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Interações Medicamentosas em Ambiente Hospitalar

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&
REVISTA CONTEXTO & SAÚDE IJUÍ EDITORA UNIJUÍ v. 9 n. 18 JAN./JUN. 2010 p. 29-36
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
POTENCIAIS EM AMBIENTE HOSPITALAR:
Uma Revisão Bibliográfica
Ariane Chaves Ditadi1
Christiane Colet2
R es umoR es umoR es umoR es umo
Um melhor conhecimento sobre a prevalência das interações
farmacológicas conduz a um controle mais efetivo na administra-
ção de medicamentos, favorecendo, assim, a adoção de terapias
mais eficazes. O presente estudo propõe uma revisão bibliográfi-
ca quanto às potenciais interações farmacológicas em prescri-
ções médicas hospitalares. As interações farmacológicas consti-
tuem na atualidade um dos temas mais importantes da farmacolo-
gia, podendo afetar o resultado do tratamento, pois seu aumento é
proporcional ao número de medicamentos administrados. Os su-
jeitos que apresentam maior suscetibilidade a interações farma-
cológicas são os pacientes hospitalizados, que fazem uso de po-
limedicamentos. Neste contexto, as interações farmacológicas
podem aumentar o tempo de internação hospitalar e os gastos em
saúde, bem como piorar o quadro clínico e a qualidade de vida.
Dessa forma, mostra-se cada vez mais necessária a orientação e
o acompanhamento farmacêutico, com o intuito de orientar na
escolha dos medicamentos corretos e otimizar o tratamento far-
macológico.
P alav ras-chave : P alav ras-chave : P alav ras-chave : P alav ras-chave : Interação medicamentosa. Hospital.
Paciente.
Po ten t i a l D rug I n te r ac t ion s in Ho sp i t a lPo ten t i a l D rug I n te r ac t ion s in Ho sp i t a lPo ten t i a l D rug I n te r ac t ion s in Ho sp i t a lPo ten t i a l D rug I n te r ac t ion s in Ho sp i t a l
A b s t r a c tA b s t r a c tA b s t r a c tA b s t r a c t
Greater knowledge regarding the incidence of drug interacti-
ons leading to more effective control in the administration of me-
dications, thus favoring the adoption of more effective therapies.
This study presents a literature review regarding potential drug
interactions in medical prescriptions in hospitals. Pharmacologi-
cal interactions are nowadays one of the most important topics in
pharmacology, this being one of the variables that affect treatment
outcome, because the increase in its prevalence is proportional to
the number of drugs administered. Patients with increased sus-
ceptibility to drug interactions patients are hospitalized, who use
multiple medications. In this context, pharmacological interacti-
ons may increase the length of hospital and health spending, and
worsen the clinical condition and quality of life. Thus, it is shown
increasingly needed guidance and monitoring pharmacist in order
to guide in choosing the right drugs and optimize the pharmacolo-
gical treatment.
Keywords: Keywords: Keywords: Keywords: Drug interactions. Hospital. Patient.
1
 Farmacêutica. Acadêmica do curso de Pós-Graduação em Farmácia Hospitalar do HMV. arianeditadi@hotmail.com
2
 Farmacêutica. Mestre em Ciências Farmacêuticas. Professora do curso de Pós-Graduação em Farmácia Hospitalar do HMV e do curso
de Farmácia da Unijuí. christiane.colet@unijui.edu.br
Revista Contexto & Saúde, Ijuí • v. 9 • n. 18 • Jan./Jun. 2010
30 Ariane Chaves Ditadi – Chr is t iane Co let
A polimedicação tornou-se necessária no trata-
mento de doenças coexistentes, no controle de rea-
ções medicamentosas indesejadas ou para poten-
cializar o efeito farmacológico em condições refra-
tárias e pouco responsivas. Apesar disso, a combi-
nação de fármacos pode reduzir a sua eficácia e/ou
favorecer reações adversas de diferentes gravidades
(Astrand et al., 2006; Cantarelli; Junior; Marcolin, 2004;
Lafitta et al., 2000). A cada dia surgem, contudo,
novos fármacos, novas indicações, logo, novas com-
binações (Cantarelli et al, 2004).
