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Metodologia da Pesquisa- Dom Bosco

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Metodologia 
Editorial 
Presidente do SEB (Sistema EducacionalBrasileiro 
S.A) 
Chaim Zaher 
Vice-Presidente do SEB 
Adriana Baptiston Cefali Zaher 
Diretoria Executiva do SEB 
Nilson Curti 
Rafael Gomes Perri 
Diretor da Faculdade Dom Bosco 
José Antonio Capito
Coordenação da EaD da Faculdade Dom Bosco 
Edelclayton Ribeiro 
Coordenação do Curso de Administração 
Adriana Franzoi 
Coordenação do Curso de Tecnologia em 
Recursos Humanos 
Coordenação do Curso de Tecnologia em Gestão 
Financeira 
Coordenação do Curso de Tecnologia em Gestão 
de Marketing 
Adriana Franzoi 
Material elaborado por 
Alexandre Aparecido Dias
Eduardo Ribeiro Rodrigues
Hélcio de Pádua Lanzoni
Ornella Pacífico
Produção Editorial 
Pricila Massuchetto 
Letícia Marcelino
© Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo
Todos os direitos desta edição reservados ao Dom Interativo modalidade de educação a distância da Faculdade Dom Bosco. 
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou meio eletrônico, e mecânico, fotográfico e gravação ou 
qualquer outro, sem a permissão expressa Dom Interativo. A violação dos direitos autorais é punível como crime (Código 
Penal art. 184 e §§; Lei 6.895/80), com busca, apreensão e indenizações diversas (Lei 9.610/98 – Lei dos Direitos Autorais – arts. 
122, 123, 124 e 126)
Metodologia Científica
O objetivo da disciplina Metodologia 
Científica é oferecer ao aluno instrumentos 
para que possa desenvolver suas potenciali-
dades, ampliando a eficiência e a eficácia de sua 
aprendizagem. O aluno universitário precisa, muitas 
vezes, aprender a pensar e a aprender para tornar sua 
vivência universitária mais proveitosa, reduzindo drastica-
mente a possibilidade de fracasso.
Para tanto, é necessário um maior entendimento sobre o 
conceito de competência, que pode ser entendida como “domínio 
dos conteúdos, dos métodos, das técnicas das várias ciências, en-
fim, o domínio das habilidades específicas de cada área de formação 
e de cada forma de saber e de cultura” (Severino 1999, p. 16). A com-
petência é, portanto, uma característica da qual o ensino superior não 
pode prescindir para não ter que compactuar com o superficialismo e a 
mediocridade tão comuns no âmbito educacional.
O amadurecimento do jovem e do adulto em ambiente de ensino 
superior é crucial para a aquisição de competência técnica, científica ou 
profissional, sem a qual se torna difícil dar sentido àquilo que se propuse-
ram a estudar nos cursos que escolheram. Tal amadurecimento não pode 
ser obtido sem esforço deliberado e persistente por parte do aluno.
Nesta disciplina serão apresentados e discutidos aspectos relevan-
tes para a compreensão de diversos fatores que podem contribuir para o 
crescimento acadêmico, profissional e pessoal do aluno de 3o grau.
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U
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UU
U
Conhecimento
Podemos definir conhecimento 
como uma tomada de consciência do ato 
de conhecer. Desde seu nascimento, o ho-
mem adapta-se progressivamente a um mundo 
preexistente e, no processo de socialização, procura 
encontrar respostas para suas dúvidas e incertezas por 
meio do questionamento progressivo dos significados do 
mundo que o cerca. Assim, todo o desenvolvimento expe-
rimentado pela humanidade é fruto da incessante busca do 
homem pela compreensão do universo circundante e o desejo 
de aprimorá-lo.
Objetivos da sua aprendizagem
Compreender os diferentes conceitos de conhecimento e suas carac-
terísticas.
Você se lembra?
Você dever ter aprendido algo ou pelo menos ouvido falar de Galileu 
Galilei. Lembra-se de que ele foi punido por deter um conhecimento con-
siderado herético no seu tempo?
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U.UUDefinição
O conhecimento deve ser compreendido como um processo dinâmi-
co, inacabado e em constante transformação e adaptação. Ao relacionar-se 
com o meio, o homem faz uso de diversas formas de conhecimento e, por 
meio dessas formas, ele transforma o mundo ao mesmo tempo em que é 
transformado. Como veremos mais adiante, a ciência é uma das formas de 
conhecimento, com características próprias, como a possibilidade de ser 
verificada e comprovada por outros.
U.2U OsUriscosUUoUconhecimento
Assim, dada a sua relevância, o conhecimento sempre guarda uma 
aura de “exclusividade”, de algo para poucos, sendo inclusive proibido 
em diversas culturas ou em certos momentos históricos. 
W
ikim
eDia
O conhecimento é algo tão importante que sempre corre o risco 
de ser proibido. Muitos mitos se fizeram em torno dessa legen-
da, a começar pelo relato bíblico que coloca a descoberta do 
conhecimento como transgressão de Adão e Eva, seguindo- 
-se daí as misérias da vida do pecador, com consequente necessi-
dade de salvação vinda de fora. O real “pecado original” foi menos 
ter caído em tentação do que ousar conhecer. Parece inegável a 
dinâmica reveladora do conhecimento, porque nada deixa de pé, 
para o bem e para o mal. Uma vez rompida a ingenuidade, não 
há mais volta, a não ser por autoengano. Essa dinâmica revelado-
ra, entretanto, estando sempre entranhada no contexto do poder, 
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ofusca à medida que revela. Por 
isso, praticamente em todas as 
sociedades, as pessoas deten-
toras de conhecimento eram 
vistas como especiais, desde 
os pajés. E para se tornarem 
ainda mais especiais, envol-
viam o conhecimento em lin-
guagem esotérica, para que só os 
iniciados a entendessem (DEMO 2000, 
p. 87).
O conhecimento pode, inclusive, ser ‘perigoso’ em determinados 
contextos. Na Idade Média, por exemplo, diversos detentores de “conhe-
cimentos” não aceitos pelo status quo foram considerados hereges ou 
feiticeiros e pereceram em masmorras ou em fogueiras. Um caso clássico 
de interferência religiosa no desenvolvimento da ciência ocorreu com Ga-
lileu (Galileo Galilei), um físico e astrônomo italiano (Pisa 1564 – Arcetri 
1642) que foi preso, torturado e condenado pela Inquisição a negar suas 
descobertas científicas e a ler em voz alta (em público) e a assinar o ma-
nuscrito reproduzido abaixo1: 
Eu, Galileu Galilei, filho do falecido Vicente Galilei, de Floren-
ça, com 70 anos de idade, tendo sido trazido pessoalmente ao 
julgamento e ajoelhando-me diante de vós, eminentíssimos e 
reverendíssimos Cardeais Inquisitores-Gerais da Comunidade 
Cristã Universal contra a depravação herética, tendo frente a meus 
olhos os Santos Evangelhos, que toco com minhas próprias mãos; 
juro que sempre acreditei e, com o auxílio de Deus, acreditarei 
de futuro, em cada artigo que a sagrada Igreja Católica de Roma 
sustenta, ensina e prega. Mas porque este Sagrado Ofício ordenou- 
-me que abandonasse completamente a falsa opinião, a qual sus-
tenta que o Sol é o centro do mundo e imóvel, e proíbe abraçar, 
defender ou ensinar de qualquer modo a dita falsa doutrina [...] Eu 
desejo remover da mente de Vossas Eminências e da de cada cristão 
1 galileu – vida e pensamento. ed. martin claret, 1998. Disponível em: <http://www.internext.com.br/valois/
pena/1633.htm> . acesso em: 10/9/2009
Conexão: 
Conhecimento é a explicação da 
realidade. Decorre de um esforço in-
vestigativo para descobrir aquilo que não 
está compreendido ainda,que está oculto. 
Leia o texto Conhecimento x Informação: 
uma discussão necessária visitando este 
site:
http://www.espacoacademico.com.
br/031/31cmatos.htm
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católico esta suspeita corretamente concebida contra mim; portan-
to, com sinceridade de coração e verdadeira fé, abjuro, maldigo e 
detesto os ditos erros e heresias, e em geral todos os outros erros e 
seitas contrários à dita Santa Igreja; e eu juro que nunca mais no fu-
turo direi, ou afirmarei nada, verbalmente ou por escrito, que possa 
levantar semelhante suspeita contra mim; mas se eu vier a conhecer 
qualquer herege ou qualquer suspeito de heresia, eu o denunciarei 
a este Santo Ofício ou ao Inquisidor Ordinário do lugar onde eu 
estiver. Juro, além disso, e prometo que cumprirei e observarei to-
das as penitências que me foram ou sejam impostas por este Santo 
Ofício. Mas se por acaso eu vier a violar qualquer uma de minhas 
ditas promessas, juramentos e protestos (o que Deus não permita), 
sujeitar-me-ei a todas as penas e punições que forem decretadas e 
promulgadas pelos sagrados cânones e outras constituições gerais 
e particulares contra delinquentes assim descritos. Portanto, com a 
ajuda de Deus e de seus Santos Evangelhos, que eu toco com mi-
nhas mãos, eu, abaixo assinado, Galileu Galilei, abjurei, jurei, pro-
meti e me obriguei moralmente ao que está acima citado; e, em fé 
de que, com minha própria mão, assinei este manuscrito de minha 
abjuração, o qual eu recitei palavra por palavra.
