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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE AGRONOMIA ELISEU MACIEL DEPARTAMENTO DE SOLOS GÊNESE DO SOLO 1 - INTRODUÇÃO Quando as rochas são expostas à superfície terrestre, estão sujeitas a condições de pressão, temperatura e umidade muito diferente daquelas do meio onde se originaram. Uma vez expostas, irão sofrer a ação direta do calor do Sol, umidade e ação dos organismos, dando início a processos que provocam modificações tanto no aspecto físico como na composição química dos minerais dessas rochas (intemperização). A camada de material superficial, originado das rochas e dos depósitos inconsolidados, que foi afetado pelo intemperismo é chamada de regolito. Por sua vez, o regolito pode ser separado em duas subcamadas: o substrato e o solum. No substrato pode ser encontrada a rocha decomposta por intemperismo químico para um material mais friável, de cores amarelas a avermelhadas ou em tons de cinza, que preserva muitas das estruturas da rocha sã que ocorre abaixo; quando esse apresenta a estrutura da rocha perfeitamente discernível é denominado de saprólito (grego: sapros = podre; litos = rocha). No solo, a parte mais externa, ou seja, mais exposta à superfície, atuam não somente os processos de intemperismo, mas também os processos pedogenéticos (processos de formação do solo). Figura 1. Terminologia e relação entre os segmentos da crosta terrestre (Fanning & Fanning, 1989). Em resumo, os principais processos que ocorrem na superfície terrestre são: 1) Intemperismo → conjunto de alterações físicas, químicas e/ou biológicas que as rochas sofrem ao aflorar na superfície terrestre. 2) Erosão → processo de remoção dos produtos do intemperismo, provocado pela ação da água, gelo e vento, combinados com a força gravitacional. A movimentação desses materiais é chamada de transporte. 3) Sedimentação → acumulação local de detritos ou substâncias reprecipitadas (sedimentação química) que foram movidos pelas forças erosivas, de áreas elevadas para áreas mais baixas, como bacias e depressões. 4) Pedogênese → é um processo resultante da ação dos agentes intempéricos e biológicos, levando à diferenciação dos horizontes e formação dos perfis de solos. A gênese do solo estuda a origem e o desenvolvimento dos solos, suas relações com o ambiente atual e a influência das características herdadas do passado no seu comportamento. Este conhecimento serve tanto para auxiliar no entendimento da distribuição dos solos na paisagem, permitindo o seu mapeamento, como no correto manejo e na conservação. 2 – INTEMPERISMO O intemperismo é um conjunto de alterações físicas (desagregação) e químicas (decomposição) que as rochas sofrem ao aflorar na superfície da Terra. Os produtos do intemperismo, rocha alterada e solo, estão sujeitos aos processos que ocorrem na superfície terrestre (erosão, transporte e sedimentação), ocasionando a denudação continental e o conseqüente aplainamento do relevo. O intemperismo resulta da instabilidade dos minerais às condições de temperatura, pressão e umidade encontradas na interface litosfera- atmosfera; reduz as massas rochosas a fragmentos que variam desde o tamanho de grandes blocos (> 1 m) até o tamanho argila (< 0,002 mm) e continua ocorrendo tanto no solo como no substrato. Basicamente, o intemperismo pode ser classificado em dois tipos: intemperismo físico e intemperismo químico. Passaremos a examinar os diferentes tipos de intemperismo e em seguida os fatores que determinam suas variações. 2.1 – Intemperismo físico Consiste na fragmentação das rochas, sem mudanças significativas na composição química. Inicia com a exposição das rochas à superfície da crosta terrestre, que pode ser através de vulcanismo, plutonismo ou tectonismo. Causa a separação e desfragmentação dos grãos minerais, antes coesos, transformando a rocha inalterada em material descontínuo e friável. Pode ser subdividido em: Alívio de pressão → fendilhamento da rocha provocado por expansão, provocada pelo alívio de tensões, gerada pela remoção de espessas capas de sedimentos da crosta terrestre. Exemplo: rochas ígneas plutônicas, quando expostas à superfície através de soerguimento ou erosão, provocando sua expansão e fendilhamento. Variação de temperatura → fraturamento da rocha por tensões geradas por variações diárias ou sazonais ou mesmo por aquecimento diferencial da superfície da rocha, ocasionando a fragmentação dos minerais. Isto ocorre quando vários minerais estão unidos na massa da rocha e, quando submetidos à variações de temperatura, se dilatam e contraem em diversas direções e com intensidades diferentes. Exemplo de ocorrência: desertos, com climas quentes e áridos. Congelamento da água → ao congelar-se, a água pode expandir seu volume em cerca de 9%. Por este motivo, a água ao congelar em fendas ou poros das rochas gera pressões internas nas paredes das mesmas. A repetição contínua do processo de congelamento- degelamento contribui para alargar as fendas e a conseqüente desagregação da rocha. Este tipo de intemperismo não é comum no clima do Brasil, sendo típico de áreas mais frias. Precipitação de sais → de maneira semelhante à ação do gelo, o acúmulo de água rica em sais nas frestas e fendas das rochas podem ocasionar seu fraturamento quando a água evapora e os sais começam a se cristalizar. É um dos principais problemas que afetam os monumentos históricos. Crescimento de raízes → significa a quebra das rochas pela pressão causada pelo crescimento das raízes em suas fissuras. Exemplos típicos desta força são os danos causados pelas raízes de algumas árvores ao calçamento e às fundações de construções. A fragmentação das rochas e o conseqüente aumento da área superficial específica (ASE) é uma das maiores contribuições do intemperismo físico para o avanço do intemperismo químico e a pedogênese. 