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A REFORMA TRABALHISTA NO BRASIL
Labor reform in Brazil
Revista de Direito do Trabalho | vol. 181/2017 | p. 19 - 29 | Set / 2017
DTR\2017\5630
Ives Gandra da Silva Martins Filho
Doutor e Mestre em Direito pela UnB e UFRGS. Professor do IDP e da ENAMAT. Membro
das Academias Brasileira e Brasiliense de Direito do Trabalho. Ministro Presidente do TST
e do CSJT. ivesgandra@tst.jus.br
Área do Direito: Processual; Trabalho
Resumo: O presente artigo constitui a versão em português do roteiro das palestras
proferidas no Wilson Center e no Washington College of Law, em Washington D.C., no
dia 13 de junho de 2017, discutindo a reforma trabalhista levada a cabo no Brasil, a
partir do Projeto de Lei 6.787/16, apresentado pelo governo, aprovado na Câmara dos
Deputados e transformado no PLC 38/17, em discussão, à época, no Senado Federal.
Procurou-se apresentar, numa visão panorâmica, a reforma, explicando o contexto em
que se deu, as causas que a tornaram necessária, a sua essência em termos de
dispositivos da CLT alterados, sua tramitação e o possível impacto que terá nas relações
de trabalho no Brasil, com vistas à superação da crise econômica e da elevada taxa de
desemprego do país. Abrange tanto as questões de direito material quanto processual do
trabalho envolvidas na reforma.
Palavras-chave: Reforma trabalhista - Projetos de lei - Crise econômica - Desemprego -
Negociação coletiva - Uniformização de jurisprudência - Ativismo judiciário.
Abstract: The present paper is the Portuguese version of the lectures given at the Wilson
Center and Washington College of Law in Washington, DC, on June 13th, 2017,
concerning the labor reform carried out in Brazil, Bill 6.787/16, presented by the
government, approved in the House of Representatives and turned into Bill 38/17, which
is currently under discussion in the Federal Senate. This paper is an overview of this
reform, examining the context in which it occurred, its main causes, its essence in terms
of the provisions altered in the Brazilian Labor Code (CLT), its processing and possible
impact on labor relations in Brazil, as a means to overcome the economic crisis and the
high unemployment rate in the country. It addresses both substantive and procedural
labor issues involved in the reform.
Keywords: Labor reform - Bills - Economic crisis - Unemployment - Collective bargaining
- Jurisprudence uniformization - Judicial activism.
Sumário:
1Contexto - 2Causas - 3Substância - 4Tramitação - 5Consequências
1 Contexto
A abordagem que pretendo fazer da reforma trabalhista no Brasil é de alguém que, por
um lado, procura olhar de fora, com isenção, o que está acontecendo com as relações
laborais em nosso país, mas que, por outro, é um observador privilegiado, por estar
mergulhado nos problemas e ouvir as reivindicações e versões de todos os atores, em
nível nacional.
O fato de presidir a mais alta Corte Laboral do país e o Conselho Superior da Justiça do
Trabalho não pode ser motivo para não encarar os fatos com parcialidade corporativista,
deixando de enfrentar os problemas com a objetividade que se requer, ainda que se
possa tomar partido quanto às soluções que se entende sejam melhores e mais eficazes.
Ou seja, em vez de uma exposição laudatória de instituições, prefiro uma mais reflexiva,
reconhecendo as deficiências que levaram à necessidade imperiosa de uma reforma
trabalhista no Brasil.
A reforma trabalhista no Brasil
Página 1
A reforma trabalhista se insere num contexto mais amplo de reformas que o novo
governo do Presidente Michel Temer está promovendo, para superar a crise econômica
sem precedentes que se instalou no país após 13 anos do PT no poder, quando o marco
inicial dos governos Lula e Dilma era o da estabilização monetária e desenvolvimento
econômico, deixado pelo Governo FHC. Além da reforma trabalhista, o governo
promoveu o ajuste fiscal de suas contas em face de uma dívida pública estratosférica. E
está levando adiante a reforma previdenciária. Todas essas reformas não estão sendo
feitas sem grande resistência dos setores afetados. No entanto, a falência do Estado
brasileiro, da previdência social e das empresas, com 13 milhões de desempregados,
estava cobrando coragem do novo governo para enfrentar tais problemas.
