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Estrutura e Organização da Escola de Educação Infantil Professora conteudista: Ana Lúcia Gasbarro Estrutura e Organização da Escola de Educação Infantil Unidade I 1 EDUCAÇÃO INFANTIL: CONTEXTO HISTÓRICO, OBJETIVOS E ATUAIS ALTERNATIVAS CURRICULARES .......................................................................................................2 1.1 Educação Infantil: contexto histórico e objetivos .....................................................................2 1.2 A Educação Infantil e as atuais alternativas curriculares .................................................... 13 Unidade II 2 A CRIANÇA, SUA FORMAÇÃO PESSOAL E SOCIAL E AS ÁREAS DE CONHECIMENTO DE MUNDO .................................................................................................................. 21 2.1 A criança e sua formação pessoal e social ................................................................................. 21 2.2 A criança e o conhecimento de mundo ...................................................................................... 29 2.2.1 Movimento ................................................................................................................................................ 30 2.2.2 Música ......................................................................................................................................................... 31 2.2.3 Artes visuais .............................................................................................................................................. 35 2.2.4 Linguagem oral e escrita ..................................................................................................................... 39 2.2.5 Natureza e sociedade ............................................................................................................................ 43 2.2.6 Matemática ............................................................................................................................................... 46 Sumário Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 1 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL 5 10 15 20 INTRODUÇÃO A disciplina Estrutura e Organização da Escola de Educação Infantil (EOEEI) tem como principal objetivo provocar a reflexão sobre: - a formação dos professores de Educação Infantil; - as relações existentes entre os períodos históricos e as funções assumidas pelas instituições de Educação Infantil; - as atuais alternativas curriculares para a educação infantil adequadas aos diversos contextos socioculturais das crianças; - a importância e o significado da intervenção educacional nesse nível de ensino (desde os primeiros anos de vida) para a formação da cidadania; - a identificação das áreas de conhecimento do currículo da Educação Infantil adequadas à ampliação da aprendizagem das crianças. Essa reflexão é indispensável à pessoa que pretende trabalhar com Educação Infantil, em função de toda trajetória desse nível de ensino, uma vez que, popularmente, o conceito é de que a criança entre o nascimento e os seis anos de vida vai à escola somente para brincar ou para se preparar para o Ensino Fundamental, considerado muitas vezes o nível de ensino mais importante. Unidade I Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 2 Unidade I Outra ideia, também equivocada, é a de que o professor de Educação Infantil é praticamente um pajem ou um tipo de “babá”, e que bastam os conhecimentos referentes à troca de fraldas, banho e alimentação, além de ter paciência, brincar e contar histórias que entretenham a criança para que ele exerça satisfatoriamente sua profissão. De acordo com as pesquisas de diversas áreas é grande o desenvolvimento das crianças até os seis anos de idade. Nesse período ocorrem avanços muito significativos na linguagem, nos movimentos, na socialização, entre tantos outros e não se pode tratar de forma displicente o trabalho educativo com essas crianças. Enfim, o trabalho pedagógico na escola de Educação Infantil tem objetivos sérios de aprendizagem. A criança não tem que crescer para ser valorizada como pessoa ou para considerar o seu trabalho escolar importante. 