A expressão interações farmacológicas refere-
se à interferência de um fármaco na ação de outro
(Chung; Cordeiro; Sacramento, 2005; Lado et al.,
2005). Elas podem ser benéficas ou desejáveis quan-
do objetivam tratar doenças concomitantes, reduzir
efeitos adversos, prolongar a duração do efeito, im-
pedir ou retardar o surgimento de resistência bacte-
riana, aumentar a adesão ao tratamento, incremen-
tar a eficácia ou permitir a redução de dose. Em
contrapartida, as interações indesejáveis são as que
determinam redução do efeito ou resultado contrá-
rio ao esperado, aumento na incidência e na gama
de efeitos adversos e no custo da terapia, sem in-
crementar o benefício terapêutico. Especificamen-
te aquelas que resultam na redução da atividade do
fármaco e, consequentemente, na perda de sua efi-
cácia, são difíceis de serem detectadas e podem ser
responsáveis pelo fracasso da terapia ou pela pro-
gressão da doença (Sehn et al., apud Chung; Cor-
deiro; Sacramento, 2005).
A incidência das interações farmacológicas au-
menta exponencialmente com o número de fárma-
cos utilizados e com a prescrição de medicamentos
de estreito índice terapêutico. Deste modo, os pacien-
tes hospitalizados estão mais suscetíveis à ocorrên-
cia de interações farmacológicas, especialmente
aqueles internados nas unidades de terapia intensi-
va que, devido à gravidade de seu quadro clínico,
são submetidos ao uso de vários fármacos, os quais,
muitas vezes, são administrados simultaneamente
(Camargo et al., 2003; Lima, 2003; Cruziol-Souza;
Thomson, 2006).
Na prática clínica muitas das interações farma-
cológicas têm importância relativa, com pequeno
potencial lesivo para os pacientes. Por outro lado,
algumas podem causar efeitos colaterais graves,
podendo inclusive levar o paciente a óbito. Neste
âmbito, alerta-se para a importância do conhecimen-
to do tema e da identificação precoce dos pacientes
em risco (Campigotto et al., 2008).
Um fator importante a ser considerado é a inte-
gração entre prescritores e dispensadores, a qual
permite, por meio da combinação de conhecimen-
tos especializados e complementares, o alcance de
melhores resultados em benefício do paciente. A
priorização do papel da equipe multidisciplinar tor-
nou fato o reconhecimento do trabalho do farma-
cêutico e de outros profissionais de saúde, possibili-
tando o desenvolvimento de atividades comuns e
absolutamente essenciais, buscando a segurança do
paciente (Castro; Pepe, 2000).
Considerando o exposto, este artigo tem como
objetivo realizar uma revisão sobre as interações far-
macológicas potenciais em ambiente hospitalar.
Metodologia
Esse estudo foi elaborado a partir de uma revi-
são da literatura nas bases de dados Bireme, Co-
chrane, Lilacs, Medline, Micromedex, Pubmed e
Uptodate, no período de 2000 a 2009. As palavras-
chave utilizadas foram “drug interaction”, “hos-
pital”, e “patients” e suas correspondentes em
português “interação medicamentosa”, “hospital” e
“paciente”. Foram considerados como critérios de
exclusão artigos publicados antes de 1998 e os que
se referiam às interações farmacológicas associa-
das aos alimentos e interações farmacológicas em
pacientes comunitários e após alta hospitalar.
Somando-se todas as bases de dados e excluin-
do-se todos os artigos que se enquadram nos crité-
rios de exclusão, foram selecionados 84 textos. Após
a leitura dos títulos destes artigos ignorou-se aque-
les que se apresentavam repetidos nas bases cita-
das, restando 40 artigos para a leitura do resumo.
Destes, 27 trabalhos foram selecionados, pois se
adequavam aos critérios inicialmente propostos. Os
textos foram lidos integralmente e serviram de aporte
para a elaboração do presente trabalho.
31
Revista Contexto & Saúde, Ijuí • v. 9 • n. 18 • Jan./Jun. 2010
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS POTENCIAIS EM AMBIENTE HOSPITALAR
A partir da procura de artigos foi realizada a bus-
ca de algumas citações originais para a verificação
das informações.
