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Boa noite, Vamos passar a abordar, a partir de hoje, um novo assunto, aquele relacionado com o funcionamento do mercado. O mercado tem a ver com a circulação dos bens produzidos pela sociedade. Tomando como ponto de partida a ideia de que os agentes econômicos produzem bens para sua satisfação, mas que nunca conseguem dispor de todos os bens que necessitam para suprir suas necessidades, eles vão obter os bens que não têm com outros agentes, por meio de trocas. Dessa situação de trocas seguem os conceitos econômicos essenciais de mercado e preços, oferta, demanda e equilíbrio de mercado. Em aulas subseqüentes, examinaremos outros aspectos conexos, como as estruturas de mercado. Sempre lembrando que ainda estamos no nível da análise microeconômica. AS TROCAS, MERCADORIAS E MERCADO Numa sociedade em que os agentes econômicos não produzem tudo o que necessitam, eles devem trocar seus produtos entre si: trocar parte daquilo que se tem pelo que não se tem. A troca é feita entre excedentes (parte da produção não consumida pelo próprio produtor). Ou seja, o agente econômico produz bens numa quantidade além da que vai consumir. Aquilo que não consome serve para trocar por bens que ele necessita mas não tem. Os bens trocados são chamados de mercadorias. Mercado é o lugar (não necessariamente físico e delimitado) no qual se encontram muitos donos de bens que vão trocá-los entre si. Esses bens trocados no mercado chamam-se Mercadorias. TROCAS E PREÇOS Note-se que nem todos os bens são destinados à troca. Por exemplo, se estou com fome e colho frutas no quintal de minha casa, essas frutas não são mercadorias. Seriam mercadorias se eu as vendesse ou trocasse por qualquer outra coisa com algum vizinho. Por exemplo: troco frutas de meu quintal com meu vizinho, que é alfaiate e me dará uma camisa: Frutas de meu quintal ó Camisa Nesse exemplo, temos uma troca direta entre mercadorias, isto é, sem a intermediação do dinheiro (moeda). Não se trata portanto de operação de compra e venda de bens. A troca direta entre mercadorias é chamada de ESCAMBO. A troca direta entre mercadorias restringe a expansão das trocas. Para resolver o problema, cria-se uma mercadoria que pode ser trocada por todas as outras: a Moeda (vamos tratar desse assunto em aula posterior). Em qualquer caso, a troca procura manter uma relação de equivalência entre os bens trocados, pois, do contrário, uma das partes se sentiria prejudicada e provavelmente não concordaria com o negócio. Ou seja, se quero obter algum bem de outro agente econômico, preciso dar algo em troca que ele necessite e aceite. Aqui, o problema é que cada bem trocado é único, tem uma utilidade que não pode ser substituída pela utilidade de outro bem. Se preciso de uma camisa, não adianta eu dispor de frutas. As frutas não satisfazem a necessidade da vestimenta, não cobrem meu corpo. O mesmo se dá em relação à camisa. Meu vizinho pode ter quantas camisas quiser, mas elas não matarão sua fome como as minhas frutas. Isto significa que a utilidade dos bens que vão ser trocados (seu valor de uso) não pode ser comparada, pois cada um satisfaz uma necessidade diferente. Portanto, os bens não podem ser trocados por seu valor de uso, por suas qualidades individuais, por suas capacidades de satisfazer necessidades. Quando bens diferentes vão ser trocados, é preciso estabelecer qual a quantidade de um bem deverá ser trocada por determinada quantidade de outro bem. No nosso exemplo, quantas frutas deverão ser trocadas por quantas camisas: x Frutas ó y Camisas Em outras palavras, a troca implica uma relação de quantidade entre os bens trocados; no nosso exemplo: uma certa quantidade de frutas por uma certa quantidade de mercadorias. Naturalmente, considerando-se que cada agente econômico agirá racionalmente na maximização dos resultados das trocas, cada um procurará obter o máximo possível, gastando o mínimo possível. Ou seja, para quem vai se envolver na troca, o melhor seria obter o máximo de bens do outro agente, entregando-lhe o mínimo de bens que puder. No exemplo citado, vou procurar obter a melhor camisa possível (ou mais de uma camisa), entregando a meu vizinho, como troca, o mínimo de frutas possível. Naturalmente, meu vizinho tratará de fazer o oposto, obtendo de mim o máximo de frutas que