Assim, há formas diversas de apreender a realidade. Interessa-nos, 
contudo, esta apreensão no campo científico. Para isso ocorrer é preciso 
que o sujeito (aquele que conhece) traga para si algo que está fora dele e 
que se quer conhecer (o objeto). 
Esquematicamente, pode ser assim visualizado:
S O
Conhecimento
Conhecimento
S = Sujeito 
O = Objeto
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A produção do conhecimento fruto dessa relação entre Sujeito e 
Objeto é crivada pela teoria que a explica. Assim, dependendo da teoria, 
a preponderância é dada ora a um ora a outro. Para Contandriopoulos 
(1999, p. 29), “uma teoria é uma explicação sistemática dos fenômenos 
observados e das leis relativas a eles. Uma teoria se expressa pelos enun-
ciados das relações que existem entre conceitos.” Na análise do autor, há 
teoria quando os enunciados são muito gerais ou formalizados, como, por 
exemplo, a teoria da relatividade e, quando são de alcance mais reduzido, 
têm-se os modelos teóricos. 
Exatamente porque as teorias são sempre revisadas, alteradas, re-
criadas o conhecimento científico não é dotado de verdade absoluta. As-
sim, o trabalho científico caminha em duas direções:
Numa, elabora suas teorias, seus métodos, seus princípios e estabe-
lece seus resultados; noutra, inventa, ratifica seu caminho, abando-
na certas vias e encaminha para certas direções privilegiadas. E, ao 
fazer tal percurso, os investigadores aceitam os critérios da histori-
cidade, da colaboração e, sobretudo, incumbem-se da humildade de 
quem sabe que qualquer conhecimento é aproximado, é construído 
(MINAYO, 1994, p. 12-13).
Esta citação é importante à medida que revela o caráter transitório 
das verdades científicas e ressalta que todas são historicamente constru-
ídas e como tal devem ser compreendidas. Como então se organiza o 
método científico? Organiza-se assumindo o rigor em sua construção e 
elaboração. Entretanto, é importante ressaltarmos que não há uma caracte-
rização unívoca, isto é, uma única de ciência na contemporaneidade.
Guiado pela teoria escolhida para realizar as análises, o conheci-
mento científico é produzido e resultará naquilo que denominamos pes-
quisa. Sobre pesquisa, trataremos mais adiante.
AtiviUaUe
Vamos relembrar?
Para fixar um conceito importante, anote o que você entendeu so-
bre:
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01. Teorias
Comentário: As teorias são construções abstratas, que relacionam os con-
ceitos entre si de forma a explicar a realidade. Elas não possuem fixidez, 
isto é, podem ser reelaboradas sempre que apresentarem lacunas em sua 
construção.
U.3URetórica
Na retórica, que teve início na Grécia Antiga, ao lado de argumen-
tar, buscávamos também convencer. Infelizmente, abusamos tanto dela 
que temos hoje uma visão negativa da retórica – basta nos lembrarmos de 
diversos políticos, que possuem grande capacidade argumentativa para 
mentir para a população. Tal visão negativa é também reforçada pela ideia 
de que a retórica consiste na busca pelo convencimento a qualquer preço, 
sem argumentação real. 
Para tentarmos recuperar o conceito de retórica, é necessária a 
compreensão da necessidade fundamental da capacidade de saber argu-
mentar e convencer, estes elementos inseridos no mesmo processo. De 
acordo com Demo (2000, p. 39), “para que o discurso seja discutível, é 
imprescindível que seja lógico, quer dizer, bem feito, sistemático, claro, 
fundamentado. Não podemos discutir bem fala desconexa, mal inventada, 
contraditória.”
U.4UTiposUUeUconhecimento
Há várias formas de se obter conhecimento, o qual apresenta em 
sua constituição níveis e estruturas diferentes. Cada um desses níveis de 
estrutura do conhecimento possui seu nível de complexidade e suas ca-
racterísticas específicas. São divididos em quatro categorias os tipos de 
conhecimento e de busca do sentido das coisas:
 – Conhecimento popular 
 – Conhecimento filosófico
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Conhecimento – Unidade 1
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 – Conhecimento religioso
 – Conhecimento científico
Paha_L / Dream
stim
e.co
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U.4.UUConhecimentoUpopular
E senso comum, o que é?
Muitas vezes, o entendimento repousa sobre as constatações feitas, 
vinculadas às observações pessoais que são construídas de forma assis-
temática, fruto da vivência cotidiana e dos valores que perpassam essas 
relações. Por isso são generalizados, isto é, disseminados em grupos como 
possuidores de verdade.
 A esse tipo de conhecimento denominamos senso comum. As ex-
plicações produzidas podem até possuir certo grau de exatidão, porém não 
há preocupação com os princípios, com a sistematização e o rigor que a 
ciência exige. Em contraponto, o conhecimento científico é racional, me-
tódico e passível de ser comprovado.
Este tipo de conhecimento, também chamado de espontâneo, 
vulgar ou empírico, surge do viver cotidiano e geralmente se apresenta 
desprovido de método e sistematicidade, pautando-se unicamente pela 
prática e percepções cotidianas. Na tentativa de encontrar explicações 
para os acontecimentos cotidianos, consegue basicamente uma percepção 
do que o rodeia, sem se preocupar com relações de causa e efeito e sem 
uma postura racional. 
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O conhecimento popular é prioritariamente intuitivo, imediato, 
concreto e não se pauta pela lógica. Por ser pouco racional, apresenta res-
postas ambíguas e nem sempre verdadeiras, que se pautam em aparências. 
Além disso, muitas vezes contribuem para superstições e discriminações, 
que com o tempo fixam-se em determinadas culturas.
Podemos citar inúmeros exemplos de conhecimento popular nas 
explicações diárias de fenômenos do dia a dia que independem do nível 
cultural de quem as utiliza. Assim, muitas pessoas podem “prever” a pro-
ximidade de chuva por meio da percepção de alterações ambientais, às ve-
zes sutis, como a direção do vento, o tipo das nuvens ou o comportamento 
das aves. Da mesma forma, todos nós sabemos que se o leite for deixado 
fora da geladeira ele irá azedar. Estes são exemplos de conhecimento po-
pular, uma vez que a maioria não saberia explicar tecnicamente o porquê 
da ocorrência dos fenômenos citados.
Assim, afirma-se que o conhecimento popular está no âmbito da 
doxa, isto é, da opinião. Mesmo assim, em geral, ele é a base que provoca 
um caminhar mais refinado no campo das reflexões rumo à ciência. Quan-
do a ciência constrói teorias, por vezes, interage com o senso comum, 
construindo mudanças por meio de incorporações de novas informações e 
abandonando as informações que já possuía.
U.4.2UConhecimentoUfilosófico
Antes de mais nada, é importante definirmos a palavra “filosofia”, a 
qual foi criada por Pitágoras: philos significa “amigo” e sophia significa 
“sabedoria”.
A ideia de conhecimento filosófico tem como base conceitos subje-
tivos, relacionados ao conhecimento especulativo, o qual busca constante-
mente o sentido do mundo e das coisas por meio de hipóteses que podem 
ou não ser submetidas à observação, ou seja, geralmente não são verificá-
veis e, portanto, não podem ser confirmadas ou refutadas. 
De acordo com Barros e Lehfeld (2007, p. 42), a filosofia “tem a 
finalidade de compreender a realidade e fornecer conteúdos reflexivos e 
lógicos de mudança e transformação dessa realidade. A filosofia cumpre a 
tarefa de elaborar pressupostos e princípios norteadores das ações huma-
nas”. Assim, mesmo entre os grandes filósofos, não há uniformidade de 
pensamento e de forma de reflexão, já que a filosofia consiste na observa-
ção, reflexão e interpretação do mundo sob pontos de vista diferentes e, às 
vezes, inconciliáveis.
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A filosofia não é um castelo abstrato, estéril e distante de ideias. 
Ideias difíceis e herméticas, como, às vezes, de forma detratora, se 
diz. Ela é uma forma de conhecimento prático, orientadora do exer-
cício de nossa sobrevivência em sociedade. Ela pode não garantir o 
“ganha-pão”, como se diz vulgarmente, mas certamente é com ela e 
com sua ajuda que conseguimos o pão nosso de cada dia, pois dela 
depende o encaminhamento de nossa ação (LUCKESI 1984, p. 67).
Assim, a filosofia cumpre a tarefa de compreender a realidade e con-
tribuir com conteúdos reflexivos e lógicos para que essa realidade possa 
ser transformada.
