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EDUCAÇÃO NA PERIFERIA Suelem Cintia Borges Pantoja1 Prof. Luiz Carlos de Sá Campos2 RESUMO A educação na periferia não é só questão de ordem pública ou organização social. Trata-se de como é desenvolvido a aprendizagem dos alunos das classes mais pobres que ali moram e não tem acesso ao mínimo de qualidade de vida estabelecida pelos órgãos internacionais dos direitos humanos. Podemos entender a educação na periferia como uso de estampas nos programas de governos que a cada quatro anos aparecem prometendo resolver todos os problemas dos moradores, caso forem eleitos e nisso estamos a mais de décadas com as pessoas passando pelos mesmos desafios e famílias vendo seus filhos explorados pelo tráfico de drogas, muitos não concluindo o ensino médio completo, nem se quer chegam ao ensino superior, muito menos às universidades públicas. É necessário políticas públicas sérias para fazer com que o filho do morador da periferia tenha direito à escola de qualidade e possa concorrer a espaços, hoje ocupados por filhos de quem detém a riqueza no país e moram nos grandes centros ou condomínios fechados sem se preocupar se amanhecerão vivos pela fome ou por uma bala perdida. INTRODUÇÃO O presente trabalho quer mostrar que a educação na periferia não é apenas por ser uma questão de separação geográfica entre o centro e os lugares mais afastados, até porque hoje 1 Aluno concluinte do curso de Letras 2 Professor orientador do artigo da Universidade Estácio de Sá. nas grandes cidades temos favelas dentro dos centros urbanos, mas historicamente trazem problemas não solucionados pelos poderes públicos. A realidade da periferia é bastante complexa de se explicar, isto porque quando falamos em periferias nas escolas ou centros de estudos, muitos pensam que ali na periferia moram só os que não prestam, envolvidos com o crime, com as drogas, coisas ruins, o que não é verdade, pois na periferia moram os trabalhadores das indústrias, babás dos filhos dos ricos que de dia estão nas casas dos seus patrões e à noite voltam para os seus lares, muitas com filhos pequenos que ficam sob a guarda de irmãos ou em creches públicas. Aqui os desafios são muitos, no que tange à educação, não podemos esquecer de dizer que não vemos escolas particulares presentes nas periferias, sempre me questionei o por que de não existir. Mas hoje, consigo entender o motivo, donos de escolas particulares tem seus ideais claros, obter lucros e quem melhoram a qualidade de ensino de uma escola particular são os filhos dos patrões das babás, dos metalúrgicos das indústrias, aí não podem ter a concorrência o proletariado. Assim nascem as desigualdades sociais, sabemos que apenas um pequeno número de pessoas vindas da periferia conseguem vencer os obstáculos das diferenças sociais e concluir uma graduação, se formar numa área que apenas os ricos conseguem. Não é de estranhar as filas enormes em épocas de matrícula nas escolas públicas para garantir vagas dos filhos, uma vez que o direito garantido pela Constituição Federal não é cumprido no Brasil. Falta planejamento econômico financeiro claro para investimento em educação de qualidade e de acesso para todos. Como que uma criança ou adolescente aprende nas mesmas condições de um filho de um rico, se este vai para a escola sem ao menos fazer uma refeição, quanto mais falar em alimentação de qualidade. No Brasil demorou mais de 5 décadas para que a merenda escolar pudesse oferecer um cardápio variado com as vitaminas e proteínas necessárias para o bom aprendizado do aluno. Ainda assim, não é cumprido em todas as escolas. Aí temos os efeitos da corrupção presentes nas periferias, não precisa andar muito para perceber que falta saneamento básico, saúde pública para todos, água potável, bens necessários para a dignidade humana. Nossos representantes, todos tiram votos na época de eleições da periferia, mas só voltam lá no fim dos seus mandatos para pedir voto e prometer fazer o que não fez em quatro anos de governo. São muitas as tentativas de modelos de educação que existem hoje no meio dos teóricos ou nas gavetas do legislativo brasileiro, mas que não mostram uma clareza de investimento financeiro, humano para melhorar a qualidade da educação pública, pior, o que vemos hoje, é retirada de recursos dos orçamentos da educação para investimento em áreas de interesse do governo, como por exemplo, investimento na segurança nacional, o que parece ser até um disparato para com a realidade vivida. Acreditamos que os próprios moradores da periferia são capazes de mudar a realidade e transformar isso aí que temos, para uma sociedade capaz de poder enxergar na periferia não apenas os defeitos, mas acima de tudo, sua capacidade de produzir educação de qualidade, voltada não apenas para os que ali moram, como para todos os entornos. Desde que sejam cobrados das autoridades como um todo o cumprimento do seu papel perante os cargos que ocupam. 