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¹ Acadêmicas do curso de Direito das Faculdades Unificadas Doctum de Leopoldina/MG, 7º período. POLÍTICAS PÚBLICAS E A CULTURA DA PAZ NO ÂMBITO DA MEDIAÇÃO Anna Luiza Mendonça¹ Gabriela Mescolin¹ Greiceane Santos¹ Yara Ximenes¹ Yhasmin Tambasco¹ “A paz não pode ser mantida à força. Ela somente pode ser atingida pelo entendimento.” (ALBERT EINSTEIN) 1 INTRODUÇÃO Inicialmente, deve-se entender o que são Políticas Públicas, Mediação e Cultura da Paz para que toda a problemática seja desenvolvida de forma clara. Podemos dizer que esta expressão “Políticas Públicas” nos traz a ideia de fornecimento de serviços do Poder Público, através de ações do Estado/Governo. Já a mediação, basicamente é uma resolução de conflitos extrajudicial, em que um terceiro (mediador) neutro, facilita o diálogo entre as partes para que se chegue num resultado almejado; quando extrajudicial, se frutífera, não haverá a necessidade de acionar o judiciário, a não ser que descumprido o acordo. Para Jean François Six a mediação “proporciona um espaço de criatividade pessoal e social, possibilitando a realização da cidadania plena”. Ao se tratar da Cultura da Paz, podemos pensar no próprio significado da palavra “PAZ”. Paz seria o contrário à violência, à guerra, ao conflito em qualquer circunstância. Sendo assim, a Cultura da Paz, seria o hábito desta pacificação. Deste modo, indaga-se: onde poderemos encaixar Política Pública na mediação? Quanto a mediação e a população seriam beneficiadas através do apoio Estatal? Quais formas de aplicação o Estado possui nas comunidades para que haja plena participação social? 2 A IMPORTÂNCIA DA MEDIAÇÃO NA SOCIEDADE E A EFICÁCIA DA DECISÃO AUTOCOMPOSITIVA Com a mediação, as partes possuem maiores chances de resolução de conflito e que o acordo seja mantido além do formalizado, vez que são as partes que chegam num denominador comum; enquanto nas resoluções judiciais a decisão é proferida por um terceiro (juiz). Considerando que muitas vezes as questões subjacentes ao conflito são muito mais sentimentais do que somente patrimoniais, então com a decisão do terceiro, o conflito será resolvido de forma superficial. Vale dizer que além do entendimento entre as partes, fica claro que para que haja o diálogo, as mesmas devem estar perante uma pessoa a qual confiam, pois é de extrema importância a sinceridade no diálogo e a prioridade de aprendizado e perdão. De acordo com a ideia da mediação, deve o mediador possuir didática para que as partes possam entender claramente o seu papel e poderem também enxergar seu próprio conflito, além de explicitar a importância da verdade, comprometimento com o acordo e a força judicial do título. 3 OS IMPACTOS GOVERNAMENTAIS PROPORCIONADOS PELA MEDIAÇÃO A mediação tem papel fundamental na sociedade e a partir deste trabalho fica clara a importância do apoio Estatal na sua divulgação e atuação. Pensemos no seguinte exemplo: em uma comunidade com menor renda e baixa escolaridade, dois vizinhos se desentendem por um motivo X. Num determinado dia, um dos vizinhos, se encontra com o outro e discutem a ponto de se agredirem mutuamente. Com isto, foi acionada a polícia e, devido à agressão, os vizinhos foram para o hospital. Logo após, foi instaurado inquérito, além da falta de resolução, já que o problema não foi resolvido. Agora, pensemos mediação dentro deste conflito: havendo um centro de mediação comunitária ou municipal, por exemplo, seria demandado apenas um recurso estatal e já haveria solução para o problema, sem mais delongas. No primeiro exemplo citamos 3 recursos públicos utilizados, já quando envolve a mediação, somente 1 é acionado. Sendo assim, conforme mostra o exemplo acima, além da economia financeira e temporal, há também a satisfação da comunidade ao enxergar o resultado da mediação como forma preventiva, inclusive de violência. Torna-se evidente a importância da participação estatal neste meio, quando o reflexo do assunto está intimamente ligado ao Estado x População. Quando se utiliza o Poder Judiciário para a resolução de um conflito, despendemos despesas governamentais – que nós pagamos através de impostos – e as despesas que as partes desembolsam, como honorários do advogado, as custas processuais