1 EDUCAÇÃO INFANTIL: CONTEXTO HISTÓRICO, OBJETIVOS E ATUAIS ALTERNATIVAS CURRICULARES 1.1 Educação Infantil: contexto histórico e objetivos De acordo com Oliveira (2007), historicamente a formação dos professores de educação infantil tem sido pobre ou praticamente inexistente, apresentando pessoas sem qualificação profissional, que trabalham a partir da vivência com os próprios filhos, mulheres, em sua maioria, que não possuem a valorização adequada ao trabalho nesse nível de ensino. Essa formação se deve à exigência de profissionais adequados ao tipo de função que a instituição possui. Muitos dos ambientes escolares ainda priorizam o atendimento assistencialista, no qual é dispensado um tratamento de cuidados físicos (alimentação, higiene e prevenção de 5 10 15 20 25 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 3 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL doenças) ou a recreação, no qual há animadores culturais e especialistas em lazer. Algumas escolas chegam a permitir que as crianças comemorem o aniversário na instituição, levando mágicos, palhaços, entre outros tipos de entretenimento adequados a um buffet infantil, mas nada coerente ao ambiente escolar. A esse respeito, a escola pode e deve incentivar as crianças a homenagearem seus colegas aniversariantes, aproveitando para ensinar o valor da amizade e do afeto demonstrados através de um abraço ou de desenhos. Cantar o “Parabéns”, compartilhar um bolo, também são gestos bastante carinhosos, entretanto, o que muitas vezes se vê, é o planejamento do dia dando lugar à festa de aniversário que ocupa todo o período escolar, além de desencadear uma competição, principalmente em instituições particulares, de quem leva mais atrações e os presentes mais vistosos. Os objetivos da escola de Educação Infantil, nesse caso, são deturpados e, por consequência, a função que o professor deve assumir também é desvirtuada. O modelo escolar que hoje se defende solicita a formação de professores polivalentes, de acordo com a Lei 9394/96, artigo 13. Ser polivalente significa que um mesmo professor deve desenvolver todos os tipos de atividades com as crianças, tanto as rotineiras, que envolvam os cuidados básicos destinados à criança, como as educacionais. Por isso, a função do profissional de educação infantil é mediar o conhecimento, já que hoje se fala em construção de significações através da mediação de parceiros mais experientes. Embora haja certa polêmica, o correto em Educação Infantil é que os profissionais não variem muito, pois a criança pequena precisa criar vínculos afetivos para que confie nas pessoas. Se há um professor para música, outro para artes, outro de recreação fica difícil para ela estabelecer uma boa comunicação com todos. A criança sempre elege 5 10 15 20 25 30 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 4 Unidade I alguém com o qual se identifique e confie e este deve ser o professor fixo. Portanto, ser polivalente é desenvolver um trabalho pedagógico com a criança de maneira integral, percebendo-a como um ser inteiro e não compartimentado por áreas de conhecimento, como a hora da matemática ou a hora da música por exemplo. Mediar conhecimento é proporcionar situações de aprendizagem em um ambiente acolhedor e estimulante, no quala criança faz suas descobertas e o professor a incentiva a ser curiosa e a procurar respostas para os seus questionamentos. Qualquer pessoa mais experiente pode mediar algum tipo de aprendizagem, como por exemplo um pai que ensina o filho a pescar. Na escola de Educação Infantil, o professor faz a mediação em situações de aprendizagem de maneira sistematizada, procurando objetivos que sejam adequados à idade, ao desenvolvimento das crianças e ao contexto social, cultural e econômico do qual ela faz parte. Toda criança tem uma série de potencialidades que ainda não desenvolveu, mas sua aquisição se dará realmente na medida em que experimentar, brincar e explorar num ambiente propício à investigação, no qual o professor problematizará situações, tanto dentro como fora da sala de aula, procedendo ao seu papel de mediador. Problematizar as situações de aprendizagem requer a habilidade de questionar determinados aspectos dentro das perguntas da criança, não oferecer a resposta pronta, mas incentivá-la a levantar hipóteses sobre o assunto e confirmá- las ou não através de pesquisas e entrevistas. Dessa forma, a criança realiza muitas descobertas que serão incorporadas ao seu conhecimento, o que torna a aprendizagem mais prazerosa. A emoção da descoberta é sempre mais gratificante porque envolve a participação intensa da criança na busca de 5 10 15 20 25 30 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 5 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL informações. Isso gera uma aprendizagem significativa, muito diferente de um ambiente escolar no qual a criança tem que se manter passiva e submissa às ordens do professor, ouvindo instruções e informações acerca dos fatos e elementos