2.2 – Intemperismo químico Consiste em alterações químicas e mineralógicas das rochas. Inicia quando os minerais constituintes das rochas são atacados pela água, gás carbônico, oxigênio e alguns constituintes são removidos em solução. O intemperismo químico conduz à alteração e à desintegração dos minerais, resultando na formação de novos minerais (neoformação) e na liberação de íons. A ação do intemperismo químico aumenta diretamente com a área superficial dos minerais, pelo fato de se iniciar na superfície dos mesmos. O principal agente deste tipo de intemperismo é a água, que infiltra e percola nas rochas. Esta ação é reforçada pela presença de ácidos orgânicos e predomina em climas úmidos, sendo acelerada pelo aumento da temperatura. O intemperismo químico é favorecido pelo intemperismo químico e na natureza é praticamente impossível separar os dois tipos, já que ocorrem quase simultaneamente. O intemperismo químico torna-se mais acelerado à medida que o intemperismo físico avança, devido ao aumento da área superficial específica dos minerais. Estas reações ocorrem numa velocidade bastante lenta, do ponto de vista humano. As principais reações são: Hidratação → associação de moléculas de água ou grupos de OH. A água é adsorvida à superfície do mineral sem alterar a sua estrutura, mas servindo como um pré-requisito para a hidrólise, daí a sua importância. CaSO4 + 2H2O ⇔ CaSO4.2H2O Dissolução → os minerais são dissolvidos pela água, rica em CO2 ou ácidos, resultando na solubilização completa do mineral. Ocorre com minerais de alta solubilidade como halita e calcita. No caso da calcita são formadas cavernas (com estalactites e estalagmites) em rochas calcárias e um relevo típico, denominado de kárstico, com depressões (dolinas) e sumidouros. NaCl ⇒ Na+ + Cl- CaCO3 + H2CO3 ⇒ Ca++ + 2HCO3- Oxidação → neste processo, o oxigênio tem grande importância na intemperização de mineraisricos em Fe e Mn. Os cátions são liberados, formando óxidos e hidróxidos. A oxidação gera cores avermelhadas ou amareladas, no caso de óxidos de ferro, e pretas , no caso de óxidos de manganês. Redução→ está relacionada à redução de íons de ferro (Fe+3 → Fe2+), dada pela ação de microorganismos em ambientes saturados com água e baixa oxigenação. Confere cores acinzentadas em solos mal drenados. Hidrólise → é a reação mais importante. Os íons H+ reagem com os elementos do mineral, rompendo as ligações entre os íons metálicos e o silício com o oxigênio, alterando a composição e a estrutura do mineral. A hidrólise normalmente ocorre numa faixa de pH entre 5 e 9. Em ambientes onde o pH for menor que 5 ela é chamada de acidólise. A hidrólise pode ser total: 100% da sílica e do potássio são eliminados, restando apenas o alumínio, insolúvel na faixa de pH entre 5 e 9, em ambientes de pluviosidade alta e boa drenagem dos perfis; ou parcial: parte da sílica permanece no perfil e o potássio pode ser total ou praticamente eliminado, resultando na formação de aluminossilicatos, montmorilonita (bisialitização) e caulinita (monosialitização), em áreas de menor pluviosidade e/ou drenagem menos eficiente em relação ao ambiente de hidrólise total. 2,3 KAlSi3O8 + 8,4 H2O + H+ → Si4O10 Al1,8Mg0,2(OH)2 M0,3 + 3,2H4SiO4 + 2K+ + 2OH- feldspato montmorilonita (hidrólise parcial) 2 KAlSi3O8 + 11 H2O + H+ → Si2Al2O5(OH)3 + 4H4SiO4 + 2K+ + 2OH- (hidrólise parcial) feldspato caulinita KAlSi3O8 + H2O + H+ → Al(OH)3 + 3H4SiO4 + K+ + OH- (hidrólise total) feldspato gibbsita Complexação → é a ligação de um íon metálico com um composto orgânico, podendo aumentar a solubilidade do metal, acelerando a decomposição dos minerais (intemperismo bioquímico) e formando complexos organo-metálicos. 2.3 – Fatores que controlam a ação intempérica Os fatores que controlam a ação do intemperismo são: 1 Clima → variações sazonais de temperatura e distribuição das chuvas. É um dos fatores mais importantes por regular a natureza e a velocidade dos tipos de intemperismo. O intemperismo físico predomina em áreas onde a temperatura e a pluviosidade são baixas, enquanto o intemperismo químico é favorecido por temperatura e pluviosidade mais altas. 2 Rocha parental → apresenta resistência diferenciada aos processos intempéricos, dependendo da natureza mineralógica. Entre os minerais constituintes das rochas, alguns são mais susceptíveis do que outros à alteração. A série de Goldish na figura 2 representa a seqüência de estabilidade dos principais minerais frente ao intemperismo, comparando com a série de Bowen, referente à cristalização dos minerais. Como conseqüência dessa diferenciação de comportamento dos minerais frente ao intemperismo, os perfis de solos e os saprólitos serão enriquecidos com os minerais mais resistentes ao intemperismo, como o quartzo, e pobres ou desprovidos de minerais mais alteráveis, como a olivina. 3 Relevo → influi no regime de infiltração e drenagem de águas pluviais. O relevo controla a velocidade de escoamento superficial das águas pluviais (que também depende da cobertura vegetal) e, portanto, controla a quantidade de água que infiltra nos perfis de solos. As reações químicas do intemperismo ocorrem mais intensamente em áreas do relevo onde haja boa infiltração de água, percolação por tempo suficiente para consumar as reações e drenagem para lixiviação dos produtos solúveis. Com a repetição deste processo, os componentes solúveis são eliminados, o intemperismo continua e o perfil tende a se aprofundar. Figura 2– Série de Goldish (estabilidade dos minerais) e série de Bowen (cristalização) 4 Fauna e flora → fornecem matéria orgânica para as reações químicas e remobilizam materiais. Quanto maior for a atividade biológica, mais ácidos orgânicos são incorporados ao ambiente, acelerando o intemperismo químico. A atividade biológica também contribui para o intemperismo físico através do crescimento das raízes nas rupturas das rochas, estabilização das encostas e retardamento da erosão e favorecimento da infiltração das águas das chuvas. 5 Tempo → tempo de exposição da rocha aos agentes intempéricos. Quanto mais longo for o tempo, maior a possibilidade de desenvolvimento do perfil do solo e de alteração das rochas. Em áreas de topografia muito íngreme, não há tempo suficiente para desenvolvimento do manto de intemperismo (regolito) devido a ação da erosão. 2.4 – Estágios do intemperismo Definidos em função da associação de um conjunto de minerais específicos para um determinado grau de intemperismo. a) fraco: presença de minerais solúveis como gesso e calcita e de silicatos primários mais solúveis (olivina, piroxênios e plagioclásios cálcicos) nas frações areia e silte; b) intermediário: com minerais primários de resistência média ao intemperismo nas frações areia e silte (como biotita, feldspato K e plagioclásios Na-Ca) e argilominerais 2:1 como esmectita (e vermiculita e ilita) na fração argila; c) avançado: fração argila dominada por argilominerais 1:1 (caulinita) e óxidos de Fe, podendo ter a presença de argilominerais 2:1 com hidróxi-Al nas entrecamadas; d) muito avançado: fração argila dominada por e óxidos de Fe e de Al (gibbsita), além de caulinita. Com o avanço da intemperização e mudança nos tipos de argilominerais predominantes pode-se esperar uma tendência de evolução química do solo, com uma diminuição da CTC do solo, da saturação de bases e do pH (Figura 3). Em relação às propriedades físicas, também ocorre uma evolução, uma vez que com o aumento do grau de intemperização tende a aumentar o teor de óxidos de Fe, resultando em um comportamento físico do solo muito distinto no grau muito avançado (e em certa medida no avançado), quando comparado a solos em estágio de intemperismo pouco avançado. Grau de intemperismo Fraco Intermediário Avançado Muito avançado CT C Saturação bases (V%) pH Figura 3 – Variação da CTC (capacidade de troca de cátions), saturação de bases e pH com o grau de intemperização. 