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Filosofia e Dimensões Historicas da Ed Fisica LT 1.docx

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1 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA Esta disciplina investiga o surgimento das manifestações da cultura do movimento do corpo humano e o crescimento e desenvolvimento destas manifestações em diferentes períodos da história. Interpreta as influências da atividade física nas diferentes culturas e sociedades.
O que é História? Há milhares de anos os seres humanos se organizavam em pequenos grupos, com pouco contato entre si. Viviam da caça, da pesca e da coleta, deslocavam-se atrás desses recursos naturais e tinham poucos objetos. Todos os grupos eram pouco numerosos, porque seu modo de vida não permitia, pois, se sua população crescesse muito, faltariam recursos e os deslocamentos seriam dificultados (VICENTINO; DORIGO, 2013).
a História não pode ser feita sem documentos escritos. Recentemente, os especialistas reconheceram a importância dos registros não escritos como fontes históricas – são eles pinturas, esculturas, relatos orais e objetos.
No entanto, convencionou-se que o termo Pré-História se refere ao período da humanidade, envolvendo milhares de anos, desde o seu surgimento até a consolidação da escrita. Já a denominada História, embasada por documentos escritos, tem cerca de 6 mil anos (VICENTINO; DORIGO, 2013).
É importante lembrar que a construção da história se dá a partir de documentos encontrados e selecionados, através de relatos, observações e histórias de vida.
A Filosofia é um método de aquisição do conhecimento que busca, de forma racional, encontrar a verdade ou se aproximar o mais perto possível dela. A metodologia filosófica usa a discussão, o pensamento e a crítica como elementos para a construção do saber.
O pensamento filosófico não busca estabelecer uma verdade absoluta, mas discutir as verdades possíveis a respeito de determinado assunto. A dialética ampara essa dualidade, na qual pensamentos opostos ou complementares podem coexistir em busca de um entendimento amplo de um fato.
A IMPORTÂNCIA DAS HABILIDADES MOTORAS NOS POVOS ANTIGOS
No decorrer de um extenso período de adaptação e evolução que durou milhões de anos, os hominídeos foram desenvolvendo mais habilidades motoras e maior nível de complexidade do sistema nervoso, aumentando consideravelmente sua capacidade cognitiva. O cérebro, mais complexo, incrementou a capacidade de raciocínio, o que permitiu uma capacidade maior de manipular armas e ferramentas, dando ao homem grande vantagem perante seus predadores. As habilidades de manipulação, associadas à maior cognição, levaram ao desenvolvimento de tecnologias que, de forma crescente, permitiram criar soluções cada vez mais elaboradas para a alimentação e a sobrevivência (VICENTINO; DORIGO, 2013).
As pinturas encontradas nas cavernas relatam muito sobre os hábitos, costumes e história dos grupamentos humanos do período Paleolítico. Elas são denominadas pinturas rupestres. Atualmente, esses achados são considerados importantes evidências históricas para determinar os hábitos e a cultura de populações antigas. Cenas de caça, pesca, rituais, danças e brincadeiras são exemplo de relatos visuais de como esses povos viviam milhares de anos atrás. Através desses relatos, podemos perceber a importância da motricidade humana em seus primórdios (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Cerca de 10 mil anos atrás o homem passou por um período de grande mudança em seu comportamento. A Revolução Agrícola foi a descoberta do plantio como recurso para a obtenção de alimentos. Este recurso fixou mais o homem em um mesmo local, pois antes a vida era nômade e, quando a caça ficava escassa, o grupo migrava para outra região. O plantio gerou um excedente de produção, que alavancou um grande aumento da população humana (SANTOS, 1994).
No entanto, a fixação em um só lugar e o acúmulo de recursos trouxe problemas para o homem. A condição de fartura atraía a cobiça de outros grupos, que passaram a saquear as comunidades agrícolas. A necessidade de proteger seu grupo, sua lavoura e seus animais levou o homem a intensificar sua preparação guerreira. A destreza humana para manipular armas, que a princípio eram usadas na caça, passou a ser aperfeiçoada com o objetivo de defender os territórios de inimigos. Surge então o treinamento do físico para a guerra, lançamentos, arco e flecha, marchas e lutas (SANTOS, 1994).
A atividade física nas primeiras civilizações
A civilização é o resultado do trabalho humano para transformar a natureza. Refere-se às organizações feitas pelo homem para estruturar a sociedade, a distribuição de papéis, as relações políticas e a simbologia de um povo. Nesse sentido, o termo civilização não se refere a uma escala evolutiva tecnológica, pois toda sociedade humana possui seu tipo de civilização. É bastante equivocada a concepção de que existam povos primitivos e povos civilizados (VICENTINO; DORIGO, 2013).
O conceito de civilização nasce junto com a fundação das primeiras cidades na Mesopotâmia e no Egito, cerca de 5 mil anos a.C. Os homens se agruparam em grandes comunidades devido à necessidade de realizar grandes empreendimentos (diques, barragens, muralhas) para controlar a produção agrícola.
Nas primeiras civilizações dos povos antigos, a prática de atividade física humana representava quase toda a energia gasta para sobrevivência, produção de alimentos e atividade sociais. De forma geral, o homem usava o físico com as seguintes funções e objetivos:
Subsistência 
Atividades voltadas para a caça, a pesca, a fuga, a defesa e o trabalho braçal agrícola ou urbano.
Cerimônias sagradas
Nos primórdios da civilização, o homem ainda não dominava o pensamento racional e abstrato. Assim, delegava a feitos divinos todos aqueles fenômenos que não podia explicar, principalmente aqueles relacionados com as forças da natureza. As danças e os jogos eram componentes essenciais dos rituais sagrados, eram pontes que ligavam os homens aos deuses da natureza. De forma geral, essas atividades eram seguidas de sacrifícios, muitas vezes humanos, para homenagear ou aclamar os deuses.
Preparação guerreira
Os povos antigos passaram a ter maior envolvimento em conflitos bélicos após a sua fixação no solo com o advento da Revolução Agrícola. Os povos vizinhos ou nômades passaram a cobiçar suas terras e riquezas, atacando vilarejos e comunidades. O treinamento fez-se necessário para aperfeiçoar as destrezas dos guerreiros, que a princípio usavam suas habilidades motoras e capacidade física apenas para caçar (corrida, lançamentos e saltos). Na guerra, aquele que fosse mais eficiente sobrevivia. A oportunidade de errar não era mais oferecida; qualquer erro na pontaria poderia significar sua própria morte.
Jogos, brincadeiras e educação
Os xavante, índios radicados no Mato Grosso do Sul, apreciam as lutas corporais wa’i e as corridas de revezamento com toras de buriti, chamadas uiwede. Elas incitam rivalidades amistosas entre os jovens, cultivando qualidades muito importantes para o tradicional estilo de vida xavante: a força e a resistência físicas.
