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83 UNIDADE 2 POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender a influência da globalização nas políticas públicas educacionais; • identificar os programas desenvolvidos pelo Ministério da Educação; • conhecer as instituições formadoras do sistema educacional brasileiro; • reconhecer a organização e gestão escolar coletiva. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada tópico você en- contrará atividades que o ajudarão a refletir e fixar os conteúdos abordados. TÓPICO 1 – POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS TÓPICO 2 – AS INSTITUIÇÕES FORMADORAS DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO TÓPICO 3 – A ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR COLETIVA Assista ao vídeo desta unidade. 84 85 TÓPICO 1 POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, nesta unidade, trataremos de questões relativas à revolução informacional, à globalização e à exclusão social ocorrida pela globalização, trataremos ainda da organização das instituições que formam o Sistema Nacional de Educação, o que cada uma possui como responsabilidade. É possível que você se questione sobre qual a necessidade de tratarmos destas temáticas neste caderno. Abordaremos essas temáticas, pois elas estão inseridas na LDB/96, e ela é nossa base de formulação dos anseios e objetivos a alcançar dentro da educação. Acadêmico, muitas vezes estamos tão ligados a nossa rotina diária e não percebemos que estamos atrelados às leis relativas à educação, por isso, a necessidade de verificarmos como, por que e para que determinadas ações que realizamos cotidianamente são necessárias para que se obtenha êxito no trabalho. Obter o conhecimento é essencial para nossa formação e permanência na educação. Então, vamos a mais esta etapa, agora relativa às Políticas Públicas na Educação influenciadas ou não pela globalização. Veremos quais os níveis e modalidades de educação e ensino existentes no sistema brasileiro de educação além dos planos, programas e a organização e gestão escolar coletiva. Será necessário que tipo de gestão escolar na contemporaneidade? Qual sua ideia sobre isso? Vamos ler estas páginas e verificaremos se o que você pensa condiz com a realidade em que vivemos e que buscamos! Boa leitura! 2 A GLOBALIZAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS Acadêmico, a cada momento de nossas vidas nos deparamos com novas tecnologias, muitas informações, as quais nos chegam de forma rápida e sem UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 86 filtros em muitas situações. Tudo isso vem acompanhado de uma palavra que se ouve muito, a tal da globalização. A globalização é algo que influencia diretamente cada um de nós e muitas vezes nem nos damos conta disso. Num processo de transformações que a sociedade contemporânea passa é natural obtermos intensas e variadas formas de informações, dando a cada indivíduo, como sugerem Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 61), “[...] a ideia de movimentação intensa, ou seja, de que as pessoas estão em meio a um acelerado processo de integração e reestruturação capitalista”. Com isso podemos entender que a globalização existe em todos os espaços, seja econômico, social, político e cultural, dando ênfase ao momento histórico. Assim, a globalização para Sousa (2011, p. 4) é vista como: [...] processo de mundialização, de acordo com o entendimento majoritário dos autores contemporâneos, caracteriza-se pela ampla integração econômica, política, cultural e outros entre as nações. Contudo, a integração nos seus mais variados aspectos se destaca pela economia, podendo ser de diversos tipos, mas nenhuma integração econômica é melhor do que a outra. A escolha do país pelo modelo de integração decorre de seus objetivos e do seu grau de dependência entre as grandes potências. Desta forma, não podemos deixar de nos questionar: como a globalização surgiu? Ela possui uma história? Sim, a globalização possui sua história, a qual pode ser resumida nas palavras de Sousa (2011, p. 2), que assim retrata a globalização: A globalização remonta à origem do homem na Terra, claro que, com outras características e com outros delineamentos. O certo é que, este sistema vem evoluindo de acordo com as necessidades humanas e com as exigências mundiais. O grande avanço deve-se à queda do muro de Berlim, ao fim do socialismo, à expansão do capitalismo e do neoliberalismo, após a Segunda Grande Guerra Mundial e com o avanço da Comunidade Comum Europeia. Frente aos avanços apresentados por Sousa, podemos determinar que o Brasil não escapou deste processo, estamos intimamente inseridos nesta globalização. Mas através de quê? Podemos determinar várias possibilidades, mas nos ateremos ao que diz Sousa (2011, p. 3), quando afirma que a globalização vem associada ao surgimento do estado neoliberal, o qual é originário do início do século XX, na Inglaterra. Frente a isso, podemos determinar que o Brasil possui esta influência do neoliberalismo, pois no governo Fernando Collor, o Estado Neoliberal passou a ser implantado, em meados de 1990, dando a possibilidade às privatizações. TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 87 Neoliberalismo: prática econômica que não aceita a influência do estado na economia, deixando o mercado se autorregular com total liberdade. O lucro é o objetivo de todos nesse sistema (SILVA; FERRONATO; BARUFFI, 2014, p. 99). Começou a ocorrer no Brasil uma grande liberalização comercial, através da diminuição de tarifas, e consequentemente o crescimento das exportações, especialmente de produtos básicos, e ainda, o aumento das importações, exceto para os setores de tecnologia de ponta, porque acreditava-se que era essencial o país investir neste setor (SOUSA, 2011, p. 3). Nosso país, com estas mudanças, passa a receber olhares de países economicamente mais avançados (Primeiro Mundo), como Estados Unidos, Japão e a União Europeia, os quais tem o maior número de ações com o Banco Mundial. Com relação ao Banco Mundial, podemos dizer que ele foi “criado a partir das necessidades advindas após a Segunda Guerra Mundial, quando os países devastados pela guerra sentiram a necessidade de buscar seu crescimento econômico” (SILVA; FERRONATO; BARUFFI, 2014, p. 88). O Banco Mundial faz parte da vida dos brasileiros, pois não nos são estranhas as seguintes siglas: “FMI – Fundo Monetário Internacional, o qual permanece presente em nossa vida econômica e o BIRD – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento, que foram criados pelo Banco Mundial, em 1944, no estado de New Hampshire” (BUENO; FIGUEIREDO, 2012, p. 2), com o objetivo de reconstrução e desenvolvimento dos países do sul. Frente a isso, e passados vários anos, o Banco Mundial possui em seus objetivos um cuidado maior em relação às questões relativas à saúde e educação. E perceberam que a partir da educação poder-se-á diminuir a pobreza e consequentemente a violência. A pobreza tornou-se o elemento principal e foco de ações, e, nesta direção, a melhor forma de reforçar o processo seria estimular a produtividade. Diante da preocupação com a pobreza e das novas condicionalidades traçadas, o Banco Mundial redefiniu as formas de financiamento. Os projetos de empréstimos transformaram-se em multiprojetos que culminaramem programas integrados, dotados de componentes e interações complexas, organizados em áreas setoriais, sendo a educação uma delas (BUENO; FIGUEIREDO, 2012, p. 3-4). Qual a importância do Banco Mundial e a globalização nas questões relativas ao Brasil, principalmente se tratando de educação? Tudo, caro acadêmico! Pelo fato de que diante da economia brasileira, observa-se uma crescente escalada de violência, exclusão social, níveis elevados NOTA UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 88 de analfabetismo, mesmo que se tenha em anos anteriores conseguido alguns avanços, os quais não são suficientes para sua erradicação. Diante destes fatores, os quais são considerados de elevada importância, foram e é necessária a criação de políticas públicas, as quais foram mencionadas na Unidade 1, que denotam o foco e as estratégias a serem alcançadas para dirimirmos esses problemas. Com isso, todos os países, independentemente de sua situação econômica, buscam meios de manter sua qualidade nos setores econômico e social, e os que não as possuem, buscam formas de sanar os problemas através de políticas públicas e de programas que o Banco Mundial possui para auxiliar os países do Terceiro Mundo e em desenvolvimento, no caso do Brasil, por exemplo. As atuais políticas educacionais e organizativas devem ser compreendidas no quadro mais amplo das transformações econômicas, políticas, culturais e geográficas que caracterizam o mundo contemporâneo. Com efeito, as reformas educativas executadas em vários países do mundo europeu e americano, nos últimos vinte anos, coincidem