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COMPETENCIA INCOMPETENCIA CONEXAO CONTINGENCIA

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- COMPETÊNCIA
Competência é a delimitação imposta legislativamente, dentro da qual cada órgão exercerá a função jurisdicional.
Para se definir a competência em determinada situação, deve-se percorrer mentalmente um caminho lógico.
1o - Verificação da existência (ou não) de foro por prerrogativa de função ou foro privilegiado (competência ratione personae): É irrenunciável e prevalece inclusive sobre o aspecto territorial (isto é, independe do local do crime, eis que o julgamento se dará no foro do lugar de exercício do cargo). Se o acusado perder ou abdicar do cargo, perde ele o foro por prerrogativa de função.
OBS: O foro por prerrogativa de função tem vis attractiva, isto é, atrai as outras competências para si (Art. 78, inciso III, CPP, e Súmula 704, STF).
OBS2: No caso de crime cometido em coautoria, se a investigação apontar que um dos autores faz jus ao foro privilegiado, devem os autos ser remetidos ao tribunal do foro por prerrogativa de função para que esse colegiado decida se houve ou não participação do indivíduo em questão. Se a corte decidir que sim, o outro autor, apesar de não exercer a função que deu azo ao foro em questão, também será julgado pelo tribunal. Contudo, a atual tendência jurisprudencial do STF parece tender ao desmembramento, ou seja, só serão julgados pela Corte Suprema aqueles que devem sê-lo em razão de previsão constitucional expressa. Apesar de não ser a melhor posição do ponto de vista técnico, é justificável na medida em que, do ponto de vista prescritivo, uma corte constitucional não pode se tornar um tribunal penal de 1a instância.
A maioria das hipóteses de foro por prerrogativa de função está prevista na Constituição Federal: 
- STF: art. 102, inciso I, alíneas “b” e “c”. 
- STJ: art. 105, inciso I, alínea “a”;
 - TRFs e TJs: os TRFs julgam os juízes federais, os procuradores da República, os juízes e os procuradores do Trabalho e os juízes e os procuradores militares da União (art. 108, inciso I, alínea “a”). Já os TJs julgam juízes de Direito e promotores de Justiça dos Estados e do Distrito Federal e o Procurador Geral de Justiça (art. 96, inciso III). Entretanto, se qualquer dessas pessoas cometer crime eleitoral, a competência será do TRE (art. 96, inciso III, in fine c/c art. 108, inciso I, in fine). Os deputados estaduais e os prefeitos são julgados no TJ pelos crimes comuns que cometerem, inclusive os crimes dolosos contra a vida (art. 27, § 1o; Súmula 702, STF); se cometerem crimes federais, serão julgados pelo TRF (art. 109, inciso IV c/c art. 27); se cometerem crime eleitoral, serão julgados pelo TRE.
O STJ entende que as Constituições Estaduais podem criar foro por perrogativa de função, até porque a própria Constituição Federal o permite, aos moldes do art. 125, § 1o; porém, os foros criados pelas Constituições Estaduais não podem conflitar com o que foi estabelecido pela Constituição Federal (Súmula 721, STF). EX: pode estabelecer que defensores públicos fazem jus ao foro por prerrogativa de função, porém não pode ela prever que os defensores não serão julgados pelo júri em caso de crime doloso contra a vida, eis que somente a Constituição Federal pode estabelecer as exceções ao julgamento pelo Tribunal do Júri.
Se for verificado que não há foro por prerrogativa de função, deve-se dar um segundo passo :
2o - Verificar se o julgamento da causa deve ser feito por alguma das justiçais especiais, isto é, pela Justiça Militar (da União ou dos Estados) ou pela Justiça Eleitoral: 
A Justiça Militar da União julga os crimes militares assim definidos em lei (art. 124, CF), isto é, tipificados no Código Penal Militar e praticados nas circunstâncias dos arts. 9o ou 10 do mesmo diploma legal. Vale destacar, nesse contexto, a Súmula 172, STJ. A Justiça Militar da União também tem competência para julgar civis. No entanto, não pode a Justiça Militar da União julgar crimes conexos, sendo necessário, portanto, o desdobramento.
A Justiça Militar Estadual, por sua vez, tem competência para julgar apenas policiais militares e bombeiros que praticarem crimes militares. É fundamental ressaltar que não pode a Justiça Militar Estadual julgar civis.
A Justiça Eleitoral julga crimes eleitorais, isto é, previstos pelo Código Eleitoral e por algumas leis extravagantes, e os seus conexos. Se houver conexão entre crime eleitoral e crime de competência do Tribunal do Júri, há autores, como Tourinho Filho, que defendem o julgamento de ambos os delitos pela Justiça Eleitoral, em razão de sua especialidade (art. 78, inciso IV, CPP). Outros, como Pacelli, são contrários a essa tese, eis que o dispositivo constitucional que prevê a competência do Tribunal do Júri não contém ressalva desse gênero.
Se não for caso de Justiças Especiais:
3o - Verificar se é hipótese de atuação da Justiça Federal:
Nesse caso, a competência é taxativa (vide art. 109, CF) e tem vis attractiva (Sumula 122, STJ).
OBS: Quanto ao inciso IV do art. 109, CF, para que o crime seja de competência da Justiça Federal, é necessário que tenha sido lesado bem, interesse ou serviço da União. Logo, no polo passivo deve figurar a União, uma autarquia ou uma empresa pública (cf. Súmula 42, STJ). Contudo, a presença de ente federal como assistente da acusação não atrai a competência para a Justiça Federal.