Povos antigos foram dominados pelos europeus não por serem menos evoluídos, mas por terem menos recursos militares. Alguns povos tinham sistemas sociais mais organizados do que os europeus.
O sedentarismo na sociedade contemporânea
Nas civilizações contemporâneas, a atividade física humana não é mais uma ferramenta essencial à sobrevivência, pois os meios produtivos apresentam-se automatizados, eletrônicos, com fontes de energia fóssil (petróleo) elétrica, quando não atômica. O homem não precisa mais de seu corpo para se locomover – automóveis, motocicletas e elevadores cumprem melhor o papel. A comida não tem mais que ser caçada – está pronta para o consumo, enlatada, ensacada, industrializada.
A preparação guerreira ainda usa o treinamento do corpo como instrumento de combate, apesar de a tecnologia bélica reduzir cada vez mais a presença do homem no local de combate (mísseis inteligentes, veículos blindados, aviões etc.). Outra questão importante é o fato de apenas uma pequena parcela da população participar do contingente militaratualmente. A guerra não é mais uma constante para todos os países como nos tempos antigos. Atualmente, acordos diplomáticos e alianças estratégicas (econômicas e políticas) reduziram as guerras.
Os jogos e brincadeiras continuam assumindo o papel educacional na vida contemporânea. Atividades físicas resistem ao tempo passando de geração para geração como importante ferramenta de socialização entre os homens, muitas vezes tornando-se as principais manifestações corporais do mundo atual.
No entanto, as necessidades fisiológicas e metabólicas do ser humano continuam bastante parecidas com as de nossos antepassados caçadores e lavradores, que usavam, de forma árdua, o esforço físico para garantir a sobrevivência. O organismo humano possui metabolismo bastante econômico e delicado. O consumo de calorias em quantidade superior ao gasto energético diário, associado à perda de massa magra gerada pelo sedentarismo, tem levado a humanidade a uma condição generalizada de sobrepeso e obesidade.
A obesidade associada ao consumo alimentar inadequado é responsável pelo desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), que são hoje as maiores responsáveis pelas causas de morte no mundo. A partir da obesidade e do quadro de sedentarismo, aumenta a incidência de doenças como diabetes mellitus II, hipertensão arterial, dislipidemias (colesterol e triglicérides), aterosclerose, câncer de mama, câncer de colo do útero e os casos de morte por mal súbito, infarto agudo do miocárdio.
A cultura mundial do fitness é alavancada por dois fatores principais: as questões da saúde, de forma preventiva ou remediada, e a estética ditada por padrões inatingíveis de corpos construídos e amplamente divulgados pela mídia.
Reflita: o que podemos aprender com os homens antigos que habitavam o mundo antes do processo de civilização, antes do alto desenvolvimento tecnológico? Podemos olhar para seus hábitos, suas necessidades e questionar as capacidades de movimento do corpo humano. O homem antigo precisava correr, saltar, escalar, levantar e carregar pesos, nadar, arremessar, entre outras habilidades vigorosas. Todas essas ações eram necessárias para a sobrevivência diária. Havia a necessidade de muito esforço físico e muito gasto de energia para sobrevivência em um mundo hostil onde havia escassez de alimento. Essas condições geraram adaptações físicas e metabólicas no corpo humano, deixando um registro genético. Os hábitos motores e alimentares do mundo cotidiano são incompatíveis com a programação genética metabólica que herdamos.
Substituímos a alegria de correr, nadar, dançar e brincar, usando plenamente nossos corpos, por lazeres virtuais que geram sensações simulando experiências reais, no videogame, celulares, internet, televisão e filmes. Como resultado, estamos cada vez mais parados e cada vez mais alimentados, confinados como animais na engorda; somos mantidos conectados em aparelhos do mundo virtual e induzidos a consumir guloseimas cada vez mais deliciosas.
OS EXERCÍCIOS NO MUNDO ANTIGO 
A civilização egípcia e os exercícios físicos
A sociedade egípcia era formada em sua base por uma grande população de camponeses e artesãos, que pagavam tributos e prestavam serviços compulsórios ao faraó nas plantações, obras e construções públicas. Os escravos também faziam parte dessa base de trabalho e eram constituídos por povos capturados em guerras. A história do Egito pode ser dividida em três grandes períodos: o Antigo Império (c. 3200 a.C.-2300 a.C.), o Médio Império (c. 2000 a.C.-1580 a.C.) e o Novo Império (c. 1580 a.C.-525 a.C.). Nesses períodos, o Egito foi governado por faraós de 26 dinastias. O declínio dessa imponente civilização se deu com a invasão dos persas, em 525 a.C. Em sua história mais recente, o Egito foi dominado por vários povos, tornando-se província do Império Persa, território ocupado por macedônios, romanos, árabes, turcos e ingleses (VICENTINO; DORIGO, 2013).
3.1.1 Os exercícios físicos no Egito Antigo
As práticas de exercícios, jogos e disputas atléticas no Egito se mostram bastante diversas, e existe uma grande quantidade de pinturas e registros destas práticas em ruínas e sítios arqueológicos estudados na era contemporânea. São encontrados afrescos com a representação de exercícios de ginástica, lutas e exercícios individuais. No Egito Antigo não se tem registro de jogos coletivos ou disputas de torneios grandiosos; as práticas visavam à preparação guerreira, apresentações individuais e entretenimento (RAMOS, 1982).
Em exercícios individuais, são registradas imagens de arremesso, corridas, levantamento de pesos e natação. Muitos faraós eram adeptos da corrida e registraram isso em suas tumbas, entre eles Seti I e Ramsés II. Os egípcios também apreciavam apresentações de lutas – entre elas, existem registros de luta livre, boxe e esgrima.
A história egípcia nos mostra que quanto maior a discrepância social e maior a centralização do poder, menos participativo e criativo é o povo. Faça uma analogia com as formas de poder presentes no mundo contemporâneo e reflita sobre como os exercícios físicos e o esporte são dirigidos em função da concentração de poder.
3.2 Os exercícios físicos na Grécia Antiga
Esses povos eram dedicados à navegação, às relações comerciais e ao combate. Vieram a desenvolver um povo responsável pela estruturação da cultura ocidental. Devido ao grande aumento populacional e à escassez de terras férteis na Grécia, a população iniciou um processo de expansão no Mediterrâneo.