puder. A negociação entre as duas partes poderá levar a um acordo em torno das quantidades de bens que devem ser trocados. Ora, a quantidade de mercadoria que permite a troca com outra mercadoria é chamada de preço desta mercadoria. Ou seja, se acertei com meu vizinho a troca de duas dúzias de frutas por uma camisa, então o “preço” da camisa é duas dúzias; enquanto o “preço” de duas dúzias é uma camisa. Obviamente, numa sociedade monetizada, os preços destas duas e de todas as mercadorias são cotadas em dinheiro (moeda): duas dúzias de frutas podem custar R$ 20,00, e uma camisa também pode custar R$ 20,00. Em síntese, as trocas podem ser feitas: (a) diretamente entre mercadorias diferentes (Escambo): M1 - M2; (b) com a intermediação de uma mercadoria especial chamada moeda: M1 - $ - M2. Nesse caso, a troca é chamada de compra e venda de mercadorias. O problema essencial na troca de mercadorias é determinar a relação quantitativa entre os bens trocados: xM1 - yM2. Essa relação é chamada de Preço. O preço é determinado pelas relações entre Demanda e Oferta das mercadorias. DEMANDA E OFERTA Demanda É a quantidade de determinado produto que os consumidores estão dispostos a adquirir no mercado em determinado momento. Também é chamada de “procura”. O consumidor faz escolhas sobre o melhor uso de sua renda, buscando sua maximização (obter o máximo de utilidade com o mínimo de recursos). A demanda depende dos seguintes fatores que influem nas decisões de consumo: (a) preço do bem (b) preço dos outros bens (c) outros fatores (a) Preço do Bem Conforme o que a Economia chama de “Lei Geral da Demanda”, quanto menor o preço de um bem, maior será a demanda, e o inverso também verdadeiro (quanto mais caro um bem, menos pessoas vão comprar). Além disso, quando os preços de um bem estão caindo, vai aumentando o número de agentes econômicos dispostos a comprá-lo. E quando o preço vai subindo, diminui o número de compradores. Esquematicamente: ↑preço de um bem ↓demanda desse bem. Por que isto acontece? · (1º) com os preços elevados, muitos consumidores não podiam comprar. Mas, caso os preços caiam, esses consumidores que não podiam comprar, passam a poder comprar. · (2º) os consumidores que já podiam comprar, mesmo com o preço elevado, podem aproveitar para comprar mais caso o preço caia. Nesse caso, pode tratar-se de uma medida especulativa. Quem acha que o preço de um bem está barato e compra mais do que necessita, estocando o excesso, pode pensar que, em breve o preço poderá subir novamente, e, então, terá feito um bom negócio já tendo comprado; (b) Preço dos Outros Bens Por “outros bens” entendem-se os bens substitutos (bens diferentes que satisfazem uma mesma necessidade, por exemplo, guaraná e coca-cola) e bens complementares (bens que são consumidos junto com outros, por exemplo, pneu e automóvel). Em relação aos Bens Substitutos (ou similares), a relação entre os preços e as demandas é a seguinte: Ou seja, caso o preço do bem principal (como a coca-cola) suba, sua demanda deve cair. Por isso, parte dos consumidores que gostariam de tomar coca- cola deixarão de fazê-lo, passando a consumir bens substitutos (como o guaraná, por exemplo), cuja demanda deve subir. Então: ↑preço do bem principal (ou preferido) ↓demanda do bem principal ↑demanda do bem principal (ou o bem que é uma “segunda opção” do consumidor). Já em relação aos Bens Complementares, caso o preço do bem principal (como o automóvel, por exemplo) suba, sua demanda deve cair. Ora, isto fará naturalmente com que a demanda por bens complementares (como pneus, por exemplo) também caia. Então: ↑preço do bem principal ↓demanda do bem principal ↓demanda do bem complementar (c) Outros fatores Como vimos em aula anterior (5ª Aula), vários outros fatores podem interferir na demanda. Entre eles, podemos destacar: · Utilidade do bem · Renda dos consumidores · Gosto dos consumidores · Fatores sazonais · Localização do consumidor · Condições de crédito · Perspectivas da Economia · Congelamento ou tabelamento de preços e salários. Naturalmente, quanto maior for a percepção de utilidade de um bem, maior deve sua demanda (excluindo-se a interferência de outros fatores, como preço, por exemplo). O mesmo se pode dizer em relação ao gosto do consumidor, que às vezes decide sobre qual mercadoria incidirá a compra, entre várias