com a recomposição do sistema capitalista mundial, que incentiva um processo de reestruturação global da economia regido pela doutrina neoliberal (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 42). Ainda, de acordo com Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 42), “[...] alguns analistas críticos do neoliberalismo identificam três de seus traços distintivos: mudanças nos processos de produção associadas a avanços científicos e tecnológicos, superioridade do livre funcionamento do mercado na regulação da economia e redução do papel do Estado”. Caro acadêmico, observe que essas linhas apresentadas por Libâneo, Oliveira e Toschi nos dão a ideia de que a forma econômica apresentada nos países industrializados trata a educação com políticas de ajuste, as quais são defendidas em âmbito mundial pelo Banco Mundial. As orientações neoliberais: [...] postulam ser o desenvolvimento econômico, alimentado pelo desenvolvimento técnico-científico, o fator de garantia do desenvolvimento social. Trata-se de uma visão economicista e tecnocrática que desconsidera as implicações sociais e humanas do desenvolvimento econômico, gerando problemas sociais (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 43). Dentro dessa visão de Libâneo, Oliveira e Toschi, podemos determinar que os problemas sociais estão elencados como: “desemprego, fome e pobreza, que alargam o contingente de excluídos, ampliando as desigualdades entre países, classes e grupos sociais” (2012, p. 43). Não nos parece familiar essas questões? Com o que já foi apresentado, podemos então determinar que a preocupação com o desenvolvimento técnico-científico passa a ter um novo olhar e retrata bem as questões relativas dos governos em como ver a formação de sua população, seu sistema educacional. TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 89 Com isso, percebemos que a preocupação relativa ao conhecimento – Educação – foca na questão econômica, no aumento da produtividade deste sujeito. Conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 43), “a reforma dos sistemas educativos torna-se prioridade, especialmente nos países em desenvolvimento, tendo em vista o atendimento das necessidades e exigências geradas pela reorganização produtiva no âmbito das instituições capitalistas mundiais”. Cabe ressaltar que “somente o trabalho braçal já não é suficiente para a manutenção da economia de um país. É preciso fazer com que esses trabalhadores passem a buscar formação para melhorar a produtividade das indústrias, dando condições de crescimento econômico ao país” (SILVA; FERRONATO; BARUFFI, 2014, p. 91). Frente ao exposto, podemos determinar que a maneira de visualizar a economia e sua aceleração nos países em desenvolvimento é, perante o Banco Mundial, perceber que: [...] novos tempos requerem nova qualidade educativa, o que implica em mudança nos currículos, na gestão educacional, na avaliação dos sistemas e na profissionalização dos professores. A partir daí, os sistemas e as políticas educacionais de cada país precisam introduzir estratégias como descentralização, reorganização curricular, autonomia das escolas, novas formas de gestão e direção das escolas, novas tarefas e responsabilidades dos professores (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 45). Diante desta exposição, o Banco Mundial passa o recado de que quem desejar crescer economicamente perante os demais países necessitará reestruturar seu sistema educacional. Com isso, a educação brasileira passou a se inserir neste contexto. Podemos relembrar o que já estudamos na Unidade 1, quando tratamos das ações empreendidas no governo Collor, como a participação na Conferência Mundial sobre a Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, promoção do Banco Mundial, com a participação de diversas organizações mundiais. Nesta conferência foram determinados os seguintes objetivos: Art. 1 Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem: cada pessoa – criança, jovem ou adulto – deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem. Art. 2 Expandir o enfoque: lutar pela satisfação das necessidades básicas de aprendizagem para todos exige mais do que a ratificação do compromisso pela educação básica. É necessário um enfoque abrangente, capaz de ir além dos níveis atuais de recursos, das estruturas institucionais; dos currículos e dos sistemas convencionais de ensino, para construir sobre a base do que há de melhor nas práticas correntes. UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 90 Art. 3 Universalizar o acesso à educação e promover a equidade: a educação básica deve ser proporcionada a todas as crianças, jovens e adultos. Para tanto, é necessário universalizá-la e melhorar sua qualidade, bem como tomar medidas efetivas para reduzir as desigualdades. Art. 4 Concentrar a atenção na aprendizagem: a tradução das oportunidades ampliadas de educação em desenvolvimento efetivo – para o indivíduo ou para a sociedade – dependerá, em última instância, de, em razão dessas mesmas oportunidades, as pessoas aprenderem de fato, ou seja, apreenderem conhecimentos úteis, habilidades de raciocínio, aptidões e valores. Art. 5 Ampliar os meios de e o raio de ação da Educação Básica: a diversidade, a complexidade e o caráter mutável das necessidades básicas de aprendizagem das crianças, jovens e adultos, exigem que se amplie e se redefina continuamente o alcance da educação básica. [...] Art. 6 Propiciar um ambiente adequado à aprendizagem: a aprendizagem não ocorre em situação de isolamento. Portanto, as sociedades devem garantir a todos os educandos assistência em nutrição, cuidados médicos e o apoio físico e emocional essencial para que participem ativamente de sua própria educação e dela se beneficiem. Art. 7 Fortalecer as alianças: as autoridades responsáveis pela educação aos níveis nacional, estadual e municipal têm a obrigação prioritária de proporcionar educaçãobásica para todos. Não se pode, todavia, esperar que elas supram a totalidade dos requisitos humanos, financeiros e organizacionais necessários a esta tarefa. Novas e crescentes articulações e alianças serão necessárias em todos os níveis: entre todos os subsetores e formas de educação, reconhecendo o papel especial dos professores, dos administradores e do pessoal que trabalha em educação; entre os órgãos educacionais e demais órgãos de governo, incluindo os de planejamento, finanças, trabalho, comunicações, e outros setores sociais; entre as organizações governamentais e não governamentais, com o setor privado, com as comunidades locais, com os grupos religiosos, com as famílias. Art. 8 Desenvolver uma política contextualizada de apoio: políticas de apoio nos setores social, cultural e econômico são necessárias à concretização da plena provisão e utilização da educação básica para a promoção individual e social. A educação básica para todos depende de um compromisso político e de uma vontade política, respaldados por medidas fiscais adequadas e ratificados por reformas na política educacional e pelo fortalecimento institucional. [...] Art. 9 Mobilizar os recursos: para que as necessidades básicas de aprendizagem para todos sejam satisfeitas mediante ações de alcance muito mais amplo, será essencial mobilizar atuais e novos recursos financeiros e humanos, públicos, privados ou voluntários. Todos os membros da sociedade têm uma contribuição a dar, lembrando sempre que o tempo, a energia e os recursos dirigidos à educação básica constituem, certamente, o investimento mais importante que se pode fazer no povo e no futuro de um país. [...] Art. 10 Fortalecer a solidariedade internacional: satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem constitui-se uma responsabilidade comum e universal a todos os povos, e implica solidariedade internacional e relações econômicas honestas e equitativas, a fim de corrigir as atuais disparidades econômicas. Todas as nações têm valiosos TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 91 FONTE: UNESCO. Declaração mundial sobre educação para todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem. Jomtien,1990. Disponível: <http://unesdoc.unesco.org/ images/0008/000862/086291por.pdf>. Acessado em: 31 jul. 2016. A partir desta Conferência, muda-se a visão de muitos governantes e busca-se a melhoria da educação através de reformas educativas, frente a novas realidades sociais. 