Súmula 104, STJ, que encontra ratio na ideia de que, para analisar se determinado crime é de competência da Justiça Federal ou da Justiça Estadual, deve-se verificar quem é a vítima da consumação do crime-fim, eis que é essencial examinar o resultado final da conduta.
Se não for o caso:
4o - Competência da Justiça Estadual (logo, percebe-se que se trata de competência de natureza residual):
Súmula 104, STJ. 
- Quanto à fixação do local para o julgamento (ratione loci), o legislador optou pelo critério do local do crime, de acordo com o art. 70, CPP.
No entanto, existem casos em que a ação ou a omissão se dá em determinado lugar, sendo que sua consumação só ocorre em outro lugar. São os chamados crimes plurilocais. Nesses casos, a doutrina e a jurisprudência se dividem. Para uma corrente e pelo STF, o local do crime é o da consumação. Para outra corrente e pelo STJ, o local do crime é o da ação/omissão, com base nos arts. 4o e 6o, CPP e no fato de que seria mais fácil empreender a coleta da prova. Para o prof. o primeiro fundamento é falho porque tais dispositivos não tratam de crimes plurilocais; o outro é interessante, mas fere a literalidade do art. 70, CPP.
Após deve se verificar se:
- Em virtude da natureza do delito, existe vara especializada para o julgamento. 
Após esse exame:
- Busca-se descobrir se há juízo prevento para julgar o caso (art. 83, CPP): Logo, no caso de conflito de competência, o processo será distribuído para o juízo que primeiramente promoveu atos decisórios. 
OBS: Se não houver vara especializada ou juízo prevento no local do crime, o critério a ser utilizado é o da distribuição.
INCOMPETÊNCIA - Classificação e Critérios: 
(i) absoluta - não há flexibilização, ou seja, não pode ocorrer prorrogação de competência, eis que diz respeito ao interesse publico. Deve ser declarada de ofício pelo juiz, podendo ser arguida em qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição. Trata-se das hipóteses de incompetência absolutas os critérios ratione personae e ratione materiae. 
(ii) relativa - é tolerável, podendo haver perpetuação de competência (perpetuatio jurisdictionis). Desse modo, um juiz originariamente incompetente passa a sê-lo por falta de manifestação da parte no momento da apresentação de resposta. Diz respeito a um interesse particular. 
OBS: Ao contrário do que se dá no processo civil, até a sentença, a incompetência relativa pode ser declarada de ofício pelo juiz (art. 109, CPP). 
CAUSAS QUE MODIFICAM A COMPETÊNCIA - PARCIAL OU TOTALMENTE:
1o) art. 109, § 5o, CF (total)
2o) Desaforamento (arts. 427 e 428, CPP), utilizada no caso de possibilidade de comprometimento do julgamento. É inadmissívelo reaforamento. (total)
3o) Delegação - a modificação tem natureza parcial porque apenas um ato judicial específico será delegado – por meio de carta precatória, rogatória ou de ordem – a outro juízo, e não o processo inteiro.
4o) Desclassificação do delito (art. 74, § 2o, CPP). Vale dizer que, na hipótese de desclassificação, os atos já praticados são aproveitados. (parcial)
5o) Exceção da verdade, aos moldes do art. 85, CPP. (parcial)
 - CASOS DE UNIÃO DE PROCESSOS - CONEXÃO E CONTINÊNCIA: são fenômenos gerados por razões de Direito Material, eis que se dão entre os delitos em si, podendo causar modificação de competência.
a) Conexão (art.76, CPP)- é o liame que existe entre duas infrações penais sob o ponto de vista objetivo ou subjetivo. 
 O inciso I deste dispositivo trata da conexão intersubjetiva, isto é, configurada em razão da pluralidade de sujeitos. Se desdobra em conexão intersubjetiva por simultaneidade, por concurso e por reciprocidade. 
O inciso II disciplina a conexão material ou teleológica. É caracterizada pela utilização de uma prática para facilitar ou ocultar outra. OBS: Pode haver pluralidade de sujeitos ou não. 
O inciso III prevê a conexão instrumental ou probatória. Existe porque a prova de um crime pode ajudar na apuração de outro crime. É mais fraca que as demais porque, nessa hipótese, a reunião de processos dependerá muito mais de critérios de conveniência. OBS: idem a do inciso II. 
b) Continência (art.77, CPP) - ocorre quando os processos apresentam a mesma causa de pedir. Há, pois, um liame processual mais forte. 
O inciso I trata da continência por cumulação subjetiva.
O inciso II disciplina as hipóteses de continência por cumulação objetiva.
A união por conexão ou por continência deve observar um limite temporal: a prolação da sentença (art. 82, CPP). 
Quando ocorrer competência por conexão ou continência o art. 78, CPP, estabelece qual jurisdição deve prevalecer .
OBS: o inciso III do art.78 do CPP carece de leitura conjunta com o art. 80 do CPP, o qual, por sua vez, estabelece a separação facultativa de processos. 
OBS2: Há hipóteses de separação obrigatória de processos. EX: incapaz que participa de um delito com um indivíduo maior de idade, do civil que comete crime junto com um militar ou de concurso entre pessoa cujo cargo a faz ser merecedora de foro por prerrogativa de função e indivíduo que não se encontra na mesma situação.

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