2 DESENVOLVIMENTO REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 REALIDADE PERIFERICA “Segundo o dicionário Aurélio, centro pode ser a parte mais ativa da cidade, onde estão os setores comerciais e financeiros ou lugar onde se desenvolvem certas atividades com objetivo determinado” já o conceito de periferia, no mesmo, pode alcançar o seguinte significado: “Numa cidade, a região mais afastada do centro urbano(FERREIRA, 2006)”. Epígrafe Este cenário sofreu mudanças significativas no Brasil. A definição do conceito de “Centro e Periferia”, vista dessa forma, é apenas representação geográfica, que não condiz com a localização das comunidades periféricas, que na realidade estão as margens da nobreza. “A divisão entre centro e periferia, de acordo com Luchiari, não é mais tão rígida. Até os anos 70, a área central das cidades brasileiras eram caracterizadas por serem melhores equipadas, enquanto a periferia era associada aos pobres. Hoje não se sustenta mais esse modelo centro-periferia, nem na escala das relações internacionais, nem na estrutura urbana das cidades. A periferia hoje está no centro e vice-versa, afirma”. 3 A periferia está inserida em varias áreas, até mesmo em meio às áreas nobres. Ainda assim, vistas como local inadequado e inacessível, exceto para os que são pertencentes daquela realidade. Há um abismo social na educação, entre a pista e a favela, onde a educação torna-se desafiadora, que acaba ficando em segundo plano, dando a vez para a pressa em sobreviver. A periferia é local de diversidades, onde não só as drogas e a criminalidade habitam, mas também, pessoas de bem, trabalhadores, grandes artistas que vivem no anonimato por falta de oportunidade. Vemos pessoas nas comunidades que sonham grande e levam esse entusiasmo para as crianças, jovens e adultos. O desejo de reconhecimento do potencial que ali habita, é imenso. A periferia com a sua busca incessante por valorização do ser humano, tem provado através de grupos e projetos sociais, de que a educação é a peça fundamental para alcançar a revolução educacional tão almejada. A vida periférica no interior tem uma diferença muito grande, comparada as demais realidades, o índice de pobreza atinge fortemente a educação e estrutura familiar. Os que têm o poder aquisitivo melhor e se preocupam, se preparam para a educação dos filhos, economizam para pagar os cursos, põe em escola particular. E assim, essa estrutura vai se construindo ate o filho ter idade pra sair da cidade pequena, em busca de uma graduação. Em uma conversa com a Professora de geografia, Domingas Lima (Minga), ela relata a sua experiência desde a infância na periferia: sou negra, filha de pais praticamente analfabetos, o pai era analfabeto, mas um analfabeto muito sábio, que não se deixava enrolar na matemática, ele sabiade cabeça. Minha mãe estudou até a 3ª série do ensino fundamental, 3 https://www.comciencia.br/dossies-1-72/reportagens/cidades/cid08.htm https://www.comciencia.br/dossies-1-72/reportagens/cidades/cid08.htm ainda assim, tinha mais dificuldades do que meu pai, que nunca foi a escola. A maneira da educação familiar, como foi dada para nós, é um modelo que eu coloco como experiência para as pessoas. Não vejo a preocupação dos pais na sua maioria, de estar se organizando financeiramente, como dizia meu pai: eu não estudei, mas quero que meus filhos estudem! Eu não tive formação nenhuma, fui pra roça, fui pescar, mas quero que meus filhos frequentem a escola. E ainda afirma: a questão da desestruturação familiar é muito séria! Os jovens da atualidade estão construindo famílias muito cedo, sem conhecimento nenhum, sem preparação física, econômica e estrutural. E aí vão gerando filhos, que vão crescendo sem também uma mãe e um pai prontos para fazer essa educação da base, que é em casa. Como parte da desestruturação, estão as drogas nas famílias, que gera um problema social muito grave. Torna-se comum a venda, até mesmo por conta da questão econômica, a praticidade em ter a droga como produto que não precisa investimento para ter a pronta entrega. Isto tem contribuído para que o índice de evasão nas escolas seja muito grande. É onde o jovem se depara com a falta de incentivo mesmo dos pais, a própria escola sem estrutura, a deficiência da formação em muitos dos profissionais, contribuem de forma negativa. 