Além disso, utilizou-se algumas fontes de infor-
mação secundáriarelacionadas ao assunto.
Resultados e Discussão
Caracterização e classificação
das interações farmacológicas
A administração concomitante de fármacos re-
presenta uma alternativa utilizada para adequação
à resposta terapêutica desejada. Quando as pres-
crições são baseadas em conhecimentos farmaco-
cinéticos e farmacodinâmicos, detêm, em certa
medida, o controle sobre a interferência de um fár-
maco na atividade farmacológica de outro (Lima,
2003).
As interações farmacológicas são consideradas
eventos adversos relacionados aos fármacos. Não
existe na literatura, contudo, um consenso quanto
ao termo correto para defini-la, podendo ser consi-
deradas erros relacionados ao medicamento que
ocorrem, ou na fase de prescrição, ou devido à fa-
lha na monitorização da terapêutica medicamento-
sa. Considerando este conceito, as interações far-
macológicas possuem uma peculiaridade: de serem,
em muitos casos, passíveis de prevenção (Lima,
2007).
Assim, após a administração de medicamentos,
os fármacos envolvidos podem ter sua ação aumen-
tada, diminuída ou alterada, ou podem não sofrer
nenhuma alteração. Além disso, as interações me-
dicamentosas podem classificar-se em desejáveis e
indesejáveis (Teixeira; Wannmacher, 1998).
Considera-se que a incidência geral de intera-
ções medicamentosas indesejadas é relativamente
pequena comparada à alta prevalência da polifar-
mácia por prescrição (Teixeira; Wannmacher, 1998).
A incidência geral dessas interações aumenta pro-
porcionalmente ao número de fármacos prescritos,
e fármacos com baixo índice terapêutico devem
estar sob constante observação, pois suas intera-
ções são potencialmente perigosas (Gomes; Reis,
2003). Estima-se que ocorram interações farmaco-
lógicas em 3% a 5% dos pacientes que recebem
poucos fármacos; esse índice aumenta para 20%
quando são usados de 10 a 20 fármacos (Chadwick;
Edwards; Waller, 2005).
Na literatura os principais fatores relacionados
com o aumento da suscetibilidade da interação são
os fatores genéticos, idade, condições gerais de saú-
de, funções renal e hepática, consumo de álcool,
tabagismo, dieta, além de fatores ambientais (Chung;
Cordeiro; Sacramento, 2005).
Tipos de interações farmacológicas
Classificam-se habitualmente as interações farma-
cológicas de acordo com seu mecanismo de ação, po-
rém deve-se considerar também as vias de adminis-
tração e intervalos de dose, fatores que podem au-
mentar a possibilidade de interação (Gomes; Reis,
2003). As interações farmacológicas podem ser clas-
sificadas em farmacêuticas, que se subdividem em
farmacocinéticas ou farmacodinâmicas, ou físico-quí-
micas (Lima, 2007; Chadwick; Edwards; Waller, 2005).
Outra forma de classificação das interações é
em reais ou potenciais. Consideram-se interações
reais aquelas que podem ser comprovadas a partir
de sinais e sintomas do paciente e também por tes-
tes laboratoriais que atestem a redução ou aumento
dos fármacos associados em fluidos biológicos. As
interações farmacológicas potenciais referem-se
àquelas que indicam a possibilidade de um fármaco
alterar os efeitos de outro, quando administrados
concomitantemente. Neste caso, embora a intera-
ção esteja descrita na literatura, ela pode ocorrer ou
não, e dependerá de um conjunto de fatores para
que aconteça (Lima, 2007).
Podemos classificar as interações farmacológi-
cas também quanto à severidade, como de gravida-
de menor, isto é, quando os efeitos são considera-
dos toleráveis, na maioria dos casos, e a interven-
ção médica é desnecessária; moderada, quando a
intervenção médica é necessária para tratar os efei-
tos, ou grave, quando os efeitos podem acarretar
morte, hospitalização, lesão permanente ou fracas-
so terapêutico (Bachmann et al., 2006).
