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DIREITO PROCESSUAL CIVIL: PONTO 6.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL: PONTO 6.
6.1. EXECUÇÃO ESTATAL.
6.1.1. Execução Estatal e Direito Processual Constitucional.
 Os princípios constitucionais, que se inserem no denominado direito processual constitucional, não se aplicam irrestrita e incondicionalmente ao processo de execução. Assim, não obstante o âmbito da execução estatal seja plataforma de incidência dos princípios constitucionais do processo civil in genere (isonomia, inafastabilidade do controle jurisdicional, proibição da prova ilícita, publicidade dos atos, motivação das decisões judiciais, contraditório, juiz natural, etc.), também o é para princípios específicos da função executiva (princípio do título, princípio do resultado, princípio da responsabilidade patrimonial, princípio da disponibilidade, princípio da adequação, etc.). Daí por que, no âmbito executivo dos títulos judiciais e extrajudiciais, o contraditório, p.ex, é “parcial, porque limitado ao quoad objetum, e atenuado, porque se expressa de modo rápido e informal” (ASSIS, Araken de. Manual da execução. 9. ed. São Paulo: RT, 2004, p. 90).
6.1.2. Ação executiva lato sensu e defesa do executado.
Não há omissão legal quanto à possibilidade de defesa do réu na fase executiva das chamadas “ações executivas lato sensu”, mas sim incompatibilidade material entre a execução de julgado da ação executiva lato sensu e qualquer possibilidade de defesa do executado.Não há razão para que o autor da ação executiva lato sensu (e.g., ação de depósito, ação de despejo, ação de petição de herança, ação de reintegração de posse), depois de ver acolhida a demanda, promova execução “por crédito”, na suposição de que o réu, proclamado “possuidor injusto” pela sentença, se houvesse transformado em “devedor” e o proprietário não mais o fosse, depois da vitória, reduzido à situação de “credor”. Logo, não haverá, para cumprimento do mandado de imissão na posse, nova citação e muito menos ensejo para embargos de devedor ou exceção de pré-executividade, somente cabíveis quando a imissão da posse da dar-se em “favor do credor”, o que absolutamente não existe nas ações executivas reais ou lato sensu (sobre o tema: SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Curso de processo civil. v. 2. 4. ed. São Paulo: RT, 2000, p. 228-231). Insista-se: o vínculo entre o bem ser apanhado e o demandado foi discutido na instrução e decido em sentença de mérito; não há por que rediscuti-lo em fase ulterior pós-sentencial.
6.1.3. Lei 11.232/2005 e princípio da autonomia da execução.
Ainda é autônomo o processo de execução de título extrajudicial, que se instaura por meio de “ação”. Porém, a Lei 11.232, de 22.12.2005, extinguiu a figura da “ação de execução de sentença” no direito pátrio (salvo na hipótese de execução de sentença condenatória por quantia certa proferida contra a Fazenda Pública). Portanto, a partir da vigência da lei nova, executar-se-á a sentença nos próprios autos, na mesma relação processual em que se profere a sentença exequenda, sem a necessidade de ajuizamento da actio iudicati: a própria intimação da sentença líquida ou da decisão de liquidação tem eficácia de chamamento, dispensando-se a necessidade de citação em execução para criação de relação processual autônoma (CPC, artigo 475-J, caput e §§).
6.1.4. Princípio da patrimonialidade e execução de obrigação de fazer e não-fazer. 
Na execução das obrigações de fazer e não-fazer, o princípio da patrimonialidade fica esgarçado. Não há aqui execução por expropriação patrimonial: não se visa ao patrimônio do “executado”. A assim chamada “execução específica” de obrigações de fazer e de não-fazer infungíveis se implementa por meio de coerção pessoal (no money judgements), nos termos do § 5º do art. 84 do CDC e do § 5º do art. 461 do CPC. É bom ressaltar que as medidas previstas no § 5º do art. 461 foram antecedidas da expressão “tais como”, o que denota o caráter não exauriente da enumeração.
6.1.6. Manutenção do patrimônio do devedor: obrigatoriedade?
A situação jurídico-obrigacional do débito não retira do devedor a livre disponibilidade sobre seus bens, razão pela qual o credor nada pode fazer contra a prática de atos negociais, embora possam arranhar a solvabilidade patrimonial do devedor. Daí por que o art. 591 do Código de Processo Civil não implica qualquer “congelamento” patrimonial.
6.1.7. Princípios da execução e obrigação de declaração de vontade.
Não se sujeitam a princípios relativos à execução as tutelas jurisdicionais passíveis de obtenção mediante mera sentença judicial, v.g., na adjudicação compulsória ou na ação a que se reporta o art. 7º da Lei 9.307/96 (Lei da Arbitragem). No entanto, após a sentença, não há a formação de uma relação processual executiva autônoma: a sentença aqui não é o título de pretensão executiva, mas sim título que já satisfaz a pretensão executiva. Com um outro falar: o obrigado não será condenado em processo prévio de conhecimento, destinado à formação de um título executivo; será citado em um processo de conhecimento, do qual resultará, sendo procedente a ação, a execução imediata da pretensão posta em causa pelo demandante (cf. SILVA, Ovídio Baptista da. Curso de processo civil. v. 2. 4. ed. São Paulo: RT, 2000, p. 144). Daí por que não há sentido em aplicarem-se os princípios do título, da patrimonialidade, etc.: os procedimentos executivos de emissão de declarações de vontade não guardam a menor semelhança com os demais procedimentos executivos previstos no Livro II do CPC.
6.1.8. Sanções no processo de execução.
Como sanções decorrentes de responsabilização objetiva, impõe-se ao credor o dever de reparar os danos sofridos pelo devedor: (a) na execução provisória, se sobrevier acórdão que anule ou modifique sentença objeto da execução (CPC, art. 588); (b) na execução da tutela antecipada, caso provido o agravo contra decisão liminarmente executada (CPC, art. 273, § 3º, c.c. art. 588); (c) na execução definitiva, quando a sentença passada em julgado, declarar inexistente, no todo ou em parte, a obrigação, que deu lugar à execução (CPC, art. 574). Como sanções decorrentes de responsabilização subjetiva, têm-se todas as sanções previstas nos artigos 14, 15, 16, 17, 18, 35 e 129 do CPC para as hipóteses de falta de lealdade processual (à exceção das previstas nos artigos 599, inciso II, 600 e 601 do CPC, imponíveis apenas aos executados). Como se não bastasse, a Lei 11.232 inovou, dispondo que, “caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação”. Trata-se aqui de dispositivo que deve ser lido cum grano salis: não se há de impingir multa ao devedor inerte, que deixou de nomear bens por falta ou indisponibilidade patrimonial decorrente de negócios jurídicos hígidos (a menos que realize algum dos tipos previstos como fraude contra credores na lei civil ou como fraude à execução no art. 593 do CPC.). Portanto, uma vez que a má-fé não se presume, parece-nos que a imposição da pena pecuniária se cinge às hipóteses de fraude. Não é esse o entendimento que tem prevalecido quanto à multa do art. 475-J, entendida como forma de coerção para o cumprimento da obrigação e imponível independente de má-fé. Tem-se entendido, apenas, que situações excepcionais onde o devedor demonstre a impossibilidade de pagá-la, pode a mesma ser afastada.
6.1.9. Princípio da isonomia.
Considerando-se os tratamentos previstos no CPC para exeqüente e executado, não se pode falar irrestritamente em princípio da isonomia no processo de execução. Aqui, há colisão entre os princípios da isonomia (= “os litigantes devem receber do juiz tratamento idêntico”) e do resultado (= “toda execução está funcionalizada à satisfação dos interesses do credor”). Porém, tratando-se de antinomia imprópria,afasta-se a adoção irrestrita de um deles, sem que seja eliminado do sistema. Neste caso, prevalece o princípio do resultado. É o que se extrai da redação do art. 612 do CPC. Na verdade, existe algo do “núcleo” do princípio da isonomia ainda preservado na execução: o sistema confere meios processuais para o devedor opor-se à pretensão executiva, em nível de igualdade, por intermédio de procedimentos incidentais de natureza cognitiva (e.g., embargos à execução, embargos à arrematação, embargos à adjudicação, etc.). Entretanto, a prevalência do valor-resultado sobre o valor-isonomia é inegável.
6.1.11. Execução estatal como atividade sub-rogatória.
Nem sempre há atividade sub-rogatória na execução estatal. Nas ações de busca e apreensão de bens objeto de alienação fiduciária em garantia (Decreto-lei 911, de 1.10.1969), permite-se ao credor que, após a obtenção da apreensão liminar do bem, venda-o a terceiros, independentemente de leilão ou hasta pública, dispensando-se até mesmo avaliação prévia ou qualquer outra medida judicial (art. 2º). Já o Decreto-lei 70, de 21.11.1966, p.ex., que dispõe sobre as associações de poupança e empréstimos e “dá outras providências”, permite a execução privada total (!), em rigoroso e completa justiça de mão própria, autorizando o credor, em caso de mora do devedor, a publicar editais para o leilão público de venda do imóvel dado em garantia (artigos 31 e 32). Somente depois da realização do leilão público é que o adquirente necessitará do Judiciário para pedir imissão de posse no bem imóvel, expulsando dele o devedor hipotecário. OVÍDIO BAPTISTA DA SILVA chama esses processos sumários de autotutela judicializada, identificando-os como reprodução da estrutura procedimental dos mandata sine clausula justificativa do direito germânico medieval (Curso de processo civil. v. 1. 5. ed. São Paulo: RT, 2000, p. 146). Essa ausência de caráter sub-rogatória também se verifica com a nova figura da “alienação por iniciativa particular” (art. 647, inciso II), introduzida pela Lei 11.382/2006, que permite ao credor alienar, por si ou por um corretor credenciado junto à autoridade judiciária, bens penhorados não adjudicados.