W
ikim
eDia
O Mito da Caverna, narrado por Platão no livro VII de A República 
(escrito entre 380-370 a.C.), é, provavelmente, uma das mais poderosas 
metáforas criadas pela filosofia, em qualquer tempo, por descrever de 
forma atemporal a situação em que se encontra a humanidade, condenada 
a uma terrível condição. Imaginou toda uma população presa desde a in-
fância no interior de uma caverna, imobilizada e obrigada, por correntes, 
a olhar sempre a parede em frente. O que as pessoas dessa população 
veriam então? Supondo que existissem algumas pessoas no exterior da 
caverna, carregando para lá para cá, sobre suas cabeças, estatuetas de ho-
mens, animais, vasos, bacias e outros vasilhames e havendo ainda uma es-
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cassa iluminação; O Mito disse que os habitantes daquele lugar infeliz só 
poderiam enxergar o bruxuleio das sombras dos objetos sendo carregados, 
surgindo e se desfazendo diante deles. Era assim que viviam os homens, 
concluiu Platão: acreditavam que as imagens fantasmagóricas que apare-
ciam (chamadas de ídolos por Platão) eram verdadeiras, considerando o 
espectro como realidade. Toda a existência era, portanto, inteiramente do-
minada pela ignorância. Para Platão todos nós estamos condenados a ver 
apenas sombras à nossa frente, tomando-as como verdadeiras. Esta crítica 
à condição dos homens, que foi escrita há quase 2.500 anos, inspirou e 
ainda inspira incontáveis reflexões, sendo a mais recente delas no livro de 
José Saramago A caverna. 
U.4.3UConhecimentoUreligioso
O conhecimento religioso, também chamado de teológico, é aquele 
que se revela por meio da fé divina ou da crença religiosa. Do ponto de 
vista religioso/teológico, a existência divina é evidente e inquestionável e, 
portanto, não necessita de demonstração ou experimentação, ou seja, dis-
pensa qualquer procedimento experimental. No entanto, o conhecimento 
religioso se analisa, se interpreta e se explica (BARROS E LEHFELD, 
2007).
Este tipo de conhecimento depende da formação moral e das crenças 
de indivíduos, grupos ou povos e requer a autoridade divina, seja de for-
ma direta seja de forma indireta. O conhecimento religioso não pode ser 
confirmado ou negado, ao contrário do que ocorre no conhecimento cien-
tífico, uma vez que se baseia em proposições reveladas pelo sobrenatural 
e, portanto, sagradas e valorativas. As verdades oriundas do conhecimento 
religioso são tidas como infalíveis e inquestionáveis. A fonte do conheci-
mento geralmente está presente nos livros sagrados, independentemente 
da religião ou da doutrina.
U.4.4UConhecimentoUcientíficoUUU
O conhecimento científico se caracteriza pela busca da compreen-
são dos fenômenos existentes por meio da utilização de procedimentos 
metódicos em suas investigações. Galliano (1979, p. 21) define o conhe-
cimento científico como “o aperfeiçoamento do conhecimento comum e 
ordinário obtido por meio de um procedimento metódico, o qual mobiliza 
explicações rigorosas e ou plausíveis sobre o que se afirma sobre um ob-
jeto da realidade”. 
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Conhecimento – Unidade 1
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Além de focar em fatos e fenômenos verificáveis, o conhecimen-
to científico é também objetivo, factual, racional, analítico, organizado, 
explicativo e sistemático; constrói e aplica leis através de investigações 
metódicas.
Podemos afirmar sem receio que hoje conhecemos mais e melhor 
em comparação com o passado, mas não podemos chamar tal conhe-
cimento de “conhecimento acumulado”, uma vez que tal processo está 
longe de ser meramente cumulativo. De acordo com Demo (2000, p. 74), 
“conhecimento novo não provém de mera soma. Vem da derrubada siste-
mática e, por vezes, impiedosa. Porquanto, seu método fundamental é o 
questionamento sistemático”. Assim, para o autor, uma teoria científica é 
aquela que se oferece ao debate e que se mantém necessariamente falível 
e não aquela que fica de pé a qualquer preço. Nesse sentido, pode-se afir-
mar que para algo ser científico é necessário queseja discutível, já que a 
ciência surgiu da recusa em aceitar o saber institucionalizado.
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O conhecimento científico tem uma vocação analítica e, assim, o 
método mais característico do procedimento científico é a análise. 
Na origem etimológica, analisar significa decompor um todo nas 
partes, desfiando uma a uma, em particular as tidas como mais 
importantes. Trata-se de atividade desconstrutiva que admite ser o 
todo apenas o ajuntamento das partes, tanto assim que, desfazendo 
parte por parte, nada resta do todo, a não ser suas partes. Fazendo o 
caminho de volta, ao ajuntar as partes, obtemos de novo o todo, de 
maneira reversível. Assim é o relógio: é monte de partes concate-
nadas, desmontáveis uma a uma. O relojoeiro tem do relógio visão 
sintética, sem a qual não se saberia conceber as partes, mas o cons-
trói por partes. O relógio não existe nas partes desmontadas, mas 
estas, uma vez montadas, são o relógio. (DEMO, 2000, p. 15) 
Para melhor compreendermos o conceito de conhecimento cientí-
fico, serão apresentadas a seguir três etapas postuladas por Demo (2000, 
p. 19-20).
1. A utilização frequente do termo conhecimento científico pelo
fato dele implicar que é um dentre outros termos também
possíveis, como sabedoria e bom-senso. Pode ser sinônimo de
“ciência”, desde que não se afirme ser esta necessariamente
superior e totalmente diversa diante de outros tipos. Ciência,
quando relacionada à “tecnologia”, transmite, sobretudo, o
pano de fundo ocidental, extremamente relacionado aos pro-
cessos de colonização. “Ciência e tecnologia” representam
a vantagem comparativa decisiva em termos de crescimento
econômico e domínio do mundo, da natureza, da sociedade e
da economia. Na tradição ocidental, ciência é procedimento
frontalmente diferente de outras formas de conhecer, univer-
sal, superior e definitivo, tendencialmente voltado para as
“ciências exatas naturais”, donde também segue o desapreço
por outras culturas e seus modos de conhecer. Embora mante-
nhamos o termo ciência nas áreas sociais e humanas, persiste a
expectativa de que seu uso mais correto ocorre apenas nos ra-
mos que possibilitam utilização concentrada de procedimentos
matemáticos e empíricos, que seriam garantias de objetividade
e neutralidade. Nesse caso, ciência e tecnologia formam dupla
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inseparável e imbatível, representando possivelmente a identi-
dade cultural mais forte da história ocidental. Em seu extremo, 
substituem a religião, nos sentido de que apenas nelas se crê. 
Quanto ao conhecimento científico, a expressão envolve sua 
variabilidade natural no tempo e no espaço, aludindo menos a 
pretensões de universalidade que a diferenças específicas de 
método. É, portanto, um tipo de conhecimento, a ponto de po-
der tornar-se “senso comum” com o passar do tempo.
2. É preferível “reconstruir” a “construir” conhecimento. Mo-
dernas teorias de aprendizagem apontam para o caráter cons-
trutivo do conhecimento, em contraposição ao instrucionismo
que insiste na simples transmissão reprodutiva. No entanto,
podem exagerar na dose, quando supõem excessiva criativi-
dade, como se partíssemos do nada. Na prática, conhecemos
com base no que já está conhecido, aprendemos do que outros
já aprenderam. Sobretudo, nos ambientes escolares e univer-
sitários, por mais que seja essencial praticar a pesquisa como
estratégia central de aprendizagem, dificilmente construímos
conhecimento tipicamente novo. O que mais fazemos é reto-
mar o conhecimento disponível e refazê-lo com mão própria.
Entretanto, não se trata de procedimento adequado, quando
apenas reproduzimos conhecimento, como é o caso frequente
do “fichamento de livros”, se por isso entendermos a simples
compilação de ideias dos outros sem qualquer elaboração pró-
pria. Reconstruir conhecimento significa, portanto, pesquisar e
elaborar, impreterivelmente. Pesquisa é entendida tanto como
procedimento de fabricação de conhecimento, quanto como
procedimento de aprendizagem (princípio científico e educa-
tivo), sendo parte integrante de todo processo reconstrutivo de
conhecimento.
