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Artigo Ética

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CASO MURALHA, QUESTIONAMENTO ÉTICO JORNALÍSTICO
Resumo 
Os desafios do jornalismo contemporâneo estão se tornando ainda mais complexos com a evolução da era digital e as redes sociais. A aproximação com o público e o senso comum tem se tornado uma alternativa de alguns meios de comunicação para atrair o consumidor através da representatividade. Mas por algumas vezes, essa estratégia esbarra na questão ética jornalística. O caso envolvendo o goleiro Alex Muralha e o Jornal Extra foi um símbolo dessa nova relação. Diante desse dilema, o artigo busca debater e definir se a situação ultrapassou o limite ético ou esteve em todo momento amparado na liberdade de imprensa. 
Palavras-chave: Ética jornalística; Jornal Extra; Alex Muralha.
Introdução
Desde a sua essência o jornalismo mescla informação e opinião. A linguagem opinativa dos séculos passados ainda encontra receptividade entre os consumidores, porém, oferece o perigo de se infringir a conduta ética na produção jornalística. Os meios de comunicação podem construir representações positivas e negativas sobre qualquer assunto e, com isso, colaborar tanto para um debate elaborado quanto para esvaziar ou dificultar as relações sociais. Mas é preciso analisar o que é dito e propagado pelo veículo ou canal. Pois conforme San Martino (2018), estamos sempre julgando ou avaliando nossos atos e os dos outros. Formulamos juízos de aprovação ou reprovação e nos sujeitamos conscientemente a certas normas ou regras de ação.
Porém sendo, preferencialmente, imparcial, o jornalismo contemporâneo se vê diante do dilema entre interagir e expressar sentimentos de senso comum ou se conter exclusivamente com a informação. Um exemplo simbólico é o Jornal Extra. Para Berta (2017), o periódico carioca tem apostado em capas ousadas, muitas delas tidas como brilhantes pelo senso comum das redes sociais. Com uma linha editorial mais livre para explorar o mundo das primeiras páginas, o “Extra” tem flertado com uma linha tênue entre o sensacional e o sensacionalista.
Em ambos os casos, a questão esbarra em um conceito básico do jornalismo: a imparcialidade. Segundo Piroli (2010), a noção de imparcial se afirma como um ideal no discurso de justiça que regularia as interações entre indivíduos libertos de redes de interesses, afetos e paixões. Sendo o principal esporte nacional, o futebol atrai a atenção de milhões de brasileiros e movimenta os meios de comunicação do país. Com isso, a liberdade de opinião fugindo do lado passional é quase inexistente. Por esse motivo, o relacionamento entre a paixão e a imparcialidade é um desafio enfrentado pelos profissionais que atuam nesse segmento jornalístico.
Assim como a imparcialidade, a objetividade também precisa ser exercitada pelos jornalistas. Sendo entendida, por Sponholz (2003), como uma conexão entre a realidade social e realidade midiática, a objetividade discute a possibilidade de se conhecer a realidade. Por isso cai sobre os meios de comunicação a responsabilidade do conteúdo no ambiente social.
a qualificação da ética jornalística também implica que a notícia incorpore a visão dos movimentos sociais e dos sujeitos marginalizados, dando pluralidade ao discurso usualmente construído na perspectiva das autoridades públicas, políticas, científicas, culturais, empresariais e eclesiásticas (SARTOR; BALDISSERA, 2012, p. 128-129) 
Flertando entre a imparcialidade e o sensacionalismo, a capa do Jornal Extra no dia posterior a derrota do Flamengo, por um erro individual do arqueiro rubro-negro, causou muita polêmica. Prestando um esclarecimento na primeira página sobre a extinção do apelido “Muralha” ao se referir o jogador, o periódico do dia 1º de setembro de 2017, proporcionou uma reflexão sobre o papel da ética jornalista no mundo contemporâneo. Sob alegações de que o nome não condizia com a forma atual do jogador, o jornal expôs um profissional e deu voz a uma análise passional dos torcedores.
Diante isso, onde estaria a imparcialidade e a objetividade pregada pela profissão? Mesmo que o momento ruim do jogador fosse senso comum, seria papel da imprensa estimular esse tipo de julgamento? Além disso, qual e se existe limite para expor uma pessoa pública? A situação levou essas e outras questões. Mas de fato, é preciso compreender o papel do jornalismo atual, que está buscando se adaptar a um novo tipo de mercado e exigência do leitor.
Discussão
O jornalismo do século 21 está em constante mutação, a internet, as redes sociais, as fakes news, o jornalismo impresso, o jornalismo opinativo, enfim, todas essas mídias estão de alguma forma modificando o modo de se comunicar. O fato ocorrido com o goleiro do Flamengo no Jornal Extra se tornou um grande exemplo. Seguindo a linha das redes sociais que viam com muita crítica as atuações do goleiro, o periódico resolveu arriscar. Aproveitou um erro do jogador e o desligou do apelido de "Muralha". O fato gerou muita repercussão, o jogador e a diretoria do clube não gostaram da inovação. A torcida, por sua vez, se sentiu representada. Diante do conflito, até que ponto o jornal teve uma conduta possivelmente ética.