6.1.14. Título executivo: natureza jurídica.
Três correntes doutrinárias debatem acerca da natureza jurídica do título executivo: (a) título como documento: segundo Carnelutti, o título seria um documento representativo da existência do crédito exequendo; (b) título como ato jurídico: segundo Liebman, o título representa tão somente a via adequada para o início do processo de execução, por meio da imposição da sanção processual consistente na responsabilidade patrimonial; e (c) teoria mista: o título pode ser visto como ato e documento, sando a lei a responsável pela determinação de qual característica será predominante (documento: nota promissória; ato: despesas condominiais).
Críticas: Carnelutti não consegue explicar a execução injusta (direito inexistente), e a teoria de Liebman foi feita apenas para os títulos judiciais (como explicar os títulos de crédito?).
6.1.13. Título executivo e tutela antecipada.
Não remanesce o princípio nulla executio sine titulo, especialmente em se tratando de execução de tutela antecipada. Liminar antecipatória não é título executivo judicial: o rol do art. 475-N (introduzido pela Lei 11.232, de 22.12.2005) é taxativo (contra: NERY JR., Nelson et alli. Código de Processo Civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor. 3. ed. São Paulo: RT, 1997, p. 816). E não se trata de título executivo em razão de a ela não se aplicar normas sobre o tradicional processo de execução forçada (cf. TOMMASEO, Ferruccio. I provvedimenti d’urgenza: struttura e limiti della tutela anticipatoria. Pádua: CEDAM, 1983, p. 333).
6.1.16. Rol de títulos executivos: exemplificativo ou numerus clausus?
No que concerne aos títulos executivos extrajudiciais, a enumeração do artigo 585 deixou de ser taxativa pelo advento da Lei 8.953/94, que, modificando a redação do inciso II do referido dispositivo do CPC, permitiu a criação negocial de títulos executivos não apenas relativos às obrigações por quantia certa, mas igualmente para cumprimento das obrigações de dar e fazer e não-fazer. Ademais, o inciso VI do art. 585 abre a possibilidade de que outros títulos executivos extrajudiciais venham a ser criados por leis especiais. Já no que concerne aos títulos executivos judiciais, trata-se de um rol taxativo, antigamente previsto no art. 584, mas atualmente constante do art. 475-L do CPC, introduzido pela Lei 11.232/2005.
6.1.18. Requisitos essenciais do título executivo.
Segundo ARAKEN DE ASSIS, certeza, liquidez e exigibilidade são atributos do título (Manual da execução. 9. ed. São Paulo: RT, 2004, pp. 140 e ss.). Ver art. 586 do CPC. Segundo o processualista gaúcho: a) certeza é atributo que se relaciona com a existência do crédito (não obstante a existência do crédito nunca se revele absoluta, porquanto passível de oposição vitoriosa) (Ob. cit., p. 141); b) liquidez importa a expressa determinação do objeto da obrigação (de maneira que, quando o provimento judicial não determinar o valor ou não individuar o objeto da condenação, far-se-á a liquidação do título judicial) (Ob. cit., p. 142); c) exigibilidade é a atualidade do crédito (Ob. cit., p. 143) – isto é, não se submete a termo ou condição. De todo modo, ser líquido, certo e exigível é condição necessária, mas não suficiente para exeqüibilidade de um título. Ou seja, é uma condição meramente substancial. Há ainda condições formais que devem ser atendidas. Substancialmente o título deve revelar um conteúdo “líquido, certo e exigível”; formalmente o título deve ser típico, i.é deve conter todas as formalidades extrínsecas indispensáveis a cada documento previsto em lei como título executivo (e.g., sentença, cheque, letra de câmbio). Se o título não atender às condições formais, o título não terá a eficácia executiva; se não atender às condições substanciais, desde que formalmente constituído, poderá ensejar atividade executiva (todavia, se houver a defesa do devedor, o credor poderá não lograr êxito).
6.1.20. Título executivo e direito material.
No sistema vigente, existe distinção entre “ação” executiva (= mera atividade tendente a realizar a execução) e execução (= ato final de transferência dum bem jurídico do patrimônio do executado para o patrimônio do credor). Todo título executivo permite realização de atividade executiva, mas nem sempre redunda em execução: a execução propriamente dita acaba condicionada à existência efetiva do direito material ou à falta de oposição de embargos ao processo executivo. Portanto, subsiste no plano processual a figura da execução injusta: se o devedor não opuser embargos à execução, legitimando a expropriação executiva, sem preocupar-se com o fato de eventualmente não ser o exeqüente verdadeiro credor.
6.1.21. Título executivo judicial e extrajudicial: diferença ontológica?
Não existe diferença ontológica entre o título executivo judicial e o título executivo extrajudicial. Todos eles são documentos permitem a realização de atos executórios antes da apreciação das razões do devedor. No entanto, no que concerne propriamente a títulos executivos judiciais, há uma cognição prévia que certifica a existência da relação obrigacional, razão por que “menos possibilidade dá ao devedor para exonerar-se da obrigação exigida” (LIMA, Alcides de Mendonça. Comentários ao Código de Processo Civil. v. VI, t. I. Rio de Janeiro: Forense, 1974, p. 287). Daí por que a defesa do devedor na execução de título judicial será bem mais restrita do que a defesa articulada na execução de título extrajudicial.
6.1.22. Títulos executivos extrajudiciais gerados judicialmente.
Está previsto no art. 585, inc. VI , do CPC. O respectivo título executivo, neste caso, forma-se com a decisão judicial que houver homologado (‘aprovado’) o cálculo por meio do qual se tenha estabelecido, no processo, o valor exato do crédito”(Curso de processo civil. v. 2. 4. ed. São Paulo: RT, 2000, p. 48).
6.1.23. Título executivo extrajudicial e liquidação.
Não há possibilidade de implementação judicial (liquidação, cálculo do contador) de títulos executivos extrajudiciais. (cf. ASSIS, Araken de. Manual da execução. 9. ed. São Paulo: RT, 2004, p. 252; LIMA, Alcides de Mendonça. Comentários ao Código de Processo Civil. v. VI, t. II. Rio de Janeiro: Forense, 1974, p. 574: “a ‘liquidação’ é, apenas, de título judicial, ou seja, a sentença, nos termos expressos do art. 603. O título executivo extrajudicial, que seja certo, mas não líquido, somente pode ser usado como prova em processo de conhecimento [...]”). Marinoni traz observação pertinente: “Porém, é preciso advertir que, excepcionalmente, os títulos extrajudiciais podem ser ilíquidos, sujeitando-se, então, à liquidação. É o que ocorre com os termos de ajustamento de conduta, da Lei da Ação Civil Pública”.
6.1.25. Título executivo imprestável e regularização.
O reconhecimento judicial da imprestabilidade do título executivo extrajudicial, no processo de execução, NÃO permite a sua regularização na pendência da execução. Via de regra a imprestabilidade do título executivo extrajudicial enseja a nulidade da execução (CPC, art. 618, I) e a extinção da execução por falta de interesse processual adequado (CPC, art. 267, VI), a menos que se trate de certidão de dívida ativa da Fazenda Pública, a qual constitui título executivo extrajudicial ex vi do inciso VII do artigo 585 do CPC (cf. artigo 2º, § 8º, da Lei nº 6.830, de 22.09.1980). Entretanto, não havendo qualquer sentença, o limite para a substituição ou emenda da CDA é a lavratura do auto de arrematação ou adjudicação dos bens (cf. FERNANDES Odmir et alii. Lei de Execução Fiscal comentada e anotada. 4. ed. São Paulo: RT, 2002, p. 65).
6.1.26. Título executivo e reconhecimento da prescrição.
Prescrito o título (ex., cheque), embora remanesça o crédito como existente e o título como prova escrita da dívida representada na cártula, perde ele a sua eficácia executiva. Por essa razão, nos termos do artigo 1.102-A do CPC, pode o credor valer-se de ação monitória (que é uma ação de conhecimento de índole condenatória – cf. NERY JR, Nelson et alii. Código de Processo Civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor. 3. ed. São Paulo: RT, 1997, p. 1.032) para a obtenção de título executivo judicial (nesse sentido, p. ex.: STJ, 4ª T., RESP 166.594-MG, rel. Min. Adir Passarinho, j. 17.08.2000, v.u.; STJ, 4ª T., RESP 168.777-RJ, rell. Min. Aldir Passarinho, j. 16.12.1999, v.u.; STJ, STJ, 3ª T., RESP 337.639-MG, rel. Min. Menezes Direito, j. 18.06.2002, v.u.; TAMG, 3ª C.C., AC 226.899-1, rel. Juiz Wander Marotta, j. 20.11.1996, v.u.; TAMG, 6ª C.C., AC 210.933-1, rel. Juiz Francisco Bueno, j. 29.02.1996).
6.1.27. Títulos executivos documentalmente complexos.
O art. 15 da Lei 5.474/68 estabelece que, se a duplicata não estiver aceita, deverá ser protestada, mediante a apresentação do recibo passado pelo sacado (devedor), comprovando a entrega da mercadoria a ele, quer na fatura, quer em outro documento hábil relativo ao negócio. Nota-se, que o título executivo aqui se corporifica em um compósito documental formado por duplicata não-aceita + comprovante de entrega da mercadoria + instrumento de protesto. Nada obsta, portanto, a que os títulos executivos sejam documentalmente complexos, desde que sejam “líquidos, certos e exigíveis” (CPC, art. 586). É o caso, p. ex., da apólice de seguro acompanhada de documento médico indicativo do grau de incapacidade da vítima (cf. Súmula 26 do 1º TAC-SP), visto que o inciso III do artigo 585 diz ser título executivo extrajudicial o seguro de vida e de acidentes pessoais de que resulte a incapacidade ou a morte. Aqui, portanto, não basta tão-somente a apólice: é mister que haja apólice + documento médico.
6.2. NORMAS GERAIS.
6.2.1. Conceito de ação executiva.
Ação executiva é “a provocação da atividade jurisdicional que contém uma pretensão executiva (efetivação/realização/satisfação de um direito a uma prestação), calcada numa determinada causa de pedir (título executivo e inadimplemento/lesão), em função da qual os titulares das situações jurídicas materiais descritas no título executivo passam a estar vinculados na relação processual” (DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 1 ed. Salvador: JusPodivm, 2009. v. 5).