2.2 DESAFIOS DA EDUCAÇÃO PERIFERICA A escola reproduz muito o que está na sociedade, como os estereótipos e os grupos vulneráveis na educação (negros, mulheres, pobres...). Em relação a vulnerabilidade desses grupos, como o Estado pode atuar nesse sentido? É de extrema importância, que atuem de forma a tentar eliminar o preconceito dentro da escola. Das dificuldades da criança, parte de que a escola não é um espaço acolhedor. Tendo em vista as dificuldades, o estudante vai se desestimulando ao longo dos anos, prejudicando na sua aprendizagem. “Os professores dão depoimentos de falta de estrutura na escola, falta de projeto pedagógico e até da figura do diretor nem sempre presente. Mas a gente sabe que existem exceções muito importantes, em todas as questões abordadas”, relata Haroldo.4 4 https://novaescola.org.br/conteudo/2767/centro-e-periferia-desigualdades-educacionais https://novaescola.org.br/conteudo/2767/centro-e-periferia-desigualdades-educacionais A má administração dos recursos escolares desmotiva os professores. A escola como um todo, acaba sendo afetada por ser administrada por pessoas despreparadas, que ocupa o lugar por indicação politica. A Educação Pública na periferia, em geral os professores são mal remunerados. O professor acaba trabalhando em varias escolas, assumindo varias turmas para compensar o baixo salário. Afetando a qualidade do ensino, onde baixo nível de instrução da sociedade media brasileira, torna-se preocupante, pelo fato de que o brasileiro estuda pouco. Mas o problema não reside somente no nível de instrução, reside também no modelo de educação que nós temos. Segundo Darcy Ribeiro, a educação é sustentada em 3 pilares: educação intelectual, que forma a capacidade critica e analítica do individuo; Educação profissional, que dota o individuo da capacidade de entrar no mercado de trabalho, estando qualificado e educação cidadã, que consegue viver de maneira salutar dentro de um ambiente democrático, reconhecendo seus direitos e deveres. Estes três pilares estão longe de fazer parte da nossa realidade educacional. Mesmo com tantos avanços, ainda temos uma educação voltada para a formação intelectual academicista, que somente os privilegiados sociais têm acesso na formação básica. E na educação profissional, que também é um modelo mal estruturado no Brasil, tem como finalidade, apenas a formação de mão de obra para o mercado de trabalho, no qual não consegue ser eficaz. Este nosso modelo é dual: forma o intelectual das camadas sociais privilegiadas ou forma o trabalhador (apertador de parafuso), nas classes marginalizadas. E quando muito, em um modelo um pouco melhor, dá pra se fazer uma conjunção, entre a formação intelectual e a formação profissional. Já o modelo de formação cidadã, é deficiente, não temos no Brasil. É aquele modelo que tem que aprender a conviver em sociedade, reconhecer a importância da economia doméstica, do meio ambiente, noções de cidadania em tratar as pessoas com respeito, saber até onde vai seu limite para começar o limite do outro, ser alguém que não ultrapasse as barreiras do bom senso no convívio social. Às vezes é um bom profissional, tem noções técnicas, mas faltam noções basilares de bom senso, civilidade. Tem que ser a tríade, formando um único cidadão. A Professora Minga, fala sobre sua experiência em escolas periféricas: Eu trabalhei muito em escola com “meninos problemas”. Na escola periférica a regra e radicalmente clara: menino com problema expulsa, vai embora da escola. Não há menor tentativa de recuperação desses meninos, a única alternativa da escola é: expulsa! Com essa expulsão o que acontece? Os meninos saem e tem um mundo lá fora que está para abraçar, o mundo das drogas, as gangues, tem todo esse aparato de coisa negativas. Por fim, quando não morrem, acabaram parando em um presídio, porque a escola que deveria ser o espaço para recupera-los, acabou expulsando. A escola por sua vez, não investigar a causa da rebeldia e outros problemas apresentados pelo aluno, como reflexo de uma desestruturação familiar. A desorganização parte das administrações municipais, por não ter uma politica voltada para essa problemática. Há uma preocupação de chegar ao poder, e muito pouco a preocupação em ter a educação como base. Se essa base falha ocorre à desestruturação da sociedade, e isso é gravíssimo. Houve uma evolução muito grande na questão da formação, tem cursos para em diversas áreas, que naquela época não tinham, o regime era mais rígido, tinha que aprender tabuada na palmatória, e a gente não queria pegar o bolo na mão, o medo acabava sendo a motivação. Mas ainda assim se aprendia, esse método foi ruim? Sim, ninguém gosta de pegar tacada, mas agente aprendeu. O que aconteceu, com tantos métodos avançados, e a educação parece que piorou, como que se tirou o método rígido e não souberam como substituir para se manter o aprendizado? Hoje, vemos aluno que a escola diz: tem que mudar para