3. Demo (2000) considera pouco útil a distinção entre teoria e
prática, pela razão de que o conhecimento científico é o que
existe de mais prático em nossas sociedades, principalmente
por conta das tecnologias. Por vezes, ainda identificamos a
“academia” como mundo à parte, torre de marfim, em que
figuras pouco práticas usam seu tempo para apenas pensar,
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elucubrar, especular. O termo filosofia é usado nesta acepção 
facilmente, insinuando que “não serve para nada”, mesmo que 
se admita inteligente. Também é imprópria a expectativa uti-
litária, porque imediatista. Fazer teoria pode, à primeira vista, 
parecer algo ocioso. Levando, porém, em conta que os dois 
termos necessitam um do outro, teoria que finalmente nada 
tem a ver com a prática, também não é teoria de coisa nenhu-
ma, a prática que não retorna à teoria jamais se renova. Por 
exemplo, defender tese sobre o conceito de maiêutica* em 
Sócrates pareceria diletantismo acadêmico, mas pode servir 
como fundamento para inúmeras práticas pedagógicas atuais, 
sem falar em seu aspecto reconstrutivo que admitiria tratamen-
to alternativo do que muitos outros já estudaram. Outra coisa 
é o “teoricismo”, algo que pode ser aplicado à maioria dos 
cursos acadêmicos, porque fazem com que os alunos engulam 
um monte de teorias – sem pesquisa e elaboração própria – 
destituídas de sentido prático. O campus universitário pode 
espraiar esta ideia vazia: fica no outro lado da cidade, em lugar 
fechado, tipo “mundo da lua.” Muitas vezes “estudar” também 
pode inspirar esta expectativa: é atividade especial, em tempo 
especial, idade especial, lugar especial; é preciso “parar” para 
estudar, interromper o dia ou a juventude, sair da vida normal. 
Agregar sentido prático aos cursos, sem cair no ativismo, tam-
bém poderia acrescentar-lhes qualidade. Embora cada termo 
tenha seu lugar, eles moram no mesmo lugar.
*Maiêutica: O momento do “parto” intelectual é chamado
de maiêutica socrática. Esse “parto” é a busca da verdade no inte-
rior do homem. O processo era conduzido por Sócrates em dois mo-
mentos distintos: em primeiro lugar, ele levava seus interlocutores ou 
alunos a questionar seu próprio conhecimento sobre um dado assunto. 
Em seguida, Sócrates fazia com que concebessem uma nova ideia ou 
opinião sobre o mesmo assunto. Desse modo, por meio de questões 
simples e contextualizadas, a maiêutica leva à elaboração de ideias 
complexas.
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Barros e Lehfeld (2007, p. 46) afirmam que é do conhecimento 
científico que a ciência se constitui e resumem em seis tópicos suas prin-
cipais características:
 – O conhecimento científico surgiu a partir das preocupações 
humanas cotidianas, e esse procedimento é consequência do 
bom senso organizado e sistemático.– O conhecimento científico transcende o imediatamente vivi-
do e observado, buscando a formulação de paradigmas. 
 – O conhecimento científico, além de ater-se aos fatos, é ana-
lítico, comunicável, verificável, organizado e sistemático – é 
também explicativo, constrói e aplica teorias. 
 – O conhecimento científico, considerado um conhecimento 
superior, exige a utilização de métodos, processos, técnicas 
especiais para a análise, compreensão e intervenção na rea-
lidade. 
 – A abstração e a prática devem ser dominadas por quem pre-
tende trabalhar cientificamente.
AtiviUaUe
Testando seu conhecimento
01. Reflita e dê exemplos sobre conhecimento produzido pelo senso co-
mum contrapondo-o com o produzido cientificamente.
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Reflexão
Durante toda a vida, o ser humano tem de lidar com experiências 
relacionadas a dor, prazer, sede, saciedade, calor, frio; portanto, o conhe-
cimento se dá pela necessidade de adaptação, interpretação e assimilação 
às circunstâncias inerentes ao meio em que ele vive. Assim, podemos afir-
mar que o conhecimento, ou o ato de conhecer, funciona como um meio 
de solução dos problemas comuns à vida. Já o conhecimento científico é 
produzido pela investigação científica. Além de suprir a necessidade de 
encontrar respostas e soluções para problemas de ordem prática da vida 
cotidiana, também se caracteriza por ser um conhecimento que possibilita 
explicações sistemáticas que podem ser testadas e aceitas ou refutadas por 
meio de provas empíricas.
LeituraUrecomenUaUa
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UP / Dream
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Observe este extrato de um texto interessante que trata da ciência e 
do senso comum. Veja como o autor procura dessacralizar a ciência, isto é 
, retirá-la da condição de superioridade sobre as outras formas de conheci-
mento da realidade, estabelecendo seu vínculo como senso comum.
MEDEIROS, K. M. de. Programa e apostila do curso de metodolo-
gia científica. Disponível em:<http://www.karlmarx.pro.br/apostilas/
metoddown.htm.> Acesso em: 20 de fevereiro de 2010.
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O senso comum e a ciência
O que é que as pessoas comuns pensam quando as palavras ciência 
ou cientista são mencionadas? Faça você mesmo um exercício. Feche os 
olhos e veja que imagens vêm à sua mente. As imagens mais comuns são 
as seguintes:
a) o gênio louco, que inventa coisas fantásticas;
b) o tipo excêntrico, ex-cêntrico, fora do centro, manso, distraí-
do;
c) o indivíduo que pensa o tempo todo sobre fórmulas incompre-
ensíveis ao comum dos mortais;
d) alguém que fala com autoridade, que sabe sobre que está fa-
lando, a quem os outros devem ouvir e. . . devem obedecê-lo.
Veja as imagens da ciência e do cientista que aparecem na televisão. 
Os agentes de propaganda não são bobos. Se eles usam tais imagens é por-
que eles sabem que elas são eficientes para desencadear decisões e com-
portamentos. É o que foi dito antes: cientista tem autoridade, sabe sobre 
o que está falando e os outros devem ouvi-lo e obedecê-lo. Daí que ima-
gem de ciência e cientista pode e é usada para ajudar a vender produtos, 
como, por exemplo, cigarro. Veja os novos tipos de cigarro produzidos 
cientificamente. E os laboratórios, microscópios e cientistas de aventais 
imaculadamente brancos enchem os olhos e a cabeça dos telespectadores. 
E há cientistas que anunciam pasta de dente, remédios para caspa, varizes, 
e assim por diante.
O cientista virou um mito. E todo mito é perigoso, porque ele induz 
o comportamento e inibe o pensamento. Este é um dos resultados engra-
çados (e trágicos) da ciência. Se existe uma classe especializada em pen-
sar de maneira correta (os cientistas), os outros indivíduos são liberados 
da obrigação de pensar e podem simplesmente fazer o que os cientistas 
mandam. Quando o médico lhe dá uma receita você faz perguntas? Sabe 
como os medicamentos funcionam? Será que você se pergunta se o médi-
co sabe como os medicamentos funcionam? Ele manda, a gente compra e 
toma. Não pensamos.
Obedecemos a esse mandamento médico. Não precisamos 
pensar, porque acreditamos que há indivíduos especializados e com-
petentes em pensar. Pagamos para que ele pense por nós. Depois, 
ainda dizem por aí que vivemos em uma civilização científica. . . 
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O que eu disse dos médicos você pode aplicar a tudo. Os economistas 
tomam decisões e temos de obedecê-las. Os engenheiros e urbanistas 
dizem como devem ser as nossas cidades, e assim acontece.
Dizem que o álcool será a solução para que nossos automóveis 
continuem a trafegar, e a agricultura se altera para que a palavra dos téc-
nicos se cumpra. Afinal de contas, para que serve a nossa cabeça? Ainda 
podemos pensar? Adianta pensar?
Antes de mais nada, é necessário acabar com o mito de que o cien-
tista é uma pessoa que pensa melhor do que as outras. O fato de uma 
pessoa ser muito boa para jogar xadrez não significa que ela seja mais 
inteligente do que os não jogadores. Você pode ser um especialista em 
resolver quebra-cabeças, mas isto não o torna mais capacitado na arte de 
pensar.
Tocar piano (como tocar qualquer instrumento) é extremamente 
complicado. O pianista tem de dominar uma série de técnicas distintas – 
oitavas, sextas, terças, trinados, legatos, staccatos – e coordená-las, para 
que a execução ocorra de forma integrada e equilibrada.
Imagine um pianista que resolva especializar-se (note bem esta pa-
lavra, um dos semideuses, mitos, ídolos da ciência!) na técnica dos tri-
nados apenas. O que vai acontecer é que ele será capaz de fazer trinados 
como ninguém – só que ele não será capaz de executar nenhuma música. 
Cientistas são como pianistas que resolveram especializar-se numa 
técnica só. Imagine as várias divisões da ciência – Física, Química, Bio-
logia, Psicologia, Sociologia – como técnicas especializadas. 
No início, pensava-se que tais especializações produziriam, mi-
raculosamente, uma sinfonia. Isto não ocorreu. O que ocorre, frequen-
temente, é que cada músico é surdo para o que os outros estão tocando. 
Físicos não entendem os sociólogos, que não sabem traduzir as afirma-
ções dos biólogos, que, por sua vez, não compreendem a linguagem da 
economia, e assim por diante.
A especialização pode transformar-se numa perigosa fraqueza. Um 
animal que só desenvolvesse e especializasse os olhos se tornaria um gê-
nio no mundo das cores e das formas, mas se tornaria incapaz de perceber 
o mundo dos sons e dos odores. E isto pode ser fatal para a sobrevivên-
cia.
O que desejo é que compreendam o seguinte: a ciência é 
uma especialização, um refinamento de potenciais comuns a todos. 