2.5 – Graus de intemperização: razões Ki e Kr As razões molares Ki e Kr são obtidas a partir de análises químicas, sendo empregadas para avaliar as perdas relativas dos elementos durante o intemperismo. O Ki é obtido em função dos valores de SiO2 e Al2O3, dividindo-se pelos seus respectivos pesos moleculares. Já o Kr é calculado em função dos valores expressos em porcentagem de SiO2 e soma do Al2O3 + Fe2O3, divididos pelos seus respectivos pesos moleculares. Ou seja: Ki = SiO2/Al2O3 Kr = SiO2/(Al2O3 + Fe2O3) Quanto maior o Ki e o Kr menor o grau de intemperismo. Conforme a figura 4, os óxidos de Fe e Al são menos solúveis e tendem a acumular-se no solo conforme avança o intemperismo, em comparação com a sílica. -7 -1 -2 -3 -4 -5 -6 1110 9 8 7 6 5 4 3 2 lo g 10 M (S iO , A l o u Fe ) -x 2 pH SiO amorfo2 Al(OH)3 Al(OH)4 - Al3+ Fe(OH)3 Fe3+ Figura 4 – Solubilidade dos hidróxidos de Fe e Al e da sílica amorfa nas condições superficiais. 3 – PROCESSOS PEDOGENÉTICOS Os processos pedogenéticos, ou processos de formação do solo, são mecanismos físicos, químicos e biológicos que incluem reações de intemperismo, substituição iônica, síntese de substâncias, cristalização de minerais, decomposição orgânica, etc., responsáveis pela formação dos diferentes horizontes do solo, imprimindo determinadas feições aos solos, observáveis em um perfil ou corte. Estes processos são condicionados pelacombinação dos diferentes fatores de formação do solo. Os processos pedogenéticos conhecidos foram classificados e agrupados por Simonson (1959) em quatro processos gerais, que podem ocorrer simultaneamente ou em seqüência e são usados para indicar o comportamento geral dos materiais que compõem os horizontes do solo. 1) Adição → Diz respeito ao aporte de material vindo do exterior do perfil. Em outras palavras, é a incorporação de materiais ao solo. Por exemplo: areia trazida de outro local e depositada sobre o perfil, adubação, sedimentação, aterros. 2) Remoção → É o contrário da adição, ou seja, o material é removido para fora do perfil. Exemplo: lixiviação de materiais, erosão, colheita. 3) Transformação → Ocorre quando o material existente no perfil ou no horizonte muda sua natureza química ou mineralógica. Exemplo: decomposição da matéria orgânica, gênese dos argilominerais (como a seqüência montmorilonita → caulinita). 4) Translocação → Ocorre quando o material passa de um horizonte para o outro, sem abandonar o perfil. Exemplos: eluviação/iluviação de matéria orgânica, argilominerais e óxidos de um horizonte para outro. A combinação destas diferentes reações em intensidades variadas gera processos específicos que resultam na formação de solos com características típicas de cada combinação. Baseado neste princípio, alguns processos específicos serão descritos, mas deve-se considerar que sua ocorrência pode se dar de forma associada. 3.1 – Eluviação – iluviação de argila (lessivage) Trata-se da transferência de minerais, principalmente da fração argila, da porção superior do solo a uma profundidade maior. A eluviação é o processo de remoção dos constituintes, dissolvidos ou em suspensão, de um horizonte do solo, quase sempre realizado pela ação da água. Já a iluviação é o processo de acumulação dos materiais movidos pela eluviação. Em decorrência deste processo, os horizontes superficiais empobrecem em argila, ou seja, tornam-se mais arenosos. O horizonte que perde argila é denominado eluvial, enquanto o horizonte que acumula argila chama-se iluvial. Na descrição morfológica do solo, nos casos de intensa perda pode ser formado um horizonte de máxima eluviação designado pela letra E; o de máxima iluviação é denominado B textural (Bt). O acúmulo de argila no horizonte subsuperficial origina camadas mais densas, que podem diminuir a infiltração da água e oferecer resistência à penetração das raízes. A translocação das partículas de argila compreende três etapas: a dispersão, o transporte e a deposição. A dispersão é necessária para separar as partículas dos agregados estruturais e depende das seguintes condições: a) concentração de íons na solução: uma baixa concentração de íons dispersa as argilas; b) tipo de íons: saturação com Na tende a dispersar a argila, ao passo que Ca (pH > 7) e Al (pH < 5) atuam como floculantes; c) tipo de argila: esmectitas dispersam mais facilmente do que a caulinita. Entretanto, o processo de umedecimento do solo, diminuindo a concentração de íons, bem como a faixa de pH 5 - 6,5, favorece a eluviação. O transporte das partículas dispersadas exige água de circulação rápida, que ocorre nos poros médios a grandes ou em fendas. Esta situação é favorecida pela alternância de períodos secos e úmidos, que cria fendas no solo. A deposição das partículas de argila deve ocorrer em situações que diminuam o transporte e a dispersão. Isto acontece quando os poros maiores não têm continuidade e a água filtra para os poros menores, depositando-se as partículas nas paredes dos agregados, ou as partículas de argila floculam devido a uma maior concentração de íons na parte inferior do solo. A deposição de material eluviado na superfície dos agregados estruturais origina revestimentos brilhantes de aspecto graxo, denominado cerosidade. Entre os solos produzidos pelo processo de eluviação-iluviação estão os Argissolos, os Luvissolos e os Planossolos. 3.2 – Latolização É o processo de remoção da sílica (dessilicação) e de bases para fora do perfil após intensa intemperização dos minerais constituintes. Na latolização, o intemperismo químico, especialmente a hidrólise e a oxidação, são muito intensos ou atuaram por um período bastante longo, gerando uma dessilicação média (monossialitização) ou forte (alitização). Os solos onde este processo predomina são ricos em caulinita e/ou óxidos de ferro e alumínio, dependendo do grau de dessilicação. Obviamente, devem predominar os processos de transformações sobre os de transferência de argila, o que é favorecido pelas condições de boa drenagem e intensa lixiviação (perdas). Geralmente ocorre em regiões tropicais e subtropicais úmidas, com abundância de água e altas temperaturas, proporcionando um intemperismo químico intenso e rápido. Se, por um lado há a intensa remoção dos cátions básicos e da sílica, por outro há o enriquecimento em óxidos de ferro e alumínio (ferralitização). Os solos formados nestas condições (Latossolos) tendem a ser muito lixiviados, ácidos, com CTC baixa