o 6º ano, 7º ano, é o chamado programa de aceleração. Antes tinha que saber ler e escrever para mudar de etapa, hoje não, se você mal desenha as letras, já está alfabetizado. Acho que precisa ser revisto o método de ensino aprendizagem. O aluno hoje, dependendo da idade que está, tem que ser acompanhado por um especialista, caso esteja na idade da série, é avaliado pela idade, não pelo grau de aprendizagem, assim, ocorre as chamadas acelerações de etapas, fazendo com que o aluno passe para outra série, mesmo que este não consiga fazer a leitura crítica da sua aprendizagem. Mas lá na frente será cobrado, porque vai precisar fazer um concurso,vai ter que fazer uma prova, vai ter que saber, se ele não sabe, como vai ser aprovado num concurso ou vestibular? Nunca. Algo muito sério que se percebe na educação, critérios, leis para ser cumpridas, não porque precisa melhorar o índice de analfabetismo, mas para mostrar ou maquiar uma imagem falsa da verdadeira face da nossa educação. Uma mãe, diz: meu filho vai desistir da escola, porque ele não tem computador, nós não temos internet em casa. Eu boto 20 reais de credito, o menino vai ter que ler um livro todinho, no outro dia já não tem mais, como? Ele vai desistir! Isso é um ponto que agora só favorece quem tem uma situação econômica melhor.Aí o aluno da periferia tem evasão em massa, porque não consegue acompanhar, isso é geral. Precisa voltar esses trabalhos de prevenção, de conscientização, pra ver se a gente ameniza, consegue salvar os pequenininhos. Eu digo os pequenininhos, porque os grandes, já estão com uma formação “deformada”. As drogas estão em todos os lugares. Dificilmente você ver uma família que não haja um usuário dentro de casa. Isso acaba sendo um esfacelamento da sociedade. É necessário com a demagogia do faz de conta de que a educação está muito obrigada. Não é isso que acompanhamos no dia a dia dos nossos alunos, estruturas teóricas que não levam em conta os diversos fatores da realidade familiar e escolar que influenciam e muito do processo de aprendizagem. Temos uma estrutura de politicagem que é muito triste. As pessoas veem a política como uma questão suja, nojenta, mas vejo que é por ai que tem que se começar a mudar, a forma de participar do processo político, desde as tomadas de decisão no âmbito escolar, social e nas escolhas de representantes das esferas de governo. E hoje temos uma estrutura nacional, que muito preocupa a valorização da educação, parece até que estamos voltando a era do “descobrimento do Brasil”. Outro dia via em uma live, onde a coordenadora dizia que: o mapa da fome no Brasil está voltando. A politica precisa passar por uma reforma radical para poder fazer essa diferença em todos os setores da sociedade, é o que penso. E vejo que falta um comprometimento por parte das denominações religiosas firme de sua prática da fé e vida com seu povo. Antes a igreja católica tinha suas escolas, tinha uma formação muito ampla, e isso está se perdendo. Então, penso que a igreja tem de voltar a essa formação, exercer seu papel missionário. Um dos mecanismos muito usados pelas instituições de ensino superior já usados, o ensino remoto, adaptado para a educação infantil, fundamental e ensino médio, deixa muito a desejar, isto porque nas escolas não tem estrutura física preparadas para lidar com esse sistema. Como exemplo, podemos citar os desafios enfrentados por professores e alunos nesta pandemia, tem matéria que mesmo tendo um bom celular, não consegue acesso a não ser por computador. Uma casa com 10 crianças, como faz para ter esse acesso, ainda que se tenha um único computador? Nesse sistema de escassez de suporte, é uma forma de boicotar o proletariado. Quem tem interesse de formar a pessoa lá da periferia? Na verdade, ninguém quer ser empregado de ninguém. Tanto é que no período em que as universidades estiveram mais acessíveis, a mão de obra se tornou escassa. 2.3 DAS DESIGUALDADES “Por todo o país e mesmo dentro de uma única cidade, se multiplicam as diferenças entre as escolas, inclusive da mesma rede. Pode ser que umas apresentem melhor infraestrutura e mais acesso a serviços do que outras. O projeto político-pedagógico e o corpo docente podem ser diferenciados. Mas, mesmo que algumas diferenças sejam naturais, o problema é quando se tem, na verdade, desigualdades que afetam o desempenho dos alunos”.