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Informativo 655 STF

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INFORMATIVO esquematizado 
 
Informativo 655 – STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
Obs: o único processo excluído deste informativo esquematizado foi o RE 541737/SC, rel. Min. Joaquim 
Barbosa, 14.2.2012, considerando que, por ter havido pedido de vista, não foi concluído o seu julgamento. 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
Estatuto do Torcedor (Lei n.º 10.671/2003) 
 
O Estatuto do Torcedor (Lei n.º 10.671/2003) é constitucional. 
Comentários O denominado “Estatuto do Torcedor” é a Lei n.º 10.671/2003, que estabelece normas de 
proteção e defesa do torcedor. 
Inúmeros dispositivos desta Lei foram questionados pelo Partido Progressista – PP por meio da 
ADI 2937, que foi julgada totalmente improcedente pela unanimidade dos Ministros presentes. 
 
Na ação, o PP apontou os seguintes vícios do Estatuto do Torcedor: 
 Violação à liberdade e à autonomia das associações desportivas, assim como à própria 
autonomia desportiva; 
 Invasão de competência da União sobre a competência dos Estados, considerando que 
a matéria “desportos” é de competência concorrente (art. 24, IX, da CF) e o ente federal 
teria legislado sobre questões regionais; 
 Ofensa a direitos e garantias fundamentais. 
 
Principais conclusões do STF: 
 Não houve ofensa ao art. 24, IX da CF, considerando que a lei não cuida de 
particularidades nem de minudências que pudessem estar reservadas aos Estados/DF. 
 Não houve indevida interferência estatal no funcionamento das associações esportivas, 
tendo em conta que nenhum direito, garantia ou prerrogativa possui caráter absoluto e 
que a Lei não teria como atingir um mínimo de efetividade social na defesa do torcedor 
sem prever certos aspectos relativos à regulamentação das competições esportivas; 
 É legítima a imposição de certas limitações à autonomia desportiva; 
 Os preceitos contestados teriam por objetivo evitar ou pelo menos reduzir, em 
frequência e intensidade, episódios e incidentes como brigas em estádios, violência, 
morte e barbárie entre torcidas. 
 Na medida em que se define o esporte como um direito do cidadão, este se torna um 
bem jurídico protegido no ordenamento jurídico em relação ao qual a autonomia das 
entidades desportivas é mero instrumento ou meio de concretização; 
 No que concerne ao alegado desrespeito a direitos e a garantias individuais, anotou-se 
que não se vislumbraria sequer vestígio de ofensa aos incisos X (intimidade, honra, 
imagem dos dirigentes), LIV (devido processo legal), LV (contraditório e ampla defesa), 
LVII (proibição de prévia consideração de culpabilidade) e § 2º do art. 5º da CF; 
 Relativamente à responsabilização objetiva, prevista em seu art. 19, apontou-se que 
decorreria da expressa equiparação das entidades desportivas à figura do fornecedor 
do CDC; P
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 Não há qualquer violação aos princípios do devido processo legal, da presunção de 
inocência ou a qualquer outro direito ou garantia constitucional nas penalidades 
impostas às entidades de administração do desporto, aos seus dirigentes ou às torcidas 
organizadas. 
 
Obs: este julgado não tem maior relevância, não tendo sido debatidos assuntos de grande 
destaque, razão pela qual as informações acima são suficientes. 
Dispositivo 
de destaque 
Estatuto do Torcedor: 
Art. 19. As entidades responsáveis pela organização da competição, bem como seus dirigentes 
respondem solidariamente com as entidades de que trata o art. 15 e seus dirigentes, 
independentemente da existência de culpa, pelos prejuízos causados a torcedor que decorram de 
falhas de segurança nos estádios ou da inobservância do disposto neste capítulo. 
Processo Plenário. ADI 2937/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 23.2.2012. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL / ELEITORAL 
 
Direitos Políticos (Lei da “Ficha Limpa” e hipóteses de inelegibilidade) 
 
A Lei da “Ficha Limpa” (LC 135/2010) é inteiramente compatível com a Constituição, não tendo 
sido declarado inconstitucional nenhum de seus dispositivos. 
A Lei da “Ficha Limpa” não viola o princípio da presunção de inocência porque este postulado 
refere-se ao campo penal e processual penal e a LC trata de matéria eleitoral, mais 
propriamente, inelegibilidade, que não se constitui em pena. 
Não é possível “descontar” (“detração”) do período de 8 anos de inelegibilidade o tempo em 
que a pessoa ficou inelegível antes do trânsito em julgado e antes de cumprir a pena. 
Os atos praticados antes da vigência da LC 135/2010, assim como as condenações anteriores a 
esta Lei, podem ser utilizados para configurar as hipóteses de inelegibilidade previstas na Lei 
da Ficha Limpa, sem que isso configure violação ao princípio da irretroatividade. 
Entenda 
melhor em 
que consiste 
a Lei da 
Ficha Limpa 
A Constituição Federal, em seu art. 14, § 9º dispõe que Lei Complementar deverá 
estabelecer casos de inelegibilidade a fim de proteger: 
 a probidade administrativa 
 a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato e 
 a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o 
abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. 
 
A inelegibilidade consiste na ausência de capacidade eleitoral passiva. 
Inelegibilidade = impossibilidade jurídica de ser candidato. 
 
A Lei Complementar mencionada pelo § 9º do art. 14 é, atualmente, a LC n. 64/90. 
 
Em 2010, foi aprovada a Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010), que teve como objetivo alterar a 
LC 64/90, incluindo novas hipóteses de inelegibilidade para proteger a probidade 
administrativa e a moralidade no exercício do mandato. 
Ponto mais 
polêmico da 
LC 135/2010 
A LC 135/2010 estabelece que não é necessário que a decisão condenatória tenha 
transitado em julgado para que o condenado se torne inelegível. Basta que tenha sido 
proferida por órgão colegiado (exs: TRE, TJ, TRF). 
Esta desnecessidade de trânsito em julgado é a maior inovação e era a maior polêmica da 
Lei da Ficha Limpa. 
Os críticos da previsão legal argumentavam que isso violava o princípio da presunção de 
inocência ou da não culpa. 
 
