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Planos de Aula fundamentos das ciencias sociais

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Aula 1
Tema: A questão do conhecimento: senso comum e pensamento científico.
Objetivos:
Reconhecer o conhecimento como característica do ser humano.
Identificar as características do senso comum.
Distinguir o conhecimento científico do senso comum.
Compreender a importância do pensamento científico para a elaboração de uma visão crítico-reflexiva da sociedade.
Estrutura do Conteúdo:
Antes da aula, leia o Capítulo 1 de seu Livro didático de Ciências Sociais da página 10 até a 18.
1 - O conhecimento como característica do ser humano
O homem é o único animal que vive no mundo e pensa sobre o mundo em que vive. Ao pensar, ele formula explicações acerca da realidade e dos fenômenos que o cerca. Portanto, é no ato de pensar que o homem conhece a si e o mundo, manifestando isso através da linguagem.
Logos: lógica, razão, palavra, estudo > pensamento, linguagem, conhecimento, discurso.
Em resumo, logos significa palavra e estudo, ou seja, linguagem e pensamento ao mesmo tempo.
É interessante observar que linguagem e pens amento são coisas indissociáveis, não se pode conceber uma sem a outra.
Tomemos, então as seguintes definições:
- pensamento: capacidade de, ao articular acontecimentos, coisas e fatos, instaurar um sentido.
- linguagem: capacidade de tornar esse sentido manifesto.
"O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar".
(Lupicínio Rodrigues)
As coisas não têm um sentido em si, os homens é que lhes dão sentido, através do pensamento e da palavra, que, sistematizados de alguma maneira, formam o CONHECIMENTO.
2 - Formas de conhecimento
A ciência é uma forma de conhecimento, não é? Mas será que sempre foi? É a única forma de conhecimento? Não, existem algumas formas de conhecer além da ciência. O homem sempre buscou expressar o conhecimento dos fenômenos da natureza e de si mesmo utilizando-se de outros tipos de linguagem que não a científica.
2.1. O mito
O mito é uma narrativa, uma fala, que contém em si diversas ideias. É uma mensagem cifrada, que não é entendida facilmente por quem não está dentro da cultura de que o mito faz parte.
O mito não é objetivo, assim como não se situa no tempo, fala das origens, sem, no entanto, referir-se ao contexto histórico. Trata de tempos fabulosos.
Os mitos dão forma e aparência explícita a uma realidade que as pessoas sentem intuitivamente.
O mito pode também transmitir, de geração a geração, uma espécie de conhecimento, muitas vezes sobre a origem do mundo, algumas sobre processos de cura, outras sobre interpretações de fenômenos da natureza e, ainda, sobre a sociedade e a relação entre os homens, através de histórias mitológicas.
Quem não ouviu falar do mito do Cupido, que fala do enamoramento?
2.2. Conhecimento religioso
Esse tipo de conhecimento do mundo se dá a partir da separação entre a esfera do sagrado e do profano.
As religiões também apresentam, de forma geral, uma narrativa sobrenatural para o mundo, porém, para aderir a uma religião, é condição fundamental crer ou ter fé nessa narrativa. Além disso, é uma parte essencial da crença religiosa a fé no fato de que essa narrativa sobrenatural pode proporcionar ao homem uma garantia de salvação, bem como prescrever maneiras ou técnicas de obter e conservar essa garantia, que são os ritos, os sacramentos e as orações.
2.3. Conhecimento filosófico
De modo geral, o conhecimento filosófico pode ser traduzido como amor à sabedoria, à busca do conhecimento. O saber filosófico trata de compreender a realidade, os problemas mais gerais do homem e sua presença no universo. A Filosofia interroga o próprio saber e transforma-o em problema. Por isso, é, sobretudo, especulativa, no sentido de que suas conclusões carecem de prova material da realidade.
Mas, embora a concepção filosófica não ofereça soluções definitivas para numerosas questões formuladas pela mente, ela é traduzida em ideologia. E como tal influi diretamente na vida concreta do ser humano, orientando sua atividade prática e intelectual.
2.4. Senso comum
Retomando a ideia de que as coisas por si só não têm sentido, sendo este atribuído a elas pelos homens, tratemos agora do senso comum, que é algum sentido dado coletivamente às coisas vividas. Para se orientar no mundo, o ser humano assume como certas e seguras diversas coisas, situações e relações entre fatos, coisas e situações.
Nem sempre o senso comum representa a realidade. É o caso daquele cidadão fumante que, respeitoso pelas regras de convívio, não fuma em ambientes em que haja outras pessoas, como um ônibus. Ele costuma esperar seu ônibus sem acender um cigarro, pois logo o ônibus chegará, deixando, assim, o prazer de fumar para depois da viagem. Se o ônibus, porém, demora a chegar, a falta de nicotina em seu organismo o deixará em estado de ansiedade que o levará a acender um cigarro. Como já se terá passado algum tempo de espera, o ônibus provavelmente já estará próximo e, assim, nosso amigo será surpreendido antes de acabar o cigarro. Como em sua experiência diária, pouco depois de acender o cigarro, é surpreendido com a aparição do ônibus, poderia supor que o fato de acender o cigarro causa a chegada do ônibus. O fenômeno observado por várias pessoas poderia estabelecer uma crença comum na causalidade entre o ato de acender o cigarro e o ônibus chegar. Aí está um caso de armadilha que o senso comum pode conter.
Algo simples como observar coisas como esta contribuiu muito para que a humanidade estabelecesse mais uma diferença fundamental entre formas de pensamento humano, entre o senso comum e a ciência.
2.5. Ciência
A ciência é uma forma de conhecimento, ou seja, é um tipo de sistematização de discursos (logos). Não é só o modo como são organizados os discursos, mas o próprio discurso científico é que tem características próprias. Ele se refere a algo bastante especificado. Não se faz ciência sobre a vida em geral ou o mundo em geral. Faz-se ciência quando se delimita aquilo que se quer estudar, o objeto de que se quer tratar. O objeto não é apenas delimitado, é construído, pois trata-se de algo ideal, de uma representação.
Mesmo nas ciências em que o objeto parece bastante concreto, como a química, por exemplo, que lida com os elementos da natureza, o discurso é montado sobre uma abstração, uma representação. O discurso científico trata do ferro ou do manganês abstratamente, fala de suas propriedades, classifica-as, agrupa os elementos de acordo com suas propriedades. O químico diz, por exemplo, que o sódio, o lítio e o potássio têm propriedades semelhantes e, por este motivo, pode classificá-los em um mesmo compartimento de saber, em uma mesma unidade abstrata de conhecimento, em uma mesma coluna da tabela periódica. Esta delimitação é da ordem do discurso e não da experiência.
Evidentemente, a delimitação é resultado da experiência humana na lida com os elementos da natureza.
E, além disso, os resultados das sistematizações dos discursos podem ser verificados em condições experimentais, isto é, em laboratórios. O que se procura verificar é se o discurso que se fez é verdadeiro, ou seja, se o que se disse é condizente com a realidade. E isto que se disse tem o nome de hipótese, outra palavra grega, que significa: (hipo: sob, embaixo de) + thesis (tese, proposição, ato de por). Isto é, a hipótese é um discurso que está, na hierarquia do conhecimento, abaixo da tese. Esta só existe depois da verificação pela experiência.
Na produção do conhecimento científico é necessário, também, que se aja com MÉTODO.
Método grego methodos: meta (por, através de) + hodos (caminho).
Método, assim, é o caminho que se deve trilhar para se obter determinado resultado desejad o. No caso de que tratamos aqui, método científico é o caminho para se obter o CONHECIMENTO CIENTÍFICO.
Aplicação Prática Teórica
Questão discursiva:
Leia o diálogo a seguir.
- Hoje o sol está de rachar!
- É verdade! Como pode uma bola de fogo menor que a Terra, que fica girando em volta da gente, fazer tanto calor?
- Que nada, homem! A Terraé menor do que o sol! É por isso que faz tanto calor!
A Ciência, recorrentemente, se defronta com raciocínios desse tipo, relacionado a falsas certezas.
Demonstre as principais diferenças entre o pensamento científico e o senso comum e apresente, pelo menos, dois outros exemplos de convicções equivocadas decorrentes da utilização do senso comum e refutadas pela ciência.