(Amanda Polato) 5 “Para Anna Maria Chiesa, especialista em desenvolvimento infantil, a pandemia “escancarou a desigualdade e as fragilidades sociais” do país. Ela disse que as políticas públicas na educação dos últimos anos, assim como as elaboradas emergencialmente durante a crise do coronavírus, miram na igualdade, mas deixam de lado a equidade. ”6 A educação sempre foi pensada como o elemento que reproduz a desigualdade, ao invés de eliminar. Essa desigualdade no contexto educacional se refere muito as oportunidades educacionais, ou seja, marcada pela característica da escola dos indivíduos: mulher, pobre, negra, etc. Onde tem as chances de realização educacional, afetada. A maioria da população vive na condição de pobreza. Isso permeia toda a nossa vida. Quem tem acesso a cultura, melhores livros, são os mais ricos. Em meio à pandemia, as atividades remotas ampliam essa desigualdade educacional. 5 https://novaescola.org.br/conteudo/2767/centro-e-periferia-desigualdades-educacionais 6 https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2020/05/na-periferia-faltam-internet-computador-e-ate-mesmo-papel- e-lapis-para-aulas-a-distancia.shtml https://novaescola.org.br/conteudo/2767/centro-e-periferia-desigualdades-educacionais O aluno da periferia que não teve essa condição de estar na escola particular, acaba tendo essa dificuldade de entrar é porque as vagas são limitadas. Como já foi dito antes, quem tem um capital melhor, se organiza, se prepara para investir no filho, paga escola particular dependendo da condição que ele tem. E o da periferia não tem esse privilegio, acaba sendo refém das migalhas do poder público. Quando um aluno de escola pública da periferia aprovado no ENEM, para se manter, chegar no curso mais além, sofre consequências de uma sociedade excludente, primeiro, ele vai ter que estudar, trabalhar para se manter. Porque nem sempre a família tem essa condição para oferecer. Ele vai ter que sair para outro lugar diferente que não conhece, às vezes, estados nada a ver com o seu, por exemplo, alunos do nordeste são chamados para estudar pela aprovação do Enem nos estados do Sul, onde estes tem de se adaptar, sacrifício que ele vai ter de fazer, se quiser alcançar seu objetivo de conquistar o sonho da formatura na área escolhida. Quando eu estudei: trabalhava de manhã e estudava a noite, um esgotamento físico, mental muito grande, quero dizer com isso, que a pessoas da periferia quando consegue chegar ao nível superior é porque realmente são heróis, porque não é fácil, principalmente quando é pobre, negro. Isso ainda influencia na vida do povo da periferia. Principalmente de quem vem do interior para a cidade. Sofre buling na escola, falo isso como experiência própria, vivi essa realidade de migração do interior para a cidade, sofri muito com buling. Hoje a questão das drogas, está dentro das escolas. Eu vi grupos, gangues que se formam dentro e fora das escolas, meninos que pedem para ir ao banheiro não para fazer necessidade biológica, mas outras necessidades dos desejos pelo uso de entorpecentes, presentes na escola. Hoje a nossa juventude está se perdendo. Carutapera uma cidade bem pequena, vemos 80% dos jovens estão com a vida comprometida para as drogas, nós estamos perdendo a educação, as escolas estão perdendo seus alunos para o mundo que não tem volta. São meninos muito jovens que tem um futuro pela frente, jogados pelos becos, vielas. Como eles dizem: estão internados! Ficar na casa do boqueiro, usando droga durante uma semana. Uma das causas da evasão escolar são exatamente as drogas. As drogas não estão atingindo apenas a classe pobre, mas também a classe alta. Atinge, não só a juventude como as crianças, antes do sexo masculino, agora também do sexo feminino. Isso compromete a vida e toda a sociedade. Com a questão das drogas, surge o questionamento no meio da juventude: para que estudar, se eu vendendo droga eu ganho mais que isso? Fulano não estudou, olha o que ele tem. Carro, moto, sua casa é boa. Ele não precisou ir para escola. Eu, há dois anos, trabalhava com jovens e adultos, então, nós dialogavamos muito, fazia, debates na escola. Eu gosto disso, você escuta depois, vem um individualmente eu quero conversar, eles se abrem para você, e nessa abertura você consegue colocar, mostrar uma luz para eles, um caminho que não é assim. Fizemos uma pesquisa em um bairro, que conseguimos entrar na casa do boqueiro, na casa de famílias que tem usuários, com questionários. Como elas convivem com usuário dentro da casa? As respostas sempre das mães ou familiares são sempre os mesmos, muito sofrimento e dor, saber que este usuário só tem um caminho, a morte, muito triste. Hoje não se ver mais campanhas contra as drogas, conscientização,um trabalho de prevenção, dentro da própria escola. Até porque com a questão da pandemia as coisas pararam, mas bem antes da pandemia já não se via esse trabalho de prevenção nas escolas e nem nas próprias igrejas, não víamos esse trabalho. Com a pandemia toda essa situação piorou, quer dizer: a escola não funciona, mas para os boqueiros, houve um espaço muito amplo para trabalhar durante esse período de isolamento social. Eles são livres, tem um campo amplo que estão atuando em todos os lugares, eles não pararam, isso favoreceu muito os “empresários das drogas” a sobreviverem. 