Assim, o governo atual vai levando a cabo tais reformas, mas em meio a grave crise
política, envolvendo amplamente as principais figuras do Governo e do Parlamento, em
denúncias de corrupção na já legendária Operação Lava-Jato, o que dificulta ainda mais
os trabalhos e a aprovação das reformas, entre as quais a Reforma política vai sendo
cada vez mais cobrada.
2 Causas
No caso da reforma trabalhista, estou convencido de que só se tornou necessária e está
sendo levada a cabo em face dos excessos de protecionismo cometidos pela Justiça do
Trabalho ao buscar compor os conflitos laborais, fazendo pesar demais a mão sobre um
dos lados da balança. Um juiz do trabalho de 1ª instância, ao criticar a reforma,
definiu-a como um acerto de contas do empresariado com a jurisprudência trabalhista.
Eu diria que se trata de uma reforma newtoniana, ou seja, calcada na 1ª lei de Newton,
segundo a cada ação corresponde uma reação de igual intensidade e de sentido oposto.
O caso mais paradigmático é o relativo à terceirização. Como o TST passou a ver, como
no caso dos call centers, tudo como atividade-fim e a terceirização ilícita, nossa Suprema
Corte acolheu para julgamento o caso, por violação ao princípio genérico da legalidade, e
nosso Parlamento admitiu a terceirização inclusive de atividade-fim das empresas (Lei
6.019/74, arts. 4º-A e 4º-C, seus incisos e §§). Na verdade, o ponto de equilíbrio seria
um meio-termo, não admitindo que dois empregados trabalhem juntos, ombro a ombro,
em caráter permanente, no mesmo local de trabalho e na mesma função, com um sendo
empregado direto da empresa e outro terceirizado, ganhando este a metade do que
ganha o outro. Seria o caso de se manter a ilicitude da terceirização da atividade-fim da
empresa, mas cabendo a ela definir qual é o seu núcleo central de atividade, que não
pretende terceirizar.
Outro exemplo da lei newtoniana da ação e reação foi o corte, na reforma trabalhista,
das horas in itinere. Sua origem vinha da Súmula 90 (MIX\2010\2549) do TST, que
mandava o empregador pagar como de trabalho o tempo de transporte, quando
fornecido pela empresa para lugar de difícil acesso ou não servido por transporte público
regular. A súmula virou lei, e, a partir daí, a Justiça do Trabalho não permitiu mais sua
flexibilização por negociação coletiva, impondo vultosas condenações em horas extras
por esse tempo em que o trabalhador sequer dispende esforço produtivo. A Suprema
Corte reformou as decisões excessivas da Justiça do Trabalho e o legislador, na reforma,
preferiu acabar com elas (CLT (LGL\1943\5), art. 58, § 2º, em confronto com as
Súmulas 90 (MIX\2010\2549) e 429 (MIX\2011\15) do TST).
Mas o sinal mais significativo de que a reforma foi provocada por esses excessos
jurisprudenciais está no fato de que o art. 8º da CLT (LGL\1943\5) (código brasileiro do
trabalho) passou a incluir duas orientações exegéticas básicas para a magistratura
trabalhista: vedação de súmulas instituidoras de direitos (§ 2º) e interpretação de
cláusulas de acordos coletivos levando em conta a vontade dos contratantes (§ 3º). O
próprio procedimento de criação de súmulas pelos Tribunais trabalhistas passa a ser
mais complexo, com maiores exigências (CLT (LGL\1943\5), art. 702, I, f, e §§ 3º e 4º).