Questão de múltipla escolha:
Foram os gregos que, rompendo com o senso comum, com a tradição e o misticismo, desenvolveram uma reflexão laica e independente, própria do espírito especulativo, que se debruçava sobre o mundo procurando entendê-lo em sua objetividade? (Cristina Costa. Sociologia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2005). Esse conhecimento, denominado filosófico, tem como importante característica:
a) A busca do entendimento do mundo por meio da separação entre as esferas do sagrado e do profano.
b) A compreensão do mundo por meio do aprendizado acumulado de gerações anteriores.
c) A busca da comprovação das relações de causa e efeito entre os fenômenos observados.
d) A tentativa de explicar a realidade a partir de narrativas mitológicas.
e) A contínua busca do conhecimento por meio do questionamento, da reflexão.
Aula 2
Tema: A investigação cientifica da sociedade: as assim chamadas ciências sociais.
Problemas sociais e sociológicos. Indivíduo e sociedade.
Objetivos:
Definir as Ciências Sociais e descrever as áreas de conhecimento que as constituem.
Entender o enfoque específico utilizado pelas Ciências Sociais na análise da sociedade.
Investigar as possíveis interpretações e ocorrências na atualidade sobre a diferença entre o campo do
saber das ciências da natureza e das ciências sociais.
Estrutura do Conteúdo:
Antes da aula, leia o Capítulo 1 de seu Livro didático de Ciências Sociais da página 18 até a 30.
I - As assim chamadas Ciências Sociais
Por Ciências Sociais entende-se o conjunto de saberes relativos às áreas da Antropologia, Sociologia e Ciência Política. Assim, o objeto de estudo das Ciências Sociais é a sociedade em suas dimensões sociológicas, antropológicas e políticas. As Ciências Sociais fazem parte do grupo de saberes intitulado Ciências Humanas, e apresentam métodos próprios ocidentais. Ao longo de seu desenvolvimento, os antropólogos passaram a analisar grupos sociais relativamente próximos.
Em sua história, a Antropologia revelou es tudos notáveis sobre sociedades indígenas e sociedades camponesas, identificando suas diferentes visões de mundo, sistemas de parentesco, formas de classificação, cosmologias, linguagens etc. Também desenvolveu uma série de estudos sobre grupos sociais urbanos, enfatizando a diferenciação entre seus indivíduos, com base em critérios de raça, cor, etnia, gênero, orientação sexual, nacionalidade, regionalidade, afiliação religiosa, ideologia política, sistemas de crenças e valores, estilos de vida etc.
Na Ciência Política analisam-se as questões ligadas às instituições políticas. Conceitos de poder, autoridade, dominação, autoridade são estudados por essa ciência. Analisam-se também as diferenças entre povo, nação e governo, bem como o papel do Estado como instituição legitimamente reconhecia como a detentora do monopólio da dominação e do controle de determinado território.
III - Comparação entre os enfoques das Ciências Naturais e das Ciências Sociais Ao contrário das Ciências Naturais, as Ciências Sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade, com fatos exteriores aos homens, mas igualmente com as interpretações que são feitas sobre a realidade.
Neste sentido, no que se refere ao objeto de estudo e, consequentemente ao método de investigação, as ciências sociais diferem bastante das ciências naturais. Tal diferença, aliás, suscita intensos debates quanto à validade e o rigor científico do conhecimento produzido pelas ciências sociais. Os argumentos utilizados têm como princípio epistemológico a dificuldade de reconhecê-las como ?verdadeiras ciências?, à medida que elas tratam com eventos complexos, de difícil determinação, uma vez que envolvem valores e significados socialmente dados. Outra questão reside no fato de estar o pesquisador social, d e alguma forma, envolvido com os fenômenos que pretende investigar dificultando a objetividade e a neutralidade científica.
É possível, percebermos, portanto, que as ciências sociais não podem ser enquadradas em "modelos" de cientificidade de outras ciências, pois possuem uma racionalidade e especificidades próprias, relativas ao seu objeto de estudo.
Nessa perspectiva, tal campo de saber não comporta métodos ou técnicas rígidas e rigorosas, nem fórmulas de aplicação imediata que garantam a obtenção de resultados objetivos e exatos. Assim, o que mais importa é a interpretação dos fenômenos, ou seja, não apenas os fatos por si só, mas a forma como se constituem esses fatos. O sujeito (o pesquisador) deve ser considerado no contexto no qual estes fatos ou fenômenos se apresentam, pois ele também faz parte do objeto que investiga.
IV- A importância do estudo socioantropológico na compreensão da realidade.
O conhecimento científico da vida social não se baseia apenas no fato, mas na concepção do fato e na relação entre a concepção e o fato. Por estudar a ação dos homens em sociedade, de seus símbolos, sua linguagem, seus valores e cultura, das aspirações que os animam e das alterações que sofrem, as Ciências Sociais constituem ferramenta importante para o desenvolvimento de compreensão críticoreflexivo da realidade.
Por essa razão, cada vez mais as Ciências Sociais são utilizadas em diversos campos da atividade humana. Campanhas publicitárias, campanhas eleitorais, elaboração de políticas públicas, até mesmo a programação de redes de rádio e televisão levam cada vez mais em conta resultados de investigações sócio-antropológicas, à medida que estas buscam entender as pessoas envolvidas em cada uma dessas atividades, suas crenças, valores e ideias.
Com as mudanças cada vez mais rápidas e profundas dos padrões morais e culturais das sociedades contemporâneas, mais relevantes se tornam as análises que visam compreendê-las. Deslocamentos de pessoas e grupos motivados pelo processo de globalização da economia, que intensificou os fluxos migratórios em todo planeta, trocas culturais proporcionadas pelo estabelecimento de uma "sociedade em rede", novos modelos de família e conjugalidade, novas configurações no campo religioso, entre outros, constituem temas de trabalhos de cientistas sociais contemporâneos. Esses trabalhos são utilizados frequentemente como fonte de reflexão por governos, sociedade civil e indivíduos que buscam desenvolver sua capacidade de compreensão dos acontecimentos e planejamento de ações com vistas à atuação na vida social.
V - Problemas Sociais e Problemas sociológicos
Sabemos que vários problemas que nos afetam individualmente são compartilhados por outros tantos indivíduos, constituindo-se, por assim dizer, problemas sociais. Entretanto, existe uma diferença entre problemas sociais e problemas sociológicos.
O "problema social" designa comumente algo que atinge um grupo, ou uma categoria de indivíduos, as drogas, por exemplo. Embora a classificação de um problema social possa ser subjetiva, afinal de contas, o que é um problema para nossa cultura pode não ser em outra. Em outras palavras, o problema social é uma situação que afeta um número significativo de pessoas e é julgada por estas ou por um número significativo de outras pessoas como uma fonte de dificuldade ou infelicidade e considerada suscetível de melhoria.
Já os problemas sociológicos são o objeto de estudo da Sociologia enquanto ciência, a qual se debruça sobre esses para compreender suas características gerais. Como vimos anteriormente, a Sociologia estuda os fenômenos sociais, sendo eles percebidos como problemas sociais ou não, lançando mão de uma observação sistemática e pormenorizada das organizações e relações sociais.
O problema sociológico é uma questão de conhecimento científico que se suscitae resolve no âmbito da sociologia. Ao contrário do que parece formular corretamente um problema destes constitui tarefa muito difícil, em regra só acessível a quem é especialista da ciência em causa e que seja dotado de uma imaginação viva e treinado na pesquisa.
Em outras palavras, nem todas as questões suscitadas acerca das matérias de que se ocupam as ciências sociais constituem problemas científicos, mas podem ser problemas sociais. Só são problemas científicos as questões formuladas de tal modo que as respostas a elas confirmem, ampliem ou modifiquem o que se tinha por conhecido anteriormente. Isto significa dizer que apenas os cientistas estão em condições de enunciá-las e resolvê-las; que a sua formulação como a sua solução pressupõem um esforço metódico de pesquisa.
Podemos concluir, portanto, que todo problema social pode ser um problema sociológico, mas nem todo problema sociológico é um problema social. 
VI- O papel do indivíduo na sociedade
A perspectiva socioantropológica aponta para uma relação dialógica entre indivíduo e sociedade. Não existem sociedades sem indivíduos e os indivíduos só se tornam verdadeiramente humanos por meio da socialização, processo pelo qual um indivíduo se torna um membro ativo da sociedade em que nasceu, isto é, comporta-se de acordo com determinados atributos pré-concebidos.
O indivíduo, assim, desempenha na realidade um papel duplo em relação à cultura. Segundo Ralph Linton (O indivíduo, a cultura e a sociedade), em circunstâncias normais, quanto mais perfeito seu condicionamento e conseqüente integração na estrutura social, tanto mais efetiva sua contribuição para o funcionamento uniforme do todo e mais segura sua recompensa.