do mundo, conhecendo-o somente através do papel. Adotar uma postura de mediador e problematizador envolve intensa reflexão sobre a atuação do profissional e constante aprimoramento de sua formação. Da qualidade na formação teórica do professor de Educação Infantil depende a qualidade do trabalho prático que ele desenvolve. Oliveira (2007) referenda que na formação de professores para a Educação Infantil nos países europeus, há a exigência de que ela se dê em nível superior, após a conclusão do ensino médio. A maioria desses países separa a formação do professor de Educação Infantil da formação de professores para o Ensino Fundamental. Quanto ao conteúdo dos cursos, há grande variedade nas habilidades que o professor de educação infantil precisa desenvolver, dependendo das exigências da comunidade e de sua cultura. No Brasil há uma discussão sobre a formação de professores em nível superior. Atualmente a formação de professores de Educação Infantil se dá no curso de graduação de pedagogia (licenciatura plena), conforme Diretrizes Curriculares do curso de pedagogia (Resolução nº1 MEC/CNE de 15 de maio de 2006). A legislação atual admite, ainda, a formação do professor de Educação Infantil, no Ensino Médio na modalidade Normal (art. 62 da LDBN nº 9394/96). Na prática ainda não se vê melhorias quanto à qualidade do trabalho em creches e pré-escolas e uma causa importante é que os cursos, tanto em nível médio quanto em nível superior estão desatualizados. Não basta que os cursos de formação de professores simplesmente passem a ser ministrados no ensino superior, mas deve-se garantir que o profissional em formação consiga estabelecer relações entre a teoria estudada e o cotidiano da sala de aula. Do contrário, continuará executando um trabalho automático e repetitivo, pois não há reflexão. 5 10 15 20 25 30 35 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 6 Unidade I A formação profissional, porém, não se dá apenas em cursos, mas no cotidiano, na pesquisa realizada pelo professor para solucionar os problemas específicos de sua clientela, no compromisso com a aprendizagem de seus alunos enquanto parceiro e não oponente da família, afinal, todo o trabalho desenvolvido na escola de educação infantil deve ser centrado na criança. Tão importante quanto a valorização do profissional que organiza, se envolve na ação educativa e que reflete sobre sua prática e formação, é entender que o contexto educativo se torna mais rico ao contemplar pais, crianças e professores como protagonistas desse processo, respaldado pela solidariedade, respeito ao outro e inspirado pela paz e liberdade. A partir dessa perspectiva o termo “qualidade” passa a ser visto com maior criticidade e assumirá uma categoria histórica e social que abriga interesses e significações. Portanto, a formação do professor se dá nos cursos iniciais de formação, no cotidiano da sala de aula, na interação com as crianças, nos cursos de especialização de maior ou menor duração e na troca de experiência com seus pares, colegas de profissão e com as famílias das crianças. No que se refere à formação do professor, toda experiência é válida e merece consideração, seja dentro ou fora do ambiente escolar, seja teórica ou prática, já que as duas caminham sempre juntas. Importar-se com a contínua formação dos profissionais da educação é importar-se com as melhoras na qualidade do trabalho no ambiente educativo desse nível de ensino, uma vez que um professor reflexivo imprimirá intencionalidade ao seu trabalho. Antes de toda proposta de atividade ele fará uma análise sobre sua clientela e os motivos pelos quais acredita que aquele conteúdo será importante para ela. A formação de professores tem grande relação com os objetivos da educação infantil, na medida em que a função que 5 10 15 20 25 30 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 7 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL se estabelece para a escola exigirá um modelo específico nos cursos iniciais, além de, na prática, também surgirem exigências adequadas. Quanto à função da Educação Infantil, Oliveira (2007) diz que na sociedade contemporânea ainda não se faz presente o consenso entre o papel social e educativo das instituições de educação Infantil, o que também implica em desenvolver atividades como o cuidado e a educação, indissociavelmente, em especial no que se diz respeito ao caráter formativo. Assim, ainda é desafiador estabelecer critérios mínimos para o atendimento das crianças que se encontram na faixa etária de zero a seis anos nos espaços educativos. Há diferenças entre o espaço da educação doméstica e o