3 NOVAS REALIDADES SOCIAIS E AS REFORMAS EDUCATIVAS NO BRASIL Acadêmico, desta Conferência foram retiradas orientações para a elaboração do Plano Decenal de Educação Para Todos (documento elaborado para determinar ações a serem realizadas dentro de um determinado período, no caso, dez anos), sendo este documento produzido “como diretriz educacional do governo Itamar Franco em 1993” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 44). De maneira breve, vamos resumir as ações realizadas a partir desta Conferência, para os demais governantes que sucederam a Collor até a atualidade. No governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 a 1998) foram escolhidas metas mais pontuais com relação ao Plano Decenal, ficando assim elencadas: descentralização da administração das verbas federais, elaboração do currículo básico nacional, educação a distância, avaliação nacional das escolas, incentivo à formação dos professores, parâmetros de qualidade para o livro didático, entre outras. Nesta gestão houve a elaboração e promulgação da LDB (Lei 9.349/96) e a formulação das diretrizes curriculares, normas e resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE) para o ensino superior (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 44). Em seu segundo mandato (1999-2002), FHC manteve a mesma política educacional que vinha utilizando, incluindo neste a aprovação, pelo “Congresso Nacional, do Plano Nacional de Educação – PNE (2001-2010)” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 45). Acadêmico, você se recorda do que trata o Plano Nacional de Educação? Se não lembrar, busque na Unidade 1 esta definição. conhecimentos e experiências a compartilhar, com vistas à elaboração de políticas e programas educacionais eficazes. [...] UNI UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 92 Dando continuidade, observamos que no governo Lula (2003-2006) foi criado o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Este dado será melhor abordado nas páginas seguintes, dando assim uma compreensão de onde, como e para que é utilizado este fundo e os demais fundos criados pelo governo para auxiliar no desenvolvimento da educação e diminuir as desigualdades relativas às questões educacionais, refletindo nos demais espaços sociais. Em seu segundo mandato (2007-2010), realizou mudanças na educação básica como, aumento de recursos na educação, o Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb), o piso salarial dos professores e a aprovação da Emenda Constitucional nº 59. A Emenda Constitucional nº 59, aprovada em 2009 pelo Congresso, prevê a obrigatoriedade do ensino para a população entre 4 e 17 anos e amplia a abrangência dos programas suplementares para todas as etapas da educação básica. Com a mudança na Constituição Federal, o ensino pré-escolar e médio passam a ser obrigatórios. A meta do governo, portanto, é universalizar o acesso. O prazo definido é 2016. FONTE: Disponível em: <http://www.andi.org.br/infancia-e-juventude/legislacao/emenda- constitucional-59>. Acesso em: 31 jul. 2016. No governo de Dilma Rousseff, deu-se continuidade aos programas do governo anterior e buscou-se implementá-los. Observe, caro acadêmico, que estas ações, entre outras, estão interligadas a ações e tendências internacionais, “sobretudo do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI)” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 44). No entanto, segundo Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 45-46): As políticas e diretrizes educacionais dos últimos vinte anos, com raras exceções, não têm sido capazes de romper a tensão entre intenções declaradas e medidas efetivas. Por um lado, estabelecem-se políticas educativas que expressam intenções de ampliação da margem de autonomia e de participação das escolas e dos professores, por outro, verifica-se a parcimônia do governo nos investimentos, impedindo a efetivação de medidas cada vez mais necessárias a favor, por exemplo, dos salários, da carreira e da formação do professorado, com a alegação de que o enxugamento do Estado requer redução de despesas e do déficit público, o que acaba imprimindo uma lógica contábil e economicista ao sistema de ensino. Com isso, podemos determinar que perante o mundo, e perante a própria população, nos deparamos com olhares desconfiados e descontentes com relação ao grau deficitário na aplicação das políticas públicas educacionais. Podemos determinar então que, de acordo com Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 46), “esse fato deve-se, certamente, às características do modelo econômico adotado, de NOTA TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 93 orientação economicista e tecnocrática, em que as implicações sociais e humanas ficam em segundo plano”. Precisamos então reordenar nossa casa, o Brasil, para assim conseguirmos retornar ao crescimento econômico, para a obtenção de qualidade de vida. E não distante tudo recai sobre a Educação. Este é o caminho, e a nível globalizado, todos pensam desta maneira. A Educação é o caminho para a solução de muitos problemas mundiais e nacionais. Com isso, caro acadêmico, precisamos, enquanto profissionais da educação, reconhecer diversas mudanças que ocorrem a nossa volta e estas recaem sobrenossa maneira de proceder com os nossos alunos e a compreensão das leis e suas estratégias. AUTOATIVIDADE Diante do que já vimos, sobre a globalização, podemos determinar que ela é irreversível ou chegará um momento em que os países, independentes de suas finanças, buscarão um retrocesso? Qual sua opinião? Acadêmico, o que dialogamos até aqui pode não fazer muito sentido, mas observe que nesta perspectiva nosso país está buscando, muitas vezes por caminhos tortuosos, diminuir as desigualdades sociais e estamos diretamente ligados à globalização. Não podemos deixar de compreender que os acontecimentos no mundo afetam diretamente a educação, de várias formas, sendo as principais assim pontuadas por Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 62): a) Exigem novo tipo de trabalhador, mais flexível e polivalente, o que provoca certa valorização da educação formadora de novas habilidades cognitivas e competências sociais e pessoais. b) Levam o capitalismo a estabelecer, para a escola, finalidades mais compatíveis com os interesses do mercado. c) Modificam os objetivos e as prioridades da escola. d) Produzem modificações nos interesses, necessidades e valores escolares. e) Forçam a escola a mudar suas práticas por causa do avanço tecnológico dos meios de comunicação e da introdução da informática. f) Induz em alterações na atitude do professor e no trabalho docente, uma vez que os meios de comunicação e os demais recursos tecnológicos são muito motivadores. Com estas intervenções, no que diz respeito aos acontecimentos que ocorrem no mundo atual, observamos que a escola está também necessitando de reformulação, pois a globalização está aí, adentrando nas salas de aula, em todos os espaços e um exemplo claro são as novas tecnologias, presentes em nossas vidas e na vida de nossos alunos. UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 94 4 REVOLUÇÃO INFORMACIONAL Sabendo do conceito de globalização no qual estamos inseridos, podemos compreender que o celular é um dos instrumentos que representam essa globalização na atualidade. São muitos os exemplos, mas tomemo-lo para definir que a revolução da informação está em nós, em apenas um clique e estamos conectados ao mundo. Não é fascinante? FIGURA 4 – REVOLUÇÃO INFORMACIONAL FONTE: Disponível em: <http://nexus.futuro.usp.br/blog/~yria/3058>. Acesso em: 31 jul. 2016. Perante o que possuímos em nossas mãos, e o que visualizamos cotidianamente, estamos vivenciando uma revolução informacional, através da internet, que é a estrela maior dessa revolução, e que nos dá a impressão de vivermos em uma “aldeia global”. Sabemos que na atualidade podemos a qualquer momento receber informações dos mais variados pontos do mundo, as informações circulam de maneira veloz, tendo assim a sensação de estarmos no momento em que ocorreu determinada situação ou fato. Para Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 77): A internet (a super-rede mundial de computadores) é uma das estrelas principais, desta fase da revolução informacional, pois interliga milhões de computadores, ou melhor, de usuários a um imenso e crescente banco de informações, permitindo-lhes navegar pelo mundo por meio do microcomputador. As informações disponíveis dizem respeito a praticamente todos os temas de interesse, o que fascina cada vez mais as pessoas. E acrescenta que: Com maior ou menor acesso, no entanto, as novas tecnologias da informação e os diferentes meios de comunicação – por exemplo, o rádio, o jornal, a revista, a televisão, o computador, o telefone, o fax TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 95 e outros – estão presentes nos espaços sociais ou incorporados no cotidiano de vida das pessoas, de maneira a modificar hábitos, costumes e necessidades. Outro exemplo é o que nós estamos vivenciando, caros acadêmicos, são as tecnologias utilizadas para nossos estudos, por exemplo o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), o Da Vinci Talk, onde podemos conversar e tirar dúvidas, os vídeos da disciplina, os objetos de aprendizagem. As informações correm por fibras ópticas, satélites etc., criando assim “redes de informações on-line (comunicação instantânea) que conseguem juntar