6.2.3. Pretensão executiva e prescrição.
Quanto aos títulos executivos extrajudiciais, a lex especialis pode estabelecer o prazo prescricional. Neste caso, e.g., o art. 18 da Lei 5.474, de 18.7.68 (com redação dada pela Lei 6.458, de 01.11.77) estabelece que “a pretensão à execução de duplicata prescreve: I – contra o sacado e respectivos avalistas, em 3 (três) anos, contados da data do vencimento do título; II – contra endossante e seus avalistas, em 1 (um) ano, contado da data do protesto; III – de qualquer dos obrigados, contra os demais, em 1(um) ano, contado da data em que haja sido efetuado o pagamento do título”. Já quanto aos títulos executivos judiciais, o STF assentou o entendimento segundo o qual “prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação” (Súmula 150). Assim, segundo o STF, todas as pretensões decorrentes de título judicial executivo se submetem aos prazos prescricionais previstos para o exercício das pretensões cognitivas, de que exsurgem.
6.2.5. Elementos da ação executiva.
São elementos da ação executiva: a) as partes (= basicamente exeqüente e executado); b) a causa de pedir (= situação de fato de que se originou o direito e fundamento jurídico da alegação do exeqüente, bem como a atitude violadora desse alegado direito); c) o pedido (= solicitação de provimento executório referente a um bem perfeitamente individualizado) (DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil. São Paulo: RT, 1973, p. 124).
6.2.6. Pluralidade de partes na execução.
Pode haver pluralidade de partes na execução. É possível litisconsórcio tanto ativo como passivo. De acordo com CÂNDIDO DINAMARCO, “[...] é inconcebível o litisconsórcio necessário, em processos dessa natureza, pela via da regra geral contida no art. 47 do Código de Processo Civil [...]” (Litisconsórcio. São Paulo: RT, 1984, p. 251). Porém, há exceções, em que é indispensável a presença de partes plúrimas: i) litisconsórcio passivo necessário entre inventariante e herdeiros no processo executivo movida pelo espólio ou ao espólio (CPC, art.12, § 1º); ii) execução contra sociedade comercial já dissolvida, em que os sócios devem ser chamados ao processo para integrarem a lide; iii) litisconsórcio necessário entre o marido e a mulher nas execuções imobiliárias (STF, 1ª Turma, RE 73.805, rel. Min. Amaral Santos, j. 02.05.1972, RTJ 61/571). O controle do litisconsórcio multitudinário pode ser feito pelo juiz nos termos parágrafo único do art. 46 do CPC.
6.2.7. Sucessão de partes na execução.
Quanto à sucessão no polo ativo da execução, ver art. 567 do CPC. Já quanto à sucessão do polo passivo na execução, são sucessores, nos termos do art. 568 do CPC: a) o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor (inciso II); o novo devedor, que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo (inciso III).
6.2.8. Causa de pedir na ação de execução.
“A causa de pedir da demanda executiva exige a afirmação de, pelo menos, dois fatos jurídicos: (a) a existência de um direito de prestação líquido, certo e exigível; e (b) a existência do inadimplemento por aprte do devedor” (DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 1 ed. Salvador: JusPodivm, 2009. v. 5).
6.2.9. Pedidos mediato e imediato.
Na petição inicial de uma ação executiva, o pedido imediato é sempre a realização da atividade executória tendente à satisfação do crédito não-adimplido, enquanto o pedido mediato é o próprio bem a ser entregue ao exequente (p. ex. dinheiro, coisa certa).
6.2.10. Identidade entre ações de execução.Duas ações – inclusive executivas – serão idênticas se tiverem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido (cf. § 2º do art. 301 do CPC). Daí o cabimento da litispendência de execução.
6.2.11. Litispendência entre cumprimento de sentença e execução de título extrajudicial.
	Pode haver a litispendência entre o cumprimento de sentença e uma execução lastreada em título extrajudicial.
6.2.12. Impossibilidade jurídica do pedido na execução: possibilidade?
Não se há de falar em impossibilidade jurídica do pedido na tela executiva. Os processualistas que defendiam a possibilidade citavam três hipóteses: a) a expropriação forçada contra a Administração Pública; b) o processo executório visando a evitar a violação de dever de abstenção; c) a execução para a coação do devedor a cumprir especificamente uma obrigação de fazer (DINAMARCO, Cândido Rangel Execução civil. São Paulo: RT, 1974, p. 140). Pois bem, no que toca a (b) e (c), trata-se de hipóteses hoje “juridicamente possíveis” à luz da redação do art. 461 do CPC (conferida pela Lei 8.952, de 13.12.1994), que introduziu em nosso ordenamento a “tutela jurisdicional específica das obrigações de fazer e de não fazer”. No que tange com (a), não se trata propriamente de “impossibilidade jurídica do pedido”. Como já visto, na ação executiva, o pedido imediato é a realização da atividade executória, e o pedido mediato é o bem da vida a ser entregue ao exequente, de maneira que os meios executórios não integram o pedido: a modalidade executiva adequada se extrai do objeto pretendido. Assim, ao autor que ajuíza ação executiva por expropriação contra a Fazenda Pública maneja um remédio processual inadequado: deve valer-se dos meios executórios previstos no Livro II, Título II, Capítulo V, Seção III, do CPC, não dos meios descritos no Livro I, Título VIII, Capítulo X, ou no Livro II, Título II, Capítulo IV, do CPC. Ora, a inadequação do procedimento in executivis impõe ao juiz que abra o prazo para que o exequente emende a inicial, só se falando de indeferimento da petição inicial (CPC, art. 295, V, principio) caso o credor recuse, ou omita a providência adaptadora (cf. ASSIS, Araken de. Manual da execução. 9. ed. São Paulo: RT, 2004, p. 392-393). Nem mesmo a ilicitude da causa, nos títulos executivos causais, pode ser considerada como forma de impossibilidade jurídica do pedido. De acordo com PAULO CONRADO, “a possibilidade jurídica do pedido condiz com a compatibilidade, in abstrato, da pretensão desferida pelo autor. Ou, por outra, que a pretensão do autor, aquilo que postula ao Estado-juiz, seja consorte com o sistema” (Introdução à teoria geral do processo civil. 2. ed. São Paulo: Max Limonad, 2003, p. 179). A possibilidade jurídica do pedido não equivale, portanto, à própria procedência in concreto do pedido deduzido pelo autor na ação: trata-se de uma simples compatibilidade teórica, se o que o autor pretende não encontra empeço em norma geral e abstrata que o ordenamento consagre. Por conseguinte, não é juridicamente impossível o pedido de execução de título extrajudicial sem causa, dês que o exeqüente, em face do objeto pretendido, escolha a via executiva apropriada. Na verdade, a falta de causa do título diz com a existência do crédito exeqüendo e, como já foi referido acima, a existência do crédito é condição da execução (= ato final de transferência de um bem jurídico do patrimônio do executado para o patrimônio do credor), não da “ação” executiva (= atividade tendente a realizar a execução). Noutro falar: que tem um título sem causa já tem procedente a pretensão pré-processual à atividade executiva, mas ainda não se sabe da pretensão processual à execução propriamente dita. A falta ou ilicitude da causa diz com o mérito da ação executória (= objeto material do processo executivo), e não com condição sua (= objeto formal do processo executivo).
6.2.13. Interesse processual na ação de execução.
O conceito de interesse de agir é dispensável no processo executório: a desnecessidade equivale à inexigibilidade, o que implica a nulidade da execução ex vi do art. 618, I, do CPC, e, por via de consequência, a extinção do feito por falta de pressuposto processual de validade (CPC, art. 267, IV); a inadequação do procedimento ensejará o indeferimento da inicial, “salvo se puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal” (CPC, art. 295, V, in fine), o que importa na extinção do processo com base no inciso I do artigo 267 do CPC, e não com base no inciso VI do referido dispositivo.
6.2.14. Legitimidade ad causam e título executivo,
Legitimação ativa no processo de execução: (a) ordinária ou originária: é aquela que consta no título como credor (art. 566, I, do CPC); (b) derivada ou superveniente: a legitimidade surge em um segundo momento, seja por morte do credor, por endosso ou por sub-rogação nos direitos do credor (art. 567 do CPC); e (c) extraordinária: o MP pode executar nos casos autorizados em lei (art. 98 do CDC e art. 68 do CPP c/c art. 566, II, do CPC).
Legitimação passiva no processo de execução: (a) ordinária ou originária. é aquela que consta no título como devedor (art. 568, I, do CPC); (b) derivada ou superveniente: são casos de herança, assunção de dívida e o fiador judicial (art. 568, II, III e IV do CPC; e (c) responsável tributário (art. 568, V, do CPC). Se o responsável tributário (art. 145 do CTN) figurar no título executivo como devedor, será legitimado ordinário, do contrário, como ocorre na maioria dos casos, ele não será parte, mas terá seus bens executados.
6.2.15. Responsáveis executivos secundários e legitimidade.
Os ditos “responsáveis executivos secundários” são legitimados para figurarem no polo passivo da execução. Segundo a doutrina tradicional, há terceiros que, sem poderem ser executados pessoalmente, respondem com algum ou com todos os seus bens, sem serem partes na execução. Ou seja, há terceiros cujo patrimônio pode ser abrangido pela execução que está sendo processada contra o devedor, sem que integrem o polo passivo da demanda executiva, as quais recebem o nome de “responsáveis executórios secundários” (por ex., o terceiro proprietário de bem vinculado pelos assim chamados direitos de garantia; o sócio, quando responda subsidiariamente pelas obrigações da sociedade; o cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios ou a sua meação respondam pela dívida) (cf. LIEBMAN. Enrico Tullio. Processo de execução. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1986, pp. 96-7). Para o mestre gaúcho ARAKEN DE ASSIS, porém, a legitimidade in executivis diz com “as pessoas legalmente tituladas à demanda executória, ou seja, examina-se o tema no terreno dos esquemas abstratos traçados pela lei, para habilitar alguém ao processo (situações legitimadoras)” (Manual da execução. 9.ed. São Paulo: RT, 2004, p. 352). Neste sentido, é parte na execução quem sofre o peso do meio executório (ex.: o hipotecante não-devedor). Assim: STJ, 4ª T., RESP 7.230-RS, rel.min. Barros Monteiro, j. 03.09.1991, DJU 30.9.91, p. 13.489: “é parte legítima na execução intentada com fundamento no art. 585, inc. III, do CPC, aquele que deu garantia hipotecária em pagamento de dívida de terceiro”.