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Ações que 
foram 
julgadas 
pelo STF 
A declaração de constitucionalidade da LC 135 ocorreu no julgamento conjunto de três ações: 
ADC n.º 29: proposta pelo Partido Popular Socialista (PPS) 
ADC n.º 30: proposta pela OAB. 
ADI n.º 4578: proposta pela CNPL (Confederação Nacional dos Profissionais Liberais) 
Pedido e 
resultado 
das ações 
O que pediam as ações e o que foi decidido: 
As duas Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADC) pediam que fosse reconhecida a 
constitucionalidade integral da Lei. 
A Ação Direta de Inconstitucionalidade, por sua vez, pugnava pela declaração de 
inconstitucionalidade do dispositivo da LC 135/2010 que torna inelegíveis os profissionais 
que tenham sido excluídos do exercício da profissão por órgão de classe (exs: CRM, CREA). 
O STF julgou procedentes as ADC’s propostas e improcedente a ADI, reconhecendo, assim, a 
constitucionalidade da LC 135/2010 na íntegra. 
Iniciativa 
popular 
A Lei da Ficha Limpa foi proposta ao Congresso por iniciativa popular, registrando mais de 
1,6 milhões de assinaturas. 
A Lei da 
Ficha Limpa 
NÃO foi 
aplicada nas 
eleições de 
2010 por 
força de 
decisão do 
STF, com 
base no art. 
16 da CF 
A Lei Complementar 135 foi promulgada em 4 de junho de 2010. 
Como entrou em vigor menos de 1 ano antes das eleições gerais de 2010, o STF entendeu, 
em julgado ocorrido em 2011, que não poderia ser aplicada naquele pleito por força do que 
dispõe o art. 16 da CF/88: 
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação,não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. 
 
Vejamos os argumentos utilizados pelo STF para declarar a inaplicabilidade da Lei da Ficha 
Limpa às eleições de 2010: 
 O art. 16 da Constituição, ao submeter a alteração legal do processo eleitoral à regra da 
anualidade, constitui uma garantia fundamental para o pleno exercício de direitos 
políticos. 
 A LC 135/2010 interferiu numa fase específica do processo eleitoral, qualificada na 
jurisprudência como a fase pré-eleitoral, que se inicia com a escolha e a apresentação 
das candidaturas pelos partidos políticos e vai até o registro das candidaturas na Justiça 
Eleitoral. A competição eleitoral se inicia exatamente um ano antes da data das eleições 
e, nesse interregno, o art. 16 da Constituição exige que qualquer modificação nas regras 
do jogo não terá eficácia imediata para o pleito em curso. 
 Um dos fundamentos teleológicos do art. 16 da Constituição é impedir alterações no 
sistema eleitoral que venham a atingir a igualdade de participação no prélio eleitoral. 
 O princípio da anterioridade eleitoral constitui garantia fundamental também destinada 
a assegurar o próprio exercício do direito de minoria parlamentar em situações nas 
quais, por razões de conveniência da maioria, o Poder Legislativo pretenda modificar, a 
qualquer tempo, as regras e critérios que regerão o processo eleitoral. 
 A aplicação do princípio da anterioridade não depende de considerações sobre a 
moralidade da legislação. 
 O art. 16 é uma barreira objetiva contra abusos e desvios da maioria, e dessa forma 
deve ser aplicado por esta Corte. 
 (RE 633703, Relator Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 23/03/2011) 
Argumentos 
principais 
veiculados 
no julgado 
Argumentos pela constitucionalidade: 
 A Lei da Ficha Limpa representa avanço democrático com o escopo de banir da vida 
pública as pessoas que não atendam às exigências de moralidade e probidade, 
considerada a vida pregressa. Desse modo, a LC 135/2010 está em observância ao que 
dispõe o art. 14, § 9º, da CF; 
 Os critérios eleitos pelo legislador complementar estariam em harmonia com a 
Constituição considerando que a LC 135/2010 deve ser apreciada sob a ótica da 
valorização da moralidade e da probidade no trato da coisa pública, da proteção ao 
interesse público; 
 
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 Os dispositivos questionados da LC atendem aos requisitos da adequação, da 
necessidade e da razoabilidade (princípio da proporcionalidade); 
 O princípio da presunção de inocência não deve ser examinado sob o enfoque penal e 
processual penal, e sim no âmbito eleitoral, em que pode ser relativizado; 
 A inelegibilidade não é uma pena, motivo pelo qual incabível a incidência dos princípios 
da irretroatividade da lei e da presunção de inocência; 
Lei da Ficha 
Limpa e 
Princípio da 
presunção 
de inocência 
A Lei da Ficha Limpa viola o princípio da presunção de inocência? 
NÃO. Argumentos dos Ministros: 
 Min. Luiz Fux: o exame do princípio da presunção de inocência não deveria ser feito sob 
enfoque penal e processual penal, e sim no âmbito eleitoral. De acordo com o Ministro, 
no âmbito eleitoral, este princípio poderia ser relativizado de modo a se permitir a 
inelegibilidade mesmo sem trânsito em julgado, na forma como prevista na Lei. 
 Min. Joaquim Barbosa: a inelegibilidade não é uma pena, motivo pelo qual incabível a 
incidência dos princípios da irretroatividade da lei e da presunção de inocência. 
 Min. Rosa Weber: o princípio está relacionado à questão probatória no processo penal, 
de modo a obstar a imposição de restrições aos direitos dos processados antes de um 
julgamento. Sinalizou que, mesmo nestes caso, a presunção de inocência admitiria 
exceções por não ser absoluta. Afirmou que este princípio não seria universalmente 
compreendido como garantia que perdurasse até o trânsito em julgado e que irradiaria 
efeitos para outros ramos do direito. No campo eleitoral, especialmente no que se 
refere à elegibilidade, consignou a prevalência da proteção do público e da 
coletividade. Explicitou, ainda, que a LC previu que as inelegibilidades decorrem de 
julgamento por órgão colegiado e que o Tribunal que for apreciar o recurso poderá, em 
caráter cautelar, suspender a inelegibilidade, nos termos do art. 26-C, da Lei. 
 Min. Cármen Lúcia: argumentou que, nos debates da constituinte, adotara-se o 
princípio da não culpabilidade no âmbito penal e que, no caso, a matéria que estava 
sendo discutida (inelegibilidade) era em sede de direito eleitoral. 
 Min. Ricardo Lewandowski: afirmou que a Lei da Ficha Limpa não conflita com o art. 15, 
III, da CF, considerando que o legislador escolheu sobrelevar os direitos previstos no art. 
14, § 9º, do mesmo diploma. 
 Min. Ayres Britto: asseverou que a Constituição, na defesa da probidade administrativa, 
teria criado uma espécie de processo legal eleitoral substantivo, que possuiria dois 
conteúdos: o princípio da respeitabilidade para a representação da coletividade e o 
direito que tem o eleitor de escolher candidatos honoráveis. Mencionou que a Lei da 
Ficha Limpa é a decorrência da saturação do povo com os maus-tratos infligidos à coisa 
pública e que a matéria relativa à presunção de inocência já foi exaustivamente 
debatida no Congresso Nacional quando da análise da lei. 
 Min. Marco Aurélio: narrou que o STF já proclamou que não pode haver a execução da 
pena antes do trânsito em julgado da decisão condenatória, sendo, no entanto, que 
este entendimento não é aplicável à inelegibilidade. 
 