texto, som e imagem” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 79). Frente a isso, Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 79) nos apresentam características que envolvem ainda a revolução informacional, a saber: • Surgimento de nova linguagem comunicacional, uma vez que circulam e se tornam comuns termos como realidade virtual, ciberespaço, hipermídia, correio eletrônico, Orkut, Facebook, Twitter e outros, expressando as novas realidades e possibilidades informacionais. Já é comum também a utilização de uma linguagem digital, sobretudo entre jovens, para expressar sentimentos e situações de vida. • Os diferentes mecanismos de informação digital (comunicação instantânea), de acesso à informação, de pesquisa e de ligação entre matérias sempre atualizadas e qualificadas. • As novas possibilidades de entretenimento e de educação (TV educativa, educação a distância, vídeos, softwares etc.). • O acúmulo de informações e as infindáveis condições de armazenamento. Observe, acadêmico, que estas características denotam a necessidade de cada indivíduo buscar seus conhecimentos para uma melhoria em sua vida profissional e pessoal, mas também dá a abertura para a exclusão social se estas características não forem bem desenvolvidas. Conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 81), a globalização é uma palavra que “está na moda”. No entanto, diferentemente da moda passageira, ela parece ter vindo para ficar. Tem sido usada para designar uma gama de fatores econômicos, sociais, políticos e culturais que expressam o espírito e a etapa de desenvolvimento do capitalismo em que o mundo se encontra atualmente. Trata-se, portanto, de palavra de difícil conceituação, em razão da amplitude e complexidade da realidade que tenta definir. Cabe ressaltar que esta revolução informacional está em nosso meio e não sairá dele, pois com a globalização está sendo construída através de materiais, de serviços, saberes e habilidades. (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012). E estas construções determinam o nível de desenvolvimento e de monopolização do pensamento. Para tanto, faz-se necessária uma verificação nas informações que circulam no espaço público, pois estas podem, conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 80), exercer “um papel de entretenimento e doutrinação das massas”. UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 96 E é isso que precisamos cuidar, pois a globalização e tecnologias são de extrema necessidade e possuem muita importância, mas elas podem criar uma cultura de massa empobrecida de conteúdo. A mesma revolução informacional que determina uma evolução pode trazer elementos que tornam o indivíduo mero captador de ideias e assim acaba sendo doutrinado por elas. A informação das novas tecnologias “impõe o desafio de perceber as potencialidades contraditórias e libertadoras da revolução informacional, bem como as condições e estratégias de luta pela democratização da informação no contexto de uma sociedade cada vez mais globalizada” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 81). Como esta revolução informacional pode determinar mudanças na educação? Esta pergunta é pertinente, pois conforme Galvão Filho e Miranda (2012, p. 247), “existe uma tensão entre as possibilidades oferecidas pela tecnologia (elaspróprias em mutação constante) e as condições de sua aplicação: o sistema social e educacional e os modos de gestão devem abrir espaço à tecnologia em um determinado nível de desempenho”. Frente ao exposto, podemos determinar que as tecnologias na educação possam auxiliar em uma dimensão maior, várias pessoas em suas várias faixas etárias, organização de novas formas de ensino como a EAD – Educação a Distância –, que determina o local, momento e desejos do educando, a utilização de ricas imagens e de visualizações sobre qualquer temática desenvolvida; o estudo voltado à competência do acadêmico para ir em busca do conhecimento; o fácil acesso às informações, dentre outros fatores que auxiliam o processo ensino-aprendizagem. Observa-se, assim, que esta revolução informacional determina a necessidade de a educação continuar buscando estas estratégias para tornar o sistema de ensino cada vez mais democrático e integrativo. Cabe ressaltar, aqui, o papel do professor nesse processo evolutivo das novas tecnologias. Para tanto, vamos apresentar a você, acadêmico, um recorte do artigo de Renival Vieira de Freitas e Magneide S. Santos Lima. AS NOVAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: DESAFIOS ATUAIS PARA A PRÁTICA DOCENTE [...] As novas tecnologias: desafios e suas implicações no ambiente escolar e na prática docente. A introdução dos recursos tecnológicos no ambiente escolar não se restringe apenas à utilização de determinados equipamentos e produtos. Essa evolução tecnológica e sua chegada e utilização no trabalho docente veio a contribuir na alteração de comportamentos. A utilização desses recursos tecnológicos sem o devido preparo do docente para a sua introdução na prática diária das escolas veio ocorrer um choque TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 97 cultural e uma resistência por parte dos docentes em sua aplicação, ocorrendo assim, o aceleramento da crise de identidade dos professores. Para Esteve (1999 apud ALONSO, 2008, s.p.) “a situação dos professores diante das mudanças que ocorrem na escola é comparável a um grupo de atores que trajam as vestimentas de determinado tempo e que, sem nenhum aviso anterior mudam-lhes os cenários e as falas”. Quando Esteve apresenta essa mudança repentina no cenário desse grupo de atores que precisa mudar toda sua apresentação sem um aviso prévio e sem a devida preparação podemos verificar o que ocorreu na prática diária do professor ao serem introduzidos nas escolas os recursos tecnológicos para serem utilizados pelos docentes antes mesmo do sistema educacional promover curso de aperfeiçoamento profissional para a utilização desses recursos tecnológicos na prática pedagógica. O professor não deixa de ter importância no desenvolvimento do seu papel como mediador da aprendizagem devido à inserção das novas tecnologias no ambiente escolar, mas, ao contrário, pode passar a ser o elemento principal dessa sociedade que utiliza cada vez mais essas novas tecnologias como recurso didático promovendo o enriquecimento da prática educativa, sendo assim, segundo Sacristán (1999, p. 89), “a prática educativa não começa do zero: quem quiser modificá-la tem que apanhar o processo ‘em andamento’. A inovação não é mais do que uma correção da trajetória”. A renovação na prática docente pode ser constatada, não pelo uso puro e simples desses recursos tecnológicos em seu cotidiano, mas, a partir do momento em que esses equipamentos modifiquem de forma significativa o olhar do professor diante de sua prática, suas concepções de educação, seus modelos de ensino-aprendizagem. Para Sacristán (1999, p. 74) “o professor é responsável pela modelação da prática, mas esta é a intersecção de diferentes contextos”. Com o aparecimento dos computadores e da internet, e sua inserção no ambiente escolar, tornou-se possível a entrada desses novos recursos tecnológicos na vida escolar, visto que, antes desse aparecimento era inviável a instalação de um computador no ambiente escolar pelo seu tamanho e custo. Segundo Kenski (2008, p. 45), “a maioria das tecnologias é utilizada como auxiliar no processo educativo”. Não só o computador e a internet, como outros recursos que foram introduzidos na prática do docente em sala de aula, movimentaram a educação e provocaram novas mediações entre a abordagem do professor, o entendimento do docente e o conhecimento veiculado. A utilização por parte do professor no trabalho em classe de mídias e ferramentas computacionais contribui para consolidação do processo de ensino-aprendizagem. Esses recursos quando bem utilizados provocam a alteração dos comportamentos de docentes e discentes, contribuindo assim para a ampliação e maior aprofundamento do conteúdo estudado. Segundo Alava (2002, p. 65), “a mudança provocada pelo desenvolvimento da tecnologia educacional altera de forma profunda o modo como o aluno aprende”. Essa mudança só será possível se o educador se apropriar de tais recursos tecnológicos tornando-os significativos e verdadeiramente importantes, entre tantas possibilidades, para modificação da prática pedagógica, promovendo a dinamização do ensino e da aprendizagem, mas não basta a utilização, é necessário saber usar de UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 98 forma pedagogicamente correta a tecnologia escolhida para alcançar o sucesso no ensino-aprendizagem. [...]