6.2.16. Desconsideração da personalidade jurídica e legitimidade da sociedade.
Nas hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica da sociedade devedora, mantém-se a legitimidade desta para a execução, já que a desconsideração da personalidade jurídica não deslegitima a sociedade, mas legitima extraordinariamente o sócio alcançado. Passa a haver, portanto, um litisconsórcio passivo superveniente. Além do mais, pode ocorrer que, após a excussão dos bens do sócio e ainda não satisfeito plenamente o crédito exequendo, a sociedade devedora aufira bens penhoráveis. O STJ tem entendimento reiterado segundo o qual é possível a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica nos próprios autos da ação de execução, sendo desnecessária a propositura de ação autônoma (STJ, REsp 1071643).
6.2.17. Cumulação de pedidosna ação de execução.
A possibilidade de cumulação está prevista no art. 573 do CPC. Com base neste dispositivo, o STJ erigiu a Súmula 27: “pode a execução funda-se em mais de um título extrajudicial relativo ao mesmo negócio”. Trata-se aqui de uma cumulação facultativa: nada impede que o titular proponha execuções autônomas (cf. ASSIS, Araken, de Manual da execução. 9. ed. São Paulo: RT, 2004, p. 274). De qualquer forma, três os requisitos para a cumulação de execuções: (a) identidade de sujeitos (razão pela qual é proibida a coligação de credores contra o mesmo devedor ou a de devedores contra o mesmo credor); (b) identidade de juízo (motivo pelo qual é proibida a reunião de títulos judiciais, cada qual a ser executado no juízo próprio que os produziu); (c) identidade de meio executório. Faltante um dos requisitos, pode o vício ser alegado em embargos de devedor, ou então em exceção de pré-executividade.
6.2.18. Hipoteca judiciária e eleição da via executiva.
Na hipótese de sentença condenatória assegurada por hipoteca judiciária, pode o credor escolher entre o cumprimento da sentença e a execução por título extrajudicial. De acordo com o art. 466 do CPC, “a sentença que condenar o réu no pagamento de uma prestação, consistente em dinheiro ou em coisa, valerá como título constitutivo de hipoteca judiciária, cuja inscrição será ordenada pelo juiz na forma prescrita na Lei de Registros Públicos”. Daí por que, para PONTES DE MIRANDA, “a hipoteca judiciária substitui a ação executiva de sentença por ação executiva do título extrajudicial do artigo 585, inciso III, se o credor o prefere” (Comentários ao Código de Processo Civil (de 1973). t. V. Rio de Janeiro: Forense, 1974, p. 113).
6.2.19. Garantia real prestada por terceiro e legitimidade.
Conquanto possa haver garantia real (hipoteca, penhor, anticrese) outorgada por um terceiro em favor do credor, não se há de incluir o terceiro como parte no processo. Podem eles, contudo, atuar como terceiros assistentes. A doutrina não é pacífica quanto à admissão da assistência no processo executivo. Entendendo impossível a assistência no processo executivo, Cassio Scarpinella Bueno; Antônio Cláudio da Costa Machado; Ovídio Baptista da Silva; Hélio Tornaghi. Limitando-a aos embargos de devedor: Arruda Alvim; Alexandre Freitas Câmara; Athos Gusmão Carneiro; Moacyr Lobo da Costa; Sérgio Ricardo de Arruda Fernandes; Sérgio Ferraz; José Frederico Marques; Edson Prata; Marcelo Abelha Rodrigues; Humberto Theodoro Jr. Contra, entendendo-a possível inclusive na execução pura: Araken de Assis; Celso Agrícola Barbi; Edson Cosac Bortolai; Dinamarco; Leonardo Greco; Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery; José da Silva Pacheco. Pontes de Miranda. Ernani Fidélis Santos; Christiano Almeida do Valle; Teori Albino Zavascki.
6.3. Execução de títulos judiciais.
6.3.1. Natureza jurídica do cumprimento da sentença.
A execução de título judicial não é um processo autônomo, mas é um procedimento. O legislador substituiu a expressão “execução de título judicial” por “cumprimento de sentença” para fixar o entendimento de que o processo é um só. Todavia, esse procedimento ainda é uma execução (art. 475-I). Da mesma forma, o transporte dos artigos do Livro II do CPC para o Livro I confirma essa finalidade. O termo execução de título judicial é melhor, pois nem todo título judicial é sentença.
O procedimento de cumprimento de sentença é um procedimento autônomo por três razões:
a) Ainda há prescrição no cumprimento de sentença, pois o art. 475-L, VI, prevê a hipótese de prescrição superveniente à sentença como causa de impugnação ao seu cumprimento.
b) Ainda há condenação em honorários no cumprimento de sentença, pois o art. 20, § 4º c/c o art. 475-I permitem concluir que é devido os honorários nas execuções, embargadas ou não. Essa é a posição do STJ (REsp 978545). Logo, se o executado cumprir a obrigação em 15 dias, não haverá os honorários da execução, mas apenas os da fase de conhecimento. Por outro lado, passado esse prazo, sendo necessário o requerimento da expedição do mandado de penhora e avaliação, caberá condenação em honorários.
c) Matéria de ordem pública pode ser conhecida de ofício a qualquer tempo e grau de jurisdição (arts. 267, § 3º e 301, § 4º). Assim, em regra, o juiz não pode conhecer de matéria de ordem pública da fase de conhecimento na fase de cumprimento de sentença, pois já há coisa julgada, devendo ser proposta a ação rescisória, salvo a hipótese do art. 475-L, I – falta ou nulidade da citação se o processo correu à revelia –, que é chamada pela doutrina de vício transrescisório, pois mesmo que passe o prazo da ação rescisória, esse vício ainda pode ser alegado.
6.3.3. Cumprimento de sentença e exceção de pré-executividade.
	A execução de sentença ainda conviverá com a exceção de pré-executividade, pois ainda existe a necessidade de o executado garantir o juízo para poder defender-se. Segundo o STJ (REsp 1.195.929-SP, 3ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 24/4/2012), a garantia do juízo é pressuposto para o processamento da impugnação ao cumprimento de sentença (art. 475-J, § 1º, do CPC).
6.3.4. Natureza jurídica da impugnação.
A doutrina ainda diverge quanto à natureza da impugnação ao cumprimento de sentença: (a) para parte da doutrina, a impugnação teria natureza de ação (Arruda Alvim, Araken de Assis, João Batista Lopes e Paulo Henrique Lucon); (b) para outra corrente, teria natureza de defesa (Carreira Alvim, Athos Gusmão Carneiro, Marinoni, Fredie Didier e Antônio Notariano); (c) uma terceira posição entende que seja um misto de ação e defesa (Nelson Nery); (d) para outra corrente, teria natureza de ação ou defesa a depender do conteúdo (Wambier, Wambier e Medina e Eduardo Arruda Alvim); e (e) há ainda quem argumente que seria uma nova figura (Misael Montenegro). A posição que tende a prevalecer é a que considera a impugnação uma defesa. Há algumas consequências práticas quanto à definição da sua natureza como defesa: (a) o prazo será contado em dobro para os litisconsortes com procuradores diferentes, nos termos do art. 191 do CPC; (b) não requer o pagamento de custas; (c) aplica-se o princípio da eventualidade, ou seja, toda a matéria de defesa deve ser apresentada na impugnação, salvo algumas exceções, como, por exemplo, matéria de ordem pública.
6.3.5. Decisão que julga impugnação e coisa julgada material.
	A natureza jurídica da decisão que julga a impugnação dependerá do resultado: (a) sentença: se a decisão da impugnação acarretar a extinção da execução, terá natureza de sentença e caberá apelação (nesse caso, alguns autores afirmam que a apelação será recebida apenas com efeito devolutivo, para outros, seria recebida com duplo efeito, suspensivo e devolutivo); (b) decisão interlocutória: se a decisão da impugnação não acarretar a extinção da execução, terá natureza de decisão interlocutória e caberá agravo de instrumento. O tema não é pacífico, pois há quem considere que sempre será sentença, e há quem julgue que sempre será decisão interlocutória. Apesar das divergências, essa decisão faz coisa julgada material.
6.3.6. Cumprimento de sentença e prescrição intercorrente.
Não há mais sentido em falar-se aqui em “prescrição intercorrente”, pois a execução de sentença passou a dar-se per officium iudicis: após a intimação da sentença, o devedor terá o prazo de 15 (quinze) dias para pagar, sob pena de acrescer-se ao montante da dívida uma multa no percentual de 10% (dez por cento) (CPC, art. 475-J, 1ª parte). Entretanto, há autores que entendem ser possível prescrição intercorrente em razão da demora na provocação do cumprimento de sentença. O fundamento dessa posição está nos arts. 475-J, segunda parte – exige requerimento do credor –, e 475-L, VI, do CPC – possibilidade de se alegar prescrição na impugnação.6.3.7. Início do cumprimento de sentença e princípio dispositivo.