2.3.1 A FOME Hoje, o intuito da educação é para ser uma educação de mercado. Apenas para formar o básico daquelas pessoas que trabalham como mão de obra barata, uma forma de sobrevivência do sistema é ter as pessoas morrendo de fome. O Governo visa formar maquinas que aceitam 8h dia de trabalho por 6 dias semanais, de fato mulas de carga. O governo não quer o periférico em cargos de impacto. Em meio a pandemia ficou mais evidente de que as vidas nas periferias não está valendo, e como são numerosas, é vista como quem sempre estará sujeito a substituição por um outro necessitado. A fome afeta o desempenho escolar dos filhos dos periféricos, Emília Ferreiro já identificava a fome, como uma das causa de dificuldade no aprendizado na alfabetização. É muito sofrida a educação da periferia, além da questão econômica da família, o pobre tem uma alimentação bem diferente, sua única refeição muitas vezes, é a merenda da escola quando tem. Quase sempre é o único incentivo para ele ir para escola. Então tudo isso pesa no povo da periferia, a desestruturação econômica. Muito triste quando você recebe em sua casa uma pessoa que diz, está há dois dias sem comer, está com filho no hospital, não tem renda nenhuma, sobrevive de doações, isso é muito triste. Com a Pandemia essa realidade só aumentou. O uso das drogas acaba sendo em muitos casos, refúgio para jovens esconderem seus problemas reais de uma elite social hipócrita, presentes em todos os meios, principalmente nas igrejas que deveriam acolher estas pessoas com alimento (pão material) Palavra (alimento espiritual), mas não é o que vemos. . O meu pai bebia cachaça para ter coragem de comprar fiado. Assim são as mães que fazem o uso das drogas, às vezes para ter coragem em pedir, aí onde elas se viciam. Acaba criando um problema bem maior. Não se cria alternativa para a mãe, naquele momento em que precisa se encorajar. Para muitos é mais fácil dar um copo de cachaça do que oferecer uma alternativa de trabalho para este pai ou mãe sustentar seus filhos. 2.3.2 EFEITO DA CORRUPÇÃO NA PEREFIRIA A corrupção está enraizada na cultura brasileira ha séculos, desde os tempos de colonização. Historiadores afirmam que, a corrupção, já nasceu com a chegada dos portugueses, que vieram explorar as riquezas naturais do país. E os primeiros a serem corrompidos, foram os índios, que habitavam as terras brasileiras. Os portugueses subordinavam os nativos, para conseguir tesouros valiosos do país, depois escravizavam e até roubavam. “Minha luta como político é contra a desigualdade social em meu país, a enfermidade dos ricos brasileiros, que é a sua indiferença diante do sofrimento do povo. Tenho tão nítido o que o Brasil pode ser, e há de ser, que me dói demais o Brasil que é” (Darcy Ribeiro) 7 Darcy Ribeiro, não enxergava a educação como uma politica de governo, mas sim como uma politica de estado, como uma clausura pétrea, autentica. É no que concerne a 7 Ecoa, publicado em 12 de dezembro de 2020, reportagem: Marcos Candido – Ed. Fernanda Schimidt. educação sendo encarada como politica de estado. É que a educação tem que ser considerada o pilar fundamental de qualquer estado. O desenvolvimento econômico, as politicas de saúde publica, de trabalho, emprego, etc. perpassam pela politica de educação. Por isso ela é uma politica de estado. Este sucateamento é um projeto da classe dominante para sucatear as escolas. Para que os filhos dos trabalhadores fossem preparados para serem explorados. Este projeto tem dado certo. Visto que os investimentos são feitos em armas, mas não investem na melhoria da educação. O Governo Federal dá mais prioridade às armas, a violência contra a juventude pobre. A população carente paga mais impostos e lucros do que as super-ricas. Porque os ricos criam subterfúgios para não pagar. Temos que aprender a exigir os nossos direitos adquiridos. Criticam o bolsa família, quando se tem filhas de militar com pensão vitalícia. ”A educação é o grande diferencial de qualquer país. Através dela é possível promover melhor condição social e o desenvolvimento econômico das nações. Mas, não apenas isso. O acesso amplo à educação de qualidade é um antídoto contra a corrupção. Essa afirmação vem respaldada por uma pesquisa, publicada no ano passado, sobre a percepção de desvios e a evolução da escolaridade em 78 países desde 1870, elaborada pelo cientista político sueco Bo Rosthstein. De acordo com Rosthtein, a raiz da corrupção está no descuido histórico com a educação. Isso explicaria porque nações que foram pioneiras em valorizar o ensino público são mais transparentes com a sociedade. Além disso, os países menos corruptos do mundo, como a Alemanha, investiram desde muito cedo na educação de qualidade. É triste afirmar que o baixo nível de educação resulta em corrupção. Entretanto, o Brasil é nosso exemplo. O país nunca passou por uma reforma para universalizar o acesso à educação e as crianças de baixa renda são reféns de um ensino público que está, em sua maior parte, precário e sucateado.” 