. Refletindo sobre as práticas docentes Na atualidade, nada garante o bom desempenho da prática docente se os professores não superarem as suas crenças e se dedicarem ao fazer pedagógico que leve o discente a experimentar outro comportamento diante dos objetos de ensino. Essas crenças são adquiridas antes mesmo dessas pessoas se tornarem professores, ainda como alunos. São visões pessoais, emocionais e se articulam como um sistema hierárquico de filtragem sobre o que é verdadeiro no ensino e na aprendizagem. As convicções se fortalecem com o tempo, na medida em que as experiências se cristalizam daquilo que tem bom êxito com frequência. Portanto, o docente, ao assumir a docência, traz consigo elementos, onde cria algo como condição de interferir na sua prática. Bourdieu afirma que “os hábitos são princípios geradores de práticas distintas e distintivas” (BOURDIEU, 2007, p. 22), logo, compreende-se que existe subentendida na docência uma proporção silenciosa da ação pedagógica. Por vez, quando interrogam os professores sobre por que desenvolvem sua prática dessa maneira e, por que, ao enfrentar determinadas situações, agiram desta forma, geralmente a resposta está relacionada às crenças daquele profissional, essa realidade segundo o autor, “constrói o espaço social, essa realidade invisível, que não podemos mostrar nem tocar e que organiza as práticas e as representações dos agentes” (BOURDIEU, 2007, p. 22). Por essa razão é muito difícil modificar o conteúdo da prática pedagógica nos docentes. A reflexão sobre o trabalho desenvolvido em sua prática diária pelos professores possibilita a análise das convicções profissionais dos docentes. Assim, define-se pela prática de ensino a identidade docente, construída pelos objetivos educativos e pela autonomia profissional. Refletindo acerca dessa questão, Sacristán (1999, p. 71) afirma que “[...] a prática educativa não é uma ação que deriva de um conhecimento prévio, como acontece com certas engenharias modernas, mas sim, uma atividade que gera cultura intelectual em paralelo com sua existência [...]”. Nessa ótica, entende que o docente, ao desenvolver sua prática, pensa, reflete sobre seu trabalho e que, ao confrontar com os problemas dasala de aula, busca utilizar-se dos conhecimentos adquiridos, (re) elaborando-os de forma criativa, no enfrentamento dos problemas, que surgem na sala de aula. Segundo Azzi (1999), o professor, na heterogeneidade de seu trabalho, está sempre diante de situações complexas para as quais deve encontrar repostas, e estas repetitivas ou criativas, dependem de sua capacidade e habilidade de leitura da realidade e, também, do contexto, pois pode facilitar e/ou dificultar a sua prática. A prática docente, conforme exposto, se constitui uma fonte de situações complexas, na qual o docente no decorrer de sua jornada diária encontra-se face a face com os problemas e com as dificuldades crescentes dos discentes, referentes à apropriação e produção de conhecimento. No decorrer da prática diária em sala de aula surgem vários problemas que podem levar o docente a refletir acerca do ato pedagógico, fazendo com que esses TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 99 profissionais busquem alternativas para solucionar tais problemas, de modo a responder às exigências que essa prática lhes impõe. Nesse aspecto, Sacristán (1999, p. 79) afirma que “o ofício de quem ensina consiste basicamente na disponibilidade e utilização, em determinadas situações, de esquemas práticos para conduzir a ação”. O autor ressalta que na jornada escolar o professor necessita estar preparado para enfrentar determinadas situações problemáticas, as quais demandam uma tomada de decisões, aguçando o desenvolvimento do pensamento e da ação do docente sobre sua prática. FONTE: Disponível em: <http://dmd2.webfactional.com/media/anais/AS-NOVAS-TECNOLOGIAS- NA-EDUCACAO-DESAFIOS-ATUAIS-PARA-A-PRATICA-DOCENTE.pdf>. Acesso em: 7 ago. 2016. Com a leitura desse artigo podemos determinar que, na educação, a figura do professor, independente do surgimento das novas tecnologias (NTICs), mantém- se presente neste processo e cabe a ele estar aberto a essas novas possibilidades e utilizá-las para o desenvolvimento de seus trabalhos. Com isso, partiremos neste momento ao que o artigo mencionou, que é a forma como a prática educacional passará a ser vista com as novas tecnologias. Essas práticas educativas estão atreladas aos níveis e modalidades de educação e ensino existentes em nosso país. 5 NÍVEIS E MODALIDADES DE EDUCAÇÃO E ENSINO Com o apresentado anteriormente, percebemos que para existir ou ser inserido no sistema educacional, necessitamos ir ao encontro das leis que determinam o funcionamento de sua estrutura. Para tanto, podemos perceber que o sistema educacional possui em seu núcleo os níveis e modalidades de educação. Para melhor compreensão, vamos determinar o que significa níveis e modalidades. Conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 361): O termo modalidade da educação diz respeito aos diferentes modos particulares de exercer a educação. Enquanto os níveis de educação se referem aos diferentes graus, categorias de ensino, como infantil, fundamental, médio, superior, a modalidade de educação implica a forma, o modo como tais graus de ensino são desenvolvidos. Com relação às modalidades de educação, nos deparamos com a educação formal, informal e não formal, que de maneira breve será detalhada neste momento, conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2011, p. 236-237): • A educação informal, também chamada de não intencional, refere- se às influências do meio humano, social, ecológico, físico e cultural às quais o homem está exposto. • A educação não formal é intencional, ocorre fora da escola, porém é pouco estruturada e sistematizada. UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 100 • A educação formal é também intencional e ocorre ou não em instâncias de educação escolar, apresentando objetivos educativos explicitados. É claramente sistemática e organizada. Precisamos observar que todas as modalidades de educação são importantes, pois elas estão presentes no cotidiano das pessoas e tanto a modalidade informal “que se refere às influências do meio natural e social sobre o homem e interfere em sua relação com o meio social” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 235), quanto a formal, “ que busca ter objetivos explícitos, conteúdos, métodos de ensino, procedimentos didáticos [...]” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 236), são determinantes para alcançarmos os objetivos previstos em lei. Assim, todas as modalidades determinam sua maneira de auxiliar no desenvolvimento da educação e nenhuma deve ser desconsiderada. Frente ao exposto, vamos nos ater aos Artigos 205 e 206 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), que busca uma educação que é direito de todos e dever do Estado e da família, além do desenvolvimento pleno do indivíduo, tornando ele apto para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No Artigo 206 da Constituição, encontramos os seguintes princípios para conquistar estes objetivos apresentados anteriormente: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006); VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade. VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). A LDB/96, em seu título V, no que se refere aos níveis e modalidades de educação através do Artigo 21, determina que a educação escolar compõe-se de: I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II - educação superior (BRASIL, 1996). Como podemos perceber, a educação infantil é o início do processo de educação formal, atrelado a esta modalidade temos a educação fundamental, e o ensino médio fechando o período da educação básica. Logo depois temos a educação superior, que é vista como a “etapa terminal do ciclo da educação escolar” (CARNEIRO, 2015, p. 298). TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 101 Com isso, buscaremos determinar as finalidades de cada nível através de alguns artigos elencados na LDB/96 e que tornam possível a execução destes níveis. Nos Artigos 22, 23 e 24, temos as finalidades que a educação básica possui para desenvolver os educandos; também apresentam sua organização que poderá ser em séries anuais, períodos, ciclos, observando a idade dos grupos e sua organização. Ainda no Artigo 24 da LDB/96 apresenta-se a organização do ensino fundamental e médio observando regras como: I – a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver; II – a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do ensino fundamental, pode ser feita: a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; b) por transferência, para candidatos procedentes de outras escolas; c) independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pelaescola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino; III – nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a sequência do currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino; IV – poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares; V – a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado; d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos; VI – o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação; VII – cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escolares, declarações de conclusão de série e diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com as especificações cabíveis. Vamos tratar do dispositivo I, que trata da carga horária mínima. Com isso, podemos determinar que a ampliação da carga horária mínima de 720 horas para UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 102 800 horas anuais e de 180 para 200 dias letivos foi um grande avanço para nosso país, pois conforme Carneiro (2015, p. 306), “o Brasil renuncia à incômoda posição de país que, embora signatário do Estatuto Universal dos Direitos Humanos de 1948, exibia um dos mais reduzidos tempos de permanência do aluno na escola”. Ainda conforme Carneiro (2015, p. 306): O ganho é inestimável. [...] se o sistema de ensino houver adotado o Ensino Fundamental de nove anos, o ganho será maior, passando para um acréscimo de 1.440 horas. Ao final do Ensino Médio terá 240 horas adicionais de estudo, o que equivale a dois meses extras de escolaridade. Ao término dos estudos correspondentes ao ciclo da educação básica, o aluno terá tido uma ampliação de carga horária, entre o Fundamental e o Médio, de cerca de 1.640 horas, o equivalente a dois anos adicionais de estudo. Um avanço espetacular da escola básica brasileira. No que diz respeito a essas informações, nos deparamos também com muitas disparidades e necessidade de se avançar não só em relação ao número de horas em que a criança se encontra na escola, mas também na sua qualidade educacional. Para tanto, no dispositivo II, encontramos algo que busca amarrar a quantidade de horas com a qualidade do ensino. Isto através da incumbência dada à escola de “elaborar e executar sua proposta pedagógica”, que se encontra no Artigo 12 da LDB. No dispositivo III, observamos a necessidade inicial de se respeitar o sistema de ensino vigente e a escola pode aqui adotar a promoção por série, sendo que ela deverá ser apresentada no regimento escolar. Conforme Carneiro (2015, p. 307): A lei inova, igualmente, no tocante à questão da promoção. No caso de a escola adotar a promoção por série, poderá ocorrer a promoção por disciplina, assegurada a estrutura sequencial do currículo. Aqui reside a maior dificuldade para operacionalizar a cultura da construção curricular, porque ela própria nunca trabalhou com um projeto pedagógico próprio, portanto, capaz de espelhar sua especificidade. Cabe ressaltar a necessidade de os profissionais da educação buscarem maior diálogo em suas escolas e com relação as suas disciplinas, pois com isso estaremos obtendo um avanço significativo no que diz respeito à construção de uma organização curricular que enalteça os interesses e necessidades dos educandos e dos próprios profissionais da educação. No dispositivo IV, apresenta-se a questão relativa à organização de turmas/ classes com alunos em suas séries distintas, utilizando o critério de adiantamento na matéria. Conforme Carneiro (2015, p. 308), “[...] é uma possibilidade interessante, embora, também de difícil operacionalização”. Isso porque possuímos poucos recursos em todos os níveis, sejam eles materiais e tecnológicos, mas não nos falta a criatividade e a flexibilidade de tentar modificar muitas das coisas que são apresentadas no cotidiano educacional. TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 103 Já o dispositivo V trata da verificação do rendimento escolar que, conforme Carneiro (2015, p. 309), “[...] constitui um dos mais importantes meios para aferir a adequação do projeto político-pedagógico aos contextos individuais e sociais locais e sua decisão de atendimento “às necessidades básicas de aprendizagem dos alunos”. Ao tratarmos da verificação do rendimento escolar é importante observar o que apresenta o Artigo 3º da LDB, que trata da igualdade de condições de acesso e permanência na escola; liberdade de aprender e ensinar etc. Além desse artigo, o Artigo 12 se refere ao cumprimento da função social da escola através de seu Projeto Pedagógico. Não nos esquecendo do Artigo 5º e 205 da Constituição e do Artigo 2º da LDB, que tratam de questões relativas a seu cumprimento total. Naturalmente, os procedimentos de verificação, nos termos da LDB, se voltam para o aluno como individualidade, uma vez que a ideia da educação escolar é possibilitar, a cada um, seu pleno desenvolvimento, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (Art. 2º). Tudo isto estará, de alguma forma, radiografado no histórico escolar [...] (CARNEIRO, 2015, p. 309). Cabe ressaltar que os critérios para realização da avaliação perpassam por dois tipos: a qualitativa e a quantitativa. Assim, os critérios apresentados pela lei denotam a necessidade de se adotar procedimentos pedagógicos que possuam integração nos processos avaliativos. Pois, se buscarmos somente uma avaliação quantitativa, estaremos fadados a abandonar o foco da avaliação que é de verificarmos o aluno em sua totalidade, globalmente e não somente através de provas, por exemplo. Outro fator que cabe ser salientado é o processo de aceleração de estudos, que para Carneiro (2015, p. 310) “deve constituir componente inafastável de uma política de correção de fluxo de todos os sistemas de ensino”. Importante ressaltar que, conforme Carneiro (2015, p. 310): [...] o Brasil é campeão na América Latina em alunos que, fora da faixa etária, frequentam a escola fundamental. Esse fenômeno, que chega a percentuais elevadíssimos em toda a matrícula, denomina-se defasagem idade-série e é um dos fatores mais diretamente responsáveis pela baixa qualidade do ensino. O que fazer com esta triste realidade? A cada momento, os profissionais da educação buscam respostas para esta mudança de realidade, muitos são os desafios e um destes desafios encontra-se na implantação de classes de aceleração, como afirma Carneiro (2015, p. 310), mas que não chega a fins eficazes por um dos motivos delineados a seguir: [...] o material usado e todoplanejamento para a correção de fluxo no Brasil é ‘concebido’ por grandes agências fornecedoras com a total exclusão dos professores do processo de criação compartilhada. De fato, os docentes entram no processo como meros executores. E os resultados são os que todos conhecemos! Fica mais uma vez comprovado que, UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 104 quando o professor não participa, a escola não se modifica (CARNEIRO, 2015, p. 310). O dispositivo VI trata do controle da frequência, a qual é de extrema importância, pois auxilia no funcionamento adequado da educação escolar e do acompanhamento do processo de construção do processo de aprendizagem do aluno. A frequência é obrigatória em todas as escolas da federação brasileira, independente da diversidade de cada região do país, perfazendo assim a necessidade da realização de 800 horas relativas à carga horária mínima e a 200 dias letivos, já visto anteriormente. Assim, o controle de frequência torna-se obrigatório legalmente, conforme o Artigo 23 e 24 da LDB, e necessário pedagogicamente, sendo submetido a três condições: • “é de responsabilidade da escola; • deve estar disciplinado no regimento escolar; • obedece a normas gerais de cada sistema de ensino” (CARNEIRO, 2015, p. 312). Observamos que a frequência escolar está atrelada à escolarização obrigatória e esta é presencial e necessita da administração dos dias e das horas letivos, realizado através do controle de frequência, a tão conhecida “chamada”. Esta frequência é utilizada não por acaso, mas para que seja realizada a distribuição dos recursos pelo Fundeb, pois conforme o Artigo 9º, da Lei 11.494, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB: “Para os fins da distribuição dos recursos de que trata esta lei serão consideradas exclusivamente as matrículas presenciais efetivas, conforme os dados apurados no censo escolar mais atualizado [...]” (BRASIL, 2007). O Fundeb – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – foi criado em novembro de 1968 e está vinculado ao Ministério da Educação – MEC. A finalidade da autarquia é captar recursos financeiros para projetos educacionais e de assistência ao estudante. A maior parte dos recursos do FNDE provém do salário-educação, com o qual todas as empresas estão sujeitas a contribuir (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 391). O dispositivo VII vem com o intuito de repassar às instituições a responsabilidade de expedir os históricos escolares, o qual é “a radiografia do percurso curricular do aluno e, portanto, de seu itinerário acadêmico” (CARNEIRO, 2015, p. 313). NOTA TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 105 Este documento tem o objetivo de confirmar que o aluno obteve os índices necessários para a obtenção do diploma e que adquiriu os conhecimentos necessários