e pobres em nutrientes e são aqueles que apresentam o horizonte B latossólico (Bw). O perfil do solo geralmente é profundo e homogêneo e o gradiente textural entre os horizontes A e B, se existente, é muito pequeno devido à estabilização dos argilominerais pelos óxidos, dificultando seu transporte para outros horizontes. A propriedade dos óxidos de Fe e Al formarem com a caulinita um sistema altamente floculado, com agregados estáveis, diminui muito o grau de dispersão das argilas e, conseqüentemente, a eluviação. Além dos Latossolos, o processo de latolização também está expresso em menor grau na classe dos Nitossolos. O processo de latolização não deve ser confundido com o de laterização, que leva à formação de laterita, material duro, rico em óxidos de Fe, quebrável somente com um martelo. Essa confusão, muito presente há décadas passadas, levou à concepção errônea de que os solos tropicais (chamados solos lateríticos) estariam fadados a endurecer formando crostas e capas lateríticas. O termo laterita foi criada por Buchnan em 1807 na Índia para um material que úmido era macio, ao ponto de ser cortado com uma pá em forma de blocos, e que por exposição ao ar secava e endurecia irreversivelmente formando tijolos (=later em latim), que os nativos usavam para construção de casas. Atualmente, esse material macio, rico em óxidos de Fe, é chamado de plintita, passando a ser denominado de petroplintita (ou petroférrico) após o endurecimento. 3.3 – Gleização É um processo típico de ambiente com condições de redução, que ocorre onde há saturação por água e deficiência de oxigênio, ou seja, está associada a condições de hidromorfismo. A deficiência de oxigênio produz a redução dos óxidos Fe3+, Mn3+ e Mn4+ por microorganismos anaeróbios e sua solubilização. Quando as condições são de excesso de água, as populações de microorganismos aeróbios são substituídas por populações anaeróbias, com menor eficiência na decomposição de materiais orgânicos e usando outros elementos como receptores finais de elétrons, na ordem conforme um gradiente de redox: NO3, Mn4+, Mn3+, Fe3+ e S4-. Como a concentração de Fe excede em muito a concentração de Mn, N e S nos solos, o Fe3+ se torna o principal oxidante para a matéria orgânica nos solos hidromórficos. Os íons Fe2+ e Mn2+ migram na água, de maneira que determinadas porções do solo perdem óxidos e por isso “desbotam”. Em síntese, a perda dos óxidos de ferro, principais pigmentantes do solo, causa um descoramento do mesmo, tornando-o acinzentado ou com cores gleizadas (baixo croma), restando a cor do quartzo e dos argilominerais. Por isto, a coloração acinzentada no perfil é um forte indicativo de drenagem lenta ou impedida. Em locais mais oxigenados ou onde haja entrada de ar através da penetração de raízes, poros,interior de agregados ou zona de oscilação do lençol freático, os óxidos de Fe e Mn são novamente oxidados, formando mosqueados, nódulos ou concreções, as quais apresentam alto croma e contrastando com as cores acinzentadas. Entre os solos formados por gleização e com saturação de água mais constante são os Gleissolos. Em condições de saturação mais temporária formam-se os Planossolos e os Plintossolos. 3.4 – Paludização O processo de paludização consiste na acumulação de materiais orgânicos em pântanos e banhados, onde há condições extremas de hidromorfismo, originando os Organossolos. Plantas adaptadas ao excesso de água desenvolvem-se, morrem e afundam na água, acumulando-se no fundo do banhado. A camada de água impede a oxidação rápida do material orgânico, que é muito lentamente decomposto pelos microorganismos anaeróbicos. A seqüência de gerações de plantas deposita camada sobre camada de material orgânico, podendo alcançar espessuras de vários metros. Portanto, os Organossolos irão formar-se quando a produção de matéria orgânica excede a sua mineralização. Isto ocorre sob condições de quase total saturação com água, restringindo a circulação de oxigênio. 3.5 – Podzolização Podzolização é um processo de eluviação-iluviação no qual são transferidos e acumulados em profundidade compostos orgânicos, acompanhados ou não por Al e Fe. O processo é favorecido em clima frio e úmido, por uma acumulação de matéria orgânica sobre a superfície do solo e em ambiente ácido. Assim, a decomposição da matéria orgânica é realizada predominantemente por fungos e produz ácidos fúlvicos móveis, que formam complexos organo-metálicos com o Al e Fe. Certos tipos de vegetação, como as coníferas, são capazes de produzir compostos orgânicos quelantes. A transferência desses compostos é favorecida em solos arenosos, onde não há argila e outros compostos para imobilizar os complexos. Os compostos organo-metálicos acumulam-se no subsolo, originando os horizontes Bh, Bs ou Bhs, característicos de um horizonte diagnóstico espódico e deixando um horizonte eluvial, ou E álbico. O solo formado por este processo é denominado Espodossolo. 3.6 – Pedoturbação Pedoturbação é o processo pelo qual o solo é fisicamente misturado, levando à homogeneização dos horizontes, obliterando a ação de outros processos que levam à distinção dos horizontes, como os de eluviação-iluviação. A pedoturbação pode ser devido a organismos (bioturbação) ou devido à ação da água (hidroturbação). A bioturbação é realizada por animais como pequenos mamíferos (tatus, roedores, etc), formigas, térmitas e minhocas, que podem transportar material do subsolo para a superfície, bem como material da superfície (principalmente material orgânico) para o subsolo. Estima-se que a ação de formigas, minhocas e roedores possa misturar completamente a porção superior de um solo em poucas centenas de anos. A ação de térmitas sob os solos da região tropical também é considerada como muito importante devido ao grande volume de seus termiteiros, podendo desempenhar um papel decisivo no processo de latolização. Um tipo de bioturbação que tem que ser considerado atualmente é antropedoturbação, causada por técnicas de cultivo como a aração e a gradagem do solo, cujo produto é designado como horizonte Ap. A hidroturbação mais importante é aquela que ocorre com a alternância de umedecimento e secamento em solos argilosos esmectíticos, também chamada de argiloturbação, que cria expressivas contrações e expansões no solo. Nos períodos secos com a contração abrem-se grandes fendas, profundas e com alguns centímetros de largura, por onde pode até mesmo cair material solto da superfície, chegando a gerar um rebaixamento da superfície. Nos períodos úmidos as argilas expandem, produzindo pequenas elevações e depressões na superfície (micro-relevo chamado de gilgai), bem como uma pressão de expansão que provoca o deslizamento diferencial entre porções da massa