Entretanto, as sociedades existem e funcionam num mundo em perpétua mudança. Como uma simples unidade no organismo social, o indivíduo perpetua o status quo. Como indivíduo, ajuda a transformá-lo quando há necessidade. Desde que nenhum ambiente se apresente completamente estacionário, nenhuma sociedade pode sobreviver sem o inventor ocasional e sem sua capacidade para encontrar soluções para novos problemas.
Aplicação Prática Teórica
Questão discursiva:
Roberto da Matta, célebre antropólogo brasileiro, mostra que os fenômenos que compõem a matéria - prima das Ciências Sociais são complexos. Explique por que razão existe essa complexidade.
Questão de múltipla escolha:
As Ciências Sociais compreendem o conjunto de saberes relativos às áreas da Antropologia, da Sociologia e da Ciência Política. A Antropologia tem como principal preocupação a análise:
a) Dos aspectos culturais da sociedade, como costumes e crenças de diferentes grupos sociais.
b) Dos mecanismos de criação e legitimação do poder.
c) Das relações estabelecidas entre os diversos fenômenos sociais.
d) Das relações econômicas que se estabelecem entre os Estados Nacionais.
e) Das concepções filosóficas dominantes em determinada sociedade.
Aula 3
Tema: A análise antropológica da cultura. O método etnográfico, o etnocentrismo e o relativismo cultural.
Objetivos:
Compreender o conceito de cultura como objeto de estudo privilegiado da
análise antropológica.
Conhecer as práticas antropológicas utilizadas para categorizar
comportamentos culturais.
Reconhecer a importância do principio de relativismo cultural, em
contraposição ao etnocentrismo.
Estrutura do Conteúdo:
Antes da aula, leia o Capítulo 2 de seu Livro didático de Ciências Sociais da página 32 até a 43.
1 - O conceito de cultura
O conceito de cultura é uma preocupação intensa atualmente em diversas áreas do pensamento humano, no entanto a Antropologia é a área alimentares, formas de se vestir, de formarem famílias, de acessarem o sagrado de maneiras diferentes das suas. A essa multiplicidade de formas de vida dá-se o nome de diversidade cultural. Contudo, foi a partir da descoberta do "Novo Mundo", nos séculos XV e XVI, que os europeus se depararam com modos de vida completamente distintos dos seus, e passaram a elaborar mais intensamente interpretações sobre esses povos e seus costumes. É fundamental lembrarmos que o impacto e a estranheza se deram dos dois lados. Os grupos não europeus se espantavam com o ser diferente que chegava até eles desembarcando em suas praias e tomando posse de seu território. Existem relatos de povos que após a morte de um europeu em combate, colocavam seu corpo dentro de um rio e esperavam sua decomposição para ver se eram pessoas como eles. A diferença é que não temos contato com esses relatos dos povos não europeus para conhecermos a visão que eles tinham dos brancos.
No século XIX, com o surgimento da Antropologia como ciência, passa-se a estudar culturas "exóticas", buscando descrever seus hábitos, costumes e sua forma de ver o mundo. No entanto, os primeiros antropólogos não iam ao campo, não experimentavam diretamente o dia a dia dos grupos "selvagens". Eram enviados viajantes, pessoas comuns que eram deslocados para essas ?tribos? e ali ficavam por um certo tempo, registrando tudo que viam e ouviam, a fim de entregar este material aos antropólogos que aí sim analisavam estes relatos, desenvolvendo suas teorias sobre as diferentes culturas. Esta é a denominada "antropologia de gabinete".
3 - A prática etnográfica
Na segunda metade do século XIX esta metodologia foi questionada, afinal, como falar sobre uma cultura que nunca se viu? Como descrever eventos que nunca se vivenciou? Assim cunhou-se a prática etnográfica que é a metodologia característica da antropologia até os dias de hoje: o próprio antropólogo vai ao campo, entra no grupo, vivencia esta cultura diferente, deixa-se fazer parte deste dia a dia, registra esta vivência, retorna para sua própria cultura e finaliza seu trabalho de escrita que é o registro final desta experiência. Segundo François Laplantine, em Aprender Antropologia, a prática etnográfica consiste em "impregnar-se dos temas de uma sociedade, de seus ideais, de suas angústias. O etnógrafo é aquele que deve ser capaz de viver nele mesmo a tendência principal da cultura que estuda".
No entanto, não é nada fácil vivenciar uma outra cultura diferente da nossa. Por quê? Não sentimos nossa cultura como uma construção específica de hábitos e costumes: pensamos que nossos hábitos e nossa forma de ver o mundo devem ser os mesmos para todos! Naturalizamos nossos costumes e achamos o do outro "diferente". Diferente de quê? Qual é o padrão "normal" segundo o qual analisamos o "diferente"?
Geralmente estabelecemos a nossa cultura como o padrão, a norma. Assim tudo que é diferente é concebido como estranho, e mesmo errado. Tal postura é o que denominamos etnocentrismo.
4 - Etnocentrismo
Segundo Everardo Rocha, em O que é Etnocentrismo, trata-se da "visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc.".
Esse autor nos alerta, ao analisar o etnocentrismo, para a questão do choque cultural. Como ele afirma, "de um lado conhecemos o "nosso" grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecid as, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí então de repente, nos deparamos com um "outro", o grupo do "diferente" que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este "outro" também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe".
5 - Relativismo cultural
É a postura, privilegiada pela Antropologia contemporânea, de buscar compreender a lógica da vida do outro. Ainda segundo Roberto da Matta, "antes de cogitar se aceitamos ou nãoesta outra forma de ver o mundo, a antropologia nos convida a compreendê-la, e verificar que ao seu jeito outra vida é vivida, segundo outros modelos de pensamento e de costumes (...) pois cada sociedade humana conhecida é um espelho onde nossa própria existência se reflete".
Aplicação Prática Teórica
Questão discursiva - Leia o texto abaixo e responda as questões propostas:
Em 1883, Franz Boas foi estudar os esquimós e passou um tempo convivendo com eles. O autor fez as seguintes observações no seu diário:
"Frequentemente me pergunto que vantagens nossa "boa sociedade" possui sobre aquela dos "selvagens" e descubro, quanto mais vejo de seus costumes, que não temos o direito de olhá -los de cima para baixo. Onde, entre nosso povo, poder-se-ia encontrar hospitalidade tão verdadeira quanto aqui ...
Nós, "pessoas altamente educadas", somos muito piores relativamente falando ... Creio que, essa viagem tem para mim uma influência valiosa, ela reside no fortalecimento do ponto de vista da relatividade de toda formação (...)" (Trecho extraído do livro Antropologia cultural/Franz Boas. Celso Castro (org). Rio de Janeiro:Jorge Zahar Editor, 2004).
(i) Identifique e explique que método antropológico foi utilizado pelo autor em sua pesquisa?
(ii) Elabore uma análise sobre relativismo cultural a partir das observações feitas por Franz Boas.
Questão de múltipla escolha:
O criminoso nato seria caracterizado por uma cabeça com pronunciada assimetria craniana, fronte baixa e fugidia, orelhas em forma de asa, zigomas, lóbulos occipitais e arcadas superciliares salientes, maxilares proeminentes (prognatismo), face longa e larga, apesar do crânio pequeno, cabelos abundantes, mas barba escassa, rosto pálido". (Cesare Lombroso, psiquiatra italiano.) A descrição acima evidencia um tipo de pensamento típico do século XIX, no qual características biológicas (fenotípicas, somatológicas) determinariam comportamentos sociais. Como ficou conhecido, na Antropologia, esse tipode pensamento?
a) Determinismo social.
b) Determinismo geográfico.
c) Determinismo biográfico.
d) Determinismo biológico.
e) Determinismo cultural.
Aula 4
Tema: Diversidade cultural e globalização. A emergência do multiculturalismo.
Objetivos:
Entender a diversidade cultural como marca das sociedades humanas.
Analisar o processo de globalização e suas consequências.
Entender a importância do multiculturalismo no mundo contemporâneo.
Estrutura do Conteúdo:
Antes da aula, leia o Capítulo 2 de seu Livro didático de Ciências Sociais da página 44 até a 48.
1- Diversidade cultural e globalização
Conforme estudado no capítulo anterior, em todas as sociedades humana percebemos a existência de diversos hábitos, costumes, linguagem, estilos de vida. Essa multiplicidade de formas de ver, sentir e se inserir no mundo denomina-se diversidade cultural..