espaço institucional pelas relações que se desenvolvem neles, o sentido educativo, a concepção de infância e seus processos de constituição definem o caráter da instituição, o perfil do profissional e o trabalho a ser realizado. Apresenta-se, com frequência, um embate na instituição em que ocorre o processo educativo com crianças de zero a seis anos, que se refere aos profissionais que atuam lado a lado na educação e aos cuidados destinados às crianças. É necessário que a professora ressignifique a função da instituição e sua identidade profissional. Sendo as mulheres a maior parte das profissionais que atuam na educação infantil, há contradição no viver o papel de professora. A LDB 9394/96 delibera sobre os profissionais da Educação Infantil, o que tem movido investigações que abordam a formação do profissional que atua nessa área. Tais investigações têm se voltado a pontos pertinentes e que oferecem contribuição para que se entenda tal formação como a formação inicial que se dá em cursos de longa duração, como o ensino médio e o ensino superior, a formação continuada que ocorre após a formação inicial (possível aos professores 5 10 15 20 25 30 Re vi s; aoA m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 8 Unidade I nas instituições em que atuam), a formação em serviço (onde profissionais de diferentes instituições em convívio trocam relatos de trabalhos que permitem redimensionar a própria prática pedagógica) e a formação leiga (que se dá numa rede informal de educação – por meio de trocas, visitas a outras instituições, pesquisas em livros e revistas e apropriação de cursos frequentados – em que são desenvolvidas reflexões sobre o trabalho que realizam e os saberes não formalmente expressos). Os cursos mantêm, a priori, um caráter mais teórico, deixando o contato com as crianças para depois, sendo que as alunas desejam justamente o contrário. Há uma questão de grande pertinência que se põe em pauta quando está em discussão a formação do professor: a inadequação de cursos que se pautam em transmissão de conhecimentos, principalmente quando em referência à formação do professor de Educação Infantil. Organizar a formação do professor a partir do currículo a ser trabalhado com a criança, e não somente no embasamento teórico, oferecendo a possibilidade de ampliar seus conhecimentos para que possa, a partir daí, auxiliar as crianças nas experiências que se darão na prática. Faz-se necessário o resgate da dimensão lúdica no professor para que ele possa olhar o mundo a partir do ponto de vista que a criança olha. A Lei 9394/96 estabelece como educação infantil o atendimento de crianças em creches (até três anos) e pré-escolas (de quatro a seis anos), níveis de ensino integrantes da Educação Básica. Atualmente ainda, o ensino fundamental é composto por um período de nove anos e no primeiro ano atende crianças de seis anos, que anteriormente faziam parte do último ano da educação infantil. A educação infantil é importante para o desenvolvimento da criança desde os primeiros meses e embora haja uma discussão sobre atendimento assistencialista ou pedagógico é necessário o equilíbrio, pois uma ação não ocorre sem a outra. Para refletir Para que o professor de educação infantil exerça sua profissão com qualidade, basta que ele goste de crianças? O que é necessário? 5 10 15 20 25 30 35 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 9 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL O atendimento assistencialista está relacionado aos cuidados destinados à criança, que por ainda ser pequena precisa de um adulto que a oriente a colocar ou tirar um casaco, conforme a temperatura do ambiente, ou que a ajude a lavar as mãos ou abrir a mochila. O atendimento pedagógico se refere às aprendizagens, aquisição de habilidades e construção de conhecimentos. Ambos são importantes, uma vez que a criança vai à escola para ampliar conhecimentos, mas ainda é dependente dos adultos. Outra peculiaridade do atendimento está no contexto social próprio de cada instituição. É possível que haja múltiplas alternativas de programas para a Educação Infantil, mantendo um mínimo de critério, tornando esse nível de ensino democrático, ou seja, que crianças de qualquer situação socioeconômica encontrem uma escola de qualidade, não excludente, que ofereça oportunidades semelhantes a toda população infantil. A qualidade no atendimento depende da autonomia de cada instituição para satisfazer às necessidades de cada comunidade, garantindo o respeito à diversidade e à igualdade de oportunidades. Estimular gestos de cortesia, solidariedade, quebra de preconceitos, aumentando