Quanto a este aspecto, que era o principal do julgamento, veja como foi o resultado: 
Votaram pela constitucionalidade da Lei Votaram pela inconstitucionalidade da Lei 
Min. Luiz Fux (Relator) 
Min. Rosa Weber 
Min. Cármen Lúcia 
Min. Joaquim Barbosa 
Min. Ricardo Lewandowski 
Min. Carlos Ayres Britto 
Min. Marco Aurélio 
 
Min. Dias Toffoli 
Min. Gilmar Mendes 
Min. Celso de Mello 
Min. Cezar Peluso. 
 
 
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Vedação à 
possibilidade 
de detração 
As alíneas “e” e “l” do inciso I do art. 1º da LC 64/90 estabelecem que os condenados por 
determinados crimes ou então por improbidade administrativa decorrente de lesão ao 
patrimônio público e enriquecimento ilícito, ficarão inelegíveis desde a condenação até o 
transcurso do prazo de 8 anos após o cumprimento da pena. 
Observe agora a seguinte situação: 
O político “X” é condenado por órgão colegiado em 01/03/2012. A partir desta data ele já 
se torna inelegível. 
O trânsito em julgado da condenação só ocorre em 01/03/2014, data em que ele inicia o 
cumprimento da pena. 
O político “X” termina de cumprir a pena em 01/03/2016. 
Pela redação da LC, a inelegibilidade deste político irá durar por mais 8 anos após cumprir 
toda a pena, ou seja, como terminou de cumprir a pena em 01/03/2016, somente 
terminará sua inelegibilidade em 01/03/2024. 
Este político poderia “descontar” destes 8 anos de inelegibilidade, o tempo que ficou 
inelegível antes do trânsito em julgado e antes de cumprir a pena? Em nosso exemplo, 
como o político “X” ficou inelegível desde 01/03/2012, poderia ele descontar o período de 
01/03/2012 até 01/03/2016 (quatro anos), ficando apenas mais quatro anos inelegível após 
o cumprimento da pena? Em outras palavras, seria possível fazer uma espécie de detração? 
R: NÃO. Sobre este ponto, entendeu-se, vencido o Relator, que este prazo de inelegibilidade 
e a forma de sua contagem foram uma opção político-normativa do legislador, não sendo 
permitido ao STF atuar como legislador positivo e adotar, impropriamente, a detração. 
Portanto, no exemplo dado, o político “X” ficará inelegível por um total de 12 anos. 
Condenações 
anteriores à 
LC 135/2010 
O STF afirmou que os atospraticados antes da vigência da LC 135/2010, assim como as 
condenações anteriores a esta Lei podem ser utilizadas para configurar as hipóteses de 
inelegibilidade previstas na Lei da Ficha Limpa. 
 
Exemplo: o político “Y” cometeu crime contra o meio ambiente em 15/05/2009, portanto, 
antes da edição da LC 135/2010. Se ele for condenado por este fato, que é anterior à LC, 
poderá se tornar inelegível com base na Lei da Ficha Limpa? 
R: SIM, sem que haja ofensa ao princípio da irretroatividade das leis. A aplicação da Lei da 
Ficha Limpa a tais casos não significa retroatividade, mas sim a mera incidência da 
legislação em vigor aos processos eleitorais vindouros. O marco temporal para o exame das 
condições de elegibilidade é o registro da candidatura. A elegibilidade é condição a ser 
averiguada por ocasião de cada pleito eleitoral segundo a lei da época. 
A Min. Cármen Lúcia realçou que o que se passaria na vida de alguém não se desapegaria 
de sua história, de forma que, quando um cidadão se propusesse a ser o representante dos 
demais, a vida pregressa comporia a “persona” que se ofereceria ao eleitor e seu 
conhecimento haveria de ser de interesse público, a fim de se chegar à conclusão de sua 
aptidão — que a Constituição diria moral e proba — para esse mister. 
O Min. Ricardo Lewandowski rememorou inexistir retroatividade, porquanto não se 
cuidaria de sanção, porém de condição de elegibilidade. 
Condenação 
por infração 
ético-
disciplinar 
A Lei da Ficha Limpa prevê a inelegibilidade, pelo prazo de 8 (oito) anos, das pessoas que 
forem excluídas do exercício de sua profissão, por decisão sancionatória do órgão 
profissional competente (exs: Tribunal de Ética da OAB, Comissão de Ética do CRM etc.), em 
decorrência de infração ético-profissional, salvo se o ato houver sido anulado ou suspenso 
pelo Poder Judiciário. 
A Confederação Nacional dos Profissionais Liberais questionava este dispositivo. No 
entanto, o STF o considerou constitucional ao fundamento de que a condenação por 
infração ético-profissional demonstraria a inaptidão para interferência em gestão da coisa 
pública. 
 