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Quem usa um telescópio ou um microscópio vê coisas que não poderiam 
ser vistas a olho nu. Mas eles nada mais são que extensões dos olhos. Não 
são órgãos novos. São melhoramentos na capacidade de ver, presente em 
quase todas as pessoas. Um instrumento que fossea melhoria de um sen-
tido que não temos seria totalmente inútil, da mesma forma como telescó-
pios e microscópios são inúteis para cegos, e pianos e violinos são inúteis 
para surdos.
A ciência não é um órgão novo de conhecimento. A ciência é a hi-
pertrofia de capacidades que todos têm. Isto pode ser bom, mas pode ser 
muito perigoso. Quanto maior a visão em profundidade, menor a visão em 
extensão. A tendência da especialização é conhecer cada vez mais de cada 
vez menos.
A aprendizagem da ciência é um processo de desenvolvimento pro-
gressivo do senso comum. Só podemos ensinar e aprender partindo do 
senso comum de que o aprendiz dispõe.
A aprendizagem consiste na manutenção e modificação de capaci-
dades ou habilidades já possuídas pelo aprendiz. Por exemplo, na 
ocasião em que uma pessoa que está aprendendo a jogar tênis tem 
a força física para segurar a raquete, ela já desenvolveu a coorde-
nação inata dos olhos com a mão, a ponto de ser capaz de bater na 
bola com a raquete. 
Na verdade, com a prática ela aprende a bater melhor na bola (...) 
Mas bater na bola com a raquete não é parte do aprendizado do jogo 
de tênis. Trata-se, ao contrário, de uma habilidade que o jogador 
possui antes de sua primeira lição e que é modificada na medida em 
que ela aprende o jogo. E o refinamento de uma habilidade já pos-
suída pela pessoa. (David A. Dushki (org.). Psychology today – an 
introduction. p. 65).
O que é senso comum?
Esta expressão não foi inventada pelas pessoas de senso comum. 
Creio que elas nunca se preocuparam em se definir. Um negro, em sua 
pátria de origem, não se definiria como pessoa “de cor”. Evidentemente, 
esta expressão foi criada para os negros pelos brancos. Da mesma forma 
a expressão “senso comum” foi criada por pessoas que se julgam acima 
do senso comum, como uma forma de se diferenciarem das pessoas que, 
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segundo seu critério, são intelectualmente inferiores. Quando um cientista 
se refere ao senso comum, ele está, obviamente, pensando nas pessoas 
que não passaram por um treinamento científico. Vamos pensar sobre uma 
destas pessoas no exemplo a seguir.
Uma dona de casa pega uma dada quantia de dinheiro e vai à feira. 
Não se formou em coisa alguma. Quando tem de preencher formulários, 
diante da informação “profissão” ela coloca “prendas domésticas” ou “do 
lar”. Uma pessoa comum como milhares de outras. Vamos pensar em 
como ela funciona lá na feira, de barraca em barraca. Seu senso comum 
trabalha com problemas econômicos: como adequar os recursos de que 
dispõe, em dinheiro, às necessidades de sua família em comida. Para isso, 
ela tem de processar uma série de informações. Os alimentos que lhe são 
oferecidos estão classificados como indispensáveis, desejáveis e supérflu-
os. Os preços são comparados. A estação dos produtos é verificada: pro-
dutos fora de estação são mais caros. Seu senso econômico, por sua vez, 
está acoplado a outras ciências. Ciências humanas, por exemplo. Ela sabe 
que alimentos não são apenas alimentos.
Mesmo que nunca tenha lido Veblen ou Lévi-Strauss, ela sabe do 
valor simbólico dos alimentos. Uma refeição é uma dádiva da dona de 
casa, um presente. Com a refeição ela diz algo.
Oferecer chouriço para um marido de religião adventista ou feijoada 
para uma sogra que tem úlceras é romper claramente com uma política 
de coexistência pacífica. A escolha de alimentos, assim, não é regulada 
apenas por fatores econômicos, mas por fatores simbólicos, sociais e po-
líticos. Além disso, a economia e a política devem fazer lugar para o esté-
tico: o gostoso, o cheiroso, o bonito. E para o dietético. Assim, ela ajunta 
o bom para comprar, com o bom para dar, com o bom para ver, cheirar e
comer, com o bom para viver.
É senso comum? É. A dona de casa não trabalha com aqueles ins-
trumentos que a ciência definiu como científicos. É comportamento ingê-
nuo, simplista, pouco inteligente? De forma alguma. Sem o saber, ela se 
comporta como uma pianista, em oposição ao especialista em trinados. É 
provável que uma mulher formada em dietética, e em decorrência de sua 
(de)formação, em breve se veja diante de problemas na casa, em virtude 
de sua ignorância do caráter simbólico e político da comida. Especialista 
em trinados.
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O que é o senso comum? Prefiro não definir a defini-lo. Talvez sim-
plesmente dizer que senso comum é aquilo que não é ciência e isto inclui 
todas as receitas para o dia a dia, bem como os ideais e as esperanças que 
constituem a capa do livro de receitas.
E a ciência? Não é uma forma de conhecimento diferente do senso 
comum. Não é um novo órgão. Apenas uma especialização de certos ór-
gãos e um controle disciplinado do seu uso.
Você é capaz de visualizar imagens? Então, pense no senso comum 
como as pessoas comuns. E a ciência? Tome esta pessoa comum e hiper-
trofie um dos seus órgãos, atrofiando os outros. Olhos enormes, nariz e 
ouvidos diminutos. A ciência é uma metamorfose do senso comum. Sem 
ele, ela não poderia existir. E esta é a razão porque não existe nela nada de 
misterioso ou extraordinário.
Referências
CONTANDRIOPOULOS, André-Pierre; CHAMPAGNE, François; 
POTVIN, Louise; DENIS, Jean-Louis; BOYLE, Pierre. Saber pre-
parar uma pesquisa: definição, estrutura e financiamento. 3. ed. São 
Paulo: HUCITEC, 1999.
DEMO, P. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Edi-
tora Atlas, 2000.
BARROS, A. J. S.; LEHFELD, N. A. S. Fundamentos da metodolo-
gia científica. São Paulo: Prentice Hall, 2007.
GALLIANO, A. G. (Org.). O método científico: teoria e prática. São 
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KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Pers-
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LUCKESI, C. et al. Fazer universidade: uma proposta metodológica. 
São Paulo: Cortez, 1984.
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MEDEIROS, K. M. de. Programa e apostila do curso de metodolo-
gia científica. Disponível em: <http://www.karlmarx.pro.br/apostilas/
metoddown.htm>. Acesso em: 20 de fevereiro de 2010.
MINAYO, Maria Cecília de Souza et al. Pesquisa social. 3.ed. Petró-
polis, RJ: Vozes, 1994.
SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: 
Cortez, 1999.
NaUpróximaUuniUaUe
Por muito tempo, o homem iniciou sua busca pelo conhecimento 
para encontrar respostas a certas questões referentes ao seu dia a dia. 
Algumas respostas tinham cunho místico, o que levava à criação de mito-
logias. Quando o homem passou a questionar tais respostas e a procurar 
explicações mais plausíveis, por meio da razão, passou a obter respostas 
mais realistas que se aproximavam mais da realidade das pessoas. Tais 
respostas passaram a ser mais bem aceitas pela sociedade e podemos afir-
mar que essa nova forma de pensar criou a possibilidade da ideia de ciên-
cia para explicar os fenômenos por meio da razão. Os conceitos de ciência 
serão discutidos no próximo capítulo.
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Ciência
A partir do momento em que o 
homem passou a utilizar a razão para 
questionar o modo como buscava suas res-
postas, buscando formas maisplausíveis de ob-
ter explicações, ele passou a reduzir a importância 
de suas emoções e de suas crenças religiosas, além de 
procurar por respostas que fossem mais realistas e que 
se aproximassem de forma mais pungente da realidade das 
pessoas. As explicações resultantes passaram, assim, a ser 
mais bem aceitas na sociedade em que ele vivia.
Objetivos da sua aprendizagem
Compreender o conceito de ciência e a forma como ela surgiu e 
evoluiu. 
Você se lembra?
As aulas de Ciências na escola procuravam fornecer explicações a fenô-
menos, muitas vezes, presentes no cotidiano, como a eletricidade estática 
ou o magnetismo.
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2.UUCiência:UvamosUaoUUebate?
Fala-se tanto em ciência e em conhecimento científico, mas você 
sabe quando e por que surgiu a ciência? Por que ela alçou este patamar tão 
sólido de explicação da realidade? 
O que é ciência?
Você já parou para refletir sobre o que 
é ciência e quando ela surgiu? Antes 
de aprofundarmos a leitura, utilize 
este momento e registre sua opinião!
Para que você entenda o surgimento da ciência moderna, é impor-
tante recuar no tempo. Vamos fazer uma discussão, ainda que breve, pela 
história do fim do período feudal e até a transição para a modernidade. 
Com a desintegração do feudalismo, uma nova sociedade surgiu não 
mais pautada no teocentrismo (Deus no centro das explicações) e no crité-
rio da autoridade (pelos intérpretes dos ensinamentos religiosos). Impul-
sionada por novas necessidades, a sociedade emergente do século XVII 
exigia do homem o domínio da natureza e conhecimento de suas causas. 