e os deslocamentos para as audiências. Foi feita uma pesquisa em 2015, que mostrou que somente o Poder Judiciário gastou por dia 200 milhões de reais. Devemos pensar da seguinte forma neste cenário: quanto maior requisição possuir o Poder Judiciário, maiores contratações serão realizadas e cada vez mais esta conta irá aumentar. Caso haja uma limitação de contratação o reflexo será a morosidade. Não seria melhor agirmos com maturidade e resolver nossas próprias questões ao invés de contribuir com este rombo fiscal? Analisando de forma mais sensível tal importância, a mediação também possui capacidade reparadora educacional, quando propõe a quebra de conceitos ao demonstrar que nos conflitos não há necessidade de decisão de um terceiro e que, havendo diálogo, todos podem resolver seus próprios conflitos, demonstrando seus direitos e deveres, muitas vezes desconhecidos por pessoas leigas no assunto, gerando a sensação de autonomia e satisfação comunitária. Os métodos utilizados no processo de mediação, geram não somente a resolução do conflito, que é inicialmente o objetivo de quem busca, mas também passa a ser um meio de expressão em que os papéis sociais e as crenças são valorizadas e se concretizam através do diálogo. Com essa expressão de valores, fica clara a individualidade de cada local. Portanto, a mediação liga ideias e práticas sociais concomitantemente à resultados práticos. Além desse desconhecimento da população, certos problemas que ocorrem nas comunidades, muitas vezes são tratados como bom senso, mas na verdade são direitos protegidos por lei. Portanto, a partir do momento em que a população se torna informada, passam a apontar falhas existentes em sua localidade. Quando a sociedade se insere neste campo, passam a frequentemente buscar os serviços graças aos seus benefícios. 3.1 A APLICABILIDADE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS Foi observado através de centros já existentes que a mediação como combate à violência possui maior eficácia quando aplicada em âmbito local, trazendo mais atenção às necessidades específicas daquele ambiente, e não generalizando como funcionam as políticas de segurança pública nacional. Também devemos desconstruir a imagem de Políticas Públicas somente por aspectos governamentais e passar a observar que existem outras instituições que são capazes de promover esse trabalho. Dentre elas, podemos citar, por exemplo, ONGs, associação de moradores, conforme a Resolução 125 do CNJ: Art. 5º O programa será implementado com a participação de rede constituída por todos os órgãos do Poder Judiciário e por entidades públicas e privadas parceiras, inclusive universidades e instituições de ensino. Atualmente, encontram-se centros de mediação em bairros, vilas, comunidades e cidades. Esses centros são criados através de incentivos públicos, universitários ou até mesmo religiosos, através de pastorais. Há também centros particulares, propostos por escritórios de advocacia. Esses centros visam o acesso da população à justiça de forma rápida e eficiente, valorizando o Direito, e trazendo confiança às partes através do acordo consensual. Para Spengler, “talvez o seu principal desafio seja encontrar mecanismos que possibilitem uma convivência comunicativa pacífica”. Com a introdução desta ferramenta mediadora na sociedade, desenvolve-secultura através da inclusão deste sistema autônomo, podendo ser em centros, casas ou câmaras. Entretanto, apesar dos centros de conciliação e mediação estarem sendo cada vez mais difundidos em nosso país, ainda assim há a necessidade de divulgação deste trabalho através de políticas públicas de incentivo, esclarecimento e conscientização. Grande parte da população não conhece este trabalho ou ainda não se sentem segura em utilizá-lo devido a desinformação ou até mesmo por não conhecer seus direitos. Com o avanço social naturalmente causado com o passar do tempo, a prestação jurisdicional convencional não atende mais todas as expectativas. Ocorre que quanto menor a intervenção estatal, maiores são as chances de organização e agilidade na resolução. Quanto maior o tempo demandado num conflito, maiores são as chances dele se tornar maior. Deste modo, com a ineficiência desta prestação, surge este meio alternativo. Com a