Como consequência das grandes transformações verificadas com a expansão do processo de globalização nas últimas décadas, o mundo tornou-se, cada vez mais, marcado pela diversidade cultural e a convivência de diferentes formas de agir, de padrões culturais, de estilos de vida.
Esse processo, definido por Anthony Giddens como "a intensificação de relações sociais mundiais que unem localidades distantes de tal modo que os acontecimentos locais são condicionados por eventos que acontecem a muitas milhas de distância e vice-versa", colocou em contato, principalmente através das tecnologias de mídia, povos e culturas distintas.
Contudo, devemos notar que esse processo foi liderado pelos Estados Unidos da América, que impôs seu modelo de vida como o padrão a ser seguido pelos outros países, provocando movimentos contestatórios a esse domínio, denominados movimentos antiglobalização. Esses movimentos que buscam não apenas combater o domínio econômico e cultural norte-americano, mas também propor novas formas de organização do mundo, com base na valorização das diferenças étnicas e culturais entre os povos do planeta.
2- Multiculturalismo
É no quadro acima descrito que se impõe a ideia de multiculturalismo, que preconiza a interação entre as diferentes culturas, sem hierarquização de saberes e modos de vida. Desta forma, o multiculturalismo pressupõe uma visão positiva da diversidade cultural, privilegiando o reconhecimento, valorização e incorporação de identidades múltiplas nas formulações de políticas públicas e nas práticas cotidianas.
Como apontado no capítulo 2 do livro didático (ver bibliografia básica), "a despeito dos desafios impostos pelo mundo globalizado, é preciso que reconheçamos a necessidade do convívio em uma sociedade cuja realidade é multicultural. Para tanto, devemos, mais do que respeitar, valorizar as diferenças próprias de cada indivíduo".
Neste sentido, lembramos as palavras de uma das mais notáveis antropólogas conhecidas, a americana Margaret Mead, que no prefácio de Sexo e Temperamento afirmou: "toda diferença é preciosa e precisa ser tratada com muito carinho".
Aplicação Prática Teórica
Questão discursiva - Leia o texto abaixo e responda as questões propostas:
Em plena Nova York surge um Capitão-América diferente: Seu nome é Vishavjit Singh. Ele é praticante do Siquismo, uma religião indiana e uma das características dos sikhs (os praticantes dessa religião) é o uso do turbante.
Vestido de Capitão América e usando um turbante azul na cabeça ele diz: "Quero desafiar as percepções das pessoas, elas tomam um choque quando me veem".
Singh é um engenheiro de software pela manhã e um cartunista apaixonado à noite. Em suas histórias em quadrinhos, que ele expõe em um site da internet chamado SIKHTOONS.COM, ele já havia inventado o super-herói de turbante. Seus cartoons descrevem como é a vida dos sikhs nos Estados Unidos, enfocando o patriotismo que ele sente pelo país em que nasceu (ele é americano) e o orgulho pela religião a qual pertence. Vishavjit criou o personagem do Capitão-América de turbante juntado os aspectos culturais das sociedades americana e indiana, para assim lutar contra a intolerância. Diz ele: "Eu percebi que eu tinha que desenhar algo novo e o novo filme Capitão América me deu uma ideia. Que tal um super-herói que tem uma barba e um turbante e que luta contra a intolerância?"
Confundido com sendo um muçulmano e alvo de intolerância, Vishavjit resolveu desafiar as pessoas e dar um passo além: não só desenhou como se vestiu com as roupas de seu personagem. "Quando eu coloquei a fantasia pela primeira vez, foi um dos dias mais incríveis da minha vida, foi como se um interruptor tivesse sido ligado, estranhos estavam me abraçando, policiais me pediam fotos, eu estava sendo arrastado para casamentos".
Texto traduzido e adaptado de http://www.bbc.com/news/magazine-30941638 (01/2015) e http://www.huffpostbrasil.com/entry/red-white-and-beard-documentary_n_6509368 (01/2015)
A matéria acima retrata as contradições de um fenômeno contemporâneo chamado multiculturalismo.
(I) Em que consiste esse fenômeno?
(II) Apresente, justificadamente, exemplos de ações na sociedade contemporânea em que se verifique a valorização da diversidade cultural.
Questão de múltipla escolha - Leia o artigo transcrito da Constituição da República Federal: "Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. §1° O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional." (BRASIL. Constituição [1988]. Constituição da República Federativa do Brasil. 31.ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 134.) É correto afirmar que no artigo transcrito a Constituição Federal:
a) Impõe restrições para o exercício da interculturalidade.
b) Propõe um modelo para apresentação de projetos culturais.
c) Orienta o processo de homogeneização e padronização cultural.
d) Estimula o investimento estatal que visa evitar o hibridismo cultural.
e) Reconhece a existênciada diversidade cultural e da pluralidade étnica no país.
Aula 5
Tema: Iluminismo, Revolução Francesa e Revolução Industrial. Neocolonialismo e darwinismo social.
Objetivos:
Descrever o contexto histórico da formação do Estado burguês.
Estudar a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, com vistas a perceber sua importância para a
formação do mundo moderno.
Compreender o contexto histórico do surgimento das primeiras análises sociológicas, em especial o
darwinismo social.
Estrutura do Conteúdo:
Antes da aula, leia o Capítulo 3 de seu Livro didático de Ciências Sociais da página 49 até a 75.
1 - O Ilminismo: a base filosófica da criação do Estado burguês 
Com o surgimento do Iluminismo, no século XVIII, a sociedade passa a ser cada vez mais abordada como uma problemática maior para os adeptos da "filosofia das luzes". A partir daí, estabelece-se importante discussão para a compreensão da vida em sociedade: a passagem do estado de natureza para o contrato social.
Segundo Marilena Chauí, em Convite à Filosofia (ver bibliografia), o conceito de estado de natureza tem a função de explicar a situação pré-social na qual os indivíduos existem isoladamente. Duas foram as principais concepções do estado de natureza:
A concepção de Hobbes (no século XVII), segundo a qual, em estado de natureza, os indivíduos vivem isolados e em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos ou "o homem lobo do homem".
Nesse estado, reina o medo e, principalmente, o grande medo: o da morte violenta. Para se protegerem uns dos outros, os humanos inventaram as armas e cercaram as terras que ocupavam. Essas duas atitudes são inúteis, pois sempre haverá alguém mais forte que vencerá o mais fraco e ocupará as terras cercadas. A vida não tem garantias; a posse não tem reconhecimento e, portanto, não existe; a única lei é a força do mais forte, que pode tudo quanto tenha força para conquistar e conservar.
Na concepção de Rousseau (no social como luta entre fracos e fortes, vigorando a lei da selva ou o poder da força. Para fazer cessar esse estado de vida ameaçador e ameaçado, os humanos decidem passar à sociedade civil, isto é, ao Estado Civil, criando o poder político e as leis. A passagem do estado de natureza à sociedade civil se dá por meio de um contrato social, pelo qual os indivíduos renunciam à liberdade natural e à posse natural de bens, riquezas e armas e concordam em transferir a um terceiro ? o soberano ? o poder para criar e aplicar as leis, tornando-se autoridade política. O contrato social funda a soberania.
Outro autor importante para a formação do pensamento burguês foi John Locke, pioneiro do pensamento político liberal.
Para esse autor, o Estado existe a partir do contrato social. Tem as funções que Hobbes lhe atribui, mas sua principal finalidade é garantir o direito natural da propriedade.
Dessa maneira, a burguesia se vê inteiramente legitimada perante a realeza e a nobreza e, mais do que isso, surge como superior a elas, uma vez que o burguês acredita que é proprietário graças ao seu próprio trabalho, enquanto reis e nobres são parasitas da sociedade.
O burguês não se reconhece apenas como superior social e moralmente aos nobres, mas também como superior aos pobres. De fato, se Deus fez todos os homens iguais, se a todos deu a missão de trabalhar e a todos concedeu o direito à propriedade privada, então, os pobres, isto é, os trabalhadores que não conseguem se tornar proprietários privados, são culpados por sua condição inferior. São pobres, não são proprietários e são obrigados a trabalhar para outros seja porque são perdulários, gastando o salário em vez de acumulá-lo para adquirir propriedades, seja porque são preguiçosos e não trabalham o suficiente para conseguir uma propriedade.
2 - As revoluções burguesas
Foi neste contexto que a Europa viu acontecer muitas e importantes mudanças no cenário político, econômico e social, como as revoluções Francesa e Industrial.
Essas revoluções formaram, assim, a base do Estado moderno. Por isso, o que se chama normalmente de revolução burguesa é o processo pelo qual o sistema capitalista passou a dominar a vida humana.
