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Sim, a escola está destruindo gerações e 
causando estragos profundos 
Abolir esse modelo gerenciado pelo estado e criar outro é crucial 
By Flávio Augusto / sexta-feira, 20 out 2017 
 
 
 
Aviso: texto disruptivo, com reflexões polêmicas que requerem uma grande 
capacidade de abstração e um desprendimento dos modelos vigentes. Caso ache que 
está tudo certo com o mundo e com a educação brasileira, não perca seu tempo com 
a leitura. Pode voltar para o Facebook ou Instagram. 
 
Por que uma criança deve estudar? 
Para ser formada como cidadã que terá um papel na sociedade, trabalhando para ter 
seu sustento, para realizar seus sonhos e colaborar com os menos favorecidos. 
O estudo não tem um fim em si mesmo, do tipo "o estudo dignifica o homem". Não, o 
trabalho e a criação de valor é que dignificam o homem. O que você realiza é o que 
lhe dignifica. Logo, em uma determinada fase de sua vida, você supostamente 
deveria se preparar para, na próxima fase, produzir e gerar valor. 
O estudo sem propósito é perda de tempo. Sim, essa afirmação soa quase que como 
uma heresia escandalosa aos ouvidos de quem, por anos, foi condicionado a pensar 
no estudo como atividade-fim e não como um meio. Estudar por estudar é típico de 
alguém que ainda não encontrou seu propósito na vida, e por isso continua 
mecanicamente apenas fazendo as coisas por fazer. 
No entanto, o ato de estudar — ou seja, participar de uma classe a fim de adquirir 
informações sobre as disciplinas definidas pelo governo via Ministério da Educação 
— está muito longe de ser o suficiente para preparar alguém para adquirir 
relevância na sociedade. Até porque a definição do currículo escolar foi feita há 
quase um século. 
Já o atual modelo de escola compulsória, o qual copiamos do resto do mundo 
ocidental, foi criado ainda no início da Era Industrial. E sua função era preparar a 
mão-de-obra oriunda do campo para as indústrias. Consequentemente, o modelo de 
organização e agremiação das escolas era um simples espelho do modelo 
organizacional das fábricas: os sinais tocando entre as aulas, indicando que uma 
acabou e que outra deve começar; os sinais anunciando o início e o fim do recreio; as 
filas e a ênfase na obediência e submissão; o ambiente maçante; as fileiras de jovens 
sentados passivamente em suas carteiras escolares obedecendo a seus professores; 
os professores obedecendo aos supervisores e ao diretor etc. — tudo isso foi 
modelado de acordo com a organização das fábricas. 
O problema é que já deixamos a Era Industrial há muito tempo e estamos entrando 
na Era da Imaginação. Mas o modelo escolar continuou estagnado na era das 
fábricas. 
Os empregos do futuro ainda nem foram inventados 
O mundo mudou, as necessidades mudaram, as ferramentas são outras e a 
quantidade de informação a que nossos jovens são expostos é muito maior. Não é 
por acaso que, como consequência dessa realidade, testemunhamos o aumento 
brutal no diagnóstico de TDAH — Transtorno de Déficit de Atenção por 
Hiperatividade —, o que fez com que drogas como a Ritalina tenham encontrado no 
Brasil seu segundo maior mercado consumidor do mundo. Será que nossas crianças 
é que estão doentes ou seriam as nossas escolas? 
 
Em um mundo onde as informações estão acessíveis a todos, à distância de apenas 
um clique, aquela escola que tem o papel de transferência de conteúdo se torna a 
cada dia mais insignificante. 
 
Por isso, o modelo educacional vigente está falindo e definhando a cada ano. E isso 
está acontecendo sem que muitos envolvidos nesse processo sequer estejam 
percebendo. E não percebem porque ainda continuam acreditando firmemente que 
esse modelo é o que melhor prepara para as formas mais convencionais de sustento 
de um cidadão, que é o emprego. 
Só que o emprego tradicional, na forma como conhecemos, perde valor a cada dia, 
ao mesmo tempo em que outras formas de produção ganham mais espaço no 
mundo. Marketing multinível, produção de conteúdo na internet, youtubers, micro-
franquias, vendas diretas, marketing digital e vários outros modelos têm crescido ao 
redor do mundo e já contam com milhões de pessoa dedicando-se a eles. 
Em seu livro Now You See It, a educadora Cathy Davidson diz que 65% das crianças 
que estão entrando hoje na escola irão trabalhar em empregos no futuro que ainda 
nem foram inventados. Escreve ela: "Nessa era de mudanças cada vez mais velozes, 
estamos aplicando a nossas crianças as mesmas provas e lições de casa que foram 
criadas para nossos tataravôs". 
Não quero entrar no mérito de discutir sobre cada uma dessas profissões 
tecnológicas que hoje estão em voga, mas a existência delas e seu crescimento são a 
maior prova de que as pessoas estão cansadas de se sentir escravas, de terem suas 
agendas tomadas e não terem tempo para usufruir a família e a vida em troca de um 
salário sobre o qual não têm controle. 
Adicionalmente, o aumento do trânsito nas grandes cidades, com filas intermináveis 
e engarrafamentos de desafiarem os nervos, em conjunto com o aumento da 
violência urbana não só estimulam ainda mais esse tipo de ocupação, como também 
tem provocado um aumento nos casos de síndrome do pânico. Como resultado, o 
consumo de educação pela internet, por exemplo, não para de crescer. 
 