evidencialização da falha do judiciário e a evolução da solução autocompositiva, o Estado passa a ser imprescindível no incentivo e promoção desta nova proposta. Além do envolvimento da máquina pública, também podemos ver a participação importante de associações dos moradores dos bairros e empresas, pois a mediação não somente busca a resolução de conflito entre as partes, mas também pode agir como porta voz para os anseios da população, evitando assim atitudes desmedidas e extremas. Como exemplo desta situação, poderíamos visualizar no seguinte caso: alguns moradores vivem em determinada rua em que os carros passam em alta velocidade e já ocorreram diversos atropelamentos e acidentes. Num dia resolveram interditar a via para chamar atenção do Poder Público. Através da mediação tal situação poderia ter sido resolvida sem mais transtornos, evitando a necessidade de interdição e apenas explicitando o apelo de instalação de redutores de velocidade no local. Sendo assim, os centros de mediação também podem ser um canal de comunicação da comunidade. A mediação não distingue classe social, porém não diminui a carência de classes menos favorecidas. Sua teoria é de individualização caso a caso, atendendo da melhor forma de acordo com cada necessidade da lide. Sendo assim, mais uma vez, torna-se um assunto de interesse governamental e consequentemente merece apoio através de Políticas Públicas. Alguns países como Espanha, Inglaterra, Colômbia, dentre outros, utilizam a mediação comunitária e apresentam bons resultados, como a diminuição da violência em áreas perigosas. Nos países citados acima, constituem-se através de Políticas Públicas, sendo incentivadas por Órgãos Públicos, que articulam, incentivam e implantam projetos específicos com o objetivo de difundir a mediação. Deste modo, a Política Pública na mediação, nada mais é que um conjunto de ações e iniciativas governamentais que buscam sanar problemas que foram gerados por má administração. Para que haja a efetivação das Políticas Públicas dentro da mediação, podemos analisar possibilidades que irão fomentar a utilização e eficácia do serviço. Podemos enumerar propostas para tal efetivação: • capacitação dos mediadores e reciclagem dos mediadores que já trabalham na área; • implantação de novos centros, casas e câmaras em locais de maior incidência de conflitos; • acompanhamento do serviço prestado, durante e após o acordo; • monitoramento da capacitação do mediador; • montar parceria com grupos de interesse; • divulgar a mediação em escolas e mídias sociais; • apoio de lideranças comunitárias para maior confiança da população; • acompanhar a individualidade de cada centro de acordo com a necessidade de cada local; 4 A CULTURA DA PAZ ATRAVÉS DA MEDIAÇÃO O projeto de inserção da mediação em nosso cotidiano, não visa somente desafogar o judiciário, como também busca a mudança cultural frente aos problemas sociais e a quebra da cultura do litígio. Com base nos locais em que a mediação já é uma realidade aplicada, os resultados de uma sociedade pacífica e democrática são cada vez mais evidentes. Na atualidade, um processo judicial em nosso país, demora aproximadamente seis anos para finalizar, sendo que em média, duas sessões de mediação encerram o conflito. Além dos custos demandados pelo Poder Judiciário, deve ser analisado também tempo e o desgasto físico e emocional proporcionado; desgastes não proporcionados pela mediação. Ao interpor uma ação, deve-se refletir o impacto que este processo importará em sua vida e se realmente vale a pena enfrentar todo o desgaste. Serão tempos de amargura e maus sentimentos. Como parte da ideia de cultura de paz, devemos inserir juntamente com a mediação um olhar para o futuro, buscando pensar nas próximas gerações. Qual a sociedade que quero para meus filhos? Com certeza não será uma sociedade em que pessoas resolvem seus problemas em brigas. Sendo assim, o processo de inserção da mediação em nossa sociedade possui aspectos reflexivos e didáticos para a população, sempre buscando quebra de paradigmas. 