Revista Contexto & Saúde, Ijuí • v. 9 • n. 18 • Jan./Jun. 2010
32 Ariane Chaves Ditadi – Chr is t iane Co let
Segundo Tatro (2008), a interação em potencial
é considerada grave quando é potencialmente ame-
açadora à vida do paciente e capaz de causar dano
permanente; moderada quando os efeitos podem
causar uma deterioração do estado clínico do pa-
ciente, podendo se fazerem necessários tratamento
adicional, hospitalização ou maior tempo de perma-
nência do hospital, e leve quando as consequências
podem causar algum incômodo ou for imperceptí-
vel, mas não deve afetar de modo significativo o
tratamento.
Interações farmacológicas em hospitais
A avaliação das interações medicamentosas vem
se tornando uma atividade clínica cada vez mais
importante dentro dos hospitais, uma vez que, quan-
do não desejáveis, podem prolongar o tempo de in-
ternação de um paciente. O risco de interação far-
macológica é proporcional ao número de fármacos
prescritos para o paciente, e se esse paciente está
hospitalizado, os riscos aumentam com a politerapia
(Teixeira; Wannmacher, 1998).
Radosevic, Gantumur e Vlahovic-Palcevski
(2008), em uma amostra de 225 pacientes hospitali-
zados no Departamento de Medicina do Hospital
Universitário de Rijeka, Croácia, observaram que
22% deles estavam recebendo terapia medicamen-
tosa com combinações consideradas potencialmen-
te perigosas, e os fatores correlacionados com o
aumento da interação medicamentosa foram idade
e aumento do número de fármacos utilizados.
Bovier, Dallenbach e Desmeules (2007), em seu
estudo na Suíça, analisaram 591 prescrições de pa-
cientes hospitalizados, utilizando um sistema infor-
matizado para detecção de potenciais interações
farmacológicas, e identificaram que 23% dos medi-
camentos na amostra apresentavam possibilidades
de interações. O banco de dados foi considerado,
neste estudo, uma ferramenta eficiente para rápida
verificação de possível interação medicamentosa, o
qual, quando utilizado adequadamente, poderia aju-
dar os médicos na diminuição de prescrições com
potenciais riscos de interações farmacológicas e,
assim, aumentar a segurança do paciente.
Pesquisa realizada por Adeponle et al. (2008) com
278 pacientes de dois hospitais psiquiátricos regio-
nais no norte da Nigéria constatou que 28% dos
pacientes apresentavam potenciais interações far-
macológicas em suas prescrições, sendo os antipsi-
cóticos os medicamentos mais prescritos (68%),
seguidos dos anticolinérgicos (62%), antidepressi-
vos tricíclicos (35%), anticonvulsivantes (25%) e
benzodiazepínicos (8%).
As prevalências de interações medicamentosas
em hospitais brasileiros são escassas. Para avaliar
a prevalência de interações medicamentosas em
prescrições hospitalares e seu significado clínico em
pacientes de um hospital universitário do Brasil, foi
realizado um estudo com uma amostra de 1.785 pres-
crições de enfermaria adulta, entre janeiro e abril
de 2004. Posteriormente ao cruzamento dos dados
das prescrições com dados da literatura, pacientes
com interações graves em potencial tiveram seus
prontuários analisados por um médico e uma far-
macêutica em busca de resultados laboratoriais que
confirmassem a ocorrência da interação medicamen-
tosa. Ao menos 887 (49,7%) das prescrições conti-
nham interação medicamentosa. As prescrições
continham interação medicamentosa classificada
como leve (3,1%), moderada (23,6%) e grave
(5,0%). Em 321 (17,9%) prescrições foi encontra-
da mais de uma interação medicamentosa, cujo re-
sultado clínico é desconhecido. Uma amostra de 33
prontuários com interações medicamentosas graves
foi avaliada, destes, 17 (51,5%) apresentaram inte-
rações reais (Cruziol-Souza; Thomson, 2006).