para dar continuidade a sua vida escolar. Além do histórico escolar, a escola também pode entregar ao aluno, quando solicitado, uma declaração (parcial) ou total (que é o caso do diploma), para determinar até que nível o aluno se manteve naquela instituição. De acordo com Carneiro (2015, p. 313): [...] as instituições de ensino têm a magna responsabilidade de registrar e certificar os conhecimentos do aluno, o que constitui um enorme desafio e uma vigilância educativa e burocrática continuada, sob o olhar cuidadoso da direção e o acompanhamento dos professores. Ainda sobre os níveis de ensino, destacamos que a Educação Infantil, como se apresenta no Artigo 29 da LDB/1996, é a primeira etapa da educação básica, tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (BRASIL, 1996). Cabe aqui uma ressalva, e que Carneiro (2015, p. 353) apresenta com propriedade, no que diz respeito à organização da educação infantil relativo à creche e pré-escola: Creche e pré-escola não são depósitos de crianças nem hospedagem- dia, tampouco espaços para as crianças permanecerem algumas horas ao longo do dia, enquanto os pais realizam suas jornadas de trabalho. Pelo contrário, são ambientes apropriados, equipados adequadamente, potencializados no conjunto dos meios disponíveis e, sobretudo, com pessoal docente e de apoio técnico devidamente qualificado, portanto, com formação especializada, para trabalhar com as crianças da faixa etária legal indicada, tendo em vista o seu desenvolvimento integral no entrelaçamento dos aspectos físico, psicológico, social e lúdico-cultural. Diante do exposto e o que é apresentado no Artigo 29, determinamos as funções que o Estado, a família e a comunidade possuem em relação às ações que devem ser desenvolvidas e articuladas por todos na eficácia do desenvolvimento da criança na primeira fase educacional de sua vida. Não sendo somente a escola a responsável por este movimento. Cabe ressaltar o que Carneiro (2015, p. 354) apresenta sobre o porquê da importância destes três elementos para um ensino eficaz na Educação Infantil. Porque estes são os contextos institucionais e sociais à disposição da criança para o seu estruturante desenvolvimento cognitivo. É neles que a criança aprende a pensar e aprende a aprender. É sempre conveniente relembrar que a inteligência se forma a partir do nascimento, mas é, sobretudo na infância que se abrem ‘as janelas de oportunidades’, quando se multiplicam os estímulos e as cadeias de experiências. UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 106 Com isso podemos determinar que a Educação Infantil é um direito fundamental da criança e essa educação se apresenta em quatro ações que são essenciais na sua aplicabilidade, sendo elas: condição de desenvolvimento, de formação, integração social e de realização pessoal. Carneiro determina que “ao lado desses aspectos tão essenciais da vida, há também argumentos de natureza econômica e social” (2015, p. 355). Cabe salientar que a Educação Infantil será oferecida para crianças de até cinco anos de idade. De acordo com o Artigo 30 da LDB (BRASIL, 1996), a educação infantil será oferecida em creches para crianças de até três anos de idade, e em pré-escolas para crianças de quatro a cinco anos de idade. Outro fator a ser observado, caro acadêmico, é a necessidade de verificar que muitas das ações desenvolvidas dentro da Educação Infantil ainda se apresentam de maneira deficitária, pois o Ministério da Educação: [...] embora tenha, desde 1974, um setor para tratar deste assunto, na verdade, jamais desenvolveu uma política coerente e sequencial que compatibilize as ideias, corpo técnico para cooperação com os Estados e recursos financeiros. Ou seja, ausente dos orçamentos públicos, a educação pré-escolar jamais ultrapassou o terreno das intenções (CARNEIRO, 2015, p. 355). Diante do exposto, a atual gestão do Ministério da Educação “vem buscando resgatar a educação pré-escolar mediante uma clara definição de políticas e diretrizes para o setor, desdobradas em: i) diretrizes gerais; ii) diretrizes pedagógicas; iii) diretrizes para uma política de Recursos Humanos” (CARNEIRO, 2015, p. 355). Com o passar dos anos, já em 1998, no governo Fernando Henrique Cardoso, foi apresentado aos profissionais da educação um documento intitulado Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, em três volumes (Introdução, Volume I e Volume II). Nesse documentoestão expressos: os objetivos, conteúdos, estratégias, formas de avaliação e os princípios que denotam este referencial, que são assim apresentados: • o respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas etc.; • o direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil; • o acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento, à ética e à estética; • a socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma; • o atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade (BRASIL, 1998, p. 13). TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 107 Dentro do apresentado podemos delinear que o legislador (governo) está preocupado com o modo que se deve tratar o bebê e o tratamento também dado às crianças “enquanto sujeitos de direto, o que requer instituições funcionando com espaços adequados, equipamentos apropriados e docentes pedagógica e funcionalmente qualificados” (CARNEIRO, 2015, p, 363). No que diz respeito aos referenciais curriculares utilizados pelos profissionais da Educação Infantil na elaboração de seu planejamento, devem ser levadas em consideração três áreas, a saber: a) a do desenvolvimento físico e motor; b) a do desenvolvimento mental; c) a do desenvolvimento socioemocional. As quais são determinantes na LDB, no Artigo 29, definindo a educação infantil como a primeira etapa da educação básica. Ainda com relação à educação infantil, o Artigo 31 da LDB apresenta como ela é organizada, de acordo com as seguintes regras comuns: I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional; III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral; IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas; V - expedição de documentação que permita atestar os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança (BRASIL, 1996). Nesta etapa da Educação Infantil a avaliação tem um âmbito de acompanhamento relativo ao desenvolvimento e de observação, através dos registros, e não da forma como ocorre no Ensino Fundamental. De acordo com Carneiro (2015, p. 366), “esta diferença ajuda a compreender a distância que existe entre ensino e educação, ou, mais precisamente, entre crescer interiormente e ser aprovado exteriormente. Trata-se, portanto, de um processo essencialmente qualitativo”. Necessitamos verificar que há muito que se fazer com relação às questões avaliativas, pois na educação brasileira encontramos muito forte a avaliação dos conteúdos, deixando de se observar uma “avaliação de desenvolvimento evolutivo da aprendizagem” (CARNEIRO, 2015, p. 366). Com isso verificamos a necessidade de termos no quadro da Educação Infantil profissionais da educação qualificados, como também outros profissionais como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, dentre outros. Para muitos uma UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 108 utopia, para outros a necessidade urgente de organizarmos nossa educação, a qual é a base de todo o processo educacional brasileiro. No que diz respeito às práticas pedagógicas desenvolvidas neste nível, observa- se que existe um alto grau de complexidade. Conforme Carneiro (2015, p. 366): Neste ciclo escolar, exige-se do professor que tenha clareza sobre os níveis de interseção entre as atividades (procedimentos) vinculado ao campo dos conhecimentos sistematizados, dos saberes metodologizados. Educar é uma gama de processos articulados, vinculados à esfera do saber-ser. Tem, portanto, a ver com conformidades comportamentais, hábitos, relações intersubjetivas e desempenho social. Formar, por fim, é trabalhar competências, objetivando a inserção adequada do sujeito em atividades sociais, laborais e situacionais precisas. Vincula-se ao campo do saber-fazer. Frente a isso, podemos determinar que a formação do profissional que estiver inserido na Educação Infantil é elevada, necessita de muito conhecimento e competência em suas atividades. Para determinar a avaliação na Educação Infantil não podemos fazê- la de forma quantitativa, mas sim observar o desenvolvimento emocional e comportamental, através de dimensões como: “atenção, atitudes reativas e proativas, participação, integração, socialização, adaptação, motivação, tolerância, sentimento do outro, prontidão mental, coordenação de movimentos, nível de linguagem e comunicação, processos de evolução de etapas, dentre outros” (CARNEIRO, 2015, p. 369). Assim, a Educação Infantil, no que tange à avaliação, não está preocupada em medir ou apurar o que o aluno absorveu, mas sim trabalhar o currículo de