Assim, naquele momento, a razão e a experiência estabeleceram novas 
bases para a objetivação do conhecimento por meio da ciência.
De fato, para este novo homem, não cabia mais um mundo limitado 
pelo dogma. O surgimento do comércio e a necessidade de sua ampliação 
exigiam novos critérios de verdade: fundados na observação empírica do 
real, na experimentação e na mensuração, enfim, em formas que possibili-
tassem o conhecimento utilitarista sem a especulação e a agudeza subjeti-
va próprias do feudalismo.
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Um novo mundo, portanto, nascia. Tomados por essa necessidade, 
voltaram-se inicialmente para o período clássico estabelecendo o homem como 
o centro da produção artística e cultural; ao mesmo tempo em que instrumentos
eram fabricados, a mecânica se desenvolvia e o capitalismo se organizava. 
A necessidade de novas referências foi gestada desde o século XV. 
É nesse contexto que Francis Bacon (1561-1626) afirmava que “a natu-
reza não se vence senão quando se lhe obedece”. Por meio de sua obra 
“Novum organum ou verdadeiras indicações acerca da interpretação da 
natureza, propunha a restauração do domínio do homem sobre a natureza 
e apontava a inutilidade do pensamento medieval para essa causa. 
Conforme dissemos, igualmente na condição de crítico da racionali-
dade medieval, porém voltado para a construção do Racionalismo, estava 
René Descartes (1596 – 1650), ou Renato Cartesius, conforme ele assina-
va em latim. Matemático e filósofo, postulava que a certeza era matemá-
tica e instituiu o método que consistia na dúvida sistemática, isto é, tudo 
seria passível de dúvida até que fosse confirmado pelo raciocínio lógico. 
Para tanto, após considerar que a certeza repousava no fato de que o su-
jeito pensante, para assim o ser, precisava existir. Tomou esta constatação 
como regra geral por meio do cogito, ergo sun – penso , logo existo.
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Esta forma preponderante do pensamento foi gestada no Renas-
cimento e assumiu vários contornos alcançando seu triunfo a partir do 
século XIX. Foi nesse período que a pesquisa voltou-se para a resolução 
de problemas de várias ordens, tais como: a descoberta de micróbios e 
bacilos e os mecanismos para combatê-los; a invenção do telégrafo e do 
telefone; urbanização decorrente da intensificação fabril, entre outros. 
Entretanto, nem todos buscaram e buscam na ciência a explicação para 
todas as coisas, inclusive hoje vivemos a crise da ciência enquanto único 
critério de verdade pautado nos princípios próprios do cartesianismo.
Vimos a origem da ciência, mas podemos nos perguntar: de onde 
vem o termo Ciência? O termo ciência provém do verbo em latim Scire, 
que significa aprender, conhecer. Em toda sua história, o homem enga-
jou-se em uma jornada com o objetivo de buscar o conhecimento para 
chegar a respostas sobre certas questões relacionadas a problemas do seu 
cotidiano. Um dos meios mais utilizados para explicar sua realidade era a 
criação de mitos, ou seja, por meio da mitologia, o homem tentava “expli-
car o inexplicável”. Se hoje é ‘óbvio’ que a Terra é redonda, até o início 
das Grandes Navegações no século XV era ‘óbvio’ que a Terra era plana. 
Se hoje é ‘óbvio’ que o homem pode voar em um equipamento mais pe-
sado que o ar, há pouco mais de um século era ‘óbvio’ que o homem só 
poderia voar em equipamentos mais leves 
que o ar, como os balões. Assim, 
muitas coisas que eram óbvias 
no passado deixaram de ser 
e, da mesma forma, o que é 
óbvio hoje pode não ser em 
algum momento no futuro. 
Assim, nosso mundo 
e nossa sociedade podem 
sempre “contar com” um 
mundo preexistente:
Nasce o homem num 
mundo, numa circuns-
tância interpretada, e passar 
a contar com os objetos que encontra, segundo a interpretação vi-
gente. Contamos com, e essa é uma das mais elementares relações 
que mantemos com as coisas. Contamos com a existência da rua, 
quando abrimos a porta de casa para irmos à escola ou ao trabalho. 
Ci-
ência é sempre 
instável: não só cresce, mas 
também muda de direção; novos 
conhecimentos nem sempre confirmam 
os anteriores, e os paradigmas sucedem-se, 
por vezes em meio a polêmicas acirradas e 
irreconciliáveis.
Todavia, a ciência futura é imprevisível, não nos 
cabendo pressupor limites, que bem podem ser 
devidos à limitação do nosso olhar atual (DEMO, 
2000, p. 46).
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Contamos com encontrar, no lugar em que as vimos ontem, as pe-
dras, as casas e as árvores. Prova disso é a surpresa que provocaria a 
ausência de rua, o deslocamento das árvores, ou o desaparecimento 
das casas, no momento em que abríssemos a porta. [...] Contamos 
com certas coisas, acreditamos que se comportam dessa ou daquela 
maneira, segundo a interpretação em que nascemos. (HEGEN-
BERG apud BASTOS e KELLER, 2002, p. 81).
Para entender o mundo em que vive e a si próprio, o homem cria 
representações desse mundo. Estas representações são construídas inte-
lectualmente criando conceitos mentais da realidade e, conforme vimos,a 
ciência expressa, portanto, uma das maneiras de explicar a realidade.
Apresentamos aqui dois dos principais usos para a palavra ‘ciência’:
1) Atividade executada por cient is tas , com matérias-
primas,propósitos e metodologia específicas. 
2) O resultado desta atividade, ou seja, um corpus bem estabele-
cido e bem testado de leis, modelos e fatos que conseguem descrever o 
mundo natural.
Os resultados da ciência devem ser “objetivos”, ou seja, eles devem 
ser testáveis, repetíveis e passíveis de confirmação por meio de outros 
cientistas.
Podemos classificar as áreas da ciência em duas grandes dimen-
sões: 
• ciência pura (o desenvolvimento de teorias) versus ciência aplicada
(a aplicação de teorias nas necessidades humanas);
• ciência natural (o estudo do mundo na-
tural) versus ciência social (o estudo do com-
portamento humano e da sociedade). 
Tomando por modelo as ciências 
naturais esta classificação produziu em 
alguns momentos um debate acalorado 
sobre a existência do caráter científico no 
campo das ciências sociais.
Conexão:
O mito faz parte da histó-
ria humana desde os primórdios 
e nunca deixou de estar presente. 
Entenda mais sobre o conceito de mito 
por meio do seguinte link:
http://vestibularfilosofia.blogspot.
com/2007/03/mito-e-filosofia.html
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Assim, influenciados pela perspectiva de que os fatos humanos po-
deriam ser observáveis e mensuráveis com o intuito de determinar suas 
causas por meio de uma análise neutra do pesquisador, a objetivismo era 
a ideia central que conduzia a relação entre sujeito e objeto. A crítica pro-
gressiva aos limites dessa concepção denominada positivismo juntamente 
com as mudanças no campo das ciências da natureza demonstraram que 
esta formas de conhecer está sempre em constante construção.
Algumas definições de ciência2:
1. “Conjunto organizado de conhecimentos relativos a um deter-
minado objeto, especialmente os obtidos mediante a observa-
ção, a experimentação dos fatos e um método próprio.”
2. A ciência busca compreender a realidade de maneira racional,
descobrindo relações universais e necessárias entre os fenôme-
nos, o que permite prever acontecimentos e, consequentemen-
te, também agir sobre a natureza. Para tanto, a ciência utiliza
métodos rigorosos e atinge um tipo de conhecimento sistemá-
tico, preciso e objetivo.
Albert Einstein
2 Disponível em: <http://forum.braslink.com/forum/read.cfm?forum=679&id=112950&thread=18175>
acesso em: 30/9/2009.
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Ciência – Unidade 2
3. “Conjunto de conhecimentos e de pesquisas metódicas cujo fim
é a descoberta das leis dos fenômenos: ‘A ciência encontrou na
experiência um princípio próprio e imanente, donde tira, sem
outro auxiliar além da atividade intelectual comum, os fatos
materiais da sua obra e as leis, com as quais coordena os fatos.’”
4. “Ciência: do latim scientia, “sabedoria, conhecimento”, é o co-
nhecimento de caráter racional, sistemático e seguro dos fatos
e fenômenos do mundo. Visão positiva: ‘o homem domina a
natureza não pela força, mas pela compreensão’. Visão negati-
va: o controle da natureza pela ciência implica força e poder.’
‘Toda a natureza começaria por se lastimar se lhe fosse dada a
palavra.’”