Num estudo realizado no Hospital de Clínicas de
Porto Alegre foram analisadas prescrições médicas
de 40 pacientes que ingressaram em unidades de
internação de clínica médica entre os meses de agos-
to e setembro de 2001. Nestas prescrições foram
encontrados 81 medicamentos, e destes 54 (66,7%)
apresentavam possibilidade de interações, perfazen-
do um total de 124 interações potenciais. A média
de fármacospor prescrição foi de 7,8. Constatou-se
também que 65% das prescrições continham pelo
menos uma interação medicamentosa potencial, com
a média igual a 3,1. Observou-se que das prescri-
ções com até cinco medicamentos 25% apresenta-
vam potenciais interações medicamentosas; esse
33
Revista Contexto & Saúde, Ijuí • v. 9 • n. 18 • Jan./Jun. 2010
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS POTENCIAIS EM AMBIENTE HOSPITALAR
número foi de 63,6% nas prescrições com seis a
dez medicamentos e para 100% nas prescrições com
mais de dez medicamentos. Quanto à gravidade, os
seguintes resultados foram encontrados: 37,9% das
interações potenciais foram consideradas leves,
48,4% moderadas e 3,2% graves. As quatro intera-
ções classificadas como graves foram: digoxina/
amiodarona, digoxina/verapamil, espirinolactona/clo-
reto de potássio e a associação sulfametoxazol +
trimetroprima/ciclosporina/cloreto de potássio e a
associação sulfametoxazol + trimetroprima/ciclos-
porina. Observou-se, também, que 46,1% das inte-
rações foram classificadas como farmacocinéticas,
45,3% como farmacodinâmicas e 8,6% como de
mecanismo indefinido (Secoli, 2001).
Em um estudo desenvolvido pelo Centro de Es-
tudo do Medicamento, da Faculdade de Farmácia
da Universidade Federal de Minas Gerais, em par-
ceria com a Farmácia Hospitalar do Hospital das
Clínicas da UFMG (HC/UFMG), foram analisadas
prescrições de pacientes em politerapia, a fim de
avaliar a frequência de interações medicamentosas
potenciais envolvendo psicofármacos em prescrições
de um hospital universitário. Foram avaliadas 452
prescrições, selecionadas sistematicamente dos re-
gistros do hospital. Em 22% das prescrições havia
pelo menos uma interação. Destas, 47% eram de
relevância clínica. Foi encontrada associação posi-
tiva entre politerapia e ocorrência de interações. A
adoção de algumas medidas, como a utilização de
sistemas eletrônicos de detecção de interações, pode
contribuir para a minimização destes eventos (Ma-
galhães; Moura; Ribeiro, 2007).
Diante deste quadro, o farmacêutico inserido na
equipe multidisciplinar de cuidado ao paciente pode
contribuir para o uso racional dos medicamentos,
uma vez que representa uma das últimas oportuni-
dades de identificar, corrigir ou reduzir possíveis ris-
cos associados à terapêutica (Campigotto et al.,
2008).
Interações farmacológicas em UTI
Como os pacientes hospitalizados recebem, em
média, sete fármacos por dia, a relevância desse
problema é, sem dúvida, significativa, aspecto que
assume caráter ainda mais especial nas Unidades
de Terapia Intensiva, onde se encontram pacientes
em situação crítica, recebendo diariamente vasto e
diversificado número de medicamentos (Lima, 2007).
São três os fatores relacionados ao aumento do
risco de interações farmacológicas em Unidades de
Terapia Intensiva (UTIs). O primeiro fator é a gra-
vidade do quadro clínico e a instabilidade apresen-
tada pelos pacientes, resultando em uma grande e
diversificada quantidade de medicamentos prescri-
tos e administrados. O segundo refere-se ao fato de
a grande maioria destes fármacos ser administrada
por via parenteral, aumentando o risco de eventos
adversos (evento adverso relacionado a medicamen-
to é qualquer dano apresentado pelo paciente que
possa estar relacionado ao medicamento). O ter-
ceiro fator diz respeito a que, em pacientes seda-
dos, é mais difícil detectar eventos adversos após a
administração dos medicamentos (Lima, 2007).
