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Acidez e calagem do solo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA 
CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS - DEPARTAMENTO DE SOLOS 
CURSO DE ZOOTECNIA - DISCIPLINA DE MANEJO E FERTILIDADE DO SOLO1 
 
Aula 2: Acidez do solo 
A acidez de um solo caracteriza-se pelo seu valor de pH e seu caráter ácido aumenta à medida 
que o pH do solo diminui. Entre os problemas de um solo ácido, destacam-se a menor disponibilidade 
de alguns nutrientes (especialmente fósforo e molibdênio) e a toxidez de alumínio e manganês. 
Entretanto, as rochas das quais os solos se originam, quando moídas e em contato com a água, mantém 
o pH próximo à neutralidade (pH 7,0) e contêm substâncias muito pouco solúveis enquanto que, após 
milhares de anos, os solos formados a partir destas rochas apresentam reação ácida e aumento na 
concentração de elementos com alta valência (Fe e Al). A primeira questão a entender é: como uma 
rocha com pH 7,0 origina um solo com pH 4,0? 
O ataque da rocha pela água da chuva é potencializado pela reação de dissolução do CO2 
atmosférico: CO2 + H2O ↔ HCO3- + H+. O próton originado reage com a rocha desintegrando os 
minerais (intemperismo químico), liberando os cátions e ânions para a solução que servirão para o 
crescimento dos organismos vivos. Assim, através da intemperização dos minerais e da atuação dos 
fatores de formação do solo (material de origem, relevo, clima, organismos, tempo e homem), via 
processos de formação, os elementos químicos são liberados para a solução do solo. Muitos desses 
elementos são perdidos do sistema, sendo mais pronunciado para os carbonatos, sílica e os metais 
alcalinos e alcalinos terrosos (Na, K, Ca, Mg) e aumentos na atividade de elementos como o alumínio 
e o ferro. Também, a partir dos elementos na solução ocorre a neoformação de argilominerais (2:1 Æ 
1:1 Æ óxidos), que juntamente com a matéria orgânica, criam um campo elétrico negativo que atraem 
os cátions, evitando a sua percolação. A presença de ânions é obrigatória para que ocorra a lixiviação. 
Cabe lembrar que a atividade dos microorganismos na decomposição dos resíduos orgânicos também 
libera prótons e ânions (NO3-), que aceleram o processo de acificação do solo. 
Nos solos, parte do alumínio que estava contido nos minerais primários continua sendo 
estrutural, retido pelos átomos de oxigênio nas estruturas dos argilominerais e óxidos. Portanto, esse 
Al não é tóxico aos organismos vivos. Aqueles átomos de Al liberados quando ocorre a ruptura desses 
minerais secundários para a solução é que se tornam tóxicos. Isso só ocorre depois que a quantidade de 
H+ for alta (pH < 5,5). Em outras palavras, primeiro o solo se torna ácido para depois aparecer Al+3. O 
Al+3 é conseqüência da acidez e não causa. 
A acidez do solo é a recíproca da quantidade de bases para sua correção. Há vários tipos de 
acidez, dependendo do modo de medição adotado. 
a) Acidez ativa Æ é a quantidade de H+ presente na solução do solo. É tão pequena que é medida em 
valores de pH (-log H+). Por exemplo, pH 4,0 tem apenas 0,0001 mol H+ l-1. 
b) Acidez trocável ou Al trocável Æ refere-se à quantidade de Al+3 adsorvido pelas cargas negativas 
do solo (CTC). Ele está bloqueando as cargas e mantém um equilíbrio com a solução do solo. Pode 
ser tão alto como mais de 0,2 mol kg-1. Há uma quantidade muito grande de Al no solo, sendo que 
a grande maioria faz parte da estrutura dos colóides inorgânicos. O Al complexado pela MO do 
solo pode perfazer mais de 100 vezes àquele que se encontra no complexo de troca. Esse Al só será 
liberado para a solução se a MO for destruída pelo ataque microbiano. 
c) Acidez não trocável Æ refere-se a quantidade de hidrogênio ligado por ligações de coordenação 
aos grupos funcionais dos colóides orgânicos (MO) e inorgânicos (argilas e óxidos). Esse 
hidrogênio só se dissocia quando se adiciona OH-1 no solo. Assim, quanto mais OH-1 se adiciona 
ao solo, mais H se extrai, o que torna obrigatório citar o pH da solução extratora (por exemplo, 
acetato de cálcio pH 7,0). 
 