Por que alguém vai pegar um carro, dirigir por minutos ou horas, correndo risco de 
ser assaltado, gastando com estacionamentos cada vez mais caros, para ir a uma 
faculdade ou mesmo a um curso qualquer? Muito mais racional é estudar online: 
gasta menos, gasta com qualidade e ainda sobra mais tempo para trabalhar, 
construir seus projetos, fazer outras coisas de que gosta ou simplesmente viver a 
vida. 
Conteúdo 
Não me entendam mal: eu vejo muito, mas muito mesmo, valor na pré-escola. É o 
momento em que a criança adquire algumas de suas primeiras experiências sociais, 
em que desenvolve suas habilidades cognitivas, sua coordenação motora e é 
alfabetizada. É uma educação altamente produtiva. 
Da 1ª à 4ª série, a concentração em português, matemática e ciências traz um 
conteúdo interessante e importante para a base da educação dessa criança. O 
problema é que o formato falido da educação vigente já começa a colocar a cabeça 
para fora: uma sala enfileirada, a maldita prova que induz a decoreba e a busca por 
notinhas na média começam a aparecer nessa fase. Uma pena, pois, apesar desse 
formato deletério, o conteúdo dessa fase é bem importante. 
É da 5ª série até o último ano do ensino médio que tudo desanda. Ou seja, entre os 
11 e 17 anos. Algum pedagogo infeliz definiu esse conteúdo a ser despejado no 
cérebro dos jovens. A quantidade de informações inúteis, desnecessárias e 
irrelevantes é impressionante: vai desde decorar os principais nomes do 
parnasianismo (lembra?) até cada etapa do ciclo de reprodução das samambaias. 
Nessa fase, seria imensamente importante a preparação para a vida. E não me refiro 
à preparação para o emprego, não. Falo de preparação para a vida, mesmo. 
Até hoje, sou capaz de montar no mínimo 70% de uma tabela periódica, com os 
elementos químicos e suas posições organizadas em grupos. Até hoje não me 
esqueci e não me pergunte por quê. O fato é que essa informação ocupa um espaço 
valioso em meu cérebro e não me serve para nada. Talvez se eu trabalhasse com 
farmácia ou química industrial tivesse algum valor, mas não para 99% das pessoas. 
Se é inútil para 99% das pessoas, por que perder tempo com isso na escola? Mais 
ainda: por que exigir que o aluno saiba isso para ser aprovado e liberado da escola? 
Sem entrar em muitos detalhes, atrevo-me a dizer que mais de 70% do que se 
estuda entre a 5ª série e o 3º ano do ensino médio não tem sentido algum, não fará 
nenhuma diferença na vida futura deste indivíduo e será relegado ao esquecimento 
tão logo ele saia da escola. Se você duvida, tente relembrar aí tudo o que vocêaprendeu na escola. Em seguida, veja quanto disso você aplica no seu dia a dia. 
Quais deveriam ser as prioridades 
Caso eu pudesse montar uma escola com currículo próprio, sem ter de me submeter 
às ordens do MEC (hoje, sou proibido pelo governo de fazer isso), daria ênfase aos 
seguintes itens: 
1. Falar em público - Estatisticamente, falar em público é o maior medo das 
pessoas. Elas não têm boa oratória. E oratória é muito importante para o 
crescimento profissional e liderança. Como pode alguém passar mais de 15 anos 
participando de uma educação que não o prepara para ter uma boa oratória? Foi 
falta de tempo? Não. Você estava ocupado estudando as briófitas, as mitocôndrias ou 
decorando os gases nobres. 
2. Direito - Não me refiro ao Direito estudado por quem deseja ser um advogado, 
mas ao direito de cada indivíduo. As regras do jogo. Quer jogar o jogo sem saber as 
regras? Falo em direito civil, direito tributário, direito comercial etc. Pelo menos o 
básico de cada um. 
3. Nutrição - As taxas de obesidade crescem em todo o mundo. Nutrição é algo que 
seria estudado todas as semanas. 
4. Finanças pessoais - Esse é crucial. Cálculo de juros para financiamentos, 
entender como os juros compostos podem elevar o patrimônio do poupador (e 
destruir o do devedor), entender as consequências do seu nível de endividamento, 
aprender negociação, gestão de patrimônio etc. É inacreditável que se perca tanto 
tempo em uma escola sem que o indivíduo sequer aprenda o básico sobre como 
gerir a própria vida. 
5. Inteligência emocional - Como reagir a situações adversas. Aprender a perder 
para ganhar. Saber se colocar no lugar dos outros. Empatia. Liderança (de novo). 
Saber trabalhar em grupo. Como lidar com a ansiedade, com as frustrações, com o 
medo etc. 
6. Empreendedorismo - Não apenas na forma de se ter uma empresa, mas também 
como empreender em uma carreira profissional. Empreender com a mesada. 
Estímulos para startups na internet. Blogs. Conteúdo no YouTube e redes sociais 
com o foco na criação de audiências. 
7. Esporte em alta performance - O esporte traz consigo ensinamentos 
importantíssimos para a vida. Foco, trabalho em equipe, inteligência emocional, 
determinação, trabalho em grupo. O esporte é riquíssimo para o desenvolvimento 
dessas habilidades. Mas não seria compulsório. 
8. Primeiros socorros e conhecimentos sobre o atendimento de jovens, velhos 
e crianças - Este fala por si mesmo. 
9. Política e sociologia de forma isenta e não-doutrinária - Este seria o mais 
difícil, mas é possível de ser feito. 
10. Serviço social e trabalho voluntário em comunidades carentes - Além da 
experiência valiosíssima de lidar com os mais necessitados, a abordagem humana e 
o fato de ter acesso às contradições da sociedade causadas por políticas 
desastradas trariam questionamentos valiosos para os futuros pensadores. 
11. Idioma estrangeiro com qualidade - O inglês é uma disciplina estudada em 
todas as escolas, mas menos de 3% da população dominam o idioma. Eis mais uma 
fragorosa prova do retumbante fracasso do modelo educacional vigente. É 
inaceitável que menos de 100% de nossos alunos cheguem ao final do ensino médio 
e não falem no mínimo 3 idiomas. Há tempo para isso, mas a competência das 
escolas atuais passa longe. 
12. Língua portuguesa, interpretação de textos e redação. Uma atividade a ser 
desenvolvida todos os dias. Treinando a forma e desenvolvendo pensadores que se 
expressam muito bem, tanto de forma oral como escrita. Quem não sabe se 
comunicar bem por escrito não terá capacidade de liderar. Seus relatórios não serão 
bem compreendidos e seus pedidos/ordens serão mal executados. E isso 
influenciará diretamente a qualidade dos bens ou serviços que você fornece. Peça a 
um grupo de 100 jovens recém-formados em uma universidade para escreverem 
uma redação e sinta o terror. 
Responsabilidades 
O governo sempre esteve integralmente no controle da educação. Pouco importa se 
a escola é particular ou pública: elas seguem o currículo do MEC, que é compulsório. 
Se uma escola decidir ensinar tudo o que disse acima — e abolir a tabela periódica, 
as mitocôndrias, as briófitas e o parnasianismo, por exemplo —, ela, mesmo privada, 
poderá ter seu registro cassado e seus alunos terão um diploma não reconhecido. 
 