O autor José Carlos Köche (1997, p. 68) afirma que as perguntas 
principais acerca da produção do conhecimento: “Como proceder para 
se alcançar ou para se produzir um conhecimento? Como proceder para 
saber se ele é válido (verdadeiro) ou não? Receberam respostas diferen-
tes de acordo com cada época e com a teoria da ciência vigente.” Vejamos 
esta discussão:
No início do século XX, as ideias de Einstein e Popper revoluciona-
ram a concepção de ciência e de método científico. O dogmatismo 
que tomou conta da ciência, principalmente no século passado [o 
autor se refere ao século XIX] foi minado em suas bases, cedendo o 
seu lugar à atitude crítica. (KÖCHE, 1997, p. 68).
Assim, incorporou-se aos procedimentos e à teoria a intersubjetivi-
dade do pesquisador diante do objeto pesquisado.
2.2UFrauUesUnaUciência
Nem só de flores vive a ciência. Na busca desenfreada por reconhe-
cimento, poder ou dinheiro, alguns cientistas se veem tentados a burlar 
um procedimento ou dois, alterar este dado ou aquele, tudo para garantir 
que o resultado de sua pesquisa saia como ele quer que seja. Abaixo, estão 
listados dez dos mais famosos casos de fraude científica3: 
3 Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/>. acesso em: 15/9/2009.
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1. Em 1989, o norte-americano Stanley Pons e o britânico Martin
Fleischmann divulgaram a existência de um aparelho capaz de
fundir átomos a temperaturas muito mais baixas do que as até
então usadas em reações termonucleares. O experimento nun-
ca pôde ser reproduzido em outros laboratórios.
2. Em 1971, o governo filipino anunciou a descoberta da tribo
tasaday, que falava uma língua estranha, comia animais sel-
vagens e usava artefatos de pedra. Jornalistas descobriram que
os nativos viviam em casas, produziam carne-seca e usavam
calças da marca Levi´s.
3. Em um artigo na revista Nature, em 1988, o francês Jacques
Benveniste propôs que a água tem memória, ou seja, guarda
traços de elementos que por ela tenham passado. Os defenso-
res da homeopatia festejaram, pois isso explicaria a eficácia
do tratamento. As ideias de Benveniste nunca puderam ser
confirmadas.
4. O arqueólogo inglês Charles Downson “encontrou” uma ossa-
da de homem com crânio de formas humanas e queixo pare-
cido com o de um macaco. Em 1953, 40 anos depois, os cien-
tistas desmontaram o quebra-cabeça: uma junção de crânio de
homem com queixo de orangotango.
5. A partir dos anos 1920, o biólogo soviético Trofim Denisovich
Lysenko inventou fórmulas absurdas para aumentar a produ-
ção agrícola. Fazia coisas como misturar trigo de inverno com
trigo de primavera numa mesma plantação. Com isso, espera-
va desenvolver uma espécie que pudesse ser plantada e colhida
em qualquer época do ano. Suas ideias nunca funcionaram.
6. Nos primeiros anos de século XX, o mundo celebrava a desco-
berta do raio X. Isso parece ter inspirado o físico francês René
Blondlot. Na mesma época, ele afirmou ter descoberto o raio
N, e outros cientistas contemporâneos disseram ter produzido
em seus laboratórios raios N. O citado raio nunca teve sua
existência comprovada.
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7. O físico Victor Ninov e sua equipe publicaram, em 1999, a
descoberta do elemento químico 118 – o mais pesado que
poderia existir. No ano seguinte, a equipe não conseguiu repro-
duzir a experiência. Investigações provaram que Ninov havia
forjado os resultados.
8. Na década de 1970, o psicólogo inglês Cyril Burt propôs que
o quociente de inteligência seria determinado geneticamente.
Para chegar a esse resultado, inventou personagens e falsificou 
dados. 
9. O alemão Jan Hendril Schon foi demitido dos laboratórios Bell
poralterar dados em experiências sobre luz e supercondutivi-
dade entre 1998 e 2001. Pesquisador conceituado, ele publicou
suas farsas em revistas como Science e Nature.
10. Um professor da Universidade Tecnológica da Coreia do
Sul reconheceu ter falsificado seus estudos publicados em re-
vistas científicas internacionais. Segundo o jornal sul-coreano 
The Hankyoreh, Kim Tae-kook, professor de biotecnologia do 
Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia (Kaist), 
reconheceu ter usado dados falsos em seu experimento sobre 
tecnologia contra o envelhecimento, depois que uma comissão 
de investigação da Universidade descobriu essa manipulação. 
O resultado dos estudos foi publicado em duas revistas científi-
cas – Science, em 2005, e a Nature chemical biology, em 2006 
– por ter aberto supostamente uma porta para encontrar remé-
dios contra o envelhecimento humano. Como consequência, o 
Kaist retirou Kim da docência e de suas condições de pesqui-
sador, e a comissão de investigação indicou que esses estudos 
deveriam ser retirados das revistas. A notícia aconteceu dois 
anos após o professor sul-coreano Hwang Woo-souk, pioneiro 
da clonagem, admitir ter falsificado seus estudos sobre células-
tronco de embriões humanos clonados, publicados na revista 
Science. Hwang afirmou ter realizado a primeira clonagem de 
células-tronco de embrião humano em 2004, mas depois ficou 
demonstrado que era falsa. 
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AtiviUaUes
Vamos relembrar?
01. Registre no espaço a seguir os elementos centrais da discussão sobre
a origem da ciência. 
Comentário: A ciência tem sua origem na passagem do período que se 
denomina medieval para o moderno. Ela surge como uma resposta às ne-
cessidades criadas pela nova sociedade que demandava um conhecimento 
mais prático e instrumental em vez do conhecimento contemplativo e teo-
crático que até então existia na Idade Média. 
Reflexão
Tudo aquilo que a ciência constrói precisa ser representante de uma 
percepção “compartilhada”, ou seja, que pode ser verificada e observada 
por qualquer pessoa que esteja equipada com as ferramentas de medição 
e habilidades de observação apropriadas. Podemos afirmar, inclusive, que 
esse modo de pensar do homem possibilitou o surgimento da ideia de ci-
ência, uma vez que sua tentativa contínua de explicar fenômenos por meio 
da razão foi o primeiro passo na direção de se fazer ciência. 
Mas, a ciência só é precisa, sistemática e confiável se os mesmos 
adjetivos puderem ser aplicados àqueles que a praticam, como pudemos 
verificar nos casos relatados nesta unidade.
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Ciência – Unidade 2
LeituraUrecomenUaUa
Neste texto, o autor apresenta a relação entre ciência e tecnologia 
ressaltando a necessidade de não polarizarmos, isto é, de não inscrever-
mos nossa análise na compreensão de que uma é ruim e a outra é boa. 
Vamos à leitura?
MORAIS, João Francisco Régis de. Ciência e perspectivas antropológicas 
hoje. In: CARVALHO, Maria Cecília. Construindo o saber: técnicas de 
metodologia científica. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 1998, p. 95-96.
Concretamente, hoje, vivemos a realidade científico-tecnológica em cli-
ma de muita perplexidade, pois que a vivemos de forma ambígua. Se, de um 
lado, nos encantam cada vez mais as façanhas da engenharia genética ou da 
medicina nuclear, temos de haver-nos com as sombras de Three Mile Island e 
Chernobyl – dois desastres monumentais resultantes dos avanços dos recursos 
da ciência contemporânea. Além disso, já se disse que se, hoje em dia, uma 
parte da população do mundo morre porque não tem comida – morre de fome – a 
outra parte da população está morrendo porque a tem; isto é: em termos de subs-
tituição do natural pelo quimicamente preparado, conta-se com alimentos cada 
vez menos confiáveis, como os diabéticos da maior parte do chamado Terceiro 
Mundo que adoçam suas bebidas com sacarina, substância extraída de um de-
rivado do petróleo já comprovadamente cancerígeno. Eis o porquê de em outros 
escritos já ter afirmado que a ciência e a técnica se constituem nas glórias e nas 
misérias do presente século.
Inevitavelmente, a ciência e a tecnologia não são boas ou más. São am-
bas as coisas. E isto é também o porquê às suas funções manifestas, conheci-
das e declaradas, correspondem funções latentes, desconhecidas no momento 
das novas criações e, por isso, mesmo caladas. Esta coisa pode ser constatada 
praticamente na maior parte das bulas de medicamentos, nas quais se lê que, 
embora os testes tenham sido feitos cuidadosamente, não são conhecidas todas 
as consequências da ingestão daquele remédio, sendo que principalmente este 
não deve ser dado a mulheres grávidas até tal mês do desenvolvimento fetal. 
A ciência e a tecnologia são boas e más também em razão de que, uma vez 
subvertidas por interesses econômicos e políticos, não podem mais ser livres de 
valores (value free) – se é que algum dia tenham sido.