No ano de 2014, o Supremo Federal sob a relatoria do Ministro Celso de Mello discutia liberdade de expressão e o direito de crítica. Na ocasião ficou decidido que a notícia veiculada em revista de grande circulação que ultrapassar os limites da liberdade de imprensa e atingir a honra subjetiva do autor, gera dando moral.
No mesmo ano, ocorreu um fato parecido na cidade do Vale do Itajaí. Um jornal local ao fazer uma reportagem denúncia fez várias acusações a uma pessoa pública. Quando acionado judicialmente, a publicação perdeu sob alegação de que embora a pessoa pública esteja sujeita a uma maior exposição de seus atos, a matéria extrapolou a liberdade de imprensa, pois buscou o propósito de agredir a imagem e a honra do recorrente, com o nítido interesse de manipular a opinião da coletividade.
A manipulação da opinião é uma ferramenta que não pode ser desconsiderada quando buscamos analisar esse tipo de situação. Porém, quando a notícia vem ao ar compactuando com a opinião pública a discussão é subjetiva. Lima (2018) acredita que do jornal só se espera notícias e que a opinião tem que ser um processo do leitor. Porcello (2016), por sua vez, tem a crença de que não tem opinião pública, mas, sim, opinião do que se pública. O debate sobre o tema abre espaço para múltiplas interpretações. Já no caso Muralha, uma atuação ruim do jogador teve grande efeito noticioso. Sendo o goleiro do principal clube do país, a falha do atleta seria notícia ou apenas uma forma de interação e entretenimento com o público.
Explorando esse fator de risco, Amaral (2008, p.64) defende que o jornalismo borra suas fronteiras com o entretenimento não somente quando prioriza temas irrelevantes ou fúteis, mas, sobretudo, na maneira como trata suas pautas. A notícia se rende ao entretenimento quando é construída a imagem de um leitor desinteressado dos temas públicos. Neste caso, a reflexão que permeia é sobre o principal valor noticioso. Além disso, evidencia também o papel da imprensa na construção de personagens.
Diante dessas questões podemos focar na necessidade profissional do jornalismo de buscar constantemente a imparcialidade. Rossi e Marques Ramires (2013), defendem o conceito na produção jornalística. Para eles o jornalismo preenche cada vez mais a necessidade do homem contemporâneo em adquirir informação por meio de convenções acerca do que é real. O perigo é que disfarçado sob a bandeira do imparcial, o real é muitas vezes o discurso oficial; expressa o interesse de determinados grupos no jogo do capital; ou faz propaganda de ideologias. 
A história se difere um pouco quando falamos de esporte. Brasil e futebol são sinônimos em todo lugar do mundo. Com uma ligação tão profunda, não há como desconsiderar o relacionamento com o jornalismo. Desde sua essência o jornalismo traz ao público a poesia de um jogo de futebol. Os grandes
times e os grandes momentos nas décadas anteriores foram narrados com crônica sem iguais. 
Segundo Lopes (2015), o peso que o futebol possui na sociedade brasileira é o parâmetro guia para sabermos o quanto os personagens dentro do jornalismo esportivo são importantes. A personalidade completa da pessoa física dá lugar a uma representação factual do atleta. Ou seja, traçando característica que estão em maior evidência na crônica esportiva ou nas redes sociais. Torna-se a própria representação do atleta o eixo da história. A pessoa física dá lugar a um personagem moldado pelo repórter. 
Com os argumentos colocados, o debate se equivale. A busca por assumir a opinião pública com a desmitificação comum de um personagem do futebol brasileiro versus a busca pela imparcialidade e os diretos da figura pública envolvida. Na linha da moral, a discussão pode ter os mais variados vereditos. Haverá quem concorde com a postura do Jornal Extra, outros que discordam e uns que expressam indiferença.
Porém, na conduta ética do jornalismo, o periódico se excedeu. A superexposição da figura do goleiro, pode gerar reflexos ainda mais complexos na vida pessoal do atleta. Além disso, os meios de comunicação tem a missão de formar opinião através dos fatos e não estimular perseguições. Conforme aponta o Art. 10º do Código de Ética do Jornalismo, o jornalista não pode concordar com a prática de perseguição ou discriminação sejam por qual for a motivação.
Conclusão
Objetivando verificar a aplicação da ética no caso que envolveu o goleiro do Flamengo e Jornal Extra, através desse artigo, foi possível constatar que embora o jornalismo tenha a licença poética na criação de personagens e na desmitificação dos mesmos, há limites ético a ser respeitados. O conflito de até onde a pessoa pública pode ser exposta também ainda é uma grande questão a ser encarnada no jornalismo. A opinião pública não viola os direitos civis de nenhum profissional, porém, a forma como exposto pode ser determinante.

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