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ANTECEDENTES INTERNACIONAIS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: do Período Pré-flexeriano à Carta de Ottawa INTRODUÇÃO A assistência à saúde de cada sociedade está vinculada ao seu contexto socioeconômico e cultural. Por trás do poder da medicina, do médico e do medicamento, do ritual xamânico (faculdades mágicas, curativas ou divinatórias), sempre houve um papel social exercido em nome da arte ou ciência de curar ou aliviar o sofrimento. CONDIÇÕES DE SAÚDE NO SÉCULO XIX A Revolução Industrial e a urbanização favoreceu a emergência de epidemias e a deterioração progressiva das condições de vida das populações mais pobres na medida em que se acentuavam os fluxos migratórios desordenados REAÇÕES INTERNACIONAIS Pais Conduta Observações Inglaterra Lei dos pobres Religiosos cuidavam da saúde dos pobres e os mantinha fieis ao sistema França Medicina Urbana Quarentena, mudança de hospitais e cemitérios e individualização dos ataúdes e das tumbas. Alemanha Polícia Médica Controle da atividade médica, normalização do ensino e do saber médicos e um sistema de observação das taxas de natalidade e mortalidade. Prevenção e controle das doenças transmissíveis, da habitação, da educação sanitária, da nutrição, da higiene pessoal e ocupacional REAÇÕES INTERNACIONAIS Pais Conduta Observações EUA O governo americano sentia-se desobrigado de coordenar uma política nacional de saúde Os aglomerados urbanos passaram a enfrentar problemas advindos da miséria após o intenso fluxo de imigrantes europeus e os surtos epidêmicos trouxeram grandes prejuízos à indústria americana. ANTECEDENTES DO PARADIGMA FLEXNERIANO Inúmeros avanços tecnológicos no setor saúde FINAL DO SÉCULO XVIII - descoberta da imunização ativa contra a varíola METADE DO SÉCULO XIX - procedimentos anestésicos FINAL DO SÉCULO XIX - microbiologia - determinantes precisos e passíveis de prevenção e/ou intervenção humana PARADIGMA FLEXNERIANO • Soberania da Medicina Científica • Também chamado modelo biomédico, estruturado durante o século XIX, associa doença à lesão, reduzindo o processo saúde-doença à sua dimensão anatomofisiológica, localizando suas principais estratégias de intervenção no corpo doente. PARADIGMA FLEXNERIANO Mecanicismo - analogia do corpo humano com a máquina Biologicismo - tenta explicar as causas e consequências das doenças através de alterações biológicas diversas Individualismo - eleição do indivíduo como objeto da medicina, em detrimento das coletividades humanas. O paciente é visto como uma eventual vítima de conjunções de fatores desfavoráveis e fatalidades que lhe atingem individualmente PARADIGMA FLEXNERIANO Especialização - troca entre a globalidade do objeto da prática médica e a profundidade do conhecimento de suas dimensões específicas Exclusão de práticas alternativas - a medicina científica firmou-se como eficaz porque era comprovada cientificamente, ao contrário das práticas baseadas no empirismo ou no curandeirismo. PARADIGMA FLEXNERIANO Tecnificação do ato médico - legitima o mecanicismo e o biologicismo Ênfase na medicina curativa - interpreta a fisiopatologia como o próprio agravo, e não como sua expressão. Concentração de recursos financeiros da sociedade industrial e mercantilista na assistência médica. TRANSIÇÃO DO PARADIGMA FLEXNERIANO • O aumento do consumo de serviços de saúde e de medicamentos – bases do chamado complexo médico-industrial – não foi acompanhado de uma melhora proporcional de indicadores de saúde • A medicina científica assistiu à transformação da clínica, que perdeu acuidade na percepção integral do indivíduo e foi substituída pela progressiva desumanização da relação médico-paciente e pela valorização do substrato biológico INICIATIVAS ANTERIORES À CONFERÊNCIA DE ALMA-ATA Alemanha • “A medicina é uma ciência social e a política nada mais é do que a medicina em grande escala.” (Rudolf Virchow) • Medicina Social - radical reforma econômica, política e social que incluísse melhores condições do povo Rússia • Assembleias Zemstvo - estabelecimento de uma rede de centros de saúde em áreas rurais por todo o país INICIATIVAS ANTERIORES À CONFERÊNCIA DE ALMA-ATA Inglaterra • Implantação de “Centros de saúde primários”, vinculados a distritos, que deveriam ser instituições preparadas para prover serviços de medicina curativa e preventiva através de médicos generalistas INICIATIVAS ANTERIORES À CONFERÊNCIA DE