do solo, produzindo superfícies alisadas denominadas de slickensides. Esse processo é típico de Vertissolos, que podem ser encontrados na região da Campanha do estado do Rio Grande do Sul. 3.7 – Calcificação ou carbonatação A calcificação consiste na formação e no enriquecimento de CaCO3 no solo, que pode estar finamente disseminado na massa do solo como na forma de concreções e crostas, formando os horizontes Bk ou Ck, correspondentes aos horizontes cálcico e petrocálcico. Este processo normalmente ocorre em solos de boa drenagem natural em regiões subúmidas a áridas, desenvolvidos sobre materiais de origem ricos em cálcio, como calcários e mármores. A precipitação de carbonato de Ca é favorecida por concentrações altas de Ca2+ e por quantidades decrescentes de água e de CO2, ou seja, por condições em que a evapotranspiração seja superior à precipitação. Com o aumento da precipitação a tendência é da acumulação do CaCO3 em horizontes mais profundos, chegando à lixiviação completa em climas úmidos. Nas regiões de pradarias esses solos costumam apresentar horizontes A, e algumas vezes o topo do B, com cores muito escuras e alta saturação de bases (solos chernozêmicos). Este processo é encontrado em Chernossolos e Vertissolos. São características relacionadas à carbonatação: elevados teores de matéria orgânica no horizonte superficial, pH, saturação de bases e CTC altos e esmectita como principal argilomineral. 3.8 – Salinização É um processo que gera acúmulo de sais solúveis no perfil ou na superfície do solo, o que pode ocorrer naturalmente em áreas de clima árido ou em áreas litorâneas sob a influência do mar. As acumulações de sais ocorrem em áreas baixas por transferência natural, acumulando subsuperficialmente. Com a forte evapotranspiração, os sais ascendem com a água através da capilaridade, precipitando nas porções superiores do perfil ou na superfície do solo, formando crostas salinas. Os sais são principalmente cloretos, sulfatos e carbonatos de Na, Mg e Ca. A presença de elevados teores de sais solúveis (>2% e alta CE) caracteriza um horizonte com caráter salino (4-7 dSm-1) ou sálico (>7 dSm-1), constituindo os chamados Solonchaks na antiga classificação brasileira (atualmente Gleissolos Sálicos ou Planossolos Nátricos). A salinizacão também pode ser artificial, devido a irrigação, pelo uso da água de irrigação com elevados teores de sódio. Ocorre ocasionalmente nas lavouras de arroz situadas no litoral do RS irrigadas com água da Laguna dos Patos, quando esta apresenta elevado teor de sódio. Resulta em uma alta saturação com Na, provocando a dispersão das argilas e sua transferência (eluviação) no solo. 3.9 – Solonização – Solodização É o processo pelo qual os sais solúveis acumulados pela salinização são lixiviados, resultando numa alta saturação da CTC por sódio. Com isso, o pH do solo pode tornar-se muito elevado e dispersar e eluviar as argilas, formando um horizonte nátrico, com caráter sódico, (Btn), situação que na antiga classificação brasileira caracterizava um solo da classe Solonetz, atualmente Planossolo Nátrico. A solodização é o processo subsequente à solonização, em que a continuação da lixiviação dessatura de Na as porções superiores do perfil, tornando-a mais ácida, levando ao desenvolvimento de um horizonte E e ao posicionamento do horizonte iluvial (horizonte Btn) a uma maior profundidade 3.10 – Sulfidização – Sulfurização Sulfidização é o processo pelo qual sulfetos são formados em solos e sedimentos costeiros, em função da influência da água do mar, bem mais rica em enxofre (~900 µg/ml) do que a água doce, que entra em contato com solos de mangue e com os sedimentos submersos pela ação das ondas e das marés. Bactérias, como o Desulfovibrio desulfuricans, que vivem nesse ambiente anaeróbico (saturado com água), reduzem o S do sulfato para sulfeto,utilizando-o como receptor de elétrons durante a oxidação da matéria orgânica (da qual retiram sua energia). O Fe reduzido presente nesse ambiente combina com o S precipitando como sulfeto ferroso (pirita). Nessa condição, em um ambiente com saturação contínua de água, a oxidação dos materiais sulfídricos está inibida pelo ambiente redutor. O pH pode ser neutro ou alcalino. Após a drenagem desses pântanos costeiros (mangues), portadores de material sulfídrico, os sulfetos são oxidados, formando ácido sulfúrico, o que gera uma condição extremamente ácida (pH <3,0), processo denominado de Sulfurização. Esse processo também se desencadeia na mineração de carvão (que pode conter pirita) ou de depósitos de sulfetos (minérios de Pb, Zn e Cu), originando sérios problemas ambientais (drenagem ácida). 3.11. Erosão – Cumulação (Aluviação) Tanto a erosão como a aluviação tendem a modificar profundamente o solo existente, tendendo a formar solos jovens (Neossolos). No primeiro caso, a erosão tende a “decapitar” o horizonte A, enquanto que a aluviação tende a espessar esse horizonte. Dessa forma, áreas mais declivosas geralmente apresentam solos sem horizonte B (Neossolos Litólicos ou Regolíticos) ou com B pouco desenvolvido (Cambissolos). Por outro lado, em áreas freqüentemente sujeitas ao processo de aluviação, como nas planícies de inundação dos rios, o solo tende a ser enterrado, faltando assim o tempo necessário para decompor a matéria orgânica, fazendo com que o perfil do solo mostre uma distribuição irregular da matéria orgânica com a profundidade. Essa característica é usada como critério diagnóstico para o reconhecimento da classe de solos aluviais (Neossolos Flúvicos). As taxas de erosão natural, também chamada erosão geológica, são estimadas entre 0,4 e 0,7 t ha-1 ano-1 (Schertz, 1983). A erosão causada pela atividade humana é chamada de erosão acelerada. Sob cultivo convencional, freqüentemente as perdas de solos superam 10 t ha-1 ano-1, o que indica a perda do recurso solo no futuro próximo. As perdas do solo completamente descoberto podem exceder 200 t ha-1 ano-1, conforme o tipo de solo e as condições climáticas, constituindo um desastre ecológico. Os materiais perdidos do solo, tanto os sedimentos como os insumos aplicados, contaminam e poluem os recursos hídricos, estendo, dessa forma, o problema para bem além da área cultivada. 