8 8 https://www.leiaja.com/politica/2018/06/18/falta-de-educacao-gera-corrupcao/ https://www.leiaja.com/politica/2018/06/18/falta-de-educacao-gera-corrupcao/ 3. MODELO DE EDUCAÇÃO 3.1 DO IDEAL “O antropólogo Darcy Ribeiro, foi um dos maiores defensores do ensino universal e criticava a ausência de planos a longo prazo para a educação. Era crítico, por exemplo, do analfabetismo e da demora para criar grandes universidades no país. Para ele, a falta de um projeto nacional para educar os brasileiros era uma forma de perpetuar nossa extrema desigualdade social.” 9 Esta ausência de plano claro para a educação faz alimentar uma sociedade cada vez excludente e carregada de pequenos projetos “tapa buracos” que nada contribuem a não ser aumentar a corrupção. 3.2 DA ESCOLA TRANSFORMADA A escola é o meio para alcançar a transformação. Uma educação de qualidade te permite fazer escolhas, pode mudar a realidade da periferia, com a capacidade de transformação, que possui. Tanto do espaço físico como a reestruturação da educação em si. A escola precisa ser reinventada constantemente, acompanhar o processo de mudança das gerações e a evolução das tecnologias, assim podendo contar com uma infraestrutura adequada, acompanhada de estratégias criativas, prazerosas e educativas, contribui no desempenho do educando e torna a escola um espaço atrativo e o ensino passa a fluir naturalmente. Favorecer consciência critica ao educando através dos debates, rodas de conversas, abrir dialogo sobre diversos assuntos. É de grande valia, que a escola interaja ativamente com a comunidade, que seja motivada por simples eventos compartilhados com a comunidade de forma organizada, como: esporte, apresentações de dança, teatro, quermesse, entre outros. A participação da população (comunidade) é fundamental na participação de estratégia coletiva. Nos unir, é tomar conta dos espaços e exigir nossos direitos. “Esta busca de soluções, tendo em vista a modificação da realidade educacional dos países da América Latina, em relação ao fracasso na alfabetização, principalmente das 9 Ecoa, publicado em 12 de dezembro de 2020, reportagem: Marcos Candido– Ed. Fernanda Schimidt. crianças das classes sociais menos favorecidas, levou Ferreiro a propor, por meio, especialmente, dos resultados da pesquisa contidos no livro Psicogênese da língua escrita, uma nova maneira de se pensar a alfabetização, já que, para a pesquisadora, o fracasso na alfabetização está relacionado à maneira pela qual esse processo vinha sendo proposto e praticado até então.”10 A psicolinguística que foi aluna de Piaget em Genebra, Emília Ferreiro, tinha um foco nas questões politicas sociais. Inquieta com dificuldade no aprendizado das crianças pobres, se questionava: O que falta para quem não consegue? Com base nas pesquisas, ela mostra que existe um processo de aquisição da escrita, pelo qual as crianças vão pensando sobre a escrita e se tiverem informação, vão aprendendo a ler. Uma das observações feita por Emília era o “por que” do fracasso das crianças pobres na escola. Em meio a tantas pesquisas opostas daquilo que o mundo inteiro estava fazendo, ela dá seguimento a sua pesquisa com hipótese piagetiana, tendo como objeto de estudo as crianças em fase de alfabetização. Com base na técnica Piagetiana, interrogava as crianças e observava em qual momento as crianças se davam conta do que a escrita representava p elas? No Brasil, a escrita é alfabética, ou seja, não é acessível imediatamente e nem diariamente para nenhuma criança. Exemplo: uma criança de classe média, em que vai para a pre escola e que os pais leem a noite, as chances de ser alfabetizada até mesmo antes dos 5 anos de idade, é bem maior, comparada as que não tem o mesmo acesso. “Na República e nas Leis, para além de desenhar o seu estado ideal, Platão também define o sistema educacional que o manterá, apresentando assim as suas ideias sobre a educação, o valor da poesia e da música, a utilidade das ciências, da filosofia e do filósofo. Platão começa por defender uma sólida formação básica que evolui até elevados estudos filosóficos, considerando que só indivíduos especialmente dotados poderiam chegar à filosofia. Para se chegar a este nível de educação é necessário passar por um nível de formação