Burguesia é a classe social surgida no mundo feudal da Idade Média europeia. Originalmente, são os artesãos de diversos ofícios e os comerciantes que se concentram em locais que virão a serem as cidades medievais. A palavra burguês significa homem do burgo, isto é, da cidade medieval. Era, pois, uma classe citadina que se formava e que trazia um modo de produção diferente, baseado na exploração do trabalho como fonte de riqueza. É interessante observar que a palavra alemã Bürger, homem do burgo, da cidade, pode significar burguês ou cidadão. O Código Civil alemão, tão importante para os estudos jurídicos, chama-se, em alemão, Bürgergeseztbuch, livro de leis do cidadão.
A revolução burguesa é um processo europeu que se estendeu pelo mundo inteiro. Embora países como a Holanda e Portugal tenham vivenciado o capitalismo mercantil antes, Inglaterra e, depois, França mergulharam nessa sucessão de transformações s ociais que marcaram a transformação radical da vida social humana.
2.1 - A Revolução Francesa
Esse movimento revolucionário é adotado como uma referência histórica da revolução burguesa, que se processava pelo mundo ocidental.
A França do final do século XVII vivia sob o regime da Monarquia Absolutista. Em 5 de maio de 1789 o rei Luís XVI inaugura os Estados Gerais, em Versailles (símbolo do poder real). Os três estados eram as representações dos estratos que compunham a sociedade, o primeiro deles a nobreza, o segundo, o clero e o terceiro o povo. Neste último estavam incluídos a burguesia urbana, os artesãos, os camponeses, todos, enfim, que não cabiam entre os outros dois estados.
A burguesia era a classe social hegemônica no terceiro estado. O povo pobre de Paris era conhecido como os sans-culottes. Tinham este nome porque não usavam os culotes, calças até pouco abaixo dos joelhos, vestimenta característica dos pertencentes aos estratos mais abastados. Eram, antes de tudo, igualitários, mas não eram hostis à propriedade. Seu ideal era uma sociedade de pequenos produtores e de pequenos proprietários livres.
Em maio de 1789 o rei Luís XVI, pressionado pelas reivindicações da classe burguesa emergente e pelos sanscullotes, convocou a Assembleia dos Estados Gerais, o Parlamento Francês, dominado pelo monarca absoluto, para discutir a grave crise econômica que se instalara. Nessa assembleia, a burguesia e os sanscullotes decidiram romper com o Rei. Em episódio conhecido, invadiram a prisão política da Bastilha, que simbolizava o poder do Estado.
O Rei foi preso e condenado à morte, pondo fim ao Antigo Regime. A Revolução Francesa e os processos sociais ligados a ela permitiram que a humanidade olhasse a sociedade como objeto da ciência.
2.2 - Revolução Industrial e Neocolonialismo
O século XIX foi marcado pela Revolução Industrial e pelo Neocolonialismo, cujas consequências se projetaram para os séculos XX e XXI.
No plano político e econômico o termo revolução é usado para expressar um movimento de transformação que, na visão dos seus protagonistas, traz transformações significativas, positivas e benéficas para a sociedade.
De fato, as revoluções trazem grandes transformações e com a revolução industrial não poderia ter sido diferente. Tais transformações já se fizeram presentes na transição do feudalismo para o capitalismo.
Um filme que retrata bem a revolução é "Tempos Modernos", de Charles Chaplin, de 1936. Nele, Chaplin é um funcionário de uma grande fábrica na Europa, e fica tão alienado por causa do ritmo de trabalho, que acaba despedido. Depois, para não morrer de fome, rouba comida, juntamente com uma menina de rua. É preso várias vezes, até por ser confundido com um manifestante em uma greve na empresa onde trabalhava. O filme mostrou de forma humorística como os trabalhadores eram tratados. Exageros em razão da comédia, o capitalismo chegou até a proporcionar máquinas que alimentem automaticamenteo funcionário, para que ele não parasse de produzir.
O desenvolvimento industrial se fez acompanhar pelo desenvolvimento científico, que por sua vez impulsionou ainda mais a indústria em função de descobertas e invenções. Nos centros urbanos europeus respirava-se desenvolvimento e acreditava-se que a tecnologia e a máquina resolveriam todos os problemas do homem. A indústria cresceu e com esse crescimento vieram as crises de produção porque a superprodução não era acompanhada pelo consumo. A solução para a crise de consumo foi encontrada no neocolonialismo, ou imperialismo do século XIX.
Diferente do colonialismo dos séculos XV e XVI, o neocolonialismo representou nova etapa do capitalismo, do momento em que as nações europeias saíram em busca de matérias-primas para sustentar as indústrias, de mercados consumidores para os produtos europeus e de mão-de-obra barata.
Esse colonialismo se direcionou para a África e a Ásia, que foi partilhada entre as nações europeias. A América escapou desse colonialismo porque se tornara independente pouco antes. Porém, se não foi dominada politicamente pela Europa e pelos EUA, o foi economicamente, pois dependia dos banqueiros e do capital industrial europeu. Naquela época, por exemplo, grupos franceses e ingleses iniciaram a exploração da borracha na região amazônica porque era mais barato produzir aqui e exporta r para a Europa e para os EUA: afinal, aqui se encontrava a matéria-prima, a mão-de-obra barata e o favorecimento governamental.
A África e a Ásia foram o cenário onde atuou uma infinidade de cientistas e religiosos que assumiram o fardo do homem branco. Na Índia, por exemplo, qualquer membro da raça branca era tido como membro da classe dos amos e senhores, respeitado e reverenciado. Situações semelhantes fizeram o fundador da República do Quênia, na segunda metade do século XX, referir-se assim à dominação imperialista:
"Quando os brancos chegaram, nós tínhamos as terras e eles a Bíblia; depois eles nos ensinaram a rezar; quando abrimos os olhos, nós tínhamos a Bíblia e eles as terras".
Todas as tentativas de reação por parte das nações dominadas pelos impérios europeus foram enfrentadas com o uso das armas por parte das nações européias.
Nem a China ficou de fora da corrida imperialista: foi dominada economicamente e teve territórios ocupados pelos japoneses.
Foi neste cenário de expansão imperialista que surgem inéditas tentativas de explicação da realidade social. A primeira delas, como vermos a seguir, foi o chamado darwinismo social.
3 - O darwinismo social
Foi também nessa época que se desenvolveu a teoria de Charles Darwin sobre a evolução e adaptação das espécies. Darwin foi um naturalista britânico que alcançou destaque no meio acadêmico ao desenvolver a teoria da evolução da vida na Terra. Em seu livro publicado em 1859, A Origem das Espécies ele introduziu a ideia de evolução a partir de um processo aleatório de seleção natural. Este princípio se tornaria a explicação científica dominante para a diversidade das espécies no mundo natural.
Nesta obra, em consonância com o espírito da época, Darwin defendeu a noção de variação gradual dos seres vivos graças ao acúmulo de modificações pequenas, sucessivas e favoráveis, e não por modificações extraordinárias, surgidas repentinamente. Nessa obra Darwin apresentou o núcleo da sua concepção evolutiva: a seleção natural, ou a persistência do mais capaz; com o passar dos séculos, a seleção natural eliminaria as espécies antigas e produziria novas espécies.
Logo as teses de Darwin estavam sendo discutidas em todo o meio científico e o próprio liberalismo econômico adotou o pressuposto da competição. Ao defender a propriedade privada, o liberalismo postula que todo homem compete em igualdade no acesso à propriedade privada. Aquele que não a conquista, não o faz porque é vicioso ou preguiçoso. É claro que essa tese, presente em nossas mentes até hoje, interessava e interessa à manutenção do domínio da classe burguesa.
Se o liberalismo apropriou-se do conceito de competição, de Charles Darwin, não foi o único. Logo surgiu o Darwinismo Social. O filósofo inglês Herbert Spencer foi o principal representante dessa corrente nas ciências humanas. Ele especulava sobre a existência de regras evolucionistas na natureza antes de seu compatriota, o naturalista Charles Darwin, que foi o autor da teoria da evolução das espécies. É dele a expressão "sobrevivência do mais apto", muitas vezes atribuída a Darwin. Os princípios do darwinismo social foram construídos a partir da obra de Spencer.