Tais diretrizes decorreram do excesso de condenações ao pagamento de vantagens
A reforma trabalhista no Brasil
Página 2
salariais ou indenizatórias baseadas na aplicação de princípios como o da dignidade da
pessoa humana, quando inexistentes normas legais impondo tais obrigações aos
empregadores. Ademais, no campo da negociação coletiva, a anulação sistemática de
cláusulas de acordos coletivospela Justiça do Trabalho, com base num conceito muito
amplo da indisponibilidade de direitos, levou a própria Suprema Corte brasileira a
reformar tais decisões, prestigiando a autonomia negocial coletiva.
A reforma, sob tal prisma, veio para colocar limites ao ativismo judiciário trabalhista,
não muito diferente daquele praticado por outros ramos do Judiciário, mas vincado pela
unilateralidade e excesso, tornando insuportável o seu peso sobre o empresariado
nacional, que tem perdido competitividade internacional e capacidade de geração e
manutenção de empregos. Não é por menos que vários dos dispositivos alterados pela
reforma mudaram a sinalização de súmulas da jurisprudência do TST (demissão em
massa, horas de transporte, intervalo intrajornada, equiparação salarial em cadeia,
ultratividade dos acordos coletivos etc.).
Pode-se dizer que as denominadas “Semanas do TST” de 2011 e 2012, na qual a nova
composição da Corte reviu grande parte de sua jurisprudência, em mais de 50 verbetes,
para mudar sua sinalização, em prol dos empregados, foi compensada na reforma
trabalhista, no que poderia se chamar de “Semanas do Congresso”, retornando ao ponto
de equilíbrio, reformando, mas pela via legal, os direitos criados pela via jurisprudencial.
Por outro lado, as imensas lacunas da CLT (LGL\1943\5) em face dos avanços
tecnológicos, surgimento de novas formas de contratação e organização empresarial
estavam a exigir a modernização e atualização da legislação laboral, como são exemplos
o teletrabalho (regido agora no Capítulo II-A do Título II da CLT (LGL\1943\5), arts.
75-A a 75-E), a terceirização e a proteção dos direitos da personalidade
extrapatrimoniais (ora regido no Título II-A da CLT (LGL\1943\5), arts. 223-A a 223-G).
Mais ainda: a matriz da CLT (LGL\1943\5), promulgada em 1943, é de cunho
corporativista, calcada na Carta Del Lavoro Italiana do regime fascista de Mussolini,
como o controle estatal dos sindicatos. Em que pese a Constituição Federal de 1988
tenha reduzido a intervenção estatal nos sindicatos, ainda pesam sobre nosso sistema
sindical duas pechas que ainda o fazem escravo do corporativismo: o imposto sindical e
a unicidade sindical. Graças a elas, o Brasil é hoje o país com o maior número de
sindicatos, uma vez que contam com fonte de receita garantida. E, com a unicidade, os
mesmos dirigentes sindicais vão se perenizando há décadas no comando dos sindicatos,
que só se vão desmembrando com redução de base territorial ou especificação de
atividade para poder abocanhar o imposto sindical obrigatório.
A reforma, pois, ataca o problema pela raiz, extinguindo o imposto sindical obrigatório
(CLT (LGL\1943\5), arts. 545, 578, 579, 582, 583, 587 e 602). O próximo passo é a
ratificação, pelo Brasil, da Convenção 187 da OIT, admitindo o pluralismo sindical no
Brasil, em regime concorrencial, o que fará com que continuem a existir apenas os
sindicatos efetivamente representativos das categorias.
3 Substância
A espinha dorsal da reforma trabalhista proposta pelo governo no Projeto de Lei
6.787/16 era o prestígio da negociação coletiva, sistematicamente desconsiderada pela
Justiça do Trabalho. No fundo, estava em jogo a dimensão do intervencionismo estatal
no domínio econômico, especialmente nas relações de trabalho.