Um estudo prospectivo foi realizado em serviço
de medicina interna do Hospital Universitário San
Cecilio de Granada, Espanha, com 120 pacientes
aleatoriamente selecionados de um total de 376 in-
ternados em UTIs durante um período de três me-
ses de 2007. O fármaco com maior incidência de
interação farmacocinética foi o omeprazol quando
associado à fenitoína ou digoxina. A interação far-
macodinâmica de maior incidência ocorreu com a
associação entre anti-inflamatórios não esteroidais
e diuréticos, insulina e betabloqueadores e aspirina
e prednisona. Nessa pesquisa o aumento de intera-
ções foi correlacionado com o aumento de número
de itens prescritos, porém não se estabeleceu asso-
ciação com sexo, idade e comorbidade (Alcalá et
al., 2008).
Num outro estudo, realizado no Serviço de Me-
dicina Interna do Hospital Clínico Universitário de
Santiago de Compostela, durante o ano de 2003 com
1.117 pacientes, foi selecionada uma amostra alea-
tória de 412 indivíduos. Foram encontradas 329 in-
terações em potencial. Foi observado que 39,9% dos
pacientes apresentaram ao menos uma interação, e
52,6% delas eram daquelas em que há a necessida-
de de se tomar alguma medida para diminuir o risco
de efeitos indesejáveis. Não foram encontradas in-
Revista Contexto & Saúde, Ijuí • v. 9 • n. 18 • Jan./Jun. 2010
34 Ariane Chaves Ditadi – Chr is t iane Co let
terações de maior gravidade. As mais frequentes
foram com anticoagulantes orais e digoxina (Lado
et al., 2005).
No estudo realizado em uma Unidade de Cuida-
dos Intensivos e Intermediários do Hospital Provin-
cial Docente Clínico-Cirúrgico Saturnino Lora, em
Santiago de Cuba, no período de junho de 1995 a
fevereiro de 1996, numa amostra de 65 pacientes
foram detectadas 47 interações medicamentosas.
Entre as interações, 20 (42,6%) desejáveis e 27
(57,4%) perigosas. Destas últimas as mais relevan-
tes foram as associações entre aminofilina/hidrocor-
tisona e aminofilina/cimetidina, ambas com 6,9%
(Lafitta et al., 2000).
Os procedimentos para evitar e lidar com as in-
terações sugeridos na literatura consultada, foram
os seguintes: monitorização do paciente, ajuste de
dose, troca ou suspensão de um dos medicamentos,
mudança dos horários de administração, entre ou-
tros. Em muitos casos a monitorização atua preven-
tivamente. Desta forma, a detecção de alterações
na concentração plasmática dos medicamentos, por
exemplo, direciona para um ajuste de dose, substi-
tuição ou suspensão de fármacos ou outro procedi-
mento para evitar prejuízos à saúde do paciente.
Adequar os horários de administração é também
uma forma de lidar com as interações medicamen-
tosas potenciais (Camargo et al., 2003).
Nem todas as interações medicamentosas exi-
gem a interrupção do medicamento. Estes medica-
mentos podem necessitar de um ajuste de dose ou
ajuste do sincronismo, particularmente se o meca-
nismo envolve a interferência com a absorção do
fármaco (Routledge; Seymour, 1998).
Interações farmacológicas e a importância
do farmacêutico na prática clínica
Algumas instituições adotaram sistemas de pres-
crições eletrônicas, associados à revisão por far-
macêuticos clínicos. Esta associação proporcionou
o envolvimento do farmacêutico no processo de
avaliação do tratamento medicamentoso, de resolu-
ção de problemas, de monitoramento e, quando ne-
cessário, de intervenção para aumentar o efeito be-
néfico dos medicamentos, além de reduzir seus efei-
tos adversos. A integração do farmacêutico à equi-
pe multidisciplinar mostrou uma redução aproxima-
da de 66% na ocorrência de eventos adversos rela-
cionados aos medicamentos decorrentes da pres-
crição médica (Freitas et al., 2006).
Alguns autores relatam que a utilização de siste-
ma informatizado como ferramenta na revisão de
prescrição médica apresenta como vantagens a agi-
lidade na análise das prescrições, redução de erro
de medicamentos, tempo de internação e gastos
(Wiltink, 1998), e tem revelado resultados satisfató-
rios, visto que tende a reduzir as interações medica-
mentosas (Camargo et al., 2003).
