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1 UNIDADE 01 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica tem por objetivo ensinar ao aluno a importância de estudar e organizar-se para o trabalho científico, proporcionando-lhe conhecimentos sobre as técnicas de pesquisa científica e de elaboração de trabalhos acadêmicos. O estudo será dividido em duas etapas. Na primeira, que será no primeiro bimestre, serão abordados temas mais teóricos, como os tipos de conhecimento, as modalidades de trabalho científico e acadêmico, os métodos e o planejamento de pesquisa e o respeito das normas de direitos autorais. Já na segunda etapa, cujo conteúdo é mais prático, serão trabalhadas as normas da ABNT para a elaboração de trabalhos acadêmicos. Espero que as aulas possam fornecer todos os subsídios necessários para auxiliá-los na elaboração dos trabalhos exigidos ao longo do Curso em que estão matriculados. Vamos começar? 1 CONHECIMENTO Conhecimento é a ação ou efeito de conhecer, ou seja, de conseguir entender por meio da inteligência, da razão ou da experiência1. O homem, ao longo de sua existência, usando sua capacidade de reter experiências e diferenciando-se dos demais seres, sempre tentou compreender o mundo que o cerca, entender-se, contextualizar-se, enfim, construir e interpretar sua mundividência. (NASCIMENTO, 2002, p. 1) Durante a nossa existência, uma grande quantidade de conhecimento nos será agregada, pois o simples ato de viver nos coloca diariamente diante de fatos e acontecimentos que farão parte da nossa “bagagem” enquanto seres humanos. 1 Dicionário on line de Português. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/conhecimento>. Acesso em: 05/08/2014. 2 UNIDADE 01 As mais singelas experiências do dia a dia são capazes de produzir conhecimento. Uma criança que coloca o dedo na tomada e leva um choque, dificilmente vai repetir tal ação, porque o resultado agora lhe é conhecido e indesejado. Para METRING (2009, p. 17) conhecimento “é o ato de incorporar conceitos, novos ou originais, sobre fatos ou fenômenos, ou seja, é fruto de experiências acumuladas em nossas vidas, incorporadas pelo uso dos sentidos, da razão e da intuição”. Ao longo de nossa história, vários pensadores tentaram explicar a origem e a fonte do conhecimento. De acordo com METRING (2009, p. 17-18): Os empiristas (gr. empeiria = experiência) defenderam que a fonte do conhecimento era a experiência, através da qual era possível o contato e a apreensão dos acontecimentos, e que esta apreensão ocorria via órgãos dos sentidos. [...] Os racionalistas (lat. ratio = razão) acreditavam ser a razão fonte segura do conhecimento, já que seria fonte primaz, mola fundamental e propulsora do pensamento puro, livre de erros e obstáculos. [...] Os intuicionistas apresentam uma terceira alternativa para a compreensão do fenômeno conhecimento. Defendem que este talvez não precise ser produzido, mas acessado, sem o uso dos sentidos ou mesmo da razão, mas através do uso de uma faculdade irracional chamada de intuição. (Grifos no original) O quadro abaixo bem sintetiza essas três vertentes ideológicas: Empiristas: o conhecimento é adquirido a partir da experiência. Racionalistas: o conhecimento é adquirido a partir da razão. Intuicionistas: o conhecimento é adquirido a partir da intuição. 1.1 CONHECIMENTO EMPÍRICO O conhecimento empírico, defendido pelos empiristas, era também conhecido como conhecimento popular, vulgar ou comum, e pautava-se exclusivamente na experiência da vida cotidiana. Neste modelo, o conhecimento era obtido ao acaso, após a reiteração de determinadas atitudes ou experiências. É o 3 UNIDADE 01 conhecimento empírico que leva a criança a não colocar o dedo na tomada pela segunda vez. Também era por meio do conhecimento empírico que nossos antepassados que viviam nas zonas rurais curavam doenças e feridas dos membros da família utilizando plantas e receitas descobertas por seus ancestrais e repassados de geração em geração. O Conhecimento empírico não é precedido de qualquer método, estudo ou pesquisa organizada. Assim, “não possuindo um método que norteie a investigação, é um conhecimento assistemático (não sistematizado) e não planejado, e, embora possa ser verificável, é da ordem do falível e inexato” (METRING, 2009, p. 19). Pode-se dizer, então, que conhecimento empírico “é o conhecimento que se tem sem saber seus fundamentos, suas razões” (NASCIMENTO, 2002, p. 2). RUIZ observa que, de modo geral, a porção maior dos conhecimentos de qualquer ser humano pertence à classe do conhecimento vulgar (2006, p. 96). Ora, ninguém precisa se aprofundar nos estudos da psicologia para integrar-se na família, no trabalho, na