Como a Justiça do Trabalho se manifestava refratária aos meios alternativos de
composição dos conflitos trabalhistas, tais como a negociação coletiva, a conciliação, a
mediação e a arbitragem, pretendendo o monopólio judicial para a solução desses
conflitos, a reforma fez-se com o prestígio a esses meios alternativos: parametrização
do que é passível (CLT (LGL\1943\5), art. 611-A, com 16 incisos), ou não (CLT
(LGL\1943\5), art. 611-B, com 29 incisos), de negociação coletiva; admissão da
arbitragem para reclamações de altos funcionários (CLT (LGL\1943\5), art. 507-A);
A reforma trabalhista no Brasil
Página 3
regulamentação do dispositivo constitucional que tratava do representante dos
empregados nas empresas, para efeito de conciliação dos interesses desses em face das
empresas (introdução do Título IV-A na CLT (LGL\1943\5), com seus arts. 510-A a
510-D).
A proposta inicial do governo, negociada pelo Ministro do Trabalho Ronaldo Nogueira,
com as Confederações Patronais e as Centrais Sindicais Obreiras, era tímida, pois só
abrangia o que foi objeto de consenso entre patrões e empregados, reduzindo muito o
âmbito do que se necessitava modernizar e atualizar, para reduzir o número de ações e
conflitos.
De qualquer forma, esse mínimo contemplava os parâmetros da negociação coletiva nos
seguintes termos: questões afetas à medicina e segurança do trabalho, direitos de
terceiros ou normas processuais não seriam passíveis de negociação; elencava-se,
explicitamente, 13 matérias que poderiam ser objeto de negociação; e, para cada direito
previsto em lei que foi flexibilizado ou reduzido, o empresariado deveria ofertar uma
vantagem compensatória, de modo a que o patrimônio jurídico do trabalhador, como um
todo, não sofresse redução.
Ocorre que esse núcleo mínimo, de uns 15 artigos a serem modificados na CLT
(LGL\1943\5), sofreu, no Congresso Nacional, a pressão natural do empresariado, para
que se resolvessem outros problemas pendentes, tendo sido apresentadas mais de 800
emendas ao Projeto de Lei original, que resultou num substitutivo do relator, deputado
Rogério Marinho, que alterava mais de 100 artigos da CLT (LGL\1943\5).
Alguns dos destaques dessa reforma são:
a) definição do que seja grupo econômico para efeito de responsabilização de empresa
distinta da acionada (CLT (LGL\1943\5), art. 2º, § 3º), bem como limitação temporal da
responsabilidade dos sócios retirantes (CLT (LGL\1943\5), art. 10-A);
b) admissão do trabalhador autônomo, sem reconhecimento de vínculo empregatício,
como é o caso dos motoristas rodoviários autônomos proprietários de caminhões (CLT
(LGL\1943\5), arts. 3º § 2º, e 442-B);
c) definição mais clara do conceito de tempo à disposição do empregador, para efeito de
pagamento de salário, quando o empregado está cuidando de interesses pessoais dentro
da empresa (CLT (LGL\1943\5), arts. 4º, § 2º, e 452-A, § 5º, em confronto com as
Súmulas 118 (MIX\2010\2576) e 366 (MIX\2010\2823) do TST);
d) a hipótese de descumprimento do contrato de trabalho e não só a da sua alteração
está sujeita à prescrição total do direito de ação não exercido em dois anos (CLT
(LGL\1943\5), art. 11, § 4º, em confronto com a Súmula 294 (MIX\2010\2752) do TST);
e) interrupção da prescrição apenas com a citação válida (art. 11, § 5º, em confronto
com a Súmula 268 (MIX\2010\2726) do TST) e a admissão da prescrição intercorrente
no processo do trabalho, quando não impulsionada a execução por mais de 2 anos (CLT
(LGL\1943\5), art. 11-A, em confronto com a Súmula 114 (MIX\2010\2572) do TST);
f) ampliação da jornada do trabalho a tempo parcial, para chegar até 30 horas semanais
(CLT (LGL\1943\5), art. 58-A) e possibilidade de redução do intervalo intrajornada por
negociação coletiva, sem a sanção do pagamento de todo o período, como jornada
extraordinária, deixando claro que não se trata de norma de medicina e segurança do
trabalho (CLT (LGL\1943\5), arts. 71, § 4º, 611-A, III, e 611-B, parágrafo único, em
confronto com a Súmula 437 (MIX\2012\2008) do TST);
g) reconhecimento legal da compensação de jornada sem as sanções colocadas pela
jurisprudência (CLT (LGL\1943\5), art. 59-C e seu parágrafo único, em confronto com a
Súmula 85, III e IV, do TST), bem como do regime 12x36 horas (CLT (LGL\1943\5),
arts. 59-B e 60, parágrafo único, em confronto com a Súmula 444 (MIX\2012\2015) do
A reforma trabalhista no Brasil
Página 4
TST);
h) possibilidade do fracionamento das férias em até 3 períodos (CLT (LGL\1943\5), art.