Deve-se considerar que nem todas as possíveis
interações medicamentosas detectadas na literatu-
ra serão realmente desencadeadas na prática clíni-
ca. O significado clínico de uma potencial interação
medicamentosa não é facilmente estabelecido e pode
requerer uma avaliação individual do paciente. Na
prática, a questão das interaçõesmedicamentosas
é complexa, pois além das inúmeras possibilidades
teóricas de interferência entre os medicamentos,
fatores relacionados ao indivíduo (idade, constitui-
ção genética, estado físico-patológico, tipo de ali-
mentação) e à administração do medicamento (dose,
via, intervalo e sequência da administração) influ-
enciam na resposta ao tratamento (Secoli, 2001).
A avaliação adequada das prescrições médicas
é fundamental, pois a polifarmácia tende a aumen-
tar a incidência das interações medicamentosas. As
respostas decorrentes podem acarretar potenciali-
zação do efeito terapêutico, redução da eficácia,
aparecimento de reações adversas com distintos
graus de gravidade ou, ainda, não causar nenhuma
modificação no efeito desejado do medicamento
(Secoli, 2001).
Os clínicos devem estar atentos às combinações
de fármacos que podem representar perigo, como
os inibidores e indutores da monoxigenase hepática.
Os principais exemplos de inibidores a amiodarona,
fluconazol, eritromicina, miconazol, cetoconazol, cla-
ritromicina, sulfonamidas, cimetidina e ciprofloxaci-
na. Exemplos de indutores são a rifampicina, feno-
barbital, fenitoína, primidona e carbamazepina. Deve-se
35
Revista Contexto & Saúde, Ijuí • v. 9 • n. 18 • Jan./Jun. 2010
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS POTENCIAIS EM AMBIENTE HOSPITALAR
estar atento também para qualquer combinação de
fármacos que podem causar hipotensão, se prescri-
tos principalmente para doença cardiovascular ou
por outras razões, por exemplo, dois ou mais dos
seguintes grupos: antidepressivos tricíclicos, nitra-
tos, antagonistas do cálcio, inibidores da ECA, an-
tipsicóticos e agentes antiparkinsonianos. Outras si-
tuações que necessitam maior atenção são: combi-
nações de fármacos que causam efeito sedativo
aditivo, que podem causar queda, confusão, pneu-
monias de aspiração, tonturas, apatia e incontinên-
cia; combinações de fármacos que produzem efei-
tos anticolinérgicos, como antipsicóticos, algumas
preparações antiarrítmicas, alguns antidepressivos
tricíclicos, alguns anti-histamínicos e alguns agentes
antiparkinsonianos; todos os fármacos com um índi-
ce terapêutico estreito, como a teofilina, fenitoína
ou digoxina, e todos os doentes idosos que recebem
anticoagulantes cumarínicos (Routledge; Seymour,
1998).
Obter um controle total sobre todos os medica-
mentos de uma prescrição e suas possíveis intera-
ções pode parecer tecnicamente inviável. Assim, o
profissional da saúde pode recorrer à literatura, pre-
ocupando-se com aqueles medicamentos estudados
previamente, com maior potencial de desencadear
interações medicamentosas e com aquelas que se
mostram mais frequentes (Lima, 2003).
Conclusão
A incidência de potenciais interações medica-
mentosas em pacientes hospitalizados constitui um
risco permanente, uma vez que estes são mais sus-
cetíveis em razão do uso de polimedicamentos nes-
ses locais. Os estudos encontrados na literatura
mostram que muitas das potenciais interações far-
macológicas têm importância relativa, com peque-
no potencial lesivo para os pacientes. Sabe-se, con-
tudo, que as interações farmacológicas podem ser
responsáveis pelo aumento no tempo de interna-
ção hospitalar, acréscimo dos gastos em saúde, pio-
ra no quadro clínico e na qualidade de vida do pa-
ciente.
O emprego de programas informatizados e re-
cursos bibliográficos parece ser uma forma efetiva
de identificar e prevenir interações medicamento-
sas. Além disso, a inclusão do farmacêutico nas
equipes multiprofissionais pode diminuir a ocorrên-
cia de interações não desejáveis na prática clínica,
em virtude de seu conhecimento farmacológico,
colaborando na orientação quanto à melhor forma
de administração dos medicamentos.
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