	Embora haja uma unidade procedimental entre o processo de conhecimento e o cumprimento de sentença, a iniciativa do juiz na determinação do início do cumprimento não fere o princípio dispositivo. Ora, trata-se de princípio e, como princípio que é, admite exceções. Para os casos de obrigação de pagar, a doutrina majoritária entendendo que depende de iniciativa da parte. Para os casos de obrigação de fazer, não-fazer e entrega de coisa é que o próprio juiz pode dar início ao cumprimento da sentença. É importante transcrever a seguinte decisão do STJ acerca da necessidade de requerimento do credor: PROCESSUAL CIVIL. LEI N. 11.232, DE 23.12.2005. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA. JUÍZO COMPETENTE. ART. 475-P, INCISO II, E PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. TERMO INICIAL DO PRAZO DE 15 DIAS. INTIMAÇÃO NA PESSOA DO ADVOGADO PELA PUBLICAÇÃO NA IMPRENSA OFICIAL. ART. 475-J DO CPC. MULTA. JUROS COMPENSATÓRIOS. INEXIGIBILIDADE. 1. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma automática, ou seja, logo após o trânsito em julgado da decisão. De acordo com o art. 475-J combinado com os arts. 475-B e 614, II, todos do CPC, cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante memória de cálculo discriminada e atualizada. 2. Na hipótese em que o trânsito em julgado da sentença condenatória com força de executiva (sentença executiva) ocorrer em sede de instância recursal (STF, STJ, TJ e TRF), após a baixa dos autos à Comarca de origem e a aposição do "cumpra-se" pelo juiz de primeiro grau, o devedor haverá de ser intimado na pessoa do seu advogado, por publicação na imprensa oficial, para efetuar o pagamento no prazo de quinze dias, a partir de quando, caso não o efetue, passará a incidir sobre o montante da condenação, a multa de 10% (dez por cento) prevista no art. 475-J, caput, do Código de Processo Civil.(REsp 940274/MS, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Rel. p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE ESPECIAL, julgado em 07/04/2010, DJe 31/05/2010).
6.3.8. Cumprimento de sentença e ações autônomas de impugnação de decisões judiciais.
Nada impede que haja ajuizamento de ação rescisória, ou de ação declaratória de inexistência de relação processual (querella nullitatis insanabilis), contra toda e qualquer sentença condenatória, mesmo após o advento da Lei 11.232/2005.
6.3.9. Sentença declaratória e título executivo.
O art. 475-N, I, do CPC (que substituiu o art. 485, I), fala em sentença que reconheça a existência de obrigação. Diversamente, antes da reforma, o CPC falava em sentença condenatória. O atual dispositivo incluiu as tutelas mandamental e executiva lato senso. Além disso, também incluiu as tutelas declaratória e constitutiva, ou seja, na prática, sentenças declaratórias e constitutivas também podem ser executadas, desde que haja um direito de prestação. Esse direito de prestação surgirá como efeito anexo, ou decorrência lógica da sentença.
6.3.10. Tempus iudicati e multa.
De acordo com o art. 475-J, caput, do CPC, o devedor tem o prazo de quinze dias para pagar a quantia certa ou já fixada em liquidação, sob pena de incorrer em multa de 10% (dez por cento) sobre o montante da condenação. O prazo tem início com a intimação do advogado do devedor por meio da imprensa oficial (REsp 940274/MS, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Rel. p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE ESPECIAL, julgado em 07/04/2010, DJe 31/05/2010). Há dúvida, porém, no que respeita ao termo inicial para a contagem do prazo a que alude esse art. 475-J do Código de Processo Civil, nas hipóteses de cumprimento de sentença arbitral, de sentença penal condenatória, de sentença estrangeira homologada, de transação extrajudicial homologada judicialmente e de formal ou certidão de partilha. Aqui, o termo inicial só pode ser a data a partir da qual se torna exigível a obrigação reconhecida no título executivo judicial em tela. Por exemplo: se na sentença homologatória de transação extrajudicial o devedor se obrigar a pagar quantia certa em 60 (sessenta) dias após a data da homologação do acordo, o prazo de quinze dias, aludido pelo artigo 475-J, passará afluir desde o 61º dia após a homologação. Se houver a necessidade de ajuizar-se ação executiva autônoma para o cumprimento da sentença (p.ex.: sentença estrangeira homologada), esse prazo será deflagrado a partir da citação in executivis. Ou seja, nas hipóteses dos incisos II, IV e VI do artigo 475-N do CPC, o termo inicial do prazo é a citação; nas hipóteses dos incisos I, III, V e VII, o termo inicial é a data em que ganha exigibilidade a obrigação declarada no título executivo. Nesse caso, deve-se observar o disposto no parágrafo único do art. 475-N do CPC.
6.3.11. Natureza jurídica da multa.
Trata-se duma multa moratória intraprocessual, caso não realizado o pagamento espontâneo pelo devedor no tempus iudicati de 15 (quinze) dias fixados em lei. É uma multa de índole material, e não de índole processual, pois é ela reduzida na proporção em que reduzido o quantum debeatur. Não se trata de multa coercitiva, tal como a multa do § 4º do artigo 461 do CPC, que visa compelir o devedor ao cumprimento da obrigação. A multa coercitiva, esta sim, pode ser relevada ou modulada caso não se revele eficaz para compelir o devedor. No caso de multa moratória, isto não se dá.
6.3.13. Desconsideração da pessoa jurídica no cumprimento da sentença.
Em caso de desconsideração da personalidade jurídica da empresa devedora, haverá legitimação passiva superveniente de seus sócios. Neste caso, cada qual deles deve ser citado (e não apenas intimado, porquanto ainda não são partes na demanda condenatório-executiva) da sentença líquida ou da decisão de liquidação, para pagarem em 15 (quinze) dias, sob pena de acrescer-se uma multa de 10% (dez por cento) sobre o montante da condenação. Não “herdam”, portanto, o acréscimo anteriormente impingido à pessoa jurídica, porque não podem ser responsabilizados por fato de terceiro. Sem que se lhes dê o ensejo para o pagamento, contra eles não incide a multa prevista no artigo 475-J do CPC.
6.3.14. Condenação em honorários no cumprimento de sentença.
O STJ admite a condenação em honorários advocatícios no cumprimento de sentença (EDcl no AgRg no Ag 1319115/PR, Rel. Ministro MARCO BUZZI, 4ª Turma, julgado em 07/08/2012, DJe 13/08/2012 e AgRg no AREsp 167.952/MS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, 3ª Turma, julgado em 19/06/2012, DJe 27/06/2012). Fred Didier discorda em parte desse entendimento: “Em se tratando de ações sincréticas que visem impor uma prestação de fazer ou não fazer ou de entrega de coisa, certamente não serão devidos honorários advocatícios. Todavia, cuidando-se de cumprimento de sentença de pagar quantia, que depende de provocação da parte e segue um procedimento específico, será justa a fixação de honorários”. 
6.3.15. Cumprimento de sentença e “impugnação de segunda fase”.
Aplicando-se ao cumprimento de sentença, no que couber, a disciplina da execução lastreada em título executivo extrajudicial, pode-se falar em impugnação de segunda fase. Interpretando-se o Capítulo IV do Título III do Livro II, em conjugação funcional com a realidade específica do “cumprimento da sentença”, nada impede que o devedor ofereça a “impugnação à arrematação, ou à adjudicação”, fundada em nulidade da execução, pagamento, novação, transação ou prescrição supervenientes à penhora, desde que supervenientes à penhora, além de nulidade da própria arrematação, ou da adjudicação.
6.3.16. Cumprimento de sentença e usufruto de imóvel ou de empresa.
Não desapareceram, com o advento do cumprimento da sentença, os instrumentos executórios consistentes no usufruto de imóvel ou de empresa. A Lei 11.232/2006 não revogou os artigos 716 a 729 do CPC.
6.3.17. Cumprimento de sentença e art. 42 doCPC.
O artigo 42 do CPC não atua no cumprimento de sentença. Esse dispositivo tem como âmbito de incidência a atividade cognitiva. Para o âmbito da atividade executória (de que é exemplo o cumprimento de sentença), aplica-se o inciso II do art. 567 do CPC.
6.3.18. Art. 475-L, § 1º, do CPC: inexigibilidade do título ou rescisão do julgado?
A incidência do art. 475-L, § 1º, do CPC, apenas torna o título inexigível, não rescindindo o julgado. A sentença permanece incólume. A impugnação fundada no art. 475, inciso II c.c. § 1º, do Código, volta-se contra os atos executivos pós-sentenciais, não contra a sentença em si. Não há rescisão do julgado. Contra este – caso se entenda haver ele recrudescido uma “coisa julgada inconstitucional” –, cabe apenas o ajuizamento de ação rescisória (caso se entenda que o vício é de nulidade), ou de ação declarativa de inexistência de relação processual (caso se entenda que o vício é de inexistência).
6.3.19. Lei 11.232/2005 e liquidação.
No CPC/1939 a liquidação era um incidente do processo. No CPC/1973, passou a ser um processo autônomo. Na reforma do CPC de 1994, a liquidação por cálculo do contador deixou de ser processo autônomo, passando a ser incidente processual. Com a reforma de 2005, todas as espécies de liquidação passaram a ser incidentes, procedimentos. Antigamente exigia-se uma petição inicial para o início da liquidação, hoje, basta um requerimento. Antes exigia-se a citação, não obstante ser na pessoa do advogado. Hoje, faz-se intimação. Antes o recurso cabível era apelação, hoje, cabe agravo de instrumento. Ocorrerá citação nos casos em que não houve processo de conhecimento no juízo cível. Temos três casos: (a) sentença penal condenatória; (b) sentença arbitral; e (c) sentença estrangeira homologada pelo STJ.