5 CONCLUSÃO Atualmente, a sociedade não aceita mais a cultura da dominação, sendo os direitos humanos e a cultura da paz muito mais populares e cada vez ganhando mais força, com uma sociedade muito mais participativa. Com isso a ideia de persuasão deve ser cada vez mais valorizada e a força e coação cada vez mais enfraquecida. Neste instituto, há uma gama infinita de temas a serem abordados, devido ao enorme campo que a mediação ocupa. Podemos citar alguns exemplos que a mediação abrange, como conflitos familiares, de vizinhança, étnicos, sociais, religioso, sexualidade, dentre outros. Sendo assim, mais uma vez fica evidente a importância do apoio das Políticas Públicas na mediação, vez que ela traz benefícios em diversos setores, que se forem tratados através de intervenção governamental/estatal, gastaria muito mais tempo, mão de obra e ficaria muito mais caro. A partir do momento em que uma comunidade percebe a aplicação da mediação, conflitos deixam de acontecer, através do exemplo dado de harmonia e pacificação. Sendo assim, fica evidente a eficiência da mediação e ineficiência das políticas de segurança pública atuais; além da economia proporcionada aos cofres públicos e sua aplicabilidade preventiva. Entretanto, nem só de qualidades vive esse atual cenário das Políticas Públicas. Temos também a barreira de crescimento desses projetos. Projetos não faltam para a efetivação deste modelo de mediação de forma acessível, porém grande parte dos mediadores são voluntários e só podem participar do projeto em horários vagos. Com isso, os recursos financeiros demandados pelas prefeituras e estados devem ser maiores. Sabemos que em nosso país existem problemas de corrupção e grande parte da política nacional não é voltada para os interesses da população, sendo somente decisões político-partidárias. Deste modo, dependemos que os governantes abram espaço para a discussão desta pauta, mas também que a população faça a sua parte, engajando-se requerendo posicionamento dos nossos políticos. REFERÊNCIAS: ALMEIDA, Guilherme. Mediação, proteção local dos direitos humanos e prevenção da violência. Revista Brasileira de Segurança Pública, Ed 2. CHRISPINO, Alvaro. DUSSI, Lucia Herrera Masotti. Uma proposta de modelagem de política pública para a redução da violência escolar e promoção da Cultura da Paz. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v16n61/v16n61a07.pdf. Acesso em junho de 2018. CNJ. Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=2579.Acesso em julho de 2018. COELHO, Lucirene Machado. Mediação e Conciliação – A cultura da Paz. Disponível em:http://institutoimediar.com.br/blog/mediacao-e-conciliacao-a-cultura-da-paz/. Acesso em julho de 2018. FAVRETO, Rogério – “Redes de Mediação: um Novo Paradigma à Pacificação dos Conflitos” Jornal Folha de São Paulo – Edição de 27.12.07 – São Paulo -2007. GHISLENI, Ana Carolina. SPENGLER, Fabiana Marion. A busca pela cultura da paz por meio da mediação: o projeto de extensão existente em Santa Crus do Sul como Política Pública no tratamento de conflitos. Disponível em: http://periodicos.unb.br/index.php/enedex/article/download/4284/3632. Acesso em julho de 2018. Mediação enquanto política pública: o conflito, a crise da jurisdição e as práticas mediativas / Organizadores: Fabiana Marion Splenger, Theobaldo Spengler Neto - 1.ed. - Santa Cruz do Sul : EDUNISC, 2012. NETO, Adolfo Braga. Mediação de Conflitos e Políticas Públicas – A experiência com a mediação comunitária em distritos de alta vulnerabilidade da Grande São Paulo. Disponível em:http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4230. Acesso em junho de 2018. SANTOS, Denise Pires. POLÍTICAS EDUCACIONAIS E PRÁTICAS PASTORAIS DE REDUÇÃO DE VIOLÊNCIA: CIDADANIA, MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA E MEDIAÇÃO JUDICIAL. Disponível em: http://www.puc- rio.br/pibic/relatorio_resumo2009/relatorio/ctch/teo/denise.pdf. Acesso em junho de 2018. SIX, Jean-François. Dinâmica da Mediação. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. Vasconcelos, Carlos Eduardo. Mediação de Conflitos e Práticas Restaurativas. São Paulo: Método, 2008. ZANI, Paulo da Rocha. Mediação de conflito como forma de política pública. Disponível em: http://gvpesquisa.fgv.br/sites/gvpesquisa.fgv.br/files/publicacoes/adaptacaodescomp asso_ou_transformacao_- _estado_e_sociedade_em_tempos_de_mudanca_estrutural__do_capitalismo.pdf. Acesso em junho de 2018.
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