3.2.2 A pólis de Esparta
Esparta constituiu-se como cidade guerreira, com política monárquica autocrática, tendo sido líder de cidades vizinhas no Peloponeso, com quem fez alianças comerciais e militares. Em Esparta, o monopólio político e religioso estava nas mãos da elite espartana, formada por cidadãos guerreiros. A organização monárquica de Esparta evoluiu para uma condição oligárquica. A cidade tinha dois reis, um com funções militares e outro com direcionamento político e administrativo. Ambos se submetiam a dois conselhos, a Apela, assembleia de guerreiros, e a Gerúsia, conselho de anciãos (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Esparta manteve-se estável em suas tradições e regime oligárquico. Não sofreu grande expansão populacional, o que lhe conferiu controle econômico, mas também ocasionou ruína em períodos de grandes guerras, quando a baixa de homens adultos era grande em combate. A sociedade espartana, menos dinâmica que as demais, permaneceria, assim, oligárquica e aristocrática, não sofrendo influência política democrática, sendo mais estável do ponto de vista político e menos dinâmica do ponto de vista social, característica proporcionada pela falta de mobilidade social, pois os hilotas (servos) e periecos artesãos eram visto como castas inferiores e não se misturavam aos espartanos (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Os espartanos, altamente militarizados, mantiveram o poder pela força. Apesar de serem numericamente inferiores, eles possuíam as melhores terras e mais riquezas. Os filhos dos espartanos eram educados pela pátria a partir dos 7 anos de idade, quando passavam a pertencer à cidade e não mais à sua família. A rigorosa educação militar se desenvolvia arduamente até os 18 anos de idade, quando se iniciava o período de serviço militar. Ao completar 30 anos, o espartano era levado à cidade para se casar e ter filhos, mas continuava a servir a pátria com suas habilidades militares até completar 60 anos, quando era admitido na Gerúsia, conselho de anciãos, e dispensado do serviço militar. Poucos chegavam a ter esta honra (VICENTINO; DORIGO, 2013).
3.2.3 A pólis de Atenas
Situada na região continental da Grécia (Ática), possuía posição estratégica em função de seu porto e de uma extensa muralha construída para proteger e ligar a cidade ao porto (VICENTINO; DORIGO, 2013).
O crescente quadro de instabilidade levou vários legisladores atenienses a fazerem propostas para superar os conflitos e atenuar as tensões sociais. Os mais importantes foram Drácon, que organizou etornou público um registro escrito das leis, e Sólon, que eliminou a escravidão por dívidas, retroagindo a anistia aos devedores, dividiu a sociedade de acordo com a renda de cada indivíduo, possibilitando a ascensão social, e criou a Bulé, conselho formado por quatrocentos membros do povo com funções administrativas e legislativas. As leis criadas pela Bulé eram levadas ao veredito da Eclésia, assembleia popular. Sólon foi responsável pela estruturação do regime democrático (demo: povo; cratos: poder). No entanto, as reformas propostas por Sólon desagradaram a elite eupátrida e intensificaram as lutas sociais, que levaram a um período de líderes autocráticos tiranos (MANFREDI, 2008).
Em meados de 500 a.C., Atenas sofre novo processo de reordenação democrática pelas mãos do estadista Clístenes (c. 570 a.C.-508 a.C.), que destituiu a tirania e fez reformas políticas democráticas e pacificadoras. O governante dividiu os atenienses em dez tribos, formadas de acordo com o território em que residiam. A Bulé passou a ter cinquenta representantes por tribo, sendo a presidência assumida de forma alternada por membros de todas as tribos, por períodos iguais. A Eclésia passou a ter maiores poderes legisladores. Clístenes criou ainda o ostracismo, um mecanismo que condenava ao exílio de dez anos todo cidadão rico e poderoso o suficiente para colocar em risco a democracia. A regência de Clístenes marca o Período Clássico da Grécia (MANFREDI, 2008).
3.2.4 Período Clássico (séculos V a.C.-IV a.C.)
O Período Clássico foi marcado por grandes guerras contra os persas e entre as cidades gregas. Também foi um período de grande florescência cultural, com grande desenvolvimento da filosofia, das ciências e das artes. Grandes pensadores, como Sócrates, Platão e Aristóteles, viveram nesse período, que é considerado o apogeu da civilização grega antiga, deixando um imenso legado para a constituição da cultura ocidental contemporânea. A primeira investida dos persas sobre a Grécia ocorreu no episódio que ficou conhecido como Guerras Médicas, Entre 490 a.C. e 479 a.C., liderados por os persas desembarcaram na Grécia, mas foram derrotados pelo Exército ateniense na Planície de Maratona. Após essa guerra, os atenienses reforçaram sua frota naval. A segunda ofensiva persa iniciou-se em 480 a.C., quando o imperador Xerxes comandou aproximadamente 100 mil contra a Grécia. Os gregos, em menor número, uniram-se contra os invasores, mas só conseguiram retardar o avanço persa no Desfiladeiro de Termópilas. Os persas conseguiram invadir e saquear Atenas (MANFREDI, 2008).
Pelo mar, Dátis ordenou que a frota persa rumasse para Atenas, que estava pouco protegida, pois a maior parte das tropas gregas estava em Maratona. A ideia era fazer o regimento ateniense pensar que seu Exército havia sido esmagado pelos persas, obrigando a abertura dos portões e a rendição da cidade. No entanto, Milcíades chamou o mensageiro Filípides, que havia lutado a manhã toda ao lado de seus companheiros, e ordenou que levasse a mensagem da vitória grega até Atenas, evitando que se rendessem aos persas (MANFREDI, 2008). Filípides livrou-se de seu armamento pesado e de suas vestes e correu imediatamente para avisar os atenienses. Ele percorreu, em poucas horas, a distância de cerca de 40 quilômetros que separa Maratona de Atenas, chegando antes da frota persa. Ao chegar, esgotado, gritou: “Nike! Nike! (Vitória! Vitória!)” e caiu morto. Os atenienses entenderam o recado e fecharam os portões da cidade, reforçando as muralhas e acabando com a farsa persa. Os persas recuaram (MANFREDI, 2008). O feito heroico de Filípides foi imortalizado pelo renomado historiador grego Herótodo. Em 1896, o barão Pierre de Coubertin restaurou a realização dos Jogos Olímpicos. Na ocasião, a sede foi Atenas. Para homenagear o feito de Filípides, Coubertin idealizou uma prova de corrida com 42 quilômetros e a nomeou de Maratona. Para abrilhantar ainda mais o momento, o campeão da primeira Maratona foi Spiridon Louis, um pastor de ovelhas grego. Atualmente, a Maratona é disputada a cada quatro anos por ocasião dos Jogos Olímpicos e em outras inúmeras realizações esportivas por todo o planeta (MANFREDI, 2008).
As frequentes incursões dos persas contra a Grécia fizeram com que as cidades-estados gregas firmassem alianças. Após a batalha naval da Salamina, os gregos vitoriosos selaram a aliança conhecida como Liga de Delos.