básica, à qual terá dado o nome de educação preparatória. Esta terá por função desenvolver de forma harmoniosa o espírito e o corpo.”11 Acredito que na educação mesclada de valores sejam eles poéticos, musicais, das ciências, é possível chegar a uma aprendizagem voltada 10 Revista Eletrônica Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa” Sítio Oficial: www.acoalfaplp.net 11 http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/academia/academia4.htm para a valorização do ser humano como pessoa, não podemos deixar que nosso corpo seja máquinas apenas para a produção mecanizada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante o estudo, conversamos com diversas pessoas, moradoras da periferia, educadores atuantes em sala de aula nas escolas de periferia e cidadãos comuns que mesmo semi alfabetizados conseguem fazer uma leitura, onde demonstram que a educação de qualidade pode ser também obtida na periferia. Das conversas que conseguir aproveitar não só para a construção deste artigo, como para a minha vida, foi com a professora Domingas Lima, onde a mesma não apenas tem um conhecimento profundo do tema, como coloca a mão na massa e faz acontecer aquilo que os órgãos públicos não fazem. A professora sai da sua casa para atender crianças sem comida e sem material escolar, onde não só levam a comida e os materiais escolar para as crianças da periferia, mas que cobram dos pais quando seus filhos não vão à escola. Sabemos que só isto não basta, mas também não desvalorizamos o seu trabalho em prol de uma sociedade justa e que seja pelo menos vista como parte de um habitat onde moram pessoas que pedem socorro. Os desafios são muitos para os moradores das periferias, vistos sua capacidade de driblar os problemas hoje fortes como a pandemia há mais de um ano presente e que mesmo assim, vemos famílias com seus filhos usando o que tem para estudar, cadernos já quase todo usado, pais sem letramento para ensinar as lições aos filhos, mesmo assim, cobram para que as atividades não fiquem sem fazer. Talvez aqui está a resistência de quem mora na periferia, não desanimar mesmo que a vida lhes dê uma “rasteira”, é o sonho do futuro dos filhos não ser apagados pela dura realidade vivida. Acreditamos na força propulsora de quem mora na periferia, cobramos dos governantes alternativas capazes de poder retirar jovens das drogas, trazer lazer para as crianças da periferia, aumentar a capacidade das creches onde as mães possam deixar seus filhos enquanto trabalham, políticas públicas capazes de gerar trabalho e renda para os autônomos. Só assim teremos condições de melhorar a qualidade das escolas públicas da periferia, com menos corrupção na política, na religião, nas famílias, nos espaços de convivência, vamos ter infraestrutura de qualidade com saneamento, lazer, saúde, educação e respeito pelo outro, não custa sonhar. Seguimos firmes na prática do bem estar de todos, mas de modo especial, das crianças, adolescentes e jovens que ainda estão fora da escola por vários motivos aqui desnecessários. Referencias bibliográficas https://www.comciencia.br/dossies-1-72/reportagens/cidades/cid08.htm https://novaescola.org.br/conteudo/2767/centro-e-periferia-desigualdades-educacionais https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2020/05/na-periferia-faltam-internet-computador-e- ate-mesmo-papel-e-lapis-para-aulas-a-distancia.shtml Ecoa, publicado em 12 de dezembro de 2020, reportagem: Marcos Candido – Ed. Fernanda Schimidt. https://www.leiaja.com/politica/2018/06/18/falta-de-educacao-gera-corrupcao/ Ecoa, publicado em 12 de dezembro de 2020, reportagem: Marcos Candido – Ed. Fernanda Schimidt. https://www.comciencia.br/dossies-1-72/reportagens/cidades/cid08.htm https://novaescola.org.br/conteudo/2767/centro-e-periferia-desigualdades-educacionais https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2020/05/na-periferia-faltam-internet-computador-e-ate-mesmo-papel-e-lapis-para-aulas-a-distancia.shtml https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2020/05/na-periferia-faltam-internet-computador-e-ate-mesmo-papel-e-lapis-para-aulas-a-distancia.shtml https://www.leiaja.com/politica/2018/06/18/falta-de-educacao-gera-corrupcao/ Revista Eletrônica Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa” Sítio Oficial: www.acoalfaplp.net http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/academia/academia4.htm CARVALHO, Marília Pinto de. Diferenças e Desigualdades na Escola. 1° edição. Campinas: Papirus, 2012 FERREIRO, Emília. Reflexões Sobre Alfabetização. 26° edição. Cortez, 2018. RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. 1° edição. Global Editora, 1995. http://www.acoalfaplp.net/
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