maneira multidisciplinar, transdisciplinar e interdisciplinar, tudo isso através da ludicidade pedagógica. No que diz respeito ao quadro de horas, deve-se respeitar o que se encontra na LDB, pois a Educação Infantil passa a ter uma organização e um funcionamento submetidos às exigências regulares, com 800 (oitocentas horas mínimas anuais) e no mínimo 200 (duzentos dias letivos). O atendimento às crianças é definido pelo fator etário: crianças de zero a três anos matriculadas em creches, e de quatro a cinco anos na pré-escola. Cabe ressaltar mais uma vez que a creche e a pré-escola não são depósito de crianças, mas um espaço que busca a formação das crianças no eixo cuidar-educar, o que determina atenção individualizada e qualidade nas ações realizadas com a criança, buscando o pleno desenvolvimento da criança. Já na pré-escola, a educação infantil vem com uma outra perspectiva, ancorada é claro nos princípios elencados na Educação Infantil, mas encontra-se nesse segmento a presença do controle de frequência da criança. Nesse segmento a frequência é de sessenta por cento (Artigo 31, inciso IV) (BRASIL, 1996). TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 109 O controle de frequência neste caso ganha enorme importância pelo fato de a pré-escola ter importância ímpar no processo de alfabetização e letramento do aluno. Como etapa imediatamente anterior ao ensino fundamental, a pré-escola é o chão da memória da aprendizagem sistematizada e, portanto, das interconexões ‘institucionalizadas dos alunos, aproximando formação cultural e vivências grupais e sociais dentro do processo de ler lições para estudar, aprender e prestar contas!’ Ou seja, aqui o aluno passa a assumir propriamente a responsabilidade das obrigações escolares e ‘do dever de casa’. A frequência controlada visa precisamente a evitar descontinuidades neste processo ou seu comprometimento por interrupções indevidas (CARNEIRO, 2015, p. 371). E por último, e tão importante quanto os demais aspectos aqui elencados, a expedição de documentos em nível de alunos da Educação Infantil dá-se através de registros de acompanhamento, que retratam as etapas de desenvolvimento da criança. Já o Artigo 32 vem com a responsabilidade de informar que o Ensino Fundamental obrigatório possui a duraçãode nove anos, de maneira gratuita na escola pública, tendo seu início aos seis anos de idade, e terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante (BRASIL, 1996): I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fundamental em ciclos. § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino. § 3º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. § 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais. § 5o O currículo do ensino fundamental incluirá, obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente, observada a produção e distribuição de material didático adequado (Incluído pela Lei nº 11.525, de 2007). § 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído como tema transversal nos currículos do ensino fundamental (Incluído pela Lei nº 12.472, de 2011). Observa-se neste artigo a preocupação relativa à permanência da criança na escola, dando a possibilidade de acrescentar mais conhecimentos para as crianças em toda sua vida escolar. Ao realizar este movimento de passar de oito anos para nove anos de escolaridade do Ensino Fundamental, além de ser uma conquista, UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 110 existiram efeitos relativos ao funcionamento da escola. Foram necessárias algumas reordenações relativas à reorganização do calendário de matrículas; modificações no projeto político pedagógico do Ensino Fundamental, trazendo também a inclusão da Educação Infantil neste meio; busca de estudos, análise e avaliações através da participação da sociedade, observando-se questões relativas aos recursos financeiros, materiais e humanos para a funcionalidade deste trabalho; a busca pela participação da família na formação das crianças em todos os níveis; a capacitação dos professores e funcionários através de um trabalho voltado ao pedagógico e que retrate a faixa etária em questão. Através destes mecanismos, busca-se organizar a escola em sua estrutura pedagógica desenvolvendo uma formação comum. Cabe ressaltar, caro acadêmico, que formação básica e formação comum não se tratam de expressões equivalentes, conforme Carneiro (2015, p. 377): [...] formação básica, quando se refere ao Ensino Fundamental e em formação comum quando se refere à educação básica. [...] A ideia de formação comum é bem mais abrangente. Enquanto a formação básica adjunge-se ao Ensino Fundamental, portanto, ao ensino de oferta universalmente obrigatória a todos os cidadãos brasileiros, a ideia de formação comum pervade os três níveis de constituição da educação básica e, desta forma, desentranhando-se dos limites do tempo no Ensino Fundamental (nove anos), busca superar a quantidade pela qualidade educativa. Desta maneira, podemos perceber que formação comum e formação básica são palavras que possuem conceitos diferenciados, mesmo que se complementem. Verificamos aqui a necessidade de abrirmos um parêntese relativo à Base Nacional Comum Curricular, a qual está sendo discutida amplamente em todo o território brasileiro. Caro acadêmico, você deve ter ouvido falar em sua escola, ou mesmo nos meios de comunicação, da realização de ações que busquem articular os componentes curriculares, conforme é apresentado e discutido no Artigo 26, quanto às áreas de conhecimento. A Base Nacional Comum Curricular assim se apresenta quanto às áreas de conhecimento: QUADRO 4 – ÁREAS DE CONHECIMENTO DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR ÁREA DE LINGUAGENS Língua Portuguesa Língua Materna, para populações indígenas Língua Estrangeira Moderna Educação Física Artes TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 111 ÁREA DE MATEMÁTICA ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA Ciências Física Química Biologia ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS História Geografia Sociologia Filosofia ÁREA DE ENSINO RELIGIOSO FONTE: Adaptado de Ministério da Educação (2016a) e Carneiro (2015) O que é a BNCC – Base Nacional Comum Curricular? Este conceito encontra-se no próprio documento, na página 25, que assim está delineado: [...] entende-se a Base Nacional Comum Curricular como os conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente, expressos nas políticas públicas e que são gerados nas instituições produtoras do conhecimento científico e tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento das linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na produção artística; nas formas diversas de exercício da cidadania; nos movimentos sociais (Parecer CNE/CEB nº 07/2010, p. 31 apud MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2016a, p. 25). Este conceito recai diretamente no que estamos verificando no Artigo 32 da LDB. Com isso, a Base Nacional Comum Curricular não é só mais um documento, mas sim, uma exigência. A Base Nacional Comum Curricular é uma exigência colocada para o sistema educacional brasileiro pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996; 2013), pelas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica (BRASIL, 2009) e pelo Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2014), e deve se constituir como um avanço na construção da qualidade da educação. Para o Ministério da Educação, o que deve nortear um projeto de nação é a formação humana integral e uma educação de qualidade social. Em consonância com seu papel de coordenar a política nacional de Educação Básica, o MEC desencadeou um amplo processo de discussão da Base Nacional Comum Curricular da Educação Básica. A BNCC, cuja finalidade é orientar os sistemas na elaboração de suas propostas curriculares, tem como fundamento o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento, em conformidade com o que preceituam o Plano Nacional de Educação (PNE) e a Conferência Nacional de Educação (CONAE) (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2016a, p. 24). UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 112 A Base Nacional Comum Curricular é um documento que ainda se encontra em discussão e construção, mas que já pode ser visualizado em sua segunda versão no link: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/documentos/bncc-2versao.revista.pdf>. Para um maior aprofundamento, procure ler o documento, pois nele encontram-se inúmeras possibilidades de reflexão e de modificações na maneira de se ver, aprender e desenvolver a Educação Básica. FIGURA 5 – CAPA DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/ search?q=imagem+capa+BNCC+2016>. Acesso em: 20 ago. 2016. Outro ponto a ser ressaltado do Artigo 32 é relativo ao inciso 6º, que trata dos símbolos nacionais e hinos. Esses possuem um valor histórico
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