3.12. Biociclagem Além da adição e da remoção que promovem, a interação da ação da água e das plantas redistribuí os elementos químicos dentro do perfil do solo. O carbono entra na planta como CO2 através dos estômatos das folhas e combina com N, P, Ca, Mg, Fe, Cu, Zn, S, B, etc extraído do solo para formar compostos orgânicos nos tecidos. O potássio, extraído do solo, não forma compostos orgânicos, mas é retido no citoplasma e vacúolos das células das plantas. Na medida em que os microorganismos consomem os tecidos das plantas e respiram o carbono como CO2, os outros elementos são liberados como íons inorgânicos (processo de mineralização). O resultado dessa ciclagem é a concentração de elementos essenciais à vida na camada superficial do solo, apesar do efeito lixiviante da água de percolação. O processo de enriquecimento biológico de cátions básicos pode explicar a ocorrência de horizonte A rico em bases (A chernozêmico) e caráter eutrófico em solos muito intemperizados como latossolos e nitosolos (ex. Latossolos Vermelhos ou Nitossolos Vermelhos Eutróficos chernossólicos). 4. FATORES DE FORMAÇÃO DO SOLO Os fatores de formação do solo influenciam as transformações nos materiais minerais e orgânicos que ocorrem durante o processo de formação dos solos. Até a segunda metade do século XIX prevaleceu a teoria geológica para explicar a formação dos solos. Esta teoria considerava que os solos eram formados a partir da alteração da rocha subjacente e que somente esta influenciava nas características dos solos. Nesta época, o geólogo russo Dokuchaev, ao estudar os solos das planícies russas, observou que os solos desenvolvidos sobre um mesmo material de origem apresentavam características diferenciadas sob distinta vegetação, clima e relevo. Com base nesse estudo, Dokuchaev formulou a teoria dos fatores ambientais responsáveis pela formação dos diferentes tipos de solos. Estes fatores são o material de origem (m), clima (c), relevo (r), organismos (o) e tempo (t). Em 1941, o suíço Hans Jenny aprofundou as idéias de Dokuchaev e sugeriu uma equação, segundo a qual a formação de um determinado solo pode ser representada com o seguinte modelo: solo = (m, c, r, o, t). Segundo esta equação, o solo ou qualquer propriedade pedogenética é uma função dos fatores de formação. Os fatores de formação dos solos combinam-se em tipo e intensidade diferentes para compor os diferentes processos pedogenéticos. Os fatores clima e organismos são considerados fatores ativos porque fornecem energia ao meio, enquanto que o material de origem, relevo e tempo, que fornecem a massa e as condições, são considerados fatores passivos. A seguir, são descritos os efeitos individuais de cada fator na formação do solo, lembrando que na natureza a ação dos mesmos é conjunta (Figura 5). MATERIAL DE ORIGEM RELEVO CLIMA ORGANISMOS SOLO JOVEM TEMPO SOLO MADURO TEMPO SOLO VELHO TEMPO Figura 5 - Esquema de evolução dos solos em função da atuação dos fatores de formação. 4.1 – Material de origem O material de origem é o material a partir do qual o solo começa a se formar. Geralmente, este material possui natureza mineral, mas também pode ser de natureza orgânica, formando os solos orgânicos (Organossolos). Os materiais de origem podem ser rochas ou materiais retrabalhados. Os materiais retrabalhados são materiais intemperizados, às vezes já em processo de pedogênese, transportados de um local para outro por erosão e depositados. Quando o solo é desenvolvido diretamente do material subjacente e na sua forma original, são denominados solos autóctones. Ao contrário, solos desenvolvidos sobre material retrabalhado ou sedimentos não diretamente relacionados ao material subjacente são chamados solos alóctones. Solos desenvolvidos sobre materiais de pedogênese anterior são chamados de solos policíclicos. A maior ou menor velocidade com que o solo se forma depende do tipo de material de origem, uma vez que, sob condições idênticas de clima, organismos e topografia, certos solos se formam mais rapidamente do que outros. De modo geral, quanto mais intemperizado é o solo, menos as características do material de origem são preservadas. Assim, solos imaturos ainda guardam muitas características e propriedades físicas, químicas e mineralógicas do material de origem. À medida que o solo envelhece, com a continuidade do intemperismo, os processos pedogenéticos avançam e estas características iniciais vão se modificando. Mesmo assim, algumas características e propriedades, principalmente aquelas ligadas aos minerais mais resistentes, ainda podem ser percebidas. A intensidade com que o intemperismo decompõe as rochas depende da condição da rocha e do tipo de intemperismo. As características da rocha que podem influenciar no seu intemperismo e no desenvolvimento dos solos são a sua composição mineralógica, grau de consolidação, granulação e estrutura. Composição química e mineralógica: influencia na composição do solo, por exemplo: solos desenvolvidos de granito, portadores de mica, tendem a originar solos com teor de K mais elevado; solos desenvolvidos de rochas basálticas possuem maior concentração de óxidos de Fe e teores mais elevados de Ca e Mg; solos derivados de arenitos ricos em quartzo apresentam textura arenosa e baixa reserva em nutrientes. Além disso, rochas máficas fornecem no intemperismo, principalmente nas fases iniciais, um ambiente maisrico em bases em relação a rochas félsicas, tendendo a gerar uma maior formação de argilominerais 2:1 e uma saturação de bases mais elevada no complexo trocável dos solos. Grau de consolidação: rochas pouco consolidadas favorecem o desenvolvimento de solos mais profundos que rochas consolidadas sob as mesmas condições ambientais (Figura 5). Por exemplo, em regiões áridas os solos profundos ocorrem apenas em depósitos superficiais, enquanto que sobre as rochas consolidadas formam-se Neossolos Litólicos. Ainda, nos materiais consolidados o intemperismo geoquímico deve preceder a formação do solo, contrastando com os materiais não-consolidados, onde o solo pode desenvolver-se diretamente sobre o material original. Granulação: a granulação da rocha associada à composição mineralógica pode determinar a textura do solo. Esse é o caso de materiais com elevado teor em quartzo, como granitos e arenitos, que dão origem a solos com textura mais arenosa, em comparação a rochas básicas, como o basalto, que dão origem a solos argilosos (Figura 6). Estrutura: um exemplo de condicionamento gerado pela estrutura das rochas é a observação de que o diaclasamento e a xistosidade verticais podem favorecer uma alteração mais profunda em relação às horizontais. Pr o f un di d a de d o pe rf il Precipitação mm3/ano 20 0 10 0 50 500 1000 1500 incon solid ado con soli dad o 70 50 30 20 10 40 % de ar gi la Tempo (grau de intemperização) Basalto (<5% Qz) Granito (30% Qz) Arenito (90% Qz) Figura 5 – Influência do grau de consolidação da rocha sobre a profundidade do perfil e relação com o clima Figura 6 – Influência da mineralogia da rocha sobre a textura do solo 4.2 – Clima O clima é constituído por elementos mensuráveis, como a precipitação pluviométrica, a temperatura, vento, insolação, umidade relativa do ar, evaporação, etc., que atuam