3.2.5 Período Helenístico (séculos IV a.C.-II a.C.)
O período iniciado com a conquista da Grécia pela Macedônia, em 338 a.C., foi conhecido como Período Helenístico e se estendeu até o século II a.C. Inicialmente governados por Felipe II, os macedônios não se limitaram à conquista da Grécia e expandiram suas conquistas para o Oriente. Sob o comando de Alexandre, o Grande, filho de Felipe II, o Império Macedônio alcançou vasto território (VICENTINO; DORIGO, 2013).
3.2.6 Filosofia, corpo e exercício na Grécia Antiga
O corpo era um elemento da existência humana bastante valorizado e cultuado na Grécia Antiga. Por diversos fatores e motivos, os gregos exercitavam o corpo, chegando a venerá-lo. Os pensadores gregos buscavam dissociar o corpo da alma. Eles acreditavam ser entidades distintas, que viveriam em equilíbrio durante a existência humana. O corpo representava o mundo material, suas imperfeições, instabilidades e degradações, ao passo que eram sensíveis aos mais diversos problemas enfrentados pelo corpo no decorrer da vida, sendo o mais evidente o fato de o corpo perecer, definhar com o passar dos anos (CHAUÍ, 2000). A alma, por sua vez, representava o mundo das ideias; aliada à mente, seria uma entidade perfeita, eterna, que se aperfeiçoava cada vez mais com o passar dos anos. Era a alma a chama da vida humana, que animava o corpo. Já a mente seria a morada dos pensamentos e das ideias, onde tudo poderia ser perfeito.
Sócrates (470-399 a.C.) pensava na perspectiva do autoconhecimento. A consciência do corpo e da alma levava à evolução do ser humano (“conhece-te a ti mesmo”). Sócrates acreditava no equilíbrio entre corpo, alma e mente, sendo que nenhuma dessas partes poderia ser atingida sem que as demais também sofressem. Seu pensamento estimulou a assimilação e prescrição da ginástica médica, que buscava a saúde do corpo e o equilíbrio do homem como um todo. O pensamento de Sócrates a respeito do corpo pode ser perfeitamente adequado à máxima utilizada pela medicina romana, que, por sua vez, foi inspirada na Grécia: “mens sana in corpore sano” (CHAUÍ, 2000).
Platão (427-347 a.C.) foi discípulo de Sócrates e seu verdadeiro nome era Aristócles, em uma homenagem ao seu avô. Platos significa largura e é quase certo que seu apelido veio de sua constituição robusta, ombros e frontes largos, um porte físico forte e vigoroso, que o fez receber homenagens por seus feitos atléticos na juventude. Platão defendia a alma como entidade perfeita e eterna, ao contrário do corpo, o qual considerava apenas a morada mundana e imperfeita da alma (CHAUÍ, 2000).
A veneração pelo corpo era refletida na construção mitológica da Grécia Antiga. Os gregos cultuavam uma centena de deuses antropomórficos, aos quais atribuíam histórias e responsabilidades que explicavam os acontecimentos terrenos. O sucesso nas guerras era atribuído ao deus Ares, a proteção às embarcações era solicitada a Poseidon (deus dos mares), as paixões eram atribuídas aos encantos da deusa Afrodite (RUBIO, 2002).
Para homenagear os deuses, os gregos realizavam disputas atléticas, denominadas jogos, onde os mortais tentavam copiar os feitos dos deuses. Nesses jogos, os campeões recebiam o título de semideuses e recebiam o status de heróis sobre-humanos. A preparação do físico para a participação nos jogos era uma tradição e envolvia os jovens desde a infância (RUBIO, 2002).
Além da perspectiva religiosa, a preparação do corpo viril, robusto e enérgico era justificada pela postura agonística (de enfrentamento) do grego. Em função das constantes guerras enfrentadas pelos povos gregos, a cultura helênicacunhou um importante valor moral denominado aretê. O aretê tinha por característica valorizar a coragem e a prontidão do grego para o combate. Fugir, esconder-se, acovardar-se ou mesmo vacilar em uma situação de confronto não era tolerado dentro da ética grega antiga. Para isso, tanto o corpo quanto o espírito do garoto eram forjados desde cedo (RUBIO, 2002).
3.2.7 A cultura da Grécia Antiga e o exercício
Os helenos, como eram chamados os gregos, tinham cultura similar, falavam a mesma língua com dialetos diferentes e adoravam as mesmas divindades antropomórficas para as quais erguiam suntuosos templos, estátuas, santuários e oráculos, sendo o mais famoso e temido de todos o Oráculo de Delfos, dedicado ao deus Apolo. Delfos era consultado por líderes de toda a Grécia antes de se tomar qualquer decisão determinante para o destino das cidades-estados. O oráculo orientava os ilustres devotos através de uma pitonisa (sacerdotisa de Apolo), que supostamente recebia as orientações do próprio deus (GODOY, 1996).
Outro importante santuário grego era a cidade sagrada de Olímpia, um conjunto de templos dedicados a Zeus, deus supremo do panteão grego, onde eram realizados, a cada quatro anos, os Jogos Olímpicos da Antiguidade (GODOY, 1996).
Devido a este convívio próximo com a guerra, o grego desenvolveu um espírito de combatividade bastante aguçado. O espírito de enfrentamento franco e direto, o desejo pelo confronto, era denominado aretê. Esse valor era praticado em jogos e no constante treinamento desenvolvido para forjar o corpo e o espírito agonista (RUBIO, 2002).
O nível superior de violência física nos jogos antigos correspondia às características da sociedade grega antiga. Esses pressupostos determinavam uma postura de combate franca, incisiva e consequentemente mais violenta (ELIAS; DUNNING, 1992).
Esparta e Atenas foram as cidades-estados gregas que primeiro delinearam uma relação de corpo e movimento com critérios pedagógicos. Esparta era uma pólis guerreira por excelência e tinha por objetivo aumentar seu poder e defender-se dos perigos e ameaças dos povos vizinhos. Era dotada do melhor Exército da Grécia e educava seus jovens através do exercício físico dirigido à atividade guerreira, sob o ideal do cidadão-soldado, educado para o Ministério das Armas (RAMOS, 1982).
A educação em Atenas tinha por objetivo primordial a formação geral do indivíduo e, apesar de ter uma postura mais aberta, em função da estruturação política democrática ocorrida por volta do ano de 500 a.C., também utilizava os exercícios físicos como preparação militar (GODOY, 1996).