Segundo o Darwinismo Social, as sociedades se modificam e se desenvolvem como os seres vivos. As transformações nas sociedades representam a passagem de um estágio inferior para outro superior, onde o organismo social se mostra mais evoluído, adaptado e complexo. Se na natureza a competição gera a sobrevivência do mais forte, também na sociedade favorece a sobrevivência de sociedades e indivíduos
mais fortes e evoluídos. As expressões: "luta pela existência" e "sobrevivência do mais capaz", tomadas de Darwin, apoiaram o individualismo liberal e justificaram o lugar ocupado pelos bem sucedidos nos negócios. Por outro lado, as sociedades foram divididas em raças superiores e inferiores, cabendo aos mais fortes dominar os mais fracos e, consequentemente, aos mais desenvolvidos levar o desenvolvimento aos não desenvolvidos. A civilização deveria ser levada a todos os homens. É claro que o Darwinismo Social serviu para justificar a ação imperialista das nações europeias.
Foi nesse cenário de constantes conflitos sociais, políticos, econômicos e religiosos, cenário marcado pela industrialização e pelo cientificismo, que nasceu a Sociologia.
Aplicação Prática Teórica
Questão discursiva:
"Considerei a existência de Deus e decidi que há uma boa chance de que ele exista. Se ele realmente
existir, deve estar trabalhando em um plano. Portanto, se devo servir a Deus, preciso descobrir o pl ano e
fazer o melhor possível para ajudá-lo em sua execução. Como descobrir o plano? Primeiramente,
procurar a raça que Deus escolheu para ser o instrumento divino da futura evolução.
Inquestionavelmente, é a raça branca? Devotarei o restante de minha vida ao propósito de Deus e a
ajudá-lo a tornar o mundo inglês." (Cecil Rhodes, colonizador britânico).
O texto acima evidencia uma forma de pensamento e uma visão de mundo dos europeus típica do século
XIX. Indaga-se:
(i) Como eram vistas as sociedades não europeias com as quais os europeus entraram em contato a partir do neocolonialismo no século XIX? Justifique sua resposta.
(ii) Qual a forma de pensamento embasava essa visão, e que papel esse tipo de pensamento exerceu no contexto em que foi utilizado?
Questão de múltipla escolha: (Adaptada de Unicentro 2012)
Considerando-se as grandes mudanças que ocorreram na história da humanidade, aquelas que aconteceram no século XVIII e que se estenderam no século XIX só foram superadas pelas grandes transformações do final do século XX. As mudanças provocadas pela revolução científico-tecnológica, que denominamos Revolução Industrial, marcaram profundamente a organização social, alterando -a por completo, criando novas formas de organização e causando modificações culturais duradouras, que perduram até os dias atuais. ( DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. São Paulo: Persons Prentice Hall,
2004). Sobre o surgimento da Sociologia e as mudanças ocorridas na modernidade, é correto afirmar:
a) A intensificação da economia agrária em larga escala nas metrópoles gerou o êxodo para o campo.
b) O aparecimento das fábricas e o seu desenvolvimento levaram ao crescimento das cidades rurais.
c) O aumento do trabalho humano nas fábricas ocasionou a diminuição da divisão do trabalho.
d) A agricultura familiar desse período foi o objeto de estudo que fez surgir as ciências sociais.
e) A antiga forma de ver o mundo não podia mais solucionar os novos problemas sociais.
Aula 6
Tema: O positivismo de Auguste Comte. A lei dos três estados ea classificação das ciências. A influência do positivismo no Brasil.
Objetivos:
Entender a Lei dos Três Estados, base da filosofia social de Augusto Comte.
Conceituar e problematizar a ideia de evolução social, ordem e controle social.
Compreender a importância e influência da corrente positivista na sociedade brasileira.
Estrutura do Conteúdo:
Antes da aula, leia o Capítulo 4 de seu Livro didático de Ciências Sociais da página 77 até a 87.
1- O Positivismo
Auguste Comte (1798-1857) "O Amor por princípio, a Ordem por base, o Progresso por fim".
A primeira corrente teórica sistematizada de pensamento sociológico foi o positivismo, a primeira a definir precisamente o objeto, a estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação. Além disso, o positivismo, ao definir especificidade do estudo científico da sociedade, conseguiu distinguir-se de outras ciências estabelecendo um espaço próprio à ciência da sociedade. Seu primeiro representante e principal sistematizador foi o pensador Augusto Comte.
O positivismo derivou-se do "cientificismo", isto é, da crença no poder exclusivo e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis naturais.
Essas leis seriam a base da regulamentação da vida do homem, da natureza como um todo e do próprio universo. Se o conhecimento e o método científico utilizado pelos cientistas das ciências naturais (sobretudo na Biologia e Física) era válido para explicar e interferir nos fenômenos da natureza, assim também, estes poderiam ser utilizados para explicar e interferir nos fenômenos sociais. A estes preceitos, para os sociólogos modernos, deu-se, como vimos na aula anterior, o nome de Darwinismo social.
É importante situar o desenvolvimento do pensamento positivista no contexto histórico do século XIX.
A expansão da Revolução Industrial pela Europa, obtida pelas revoluções burguesas que atingiram todos os países europeus até 1870, trouxe consigo a destruição da velha ordem feudal e a consolidação da nova sociedade capitalista.
O processo de consolidação do capitalismo colocou em evidência os mais diversos problemas da estrutura societária emergente. Vários pensadores sociais irão procurar refletir sobre as alterações na realidade social, na tentativa de compreendê-la, analisá-la e mesmo, propor soluções.
O pensador francês Augusto Comte (1798-1857) foi um desses filósofos sociais, sistematizando a primeira corrente teórica do pensamento sociológico: o positivismo. Essa corrente teórica foi a primeira a definir precisamente o objeto, a estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação. Além disso, o positivismo, ao definir a especificidade do estudo científico da sociedade, conseguiu distinguir-se de outras ciências estabelecendo um espaço próprio à ciência da sociedade. O positivismo caracterizava-se pela suposição de que o saber científico é superior ao saber filosófico (dito metafísico por Comte) e ambos são superiores ao saber religioso (chamado teológico):
O Positivismo refletiu o entusiasmo burguês pela consolidação capitalista, por meio do desenvolvimento industrial e científico. Comte devotou-se à Sociologia, uma palavra que ele elaborou para descrever a ciência da sociedade. Sua principal contribuição foi a teoria de que a humanidade passou por três estágios de evolução histórica e cultural e de desenvolvimento intelectual, a que intitulou "lei dos três estados": o teológico, o metafísico e o positivo.
Para ele, as ideias conduzem e transformam o mundo e é a evolução da inteligência humana que comanda o desenrolar da história. O espírito humano, em seu esforço para explicar o universo, passa sucessivamente por três estados:
i) teológico ou religioso: explica os fatos por meio de vontades análogas à nossa vontade (a tempestade.
p.e., será explicada por um capricho do Deus dos ventos, Êolo): Este estado evolui ao fetichismo, politeísmo e ao monoteísmo.
ii) metafísico: substitui os deuses por princípios abstratos como "o horror do vazio" por longo tempo atribuído à natureza. A tempestade, p.e., será explicada pela virtude dinâmica do ar. São igualmente metafísicas as tentativas de explicação dos fatos biológicos que partem do "princípio vital", assim como as explicações das condutas humanas que partem da noção de "alma". O homem projeta espontaneamente sua própria psicologia sobre a natureza.
iii) positivo: é aquele em que o espírito renuncia a procurar os fins últimos e procura responder aos últimos "porquês". Contentar-no-emos em descrever como os fatos se passam, em descobrir as leis (exprimíveis em linguagem matemática) segundo as quais os fenômenos se encadeiam uns aos outros.
Tal concepção influencia diretamente na técnica: o conhecimento das leis positivas da natureza nos permite, com efeito, quando um fenômeno é dado, prever o fenômeno que se seguirá e, eventualmente agindo sobre o primeiro, transformar o segundo - Ciência donde previsão. previsão donde ação? .
(Primeira Lição do Curso de Filosofia Positiva, A. Comte).
Comte procurou completar o estágio positivo ao criar a mais complexa de todas, a sociologia como ciência.
Os traços mais marcantes do Positivismo são certamente a excessiva valorização das ciências e dos métodos científicos, a exaltação do homem e suas capacidades e o otimismo em relação ao desenvolvimento e progresso da humanidade.
È importante ressaltar o estudo das mudanças sociais em sua obra. Para ele, era necessário resolver a crise social que se apresentava não apenas na França, mas também em toda Europa. Ele preconizava uma nova ordem social, combinando ordem e progresso.
Para tal, valendo-se de raciocínio análogo à Física, ele identifica dois movimentos na sociedade: a estática social e a dinâmica social.