 
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Redação do 
art. 14, § 9º 
da CF/88 
Desde 1994, o legislador tenta incluir a falta de moralidade como uma causa de 
inelegibilidade, tanto que foi alterado o § 9º do art. 14 da CF para deixar isso patente: 
 
Redação original Redação dada pela emenda constitucional 
de revisão n.ª 4/94 
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros 
casos de inelegibilidade e os prazos de sua 
cessação, a fim de proteger a normalidade e 
legitimidade das eleições contra a influência 
do poder econômico ou o abuso do 
exercício de função, cargo ou emprego na 
administração direta ou indireta. 
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros 
casos de inelegibilidade e os prazos de sua 
cessação, a fim de proteger a probidade 
administrativa, a moralidade para o 
exercício do mandato, considerada a vida 
pregressa do candidato, e a normalidade e 
legitimidade das eleições contra a influência 
do poder econômico ou o abuso do 
exercício de função, cargo ou emprego na 
administração direta ou indireta. 
 
Leitura da LC 
135/2010 
Para os que irão fazer concurso em que seja cobrado direito eleitoral, é imprescindível a 
leitura e memorização dos principais aspectos da Lei da “Ficha Limpa”. 
Processos Plenário. 
ADC 29/DF, rel. Min. Luiz Fux, 15 e 16.2.2012. 
ADC 30/DF, rel. Min. Luiz Fux, 15 e 16.2.2012. 
ADI 4578/DF, rel. Min. Luiz Fux, 15 e 16.2.2012. 
 
 
DIREITO PENAL 
 
Princípio da insignificância e Lei de Drogas 
 
Segundo a 1ª Turma do STF, é possível a aplicação do princípio da insignificância para o crime 
de porte de droga para consumo próprio (art. 28 da Lei 11.343/2006) 
Comentários Quando a pessoa é encontrada portando droga para consumo pessoal, irá responder pelo 
crime previsto no art. 28 da Lei n. 11.343/2006: 
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para 
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou 
regulamentar será submetido às seguintes penas: 
I - advertência sobre os efeitos das drogas; 
II - prestação de serviços à comunidade; 
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 
 
Se a quantidade de droga encontrada com a pessoa for ínfima, é possível aplicar o 
princípio da insignificância? 
 
A posição que prevalecia até então era no sentido de que não seria possível aplicar o 
princípio da insignificância para nenhum dos delitos da Lei de Drogas, nem mesmo no caso 
de porte ou posse para consumo próprio. 
 
Nesse sentido, o STJ possuía o seguinte julgado: 
A pequena quantidade de substância entorpecente, por ser característica própria do tipo de 
posse de drogas para uso próprio (art. 28 da Lei 11.343/06), não afasta a tipicidade da 
conduta. Precedentes. 
(HC 158.955/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 5ª Turma, julgado em 17/05/2011) 
 
Ressalte-se que, no julgado acima, o condenado havia sido pego com 0,9 grama de 
maconha. 
 
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Outro aresto do STJ no mesmo sentido: 
1. Não merece prosperar a tese sustentada pela defesa no sentido de que a pequena porção 
apreendida com o paciente - 9 g (nove gramas) de maconha - ensejaria a atipicidade da 
conduta ao afastar a ofensa à coletividade, primeiro porque o delito previsto no art. 28 da 
Lei nº 11.343/06 trata-se de crime de perigo abstrato e, além disso, a reduzida quantidade 
da droga é da própria natureza do crime de porte de entorpecentes para uso próprio. 
2. Ainda no âmbito da ínfima quantidade de substâncias estupefacientes, a jurisprudência 
desta Corte de Justiça firmou entendimento no sentido de ser inviável o reconhecimento da 
atipicidade material da conduta também pela aplicação do princípio da insignificância no 
contexto dos crimes de entorpecentes. 
(HC 174.361/RS, Rel. Ministro Jorge Mussi, 5ª Turma, julgado em 03/02/2011) 
 
Ocorre que a 1ª Turma do STF, neste julgado, decidiu que pode ser reconhecido o 
princípio da insignificância para o crime de porte de drogas para consumo próprio. 
 
No caso julgado pelo STF, o acusado P. L. M. foi pego levando consigo 0,6g de maconha, 
tendo sido processado e condenado pelo delito do art. 28 da Lei n. 11.343/2006, 
recebendo como pena 3 meses e 15 dias de prestação de serviços à comunidade. 
 
A defesa de P. L. M. interpôs recurso perante o TJ-SC pedindo a aplicação do princípio da 
insignificância. O pedido foi negado. A defesa impetrou então HC no STJ que não conheceu 
do pedido por entender que haveria revolvimento de provas, incabível em habeas corpus. 
 
Contra a decisão do STJ, a defesa impetrou novo HC no STF. 
 
O HC no STF foi julgado pela 1ª Turma, que reconheceu a incidência do princípio da 
insignificância. 
 
Argumentos utilizados pelo Relator: 
 A privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se justificam 
quando estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da sociedade e de 
outros bens jurídicos que lhes fossem essenciais, notadamente naqueles casos em que 
os valores penalmente tutelados são expostos a dano, efetivo ou potencial, impregnado 
de significativa lesividade. 
 Deste modo, o direito penal não deve se ocupar de condutas que produzam resultados 
cujo desvalor — por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes — 
não representam, por isso mesmo, expressivo prejuízo, seja ao titular do bem jurídico 
tutelado, seja à integridade da própria ordem social. 
 Assim, estão preenchidos os requisitos de aplicação do princípio da insignificância: 
a) mínima ofensividade da conduta do agente; 
b) nenhuma periculosidade social da ação; 
c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e 
d) inexpressividade da lesãojurídica provocada. 
Posição do 
STJ 
Ressalte-se, mais uma vez, que o STJ vinha entendendo não ser possível a aplicação do 
princípio da insignificância ao crime previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/06. Vamos 
acompanhar como o STJ passará a decidir após este precedente do STF. 
Questão 
processual 
interessante 
Superada esta questão de direito penal, importante destacarmos uma interessante 
observação de direito processual penal: 
O art. 28 da Lei n. 11.343/2006 não prevê, como sanção penal, penas privativas de 
liberdade (não prevê reclusão ou detenção). Assim, o condenado pelo art. 28 da Lei de 
Drogas não poderá receber pena de prisão. 
 