sobre o material de origem, alterando o mesmo. O clima é muito importante para o desenvolvimento dos solos, atuando desde os processos de decomposição das rochas (intemperismo). As reações químicas que ocorrem no solo são fortemente influenciadas pela temperatura (quanto mais alta for a temperatura, mais rápidas são as reações) e pela presença de água, que também é importante sob vários aspectos, como meio para ocorrência de reações químicas, agente de decomposição dos silicatos e serve como elemento transportador de produtos do intemperismo para fora do perfil, no caso de solos bem drenados. A combinação de altas temperaturas com alta pluviosidade caracteriza os solos tropicais. Os solos desenvolvidos sob estes climas apresentam características de evolução muito mais avançadas que os solos encontrados em regiões mais frias. Isso ocorre porque a combinação de altas temperaturas e abundância de água favorece as reações de intemperismo da rocha e do solo, de modo que estes solos se intemperizam muito mais rapidamente do que aqueles que se encontram sob clima mais secos ou frios. Em geral, com o aumento da precipitação pluviométrica é observado um aumento no teor de matéria orgânica, na lixiviação das bases, na atividade biológica, na acidificação, no teor de argila e na alteração dos minerais do solo. Assim, o clima, além de afetar diretamente na temperatura e no fornecimento de água para as reações de alteração do material de origem e na erosão dos materiais alterados, também influencia no desenvolvimento dos organismos vivos (fator indireto), que, por sua vez, afetam o solo. Dessa forma, comparando-se regiões mais quentes e úmidas com regiões mais frias e úmidas observa-se um maior teor de matéria orgânica nos solos das regiões mais frias. 4.3 – Relevo Os solos têm uma ocupação espacial, isto é, ocupam segmentos na paisagem. Por sua vez, a paisagem apresenta um relevo, que irá condicionar a formação do solo. Portanto, há uma relação entre solos e paisagens, sendo importante ter uma noção do desenvolvimento das paisagens. Os solos ocupam segmentos da paisagem: elevações, depressões e planícies, com formas variadas, cada qual condicionando a ação da água de maneira diferente. Algumas superfícies estão mais sujeitas ao processo erosivo, aquelas mais declivosas, enquanto que outras recebem o material erodido. Em certas superfícies a água infiltra rapidamente, originando solos bem drenados, ao passo que em outras a água é retida, originando solos mal drenados. As características do relevo são determinadas pela estrutura geológica, pelo clima e pelo estágio de evolução em que se encontra (paisagem jovem, madura e senil). A estrutura horizontal de camadas sedimentares e de derrames vulcânicos tende a propiciar a formação de relevos tabulares, contrastando com os terrenos de rochas ígneas intrusivas onde o relevo tende a apresentar topos convexos (Figura 7); por outro lado, em um terreno de rochas metamórficas a inclinação das estruturas pode ressaltar as rochas mais resistentes, como os quartzitos, formando cristas. Figura 7 – Relação do relevo com a estrutura das rochas Em climas áridos a ação mais incipiente da pedogênese não produz mantos de alteração muito profundos, com o relevo sendo condicionado principalmente pela estrutura das rochas. Em climas mais úmidos a paisagem tende a ser mais evoluída, formando relevos mais suavizados. A evolução da paisagem ocorre pelo rebaixamento das superfícies mais elevadas através de ciclos erosivos, com o processo erosivo decrescendo de intensidade na medida em que a paisagem passa pelas fases de juventude, maturidade e senilidade (Figura 8). Na fase de juventude, os sistemas de drenagem não são muito desenvolvidos (poucos por unidade de área), os vales são profundos e em forma de V. Na fase de maturidade o sistema de drenagem está bem desenvolvido, as encostas estão mais rebaixadas formando vales em forma de U. Na fase senil as encostas estão bastante suaves, formando um relevo aplainado com planícies de sedimentação extensas. Figura 8- Estágios de evolução da paisagem Em um país de clima tropical úmido como o Brasil uma paisagem bem desenvolvida em geral apresenta os seguintes elementos: interflúvio, escarpa, encosta, pedimento e planície aluvial (Figura 9). Figura 9 - Elementos de uma paisagem bem desenvolvida. O interflúvio é a parte mais elevada, que separa os sistemas de drenagem. Quando esse é amplo e plano ou suave ondulado, formando um platô, em geral são encontrados solos profundos, lixiviados e ácidos, devido a uma maior infiltração da água e portanto um intemperismo químico mais profundo. Quando é estreito, formando uma crista, há menor infiltração e maior escorrimento superficial e portanto maior erosão, sendo nele encontrados geralmente solos rasos e/ou afloramentos de rocha. O ombro constitui uma superfície bastante declivosa onde o processo erosivo é mais intenso, tendendo a formar solos rasos. Nos casos onde a superfície é muito inclinada, ocorrem desmoronamentos e deslizamentos, impedindo a formação de solos; nesse caso, a superfície é chamada de escarpa. A encosta é uma superfície ainda inclinada, onde a relação entre a parcela da água que infiltra e a que escorre pode gerar um certo equilíbrio entre a taxa de erosão e a de formação de solos, geralmente originando solos rasos a medianamente profundos. No pedimento, com a diminuição da declividade, ocorre a deposição do material erodido do ombro e da encosta, favorecendo a formação de solos medianamente profundos a profundos. Os solos nessa posição podem, dessa maneira, formar-se sobre material pré- intemperizado e possuir fragmentos de rocha erodidos das partes superiores. Com o rebaixamento geral da superfície, a tendência é de diminuir a área do ombro e da escarpa, com recobrimento pelo colúviodo pedimento. A planície se forma nos vales mais largos, em forma de U, constituindo a planície de inundação dos rios. Se a diferença de nível entre ela e o rio for pequena, os solos serão mal drenados, exibindo reações de redução. A posição da superfície na paisagem, dessa forma, tende a condicionar o desenvolvimento de tipos diferentes de solos. Por exemplo, uma toposeqüência típica no estado de São Paulo (clima úmido) apresenta os latossolos ocupando os topos aplainados e os podzólicos (argissolos) ocupando as encostas. Toposeqüências típicas de várias regiões do Brasil podem ser encontradas em Prado (1995). Toposeqüências de várias regiões do estado do Rio Grande do Sul são mostradas por Brasil (1973). 