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CONCEITO DE CONDUTA/AÇÃO * Autor: Guilherme Cruz do Nascimento, estudante do 10º Semestre curso de Direito pela UniFG. ** Este é apenas parte de um estudo sobre o conceito analítico de crime e seus elementos. Dando sequência ao estudo do conceito analítico do crime, adentrando-se no primeiro elemento objeto de estudo, vamos examinar a respeito do fato típico. Lembrando que pela teoria tripartite, crime é toda ação típica, ilícita e culpável. Sente que o fato típico é composto pelos seguintes elementos: a) Conduta (dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva); b) Resultado; c) Nexo de causalidade (material ou normativo); e d) Tipicidade (formal ou conglobante). No entanto, o presente trabalho se limita a analisar o elemento da conduta que compõe o fato típico. Deste modo, compreende-se conduta como sinônimo de ação, ou comportamento humano. Greco conceitua conduta como: “A ação, ou conduta, compreende qualquer comportamento humano comissivo (positivo) ou omisso (negativo), podendo ser ainda dolosa (quando o agente quer ou assume o ressico de produzir o resultado) ou culposa (quando o agente infringe o seu dever de cuidado, atuando com negligência, imprudência ou imperícia).” (GRECO, 2015, p.15 ). O conceito de conduta pode ser estudado a partir de três teorias a causal, final e social. Teoria causal/causalista: Para tal teoria o conceito de ação deve ser analisado em dois momentos diferentes, o primeiro seria o sistema clássico, o segundo o sistema neoclássico. O Sistema Clássico, criado por Von Liszt e Beling, conceitua ação como o “movimento corporal voluntário que causa modificação no mundo exterior. A manifestação de vontade, o resultado e a relação de causalidade são os três elementos do conceito de ação”. (BIRTENCOURT, p.242). Franz von Liszt diz que: “ação é pois o fato que repousa sobre a vontade humana, a mudança do mundo exterior referível à vontade do homem. Sem ato de vontade não há ação, não há injusto, não há crime: congitationis poenam nemo patitur. Mas também não há ação, não há injusto, não há crime sem uma mudança operada no mundo exterior, sem um resultado.” (VON LISZT, Franz. Tratado de direito penal alemão, t. I, p.193). Conforme assevera Rogério Greco: “A concepção clássica recebeu inúmeras críticas no que diz respeito ao conceito de ação por ela proposto, puramente natural, uma vez que, embora conseguisse explicar a ação em sentido estrito, não conseguia solucionar o problema da omissão.” (GRECO, p.156). Já o Sistema Neoclássico, segundo Juarez Cirino dos Santos: “a) o conceito de ação deixa de ser apenas naturalista para ser, também, normativo, redefinido como comportamento humano voluntário; b) o tipo de injusto - ou antijurídicidade típica -perde a natureza livre de valor para incluir elementos normativos, como documento, motivo torpe etc., e elementos subjetivos, como as intenções e tendências especiais de ação e, até mesmo, o dolo na tentativa; c) a culpabilidade estrutura-se como conceito psicológico-normativo, com a reprovação do autor pela formação de vontade contrária ao dever”. (SANTOS, p.85). Assim, pode-se dizer que ação se define como o comportamento humano voluntário manifestado no mundo exterior. Por fim, mesmo evoluindo para o sistema neoclássico, a teoria causal continuou com alguns pontos falhos como ensina Birtencourt: A teoria causal da ação, que teve boa acolhida em muitos países, foi praticamente abandonada pela dogmática alemã, começando com a advertência do próprio Radbruch, que, já no início do século XX, destacou que o conceito causal de ação era inaplicável à omissão, conforme já referimos. Falta nesta uma relação de causalidade entre a não realização de um movimento corporal e o resultado. Nessas circunstâncias, o conceito causal de ação não pode cumprir a função de elemento básico, unitário, do sistema da teoria do delito. Finalmente, em relação aos crimes culposos, a teoria não teve melhor sorte; com a compreensão de que o decisivo do injusto nos crimes culposos é o desvalor da ação, a doutrina causal da ação fica também superada. (BIRTENCOURT, p.243). Teoria Final da Ação: Elaborada por Welzel em oposição ao conceito causal, diz que a ação é “um comportamento humano voluntário dirigido a uma finalidade qualquer” (GRECO, p.157). Segundo Birtencourt: A crítica mais contundente sofrida pela teoria finalista refere-se aos crimes culposos, cujo resultado se produz de forma puramente causal, não sendo abrangido pela vontade do autor. Essas críticas levaram Welzel a reelaborar sua concepção de culpa, inicialmente, em 1949, através do critério da finalidade potencial. Nos delitos culposos, dizia Welzel, há uma “causação que seria evitável mediante uma atividade finalista”. No