6.4. Execução de títulos extrajudiciais.
A) Execução comum
6.4.1. Principais alterações na Lei 11.382/2006.
Há uma série de alterações que tendem a sumarizar o procedimento da ação executiva de título extrajudicial e torná-lo mais efetivo: (a) imposição de multa e de outras sanções de índole processual e material ao devedor que, intimado, não indica bens penhoráveis no prazo de cinco dias (artigo 600, inciso IV); (b) averbação de certidão comprobatória de ajuizamento de execução junto a órgãos de registro de propriedade de bens para caracterização de fraude de execução (art. 615-A); (c) expropriação mediante alienação por iniciativa particular (artigo 647, inciso II); (d) penhorabilidade de frutos e de rendimentos de bens inalienáveis, salvo se destinados à satisfação de prestação alimentícia (art. 650); (e) a penhora imediata de bens por oficial de justiça caso o devedor não efetue pagamento no prazo de 3 (três) dias após ser citado (art. 652, § 1º); (f) possibilidade de o credor indicar bens penhoráveis na inicial (art. 652, § 2º); (g) intimação do executado, em regra, na pessoa do seu advogado (art. 652, § 4º); (h) depósito dos bens constritos em mãos de terceiro, que preferencialmente não sejam o devedor (art. 666, incisos e § 1º); (i) fim da remição por cônjuge, descendente ou ascendente do devedor (art. 7º, II, da Lei 11.232/2006); (j) dispensa de publicação de editais de praça quando o valor dos bens penhorados não exceder 60 (sessenta) salários mínimos (art. 686, § 3º); (k) utilização de meios eletrônicos de divulgação de praça, ou leilão (art. 687, § 2º); (l) possibilidade de realização de alienação de bem constrito através da Internet (art. 689-A); (m) realização de penhora de numerário e de averbações de penhora por meios eletrônicos (art. 659, § 6º); (n) avaliação, em regra, pelo oficial de justiça (art. 680); (o) contagem independente dos prazos de embargos em caso de litisconsórcio passivo (art. 738, § 1º); (p) não-aplicação do art. 191 aos embargos do executado (art. 738, § 3º); (q) a necessidade de o embargado declarar desde logo o valor correto se alegar excesso de execução, sob pena de rejeição liminar dos embargos ou não conhecimento deste fundamento (art. 739-A, § 5º), etc. Importante chamar a atenção para o art.689-A, que instituiu o chamado pregão eletrônico: Art. 689-A. O procedimento previsto nos arts. 686 a 689 poderá ser substituído, a requerimento do exequente, por alienação realizada por meio da rede mundial de computadores, com uso de páginas virtuais criadas pelos Tribunais ou por entidades públicas ou privadas em convênio com eles firmado. Parágrafo único. O Conselho da Justiça Federal e os Tribunais de Justiça, no âmbito das suas respectivas competências, regulamentarão esta modalidade de alienação, atendendo aos requisitos de ampla publicidade, autenticidade e segurança, com observância das regras estabelecidas na legislação sobre certificação digital. 
6.4.2. Sucessão e ação reipersecutória.
Segundo o art. 592, I, do CPC, “ficam sujeitos à execução os bens do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória”. O dispositivo permite a execução direta contra o sucessor singular, nos casos em que o bem era do devedor, ao tempo da obrigação, mas não mais ao tempo da execução. Com isto não há mais necessidade de aforar-se a ação pauliana para que se decrete a ineficácia do ato de alienação.
6.4.3. A nova redação do art. 587 do CPC e a celeridade da execução.
A nova redação do art. 587 criou a possibilidade de execução provisória de título executivo extrajudicial. Aqui, portanto, o propósito da lei é traído (maior celeridade na efetivação do direito), porquanto se torna provisória a execução se interposta apelo da sentença de improcedência proferida nos embargos recebidos com eficácia suspensiva, não sendo possível a realização de praça para a alienação do bem penhorado, com a expedição da respectiva carta de arrematação.
6.4.4. Fraude à execução
As hipóteses de fraude à execução estão previstas nos arts. 593 e 615-A, § 3º, do CPC. Trata-se de ato fraudulento que, além de gerar prejuízo ao credor, atenta contra o próprio Poder Judiciário, dado que tenta levar um processo já instaurado à inutilidade. É considerado ato atentatória à dignidade da justiça (arts. 600 e 601 do CPC). É pacífico na doutrina que o ato cometido em fraude à execução é válido, porém ineficaz perante o credor. Pode ser alegada por mera petição, sendo desnecessária uma ação judicial. Dispensa a prova do consilium fraudis. Súmula 375 do STJ: “O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente”. O seu reconhecimento tem eficácia ex tunc (caráter declaratório).
6.4.6. Fim da remição na arrematação.
Não mais haverá remição na arrematação, pois o inciso II do art. 7º da Lei 11.382/2006 revogou expressamente os artigos 787, 788 e 789 do CPC, que são os dispositivos que tratam da possibilidade de o cônjuge, o descendente ou o ascendente do devedor remir todos ou quaisquer bens constritos, depositando o preço por que foram alienados ou adjudicados. Após o advento da Lei 11.382/2006, o cônjuge, descendente ou ascendente do devedor que deseja preservar o bem junto ao seio familiar deve concorrer com os demais licitantes, em hasta pública ou leilão particular.
6.4.8. Lei 11.382/2006 e exceção de pré-executividade.
	Em sede de execução de título executivo extrajudicial, não mais subsiste a figura da exceção de pré-executividade, pois não há mais a necessidade de o executado garantir o juízo para poder defender-se (artigo 736 do CPC). Nesse sentido é a exposição de motivos da Lei 11.382/2006. Todavia há pensamentos divergentes, pois pode ser interesse do devedor a extinção da execução independentemente de penhora. Ora, 3 dias após a citação, o oficial de justiça efetuará a penhora (art. 652, § 1º, do CPC) e o prazo dos embargos é de 15 dias contados da juntada do mandado de citação (art. 738, caput, do CPC), ademais, o efeito suspensivo dos embargos só se dá com a penhora, já na exceção de pré-executividade, é possível pedi-lo independentemente de garantiado juízo. Por fim ressalte-se a celeridade de julgamento da exceção de pré-executividade, já que procedimento interno do processo, mero incidente.
6.4.10. Efeitos da penhora na nova execução de título extrajudicial.
No plano material, tem-se: a) a ineficácia da disposição do bem penhorado perante o processo de execução, sem afetar o domínio do executado (CPC, art. 593; 600, I); b) o desapossamento do executado, pois a posse imediata do bem penhorado, em regra, é dada a terceiro (CPC, art. 666, inciso III). No plano processual, tem-se: c) o destacamento de bens do patrimônio do executado; d) a conservação dos bens, mediante a sua confiança a um depositário; d) direito de preferência (CPC, art. 612); e) desencadeamento da técnica expropriatória.
6.4.11. Averbação e constrição.
Efetuada a averbação prevista no artigo 615-A, não surge para o exequente a antecipação de preferência assegurada à penhora, para fins do concurso de preferências (arts. 711 e 713 do CPC), pois não se está diante ainda de ato constritivo. O artigo 615-A do CPC não cuida de averbação de penhora ou arresto, mas de averbação de certidão comprobatória de ajuizamento de execução.
6.4.12. Harmonização dos parágrafos do art. 652 do CPC.
De acordo com o novo § 3º do artigo 652 do Código de Processo Civil, “o juiz poderá, de ofício ou a requerimento do exequente, determinar a qualquer tempo a intimação do executado para indicar bens passíveis de penhora”. Essa intimação terá cabimento apenas se: a) o oficial de justiça não conseguir proceder de imediato à penhora de bens do devedor caso este não pague a dívida em três dias contados da citação (art. 652, § 1º); b) o credor não indicar, na petição inicial da execução, os bens a serem penhorados (art. 652, § 2º). Neste sentido, o executado é notificado a cumprir o seu dever. Tanto é verdade que, caso ele persista na sua recalcitrância, a sua conduta configurará “ato atentatória à dignidade da justiça”. Daí a redação do inciso IV do art. 600 do Estatuto Processual.
6.4.15. O depositário de bens penhorados.
Antes da Lei nº 11.382/2006, o caput e os incisos do artigo 666 do CPC previam como regra o depósito dos bens penhorados em mãos do próprio executado. Os bens penhorados só seriam depositados em mão de terceiro (instituições financeiras oficiais, depositário judicial ou depositário particular) se a não-concordância do credor estivesse “calcada em motivos plausíveis”, não podendo ser “absoluta e discricionária a recusa” (JTA 61/133). Com a nova, essa regra é totalmente invertida: os bens penhorados serão preferencialmente depositados em mãos de bancos oficiais, de depositário judicial ou de depositário particular (cf. caput e incisos do novo art. 666 do CPC), de maneira que só serão depositados em poder de executado mediante “expressa anuência do exequente ou nos casos de difícil remoção” (cf. § 1º do art. 666 do CPC). Ou seja, o § 1º do art. 666 prevê como regra o depósito em mãos de terceiro.
6.4.16. Lei 11.382/2006 e Decreto-lei 70/66.
A última reforma do processo de execução não implicará a supressão do ordenamento jurídico da execução extrajudicial prevista no Decreto-lei nº 70/66 – execução extrajudicial de imóvel objeto de cédula hipotecária –, pois esta consiste em norma especial (“norma geral posterior não revoga norma especial anterior”.
6.4.17. Lei 11.382/2006 e Lei nº 5.471/71.
Da mesma forma, a Lei 11.382 não atinge a execução prevista na Lei 5.471/71 (que dispõe sobre a proteção do financiamento de bens imóveis vinculados ao Sistema Financeiro da Habitação).
B) Execução fiscal
6.4.18. Créditos inscritíveis em Dívida Ativa.
Nem todos os créditos da Fazenda Pública sujeitam-se à disciplina da Lei nº 6.830/80. De acordo com o artigo 1º c.c. artigo 2º, ambos da Lei de Execuções Fiscais, sujeita-se à disciplina da referida lei a cobrança da “Dívida Ativa da Fazenda Pública”, assim entendida “aquela entendida como tributária ou não-tributária na Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, com as alterações posteriores (...)”. De acordo ainda com o § 2º do artigo 39 da Lei 4.320/64, a “Dívida Ativa Tributária é o crédito da Fazenda Pública dessa natureza, proveniente de obrigação legal relativa a tributos e respectivos adicionais e multas, e Dívida Ativa não-Tributária são os demais créditos da Fazenda Pública. Ressalve-se, todavia, que, segundo entendimento quase unânime no E. Superior Tribunal de Justiça, “não há como processar-se, no rito executivo fiscal, lide atinente a controvérsia oriunda de relação jurídica regida pelo direito privado, porque, se a causa não é fiscal ou de direito público, o procedimento é inadequado e fere o princípio do devido processo legal” (STJ, 3ª T., Ag 16.515-RS, rel.min. Waldemar Zveiter, j. 10.9.1992, DJ 9.3.1992, p. 2.580, v.u., negaram provimento).