O fato é que, além de a formação militar exigir do grego um rigoroso preparo do corpo, outro senso de valor moral exigia cuidados corporais bastante sérios. Para o grego, o senso de harmonia e estética era algo muito importante, a beleza era uma virtude, o equilíbrio e a precisão das formas eram admiráveis. O mesmo pensamento recaía sobre o corpo, que deveria exemplarmente manter-se belo, forte e funcional – kalokagathia (RUBIO, 2001).
3.2.8 Os jogos na Grécia Antiga
Inspirados nos heróis, os gregos organizavam grandes festas pan-helênicas, que reuniam gregos vindos de toda a Hélade nos grandes santuários. As festas religiosas contemplavam cerimônias, sacrifícios e grandes concursos atléticos, os jogos, realizados em honra aos deuses (GODOY, 1996).
Os jogos mais célebres da Grécia Antiga foram: os Jogos Olímpicos, realizados em Olímpia, em honra de Zeus; os Jogos Píticos, realizados em Delfos, em honra de Apolo; os Jogos Nemaicos, em Nemeia, em honra de Zeus; e os Jogos Ístmicos, realizados próximo a Corinto, em honra de Poseidon (GODOY, 1996).
Zeus era o deus da justiça e da razão, da ordem e da autoridade, depositário das leis do mundo e pai universal. Para homenagear Zeus, a cada quatro anos eram promovidos os Jogos Olímpicos, em Olímpia, local onde esse deus era especialmente venerado. Esses jogos eram soberanos sobre todas as outras festas religiosas na Grécia Antiga e foram realizados sem interrupção durante 12 séculos (GODOY, 1996).
A cada quatro anos, embaixadores sagrados eram enviados a todas as partes da Grécia Antiga para anunciar a realização dos Jogos Olímpicos, proclamando a trégua sagrada: durante os jogos, as guerras e conflitos entre as cidades–estados eram suspensos e todos que se dirigiam a Olímpia eram invioláveis. Era proibido entrar armado na cidade. O Senado olímpico cumpria rigorosamente a carta de proclamação dos jogos: “Que o mundo esteja livre do crime e do ruído das armas” (GODOY, 1996).
A premiação dos atletas ocorria durante a cerimônia de encerramento dos jogos, que era realizada no bosque sagrado em frente ao templo de Zeus. Na cerimônia, os vencedores eram aclamados como olimpiônicos, tinham seu nome, de seu pai e de sua cidade divulgados e recebiam a coroa de ramos de oliveira. Ao final da premiação, os vencedores eram conduzidos para dentro do templo, onde agradeciam suas graças sob os pés da estátua de Zeus. Esse momento representava a maior ambição dos atletas, pois, sob a condição de olimpiônicos, eram aproximados dos deuses (GODOY, 1996).
3.2.9 Milo de Crotona: a história de um herói grego
A história do treinamento físico não é completa sem a citação de Milo de Crotona, herói dos jogos gregos antigos. Milo detinha extraordinária força, o que o tornou um mito. Sua modalidade era a luta, o pancrácio (pan – pleno; cratus – poder), luta em que foi hegemônico, vencendo inúmeras competições e recebendo cinco títulos dos Jogos Olímpicos Antigos – em 532, 528, 524, 520 e 516 a.C., sem contar os jogos de 540 a.C., em que ganhou na categoria infantil. A derrota de Milo para Timotheos, que marcou o fim da sua legendária carreira, aconteceu em 512 a.C., na 67ª Olimpíada. A luta se desenvolveu por horas sem que os atletas conseguissem anular seu oponente, até que a jovialidade de Timotheos prevaleceu e Milo, com mais de 40 anos, foi derrubado três vezes ao solo (GODOY, 1996).
O treinamento de Milo abrangia exercícios como pesos, luta e o exercício de carregar diariamente um bezerro durante os quatros anos que separavam uma edição e outra dos Jogos Olímpicos. Este hábito estabeleceu as fundações de um dos principais princípios do treinamento de força, o da aplicação da sobrecarga progressiva. Milo desenvolveu sua força de forma descomunal devido ao seu treinamento, uma vez que, próximo à competição, o touro que era carregado por algumas centenas de metros pesava várias centenas de quilos (STOJILJKOVIC’ et al., 2013).
Seu método de treinamento foi descrito em várias lendas gregas antigas, que também relatam a dieta de Milo, que seria capaz de ingerir nove quilos de carne, nove quilos de pão e oito litros de vinho diariamente. A lenda diz que Milo carregou sua estátua de bronze até o santuário de Olímpia, onde estava o templo sagrado de Zeus e onde eram realizados os Jogos Olímpicos (STOJILJKOVIC’ et al., 2013).
Devido a sua personalidade forte e sua soberba, Milo teria provocado sua própria morte. Diz a lenda que, certo dia, ao andar por um bosque afastado, Milo teria avistado uma árvore rachada ao meio por ter sido atingida por um raio. Ciente de sua força, Milo teria tentado acabar de quebrar a árvore com as próprias mãos e acabou ficando preso na fissura e, sem ninguém para socorrê-lo, foi devorado por lobos (GODOY, 1996).
3.2.10 A mulher na Grécia Antiga
O tratamento dado às mulheres gregas é diferente em função da cidade-estado em que viviam: as mulheres atenienses viviam reclusas em suas casas, enquanto as mulheres espartanas tinham uma vida pública mais permissiva, podiam se exercitar, eram livres para circular na cidade e recebiam a educação estatal destinada a atender às necessidades do seu meio social. Estas mulheres desempenhavam papéis sociais importantes, tinham como objetivo gerar filhos robustos e corajosos. Já as mulheres atenienses se mantinham confinadas em sua casa, cuidando dos afazeres do lar, como tecer, fabricar utensílios de cerâmica e cuidar dos filhos (VICENTINO; DORIGO,2013).
No entanto, nos jogos da deusa Hera, cujos primeiros registros datam de 200 a.C., havia a participação das mulheres, atletas jovens e solteiras em competições a cada quatro anos. As mulheres que competiam nos jogos de Hera não tinham o status de heroínas porque elas não preenchiam os requisitos dos heróis olímpicos e suas estruturas corporais e suas habilidades atléticas não remetiam às façanhas dos heróis. Suas competições eram mais simples e não exigiam o mesmo preparo físico masculino (MIRAGAYA, 2007).
Observa-se que as primeiras mulheres atletas vieram de Esparta, particularmente porque os espartanos acreditavam que as mulheres que eram saudáveis, tinham condicionamento físico e se exercitavam regularmente teriam filhos saudáveis. Inicialmente, essa filosofia de inclusão pode parecer bastante diferente da filosofia ateniense, que preconizava a domesticidade e a reclusão feminina (MIRAGAYA, 2007).