a oferta de oportunidades para todo e qualquer cidadão. Há uma série de questionamentos sobre a infância, a função da creche (basicamente assistencialista) e a pré-escola (preparatória para o ensino fundamental). Essa ideia parece partir do pressuposto de que uma criança de creche ainda não iniciou suas aprendizagens e que a criança de quatro a seis anos já não precisa mais que um adulto lhe destine uma série de cuidados. Historicamente a infância era um período da vida desprovido de razão. A criança era considerada um adulto em miniatura e havia grande exigência de que ela se comportasse e pensasse como um adulto. Pense sobre suas principais características e de sua comunidade (cultura, descendência, origem) e imagine qual seria a escola ideal para você. 5 10 15 20 25 30 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 10 Unidade I Atualmente em razão de várias pesquisas a infância adquiriu uma nova identidade. A visão que se tem de criança, após muitos anos de estudo, é a de uma pessoa em sua fase inicial de crescimento e se isso parece óbvio, pense um pouco nos termos que você já ouviu em referência às crianças. Não cabe aqui a questão sobre deixar ou não a criança interferir na atividade ou conversa do adulto, mas a maneira como a informação é dada. Se para aquele adulto a ação da criança está errada, basta que ele lhe explique que não é educado interromper conversas, especialmente se o conteúdo não é exatamente de seu universo. Para que as instituições de educação infantil atendam às necessidades da criança, dentro das novas concepções de infância, precisam preocupar-se com a aprendizagem de novos conhecimentos, respeitando aquilo que a criança já conhece, num ambiente de segurança física e emocional, pois cuidado e afeto não podem ser descartados. As primeiras instituições surgiram da necessidade das mães saírem de seus trabalhos caseiros e artesanais e ingressarem como mão-de-obra nas fábricas durante o período da Revolução Industrial. Somadas a essas condições vieram as duas grandes guerras mundiais que obrigavam os homens a se alistarem, deixando muitas famílias órfãs e sem sustento, obrigando então as mulheres a buscarem atividades remuneradas. Essas instituições, a princípio originaram-se de iniciativas particulares, como ainda acontece nos dias de hoje, nas quais uma pessoa da comunidade cobra um pequeno valor para “cuidar” das crianças cujas mães trabalham fora do lar. Naquela época, as epidemias eram frequentes e devastadoras, a higiene era precária, a alimentação deficiente e a saúde pública não dava conta de conter os elevados índices de mortalidade infantil. Eram poucas as iniciativas que se preocupavam com a educação das crianças. Foi então Pense se você já ouviu alguém falar para uma criança coisas do gênero: Você acabou de largar as fraldas e quer me dizer como fazer isto? (quando uma criança dá sua opinião a respeito de algo que o adulto esteja fazendo). O que é isso? Está pensando que é gente? (quando uma criança entra numa conversa de adultos). 5 10 15 20 25 30 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 11 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL que dirigentes, em vários países da Europa resolveram criar instituições públicas para acolher, tanto as crianças órfãs, como as que ficavam pelas ruas e dedicar-lhes principalmente assistência. Por isso, até a atualidade ainda encontram-se escolas com objetivo assistencialista. A função e os objetivos da escola de educação infantil sempre estiveram ligados às necessidades sociais e econômicas, bem como a formação de seus professores. Algumas instituições desenvolviam um trabalho de caráter mais educativo, pois acreditavam que as crianças precisavam de ensinamentos morais, religiosos e do desenvolvimento de habilidades manuais. Atualmente a função da escola de educação infantil é pedagógica, ou seja, visa a ampliar o conhecimento das crianças fornecendo situações significativas de aprendizagem, sem deixar de lado a necessidade de cuidados físicose afetivos dos quais a criança necessita. Os objetivos desenvolvidos na educação infantil proporcionam à criança um ingresso mais suave no ensino fundamental. A criança que frequenta uma escola de educação infantil vai para o ensino fundamental melhor preparada e enfrenta menos dificuldades, mas isso não significa que o principal objetivo da escola de educação infantil seja preparatório. Seus conteúdos são específicos às características da criança de até seis anos de idade e não simplesmente, conteúdos do ensino fundamental antecipados e banalizados na tentativa de adequá-los à linguagem e período de desenvolvimento dessa faixa etária. Conforme Oliveira (2007), a educação infantil no Brasil, historicamente, foi semelhante a outros países. No século XIX houve iniciativas isoladas de proteção à infância e algumas concepções apontavam a família como responsável pela situação da criança. O índice de crianças abandonadas era muito alto, o que gerou a criação de creches, asilos e orfanatos para abrigá-las. Reflita: quantas pessoas você conhece que deixam seus filhos pequenos com uma vizinha e quantas deixam em instituições para Educação Infantil. Qual ambiente você acredita ser mais assistencialista e qual está mais apropriado à aprendizagem das crianças? 