6.4.20. Execução fiscal e conceito de Fazenda Pública.
O conceito de Fazenda Pública, para fins de admissibilidade do rito previsto na Lei nº 6.830/80, se encontra no próprio artigo 1º da LEF: União, Estados, Distrito Federal, Municípios e suas respectivas autarquias. A esse rol acrescente-se as fundações públicas de direito público e as associações públicas
6.4.21. Certidão de Dívida Ativa e falência.
Com base na CDA, é lícito à Fazenda Pública requerer a falência do devedor tributário (art. 94, inc. I, da Lei 11.101/05).
6.4.22. Execução comum e execução fiscal. 
Não pode a Fazenda Pública declinar da disciplina da Lei 6.830/80, adotando o rito da execução comum para satisfação de seu crédito, especialmente quando já existe um título executivo extrajudicial em seu favor. O comando do artigo 1º da LEF é imperativo: “a execução judicial para cobrança da dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e respectivas autarquias será regida por esta lei e, subsidiariamente, pelo Código de Processo Civil” (destaque nosso).
6.4.23. Legitimados passivos na execução fiscal.
Os incisos do art. 4º da LEF relacionam não apenas o devedor – nos termos do art. 568, inciso I, do Código de Processo Civil, é o “reconhecido como tal no título executivo” –, mas o fiador, o espólio, a massa, o responsável e os sucessores a qualquer título, como outras partes passivamente legitimadas para a execução fiscal. Já o terceiro que oferece bens à penhora não é legitimado passivo, razão pela qual não é intimado para a oposição de embargos à execução, mas quando muito para remir o bem, caso queira (LEF, art. 19, I). Contra: ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 6. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2000, p. 843: “feito o oferecimento, e aceito ele pela Fazenda, conforme recorda a parte final do nº IV do referido artigo 9º, o terceiro adquire a condição de parte (...)”.
6.4.24. Execução fiscal e títulos públicos.
É admissível na execução fiscal a oferta, para a garantia da execução, de títulos emitidos pela própria exequente, desde que tenham cotação em Bolsa (cf. artigo 11, inciso II, da LEF). A lei se refere a “títulos da dívida pública”, sem tecer qualquer diferenciação entre as apólices, bônus, letras do Tesouro, bilhetes, cupões e obrigações, e entre títulos municipais, estaduais e federais. Somente títulos da dívida pública cotáveis em mercado de Bolsa ou balcão, conversíveis em dinheiro por cotação do dia, podem ser eles dados em garantia ao juízo da execução fiscal, ainda que emitidos pelo próprio exequente (v. AC 200434000220897, Desembargador Federal Reynaldo Fonseca, Trf1 – 7ª Turma, Data: 17/12/2010).
6.4.25. Depósito em dinheiro x Fiança bancária
	A partir da redação do art. 15, II, da LEF, os contribuintes afirmavam que havia direito à substituição do depósito em dinheiro ou da penhora sobre dinheiro por fiança bancária, pois seriam equivalentes dentro do rol do art. 11 da LEF. Havia divergência entre a 1ª e a 2ª Turma do STJ. A questão foi pacificada pela 1ª Seção: “regra geral, quando o juízo estiver garantido por meio de depósito em dinheiro, ou ocorrer penhora sobre ele, inexistedireito subjetivo de obter, sem anuência da Fazenda Pública, a sua substituição por fiança bancária” (EREsp 1077039/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Rel. P/ Acórdão Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 9/2/2011, DJe 12/04/2011.
6.4.26. Embargos de devedor e suficiência da penhora.
São admissíveis embargos do devedor se os bens penhorados não forem suficientes para garantir a efetividade da execução. Pensar o contrário implicaria garantir o direito de defesa ao “rico”, que dispõe de patrimônio suficiente para segurar o juízo, e negar este direito de defesa ao “pobre”, cujo patrimônio insuficiente passaria a ser de pronto alienado para a satisfação parcial do crédito (cf. PAULSEN, Leandro et alii. Direito processual tributário. Porto Alegre: Liv. do Advogado, 2003, p. 271). A Primeira Seção do STJ, no julgamento do REsp n. 1.127.815/SP, em 24/11/2010, Relator Ministro Luiz Fux, feito submetido à sistemática do art. 543-C do CPC, reafirmou entendimento no sentido de que uma vez efetuada a penhora, ainda que insuficiente, encontra-se presente a condição de admissibilidade dos embargos à execução, haja vista a possibilidade posterior da integral garantia do juízo, mediante reforço da penhora.
6.4.27. Não localização do devedor ou de bens penhoráveis e prescrição intercorrente.
Não localizado o devedor ou não encontrados bens penhoráveis, suspende-se a execução e interrompe-se a fluência do prazo prescricional (art. 40 da LEF). Após um ano da suspensão, caso não seja localizado o devedor ou encontrados bens, o juiz determinará o arquivamento do processo (art. 40, § 2º, da LEF). O processo permanecerá arquivado até o implemento do prazo prescricional (prescrição intercorrente), quando então o juiz deverá decretá-la (art. 40, § 4º, da LEF).
6.4.29. Execução fiscal e embargos de segunda fase.
Cabem embargos à arrematação na execução fiscal, por aplicação supletiva do art. 794 do CPC. Com relação ao prazo e seu termo inicial, o seguinte julgado do STJ é elucidativo: PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS À ARREMATAÇÃO. ART. 746, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. PRAZO. TERMO INICIAL. ART. 24, II, "B", DA LEI 6.830/80. 1. O prazo para oposição de embargos à arrematação, nos termos do art. 738 c/c 746 do CPC, é de 10 (dez) dias, até o advento da Lei 11.382/2006, que o reduziu para 5 (cinco) dias. 2. Em se tratando de execução fiscal, o termo inicial para oferecimento desses embargos inicia-se não a partir da assinatura do auto de arrematação (regra geral – art. 694 do CPC), mas após decorridos os 30 (trinta) dias de que trata o art. 24, II, "b", da Lei 6.830/80, quando a arrematação pela Fazenda Pública torna-se perfeita e irretratável. (REsp 872.722/SP, Rel. Ministra Eliana Calmon, 2ª Turma, julgado em 3/6/2008, DJe 6/8/2008).
6.4.30. Terceiro prestador de garantia.
Segundo melhor doutrina, “quem tem legitimidade para propor embargos à execução é o devedor principal, e não o terceiro garantidor. Tratando-se de embargos à arrematação ou à adjudicação, todavia, tanto o devedor principal como o terceiro, têm legitimidade para propô-los.
6.4.31. Execução por carta e Tribunal competente.
Segundo o artigo 20 da LEF, “na execução por carta, os embargos do executado serão oferecidos no juízo deprecado, que os remeterá ao juízo deprecante, para instrução e julgamento”. Segundo ainda o § único desse dispositivo legal, “quando os embargos tiverem por objeto vícios ou irregularidades de atos do próprio juízo deprecado, caber-lhe-á unicamente o julgamento dessa matéria”. Os recursos eventualmente interpostos contra a decisão do juízo deprecado será endereçado ao seu respectivo Tribunal. Se houver ao mesmo tempo ataque aos juízos deprecado e deprecante, dois embargos devem ser autuados, separadamente.
6.4.33. Arrematação por preço vil.
Também na execução fiscal existe proibição de preço vil em caso de arrematação. Ora, o CPC aplica-se, subsidiariamente, à Lei de Execução Fiscal (LEF, art. 1º). Logo, uma vez que a LEF não prevê expressamente que no leilão se leve em conta a avaliação, às execuções fiscais se aplicam os artigos 692 e ss. do CPC (cf. FERNANDES, Odmir et alli. Lei de Execução Fiscal comentada e anotada. 4. ed. São Paulo: RT, 2002, p. 336; ÁLVARES, Manoel. Execução fiscal: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 1009, p. 408-409; THEODORO JR., Humberto. Lei de Execução Fiscal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 106). Na jurisprudência: STJ, 1ª T., RESP 29.314-SP, rel. Min. Garcia Vieira, j, 02.02.1992, DJU 08.03.1993, p. 3.101, v.u., deram provimento; STJ, RESP 70.891-0-SP, rel. Min. Peçanha Martins, j. 27.09.1995, RSTJ 79, p. 132; STJ, 1ª T, RESP 41.550-93-SP, rel. Min. Demócrito Reinaldo, j. 21.02.1994, DJU 14.03.1994, p. 4.488. A jurisprudência do STJ considera vil preço inferior à metade do valor da avaliação (AGA 201000234290, Humberto Martins, STJ, 2ª Turma, DJe Data: 22/9/2010).
6.4.34. Execução embargada e ação anulatória de ato declarativo da dívida.
Entre a ação anulatória de débito fiscal e os embargos à execução fiscal existe conexão, devendo os processos ser reunidos para o julgamento conjunto (STJ, 1ª T., RESP 46.193-6/SP, rel.min. Milton Luiz Pereira), a menos que um deles já tenha sido julgado (Súmula 235 do STJ). Quando muito, só se há de falar em prejudicialidade entre a ação anulatória e a execução não-embargada (cf. STJ, 2ª T., RESP 64.2766/SC, rel.min. Eliana Calmon). Em todo caso, a fixação da competência para julgamento dos dois processos obedece a normas de prevenção.
6.4.35. Cancelamento de C.D.A. antes do julgamento dos embargos.
O cancelamento da certidão de dívida ativa antes do julgamento dos embargos equivale a uma desistência da ação de execução fiscal. Logo, se os embargos versaram questões meramente processuais, devem ser extintos; em contrapartida, se versarem também questões de direito material (= mérito da ação de execução), só haverá o perecimento dos embargos mediante a anuência do embargante. É o que deflui do art. 569, pu, “a” e “b”, do CPC. Não obstante a previsão do art. 26 da Lei 6.830/80, segundo a súmula 153 do STJ, “a desistência da execução fiscal após o oferecimento dos embargos, não exime o exequente dos encargos da sucumbência”.