mercadorias semelhantes com base em critérios subjetivos, como cor, forma, design, formato, praticidade, moda etc. Não menos óbvio é o efeito da renda dos consumidores. Quanto mais dinheiro as pessoas tiverem, mais elas poderão e deverão gastar. Além disso, outro efeito verifica-se em relação à renda. Quando as pessoas têm bastante dinheiro, tendem a preferir bens de qualidade superior, preterindo os de qualidade inferior, enquanto que com os mais pobres verifica-se que, embora possam preferir bens de qualidade superior, têm que se conformar com aqueles mais em conta. Por fatores sazonais entendem-se que certas épocas do ano ocorre um consumo maior de certos produtos (como ovos de chocolate durante a Páscoa, ou panetones durante o Natal, por exemplo). Além de serem mais facilmente encontrados, em suas épocas costumeiras estes produtos podem ser adquiridos com preços menores. A localização interfere claramente na demanda. Habitantes de grandes cidades consomem muito, também porque contam com muitos locais de compras à disposição (lojas, shopping centers, magazines etc.), diferentemente de populações de regiões interioranas. Outro fator importante é o crédito, uma operação comercial na qual o comprador não paga na hora (no máximo, uma “entrada”), mas em período posterior e, geralmente, parceladamente. Esta facilidade de pagamento favorece as compras de modo geral, e, especialmente, de bens de elevado valor (imóveis, automóveis etc.) Condições gerais da economia também podem interferir na decisão de demanda do consumidor. Um clima de incerteza, crise mundial ou mudança de equipe econômica pode fazer com que alguns consumidores adiem decisões de compra, sobretudo de bens de elevado valor, como imóveis. Também decisões governamentais que afetam a economia, como o controle de preços e salários, que ocorriam no Brasil com freqüência até o começo da década de 90, também interferem na demanda. Se os salários, por exemplo, são “congelados”, isto é, não podem ser reajustados, as classes assalariadas ficarão com menos dinheiro para gastar. Oferta É a quantidade de determinado produto que os empresários estão dispostos a colocar à venda em determinado momento. Portanto, a oferta é uma decisão do empresário, do dono do negócio, que, como todo agente racional, faz escolhas entre usos alternativos do capital, buscando a maximização do lucro (obter o máximo de lucro com o mínimo de gastos possível). Ou seja, a decisão de colocar ou não mercadorias à venda depende do lucro da operação: ↑lucro ↑oferta ↑nível de produção O ganho que empresário vai obter – e, portanto, seu interesse na oferta –, por sua vez, é influenciado por vários fatores, como: · Preço do Bem · Preço dos Outros Bens · Outros fatores (a) Preço do Bem Pela chamada “Lei Geral da Oferta”, quanto maior o preço de um bem, maior o interesse de um empresário em colocá-lo à venda. Esquematicamente: ↑preço do bem ↑oferta desse bem. Por que isto ocorre? · (1º) O que ocorre é que quanto maior o preço do bem vendido, maior deve ser o lucro que o empresário deverá ter com ele; maior será a margem de lucro que ele poderá embutir no preço do bem. Então: ↑preço do bem ↑margem de lucro com a venda desse bem ↑oferta desse bem; · (2º) Ao mesmo tempo, caso um empresário comece a obter um ganho expressivo com determinado produto, outros empresários certamente passarão a vendê-lo também, de modo que: ↑preço do bem ↑número de empresários que oferecem esse bem ↑oferta desse bem. (b) Preço dos Outros Bens O preço de bens substitutos também interfere na decisão do empresário em vender este ou aquele artigo. Caso, por exemplo, o preço de um bem suba, se tornará mais atraente para o empresário vendê-lo. Isto poderá fazer com que ele concentre as vendas neste bem mais rentável e por isso reduza as vendas de outros bens que são substitutos, mas cujos preços não subiram (ou não subiram tanto). Por isso: ↑preço do bem substituto ↑oferta desse bem substituto ↓oferta bem principal. (c) Outros fatores Naturalmente, há outros fatores que interferem nas decisões de oferta por parte dos empresários. Um deles é o preço dos fatores de produção. Quanto mais o empresário tiver que gastar para colocar suas mercadorias à venda, menos recursos ele terá para produzir. É o que acontece, por exemplo, quando se elevam o preços de itens como trabalho (os