Logo, o governo é o responsável único por esse modelo pouco produtivo de 
educação. 
Até 2014, fui sócio de um grupo educacional expressivo com mais de 1.800 escolas 
de ensino médio e fundamental no Brasil, com mais de 500 mil alunos. Conheço bem 
o que digo. Meus filhos — 15, 13 e 4 anos de idade — sabem tudo o que penso a 
respeito desse assunto e por dois anos ficaram fora da escola. Estudaram em casa, 
enquanto moramos na Espanha e Inglaterra. Em Portugal, eles voltaram para uma 
escola convencional, mas a educação deles não pertence a essa escola, ainda que seja 
considerada uma das melhores da Europa. Eles aprenderam a jogar o jogo e nos 
dedicamos a prepará-los dentro de outros paradigmas, muito longe de alguns 
conceitos ensinados lá dentro. 
Talvez um dia, se o governo permitir, eu realize o sonho de construir uma escola que 
contrarie tudo isso, que peite esse esquema, que ignore a falsa importância de um 
diploma e que forme pessoas para serem relevantes na sociedade com todas as 
habilidades acima, em vez de uma manada de seres humanos padronizados em 
busca de um diploma para arranjarem um emprego e pagarem suas contas. 
E eles agem assim porque foram ensinados assim, treinadas assim e adestradas 
desse jeito desde tenra idade. 
 
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2786 
 
Texto para resenhar. 
A resenha deve ser enviada por e-mail, na linguagem formal acadêmica, ter entre 2,0 e 2,5 
páginas. Seguir os passos dados em sala e as características do gênero. Identifique o gênero 
discursivo do texto. Entregue até dia 15/06/2018

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