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86 FATORES DE FORMAÇÃO DO SOLO E MORFOLOGIA: por HÉLIO DO PRADO Em 1941, Jenny verificou que são cinco os fatores de formação dos solos: relevo, material de origem, organismos, clima e tempo. Hoje vemos que esses mesmos fatores de formação têm direta relação com o manejo dos solos: Relevo Enquanto que no relevo plano ou suavemente ondulado a mecanização é mais fácil e a conservação do solo menos preocupante, nos relevos mais movimentados isso não acontece; a taxa de fotossíntese é maior quando as plantas são cultivadas no relevo com maior tempo de exposição aos raios solares. Na região nordeste do Brasil os solos podem salinizar-se nas depressões do relevo (Gleissolos sálicos, Vertissolos salinos, etc). Na posição de baixada no relevo plano de várzea ocorrem solos de cor acinzenta (Gleissolos, Planossolos Hidromórficos, Espodossolo Hidromórficos), nos diques marginais dos rios e riachos podem ocorrer Neossolos Flúvicos, e no relevo escarpado afloramento rochoso. No campo observamos com freqüência o maior secamento das folhas das plantas cultivadas no topo onde, geralmente, ocorrem Latossolos, em contraste com as plantas cultivadas das encostas onde, geralmente, ocorrem Nitossolos, ou Argissolos ou Cambissolos. Essas constatações confirmam as observações de muitos agricultores quando explicam que as plantas cultivadas no topo da paisagem tendem ser as que ressecam mais cedo. Material de origem Material de origem rico em minerais contendo cálcio, magnésio e potássio podem originar solos com maior potencial nutricional (eutróficos), solos derivados de rochas com minerais potássicos na fração areia liberam lentamente potássio (K) para a solução do solo. Isso explica a falta de resposta na adubação potássica nesses solos. Solos derivados de material de origem com predominância de areia fina em relação a areia grossa possuem maior disponibilidade de água do que solos desenvolvidos de material de origem com predominância de areia grossa em relação a areia fina (considerando similares teores de matéria orgânica e de argila e condições climáticas). Organismos A vegetação de mata adiciona maior quantidade de matéria orgânica do que a vegetação de cerrado ou campo cerrado e esse material orgânico é responsável pelos valores mais altos da capacidade de troca de cátions (CTC) na camada arável, além de melhorar a estrutura do solo. Nessas condições de CTC bem mais alta na camada arável o cálcio, magnésio, potássio e sódio retidos são continuamente reciclados como nutrientes. Clima A ação da água e do calor do clima do passado teve direta relação no grau de intemperismo dos solos. A profundidade de certos solos tem influência na disponibilidade de água, pois os Neossolos Litólicos por serem muito rasos não disponibilizam água por muito tempo, por isso há queda das folhas secas das matas no período mais seco do ano. A maioria dos solos das regiões do nordeste do Brasil são menos profundos do que os solos da região úmida da Amazônia devido a menor influência do fator água no desenvolvimento desses solos. A ocorrência conflitante de Latossolos na região seca do nordeste do Brasil é atribuída a alterações climáticas no passado onde períodos muito úmidos ali também ocorreram justificando a existência desses solos mais profundos. 87 Tempo O solo possui idade jovem quando é raso e sem horizonte B porque não houve tempo para sua formação e desenvolvimento (Neossolo Litólico), idade juvenil quando foi formado um horizonte B incipiente diagnóstico (Cambissolo) e idade adulta quando o horizonte B é espesso e muito intemperizado (Latossolo). O Neossolo Litólico não teve suficiente tempo de desenvolver o horizonte B diagnóstico, por isso Neo, significando novo; o Cambissolo possui um horizonte B pouco desenvolvido em termos de espessura e/ou de mineralogia mais ativa, por isso camb significa mudar, trocar (não é um solo tão jovem como o Neossolo Litólico, nem tão velho como o Latossolo). O Latossolo, ao contrário, é um solo profundo, maturo, velho, muito intemperizado. Se o Latossolo atinge o estágio máximo de intemperização nele pode manifesta-se o caráter ácrico. A palavra “acric”, que em latim significa “o fim”, foi bem aplicado pedologicamente por indicar o estágio final de intemperismo na classe dos Latossolos. A presença de óxidos de alumínio (goethita) na fração