sociedade; também não é necessário conhecermos o Código Penal para sabermos que não devemos matar ou roubar, ou formar-se em teologia para aderir a uma ou a outra religião. Outro exemplo interessante é colocado por MARCONI e LAKATOS (2000, p. 16): Desde a antiguidade, até nossos dias, um camponês, mesmo iletrado e/ou desprovido de outros conhecimentos, sabe o momento certo da semeadura, a época da colheita, a necessidade da utilização de adubos, as providências a serem tomadas para a defesa das plantações contra ervas daninhas e pragas e o tipo de solo adequado para as diferentes culturas. Tem também conhecimento de que o cultivo do mesmo tipo, todos os anos, no mesmo local, exaure o solo. Assim, o conhecimento empírico é: a) valorativo, pois se fundamenta numa seleção operada com base em estados de ânimo e emoções; b) reflexivo, embora esteja limitado pela familiaridade com o objeto, não podendo ser reduzido a uma formulação geral; c) assistemático, vez que baseado na organização particular das experiências próprias do sujeito cognoscente; d) verificável, vez que está limitado ao âmbito da vida diária e diz respeito ao que se pode perceber no dia a dia; e) falível e inexato, pois não permite a formulação de hipóteses sobre a existência de 4 UNIDADE 01 fenômenos situados além das percepções objetivas (MARCONI e LAKATOS, 2000, p. 18). 1.2 CONHECIMENTO FILOSÓFICO O conhecimento filosófico é “fruto da reflexão humana sobre os fenômenos, produzindo conceitos, na maioria das vezes, de ordem subjetiva – já que são valorativos –, para dar sentido ou explicação aos fenômenos observados” (METRING, 2009, p. 20). Trata- se, portanto, de conhecimento de ordem racional. Mais ligado à construção de ideias e conceitos, o conhecimento filosófico “busca as verdades do mundo por meio da indagação e do debate; do filosofar”2. Um dos grandes representantes do conhecimento filosófico foi Sócrates. Seu método de transmissão de conhecimento e sabedoria era o diálogo. Sócrates usava a palavra para levar o conhecimento sobre as coisas do mundo e do ser humano3. METRING (2009, p. 20) esclarece que: Esse conhecimento filosófico, apesar de ser riquíssimo, não é, no entanto, verificável, portanto não considerado de ordem científica, embora permita o desenvolvimento funcional da mente para além do campo meramente adaptativo do organismo ao meio, como era característica do conhecimento empírico. Por exemplo: Penso, logo existo. Trata-se de uma bela reflexão, mas não tem caráter científico por falta de comprovação, além de permitir uma antítese rudimentar, mas, interessante: repolho não pensa, logo, repolho não existe? É inegável que o debate e o diálogo, ferramentas típicas da filosofia, são importantes fontes de conhecimento, mas desprovidas de valor científico, visto que carentes de comprovação. Assim, o conhecimento filosófico é: a) valorativo, na medida em que seu ponto de partida consisteem hipóteses, que não poderão ser experimentadas e 2 Wikipedia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Conhecimento>. Acesso em: 05/08/2014. 3 Em razão de suas ideias inovadoras, o que cativou muitos jovens da sociedade grega, Sócrates foi condenado à morte em 399 a.C. 5 UNIDADE 01 comprovadas; b) racional, pois consiste num conjunto de enunciados logicamente correlacionados; c) sistemático, pois suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade; d) não verificável, já que os enunciados das hipóteses filosóficas não podem ser confirmados nem refutados; d) infalível e exato, pois seus postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação) (MARCONI e LAKATOS, 2000, p. 19). 1.3 CONHECIMENTO TEOLÓGICO O conhecimento teológico é também conhecido como conhecimento religioso e está intimamente ligado à fé e à crença em algo. Nesse tipo de conhecimento tem-se a revelação divina como fonte, a qual basta para explicar fatos e acontecimentos aparentemente inexplicáveis (METRING, 2009, p. 20). Por exemplo: a crença de que a cura de alguém foi fruto de um milagre permitido por Deus, ou por uma entidade santa. O fato é que houve a cura depois que o doente rezou, não se sabe se por conta da fé, do acaso, das circunstâncias, do chá, do remédio etc., por falta de provas. (METRING, 2009, p. 21. O conhecimento teológico tem origem na Idade Média, período de forte influência da Igreja na sociedade. Assim como o conhecimento filosófico, o conhecimento teológico não pode ser confirmado ou negado por não ser verificável. Por exemplo, ninguém sabe o que acontece com o homem após a morte. Enquanto algumas religiões acreditam na reencarnação, outras acreditam no juízo final, conforme profetizado no livro de Apocalipse da Bíblia Sagrada. Assim, o conhecimento teológico não possui cunho científico. Em verdade, não raro o conhecimento teológico contrapõe-se ao conhecimento científico. Um exemplo disso é a própria origem do ser humano. Enquanto a religião prega que o homem foi criado por Deus, à sua imagem e semelhança, a Ciência, pautada na teoria de Charles Darwin, explica que o homem é fruto de uma evolução a partir de um ancestral comum (macaco), por meio de seleção natural. 