134, § 1º);
i) colocar limites às indenizações por danos morais, fixando hipóteses e níveis de
gravidade das ofensas, com exclusão da responsabilidadeobjetiva pelos danos (CLT
(LGL\1943\5), art. 223-G e seu inciso VII e § 1º);
j) previsão legal da figura do trabalho intermitente como modalidade contratual válida e
sua regulamentação (CLT (LGL\1943\5), arts. 443 e seu § 3º, e 452-A e seus §§);
k) Disciplina sobre o uso de uniformes, admitindo uso de propaganda, sem indenização
por direitos de personalidade, bem como não imposição de pagamento de sua lavagem
pela empresa (CLT (LGL\1943\5), art. 456-A e seu parágrafo único);
l) atribuição de natureza salarial apenas as gratificações legais e comissões, passando a
ter natureza indenizatória todas as demais parcelas pagas a qualquer título pelo
empregador (CLT (LGL\1943\5), art. 457 e seus §§);
m) acabar com a equiparação salarial em cadeia, admitida pelo TST, causando distorções
na estrutura salarial das empresas, ao igualar empregados com diferença significativa de
tempo de serviço, além de consagrar e generalizar eventual erro judicial (CLT
(LGL\1943\5), art. 461, § 5º, em confronto com a Súmula 6 (MIX\2010\2465) do TST);
n) acabar com a necessidade de negociação coletiva prévia à demissão coletiva de
empregados, exigência da jurisprudência do TST (CLT (LGL\1943\5), art. 477-A);
o) reconhecer a quitação plena do contrato de trabalho nos casos de plano de
desligamento voluntário, na esteira da jurisprudência do STF (CLT (LGL\1943\5), art.
477-B), além de permitir a quitação anual das eventuais dívidas trabalhistas durante o
contrato de trabalho, perante o sindicato, para evitar ações postulando os últimos 5 anos
de direitos eventualmente não pagos (CLT (LGL\1943\5), art. 507-B);
p) não manutenção da gratificação de função pelo simples decurso de tempo, em caso
de reversão ao cargo efetivo (CLT (LGL\1943\5), art. 468, § 2º, em confronto com a
Súmula 372, I, do TST);
q) acabar com a ultratividade das normas coletivas expiradas, que antes migravam para
os contratos coletivos e dificultavam a concessão de vantagens em nova negociação
(CLT (LGL\1943\5), art. 614, § 3º);
r) fixação do princípio de que os acordos coletivos, firmados pelas empresas, terão
prevalência, sempre, sobre as convenções coletivas firmadas pelos sindicatos patronais,
por serem mais específicas (CLT (LGL\1943\5), art. 620);
s) admitir o pagamento de honorários advocatícios de sucumbência, na Justiça do
Trabalho, para os advogados particulares de empregados e empresas, quando antes só
eram admitidos para os sindicatos obreiros (CLT (LGL\1943\5), art. 791-A e seus §§), e
limitar as hipóteses de a União arcar com os honorários do perito beneficiário da justiça
gratuita (CLT (LGL\1943\5), art. 790-B, em confronto com a Súmula 457
(MIX\2014\3408) do TST);
t) aplicação da multa por litigância de má-fé não apenas aos empregadores, mas
também aos empregados e às testemunhas, para evitar-se aventuras judiciárias
(acréscimo da Seção IV-A do Capítulo II do Título X, com os arts. 793-A a 793-D);
u) admissão de contestação antes da audiência inaugural, no caso de se arguir exceção
de incompetência territorial, para evitar-se viagens para se defender (CLT (LGL\1943\5),
art. 800 e seus §§);
A reforma trabalhista no Brasil
Página 5
v) atenuação dos efeitos da revelia, pela admissão da presença apenas do advogado e o
cotejo dos fatos alegados pelo reclamante com a prova dos autos e a verossimilhança
das alegações (CLT (LGL\1943\5), art. 844, §§ 4º e 5º);