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Mesmo não podendo receber pena privativa de liberdade, é possível que o processado ou 
condenado pelo art. 28 da Lei n. 11.343/2006 possa impetrar habeas corpus? 
O STF entendeu que, mesmo sem haver qualquer risco de o réu ser preso por conta do art. 
28 da Lei n. 11.343/2006, ele poderia impetrar habeas corpus. 
Desse modo, atenção, porque é muito importante: cabe habeas corpus no caso de réu 
processado ou condenado pelo art. 28 da lei de drogas, mesmo não havendo risco, ainda 
que potencial, de que seja preso. 
Processo 1ª Turma. HC 110.475/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/02/2012. 
 
 
Crime de redução a condição análoga à de escravo (art. 149 do CP) 
 
Crime de redução a condição análoga à de escravo e 
outros relacionados com a organização do trabalho. 
Comentários Neste julgamento, o STF decidiu receber a denúncia formulada pelo Procurador-Geral da 
República contra um Senador da República e outra pessoa também acusada juntamente 
com ele. 
A denúncia imputava os seguintes crimes: arts. 149, 203, §§ 1º e 2º e 207, §§ 1º e 2º, todos 
do CP, em concurso formal homogêneo. 
 
Por que o STF estava julgando se recebia ou não a denúncia oferecida? 
R: porque quem julga crimes praticados por Senadores é o STF (art. 102, I, b, da CF/88). 
 
Qual é o procedimento adotado pelo STF nestes casos? 
R: o procedimento da Lei n. 8.038/90. 
 
Análise quanto ao recebimento ou não da denúncia: nesta fase não há um exame 
aprofundado de provas, considerando que a instrução probatória (produção de provas em 
juízo) ainda não começou. Deve-se, contudo, desde logo, rejeitar imputações sem 
fundamento porque o simples fato de responder a um processo criminal já configura 
constrangimento. 
 
O que narrava, em síntese, a denúncia? 
A inicial acusatória narrava que, a partir de diligência realizada por grupo de fiscalização do 
Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, constatara-se que os denunciados teriam, no 
período de janeiro e fevereiro de 2004, reduzido aproximadamente 35 trabalhadores a 
condição análoga à de escravos, inclusive com a presença de menor de idade entre os 
trabalhadores, nas dependências de fazenda de propriedade do parlamentar e administrada 
pelo codenunciado. O MPF atribui aos denunciados o possível aliciamento de trabalhadores 
rurais — em unidade da federação distante daquela em que o trabalho seria prestado — 
com a consequente frustração de seus direitos trabalhistas. Afirma que tais trabalhadores 
teriam sido reduzidos a condição análoga à de escravos, ante as condições degradantes de 
trabalho, a jornada exaustiva e a restrição de locomoção por dívidas contraídas, entre 
outras situações. 
 
O que os denunciados alegam em sua defesa? 
O parlamentar sustentava várias teses em sua defesa, mas vamos destacar as seguintes: 
 alegava que interpusera recurso perante a Delegacia Regional do Trabalho e, em razão 
disso, a punibilidade estaria condicionada à decisão administrativa; 
 o fato de ser proprietário da fazenda não o vincularia criminalmente à imputação penal. 
 
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O codenunciado, por sua vez, alega, no que interessa, que: 
 o Senador apenas o nomeara como procurador para comparecer à cidade na qual 
arregimentados os trabalhadores, com o fim de efetivar o pagamento das verbas 
trabalhistas impostas pelos auditores-fiscais e 
 não seria administrador da fazenda, pois, à época dos fatos, era assessor de 
Governador. 
 
O STF recebeu a denúncia? 
SIM, em decisão tomada pela maioria dos Ministros (não unânime). 
 
Principais argumentos para recebimento da denúncia: 
 A existência de processo trabalhista não teria o condão de afastar o exame do juízo de 
admissibilidade da denúncia. Isso porque as instâncias trabalhista e penal são 
independentes. 
 A investigação fora realizada por grupo de fiscalização que contara com a atuação de 
auditores-fiscais do trabalho e outros servidores do MTE, de procurador do Ministério 
Público do Trabalho, de delegado, escrivão e agentes do Departamento de Polícia 
Federal. 
 Destacou-se a edição da Lei 9.777/98, que ampliou o rol de condutas que podem se 
amoldar ao crime de frustração de direito assegurado por lei trabalhista, inclusive com 
a previsão da prática do truck system (forma de pagamento de salários em 
mercadorias), mantendo armazéns na fazenda para fornecimento de produtos e 
mercadorias aos trabalhadores mediante desconto dos valores no salário e a Lei 
10.803/2003 — que estendeu o rol de condutas amoldadas ao delito de redução a 
condição análoga à de escravo. 
 Citou, também, que o único instrumento internacional a conceituar a escravidão seria o 
Tratado de Roma (art. 7º). 
 Enfatizou que as condutas descritas nos referidos tipos penais atentariam contra o 
princípio da dignidade da pessoa humana sob o prisma tanto do direito à liberdade 
quanto do direito ao trabalho digno. 
 Aduziu, ademais, a possibilidade de coexistência dos crimes dos artigos 149, 203 e 207, 
todos do CP, sem que se cogitasse de consunção. 
 Afirmou-se que, durante as investigações, fora produzido substrato probatório da 
ocorrência dos crimes. 
 Art. 149 do CP (redução a condição análoga à de escravo): a fiscalização do MTE 
demonstrara as péssimas condições de alojamento, fornecimento de água, jornada 
diária superior ao limite de 2 horas excedentes e ausência de repouso semanal 
remunerado. Haveria, ainda, cópias de lançamentos contábeis acerca das dívidas 
assumidas por vários trabalhadores no armazém informalmente mantido na fazenda. 
 Art. 207 do CP (aliciamento de trabalhadores de um local para outro do território 
nacional): a fraude descrita consistiria em promessas de salários e outros benefícios 
trabalhistas por ocasião da contratação. 
 Art. 203 do CP (frustração de direito assegurado por lei trabalhista): indícios de prova 
por conta da lavratura dos autos de infração pelos auditores do MTE, em face da não 
formalização de contrato de trabalho. 
 Não haveria responsabilidade objetiva do parlamentar porque as atividades dos 
trabalhadores seriam voltadas à exploração agropecuária da fazenda, sendo, por isso, 
inequívoco o benefício do proprietário. 
 