6 UNIDADE 01 Assim, o conhecimento teológico é: a) valorativo, na medida em que se baseia em proposições sagradas; b) inspiracional, pois tais proposições são reveladas pelo sobrenatural; c) sistemático, pois explica o mundo de forma sistematizada (origem, significado, finalidade e destino); d) não verificável, já que baseado apenas na fé; e) infalível e exato, pois seus postulados são revelados pelo divino e são indiscutíveis (MARCONI e LAKATOS, 2000, p. 19-20). 1.4 CONHECIMENTO CIENTÍFICO Esse tipo de conhecimento é orientado pela razão sistematizada metodologicamente, ou seja, precedido de um estudo aprofundado e/ou uma experimentação. De acordo com METRING (2009, p. 21-22): O conhecimento científico é racional, intelectual, sistemático, exato e verificável a respeito da realidade, exigindo demonstração e comprovação. Exige demonstração e comprovação, pressupõe aprendizagem, e deriva de procedimentos de verificação baseados em metodologia científica. RUIZ explica que “a ciência é fruto da tendência humana para procurar explicações válidas, para questionar e exigir respostas e justificações positivas e convincentes” (2006, p. 96). MARCONI e LAKATOS entendem por ciência “uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar” (2007, p. 80). Enquanto o conhecimento empírico está atrelado ao senso comum, o conhecimento teológico à crença e o conhecimento filosófico ao debate e ao diálogo, o conhecimento científico prende-se a fatos, e “tem por objetivo encontrar causas, motivos, processos e resultados perfeitamente explicáveis e aplicáveis” (METRING, 2009, p. 22). Antes de lançar no mercado um medicamento novo para uma determinada moléstia, os laboratórios realizam inúmeros testes e experimentos, de modo a garantir-lhe a eficácia que se espera, bem como permitindo-lhes fornecer todas as 7 UNIDADE 01 informações importantes a respeito do seu uso, tais como a composição, indicações e contraindicações, reações adversas, dentre outras. Também possui cunho científico o trabalho monográfico desenvolvido pelo aluno de graduação, nos qual ele aprofunda seus estudos sobre um determinado tema, respeitando as regras de pesquisa e de formatação. Conclui-se que o conhecimento científico é: a) real, porque lida com ocorrências ou fatos; b) contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida por meio da experimentação e não apenas pela razão; c) sistemático, já que se trata de um saber ordenado logicamente, formando um sistema de ideias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos; d) verificável, já que as informações podem ser comprovadas; d) falível, porque não é definitivo, absoluto ou final, e por esta razão é aproximadamente exato (MARCONI e LAKATOS, 2000, p. 20). O quadro abaixo reproduz, de forma sintetizada, as principais diferenças entre os quatro tipos de conhecimento: Conhecimento Popular Conhecimento Filosófico Conhecimento Teológico Conhecimento Científico Valorativo Valorativo Valorativo Real (factual) Reflexivo Racional Inspiracional Contingente Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático Verificável Não verificável Não verificável Verificável Falível Infalível Infalível Falível Inexato Exato Exato Aproximadamente exato Ao completar esta unidade você deverá ser capaz de descrever as principais características de cada um dos tipos de conhecimento. Nesta primeira unidade analisamos a formação e os tipos de conhecimento: empírico, filosófico, teológico e científico, traçando algumas distinções importantes entre eles. 8 UNIDADE 01 REFERÊNCIAS Dicionário on line de Português. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/conhecimento>. Acesso em: 05/08/2014. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. ______. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. 4. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. METRING, Roberte Araújo. Pesquisas científicas: planejamento para iniciantes. Curitiba: Juruá, 2009. NASCIMENTO, Dinalva Melo do. Metodologia do trabalho científico: teoria e prática. Rio de Janeiro: Forense, 2002. RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006. Wikipedia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Conhecimento>. Acesso em: 05/08/2014.
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