5 10 15 20 25 30 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 12 Unidade I No final desse período, o discurso por uma sociedade moderna leva a elite a simpatizar com os movimentos da escola nova. Inspirados nas ideias de Froebel surgem os primeiros Jardins da Infância, a princípio, de entidades privadas e posteriormente, de entidades públicas, porém todos atendiam às crianças economicamente favorecidas. As polêmicas sobre o atendimento à criança pobre continuaram e, após a Proclamação da República, surgiram escolas de educação infantil em vários estados, mas os investimentos ainda eram mais destinados ao ensino fundamental. A urbanização e a industrialização exigiram a força da mão-de-obra feminina, as mulheres tinham que deixar os filhos aos cuidados de criadeiras, com as quais era alto o índice de mortalidade. A formação de sindicatos para a luta de direitos ao trabalhador colocou em questão a qualidade do trabalho feminino dependendo das condições de guarda de seus filhos, e fizeram com que várias empresas formassem creches para os filhos de suas funcionárias, embora a concepção da época era de que o ideal de educação era o da mãe em casa cuidando de seus filhos. No governo Vargas a creche era vista como um “mal necessário” com função assistencialista e na segunda metade do século XX, as características econômicas do país e o grande contingente de mulheres trabalhadoras, impeliram à procura cada vez maior por creches e parques infantis de período integral, fazendo com que governo e instituições privadas aumentassem a oferta diante da demanda de crianças. Nesse período a LDB 4094 de 1961 propõe a inclusão dos jardins da infância no sistema de ensino. A situação se altera a partir de 1964, com os governos militares, refletindo sobre a educação, especialmente das crianças pequenas. 5 10 15 20 25 30 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 13 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL 1.2 A Educação Infantil e as atuais alternativas curriculares O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, que tem como sigla RCNEI é um documento elaborado por uma comissão do Ministério da Educação e Cultura - MEC que objetiva principalmente a melhoria da qualidade das escolas, pois leva ao professor elementos básicos que podem adaptar-se a qualquer tipo de realidade social, cultural e econômica. Ele está organizado em três volumes que serão apresentados a seguir, em forma de síntese, uma vez que o material é muito extenso. Apesar disso, é indispensável que o professor em sua formação conheça, leia e utilize-o constantemente em sua totalidade. Referencial curricular nacional para a educação infantil - volume I - introdução Alguns fatores importantes provocaram mudanças nas concepções relacionadas à educação infantil, tais como a expansão da educação infantil no Brasil e no mundo; a sociedade mais consciente da importância de se cuidar da infância e das influências que as experiências de uma pessoa entre o nascimento até os seis anos de idade podem ter sobre o cidadão adulto; as mudanças na organização e na estrutura das famílias, que deixaram de ser patriarcais e passaram a importar-se mais com o bem-estar das crianças e com a presença cada vez mais forte da mulher no mercado de trabalho. A conjunção desses fatores gerou movimentos da sociedade civil e órgãos governamentais em função da necessidade de atendimento adequado às crianças em instituições apropriadas. Como resultados houve o reconhecimento da necessidade de atendimento à criança de zero a seis anos na Constituição Federal (1988); a elaboração da Lei 9394, que estabelece vínculo entre o atendimento às crianças e a 5 10 15 20 25 30 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 14 Unidade I educação; e a definição da educação infantil como primeira etapa da educação básica. Características do RCNEI “Conjunto de referências e orientações para a ação pedagógica que possam contribuir