 
 
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Obs1: outros argumentos foram aventados no julgamento, mas não são tão relevantes ou 
se referem apenas à questão probatória, por isso não foram mencionados. 
Obs2: se você pretende fazer concurso para o MPT, o MPF e a Magistratura Federal, é 
indispensável a leitura do inteiro teor do julgado. 
Obs3: o crime de redução a condição análoga à de escravo é de competência da Justiça 
Federal comum (juiz federal – em 1ª instância) e a ação penal é proposta pelo Procurador da 
República (em 1ª instância) considerando que o Procurador do Trabalho não detém 
atribuição criminal, atuando, nestes casos, apenas com relação aos aspectos trabalhistas do 
fato apurado. 
Processo Plenário. Inq 2131/DF, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, 23.2.2012 
 
 
Denunciação caluniosa (art. 339 do CP) 
 
Para que seja configurado o crimede denunciação caluniosa exige-se dolo direto. 
Não há crime de denunciação caluniosa caso o agente tenha agido com dolo eventual. 
Comentários O crime de denunciação caluniosa é previsto no Código Penal com a seguinte redação: 
 
Denunciação caluniosa 
Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração 
de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra 
alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: 
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. 
 
Qual é o elemento subjetivo da denunciação caluniosa? 
É o dolo direto, considerando que o tipo penal utiliza a expressão “imputando-lhe crime de 
que o sabe inocente”. 
Desse modo, é imprescindível que esteja provado que o agente tenha efetivo conhecimento 
da inocência da pessoa e mesmo assim dê causa à instauração de investigação policial, 
processo judicial ou investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade 
administrativa. 
Processo 2ª Turma. HC 106466/SP, rel. Min. Ayres Britto, 14.2.2012. 
 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
As hipóteses de impedimento previstas no art. 252 do CPP constituem rol taxativo. 
Comentários O art. 252 do CPP traz o rol das hipóteses de impedimento: 
Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que: 
I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, 
inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou 
perito; 
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha; 
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão; 
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, 
inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito. 
 
A pergunta que foi debatida no caso julgado pelo STF foi a seguinte: 
O rol do art. 252 do CPP é taxativo ou permite outras hipóteses de impedimento? 
R: Trata-se de rol TAXATIVO. 
 
 
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Determinado Desembargador Federal participou, como membro do Colegiado, do 
julgamento que condenou o réu em ação penal originária no TRF. 
Contra esta decisão, o réu interpôs recursos especial e extraordinário. 
No momento de fazer o juízo de admissibilidade do RE e do Resp, o referido 
Desembargador era Vice-Presidente do TRF e, por isso, foi quem realizou o juízo de 
admissibilidade, negando seguimento aos recursos. 
A defesa alegou que este Desembargador não poderia ter realizado o juízo de 
admissibilidade do RE e do Resp, uma vez que ele já teria julgado a ação penal. 
O STF entendeu que não havia impedimento, considerando que, ao verificar os requisitos de 
admissibilidade do RE e do Resp, o Desembargador não teria analisado novamente o mérito 
da ação penal, mas se limitado a aspectos processuais de admissibilidade dos recursos. 
Processo 2ª Turma. HC 94089/SP, rel. Min. Ayres Britto, 14.2.2012. 
 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 
 
Compete à JUSTIÇA COMUM processar e julgar crime praticado por militar contra militar 
quando ambos estiverem em momento de folga. 
Comentários “A”, militar, encontrava-se de folga e, ao sair de uma roda de samba em boate, praticou 
crimes dolosos contra as vidas de dois civis (“B” e “C”) e um militar (“D”). 
No caso do crime praticado contra a vida do militar (“D”), “A” foi julgado e condenado na 
Justiça Militar. 
Assinalou-se, no caso, não ser a qualificação do agente a revelar a competência da justiça 
castrense (Justiça Militar) e não haver qualquer aspecto a atrair a incidência do art. 9º do 
CPM quanto à definição de crime militar: 
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: 
(...) 
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando 
praticados: 
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; 
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar 
da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; 
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, 
ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; 
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou 
assemelhado, ou civil; 
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a 
ordem administrativa militar. 
 
Assim, a Turma concluiu que a competência para julgar “A” pelos crimes praticados contra 
“B” (civil), “C” (civil) e “D” (militar) seria da Justiça Estadual (Tribunal do Júri). 
Posição 
vencida 
O Min. Dias Toffoli entendia que o crime praticado por militar (de folga) contra outro militar 
(também de folga) poderia ser enquadrado como crime militar com base no art. 9º, II, a, do CPM. 
Este argumento foi, conforme dito, rejeitado pela 1ª Turma do STF. 
Processo 1ª Turma. HC 110286/RJ, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 14.2.2012. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO TRIBUTÁRIO 
 
ICMS 
 
É inconstitucional lei estadual que outorgue competência ao Estado para cobrar ICMS nas 
operações interestaduais em que o destinatário do bem esteja localizado em seu território, 
independentemente de se tratar de consumidor final (contribuinte do tributo) ou de mero 
intermediário. 
Comentários Trata-se de ADI proposta pela OAB contra uma Lei do Estado da Paraíba que trata sobre 
ICMS (Lei 9.582/2011). 
A referida Lei permite que o Estado da Paraíba cobre ICMS nas operações interestaduais em 
que o destinatário da mercadoria estiver localizado na Paraíba, independentemente de se 
tratar de consumidor final (contribuinte do tributo) ou de mero intermediário. 
 
Qual o modelo tributário do ICMS adotado pela CF/88? 
Na operação realizada entre contribuintes situados em Estados diferentes, a quem será devida a 
arrecadação do imposto? Ao Estado que produziu a mercadoria (Estado de origem – alienante) 
ou àquele em que vai ocorrer o consumo (Estado de destino – adquirente)? 
Durante as discussões na Assembleia Constituinte, prevaleceu que o imposto seria devido 
ao Estado de origem. Mas, em contrapartida, foram criadas regras que garantem que, nas 
operações interestaduais realizadas entre contribuintes, boa parte da arrecadação da 
cadeia produtiva ficará com o Estado em que irá ocorrer o consumo. 
 