x) limitação da execução de ofício na Justiça do Trabalho para os casos em que o
reclamante não tiver advogado constituído nos autos (CLT (LGL\1943\5), art. 878);
w) correção monetária pela variação da TR e não pela SELIC, como havia decidido o
TST, em decisão suspensa liminarmente pelo STF, pois representaria a duplicação dos
passivos trabalhistas existentes (CLT (LGL\1943\5), art. 879, § 7º);
y) ampliação para 60 dias do prazo para garantia do juízo, em fase de execução, para
não ter bens indisponibilizados ou créditos cortados (CLT (LGL\1943\5), art. 883-A); e
z) a redução do depósito recursal para os casos de entidades sem fins lucrativos,
entidades filantrópicas, empregadores domésticos, micro e pequenas empresas, além de
sua dispensa para os beneficiários da justiça gratuita e empresas em recuperação
judicial (CLT (LGL\1943\5), arts. 899, §§ 9º a 11).
Além da modernização da legislação quanto ao direito material do trabalho, foi também
promovida uma reforma visando à racionalização judicial e à simplificação recursal,
muito ao estilo do que ocorre com o sistema recursal norte-americano, em relação à
Suprema Corte.
Com efeito, no sistema norte-americano, a Suprema Corte escolhe os temas que irá
julgar, dos milhares de processos que lhe chegam anualmente. No Brasil, o modelo
começou a mudar com a reforma do Poder Judiciário de 2004, mas timidamente. Na
seara trabalhista, a reforma deste ano faz com que o critério de transcendência (CLT
(LGL\1943\5), art. 896-A, §§ 1º a 6º) passe a conviver com a sistemática dos recursos
repetitivos introduzida em 2014: o primeiro serve para descartar os recursos sem
relevância econômica, política, jurídica ou social, enquanto a segunda serve para eleger
os temas relevantes para serem apreciados mais detidamente. Para tanto, foram
também revogados os dispositivos que exigiam prévia uniformização da jurisprudência
pelos Tribunais Regionais, o que só complicava e fazia demorar o sistema, já que a
uniformização é a razão existencial do TST (art. 6º, I, p, do substitutivo ao PL
6.787/16).
Finalmente, um ponto controvertido diz respeito à introdução da sistemática de
homologação judicial dos acordos extrajudiciais, como forma de dar segurança jurídica
às rescisões contratuais. Antes da reforma, as rescisões eram homologadas pelos
sindicatos, mas com possibilidade de ampla discussão de horas extras e verbas
rescisórias em juízo, fazendo com que a rescisão do contrato de trabalho, na prática, não
terminasse com ele.
4 Tramitação
Enviada ao Congresso no final de 2016, em cerimônia no Palácio do Planalto, à qual
compareceram os principais líderes empresariais e sindicais, que se pronunciaram,
externando suas esperanças e preocupações, a proposta de reforma trabalhista tomou o
número de Projeto de Lei 6.787/16. Para sua análise foi constituída Comissão Especial,
tendo como Presidente o Deputado Daniel Vilela e como Relator o Deputado Rogério
Marinho.
Tendo realizado dezenas de audiências públicas e recebido e ouvido mais de 700 experts
sobre o tema, o Relator apresentou seu relatório no dia 12 de abril, com significativos
acréscimos à proposta inicial governamental. Das mais de 800 emendas apresentadas,
acabou acolhendo cerca de 100 propostas de alteração de artigos da CLT (LGL\1943\5),
decuplicando os originais 10 artigos propostos para revisão. Conseguindo a aprovação do
regime de urgência para sua tramitação, passou a contar com a possibilidade de
votação, em Plenário, imediatamente após sua discussão na comissão especial.