salários), matérias-primas, máquinas. Assim: ↑preço dos fatores de produção para determinado bem ↓oferta desse bem. Já efeito contrário apresenta a tecnologia incorporada no processo produtivo. A história mostrou que, sempre que houve incorporação de novas tecnologias na produção, esta cresceu em relação ao período anterior. Novas tecnologias podem referir- se a máquinas mais aperfeiçoadas, novas técnicas produtivas etc., de modo que: ↑tecnologia presente na produção de determinado bem ↑oferta desse bem. EQUILÍBRIO DE MERCADO Até o momento, falamos isoladamente sobre demanda e oferta, suas variações, suas causas, sem relacionar os dois fatores. Mas, naturalmente, esse isolamento não passa de um recurso analítico, utilizado para facilitar o entendimento do estudante. Na prática, esta separação não existe; demanda e oferta ocorrem a todo o momento continuamente e uma interfere na outra. O que relaciona demanda e oferta é o chamado “equilíbrio de mercado”. É o equilíbrio entre oferta e demanda: quando a quantidade de bens demandados é igual aos bens ofertados. Vimos que tanto a demanda quanto a oferta podem ser elevadas ou baixas, crescer ou cair, conforme diversos fatores. Pois bem, equilíbrio da oferta e da demanda de um determinado bem é quando tudo o que foi colocado à venda (oferta) de determinado bem foi comprado (demanda). Não sobram mercadorias sem serem vendidas, nem consumidores sem a mercadoria desejada. Esse equilíbrio é dado pelo preço do bem, o chamado “Preço de Equilíbrio”. Ou seja, há um preço de determinado bem que vai igualar sua oferta e sua demanda. Portanto, caso o preço não seja aquele, haverá um “desequilíbrio” de mercado. Com base nas leis gerais da oferta e da demanda, se o preço de uma mercadoria for superior ao seu preço de equilíbrio, deverá haver mais oferta que demanda; caso o preço esteja abaixo, deverá haver mais demanda que oferta. Desta forma, podemos verificar as seguintes situações: 1ª Situação: Em relação a um bem determinado, verifica-se a existência de mais demanda que oferta. Então, o preço desse bem deve estar abaixo do preço de equilíbrio. Quando isso ocorre, existem muitos consumidores atrás da mercadoria, mas poucas mercadorias à venda. Esses muitos consumidores passarão a disputar as poucas mercadorias disponíveis. Alguns deles poderão admitir pagar um pouco mais para obter a mercadoria. Quando essa situação se generaliza, é porque na prática, o preço do bem já subiu. Uma vez que o preço do bem tenha subido, a demanda por ele deverá cair, enquanto a oferta deverá subir, tendendo para a situação de equilíbrio. 2ª Situação: Em relação a um bem determinado, verifica-se a existência de mais oferta que demanda. Então, o preço desse bem deve estar acima do preço de equilíbrio. Quando isso ocorre, existem muitas mercadorias disponíveis, mas poucos consumidores atrás delas. Para evitar que a mercadoria sobre nas prateleiras, alguns empresários estarão dispostos a promover promoções, que, na prática, significam descontos na venda do bem. A generalização da prática leva à queda do preço da mercadoria. Uma vez que o preço do bem tenha caído, a demanda por ele deverá subir, enquanto a oferta deverá cair, tendendo para a situação de equilíbrio. Admite-se, então, que a tendência natural do mercado é sempre atingir o ponto de equilíbrio. No entanto, note-se que estamos falando de uma situação de mercado em que compradores podem escolher livremente os produtos a comprar e os vendedores podem fixar livremente seus preços. Além disso, todos os agentes econômicos dispõem do mesmo nível de informações que seus concorrentes. Ou seja, pressupõe uma situação chamada de “livre mercado”, em que a concorrência entre os agentes é elevada. No entanto, esta é uma situação mais teórica do que prática. Isto porque, na economia real, ocorrem “perturbações” que distorcem a situação de livre mercado, dificultando o impedindo que se atinja a situação de equilíbrio de mercado, ou mantendo a situação de desequilíbrio. Em geral, estas perturbações são causadas por fatores como a ação dos governos, quando, por exemplo, “congelam” preços, impedindo que os empresários reajustem livremente seus preços, ou por certas configurações de mercado, como os monopólios. Este último caso é o que veremos na próxima aula.
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