para a melhoria da qualidade da Educação Infantil brasileira.” Todo professor enfrenta situações em um determinado contexto na sua turma de alunos, pois está inserido em uma escola que carrega uma bagagem social, cultural e econômica muito específica. Para que o professor desenvolva um trabalho pedagógico com o mínimo de qualidade, deve partir dessas premissas e refletir sobre as suas concepções a respeito da criança e da educação. Da visão que ele tem a respeito da criança, se a considera capaz ou incapaz de aprender, se a vê como cidadã ativa ou passiva dentro da sociedade, se acredita que a escola possa ser ou não um ambiente democrático depende o tipo de ação que planejará. Algumas considerações sobre creches e pré-escolas A educação infantil apresentou concepções divergentes: compensatória, assistencialista, cuidados físicos, desenvolvimento emocional e cognitivo. Toda proposta educacional veicula concepções sobre criança, educar, cuidar e aprendizagem, cujos fundamentos são considerados explicitamente. A criança É em primeira instância um sujeito social, pois desde que nasce está inserido em uma organização social. Já na maternidade ou nos primeiros dias de vida, em casa, recebe visitas e participa de situações culturais relativas ao nascimento. A sua família Diante dessa explicação o RCNEI é um documento obrigatório em todas as escolas de Educação Infantil do Brasil? Não. Ele é considerado como uma referência, exatamente para que cada escola e cada professor façam as adaptações necessárias à sua clientela, ao seu grupo de crianças, com suas características e realidade socioculturais. 5 10 15 20 25 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 15 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL participa de outras organizações socioculturais tais como igreja, clube, grupo de amigos, entre outras instituições. Também é um sujeito histórico, pois os hábitos familiares, a maneira como seus pais, parentes e amigos mais próximos se comportam tem relação com a herança recebida nas experiências de vida que de alguma forma se tornaram significativas para os mais velhos e que, por serem importantes, acabam por passar para as gerações mais jovens como valores culturais.A criança possui uma natureza singular, ela é única, não existem duas pessoas iguais no mundo e por isso, sente emoções e pensa de um jeito muito próprio. Cada uma apresenta reações diante dos fatos vividos de acordo com suas características de personalidade e as experiências que já enfrentou. A aprendizagem é um processo individual no sentido em que cada um apresenta o seu ritmo e é social pois depende de experiências no meio, portanto, a criança constrói o conhecimento a partir das interações com o meio e com outras pessoas. Ela é ativa nesse processo, pois o conhecimento não é algo que se recebe pronto, como uma caixa de presente. Educar A concepção de educar é muito mais ampla do que algumas simples atividades preparadas pelo professor e preenchidas pela criança automaticamente. Educar envolve uma série de ações que equilibram cuidados e organização de espaços com situações que possam ser exploradas de maneira significativa pela criança. Nesse equilíbrio é preciso que se considere três dimensões: cuidar - o desenvolvimento integral, ou seja, visando todos os aspectos da criança, depende de cuidados que envolvam afeto, aspectos biológicos e acesso a conhecimentos variados; 5 10 15 20 25 30 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 16 Unidade I brincar - ação na qual a criança significa, estabiliza aquilo que aprende nas diversas esferas do conhecimento; aprender em situações orientadas - interação, diversidade, individualidade, aprendizagem significativa, conhecimentos prévios, resolução de problemas, proximidade com práticas sociais reais, crianças com necessidades especiais. O professor de educação infantil Perfil profissional: competência polivalente. Organização do RCNEI Organização por idades: de zero a três anos e de quatro a seis anos. Organização em âmbitos e eixos: - âmbito de formação pessoal e social (experiências que favorecem a construção do sujeito, da identidade e da autonomia); - âmbito de conhecimento de mundo (eixos de trabalho: movimento, artes visuais, música, linguagem oral e escrita, natureza e sociedade e matemática). Componentes curriculares: - objetivos: definidos em termos de capacidades e não de comportamentos; - conteúdos: conceituais (dependem das experiências), procedimentais (saber fazer) e atitudinais (valores- normas-atitudes); - organização dos conteúdos por blocos (integração dos conteúdos mesmo que sejam de eixos diferentes): Retomando: O que significa ser polivalente? Esse termo já foi explicado anteriormente. Você se lembra? 