1) Racionalidade. 2) Recusa de explicações pré-estabelecidas. 3) Argumentação. 4) Generalização – Fatos e coisas que aparentam ser diferentes mas não são e tem uma explicação comum. 5) Diferenciação – Fatos coisas que aparentam ser iguais mas não são e tem explicações diferentes. - MITO – É uma narrativa sobre a origem de alguma coisa que é considerada verdade devido à credibilidade do narrador (um filósofo grego, por exemplo). É também uma narrativa que se refere à natureza, aos deuses, ao universo e ao homem. Pode ter função explicativa, organizativa ou compensatória. Tem caráter educativo, pois normalmente traz uma mensagem. CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA. - As viagens marítimas – Desmistificação do mundo. - A invenção do calendário – Divisão do tempo e compreensão deste como algo natural. - A invenção da moeda – Troca feita pelo cálculo de valor semelhante de coisas diferentes. - O surgimento da vida urbana – Várias técnicas surgiram, reduzindo o poder da aristocracia, criadora de mitos. - A invenção da escrita alfabética – Um escrita leiga, abstrata, racional e usada por todos ao contrário dos símbolos e desenhos. - A invenção da política – Esta trás consigo: 1) A ideia da lei – Vontade deu ma coletividade. 2) O surgimento do espaço público e do direito de usar a palavra neste espaço para discutir situações com os seus pares. 3) O estímulo ao pensamento e ao discurso que não eram pré-definidos e que todos podiam compreender e discutir.
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