entanto, as contundentes e procedentes críticas de Mezger, Niese e Rodríguez Muñoz, segundo os quais a constatação da evitabilidade da causação, através de uma atividade finalista, já implica o juízo de culpabilidade, obrigaram Welzel a abandonar o critério da finalidade potencial, e reestruturar a sua concepção, admitindo a existência de uma ação finalista real nos crimes culposos, cujos fins são, geralmente, irrelevantes para o Direito Penal. Com efeito, nos crimes culposos, na verdade, decisivos são os meios utilizados ou a forma de sua utilização, ainda que a finalidade pretendida seja em si mesma irrelevante para o Direito Penal. Assim, Welzel passou a afirmar que “o conteúdo decisivo do injusto nos delitos culposos consiste, por isso, na divergência entre a ação realmente empreendida e a que devia ter sido realizada em virtude do cuidado necessário. (BIRTENCOURT, p.245) Teoria Social da Ação: Conforme Daniela Freitas Marques “o conceito jurídico de comportamento humano é toda atividade humana social e juridicamente relevante, segundo os padrões axiológicos de uma determinada época, dominada ou dominável pela vontade.” (MARQUES, p.67). Deste modo, verifica-se que ação seria toda conduta que possui alguma relevância social. Dentro do conceito de conduta ainda destaca-se a noção de dolo e culpa, a conduta pode ser ainda omissiva e comissiva. 1) Conduta dolosa ou culposa: Toda agente que comete uma ação age sob dolo ou culpa, tais elementos diante da profundidade merecem ser estudados em momento próprio, todavia, para o presente momento se faz necessário dizer que, conforme Greco ensina “Ou o agente atua com dolo, quando quer diretamente o resultado ou assume o risco de produzi-lo; ou age com culpa, quando dá causa ao resultado em virtude de sua imprudência ou negligência.” (GRECO, 2015, p.157). O conceito de dolo e culpa encontram-se previsto no art.18 do Código Penal: Art. 18 - Diz-se o crime: Crime doloso I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; Crime culposo II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 2) Conduta comissivas e omissivas: Nos crimes comissivos o agente age com a intenção de cometer uma ação ilícita. Como por exemplo no crime de furto (art.155 do CP) onde o agente dirige sua conduta no intuito subtrair coisa alheia móvel. Nesse sentido, os crimes comissivos são aqueles cujo a doutrina costuma dizer em que a conduta praticada pelo agente é positiva. Já os omissivos, a conduta do agente é negativa, ou seja, ele se abstêm de promover uma ação cuja a obrigação eraprevista em lei. Os crimes omissivos dividem-se em próprios e impróprios. Próprios são aqueles onde há um dever genérico de proteção, ou, na lição de Mirabete: “são os que objetivamente são descritos com uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão na transgressão da norma jurídica e não sendo necessário qualquer resultado naturalístico. (MIRABETE, p.124). Os impróprios, por sua vez, são aqueles em que há o chamado dever especial de proteção (art.13, §2º do CP), nesse caso o agente encontra-se numa situação de garante ou garantidor, ou seja, ele possui uma obrigação legal de cuidado, proteção ou vigilância, ou tenha assumido a responsabilidade de impedir o resultado, ou ainda, quando o seu comportamento anterior, cria o risco da ocorrência do resultado. Dentro da analise a respeito da conduta/ação, destaca-se ainda: 3) Ausência de conduta: É quando o agente não atua com dolo ou culpa, acontece nos casos de força irresistível (art.22 do CP); movimentos reflexos; e estado de inconsciência. Essas hipóteses são chamadas de (excludente de conduta). 4) Sujeitos da ação: a) Ativo: aquele que comente a conduta, ou que prática a ação; b) passivo: aquele que é titular do bem jurídico violado pela ação. O estudo sobre resultado segue para a próxima oportunidade. REFERÊNCIAS: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal : parte geral, 1. – 17. ed. rev., ampl. e atual. De acordo com a Lei n. 12.550, de 2011. – São Paulo : Saraiva, 2012. GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte Geral. Vol.1 – 16.ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014. MARQUES, Daniela Freitas. Elementos subjetivos do injusto. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal _ Parte Geral. 8.ed. São Paulo: Atlas, 1994, v.1. SANTOS, Juarez Cirino dos Direito penal : parte geral I. 6. ed., ampl. e atual. - Curitiba, PR : ICPC Cursos e Edições, 2014. VON LISZT, Franz. Tratado de direito penal alemão. Tradução de José Hygino Duarte Pereira. Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1889. t. I. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de derecho penal – Parte geral. Buenos Aires: Ediar, 1996.
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