Regras da cobrança do ICMS nas operações interestaduais: 
 
1ª regra: se o adquirente for consumidor final da 
mercadoria comprada e for contribuinte do ICMS. 
Ex: supermercado do PE adquire computadores 
de SP como consumidor final, ou seja, os 
computadores não serão para revenda, mas 
sim para uso próprio. 
Neste caso, optou a CF por dividir a 
arrecadação entre o Estado de origem (SP) e o 
de destino da mercadoria (PE). 
Alíquota interestadual na operação de SP com 
destino a PE = 7%. 
Para onde vai esses 7%? R: para SP (a regra é: 
quem recebe o ICMS é o Estado de origem). 
Será devido ao Estado de PE: a diferença entre 
a alíquota interna e a alíquota interestadual = 
17% - 7% = 10% 
Esta situação não é muito frequente na prática. 
2ª regra: se o adquirente for consumidor final, 
mas não for contribuinte do ICMS. 
Ex: advogado do Espírito Santo compra um 
computador pela internet de uma loja de SP. 
Aplica-se a alíquota interna do Estado 
vendedor, que a ele deverá ser paga. O Estado 
comprador não ganha nada. 
Esta situação tem crescido bastante com o 
incremento das compraspela internet. 
3ª regra: se o adquirente não for consumidor final. 
Ex: supermercado de PE compra computadores 
de empresa de SP para revender em suas lojas 
no Recife. 
Aplica-se a alíquota interestadual, que será 
paga ao Estado vendedor (no caso, SP). 
Esta é a situação mais corriqueira na prática. 
 
Alíquotas do ICMS: 
Não são previstas em LC. 
São fixadas por meio de Resolução do Senado, com o intuito de evitar a “guerra fiscal”. 
 
Por que o Estado da Paraíba, entre outros, alega que é injusta esta sistemática? 
A maioria dos Estados (Paraíba, Piauí, Bahia, Mato Grosso, Ceará, entre outros) narra que a 
quase todos os centros de produção e de distribuição de produtos industrializados estão 
 
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localizados nas Regiões Sul e Sudeste do país. Segundo alegam, tais Estados são muito 
industrializados e concentram boa parte da riqueza financeira nacional. Os Estados 
localizados nas demais regiões aglutinam, proporcionalmente, mais consumidores do que 
empresas. Desse modo, afirmam que é injusta a regra constitucional do ICMS porque exclui 
os Estados consumidores da arrecadação deste imposto, que fica com os Estados 
produtores (chamada “regra de origem”), que já são mais desenvolvidos economicamente 
e, com isso, ficam ainda mais ricos. 
 
Por conta dessa realidade, estes Estados têm editado leis, como a da Paraíba, outorgando 
competência para cobrar ICMS nas operações interestaduais em que o destinatário da 
mercadoria estiver localizado em seu território, independentemente de se tratar de 
consumidor final (contribuinte do tributo) ou de mero intermediário. Com isso, tais leis 
violam as regras 2 e 3 acima expostas. 
 
Estas leis (como a da Paraíba) seguem modelo aprovado no Protocolo ICMS 21/2011, do 
Confaz, adotado por alguns Estados-membros da Federação e pelo DF, com o objetivo de 
neutralizar a alegada injustiça do modelo de tributação do ICMS estabelecido pela 
Constituição. 
Em suma, o Confaz aprovou este Protocolo, que serviu de base para a Lei, alegando que o 
modelo de tributação do ICMS é injusto com alguns Estados e que esta injustiça tem 
crescido ainda mais com o aumento do comércio eletrônico, no qual fica muito mais fácil 
para os consumidores do Estado da Paraíba, por exemplo, adquirirem produtos de outros 
Estados. 
 
A medida cautelar suspendendo a Lei já havia sido concedida 
O Ministro Joaquim Barbosa, relator da ADI, no final do ano passado, concedeu a medida 
cautelar, de forma monocrática, para suspender, com eficácia ex tunc, a aplicação da Lei 
9.582/2011 do Estado da Paraíba. 
Neste julgamento, aqui noticiado, o Plenário do STF referendou (ratificou) a decisão do 
Ministro Joaquim Barbosa. 
 
Argumentos para suspender a aplicação da referida Lei: 
Os Ministros entenderam que há densa plausibilidade de inconstitucionalidade de Lei 
editada unilateralmente por Estado que estabeleça tributação diferenciada de bens 
provenientes de outros Estados da Federação, pois: 
a) Somente resolução do Senado Federal pode determinar as alíquotas do ICMS para 
operações interestaduais; 
b) A CF/88, para que haja a incidência do ICMS, exige que ocorra operação de circulação 
de mercadorias (ou serviços). Portanto, o tributo não pode ser cobrado sobre 
operações apenas porque elas têm por objeto “bens”, ou nas quais fique 
descaracterizada atividade mercantil-comercial; 
c) No caso, a Constituição adotou como critério que a cobrança do ICMS ocorra pelo 
Estado de origem das mercadorias. Mudar a cobrança para o Estado de destino 
depende de alteração da própria Constituição (depende de uma reforma tributária), 
não podendo ser feito por lei estadual; 
d) É impossível alcançar integração nacional sem harmonia tributária. Adequado ou não, o 
modelo escolhido pelo Constituinte de 1988 para prover essa harmonia e a 
indispensável segurança jurídica foi a “regra da origem” (art. 155, § 2º, II, b da 
Constituição). O Confaz ou cada um dos estados-membros não podem substituir a 
legitimidade democrática da Assembleia Constituinte, nem do constituinte derivado, na 
fixação dessa regra. 
 
 
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e) Por outro lado, além da segurança jurídica institucional, a retaliação unilateral prejudica 
o elemento mais fraco da cadeia de tributação, que é o consumidor. Em princípio, os 
comerciantes têm alguma flexibilidade para repassar o aumento da carga tributária aos 
consumidores, mediante composição de preços. Porém, nem todos os consumidores 
serão capazes de absorver esses aumentos. 
 