ALMA-ATA China • Maior proposta de Atenção Primária à Saúde antes da Conferência de Alma-Ata • Organização da comunidade local, atenção especial aos anciões, promoção do desenvolvimento de indústrias caseiras, ajuda às escolas e serviços em geral, organização do povo para cuidar da saúde ambiental, realização de cuidados preventivos e tratamento, incluindo-se uso de ervas medicinais e apoio à manutenção da ordem social no tráfego, policiamento e incêndios. INICIATIVAS ANTERIORES À CONFERÊNCIA DE ALMA-ATA Canadá • Sugere ações deverão que integrem todos os atores responsáveis – indivíduos, governos, profissionais de saúde e instituições – uma vez que a capacidade de mudanças encontra- se dispersa entre eles. • Relatório Lalonde - visão de saúde como uma consequência de quatro categorias: • Estilo de vida (advinda do comportamento humano e dos seus riscos autoimpostos) • Condições biológicas (relacionadas ao genótipo dos indivíduos e aos diversos processos fisiopatológicos passíveis de ocorrência em um organismo complexo como o corpo humano) • Ambiente (seja social, referente às condições de trabalho ou à contaminação dos recursos naturais como ar, água e alimentos) • Serviços de saúde INICIATIVAS ANTERIORES À CONFERÊNCIA DE ALMA-ATA Estados Unidos • Surgimento da medicina familiar comprovado a partir da mudança de nome da Academia Americana de Clínica Geral, que passou a se chamar em 1971 Academia Americana de Medicina Familiar • Essa mudança refletiu “... o desejo de enfatizar os cuidados primários de saúde orientados para a família e ganhar a aceitação acadêmica para a nova especialidade de medicina familiar” CONSEQUÊNCIAS Nos anos de 1977 e 1978 - várias reuniões que tinham por tema a Atenção Primária em Saúde (APS), ocorridas em todo o mundo Conferência Internacional sobre Atenção Primária à Saúde, realizada na cidade de Alma-Ata, no Casaquistão, entre os dias seis e doze de setembro de 1978, foi preconizada pela Organização Mundial da Saúde como evento de caráter internacional com o objetivo de intercambiar ideias e experiências sobre o desenvolvimento da APS, bem como sobre a organização e suporte a uma assistência sanitária completa e eficaz para toda a população OBJETIVOS DA CONFERÊNCIA DE ALMA-ATA a) Promover o conceito de atenção primária à saúde em todos os países b) Intercambiar experiências e informações sobre a organização da APS em alguns sistemas e serviços nacionais de saúde c) Avaliar a situação da saúde e da assistência sanitária em todo o mundo, bem como sua relação com a APS e o potencial de melhora dos sistemas nacionais de saúde com o estabelecimento de uma política de APS d) Definir os princípios da APS e os formas operativas de superação dos problemas práticos que porventura surgiriam e) Definir a função dos governos e de organizações nacionais e internacionais na cooperação técnica e na ajuda para o desenvolvimento da APS de uma forma geral f) Formular recomendações para esse desenvolvimentoCONSEQUÊNCIAS DA CONFERÊNCIA DE ALMA-ATA A discussão sobre a promoção da saúde – um dos pilares da APS – tomou vulto nos anos oitenta com a constituição do programa Cidades Saudáveis (Health Cities Network) em 1984, e com a realização da Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Ottawa, em 1986. SAÚDE PARA TODOS ATÉ O ANO 2000 A 30ª Assembleia Mundial da OMS – maio de 1977 – determinou, como meta para todos os governos e a própria instituição, o alcance de um nível de saúde para todos até o ano 2000 Essa resolução representa um dos objetivos da Organização Mundial de Saúde expressos em sua constituição – o desfrute, por todos os indivíduos, do maior nível possível de saúde – e não significa um processo delimitado no tempo e no espaço; ao contrário, deve ser encarada como um processo de melhora progressiva na saúde das pessoas CARTA DE OTTAWA Aprovada pela I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em Ottawa, Canadá, em 21 de Novembro de 1986 Contém as orientações para atingir a Saúde para Todos no ano 2000 e seguintes. CARTA DE OTTAWA Resposta às crescentes expectativas no sentido de se conseguir um novo movimento de Saúde Pública em nível mundial. CARTA DE OTTAWA Esta Carta teve como base os progressos decorrentes: da Declaração de Alma-Ata, sobre os Cuidados de Saúde Primários do documento da Organização Mundial «As Metas da Saúde para Todos» de um debate na Assembleia Mundial de Saúde sobre a ação intersetorial para a saúde PROMOÇÃO DA SAÚDE • Processo que visa aumentar a capacidade dos indivíduos e das comunidades para controlarem a sua saúde, no sentido de melhorá-la – EMPOWERMENT (EMPODERAMENTO) • Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, o indivíduo ou o grupo devem estar aptos a identificar e realizar as suas aspirações, a satisfazer as suas necessidades e a modificar ou adaptar-se ao meio • A saúde é entendida como um recurso para a vida e não como uma finalidade de vida CARTA DE OTTAWA • A melhoria da saúde decorre da garantia das seguintes condições básicas e recursos fundamentais para a saúde: • paz • abrigo • educação • alimentação • recursos econômicos • recursos sustentáveis • ecossistema estável • justiça social • equidade AÇÕES SUGERIDAS PELA CARTA DE OTTAWA • Advogar • Capacitar • Mediar ADVOGAR • A saúde é um recurso da maior importância para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, e uma dimensão importante da qualidade de vida. • No seu conjunto, os fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos, podem ser favoráveis ou nocivos à saúde. • A promoção da saúde visa tornar esses fatores favoráveis à saúde, por meio da advocacia da saúde. CAPACITAR • A promoção da saúde pretende reduzir as desigualdades existentes nos níveis de saúde das populações e assegurar a igualdade de oportunidades e recursos, com vista a capacitá-las para a completa realização do seu potencial de saúde. • Para atingir esse objetivo, torna-se necessária uma sólida implantação em um meio favorável, acesso à informação, estilos de vida e oportunidades que permitam opções saudáveis. • As populações não podem realizar totalmente o seu potencial de saúde sem que sejam capazes de controlar os fatores que a determinam. Este princípio deve aplicar- se igualmente às mulheres e aos homens. MEDIAR • A promoção da saúde exige uma ação coordenada de todos os intervenientes: governos, setores da saúde, social e econômico, organizações não governamentais e de voluntários, autarquias, empresas, comunicação social. As populações de todos os meios devem ser envolvidas como indivíduos, famílias e comunidades. • Aos grupos profissionais e sociais, e aos profissionais da saúde, incumbe a maior responsabilidade na mediação dos diferentes interesses da sociedade na busca da saúde. • As estratégias e programas de promoção da saúde deverão ser adaptados às necessidades locais e às possibilidades de cada país e região, considerados os diferentes sistemas sociais, culturais e econômicos. INTERVENÇÃO EM PROMOÇÃO DA SAÚDE • Construir políticas saudáveis - As políticas sociais criam maior equidade. • Criar ambientes saudáveis - A alteração dos padrões de vida, do trabalho e dos tempos livres tem tido um impacto significativo na saúde. • Reforçar a ação comunitária - O reforço do poder (empowerment) das comunidades, para que assumam o controle dos seus próprios esforços e destinos. O desenvolvimento das comunidades cria-se a partir dos seus recursos materiais e humanos, com base na autoajuda e no suporte social. INTERVENÇÃO EM PROMOÇÃO DA SAÚDE • Desenvolver competências pessoais - É fundamental capacitar as pessoas para aprenderem durante toda a vida, preparando-as para as suas diferentes etapas e para enfrentarem as doenças crônicas e as incapacidades. Estas intervenções devem ter lugar na escola, em casa, no trabalho e nas organizações comunitárias e ser realizadas por organismos educacionais, empresariais e de voluntariado, e dentro das próprias instituições. • Reorientar os serviços de saúde – No setor da saúde, a promoção da saúde deve ser partilhada com indivíduos, grupos comunitários, profissionais, instituições de saúde e governos. RESUMINDO: A CARTA DE OTTAWA... • Apelava a todos para que se aliem ao compromisso, visando a criação de uma forte aliança em favor da Saúde Pública. • Recorria à Intervenção Internacional – OMS e a todas as organizações internacionais que advoguem a promoção da saúde em todos os fóruns apropriados e apoiem os países no desenvolvimento e implementação de estratégias em programas de promoção da saúde. • Afirmava que se as pessoas de todos os meios – as organizações não governamentais e de voluntariado, os governos, a OMS e todas as outras instâncias se unissem e apresentassem estratégias para a promoção da saúde, em conformidade com os valores morais e sociais que baseavam essa Carta, a SAÚDE PARA TODOS NO ANO 2000 seria uma realidade.
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