A reforma trabalhista no Brasil
Página 6
Assim, no dia 27 de abril foi aprovado pela Câmara dos Deputados o PLC 38/17, que,
agora, tramita no Senado Federal, para o qual foi designado como relator o Senador
Ricardo Ferraço, que, sabendo da urgência da cristalização da reforma trabalhista para
se superar mais rapidamente a crise econômica e de desemprego que país atravessa,
propôs a aprovação integral do texto vindo da Câmara dos Deputados, para não ter que
voltar para ela caso seja feita alguma alteração pelo Senado Federal.
A estratégia do governo, acolhida pelo Senador, é a de fazer os ajustes através de vetos
tópicos e eventual edição de medida provisória visando acrescentar alguma coisa que
faltou. Os tópicos de veto propostos pelo relator, cujo voto foi aprovado pela Comissão
de Assuntos Econômicos do Senado no dia 6 de junho, seriam referentes a questões
relativas às:
a) mulheres – empregada gestante em trabalho insalubre e a dilatação do trabalho da
mulher;
b) negociaçãocoletiva – regime de 12x36 horas e do intervalo intrajornada; e
c) a regulamentação de matérias novas – trabalho intermitente e dos representantes dos
trabalhadores nas empresas (a serem feitas por medida provisória).
A oposição, descontente com os termos e a rapidez da reforma, a ela tem resistido de
forma truculenta, promovendo brigas no Senado Federal para impedir a leitura e
discussão do relatório no dia 23 de maio e passeatas comandadas por centrais sindicais
no dia 24 de maio, com quebra e queima de ministérios na Esplanada.
Em que pese também os ataques ideológicos de juízes, procuradores e auditores do
trabalho, veiculando revistinhas, vídeos, abaixo-assinados e votos em separado pela
rejeição integral do PLC 38/17, além de promoverem passeatas contra a Reforma, esta
poderá ser sancionada pelo governo, com alguns vetos acertados, até o final deste 1º
semestre de 2017, dando nova cara ao Direito e ao Processo do Trabalho, mais
equilibrados e aptos a comporem os conflitos sociais e harmonizarem as relações
trabalhistas.
5 Consequências
Para muitos, especialmente a criação da jurisdição voluntária para homologação de
acordos judiciais (CLT (LGL\1943\5), arts. 652, f, e Capítulo III-A do Título X, com seus
arts. 855-B a 855-E), pode gerar uma avalanche de processos para a Justiça do Trabalho
, pois todos os empregadores quererão que as rescisões sejam sacramentadas pela
Justiça do Trabalho. E o volume grande de processos poderá dificultar, sobremaneira, a
capacidade dos juízes do trabalho de dar vazão a esses pedidos, a par de não
conseguirem verificar se há ainda parcelas a receber. Haveria uma mera burocratização
da rescisão contratual.
Por outro lado, a ameaça de parte da magistratura laboral, especialmente se
pronunciando por suas associações de classe, de que continuarão julgando do mesmo
modo e que judicializarão a reforma, contestando sua constitucionalidade, representa
verdadeiro suicídio institucional da Justiça do Trabalho. Isto porque, durante os trâmites
da reforma, a começar do presidente da Câmara dos Deputados, passando por muitos de
seus deputados, o discurso que chegaram a levantar foi o da extinção da Justiça do
Trabalho, pelo excessivo protecionismo que promovia, mais acirrando do que
harmonizando as relações trabalhistas.
Esperemos que a reforma possa representar um marco regulatório mais seguro para as
relações entre patrões e empregados, bem como para o próprio Judiciário Laboral, de
modo a reduzir demandas e promover o retorno ao desenvolvimento e incremento da
empregabilidade. E, nesse passo, a Justiça do Trabalho poderá desempenhar um papel
de protagonista na superação da crise econômica brasileira, se souber harmonizar as
relações de trabalho, distribuindo com justiça os frutos da produção entre o capital e o
A reforma trabalhista no Brasil
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trabalho, na esteira do comando do art. 766 da CLT (LGL\1943\5).
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