Comte distingue a sociologia estática da sociologia dinâmica. A primeira estuda as condições gerais de toda a vida social, considerada em si mesma, em qualquer tempo e lugar. Três instituições sempre são necessárias para fazer com que o altruísmo predomine sobre o egoísmo (condição de vida social). A propriedade (que permite ao homem produzir mais do que para as suas necessidades egoístas imediatas, isto é, fazer provisões, acumular um capital que será útil a todos), a família (educadora insubstituível para o sentimento de solidariedade e respeito às tradições), a linguagem (que permite a comunicação entre os indivíduos e, sob a forma de escrita, a constituição de um capital intelectual, exatamente como a propriedade cria um capital material).
A sociologia dinâmica estuda as condições da evolução da sociedade: do estado teológico ao estado positivo na ordem intelectual, do estado militar ao industrial na ordem prática - do estado de egoísmo ao de altruísmo na ordem afetiva. A ciência que prepara a união de todos os espíritos concluirá a obra de unidade (que a Igreja católica havia parcialmente realizado na Idade Média) e tornará o altruísmo universal, "planetário".
Vê-se que é sobre a sociologia que vem articular a mudança de perspectiva, a mutação que faz do filósofo um profeta. A sociologia, cuja aparição dependeu de todas as outras ciências tornadas positivas, transformar-se-á na política que guiará as outras ciências, "regenerando, assim, por sua vez, todos os elementos que concorreram para sua própria formação". Assim é que, em nome da "humanidade", a sociologia regerá todas as ciências.
Para Comte, havia a necessidade de separar teoria e prática, constituindo uma ciência abstrata das relações coletivas: a física social. Através dela, seria possível unir espiritualmente as classes sociais, sendo o poder temporal uma extensão desse poder espiritual (racional). Considerava ser essa ciência a instância capazde conduzir à renovação dos costumes, da moral, das ideias, reorganizando, assim, a sociedade. Na nova sociedade, de regime distinto do teológio-militar, o povo seria orientado e associado à indústria. Os chefes seriam: no plano espiritual, os cientistas; no plano temporal, os industriais.
Comte entendia que a desordem e a anarquia eram devidas à vigênciade dogmas teológicos e metafísicos na educação e na moral. O empirismo deveria ser abolido do campo social e político, através da elaboração de doutrinas gerais, baseadas metodologicamente nas ciências naturais. A ciência social deveria, então, "conhecer para agir; compreender para organizar", conduzindo a sociedade para uma nova organização. Assim, afirmava ele:
"Estou convencido de que a sociedade cairá em dissolução se daqui a duas ou três gerações não se conseguir formar um código de opiniões políticas e morais admitido sem contestação por todas a classes;
e, em segundo lugar, estou também firmemente persuadido de que se não conseguir formar uma doutrina que preencha todas as condições necessárias, tratando a política como ciência física, não se alcançará por outro meio aquele objetivo".
É importante considerar que o pensamento Comtiano reflete: um imaginário social que se baseava principalmente na:
LAICIDADE - Explicação da origem, do desenvolvimento e da finalidade da sociedade deixa de ser compreendido como obra divina e sim como obra humana;
CIENTIFICISMO - Crença no poder exclusivo e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis naturais (sacralização da ciência);
ORGANICISMO - Sociedade concebida como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionam harmoniosamente, segundo um modelo físico ou mecânico.
2- Influência do positivismo no Brasil
Essa corrente filosófica foi muito influente no pensamento da época. Prova disso, com já vimos, é o lema da bandeira brasileira -"ordem e progresso" -, um dos principais preceitos do Positivismo, que afirma que, para que haja progresso, é preciso que a sociedade esteja organizada.
Intelectuais renomados como Benjamim Constant incentivaram a leitura e o debate dos textos de Augusto Comte em instituições como o Colégio Militar e o Colégio Pedro II, e tais debates propiciaram a base para programas de estudo de escolas oficiais.
Além disso, o positivismo foi inspiração para movimentos políticos importantes, como:
1889- Proclamação da República - influência das ideias positivistas. Lema comteano presente na Bandeira Nacional: A ordem para aperfeiçoar e levar ao progresso.
1930 - Vargas toma posse liderando um golpe das forças armadas; Pai Patrão. Controle sobre o operariado;
Golpe Militar de 1964 - Goulart é deposto por uma revolta das Forças Armadas.
Aplicação Prática Teórica
Questão discursiva: O conhecimento científico opõe-se ao senso comum e seu ideal está baseado na concepção segundo a qual a ciência é uma representação da realidade tal como ela é em si mesma. Acredita-se, portanto, em uma objetividade, isto é, um conhecimento que procura as estruturas universais e necessárias das coisas investigadas. Nesse sentido, a corrente positivista comteana buscou relacionar as ciências naturais com a Sociologia emergente do século XIX, com o propósito de legitimar definitivamente a Sociologia como ciência. Tendo como norte esta perspectiva:
(I) Explique como Comte concebeu a ciência da sociedade.
(II) De acordo com a Lei dos Três Estados aponte as fases pelas quais podem passar as sociedades humanas, descrevendo suas características principais.
Questão de múltipla escolha: De acordo com Auguste Comte existem dois movimentos sociais responsáveis pela evolução da sociedade. Um deles é responsável pela conservação e preservação da organização social e o outro pelas transformações e mudança da estrutura social. Esses dois movimentos correspondem, respectivamente à:
a) Dinâmica social e igualdade social.
b) Ordem social e estática social.
c) Estática social e dinâmica social.
d) Dinâmica social e revolução social.
e) Dinâmica social e estática social
Aula 7
Tema: A sociologia de Émile Durkheim (I).
Objetivos:
Estudar a sociologia científica de Èmile Durkheim.
Identificar os fatos sociais e suas características.
Problematizar as ideias de normalidade e patologia.
Estrutura do Conteúdo:
Antes da aula, leia o Capítulo 4 de seu Livro didático de Ciências Sociais da página 88 até a 96.
1 - A sociologia cientifica de Émile Durkheim
Partindo da afirmação de que o fato social é o objeto da sociologia, desenvolveu diversos conceitos que mostram a influência do social sobre o indivíduo. Através da célebre frase "a sociedade é nosso cárcere, se dela nós não nos sentimos prisioneiros é porque a ela nos conformamos". Evidencia-se toda sua vocação coletivista.
Para Durkheim, é preciso delinear com clareza os fatos que podem e devem ser objeto de estudo da sociologia. Eles não se confundem com fenômenos orgânicos, pois consistem em representações e ações coletivas; nem com os fenômenos psíquicos que tem por substrato o indivíduo.
2 - O processo de socialização
O crescimento de um indivíduo é acompanhado de outro processo simultâneo, a socialização, sem a qual ele não se integraria à sociedade. Por socialização se entende "os processos pelos quais os seres humanos são induzidos a adotar os padrões de comportamento, normas, regras e valores do seu mundo social são denominados socialização. Começam na infância e prosseguem ao longo da vida. A socialização é um processo de aprendizagem que se apoia, em parte, no ensino explícito e, também em parte, na aprendizagem latente" ou seja, na absorção inadvertida de formas consideradas evidentes de relacionamento com os outros. Embora estejamos todos expostos a influências socializantes, os indivíduos variam consideravelmente em sua abertura deliberada ou involuntária a elas, desde a mudança camaleônica em resposta a toda e qualquer situação nova até a completa inflexibilidade (Marie Jahod, in Outhwaite, William & Bottomore, Tom (org), 199. Dicionário do pensamento social).
Durkheim afirmará que "...a educação tem justamente por objeto formar o ser social... A pressão de todos os instantes que sofre a criança é a própria pressão do meio social tendendo moldá-la à sua imagem, pressão de que tanto os pais quanto os mestres não são senão representantes e intermediários." Émile Durkheim em "As regras do método sociológico".
Mais uma vez esta frase pode sugerir a existência de uma entidade sociológica superior quando diz que os responsáveis pelos processos de socialização, os pais e mestres, são meros intermediários. Mas Durkheim está querendo dizer que eles também não inventaram as instituições sociais, que eles também foram formados sob a sua influência e que agora estão repassando este conhecimento, este conteúdo social.
3 - Que é Fato Social? Qual a importância de se definir um fato social?
Em primeiro lugar Durkheim procura demonstrar que existe toda uma ordem de fenômenos que devem ser explicado através do que ele denomina "fato social". É porque estes tais "fatos sociais" existem que a sociologia existe. Do contrário poderíamos explicar a ação humana e a ordem social através de outras disciplinas.