5 10 15 20 25 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 17 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL • seleção de conteúdos (desenvolvimento das capacidades de forma significativa); • integração dos conteúdos (integrados em um assunto). - orientações didáticas; - organização do tempo: • atividades permanentes (rotina, brincadeira, artes, roda de conversa); • sequência de atividades (etapas de trabalho); • projetos de trabalho (partem de um problema – questionamento). - organização do espaço e seleção dos materiais (o espaço é arranjado de acordo com a necessidade do trabalho – a aprendizagem transcende o espaço da sala de aula); - observação, registro e avaliação formativa - promover a auto-estima da criança. É importante registrar o trabalho cotidiano da escola de educação infantil para que o professor tenha documentadas as observações acerca dos progressos, sucessos e insucessos das crianças, objetivando avaliar seu planejamento, se as atividades propostas foram interessantes e promoveram aprendizagens significativas às crianças, se contribuíram para valorizar o desempenho dos alunos, tornando-os confiantes de suas capacidades e elevando sua auto-estima. Objetivos gerais da educação infantil • autoimagem positiva A criança que possui uma imagem positiva de si mesma sente mais segurança para enfrentar desafios e obstáculos, o que por consequência, facilita sua aprendizagem; 5 10 15 20 25 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 18 Unidade I • potencialidades e limites É importante que o professor mostre às crianças que é perfeitamente natural que algumas delas tenham mais facilidades para certas atividades e limitações para outras, dependendo das habilidades mais ou menos desenvolvidas pelas pessoas; • estabelecer vínculos afetivos O vínculo afetivo dentro do grupo, entre as crianças e entre as crianças e os adultos é condição para o desenvolvimento da confiança entre seus integrantes; • ampliar relações sociais (respeito à diversidade) Aceitar diferenças de qualquer tipo é condição para participar de uma sociedade; • transformar o ambiente (conservação) Cuidar do ambiente que todos usam é um exercício de cidadania; • expressar sentimentos e ideias A criança que tem liberdade de expressão é mais segura em suas relações sociais e adquire conhecimentos com essa comunicação; • utilizar diferentes linguagens Ao utilizar diferentes formas de expressar ideias e sentimentos a criança aumenta as suas possibilidades de comunicação, já que cada indivíduo tem suas preferências de linguagem; • conhecer manifestações culturais Ao conhecer vários tipos de culturas, das quais as pessoas são pertencentes, a criança passa a entender e a respeitar suas manifestações específicas. 5 10 15 20 25 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 19 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL A instituição e o projeto educativo Condições externas - características socioculturais da comunidade. Condições internas - ambiente institucional - (cooperação e respeito entre os adultos). •−formação do coletivo institucional - (integração da equipe); •−espaço para a formação continuada; •−espaço físico e recursos materiais (deve haver um mínimo necessário em espaço e recursos materiais suficientes ao desenvolvimento do trabalho); •−versatilidade do espaço (o espaço se modifica para atender às necessidades do grupo); •−os recursos materiais (adequados à idade e ao espaço existente); •−acessibilidade dos materiais (as crianças precisam participar da organização física da escola); •−segurança do espaço e dos materiais; •−critérios para a formação de grupos de crianças (idade, aquisição de certas habilidades, como por exemplo o uso de banheiro); •−organização do tempo; •−ambiente de cuidados; •−parceria com as famílias; •−respeito às estruturas familiares (as famílias são compostas de várias formas); 5 10 15 20 25 Re vi s; ao A m an da D ia gr am aç ão : L éo 0 8/ 06 /0 9 - 20 Unidade I •−acolhimento das diferentes culturas, valores e crenças sobre a educação da criança; •−estabelecimento de canais de comunicação; •−inclusão do conhecimento familiar no trabalho educativo; •−acolhimento das famílias e crianças na instituição (entrada, os primeiros dias); •−remanejamento de crianças, substituição de professores, mudança de escola (cuidado ao trocar a criança de grupo ou substituir professores); •−acolhimento de famílias com necessidades especiais. 5 10
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