3.2.11 A decadência dos jogos gregos
Por volta do século V a.C., os povos gregos começam a entrar em declínio devido às sucessivas guerras travadas entre si. A Guerra do Peloponeso, travada longamente entre os anos de 431 a 404 a.C., foi um conflito armado entre Atenas e Esparta e seus respectivos aliados da Liga de Delos (chefiada por Atenas) e da Liga do Peloponeso (chefiada por Esparta). Esse e outros conflitos entre os povos gregos, ocorridos entre o século VI e IV a.C., fizeram com que a população declinasse, as reservas econômicas se exaurissem e as defesas do mundo grego ficassem fragilizadas, expondo a Grécia à investida de inimigos externos, como os macedônios, os persas e os romanos (GRIFI, 1989).
Em 338 a.C., Filipe II da Macedônia conquista toda a Grécia ocidental e inicia uma campanha de união dos povos gregos sob seu comando com o intuito de avançar sobre o Império Persa. Em 336 a.C., Filipe é assassinado e assume em seu lugar o seu jovem e brilhante filho Alexandre Magno (O Grande), que leva adiante a unificação da Grécia ao Império Macedônio. O jovem Alexandre, que teve educação grega sob a tutoria de Aristóteles, foi brilhante na arte da guerra e conseguiu expandir as fronteiras do Império Macedônio por grande parte da Ásia, levando consigo a cultura grega e a fundindo com a cultura oriental, fundando cidades e bibliotecas por toda a vasta extensão de seu domínio (GRIFI, 1989).
A moral, os costumes e as normas dos jogos mantiveram-se intactos durante o período de domínio macedônico, pois os macedônicos tinham aproximação cultural com os gregos, sobretudo seu líder Alexandre, grande entusiasta da cultura helênica (GRIFI, 1989).
No entanto, esse grande império não duraria muito tempo. Com a morte precoce de Alexandre Magno, em 323 a.C., aos 33 anos de idade
O clima de incertezas sob o domínio macedônico durou até o ano de 146 a.C., quando os romanos conquistaram a Grécia, anexando-a ao território de Roma e mantendo o jugo dos gregos, que poderiam ser denominados cidadãos romanos caso se submetessem às leis de Roma, pagando impostos e fornecendo soldados para o Exército romano (GODOY, 1996).
Os exercícios físicos em Roma 
3.3.1 Monarquia (da fundação de Roma ao século VI a.C.)
Roma nasceu de um pequeno povoado nas terras férteis do Lácio, região central da Península Itálica. Seu povo tem origem em vários outros povos que habitavam a região, como palatinos, sabinos, etruscos e até os gregos, que já possuíam colônias na Península Itálica e mantinham constante relacionamento comercial com os etruscos, mas as organizações políticas, no início, ocorreram no centro da Península Itálica. A cidade de Roma teria sido fundada pelos netos de Eneias, Rômulo e Remo. Eneias era um imigrante de Troia. Essa hipótese estreita a relação da história de Roma com a da Grécia Antiga (ROSTOVTZEFF, 1983).
A Monarquia Romana se refere à dinastia dos reis Tarquínios, na qual os etruscos tiveram domínio em Roma. Ao todo, foram três reis: Tarquínio, o Velho; Sérvio Túlio; e Tarquínio, o Soberbo. A sociedade estava dividida em patrícios, aristocratas e grandes proprietários de terra que possuíam privilégios políticos e religiosos. Existia uma classe de homens livres, artesãos, pequenos comerciantes, que não tinham direitos políticos, os plebeus. existiam também os escravos, formados por povos conquistados ou escravizados por endividamento, que eram em menor número nesse período (VICENTINO; DORIGO, 2013).
O rei tinha funções administrativas, judiciais e religiosas e seu poder era controlado pelo Conselho dos Anciãos, dominado pelos patrícios.
3.3.2 República (séculos VI a.C.-I a.C.)
O governo republicano foi caracterizado pelo domínio do poder administrativo, político e religioso nas mãos do Senado, que era formado de forma dominante pelos patrícios, classe aristocrata. Os governantes, magistrados, eram eleitos e tinham mandato de um ano; suas funções e decisões eram submetidas à aprovação e votação do Senado, sendo seus poderes bastante limitados. Os patrícios tinham cadeiras vitalícias no Senado, que tinha poder absoluto (VICENTINO; DORIGO, 2013).
As assembleias romanas populares (centurial, curial e tribal) reuniam-se para a nomeação dos magistrados e a ratificação das leis. O sistema político republicano era controlado pelos patrícios. No entanto, os plebeus marginalizados formavam uma classe descontente e havia um constante clima de tensão. Em 494 a.C., os plebeus, revoltados, exigiam representação política na cidade. As atividades da cidade ficaram paralisadas e a oligarquia aristocrática dos patrícios retrocedeu, sendo criados cargos de tribunos da plebe, que passavam a ser representações do povo no Senado – eleitos pelos plebeus, tinham poder de veto sobre as decisões do Senado (ROSTOVTZEFF, 1983).
Em 450 a.C. foi elaborada a Lei das Doze Tábuas, uma Constituição romana necessária, pois, desde a derrubada dos Tarquínios, as leis antigas não haviam sido substituídas. As leis passam a ser expostas no prédio do Fórum Romano, dando condições mais igualitárias para patrícios e plebeus. As tensões de classes foram uma importante mola propulsora da organização política romana, motivada também pelas transformações econômicas provocadas pela política de expansão territorial da República Romana (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Uma nova tentativa de superação da crise foi a ideia de reforma agrária, proposta pelos irmãos Tibério e Caio Graco, que exerciam o cargo de tribunos da plebe; eles sugeriram a distribuição de terras como uma forma de superar a crise, satisfazendo as necessidades da plebe empobrecida. A proposta chegou ser aprovada pelo Senado, mas não foi implementada, pois desagradava, sobretudo, aos patrícios, donos das terras. O projeto de reforma política e agrária dos irmãos Graco fracassou, e a concentração de terras nas mãos dos patrícios continuou a existir. A questão agrária continuou desencadeando tensões sociais, e outras tentativas de redistribuição de terra foram defendidas, como a de 91 a.C., por iniciativa do tribuno Marco Lívio Druso, que acabou sendo assassinado (VICENTINO; DORIGO, 2013).