Obs: este tema é difícil e geralmente não é tratado com profundidade nas faculdades. 
Mesmo assim, trata-se de tema fundamental para aqueles que se preparam para concursos 
de Procuradoria do Estado e de Auditores Fiscais de Tributos Estaduais. Se você quiser 
entender melhor este assunto, recomendo o livro do Prof. Ricardo Alexandre, que é um 
primor de didática e de onde foram retirados algumas explicações deste julgado (Direito 
Tributário Esquematizado. São Paulo: Editora Método). 
Precedente Outro precedente do STF no mesmo sentido: ADI 4565 MC/PI (DJe de 27.6.2011) 
Processo Plenário. ADI 4705 Referendo-MC/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 23.2.2012. 
 
 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 
 
Julgue os itens a seguir: 
1) O denominado “Estatuto do Torcedor”, Lei n.º 10.671/2003, representou grande avanço na proteção e 
defesa do torcedor, mas possui alguns dispositivos que violam a Constituição, ao estabelecerem regras 
de caráter regional sobre campeonatos e outras peculiaridades que não podem ser caracterizadas 
como normas gerais de que trata o art. 24, § 1º da CF/88. ( ) 
2) No julgamento da ADI 2937/DF, que declarou a constitucionalidade do chamado “Estatuto do 
Torcedor”, o STF reconheceu, nos termos do art. 5º, XVIII, da CF/88, que não é possível qualquer forma 
de interferência estatal no funcionamento das associações esportivas. ( ) 
3) O desporto constitui-se como um direito constitucionalmente reconhecido. ( ) 
4) As entidades responsáveis pela organização de competições esportivas, bem como seus dirigentes 
respondem solidariamente com o detentor do mando de jogo e seus dirigentes, independentemente 
da existência de culpa, pelos prejuízos causados a torcedor que decorram de falhas de segurança nos 
estádios. ( ) 
5) Como restou amplamente divulgado, a Lei da Ficha Limpa foi julgada constitucional pelo STF, tendo 
sido, contudo, dada interpretação conforme para afirmar que somente incidirá a inelegibilidade após o 
trânsito em julgado da condenação. ( ) 
6) Como restou amplamente divulgado, a Lei da Ficha Limpa foi julgada constitucional pelo STF, tendo 
sido, contudo, determinado que ela não se aplicará às eleições de 2012, considerando que o 
julgamento ocorreu a menos de um ano do pleito, nos termos do art. 16 da CF/88. ( ) 
7) Lei complementar estabelecerá casos de inelegibilidade e prazos de sua cessação, a fim de proteger a 
probidade administrativa, a moralidade para o exercício de mandato, considerada a vida pregressa do 
candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o 
abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. ( ) 
8) A inelegibilidade consiste na ausência de capacidade eleitoral ativa, isto é, a impossibilidade jurídica de 
ser candidato. ( ) 
9) A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à 
eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. ( ) 
10) O princípio da anterioridade eleitoral constitui garantia fundamental também destinada a assegurar o 
próprio exercício do direito de minoria parlamentar em situações nas quais, por razões de conveniência 
da maioria, o Poder Legislativo pretenda modificar, a qualquer tempo, as regras e critériosque regerão 
o processo eleitoral. ( ) 
 
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11) O STF decidiu que a regra da anterioridade eleitoral, prevista no art. 16 da CF/88, pode ser afastada 
desde que a legislação editada menos de um ano antes do pleito tenha por objetivo instituir novas 
normas de moralidade nas eleições, contribuindo assim para a soberania popular. ( ) 
12) Segundo o STF, a Lei da Ficha Limpa, ao dispensar o trânsito em julgado da condenação para impor a 
inelegibilidade, é constitucional, considerando que o princípio da presunção de inocência, tal qual 
previsto na CF/88, foi idealizado para o âmbito penal e processual penal, e, no caso da seara eleitoral, 
ele poderia ser relativizado. ( ) 
13) A inelegibilidade não é uma pena, motivo pelo qual incabível a incidência dos princípios da 
irretroatividade da lei e da presunção de inocência. ( ) 
14) O STF afirmou que os atos praticados antes da vigência da LC 135/2010, assim como as condenações 
anteriores a esta Lei podem ser utilizadas para configurar as hipóteses de inelegibilidade previstas na 
Lei da Ficha Limpa. ( ) 
15) A Lei da Ficha Limpa prevê a inelegibilidade, pelo prazo de 8 (oito) anos, das pessoas que forem 
excluídas do exercício de sua profissão, por decisão sancionatória do órgão profissional competente, 
em decorrência de infração ético-profissional, salvo se o ato houver sido anulado ou suspenso pelo 
Poder Judiciário. ( ) 
16) O crime de redução a condição análoga à de escravo é de competência da Justiça Federal, sendo a ação 
proposta pelo Procurador do Trabalho. ( ) 
17) O elemento subjetivo no crime de denunciação caluniosa é o dolo direto, considerando que o tipo 
penal utiliza a expressão “imputando-lhe crime de que o sabe inocente”. ( ) 
18) Segundo entendimento do STJ e do STF, não é possível a aplicação do princípio da insignificância para o 
crime de porte de droga para consumo próprio. ( ) 
19) É pacífico na jurisprudência que é possível a aplicação do princípio da insignificância para o crime de 
porte de droga para consumo próprio. ( ) 
20) Não cabe habeas corpus no caso de réu processado ou condenado pelo art. 28 da lei de drogas, 
considerando que não há risco, ainda que potencial, à liberdade de locomoção, tendo em conta que 
este tipo penal não prevê pena privativa de liberdade. ( ) 
21) As hipóteses de impedimento previstas no art. 252 do CPP constituem rol taxativo. ( ) 
22) Compete à justiça comum processar e julgar crime praticado por militar contra militar quando ambos 
estiverem em momento de folga. ( ) 
23) É inconstitucional lei estadual que outorgue competência ao Estado para cobrar ICMS nas operações 
interestaduais em que o destinatário do bem esteja localizado em seu território, independentemente 
de se tratar de consumidor final (contribuinte do tributo) ou de mero intermediário. ( ) 
24) Somente resolução do Senado Federal pode determinar as alíquotas do ICMS para operações 
interestaduais. ( ) 
 
Gabarito 
1. E 2. E 3. C 4. C 5. E 6. E 7. C 8. E 9. C 10. C 
11. E 12. C 13. C 14. C 15. C 16. E 17. C 18. E 19. E 20. E 
21. C 22. C 23. C 24. C

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