6.5. defesa na execução.
6.5.2. Sentença arbitral: impugnação (CPC, art. 475-L) X ação de nulidade (Lei 9.307/66, art. 33).
Caso se afirme que a impugnação é uma “ação embutida”, poder-se-á falar em conexão entre a ação de nulidade de sentença e a impugnação; mas se se afirmar que a impugnação é um mero incidente, embora não se possa falar na conexão propriamente dita, há inegável prejudicialidade entre a impugnação e a ação de nulidade de sentença arbitral.
6.5.3. O art. 475-L, § 1º, do CPC: inconstitucional?
O § 1º do art. 475-L é constitucional. Não vulnera a coisa julgada decorrente de processo que enseja o cumprimento de sentença. A inexigibilidade imposta a uma sentença transitada em julgado não é uma violação da coisa julgada. A CF-88 prescreve a “irretroatividade da lei em face da coisa julgada”, não o “absolutismo da coisa julgada”. O princípio do respeito à coisa julgada é um princípio que se lança na mesma hierarquia de outros princípios constitucionais instituídos pelo Poder Constituinte Originário. Logo, na colisão entre eles, devem ser conformados dentro de um juízo de proporcionalidade, acatando-se os princípios da adequação, da necessidade e da proporcionalidade em sentido estrito. Quando o Supremo pronuncia a inconstitucionalidade da norma, opera como legislador negativo, pois a retira do ordenamento jurídico com eficácia ex tunc. Assim, a não se pode admitir que uma sentença, fundada em norma que foi declarada pelo STF como jamais integrante do sistema, possa produzir efeitos. Somente se poderá acolher a impugnação com base no § 1º do art. 475-L se se fundar em jurisprudência do STF, e não de qualquer outro tribunal.
6.5.4. Ação liberatória.
Não há mais ensejo para a ação liberatória, pois a Lei11.232/05 revogou expressamente o art. 570 do CPC.
6.5.5. Exceção de pré-executividade.
Como dito, admite-se no cumprimento de sentença a exceção de pré-executividade. A exceção de executividade é possível quando a matéria é de ordem pública, ou, mesmo não sendo de ordem pública, não há necessidade de dilação probatória (a prova deve ser pré-constituída). A exceção de executividade não implica a suspensão da execução fiscal. De qualquer maneira, não há um prazo para a arguição da exceção: pode ser empregada a qualquer tempo, enquanto não extinto o processo (REsp 818.453/MG, Rel. Ministro Luiz Fux, 1ª Turma, julgado em 16/9/2008, DJe 2/10/2008), mesmo que expirado o prazo para embargos. Deve-se lembrar que: 1) a apresentação de exceção não suspende a execução; 2) o contraditório é obrigatório, devendo o exequente pronunciar-se em 30 (trinta) dias (LEF, art. 17, analogia); 3) a decisão que acolhe a exceção de pré-executividade é sentença, podendo ser ela desafiada por meio de apelação e remessa obrigatória (CPC, artigo 475, §§ 1º e 3º); 4) não obstante a previsão do art. 1º-D da Lei 9.494/97, cabe condenação em honorários contra a Fazenda Pública, pois o STF realizou interpretação do dispositivo conforme a CF e definiu que somente se aplicaria às execuções contra a Fazenda Pública realizadas por precatório (RE 420816 ED, Relator(a) Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 21/3/2007). Ver súmula 393 do STJ: “A exceção de pré-executividade é admissível na execução fiscal relativamente às matérias conhecíveis de ofício que não demandem dilação probatória”.
6.5.6. Exceção de pré-executividade: amparo normativo.
Embora a exceção de pré-executividade seja um instituto supralegal, tem lastro em, pelo menos, dois princípios: o princípio da razoabilidade (pois não é racional que o juiz postergue o conhecimento de questões que poderiam e/ou deveriam ser levantadas liminarmente, condicionando-lhes o conhecimento à constituição de penhora, que muitas vezes é gravosa ao patrimônio do executado) e o princípio da proporcionalidade stricto sensu (pois a necessidade de que execuções infundadas sejam evitadas justifica, por vezes, a renúncia à cognição nos embargos) (CASTRO, Carlos Alberto Siqueira. O devido processo legal e os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 205, pp. 141. e ss).
6.6. EXECUÇÃO e coisa julgada.
O instituto da coisa julgada é compatível com a atividade executiva, não obstante a expressão res iudicata traga a idéia de julgamento decorrente de uma atividade cognitiva. Em primeiro lugar, não se há de esquecer que a execução, tal como a cognição, tem índole jurisdicional (cf. DINAMARCO, Cândido R. Execução civil. 7. ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2000, p. 191; ZAVASCKI, Teori Albino. Processo de execução. 3. ed. São Paulo: RT, 2004, p. 67). Nesse sentido, se a razão de ser da coisa julgada é trazer segurança jurídica para o resultado da atividade jurisdicional, não importando a sua natureza, não impede que a sentença declaratória do art. 795 do CPC seja selada com a autoridade da coisa julgada, com o quê se evita a repetição da mesma atividade jurisdicional. Em segundo lugar, a atividade executória procura a satisfação de um mérito executivo. É bem verdade que inexiste julgamento de mérito na execução, o que não significa que não existe um mérito in executivis, veiculado pela demanda. Se o mérito é a relação de direito material controvertida afirmada em juízo, ela será a mesma tanto no processo cognitivo quanto no processo executivo: em uma ação de cobrança julgada procedente, muda o tipo de atividade jurisdicional desenvolvida nas fases de conhecimento e de execução, mas permanece idêntico nelas o mérito, pois o bem da vida nelas perseguido é o mesmo. Logo, se a sentença de mérito na execução declara a satisfação do credor, mediante o recebimento do bem da vida, deve ela ser selada pela imutabilidade, a fim de que não haja mais repetição dessa atividade jurisdicional (cf. MOURÃO, Luiz Eduardo Ribeiro. Ensaio sobre a coisa julgada civil [dissertação de mestrado]. São Paulo: PUC-SP, 2006, p. 236). Enfim, desde que haja satisfação do credor (= extinção normal da execução), há formação de coisa julgada executiva. A sentença do art. 795 do CPC é, pois, decisão sobre o mérito da execução (NERY JR., Nelson et alii. Comentários ao Código de Processo Civil comentado. São Paulo: RT, 1994 , nota 1 ao art. 795, p. 933). Não por outra razão o E. STJ já afirmou que “a decisão que extingue execução pelo pagamento, reveste-se de conteúdo material, sendo, portanto, atacável pela ação rescisória” (STJ, 6ª Turma, RESP nº 238.059-RN, rel.min. Fernando Gonçalves, j. 21.03.2000). No mesmo sentido: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Notas sobre alguns aspectos controvertidos da ação rescisória. In RePro 39, p. 15: “[...] tratando-se de sentença que extingue a execução, porque o devedor satisfez a obrigação, pode o devedor obter, mediante transação ou qualquer outro meio, a remissão total da dívida ou por o credor ter renunciado ao crédito, inegavelmente, ficará ela abrangida pela imutabilidade própria da coisa julgada”).
O assunto não é pacífico na doutrina. Marinoni, por exemplo, discorda, entendo que a sentença nas hipóteses do art.795 não possui mérito, é meramente extintiva, não produzindo coisa julgada.
1. Conceito de Execução
Conceito de execução elaborado por Luiz Guilherme Marinoni, com os olhos postos numa contemporaneidade marcada pelo constitucionalismo: “(...) a execução, no Estado constitucional, não pode ser reduzida a um ato de transferência de riquezas de um patrimônio a outro, devendo ser vista como a forma ou o ato que, praticado sob a luz da jurisdição, é imprescindível para a realização concreta da tutela jurisdicional do direito, e assim para a própria tutela prometida pela Constituição e pelo direito material.” E conclui: “(...) toda vez que a tutela jurisdicional do direito requerer ato ulterior à prolação da sentença, exista ou não prestação a ser cumprida (respectivamente, por exemplo, devedor de obrigação creditícia e réu na ação de reintegração de posse), há execução.” (MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil. Execução. Vol. 3.º São Paulo : Revista dos Tribunais, 2007. p. 70).
Araken de Assis: execução é transformação, operada no mundo dos fatos, com o emprego da força do Estado, em obediência a um comando judicial.
Daniel Amorim Assumpção Neves: “execução é um “conjunto de meios materiais previstos em lei, à disposição do juízo, visando a satisfação do direito”.
Fredie Didier Jr.: “executar é satisfazer uma prestação devida. A execução pode ser espontânea, quando o devedor cumpre voluntariamente a prestação, ou forçada, quando o cumprimento da prestação é obtido por meio de prática de atos executivos pelo Estado.
NATUREZA JURÍDICA
Seguindo a doutrina dominante, senão unânime, Araken de Assis concebe a ação, inclusive a de execução, como direito abstrato à tutela jurisdicional do Estado; abstrato, por competir tanto a quem tem quanto a quem não tem razão. No que se refere à execução, não admite sequer a categoria das condições da ação. O direito de pedir a execução é abstrato e incondicionado.
ESPÉCIES:
Provisória e Definitiva.
De título judicial e extrajudicial:
Para entrega de coisa.
De obrigação de fazer e não fazer.
Para pagamento de quantia certa:
Contra devedor solvente.
Contra devedor insolvente.
Contra a fazenda pública.
Contra devedor de alimentos.
Diferida: é a que acontece quando a exigibilidade da prestação depende do implemento de condição (suspensiva) ou do advento do termo, caso em que “o credor não poderá executar a sentença sem provar que se realizou a condição ou que ocorreu o termo” (art. 572 do CPC).
Direta e Indireta.
1. Execução Provisória e Execução Definitiva
Natureza jurídica da execução provisória: tutela antecipada. Antigamente se dizia que ela tinha natureza cautelar, pois parava na penhora, sendo semelhante

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