No decorrer da história, o crescimento do poder militar de Roma elevou o prestígio de seus generais, que eram bem-sucedidos em campanhas de expansão de território ou em guerras para contenção de invasores. Esses generais recebiam a anuência do Senado para governar Roma como ditadores e, em meio à crise interna, controlavam os ânimos com seu carisma e poder, aliando-se aos patrícios e, em outras ocasiões, aos plebeus. Dessa forma, mantinham o equilíbrio interno em Roma assim como faziam nas fronteiras. Com o crescimento em prestígio de mais de um general, alianças foram criadas para evitar conflitos internos. Assim surgem os triunviratos. O primeiro triunvirato foi formado pelos generais Caio Júlio César, Pompeu e Crasso. Com o passar do tempo, uma rede de intrigas e disputas por poder desestabilizaram a tríplice aliança, e Júlio César, a quem era atribuída descendência divina, proclamou-se ditador e implantou medidas econômicas e administrativas, remendando um pacto em que seu podersuplantaria o poder do Senado. Em 44 a.C. foi proclamado ditador vitalício, o primeiro passo para a implantação do Império. No entanto, foi assassinado a facadas em pleno Senado (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Após a morte de Júlio César, o vazio de poder foi preenchido pelo segundo triunvirato, formado por Marco Antônio, Otávio e Lépido, originando novos confrontos. Marco Antônio arquitetou um plano para assumir o poder, assim como fizera Júlio César, mas sabia que Otávio era seu sobrinho e sucessor legal. O conflito entre os generais levou a várias batalhas, que culminaram com a morte de Marco Antônio e a proclamação de Otávio como imperador em 31 a.C. A partir dessa data, assumiu o posto de ditador com poderes especiais, sendo reeleito anualmente até que, em 27 a.C., promulgou uma nova Constituição no Senado, a qual lhe concedia o título de imperador vitalício. Foi renomeado como Otávio Augusto (divino) (ROSTOVTZEFF, 1983).
3.3.3 O Alto Império (séculos I a.C.-III d.C.)
Otávio Augusto teceu uma série de reformas e fez promulgar uma nova Constituição em Roma, concentrando os poderes em suas mãos. A partir de 27 a.C. ficou instaurado o Império em Roma. Com a diminuição do poder do Senado, ocorreu uma profunda reforma política em Roma. O imperador passou a ser cultuado como divino. O império criou uma burocracia constituída por uma nova classe privilegiada de Roma, formada pela aristocracia patrícia e pelos comerciantes enriquecidos com a expansão territorial (homens-novos). Dessa forma, Otávio distribuiu cargos e diminuiu a tensão entre as classes mais ricas de Roma. Para agradar o povo (plebeus), Otávio passou a usar com frequência a oferta de jogos públicos, espetáculos sangrentos e corridas de quadrigas (carruagens puxadas por quatro cavalos e um auriga condutor) e a doação de alimentos (pães, cotas de trigo, entre outros). A celebração de jogos não respeitava apenas o calendário religioso, mas ocorria de acordo com a conveniência do imperador. Essa política de alienação apaziguadora das populações urbanas nas cidades romana foi denominada como política do pão e circo (VICENTINO; DORIGO, 2013).
3.3.4 O Baixo Império (séculos III d.C.-V d.C.)
A partir do século III d.C., Roma entrou em uma série de crises. A economia passou a definhar, uma vez que a expansão territorial e as conquistas de novas terras estagnaram. Os recursos oriundos de riquezas, pilhagens, tributos e incorporações dos novos territórios conquistados reduziram drasticamente, ao mesmo tempo que as despesas com o grandioso Exército se manteve, assim como as despesas das cidades. A importância agora era manter as fronteiras e evitar a todo custo a invasão de inimigos e a retomada de territórios (ROSTOVTZEFF, 1983).
Sem novas conquistas, a captura de escravos reduziu drasticamente; o sistema de mão de obra escravagista passou a ser substituído por mão de obra assalariada, o que onerou muito as receitas do Império. Os elevados custos para manter as estruturas imperiais, militares e administrativas desestruturaram o poder central do imperador, reavivando os conflitos entre generais do Exército e acelerando a crise imperial (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Ao mesmo tempo que a crise econômica e militar aumentava cada vez mais, causando deserções e perda de territórios, o imperador, internamente, perdia poder e prestígio com o crescimento do cristianismo. A ética cristã privilegiava os pobres e afrontava o poder do imperador quando alegava existir apenas um Deus, senhor do céu e da terra. Na medida em que a derrocada econômica assolava o Império, cada vez mais homens livres se convertiam ao cristianismo (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Alguns imperadores tomaram medidas drásticas na tentativa de salvar o Império da crise. Diocleciano (284-305) criou o Édito Máximo, fixando os preços de mercadorias e salários. Não teve sucesso e os problemas de abastecimento aumentaram. Constantino (306-337) promulgou o Édito de Milão (313), que estabeleceu a liberdade de culto aos cristãos. Constituiu uma segunda capital para o Império, em Constantinopla (antiga Bizâncio, cidade grega), a leste e próxima ao Mar Negro, em uma parte do Império menos atingida pela crise do escravismo. Teodósio (378-395) transformou o cristianismo em religião oficial do Império (Édito de Tessalônica), nomeando a si mesmo como chefe da religião. Dividiu o Império Romano em duas partes: do Ocidente (com capital em Roma) e do Oriente (com capital em Constantinopla). No governo de Teodósio, a penetração de povos bárbaros ocorreu de forma lenta e gradual até a total queda do Império em 476 d.C. (VICENTINO; DORIGO, 2013).
3.3.5 Os exercícios físicos em Roma
No período monárquico, as atividades esportivas tiveram grande influência do povo etrusco, formador da civilização romana. Eram realizadas, predominantemente, atividades utilitárias de preparação militar: exercícios equestres, marchas, corridas, esgrima, lutas e natação. Nesse período, os jogos públicos já eram realizados em dias festivos, porém com um forte vínculo com cerimônias religiosas (RAMOS, 1982).
A construção dos grandes anfiteatros e arenas para combates e jogos ocorreu ainda nessa fase como iniciativa para apaziguar os conflitos entre o povo, representado pelos plebeus, e a aristocracia romana, representada pelos patrícios (GRIFI, 1989).
Na fase republicana, As atividades físicas eram, ainda, praticadas sob forte preceito militar; no entanto, devido à expansão territorial e à miscigenação cultural, a prática atlética sofreu influência grega e algumas atividades higiênicas e esportivas foram agregadas (RAMOS, 1982).
No período imperial, a realização dos jogos públicos atingiu sua fase áurea. Durante o ano chegava a ocorrer dois dias de jogos e diversões para cada dia de trabalho. A prática de atividades físicas e rigorosos treinamentos era limitada aos soldados do poderoso Exército romano e aos escravos e profissionais que disputavam os jogos públicos (RAMOS, 1982).
A realização dos jogos públicos foi bastante importante como fator de política interna do Império. Nos numerosos dias de jogos eram distribuídas cotas de pão à população. Assim, a política do pão e circo foi responsável pela estabilidade interna do Império, alienando as massas, evitando levantes e insurreições populares (RAMOS, 1982).