1 Resumo elaborado pelo Prof. Dr. Danilo Rheinheimer dos Santos, com atualizações do Prof. Dr. Leandro Souza da Silva, 
Carlos Alberto Ceretta e Gustavo Brunetto. 
 
d) Acidez potencial Æ o somatório do Al+3 + H é a acidez potencial do solo. Ela representa 
exatamente a quantidade de calcário a ser adicionada para elevar o pH do solo a um valor 
específico, de acordo com o que foi determinada. 
 
Calagem 
A fertilidade do solo está centrada na eficiência com que as plantas adquirem e utilizam os 
nutrientes essenciais, o que depende do sincronismo entre a capacidade do solo em fornecê-los em 
quantidades e taxas suficientes e a habilidade que as plantas possuem em absorvê-los. Sempre que há 
uma referência à baixa fertilidade em solos ácidos, o alumínio ou a sua associação com a deficiência 
de fósforo tem sido apontado como um dos maiores limitadores da produtividade. Desde o 
desenvolvimento do conceito de pH em 1909 por Sorensen e a sua adoção pela ciência do solo, a 
disponibilidade de nutrientes e o ambiente para o desenvolvimento do sistema radicular foram 
associados aos valores de pH do solo. Como a agricultura alcançava alta produtividade de grãos em 
regiões de solos com pH ≈ 6,5-7,0, esta passou a ser a meta pois, caso contrário, salientava-se que os 
nutrientes não estavam na sua máxima disponibilidade e haveria elementos tóxicos que prejudicariam 
o crescimento radicular. 
Assim, a TOMADA DE DECISÃO para a aplicação ou não o calcário sempre foi baseada num 
valor de pH. Para a maioria das culturas, esse valor inicialmente era de 6,5, mais tarde foi modificado 
para 6,0, atualmente para o sistema plantio direto recomenda-se 5,5 e sempre que o pH estivesse 
menor do que estes valores deveria ser adicionado o corretivo de acidez. Entretanto, o uso isolado do 
pH como tomada de decisão deve ser abandonado, pois alguns solos já calcariados não apresentam 
resposta ao insumo, mesmo com valores de pH inferiores a 5,5. O que se deve usar é a presença de Al 
trocável (ou sua saturação na CTC efetiva) e a saturação de bases como auxiliares na tomada de 
decisão. Recomenda-se o uso do calcário quando a análise de solo indicar a presença de Al trocável ou 
quando a saturação de bases for menor que 60% (de maneira geral, isto ocorrerá quando o pH for 
menor do que 5,5). Se for a primeira vez que o solo recebe calcário ou houver mobilização para 
incorporá-lo com a lavração e a gradagens, recomenda-se elevar o pH a 6,0 para que o efeito se 
estenda até os 20 cm de profundidade e para aumentar o efeito residual. 
As primeiras recomendações de DOSES de calcário no RS foram baseadas no teor de alumínio 
trocável, através do “fator calagem”, já que previa uma tonelada de calcário por hectare para cada 
cmolc L-1 de alumínio. Com a evolução de estudos da estimativa da necessidade de calcário em função 
do teor de alumínio trocável, este fator foi crescendo gradativamente, passou para 1,33; 2,0 e 2,4. O 
método SMP foi introduzido no Rio Grande do Sul em 1969, passando a ser o método oficial, 
mudando-se a filosofia de recomendação de calagem. Assim, abandonou-se a estimativa da dose a 
partir do teor de alumínio trocável e adotou-se elevar o pH do solo até um valor pré-estabelecido para 
as culturas. 
Uma vez constatada a necessidade de adição de corretivos da acidez e estabelecida à dose 
recomendada, têm-se pelo menos mais duas incógnitas a serem resolvidas. A primeira diz respeito ao 
tipo de corretivo. Os corretivos mais baratos e abundantes são os calcários dolomíticos, que 
apresentam Ca e Mg como cátions acompanhantes. Isto mostra que o calcário também é um 
fertilizante, tendo em vista as grandes quantidades de Ca e Mg na sua composição. O uso de calcário 
de concha (calcítico) dever ser avaliado criteriosamente, considerando a relação custo/benefício para 
neutralizar a acidez, em comparaçãocom o calcário dolomítico, bem como o fato do calcário de 
concha não apresentar Mg na sua composição, o que é uma desvantagem. A qualidade do calcário 
depende da sua composição química (poder de neutralização) e do grau de moagem (reatividade), o 
que determina o PRNT (poder relativo de neutralização total). A segunda incógnita refere-se ao modo 
de aplicação. No sistema convencional, o calcário e aplicado na superfície e incorporado por lavração e 
gradagens. No sistema plantio direto, o calcário é distribuído e mantido em superfície. A correção da 
acidez em profundidade neste sistema dependerá da quantidade de calcário adicionada, do tipo de solo, 
do tipo de resíduos de plantas, da atividade biológica, e do tempo, entre outros. 
 
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