argila desses solos (figura 1) é indicativa do avançado grau de intemperização desses solos. Figura 1. Presença de gibbsita na fração argila do Latossolo ácrico. A figura 2 mostra como é a sequência de intemperismo do solo mais jovem (Neossolo Litólico) para o mais velho (Latossolo). Nessa sequência, a medida que o intemperismo aumenta com o tempo o mineral representado pela mica transforma-se em caulinita e depois em gibbsita. Nessas condições, o solo passa de mais raso para mais profundo, de menos lixiviado para mais lixiviado, de maior CTC para menor CTC, de mais siltoso para menos siltoso e de maior teor de minerais de fácil intemperização para menor teor de minerais facilmente intemperizáveis na fração grosseira. 88 Figura 2. Transformações dos minerais de argila no solo ao longo do tempo. Quanto menor o valor do pH em água as cargas positivas são mais abundantes e o inverso ocorre quando aumenta o valor do pH porque aumenta a quantidade de cargas negativas. O balanço de cargas elétricas no solo pode ser negativo, positivo, ou zero. Quando nulo é chamado de PCZ, ou ponto de carga zero, e nessas condições de PCZ existe a igualdade no número de cargas elétricas negativas e positivas, por isso a argila torna-se flocula-se no seu máximo. Ao contrário, quando o PCZ é distante de zero a argila torna-se dispersa. Observa-se na figura 3 a, que a medida que aumenta o pH do solo a quantidade de cargas negativas é sempre a mesma (CTC) porque esse solo possui cargas elétricas permanentes, logo independem do pH do meio. Na figura 3b, o solo apresenta cargas elétricas permanentes e também dependentes de pH representando um sistema misto. Nessas condições, surgem cargas elétricas positivas somente quando pH do meio é baixo (condições ácidas). Finalmente, a figura 3c representa o que ocorre no solo com cargas elétricas totalmente dependentes de pH (tépica dos Latossolos). Nessas condições o PCZ existe num alto valor de pH, abaixo do qual predominam cargas positivas e acima do qual dominam cargas negativas. Na prática, predominam de cargas elétricas positivas abaixo da camada arável quando há condições de acidez e também porque nessa posição do perfil de solo existe menor influência da matéria orgânica (menor concentração de raízes). Portanto, a calagem aumenta a quantidade de cargas negativas no solo porque aumenta o valor pH no solo, ou seja o pH do meio ultrapassa o PCZ. Figura 3. Balanço de cargas elétricas no solo (Wambeke, 1974). 89 GÊNESE, FATORES DE FORMAÇÃO E PROCESSOS PEDOGENÉTICOS O solo, que é um corpo tridimensional, forma-se pela ação dos fatores de formação e dos processos pedogenéticos. O conhecimento pedogênese é importante para a compreensão do padrão da distribuição dos diversos solos na paisagem. Enquanto que a dessilicatização como conseqüência do alto grau de intemperismo é o principal processo pedogenético do horizonte B latossólico dos Latossolos, a dispersão da argila no horizonte A e posterior acúmulo no horizonte B textural (migração de argila) é típica dos Argissolos, e dos Luvissolos com esse tipo de horizonte subsuperficial. A translocação de argila do horizonte A para o horizonte B com cerosidade muito evidente nos agregados estruturais bem desenvolvidos reflete a gênese do horizonte B nítico dos Nitossolos, Chernossolo e Alissolos com esse tipo de horizonte subsuperficial. Os Chernossolos formam-se derivados de materialargiloso ou muito argiloso e com alta saturação por bases, e ao mesmo tempo sob vegetação com alta biomassa no horizonte A. Os Neossolos Litólicos geneticamente são muito jovens devido ao insuficiente tempo de intemperismo na gênese do horizonte B diagnóstico, ao contrário do horizonte B incipiente dos Cambissolos. Enquanto que os Neossolos Quartzarênicos formam-se sobre depósitos arenosos, os Neossolos Flúvicos formam-se a partir de depósitos de sedimentos trazidos pelos rios e riachos em inundações pretéritas, e ambos (juntamente com os Neossolos Litólicos) não apresentam horizonte B, por isso considerado como Neo (novo). Os Plintossolos são formados sob condições que favoreceram a formação da plintita (ou petroplintita pelo ressecamento da plintita), os Espodossolos são formados pela pelo intenso movimento vertical de matéria orgânica e da dissolução química de compostos de ferro e de alumínio (podzolização química). Os Vertissolos formam-se sobre sedimentos com