As atividades realizadas nos anfiteatros, grandes arenas que comportavam até 60 mil pessoas, tinham maior grau de violência. Ali eram desenvolvidos os Jogos Gladiadores, em que guerreiros fortemente armados combatiam até a morte. Também se realizavam nesses recintos as venações, combates entre feras selvagens ou entre gladiadores e feras, bem como batalhas navais simuladas. Outra atividade espetacular e cruel realizada nos anfiteatros era a execução de criminosos e cristãos, que eram lançados às feras ou aos gladiadores sem quaisquer armas ou possibilidades de defesa (RAMOS, 1982).
3.4 As disputas atléticas na Idade Média
O processo de desestruturação do Império Romano marcou o início da Idade Média, com reestruturação social e de poder. No apagar das luzes de Roma, uma instituição se manteve forte e serviu de pilar para a organização do mundo medieval. A Igreja Católica Apostólica Romana estava bastante estruturada e recebeu os bárbaros invasores como salvadores, estabelecendo alianças (GRIFI, 1989).
As invasões bárbaras provocaram uma retração no desenvolvimento das cidades, passando a prevalecer a organização de feudos. Os feudos eram propriedades rurais fortificadas, protegidas pelos senhores feudais. O sistema feudal se organizava através da estrutura de trabalho de servidão. Os servos eram protegidos pelos senhores feudais, trabalhavam em suas terras, lhes deviam fidelidade e obediência. Por sua vez, os senhores feudais serviam ao rei, sustentando-o politicamente e militarmente. Além da hierarquia social da nobreza, a Igreja era um dos pilares de sustentação do sistema feudal, estabelecendo a ordem social por ser detentora da liderança intelectual e espiritual. Mantinha seu poder em função da ignorância dopovo, monopolizando o conhecimento e o desenvolvimento cultural. Sua força vinha da disseminação do temor a Deus e do medo da danação eterna (GRIFI, 1989).
3.4.1 Contexto histórico geral
A Idade Média pode ser considerada o período entre a Idade Antiga e a Idade Moderna. O período de aproximadamente mil anos, que vai, convencionalmente, da desagregação do Império Romano do Ocidente, após sua ocupação pelos bárbaros em 476, até a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, em 1453, foi chamado de Idade Média (VICENTINO; DORIGO, 2013).
3.4.2 Baixa Idade Média
No período que vai do século XI ao século XV, chamado de Baixa Idade Média, começaram a ocorrer transformações no feudalismo. As origens dessas mudanças estão no esgotamento da autossuficiência produtiva, ocasionada pelo aumento populacional a partir dos séculos X e XI. Com a diminuição progressiva no ritmo das invasões, as condições de vida se tornaram mais estáveis, o que provocou gradativo aumento de população (VICENTINO; DORIGO, 2013).
3.4.3 O movimento cruzadista
As Cruzadas foram expedições militares de cunho religioso, organizadas pela Igreja para reconquistar a região da Palestina, que estava dominada pelos muçulmanos desde o século VII. Tratava-se de Jerusalém, terra considerada santa para os cristãos, local onde viveu e foi sepultado Jesus. A luta de reconquista já era desejada pelos imperadores bizantinos, que esperavam o auxílio do Ocidente no combate aos povos muçulmanos, sobretudo os turcos. Dessa forma, os interesses religiosos justificavam os interesses políticos e econômicos (VICENTINO; DORIGO, 2013).
As Cruzadas elevaram o ânimo dos reis europeus, que se motivaram para a reconquista da Península Ibérica, dominada por árabes muçulmanos. Os conflitos com os mulçumanos e o bloqueio naval do Mediterrâneo impulsionaram a organização das Grandes Navegações, que pretendiam estabelecer novas rotas comerciais para o Oriente, mas acabaram levando às Américas. Dessa forma, a Europa foi capaz de impor sua concepção de mundo, sua cultura e seus valores a todos os povos que foram colonizados (VICENTINO; DORIGO, 2013).
3.4.4 Os exercícios físicos durante a Idade Média
As atividades que envolviam o corpo tiveram um desenvolvimento restrito e regulado pelos interesses da Igreja da época. As práticas atléticas antigas da Grécia e de Roma foram proibidas e rotuladas como atividades pagãs.
As atividades atléticas da época desenvolveram-se das rotinas de treinamento dos cavaleiros. Dessas atividades surgiram competições envolvendo habilidades guerreiras, desempenho físico e valores morais e espirituais do cavaleiro (GRIFI, 1989).
Geralmente as atividades esportivas eram praticadas por apenas uma pequena parcela da população, representada pela nobreza e pela aristocracia, determinando o caráter elitista das atividades da época. Basicamente, as ações esportivas imitavam as exigências bélicas dos cavaleiros. Eram lutas com armas (espadas, lanças, bastões), equitação, arco e flecha, combates montados. No âmbito competitivo, destacaram-se o torneio e a justa (RAMOS, 1982).
O torneio teve duas fases bem definidas. Na primeira, a disputa consistia em uma batalha feroz entre dois grupos de cavaleiros. Os combatentes digladiavam-se até a morte e, ao final do dia, eram computados os feridos e mortos para a determinação da equipe vencedora. Os sobreviventes reuniam-se para um banquete. A segunda fase do torneio foi caracterizada pela diminuição da violência, pelo uso de armas de madeira ou com as lâminas encapadas. Essas mudanças ocorreram após determinações da Igreja com o intuito de reduzir a brutalidade da disputa. A justa era o combate entre dois cavaleiros montados, armados com lanças, armaduras e escudos. Consistia no enfrentamento de ambos com o objetivo de derrubar o adversário de sua montaria (GRIFI, 1989; RAMOS, 1982).
4 O RENASCIMENTO CULTURAL E AS PERSPECTIVAS PARA O CORPO E O MOVIMENTO HUMANO
Entre os séculos XIV e XVI, generalizou-se na Europa uma série de movimentos artísticos e científicos que tinham em comum o rompimento com valores do período medieval e a recuperação de ideais e modelos da Grécia e da Roma Antigas. Esses movimentos receberam o nome de Renascimento. Os renascentistas foram vistos como os continuadores dos ideais científicos, artísticos e estéticos cultivados no mundo antigo, mais precisamente na civilização greco-romana clássica (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Durante o Renascimento, a mudança mais evidente e perene foi a explosão do humanismo, do racionalismo e do antropocentrismo nas artes e na produção intelectual. A produção artística dessa época volta ao estilo clássico greco-romano e passa a ilustrar o ser humano como tema central. Pinturas, desenhos e esculturas retratam o corpo desnudo em seus mais rebuscados detalhes e expressões, caracterizando um realismo compromissado com o humano em contraste com a arte medieval atrelada à temática sacra (JAGUARIBE, 2001).

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