O que se acontece atualmente é que muitos se ligam ou só nos aspectos 
negativos da evolução científica ou só nos seus lados positivos, o que gera, de 
um lado, otimistas ingênuos com uma cândida visão iluminista da ciência – sé-
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culo XVIII –, a ciência como algo com força mágica e que tudo resolverá, e, de 
outro lado, negadores mal-humorados de qualquer perspectiva boa, negadores 
do óbvio: das magníficas realizações que a atividade científica tem logrado. São 
dois modos de ver. Evidentemente, ambos incompletos e ineficientes por sua 
parcialidade. Volto sempre a dizer que, nos negócios humanos, não há disjuntiva 
“ou isto ou aquilo”, mas sim , para não quebrar o fluxo dialético da vida, que a 
realidade humana seja “isto e aquilo”. Certamente que não é um modo cômodo 
de ver, pois exige uma dinâmica interior que nos faz nômades da observação do 
mundo, expondo-nos à permanência do provisório. Mas parece ser o modo rea-
lista – no mais salutar sentido desta palavra – de se olhar a vida e interpretá-la.
O nosso meio, que é marcadamente científico-tecnológico, nunca será 
apenas mau; tampouco lograremos que chegue um dia, penso, a ser apenas 
bom; imagino que a luta humana se situe hoje em um esforço real para que ob-
tenhamos uma predominância do bom sobre o ruim, num projeto histórico mais 
modesto,mas, pelo menos, factível[...].
Texto 2
Observe que neste texto a autora pondera como a ciência é constru-
ída por meio de hipótese, objeto próprio e método para guiar a investiga-
ção científica. 
ARAÚJO, Inês Lacerda. Introdução à filosofia da ciência. 2. ed. 
Curitiba: Ed. da UFPR, 1998, p. 14-15.
Numa caracterização da ciência, um dos aspectos mais corriqueiros evi-
denciados, enaltecidos e solicitados é o de seus resultados práticos, do avanço 
técnico e tecnológico por ela propiciado e da utilização de suas explicações e te-
orias. A sociedade vê na ciência a provedora de um conhecimento aplicável que 
permite ao homem o domínio da natureza, sem o qual a história da civilização 
certamente teria sido diferente.
A razão de se privilegiar este lado prático da ciência se deve ao seu papel 
de provedora de conhecimentos, que agilizam e incrementam o setor produtivo. 
Porém, esta faceta da ciência não nosautoriza a uma conceituação.
Por sua vez, se formos analisar um outro traço seu, o de que ela “se pro-
põe a atingir conhecimento sistemático e seguro, de sorte que seus resultados 
possam ser tomados como conclusões certas a propósito de condições mais ou 
menos amplas e uniformes sob as quais ocorrem os vários tipos de fenômenos” 
(NAGEL, 1974, p. 15) e veremos que obter o conhecimento desta maneira não é 
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uma exclusividade da ciência. Sem dispor do método científico, o homem já des-
frutava de conhecimentos sistemáticos que lhe permitiram levar adiante várias 
atividades. [...].
A ciência, diz-se ainda, é coerente e consistente e outros tipos de conhe-
cimentos não são. Mas, como mostra Feyerebend, se na física, por exemplo, 
houver insistência em defender as condições de coerência e consistência a todo 
custo, muitas incertezas nunca poderão ser refutadas. A defesa da coerência 
pode redundar em dogmas. “A variedade de opiniões é necessária”, ensina ele, 
“para o conhecimento objetivo” (FEYEREBEND, 1989, p.57).
A possibilidade de testar e eventualmente refutar hipóteses e teorias 
científicas caracteriza melhor o procedimento do cientista do que a obtenção de 
verdade e certeza acerca de fatos.
Na conceituação da ciência, deve-se levar em conta três fatores: 
a) toda ciência se compõe de um conjunto de hipóteses e teorias resolvi-
das e a resolver; b) possui um objeto próprio de investigação que é um determi-
nado setor da realidade recortado para fins de descrição e explicação; c) possui 
um método, sem o qual as tarefas acima seriam impraticáveis.
Texto 3
Conforme discutimos nesta unidade o labor científico envolve uma 
dimensão ética que se coloca em vários níveis para o pesquisador. Ve-
jamos como este pesquisador português da Universidade de Évora trata 
desta questão:
PATRÍCIO, Manuel Ferreira. Problemas éticos na investigação em 
educação. In: LINHARES, Célia; FAZENDA, Ivani; TRINDADE, Ví-
tor (Orgs.). Os lugares dos sujeitos na pesquisa educacional. Campo 
Grande, UFMS, 1999, p. 107-110.
[...]
Tipos de problemas que se põem ao investigador 
Antes disso, porém, deveremos ainda procurar identificar os principais 
tipos de problemas com que se confronta o investigador. Também desta análise 
derivam importantes consequências para a evidenciação e concretização da rela-
ção entre ética e atividade investigativa científica educacional.
Veja os seguintes tipos de problemas: a) relacionados com a formação e 
com a competência do investigador; b) relacionados com a temática da investiga-
ção; c) relacionados com a metodologia adotada; d) relacionados com as finali-
dades visadas; e) relacionados com a postura epistemológica do investigador; f) 
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Metodologia Científica
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relacionados com os interesses do investigador; g) relacionados com a ideologia 
do investigador ou a ideologia que o envolve e o pressiona; h) relacionados com 
a atividade prática, condicionadora da investigação. Todos estes tipos de proble-
mas arrastam consigo questões éticas. Vejamos um pouco como assim é.
A formação do investigador, por exemplo, pode ter ou não ter existido. 
A falta ética de um investigador pode começar pelo fato, elementar, de ele não 
ter adquirido formação básica essencial para investigar segundo as regras do 
método científico ou de tê-las utilizado em medida seriamente insuficiente. Esse 
investigador não será competente. Deste modo, uma boa formação prévia do 
investigador é condição essencial de uma investigação eticamente conduzida, 
mesmo quando se sabe, e admite-se, que a realização da investigação é ela pró-
pria porventura o melhor método de formação do investigador.
A ética, ou sua ausência, também se manifesta na temática. Há temáticas 
convenientes e inconvenientes: socialmente, politicamente, institucionalmente 
convenientes ou inconvenientes. A cedência do investigador a qualquer modali-
dade de “conveniência” é, por si, um comportamento eticamente reprovável. O in-
vestigador deve investigar o que cientificamente é conveniente investigar e nada 
mais. Além disso, o investigador, por vezes, silencia temáticas determinadas, 
por motivos inconfessáveis. Ou traz à ribalta, desonestamente, outras temáticas, 
por motivos da mesma natureza. Tais comportamentos são sempre, obviamente, 
reprováveis.
Como tivemos oportunidade de verificar, a metodologia científica é algo de 
muito complexo e de [sic] epistemologicamente questionável. Uma metodologia 
pode condicionar os resultados da investigação e distorcer expressivamente o 
conhecimento da realidade sob estudo. A opção por uma metodologia e a res-
pectiva prática não são, por conseguinte, atos eticamente neutros. O investigador 
tem por dever controlar essa opção e a consequente prática, determinando em 
ambos os casos os respectivos limites e as respectivas limitações, a fim de ser, 
claro, até onde vai a lebre que deve vender e onde começa o gato que não deve 
vender.
Quanto às finalidades, poderíamos começar por afirmar que a investigação 
científica deve ter por exclusiva finalidade a descoberta ou invenção da verdade. 
Contudo, o normal é essa finalidade intrínseca ver-se acompanhada por uma 
constelação de finalidades e objetivos extrínsecos, que poluem e contaminam 
o que deveria ser a pura investigação científica. Sendo impossível eliminar, ou
evitar, essa atmosfera do extrínseco, o que importa é controlar os seus efeitos 
perversos, a fim de não falsear a investigação e seus resultados.
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Ciência – Unidade 2
Os investigadores assumem posturas epistemológicas as mais diversas, 
o que resulta da análise que fazem do conhecimento científico nos seus vários
aspectos. O século XX foi palco de numerosas construções epistemológicas, al-
gumas das quais bastante limitadas, limitadoras, rígidas e redutoras. Não vamos 
afirmar que houve, ou há, má fé epistemológica da parte dos defensores mais 
estreitos, e mais estritos, dos reducionismos epistemológicos. Mas houve, e há, 
em muitos casos, pré-juízos epistemológicos que são gravemente nocivos a uma 
investigação escorreita. Parece-me, pois, da maior importância que o investi-
gador [...] tenha em conta o seu repertório de preconceitos epistemológicos, os 
conheça e deles se defenda o mais e o melhor possível. Mesmo que não peque 
por ato, ele pode estar a pecar por omissão. Em qualquer dos casos, a falta é de 
ordem ética.
O investigador probo deve acautelar-se relativamente aos seus próprios 
interesses. Refiro-me, evidentemente, apenas aos interesses de natureza 
científica, pondo liminarmente de parte interesses de natureza econômica, por 
exemplo. Os interesses científicos são necessários e legítimos. Podem, porém, 
ter como contrapartida desinteresses, os quais se traduziriam em menor atenção, 
ou completa desatenção, passiva ou ativa, para com outras áreas, temas ou 
problemas objetivamente interessantes. Deve, pois, o investigador estar perma-
nentemente em guarda quanto aos seus interesses, não se deixando obcecar por 
eles, antes os confrontando com outros interesses, eventualmente interesses de 
outros, numa atitude de abertura e interação que pode ser da maior utilidade ao 
progresso