alta saturação por bases num ambiente de lixiviação de bases desprezível permitindo assim a formação de minerais de argila do tipo 2:1. Os Gleissolos formam-se sob a forte ação do lençol freático elevado, em condições de encharcamento prolongado nas várzeas. Quando existe acúmulo de sais na superfície formam-se os Gleissolos sálicos, que depois de intensa lixiviação de sais dos Gleissolos sálicos originam os Planossolos Nátricos. A gênese dos Organossolos é condicionada, ao mesmo, ao excesso de água e a alta taxa de adição de restos orgânicos nos locais mais deprimidos das várzeas. Além da gênese dos solos é necessário considerar os cinco fatores de formação dos solos, representados pelo clima, material de origem, relevo, vegetação e tempo (e seus processos pedogenéticos), pois o clima e os organismos agem no material de origem (geralmente rocha) num determinado relevo, transformando-o em solo ao longo do tempo. Os referidos processos pedogenéticos são: transformação; translocação; adição; e remoção. A transformação dos constituintes dos solos pode ser química, física, biológica e mineralógica. Pelo processo de intemperismo, minerais primários são transformados com a conseqüente remoção de sílica e bases no perfil, representando a gênese conhecida como latossolização, típica da classe dos Latossolos. A translocação de material do horizonte A para o horizonte B, são de dois tipos: mecânica ou química. A translocaçãoé mecânica quando a argila silicatada depois de dispersar se no horizonte A transloca-se para o horizonte B formando a cerosidade nos agregados estruturais dos Argissolos, Luvissolos, Alissolos, Nitossolos, e Chernossolos. Por outro lado, a translocação química da matéria orgânica e dos óxidos de ferro e alumínio do horizonte A para o horizonte B é específica dos Espodossolos. A adição pode ser de matéria orgânica na camada arável, sais por capilaridade nos solos salinos, e de materiais trazidos pelo vento (poeiras industriais contendo substâncias tóxicas, cinzas vulcânicas e cinzas das queimadas), a remoção dos elementos químicos exportados na colheita das plantas, das enxurradas e queimadas, das migrações laterais e em profundidade no perfil de solo completam a pedogênese. 90 SOLO-PAISAGEM A paisagem é a imagem da ação combinada dos fatores de formação do solo, tais como o relevo, os organismos, o material de origem, o clima, ao longo do tempo. É muito importante conhecer a distribuição dos solos na paisagem na execução dos levantamentos de solos (ou pedológicos), e também nos estudos de gênese dos solos. Nas superfícies mais velhas e estáveis da paisagem (relevo plano ou suavemente ondulado), geralmente, ocorrem os Latossolos, associados ou não com os Neossolos Quartzarênicos. Por outro lado, em geral, nas superfícies mais jovens (relevo mais ondulado ou forte ondulado) encontramos os Argissolos, Luvissolos, Alissolos, Cambissolos, Nitossolos e Chernossolos, e Neossolos Litólicos. Os Vertissolos ocorrem nas baixadas planas ou no terço inferior das encostas quase planas nas regiões nordeste e sul do Brasil. Enquanto que, principalmente, na faixa litorânea ocorrem os Espodossolos, nos tabuleiros costeiros ocorrem os Latossolos e Argissolos coesos. No relevo plano de várzea ocorrem os Organossolos e/ou Gleissolos, podendo ocorrer os Cambissolos nos terraços, e Neossolos Flúvicos ao longo dos cursos d'água. As figuras 1 a 11 apresentam as relações solo-paisagem, que são comuns no Brasil. Figura 1. Solos-paisagens nas várzeas e terraços do Brasil. Figura 2. Solos-paisagens na região oeste paulista - Brasil. 91 Figura 3. Solos-paisagens na região centro-oeste do Estado de São Paulo - Brasil. Figura 4. Solos -paisagens na região sul do Brasil. Figura 5. Solos-paisagens na região sul do Brasil. 92 Figura 6. Solos-paisagens na região norte do Brasil. Figura 7. Solos-paisagens na região nordeste do Brasil. 93 Figura 8. Solos-paisagens na região centro-oeste do Brasil. Figura 9. Solos-paisagens na região centro-oeste do Brasil. Figura 10. Solos-paisagens na região centro-oeste do Brasil. 94 Figura 11. Solos-paisagens na região centro-oeste do Brasil. http://www.pedologiafacil.com.br/solopaisagem.php http://www.pedologiafacil.com.br/genese.php http://www.pedologiafacil.com.br/enq_16.php Fonte:http://www.pedologiafacil.com.br/solopaisagem.php
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