4.4 – Organismos Os organismos são fundamentais para o processo de formação dos solos, principalmente no que se refere à diferenciação dos perfis. Eles compreendem os microrganismos (ou microflora e microfauna), vegetais superiores, animais e homem. A ação dos organismos inicia tão logo a rocha se exponha na superfície terrestre ou próximo a ela. Inicialmente, colônias de microrganismos se estabelecem, à procura de substrato que lhe forneça suporte e elementos químicos para seu desenvolvimento. Liquens e fungos podem instalar-se sobre as rochas nuas, extraindo nutrientes pelo contato direto. Após ser formada uma pequena camada de material alterado, ter-se-ia criado condições para o surgimento de gramíneas, que podem passar a incorporar húmus ao mesmo. Com condições climáticas favoráveis outras espécies superiores podem suceder-se. Dessa forma, os organismos podem colonizar áreas de não solos, desempenhando um papel fundamental nos estágios iniciais de formação do solo. A vegetação influi nas propriedades do solo principalmente pelo suprimento de matéria orgânica, que decomposta pelos microorganismos, origina ácidos orgânicos, que por sua vez atuam na decomposição do material de origem. O suprimento e a decomposição da matéria orgânica variam nas diferentes regiões climáticas. As adições anuais de matéria orgânica nas florestas tropicais é mais elevada do que nas temperadas, e de modo geral um pouco menor nas savanas tropicais do que nas pradarias temperadas. Entretanto, a taxa de decomposição na região tropical é bem mais elevada, fazendo com que os teores de matéria orgânica nos solos de florestas tropicais e temperadas sejam equivalentes. Por outro lado, a vegetação das florestas adiciona a matéria orgânica sobre a superfície do solo enquanto que na vegetação do campo a grande massa de raízes, ciclicamente renovada, provoca uma maior incorporação de matéria orgânica no interior do perfil. O tipo de vegetação, dessa forma, induz processos pedogenéticos diferenciados, que levam a formação de solos diferentes (exemplo: processo de podzolização). Os microorganismos contribuem para a formação de agregados estruturais estáveis no solo, através de sua rede micelial e de secreções, e atuam diretamente na intemperização dos minerais através da produção de ácidos orgânicos. Além disso, bactéria anaeróbicas facultativas e obrigatórias participam nos processos de redução do solo (processo de gleização). Minhocas, térmitas e roedores misturam materiais nos horizontes e carreiam material dos horizontes mais profundos para a superfície, podendo causar um revolvimento significativo nos solos (processo de bioturbação), cujo efeito pode ser significativo nos solos tropicais mais antigos. 4.5 – Tempo O tempo como fator de formação de solos refere-se ao período em que os fatores ativos (clima e organismos) atuam sobre o material de origem, condicionados pelo relevo. Em Pedologia á comum se comparar solos usando os termos como “imaturo ou jovem”, “maduro” e “velho”. O uso desses termos, entretanto, não se refere exatamente à idade dos solos. Um solo, é chamado de “senil” ou “velho” quando está bastante intemperizado, e imaturo quando está pouco intemperizado. Assim, podemos ter solos jovens onde o intemperismo e os processos de formação dos solos ocorrem em uma taxa pequena, e solos velhos em locais onde a pedogênese é mais acelerada, ainda que os dois solos tenham a mesma idade. Como as altas temperaturas e precipitações nas regiões intertropicais condicionam altas taxas de intemperismo e pedogênese, é comum termos predomínio de solos senis, ou também chamados solos tropicais. As idades absolutas dos solos são pouco conhecidas. Estima-se que para formar 1 cm de solo na frente de intemperização (horizonte C) são necessários de 200 a 700 anos; por outro lado, para formar 1 cm de horizonte A o tempo é consideravelmente menor. Existe uma grande diferença entre a idade média dos solos das regiões tropicais e subtropicais em relação às temperadas. Na região temperada do hemisfério norte, em geral, a formação dos solos iniciou após a última glaciação do quaternário, apresentando idades entre 10.000 e 20.000 anos. Nas regiões tropicais, onde não houve uma renovação em grande escala das superfícies pela ação das geleiras, a idade dos solos é estimada entre algumas dezenas a centenas de milhares de anos e até a alguns milhões. Na região tropical, as evidências para estimar a idade dos solos são mais escassas. Dessa forma, a idade dos solos é geralmente estimada de forma relativa, usando o grau de desenvolvimento do solo para avaliar se o solo é imaturo ou maduro. Essa estimativa certamente é muito relativa, pois a velocidade de formação do solo, que depende principalmente do clima e da resistência dos minerais do material de origem, pode ser bastante diferenciada em função dos outros fatores. 4.6 – Homem O papel do homem na formação dos solos vem se destacando em relação ao dos outros organismos em razão do impacto das modificações que ele pode causar, provocando alterações rápidas de toda a ordem nas características naturais, merecendo, dessa forma, ser citado como um fator em separado. As mais evidentes são: (a) a degradação química e física dos solos devido à erosão acelerada, levando muitas vezes até ao abandono do uso do solo; (b) a irrigação, até mesmo em áreas de desertos; e (c) as atividades de mineração e de construções de grande porte (como estradas e barragens). Nas últimas citadas, atualmente, por força da legislação ambiental, se deve fazer a reabilitação e a recuperação das áreas, atuando na “construção” de solos. Os efeitos da ação humana podem ser benéficos ou prejudiciais, afetando uma série de propriedades do solo como mudanças no teor da matéria orgânica, composição química (nutrientes ou poluentes), regime de umidade do solo e estrutura e textura do solo. A interferência humana é observada na ação de todos os principais fatores através das seguintes atividades: (a) material de origem: calagem, adubação, descarte de resíduos e produtos tóxicos; (b) clima: preparo do solo, irrigação, drenagem, desmatamento; (c) organismos: preparo e cultivo do solo, queimadas; (d) relevo: nivelamento e sistematização, terraceamento, preparo excessivo (voçorocas); (e) tempo: aceleração ou retardamento dos processos naturais de erosão ou assoreamento e de decomposição dos minerais e matéria orgânica. 5 – BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BRASIL. Ministério da Agricultura. Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária. Divisão de Pesquisa Pedológica. 1973. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado do Rio Grande do Sul. Recife. 431p. (Boletim Técnico, 30) BUOL, S.W.; HOLE, F.D. & McRACKEN, R.J. 1980. Soil Genesis and Classification. Ames. The Iowa State Univ. Press. CHRISTOFOLETTI, A. 1980. Geomorfologia. 2a ed, São Paulo, Edgard Blücher, 188p. 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