O que seriam, então, estes "fatos sociais"?
"É fato social toda maneira de agir, fixa ou não , suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter."
A primeira observação importante é que a sociologia deve explicar apenas os fatos sociais e não todo e qualquer fenômeno que tenha "algum interesse social". Assim Durkheim enumerará fatos de importância social mas que não fazem parte da província explicativa sociológica, como comer, dormir e beber, enquanto atos fisiológicos, isto é, a necessidade de comer, beber e dormir para manter-se vivo.
A educação é um componente primordial para entendermos os fatos sociais. Pois é principalmente através da educação que os fatos sociais, que são externos e coercitivos, se impõem a nós.
Nas palavras de Durkheim, "quando nascemos nos deparamos com uma infinidade de instituições que nós não criamos", por exemplo, "os sistemas de sinais de que sirvo para exprimir meus pensamentos, o sistema de moedas que emprego para pagar as dívidas, os instrumentosde crédito..., as práticas seguidas na profissão. Estamos, pois, diante de maneiras de agir, de pensar e de sentir que apresentam a propriedade marcante de existir fora das consciências individuais." (As regras do método sociológico).
4 - Regras relativas à distinção entre o normal e o patológico
Para Durkheim a sociedade, como todo organismo vivo, apresenta estados normais e patológicos (saudáveis e doentes). Émile Durkheim desenvolveu a ideia do caráter normal e patológico dos fatos sociais.
Como ele define o que é fenômeno normal?
Os fenômenos sociológicos são definidos como normais pela:
Sua generalidade (comum aos membros de uma sociedade) na "espécie" social a que pertencem ("são normais suas formas que se repetem em todos os casos observados.");
Sua correspondência às condições de vida social (pois existem fenômenos que persistem em toda a extensão da espécie, embora não correspondam mais as exigências da situação).
Quando se encontra generalizado pela sociedade; é unânime, é consenso social, é vontade coletiva.
Quando desempenha alguma função importante para a adaptação ou evolução da sociedade, i sto é, é útil à saúde da sociedade.
Assim, é normal o fato que não extrapola os limites dos acontecimentos mais gerais de determinada sociedade que refletem as condutas mais aceitas pela maior parte da população.
Diante disso, afirma que uma instituição, uma prática costumeira, uma conduta, uma regra moral, serão considerados normais ou patológicas conforme se aproximam ou se afastem, respectivamente, do tipo "médio" da sociedade.
Desta forma, a distinção entre normal e patológico passa pela fuga do mediano. Desta forma, o que é normal varia de sociedade para sociedade.
Como ele define o que é fenômeno patológico?
Os fenômenos considerados patológicos variam na proporção inversa daqueles considerados normais. 
Assim patológicos são aqueles fenômenos que se encontram fora dos limites permitidos pela ordem social e moral vigente. Eles são transitórios e excepcionais assim como as doenças.
O crime como fato social normal 
Frequentemente consideramos o crime como um fenômeno sociológico patológico da sociedade. Para Durkheim ele deve ser avaliado como um fato social normal nas espécies sociais porque:
É encontrado em todas as sociedades de todos os tipos (ou seja, em qualquer sociedade sempre há uma forma de criminalidade) e em todos os tempos.
Pode ser entendido como necessário (útil) para uma sociedade, pois representa um fato social que integra as pessoas em torno de uma conduta valorativa, que pune o comportado considerado nocivo.
É importante para a evolução e adaptação das instituições sociais cujo papel é moldar e controlar padrões perduráveis de comportamento.
Aplicação Prática Teórica
Questão discursiva: Émile Durkheim procurou definir o objeto de sua sociologia. Em seguida procurou estabelecer certas distinções entre fenômenos normais e fenômenos tidos como patológicos. Nesse sentido, leia atentamente o texto abaixo e responda as questões propostas. A corrupção nossa de cada dia (El País/Brasil, 04/12/2013)
No Brasil, basta um escândalo estampar as manchetes dos jornais para que os com entaristas de plantão vociferem palavras de ordem na internet em que exigem, até, a pena de morte para os corruptores. Mas esses mesmos gritos raivosos aceitam, pacificamente, os pequenos crimes que eles próprios e muitos conhecidos praticam no dia a dia, sem nem mesmo perceber que o "jeitinho" do cotidiano também é uma forma de corrupção.
Na última semana, um cartaz colado em um muro de uma grande avenida de São Paulo perguntava aos passantes: "Habilitação suspensa"?. O anúncio, que desrespeitava a lei Cidade Limpa, legislação municipal que proíbe a colocação de cartazes em locais públicos, trazia um número de telefone e oferecia um serviço: dar um "jeitinho" nos pontos obtidos na carteira de motoristas que tiveram suas licenças para dirigir retiradas por causa do excesso de multas recebidas no trânsito. O trabalho poderia aliviar a barra de pessoas que dirigiram acima do limite de velocidade, andaram "só por alguns minutos" na faixa exclusiva de ônibus ou que beberam além dos limites permitidos antes de as sumir o volante. Tudo justificado pelos receptores da multa com argumentos como a pressa e a falta de transporte público barato e de qualidade durante as madrugadas. Muitas dessas pessoas, inclusive, podem até ter comprado a carteira de motorista, pagando uma propina para que o fiscal que realiza a prova prática ajudasse na tarefa.
O "jeitinho" brasileiro se estende para além do trânsito. Em pleno centro de São Paulo, a maior cidade do país, é possível comprar diplomas falsos que permitem a participação em concursos públicos e, mais comum ainda, atestados médicos, para justificar ausências mais prolongadas no trabalho. Também é possível, sem nem mesmo sair de casa, "roubar" o sinal da TV à cabo do vizinho, sem que ele saiba, ou comprar um aparelho decodificador de sinal pela própria internet e usá-lo para sempre sem ter que pagar mensalidade às operadoras, que, afinal, "cobram muito caro". A prática é tão institucionalizada que tem até nome: "o gato net".
Mas a corrupção diária pode ser ainda mais grave. A previdência social, uma das áreas mais afetadas pelo "jeitinho", descobriu, apenas em 2013, 56 fraudes que causaram um prejuízo de 82 milhões de reais aos cofres públicos, afirma o Ministério da Previdência Social. O dinheiro estava sendo destinado para pessoas que passaram a receber benefícios depois de apresentarem documentos falsos, como atestados médicos ou comprovantes de união estável. Há ainda casos que não são facilmente descobertos porque, tecnicamente, são difíceis de serem configurados como crime. Como o de mulheres, casadas aos olhos de vizinhos e amigos, mas que não oficializaram suas relações para não perderem a pensão vitalícia a que têm direito depois do falecimento do pai, funcionário público. Ao casarem -se oficialmente, o benefício é cortado. Há também o caso das "viúvas negras": aquelas que, de comum acordo com os futuros "maridos", casam-se com homens muito mais velhos, sem filhos, apenas para conseguir receber uma
pensão quando esses homens morrerem.
I. Qual seria para Durkheim o objeto de estudo evidenciado no texto? Justifique dentro da postura metodológica proposta pelo autor.
II. O fato tratado no texto é normal ou patológico? Justifique.
Questão de múltipla escolha: (UEL/2009) Um jovem que havia ingressado recentemente na universidade foi convidado para uma festa de recepção de calouros. No convite distribuído pelos veteranos não havia informação sobre o traje apropriado para a festa. O calouro, imaginando que a festa seria formal, compareceu vestido com traje social. Ao entrar na festa, em que todos estavam trajando roupas esportivas, causou estranheza, provocando risos, cochichos com comentários maldosos, olhares de espanto e de admiração. O calouro não estava vestido de acordo com o grupo e sentiu as represálias sobre o seu comportamento. As regras que regem o comportamento e as maneiras de se conduzir em sociedade podem ser denominadas, segundo Émile Durkheim (1858-1917), como fato social.
Considere as afirmativas abaixo sobre as características do fato social para Émile Durkheim.
I. O fato social é todo fenômeno que ocorre ocasionalmente na sociedade.
II. O fato social caracteriza-se por exercer um poder de coerção sobre as consciências individuais.
III. O fato social é exterior ao indivíduo e apresenta-se generalizado na coletividade.
IV. O fato social expressa o predomínio do ser individual sobre o ser social.
Assinale a alternativa correta.
a) Apenas as afirmativas I e II são corretas.
b) Apenas as afirmativas I e IV são corretas.
c) Apenas as afirmativas II e III são corretas.
d) Apenas as afirmativas I, III e IV são corretas.
e) Apenas as afirmativas I, II e IV são corretas.

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